Projeto Conte a Sua História
Depoimento de Patrícia Bella Costa
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 25 de Maio de 2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV566_ Patrícia Bella Costa
Transcrito por Claudia Lucena
Revisado por Viviane Aguiar
P/1 – Patrícia, você pode falar o seu nome completo, nome e local de nascimento?
R – Patrícia Bella Costa, nasci em São Paulo, na cidade de São Paulo, no Estado de São Paulo.
P/1 – Em que data?
R – Em 18 de julho de 1970.
P/1 – Patrícia, seus pais são de São Paulo?
R – Meus pais são de São Paulo. Alcides Costa, Maria Aureluz Bella Costa se conheceram em São Paulo, namoraram em São Paulo, se casaram em São Paulo e tiveram suas filhas em São Paulo.
P/1 – Você sabe um pouco das origens da sua família, dos seus avós maternos e paternos?
R – Sei.
P/1 – A começar dos maternos.
R – Meus avós maternos, a minha avó é de origem do Rio Grande do Sul, filha de alemães. O meu avô materno é de São Paulo, e o pai dele trabalhou num banco francês/italiano, e a mãe era filha ou sobrinha de índios. Então, na minha família tem uma mistura de gente bem grande.
P/1 – E por parte de pai?
R – Tem os italianos e os portugueses. Então, da família da minha avó paterna, ela é filha de italianos e o pai do meu pai; meu avô materno era filho de bugres, do interior de São Paulo.
P/1 – E você sabe a história de como o seu pai e a sua mãe se conheceram?
R – Sei, minha mãe estudava com a minha tia, irmã do meu pai, então, conheceu o irmão da Nívea, se apaixonaram e se casaram.
P/1 – Você sabe onde eles foram morar quando eles se casaram?
R – Sei, foram morar na casa dos meus avós, dos pais da minha mãe, até que a casa que a gente morou a vida inteira ficasse pronta – meu pai construiu uma casa. E eu nasci na casa dos meus avós. Nasci no hospital, mas morei lá quando recém-nascida, e aí mudamos pra nossa casa na Vila Olímpia, que a gente morou a vida inteira. Casei, me separei, voltei a morar nessa casa, e vendemos a casa há pouco tempo, quando o bairro virou uma área de muito interesse imobiliário. Meus pais venderam a casa em 2011.
P/1 – Como é que era a Vila Olímpia na sua infância?
R – Ótima. A gente morava numa casa grande, tinha um corredor lateral, a gente corria. Tinha jardim, tinha quintal, a rua era calma. Tinha um barzinho no fim da minha rua, e eu lembro quando lançaram o Guaraná Taí, a gente foi a pé, minha mãe deixou a gente ir sozinhas até o barzinho comprar guaraná. Sabe umas coisas assim? Tinha o Barateiro, a gente ia ao supermercado, era legal, tinha papelaria.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho duas irmãs mais novas.
P/1 – Você brincava com elas?
R – Brincava com elas, a gente tinha casinha de boneca, então, brincava na casinha de boneca. A gente tinha tonga, então, a gente corria no corredor. E a gente morava em casa, e tinha as amigas que moravam no prédio do outro lado da rua. Era muito gostoso, a gente brincava no prédio, brincava na minha casa. E, depois, quando eu fiquei maior, meu pai fez piscina na nossa casa, então, todo mundo ia nadar na nossa casa. Era gostoso pra chuchu.
P/1 – Quais eram as brincadeiras de infância?
R – Ah, a gente... Queimada. Brincava muito de escolinha, de banco, de loja, muito de escolinha, a gente era professora, E casinha, né? Porque menina brinca de casinha (risos). Menina, quando é criancinha, porque depois vira chefona e fica brava (risos). Depois não brinca mais, não lava nem um copo (risos).
P/1 – Como eram os seus pais em casa? Seu pai, como era a característica dele?
R – Meu pai sempre trabalhou muito. Se você perguntar da minha infância, eu pouco me lembro do meu pai participando da nossa vida. Minha mãe sempre muito presente, muito amorosa, ia buscar na escola. Nesses dias, eu até estava falando para o meu pai que a mamãe era uma santa, porque ela levava, buscava, ficava o dia inteiro, acho que motorista de Uber, sabe? (risos) Levava criança, buscava, o tempo todo, e sempre muito presente, muito carinhosa com as filhas, com os amiguinhos. Todo mundo gostava de ir pra nossa casa, porque a minha mãe era sempre muito presente e simpática, agradável, nunca foi uma mãe chata, briguenta. Ela não obrigava a gente a tomar banho, por exemplo, sabe? A gente tomava porque a gente achava que tinha que tomar, mas não era uma coisa pesada. E o que você me perguntou mesmo?
P/1 – Eu estava perguntando de como eram os seus pais.
R – E o papai sempre trabalhou, e a mamãe sempre com a gente. E aí o meu pai ficou mais próximo da gente à medida que ele foi tirando um pouco o pé da vida do trabalho, foi estando mais próximo. As filhas começaram a namorar, então, os namorados começaram a frequentar nossa casa, meu pai sempre foi muito presente. Ele nunca deixou a gente solta, sabe? Era sempre tudo muito vigiado, muito perto, e foi bom, estreitou. Tanto é que os namorados, que depois se tornaram maridos das filhas, são muito amigos dele.
P/1 – E comemoravam-se festas na sua casa, eventos?
R – Sim.
P/1 – Você tem lembrança de algum?
R – Nossa, Natal sempre, muito, Natal. Aniversário a gente não dá muita bola, não sei. Eu, desde criança, quando o meu pai cantava Parabéns a você, cantava com uma voz meio fúnebre, eu sempre chorava no Parabéns. Até hoje, de falar, eu estou chorando. Mas eu nunca gostei muito de aniversário, eu não acho muita graça, acho legal, mas não sou daquelas: “Ai, meu aniversário.” Mas Natal...
P/1 – Você tem lembrança de algum Natal específico?
R – Ah, nossa, tem um em que eu tinha, acho, uns dez anos, e a minha irmã Raquel tinha uns sete, e eu ganhei uma fantasia do Batman, e ela do Robin. Nossa, era o máximo! Eu tenho uma fotografia da gente com essa fantasia: eu de Batman e ela de Robin (risos). Tem muitos Natais em família, muita coisa que eu lembro.
P/1 – Você teve formação religiosa?
R – Sim, eu nasci numa família espírita, e estudei a vida inteira num colégio de freiras. Então, desde pequena, a gente tem um sentimento fraterno.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Pequenininha, eu estudei no Externato Amazonas, que era uma escola ao lado da minha casa, na Vila Olímpia, e, na primeira série, eu entrei no Colégio da Companhia de Maria e saí de lá no terceiro colegial. Então, minha vida toda, todos os meus amigos estudaram no mesmo colégio, moraram no mesmo bairro, e a gente é amigo até hoje.
P/1 – Que lembranças você tem desse período da escola?
R – Lembranças boas, lembranças de amizade, de recreio, de papel de carta, de professores, muita coisa boa.
P/1 – Você se lembra de algum acontecimento específico?
R – Eu era meio quieta... Na faculdade não, na escola. Eu sempre fui quietinha, eu sempre fui muito chorona, como vocês estão vendo (choro). Eu sempre fui muito emotiva. Então, eu sempre era reservada, quietinha. Eu não era daquelas meninas de esporte, que joga tudo, que é amiga de todo... Eu sempre fui simpática, os meus amigos sempre falam, agora, quando a gente é grande, eles falam: “Nossa, você sempre foi legal, você sempre foi bem educada, sempre cumprimentava.” Eles falam: “Você está igualzinha.” Mas hoje eu sou mais falante do que eu era naquela época, eu acho. Eu era bem menininha, cabelo liso. Depois eu cresci, fiquei peituda, sabe? (risos) Eu me achava meio desengonçada. Mas eu gostei muito da minha vida, da minha história na escola.
P/2 – Tem algum professor de que você se lembra ou de alguma história com um professor?
R – Professores de Química, de Biologia, de Geografia, matérias que eu gostava, História. Matemática eu detestava, também fui fazer biológicas, né? Todos esses professores de áreas de humanas e de biológicas eu achava o máximo, eu falava: “Nossa, como eles sabiam as células, as coisas.” (risos) Não tenho nenhum... São pessoas legais, hoje eu os enxergo diferente do que eu enxergava, eram pessoas abnegadas, pra pegar uma criança, ficar explicando. Eu quero matar hoje, eu não tenho paciência, e eles... Aquela turma toda fazendo barulho, e eles superdedicados. E acompanharam a nossa vida, a nossa formação. Vira uma família, porque você estuda lá do maternal até o terceiro colegial, todo mundo se conhece, as famílias, é muito bom. Uma escola de freiras, fiz minha primeira comunhão lá, as minhas irmãs estudaram lá, o meu primo, minhas primas estudaram lá. É muito bom. E as freiras estão vivas até hoje. Eu tenho 47 anos, vou fazer 47 anos, eu entrei lá com sete. Faz 40 anos isso, e elas estão lá (risos).
P/1 – O que te deixava feliz na escola, nesse seu período de infância, uma lembrança que, quando você tem, te deixa feliz?
R – Material escolar. Eu adoro coisa de papelaria, papel de carta, borracha, estojo, mochila nova, sabe? Tênis limpinho (risos). Essas coisas, essas coisas.
P/1 – E, na sua adolescência, você continuou na mesma escola?
R – Continuei na mesma escola, com os mesmos amigos, tudo igual. Eu nunca fui baderneira, roqueira, “maluquetes”, eu nunca tive vontade. Eu já me perguntei por quê. Eu vejo, às vezes, algumas pessoas com histórias: fez isso, fez aquilo, pegou um ônibus, foi não sei pra onde. Eu nunca peguei nada disso, nunca fiz nada dessas coisas diferentes, “maluquetes”. Aliás, eu faço hoje, depois de formada, que as pessoas acham a minha vida o máximo, que eu viajo, que eu trabalho, que eu já fui transferida não sei pra onde, que eu já trabalhei não sei onde, já dei aula, não sei o quê, já fiz isso. Então, hoje as pessoas acham: “Nossa!” E pra mim é uma coisa normal, eu só estou trabalhando. Eu estou tendo prazer, mas eu só estou trabalhando. Então, a minha infância e a minha adolescência não foram nada muito... “Ah, você foi em algum show de rock?” “Não.” “Você foi no...?” “Também não.” “Você gostava de algum...? Foi num show?” “Não.” “Você namorou?” “Também não.” Nada, entendeu? “Jogava bola?” “Não.” “Vôlei?” “Também não.” Nada.
P/1 – Mas você tinha um grupo de amigos, que vocês se frequentavam?
R – Amigas do colégio, depois na faculdade, mas não era nada assim: “Ai, que pegou um ônibus e foi pra Machu Picchu.” Não, nunca (risos). Não tenho nenhuma história dessas pra contar.
P/1 – Quando você era pequena ou já crescendo, o que você queria ser quando crescesse?
R – Eu acho que eu queria ser professora, porque eu achava legal aquilo, tinha lousa na minha casa, a gente brincava de escolinha. Eu sempre fui muito certinha, muito organizada, bem “quaquazinha”, sabe? Eu achava legal aquilo de explicar, o outro aprender, eu dava aula para as minhas irmãs. E, depois, quando eu fiquei adolescente, que eu usava aparelho, os pais de uma amiga nossa, amiga da minha irmã, eram dentistas, e eu falava: “Nossa, que legal! Um casal dentista, os dois juntos, trabalham juntos, vão trabalhar, vão pra casa, têm os filhos.” Aquilo foi um exemplo pra mim, e, conversando com a minha mãe, minha mãe falava: “Minha filha, pra mulher, Odontologia é uma profissão ótima, que você pode casar, ter seus filhos, trabalhar meio período.” Então, como você não tem informação nenhuma, ideia de nada, coisa nenhuma: “Ai, nossa, é, até que...” Eu gostava de biológicas, você não sabe o que você vai fazer, eu falei: “Eu acho que eu vou fazer Odontologia.” Não é assim? As pessoas acham: “Ai, você teve vocação”, nem sei se eu tive vocação. Descobri, depois de formada, durante a faculdade, que eu achava chato atender paciente. Porque o paciente chega com dor pra você, um negócio triste, a pessoa fala: “Ai, dói aqui.” Depois você vai tratar: “Mas é esse que dói?” “Eu não sei se é esse ou se é esse.” “Poxa, dói esse ou este?” “Como é que você quer que eu saiba?” Mas eu não era assim naquela época, hoje que eu sou: “Dói aqui ou dói aqui?” Naquela época, eu não era assim, então, você sofre junto com o paciente, porque você quer ajudar. Você é sozinho, porque o paciente está lá com a boca aberta, você começa a falar com ele: “Ai, nã nã nã.” Ele quer te responder, não tem uma interação com pessoas. Tecnicamente, eu adoro, mas aquela solidão, daquele jeito, não me atraiu em nada. Engraçado, né? Porque eu era quietinha, solitária antes, e hoje eu sou muito comunicativa, me meto em tudo, quero resolver tudo: “Como? Está certo? Está errado isso aqui, aquele negócio está...” Daqui a pouco, eu já vou dar um pitaco: “Aquela luz está atrapalhando ali, fecha a janela.”
P/2 – O que você acha que te fez mudar?
R – Autoconfiança. Porque, quando você começa... Primeiro, você tem que fazer o que você gosta. Se você não faz o que você gosta na vida, se você não é casada com o marido que você quer, se você não se acha no seu trabalho – e é difícil a gente se achar também, porque você quer ganhar dinheiro, você paga conta, você precisa ser feliz, é complexo. Mas quando você encontra aquela coisa que te dá a realização pessoal, profissional, qualquer realização, de esporte, você fala: “Nossa, eu consegui!” E você aprende que você não está concorrendo com ninguém também. Quando você percebe isso, a sua história é sua, com você. Tem gente que ficou melhor, mais rico, mais importante ou mais bonito, teve mais filhos. Eu não tive filhos. Tem gente que compete. Quando você vê que: “Não, eu estou na minha, nossa, minha vibe é essa, eu curto desse jeito.” E as pessoas falam: “Ai, mas você não quis ter filhos? Por que você não teve filho com aquele marido?” Quando você entende a sua dinâmica, você fica bem.
P/1 – O que aconteceu com você para que você sentisse isso? Teve uma coisa que disparou?
R – Eu acho que o suporte da minha família, o exemplo do meu pai e da minha mãe. Quando eu me formei, comecei a trabalhar como dentista, mas eu achava meio chato, eu não tinha muita aptidão pra coisa. Eu gostava da teoria, eu sabia fazer tudo, gostava dos produtos, mas eu não sei se eu fazia direito, eu não era muito confiante. E aí foi uma coisa engraçada. Na minha casa tinha garagem pra dois carros, meu pai comprou um carro que era pra mim, só que o carro não cabia na garagem, tinha uma árvore no jardim. Daí, meu pai falou: “Vamos fazer um portão, mas, pra fazer o portão, precisa chamar a prefeitura pra tirar essa árvore.” Meu pai falou assim: “Vou te dar uma incumbência, minha filha.” Eu tinha 18 anos, 19 anos, 18: “Você tem que ir até a Administração Regional de Pinheiros convencer a prefeitura de vir tirar a árvore.” Todo mundo falava: “Imagina que a prefeitura vai vir tirar uma árvore? Não vai.” Mas a nossa árvore estava meio comida, a árvore em frente à minha casa tinha levantado a calçada, tinha uma chance. Eu, novinha, ingênua, fui até a Administração Regional de Pinheiros, falei: “Ó, moço, meu pai comprou um carro, a garagem, não sei o quê.” O japonês: “Não arranca, a prefeitura não arranca árvore.” “Ah, mas a árvore está quase caindo.” “Minha filha, pode esquecer, você tem que protocolar um negócio aqui.” Carimbou. “Você paga uma taxa, não sei o quê.” Voltei pra casa toda frustrada, falei: “Pai, eles não vão tirar, o japonês falou.” “Volta lá. Só porque o japonês falou? Volta lá e vê.” Voltei lá, mas eu não era tão articulada como eu sou hoje, uma menininha lá, de novo. Outra pessoa me atendeu, falou: “Olha, a gente vai pôr o seu nome aqui na lista, vamos ver o dia em que for ver o negócio da árvore.” Passou, a gente esqueceu. Um belo dia, de manhã, para um caminhão da prefeitura na minha casa, na porta da minha casa, pra arrancar a árvore, porque a árvore estava com cupim. Eu e minha mãe fomos na janela: “O que está acontecendo?” “Não, a gente veio arrancar a árvore, a árvore está com problema, não sei o quê.” E aquela noite, quando o meu pai chegou em casa, a gente ligou: “Pai, você não sabe, vão arrancar a árvore!” Meu pai: “Nossa, que maravilha!” Quando o meu pai chegou em casa, ele falou: “Minha filha, parabéns, você conseguiu arrancar a árvore.” Eu falei: “Jura? Eu consegui? Nossa!” Então, aquilo eu acho que foi um gatilho, que falou: “Nossa!” E meu pai falou: “Está vendo? Quando a pessoa quer – falou para as minhas irmãs – quando a pessoa quer...” Foi sorte. Mas aconteceu, e aquilo me deu... Meu pai: “Então, tudo o que vocês quiserem fazer, se dediquem que dá certo, tenham força de vontade”, falou aquelas coisas. Daí, eu falei: “Nossa!” E daquele momento em diante eu comecei a achar que tudo era possível, que tudo dava, e, de verdade, tudo é possível, tudo dá certo. Não dá certo do jeito que a gente planejou, mas daqui a pouco acontece outra coisa, que não sei o quê. No fim dá certo. Então, eu comecei a estudar muito, você tem que ter pensamento positivo, querer que as coisas deem certo. Não querer, não pensar que vai dar errado. Se pensar que vai dar errado, vai dar errado mesmo, você já começa a materializar as coisas. Então, na relação com as pessoas também.
P/1 – Você começou a estudar o quê?
R – Espiritismo. Eu sou de uma família espírita, mas eu nasci naquele meio, pra mim era normal acreditar na vida após a morte, acreditar que a gente tem que ser melhor, não ser melhor que o outro, mas melhor que você. Você remodelar os seus hábitos, as coisas que você faz e de que você não tem tanto orgulho (choro). Procurar ser melhor. Pra mim, isso era natural. Só que, quando você soma coisas da vida, do trabalho, da corporação, você tem que fazer, você tem que atingir, você tem que crescer, você tem que dar resultado. É uma pressão que o ser humano, se não tiver uma cabeça boa ou não estiver bem preparado, a pessoa sucumbe ou pede pra sair. Porque fala: “Eu não vou dar conta de fazer, não. Eles estão me dando essa meta pra atingir, eu não vou atingir, é impossível isso.” E nada é impossível, só que, se você não tiver um pensamento: “O que eu preciso fazer pra gente atingir esse resultado?”, porque é para o bem comum. Eu trabalho numa empresa maravilhosa, que é de saúde, que é de produtos de higiene, de limpeza, eu sou dentista, trabalho na líder mundial em saúde bucal, na Colgate. Então: “Pô, vamos lançar um creme dental novo.” “Para que é esse creme dental?” “Para reduzir a cárie” “Nossa, existe uma tecnologia para reduzir a cárie?” “Existe.” “Uau! O que a gente precisa fazer?” “Explicar para todos os dentistas, explicar para as crianças como é que tem que escovar o dente para reduzir a cárie, e você consegue reduzir a cárie.” “Ah, vamos livrar o mundo das cáries?” “Vamos, vamos livrar o mundo das cáries!” São coisas desse tipo que as pessoas falam: “Ah, é impossível.” Não é impossível se todo mundo unir os esforços, né?
P/1 – Como você saiu do consultório? Como foi essa passagem?
R – É muito engraçado. Eu não sabia que eu queria fazer outra coisa, eu não planejei. As pessoas falam: “Como você planejou a sua carreira?”, eu não planejei, foi acontecendo. E tinha um amigo que se formou comigo na faculdade, que estava trabalhando numa empresa que vendia produtos odontológicos por catálogo, era uma empresa, era um representante de uma empresa americana no Brasil. Daí, falando com ele, ele: “Nossa, arrumei um emprego ótimo aqui, eu ganho 300 reais por mês e trabalho nessa empresa – a gente era recém-formado – e eu explico para os dentistas o que são os produtos, em inglês.” Daí eu falei: “Nossa, João, arruma um emprego desse pra mim.” Ele falou assim: “Ah, tá bom.” Passou um mês, eu liguei lá de novo: “Por favor, o João Paulo.” “Ah, o João Paulo não trabalha mais aqui.” Daí, eu: “Ah, não trabalha?”, e a pessoa do outro lado da linha: “Mas você é dentista? Você quer comprar algum produto?” Eu falei: “Não, eu sou dentista, eu sou amiga dele.” A pessoa falou assim: “Você não quer vir trabalhar aqui?” Eu falei: “Justamente, era isso que eu queria, porque ele falou que tinha uma oportunidade.” Daí, o cara: “Ah, então, tá bom, você vem falar com o Marcelo hoje, às duas da tarde, é o endereço tal, tantantan.” Eu falei: “Tá bom.” Cheguei lá com o meu currículo, novinha, a moça: “Você agendou?” Eu falei: “Agendei com o Marcelo, às duas.” “Com o Marcelo?”, ela era a secretária do Marcelo, o Marcelo era o dono da empresa. “Você agendou?” Daí, eu falei: “Não, eu falei com o... Acho que foi com o próprio Marcelo.” Daí, ela: “Ah, tá bom.” Eu cheguei na entrevista, o moço: “Você fala inglês? Ótimo. Você é dentista? Fala inglês? Então, ó, está aqui o catálogo, a gente vai, quero que você estude o catálogo, e a gente precisa de dentistas para trabalhar na semana do congresso” – tem um congresso anual de Odontologia que reúne 50 mil dentistas – “e a gente vai estar contratando dentistas. Então, olha aqui, deixa eu te apresentar, esse aqui é o fulano, ele vai te treinar, e você trabalha com a gente, a gente vai pagar tanto, nãnãnã. Tá bom?” Eu falei: “Nossa! Tá bom.” (Risos) Cheguei em casa toda feliz e trabalhei aquela semana no congresso, foi um aprendizado pra mim, nunca tinha pensado. Eu ia ao congresso como dentista, nunca tinha pensado que tinham pessoas trabalhando lá vendendo produtos. E comecei a trabalhar lá e continuei depois do congresso, continuei a trabalhar nessa empresa, foi ótimo. Foi aí que eu descobri que eu gostava de fazer negócios, eu nem sabia o que era fazer negócios. Eu gostava de me relacionar com as pessoas, de falar, eu estudava os produtos, eu sempre fui muito estudiosa. Então, eu entendia do produto, explicava para o dentista como é que usava. A maioria das coisas era em inglês, eu falava: “Olha, você pinga uma gota disso, duas daquilo, faz isso, aplica três camadas, põe o fotopolimerizador, vai ser mais rápido.” Eram produtos americanos de última geração, que não tinha no Brasil. Era assim, eu estudava, estudava, adorava aquilo. E eu me casei naquele ano e fui pra uma lua de mel que demorou. Então, eu falei: “Ó, quando eu voltar, eu não vou trabalhar aí, eu vou ficar só no consultório.” E, pra minha sorte, o dono da empresa falou: “Patrícia, você não quer voltar? Você fala inglês”, eu falei: “Ah!” Eu gostava também, então, trabalhei meio período lá, meio período no consultório. Só que, como eu não gostava muito do consultório, eu fui trabalhando três dias por semana lá, três dias período integral, quatro dias, fui ficando no consultório pouco, pouco, pouco, e foi natural eu falar para meu parceiro, meu sócio: “Ó, não vou mais trabalhar aqui, vou ficar só na empresa.” E foi ótimo. Dessa empresa eu fui pra uma outra, daquela outra eu fui pra uma outra, da outra eu fui pra uma outra e vim pra cá.
P/1 – Como você chegou na Colgate?
R – Eu trabalhava numa empresa de implantes. Eu trabalhei, depois dessa empresa, que chamava Mosaner, eu trabalhei numa empresa, Dental Gaúcho, que era a maior dental do país, tinha 60 anos, e eu era responsável por treinar a equipe de vendedores sobre os produtos, tecnicamente. Eu adorava, também tinha que estudar e dar aula, explicar, juntou tudo o que eu gostava, ser professora, explicar produto, Odontologia. Você vê que você vai juntando as peças. E trabalhei nessa empresa. Daí, um fornecedor dessa empresa, que era de uma multinacional alemã, me convidou para trabalhar nesta empresa chamada Degussa. A Degussa é uma multinacional alemã e ia lançar um implante dentário no Brasil, me convidaram para lançar o implante. Então, em 1998, eu lancei o Ankylos, que era um implante alemão, supermoderno, no Brasil. E, de lá, fiquei nessa empresa por anos, a empresa foi comprada pela líder mundial em Odontologia, uma americana chamada Dentsply. Então, eu me tornei de Degussa, alemã, para Dentsply, americana. E da Dentsply, fui, em 2005, para a concorrente Straumann, de implantes suíços, e no mesmo ano vim para a Colgate.
P/1 – Mas, na Colgate, foi um convite que você teve?
R – Na Colgate, eles estavam precisando, tinha uma pessoa que tinha trabalhado nessa posição por muitos anos e ela saiu, ficou vaga a posição, e eles procuravam um dentista que pudesse trabalhar, e são poucos. Naquela época, principalmente, eram poucos os dentistas que tinham formação em Marketing, que pudessem, que soubessem esse trabalho da área de relações profissionais. E tinha uma diretora aqui na época, a Ceci Moresco, que foi minha chefe por muitos anos, o irmão dela era dentista e foi meu professor na faculdade, e eu vendia implante pra ele, ele foi comigo pra Alemanha fazer cursos. E aí, um belo dia, eu estava trabalhando num outro escritório, ele me liga: “Patrícia, a minha irmã, você lembra que eu falei que a minha irmã era chefona na Colgate?” “Ah, lembro, claro.” “Então, ela está aqui, ela está procurando uma pessoa com o seu perfil, fala aqui com ela.” Passou o celular pra ela. Daí, eu: “Oi, tudo bem?”, ela: “Ai, você, o Fábio fala sempre em você, a gente está procurando uma pessoa com o seu perfil. Você pode mandar o seu currículo?”. “Posso, claro.” “Você pode vir aqui na Colgate pra uma entrevista amanhã?” “Posso.” Aí eu vim, sem saber de nada, eu tinha um portfólio, uma pasta de tudo o que eu já tinha feito e tal, ela me entrevistou, o vice-presidente me entrevistou, o RH me entrevistou: “Ah, você pode voltar pra falar com o presidente?” “Posso.” E se passaram meses, porque era verão, o presidente não estava, ele viajava e voltava e não sei o quê. E eu comecei a ficar ansiosa, eu falei: “Eu quero trabalhar nessa empresa, agora eu quero.” Antes eu não queria, porque...
P/1 – Que imagem você tinha da Colgate?
R – De uma empresa legal, porque eu sou dentista, a Colgate fabrica creme dental, que todo mundo falava. Nessa época, chamava de pasta de dente ainda, porque todo mundo chama de pasta de dente até você vir trabalhar na indústria do creme dental. E era o máximo, nossa, trabalhar na empresa que produz o creme dental que você usa, que você usou a vida inteira, que todo brasileiro usa, que todo mundo usa: “Uau!” Você nem tem muita noção, mas é legal. É uma empresa americana: “Uau! O quanto que eu vou aprender!” A empresa, quando está te contratando, está interessada no que você pode trazer pra eles de conhecimento, e às vezes a gente não tem noção de que a gente pode agregar muito com tudo que você já tem de trajetória, de conhecimento. A empresa quer saber o que você traz, e você quer saber o que você vai aprender na empresa. Tem gente que quer saber o que vai ganhar, claro, isso é importante, mas o que você pode aprender num universo desse? Nossa! Eu aprendi tanto, com tantas pessoas.
P/1 – Mas você estava contando, ele estava de férias...
R – Ele estava de férias, demorou pra eu conseguir, pra eu ser entrevistada pelo presidente. E eu estava na outra empresa de implantes, eles estavam investindo em mim, me mandando pra Suíça, eu já tinha ido pela terceira vez. Em cinco meses, eu tinha ido três vezes pra Suíça fazer curso. E eu falei pro RH: “Não é justo, eles estão investindo em mim, eu não me sinto nem bem. Eu quero ir para aí, mas vocês não me contratam, ficam nesse...” Porque é tudo muito complexo aqui, a contratação, americano precisa aprovar, todo mundo precisa entrevistar, eu não sabia, eu não tinha essa noção na época. E eu falei: “Fala logo, vocês querem me contratar ou não? Porque se não, eu não vou, eu não acho justo com a empresa em que eu estou trabalhando, eles investindo, me pagando curso, me fazendo aprender coisas, e daqui a um mês eu vou embora?” Eu falei pra eles: “Olha, dia tal eu vou viajar, quando eu voltar, eu quero saber se vocês vão querer seguir adiante ou não, porque eu que não vou querer mais, porque eu não acho justo.” E eu avisei pra eles: “Olha, sexta-feira eu vou viajar, às cinco horas o táxi passa na minha casa, ou vai...” (risos) Mas foi assim mesmo: “Ou vocês me contratam ou eu não...” (risos) E eles me ligaram cinco e pouco da tarde, a minha irmã e a minha prima já estavam lá: “Patrícia, parabéns, você foi contratada!” Eu falei: “Nossa, que legal!” E eu estava indo pra Nova York e eu estava tão empolgada, eu fiquei tão feliz. Chegando em Nova York, na manhã seguinte, a gente foi, deixou as malas no hotel e foi fazer um passeio pela Estátua da Liberdade. Eu estava no barquinho com a minha irmã e a minha prima e eu ouvi assim, eu falei pra minha irmã. Eu falei: “Eu acho que eu estou ficando louca, porque eu ouvi o cara falar: ‘o relógio da Colgate’.” Aí, a minha irmã: “Não, olha lá!” Em Nova York, perto da Estátua da Liberdade, tem um relógio da Colgate, que é um relógio histórico, aquele terreno lá foi a primeira fábrica da Colgate nos Estados Unidos, tem uma tradição. Se você for agora fazer um passeio pela Estátua da Liberdade, você vai ver o relógio da Colgate. Nossa, eu fiquei tão empolgada! Comprei um creme dental americano, colei, eu fazia scrapbook naquela época, foi muito legal, foi muito marcante.
P/1 – Aí você voltou da viagem.
R – Eu voltei, pedi demissão na empresa em que eu estava e vim trabalhar na Colgate muito feliz.
P/1 – Você se lembra do começo? Como é que foi esse começo aqui na Colgate?
R – Lembro. O departamento de marketing é enorme, tem muitas pessoas, e eu era gerente já na outra empresa, fui contratada como gerente aqui, só que eu tinha, numa empresa menor, um status. Eu era gerente, tinha a minha sala, tinha o meu carro. Quando eu cheguei aqui, eu perguntei para a secretária, para a Marcilene, que é a nossa secretária até hoje: “Marcilene, onde é a minha sala?” Ela: “Você não tem sala.” Eu falei: “Não tenho sala? Eu sou gerente aqui e não tem sala?” “Não tem sala.” (risos) Ela falou pra minha chefe: “Ela está perguntando onde é a sala dela.” A minha chefe vira: “Não, Patrícia, olha, aqui quem tem sala é só diretor e não sei o quê.” Eu falei: “Ah, não, tá bom.” É que eu achava que... Quando você está num universo menor, você é elite, quando você entra num universo onde só tem gente boa, você não é nada (risos).
P/1 – E você foi estudar, você foi estudar Marketing?
R – Fui, eu fiz pós-graduação em Marketing em 98, 99, 2000, três anos.
P/1 – Onde você fez?
R – Fiz na ESPM.
P/1 – E você começou e foi gerenciar. Como foi esse começo? O que você fazia?
R – Tudo o que um gerente de produto faz, que a gente não tem nem ideia do que que é. É olhar o mercado, ver quanto custa, quanto custa para importar, quanto não custa. Numa empresa menor, é você quem faz tudo; numa empresa grande, tem departamentos que te ajudam, tem uma área financeira, tem uma área de importação, tem uma área de logística, tem uma área de custos. Quando você está numa empresa pequena, você faz tudo. Então, eu tinha que fazer o cálculo, eu tinha que ver quanto ia custar para o dentista, quanto o dentista ia cobrar do paciente, ver se o preço era viável, olhar o preço do concorrente, traduzir o material técnico do alemão para o inglês, do inglês para o português. Eu não falo alemão, mas eu já peguei material em inglês para fazer aquilo inteligível para os dentistas, fazer aquilo competitivamente versus os produtos que tem no mercado, mais atraente. E você vai aprendendo e você faz um curso de Marketing pra entender o que você tem que fazer, porque também ninguém te ensina. Na minha carreira, como nunca teve... Eu não tive um espelho, eu não tive uma pessoa pra eu dizer: “Ah, eu quero ser igual a ela ou igual a ele”, porque eu fui uma das primeiras a fazer isso. Hoje tem um monte de dentistas. Hoje a gente tem aqui um grupo de um monte de pessoas muito bacanas, que decidiram trabalhar nisso porque alguém já fez, mas eu não tive isso. Eu não tive ninguém que me explicasse o que era pra fazer, me contratavam e falavam assim: “Olha, lança um implante no Brasil.” “Por onde eu começo?” Quando eu fui contratada aqui: “A gente precisa crescer e ser a marca líder em recomendação dos dentistas em todas as categorias de higiene oral.” O que tem que fazer? Você tem que pensar no que tem que fazer, você tem que fazer, você tem que propor e você vai construindo alguma coisa do nada. Eu aprendi muito a construir coisas do nada.
P/1 – Qual foi a principal coisa, conquista, que você teve nessa época, quando você entrou de gerente?
R – É uma empresa grande, multinacional, que tem muitas pessoas muito competentes, você aprende com cada um, em todas as hierarquias, não só com os chefões, mas com as pessoas que estão ali. Tem aqui uma área especializada em pesquisa, eu falava: “Nossa, gente, como a empresa sabe de tudo isso?” Tem uma área de importação, tem uma área de logística, tem uma área de vendas, e você aprende com todo mundo, desde o estagiário até o chefão. É muito enriquecedor quando você valoriza isso. Tem gente que não valoriza, tem gente que passa pelo lado da pessoa e nem cumprimenta. Mas, quando você olha, fala: “Uau!”
P/1 – Quanto tempo você ficou como gerente?
R – Eu fiquei muitos anos como gerente, eu sou diretora acho que há uns quatro ou cinco anos, seis anos.
P/1 – Que desafios você acha que você conseguiu vencer, metas, feitos, seus principais feitos?
R – Eu acho que um desafio importante é você aprender a gerenciar pessoas diferentes, porque é duro. É duro pra gente, que não sabe também, era uma relação entre seres humanos. Só que você tem uma meta pra atingir, aquele grupo tem uma meta pra atingir, o gol é pra lá, vai todo mundo jogar a bola pra lá. Essa dinâmica do grupo, você com o seu subordinado, o subordinado com o colega, os colegas e você, você e os pares, você e os chefes, os chefes e os seus subordinados é uma relação, é uma malha de pessoas se relacionando. Tem gente legal, que joga junto, tem gente que não, é diferente, mas você tem que dar o tom do seu jeito, do seu grupo, para as pessoas que vão trabalhar com você, a pessoa tem que entender. “Ah, não gosto, acho ela chata”, tudo bem, mas... E tem gente que não: “Eu acho legal, ai, que legal, vamos fazer juntos.” E aí você impõe um ritmo para o seu grupo.
P/1 – Você tinha uma meta assim: tem que atingir tantos dentistas? O que era na época?
R – Tem que atingir tantos dentistas, tem que...
P/1 – Qual era, na época, o seu desafio?
R – O meu desafio era fazer com que todas as marcas da Colgate, de todas as categorias, creme dental, escova, enxaguatório, fio dental e marca, fossem a marca número um em recomendação dos dentistas. Porque tem “n” marcas, né? E nós sempre fomos a marca número um em recomendação dos dentistas e somos até hoje, em todos os segmentos. Quando a gente lança um produto num segmento novo, a gente marca número um em recomendação dos dentistas. Por isso que, quando você vê na propaganda: “Colgate, a marca número um em recomendação dos dentistas”, é fruto do trabalho da nossa área, de explicar para os dentistas tecnicamente o que tem no produto. Por que ele tem que recomendar o Colgate Total 12? Porque Colgate Total 12 é o melhor creme dental que existe. Tem 198 estudos científicos desse produto, tem mais de 20 anos de pesquisa. O que tem dentro de um tubo de creme dental? Quando a gente é consumidor, você nem pensa o que tem num tubo de creme dental. Você fala: “Ai, limpou gostosinho, tá bom.” Mas tem tanta tecnologia, tem tanta pesquisa, tem tanto investimento, tem um grupo enorme de pessoas trabalhando para que você possa ter aquele benefício daquele produto e um grupo enorme de pessoas trabalhando para explicar para o seu dentista porque ele tem que recomendar aquele para você e não um outro. Claro, cada empresa faz o seu comercial, mas tem produtos que têm muita tecnologia.
P/1 – Nessa época, você gerenciava quantas pessoas?
R – Eu comecei com quatro aqui, cheguei a ter 150 pessoas.
P/1 – Qual foi a sua principal estratégia para conseguir essa meta de se tornar a número um?
R – Trabalho duro, planejamento, seguir os objetivos da empresa, fazer. A Colgate é uma empresa muito organizada, a gente aprende a fazer um planejamento, a executar o planejamento, a corrigir o planejamento se não estiver dando certo, a alinhar com as outras áreas: “Olha, vamos pra lá, vamos pra cá.” Não é uma coisa solta. O mundo inteiro caminha igual, conta a mesma história, usa o mesmo estudo, explica do mesmo jeito. Se você for pra Índia, um dentista na Índia, que é visitado por uma equipe da Colgate, vai explicar a mesma coisa que nós estamos explicando aqui no Brasil, porque a tecnologia vem do mesmo lugar, o benefício do produto é aquele. Por que as cerdas da escova são desse jeito? Por que elas limpam assim? Quando você entende, você fala: “Nossa, como é que eu nunca pensei nisso antes?” O nosso trabalho é esse, fazer com que o dentista entenda isso e consiga transmitir isso para o seu paciente.
P/1 – Você ficou quanto tempo como gerente nacional?
R – É que eu fui subindo, mudando de áreas, eu era gerente de relações profissionais, gerente de assuntos científicos, você vai assumindo outras áreas. Um colega foi fazer um curso, e eu fiquei no lugar dele, depois eu fui transferida pra fora do Brasil, ele ficou no meu lugar, eu voltei, ele foi, e eu fiquei com tudo. Acontecem muitas dinâmicas na empresa, onde você vai crescendo, mas vai crescendo de lado, vai fazendo um ziguezague. Não é assim: “Ah, eu entrei como estagiária, virei assistente, virei gerente e virei diretora”, não é assim. Você tem que trabalhar bastante e tem que ter sorte também, porque às vezes você está preparado, mas não tem a posição, a pessoa que está lá é muito boa. Está lá, e a gente tem que aprender com essas coisas também.
P/1 – Você saiu e foi morar fora a trabalho, quando foi?
R – Foi em 2011, eu fui transferida pra Itália, pra Colgate Itália.
P/1 – Como é que foi essa experiência?
R – Excelente. Você vê o que é pensar positivo, né? A Colgate tem subsidiária em 200 países, 198 países, a Colgate é presente em mais países que a ONU e tem pessoas que vão pra lugares difíceis, Colgate Vietnã, Colgate Eslovênia, Colgate África, Nigéria. E eu pensava, eu nunca quis morar fora, eu nunca quis trabalhar, porque na empresa alemã eu viajava muito a trabalho, eu ia muito pra Alemanha, eu gostava de ir e voltar, eu nunca tive esse desejo de morar. E eu falava, brincando, para os meus colegas, eu falava: “Ah, só quero se for lugar bom, Paris, Roma ou Nova York.” Todo mundo: “Até eu, né? Paris, Roma ou Nova York.” Aí, o meu chefe, isso eu acho que eu vou contar, que é uma coisa importante, nós fomos, éramos pares na América Latina, e tinha uma colega minha, que é nossa colega até hoje, a Matilde, da Venezuela, ela tinha acabado de ter bebê, e a nossa chefe da América Latina fez um comunicado pra todo mundo: “A Matilde foi escolhida pra cobrir uma licença maternidade de uma outra colega da Itália que ia ficar seis meses fora”, e anunciaram a Matilde. Eu fiquei feliz por ela, mas eu falei: “Ah, poxa, eu estou aqui, não tenho filhos, sou separada, podia ter ido.” Eu falei pra minha chefe: “Pô, eu queria ter ido, vocês nem me perguntaram se eu queria ir, se eu podia ir.” Ela falou assim: “Eu preciso de você aqui, porque você está cobrindo o outro que foi fazer o curso e agora eu não podia te liberar, mas você foi considerada sim.” Eu falei: “Ah!” Fiquei triste um dia, mas depois eu falei: “Tudo bem, nem estava pensando nisso mesmo.” E a Matilde foi, ficou seis meses lá, cobriu a licença maternidade da pessoa. Um belo dia, o meu chefe me chama: “Patrícia, eu queria saber se você está disposta a ir seis meses num STA” – a gente chama de STA, que é um short term assignment. Daí eu falei: “Pra onde?”, ele falou: “Colgate Itália, Roma”, eu falei: “Que dia tem que embarcar?” (risos). Ele falou: “Dia 6 de janeiro”, eu falei: “Pode contar comigo”. Assim, entendeu? Então, quer dizer, eu fui para o mesmo lugar. A gente pensa que: “Ai, não aconteceu comigo”, você fica chorando, sofrendo, eu fiquei triste um dia, no outro dia tudo bem. Fui para o mesmo lugar que ela, no lugar que eu falei: “Pô, por que não me mandaram?”, me mandaram e foi uma experiência maravilhosa, adorei. Eu acho que eu já fui italiana numa outra vida. Na verdade, o meu ex-marido é filho de italianos, eu adorava a cultura, adoro a cultura italiana, as coisas de comer, as músicas, tudo, a arte deles, aprendi muito com eles também. Então, adorei, uma experiência maravilhosa, e fui e voltei. O que mais que a pessoa pode querer? Foi excelente.
P/1 – Aí você voltou.
R – Voltei, voltei pra minha função que era. Você sempre tem a expectativa de crescer, mas eu nunca fui desesperada, esganada, que: “Ai, quero. Quando vão me promover?” Eu nunca fui pessoa dessa, porque eu acho que não está na mão de uma pessoa só, não depende só de uma coisa, depende do momento, da situação econômica, dos outros, é uma constelação, é uma situação complexa. Então eu sempre expus para os meus chefes o que eu gostaria, o que eu não gostaria, mas: “Pode contar comigo, ainda que não seja o que eu gostaria de fazer, pode contar comigo”, eu sempre fui pau pra toda obra, sabe? Eu nunca fui de... Eu posso parecer fresquinha, mas eu não sou, eu sou mão na massa. E, depois de um tempo que esse meu colega foi transferido para os Estados Unidos, eu ocupei a área que era dele e a minha, então, eu assumi todo o departamento. Éramos duas pessoas gerenciando, com a saída dele, eu assumi tudo. Então, também não estava: “Ai, quando é que eu vou ser a chefe de tudo?”, nunca pensei assim, foi natural, foi acontecendo. A minha chefe foi promovida, vai abrindo espaço, um vai não sei pra onde, outro vai não sei pra onde, e assim vai.
P/1 – E hoje?
R – E hoje eu cuido não só do Brasil, mas também dos quatro países do Cone Sul, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Já mandei gente que trabalhava comigo aqui no Brasil transferido para o Chile, e assim a gente vai ajudando na carreira de todo mundo.
P/1 – Nessa sua trajetória na Colgate, qual foi o fato mais marcante, um dos mais marcantes que você viveu?
R – Tem tantas coisas importantes, eu acho que as coisas mais marcantes foram de relações com pessoas.
P/1 – Você se lembra de algum causo específico?
R – Ai, tem tantas coisas engraçadas, deixa eu ver.
P/1 – Ah, engraçado é bom.
R – É, deixa eu ver. Ai, tem tantas histórias, se eu perguntar pra alguém, alguém vai falar: “Ai, conta isso.” Não me lembro agora.
P/2 – Daqui a pouco você lembra.
R – É, daqui a pouco eu lembro.
P/1 – Daqui a pouco você lembra, daqui a pouco vem. Quer perguntar?
R – Eu falo, né? Não paro de falar. Não está muito profissional isso? Eu estou achando meio metido, sabe? A pessoa que vai olhar, vai falar: “Ah, não.”
P/2 – Então, vamos falar, você não era de fazer baladas.
R – Não.
P/1 – O que você gostava de fazer?
R – Nada.
P/1 – Você ficava em casa?
R – Eu gostava de tomar sol e ficar assim, eu sempre fui muito tranquila. Hoje, que eu me conheço melhor, eu entendo que os momentos de serenidade pra mim sempre foram importantes, só que eu não sabia que aquilo era importante pra mim. Então, eu ficava em casa, ouvia música, ficava tomando sol quieta, andava de bicicleta, eu sempre fiz coisas que me acalmaram, eu nunca fui muito acelerada, então eu não precisava me acalmar, mas eu sempre gostei dessas coisas introspectivas, de pensar, de ler. E hoje eu moro sozinha, agora eu moro, o meu pai mora comigo, porque a minha mãe faleceu há dois anos, mas eu morava sozinha. Mas eu nem sabia disso, eu nem sabia que eu procurava coisas que me acalmavam. Eu sempre gostei de ficar quieta, sossegada. E, depois, quando eu adquiri uma estabilidade financeira, morando sozinha na minha casa, que eu posso viajar, posso fazer o que eu quiser, posso viajar, posso namorar, eu nunca tive desejos de fazer balada, zoar, não. Eu gosto de ir num restaurante, conversar, receber pessoas, poucas pessoas, eu não sou também de muita gente. Eu preciso de uma certa serenidade. Hoje eu sou muito introspectiva, eu leio demais. Eu, estudando o espiritismo, eu passei a ser voluntária numa casa espírita, eu faço um trabalho voluntário, eu dou aula pra pessoas que, como nós, estão procurando estudar e aprender. Então, aquilo que eu já aprendi, eu estou compartilhando hoje. Eu não sou perfeita, eu não sou.
P/1 – Como você faz esse trabalho?
R – Eu sou voluntária na Luz Divina, que é uma casa espírita, uma casa de assistência fraterna, são feitos trabalhos de assistência, de caridade mesmo, de doar roupa, doar alimento, doar sabonete, ajudar os moradores de rua, ajudar as grávidas que estão tendo seus bebês e não têm recurso. E também orientação moral, são dados cursos de evangelização, vão pessoas de todos os tipos, a pessoa se separou, a pessoa, alguém morreu da família, a pessoa não sabe o que fazer, ela procura uma igreja, uma assistência, alguém pra ajudar. Tem tratamento com psicólogo, tem tratamento e tem uma conversa fraterna, uma pessoa que, como você ou como eu, está lá pra te ouvir, pra te ajudar, falar: “Não, calma, não é o fim do mundo, as pessoas se separam, a gente perde o emprego, não, calma, não se desespere.” Porque as pessoas, hoje, no mundo que a gente vive, está todo mundo muito perdido, não tem uma pessoa pra te dar a mão, pra falar com você.
P/1 – Você é conselheira lá?
R – Não, eu vou te contar, eu sou conselheira na Abimo [Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos], na Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], mas lá não (risos). Lá eu trabalho, eu dou passe para pacientes dependentes químicos e para os familiares – passe é uma vibração amorosa e uma energia, uma troca de energia. E já dei aula pra duas turmas sobre um tema específico: primeiro eu dei uma aula sobre o poder da oração, eu dei três aulas “O poder da oração”; depois eu dei uma aula sobre o sermão da montanha, de Jesus; e depois, semana passada, eu dei uma aula sobre os discípulos, os apóstolos e os discípulos de Jesus. E, hoje, quem são os discípulos de Jesus? Somos nós, que fraternalmente vão ter que ajudar o nosso semelhante, é eu estender o braço pra você e você estender o braço pra mim, isso é o que Jesus pediu, que a gente pusesse mãos à obra, esse tipo de coisa.
P/1 – E da Fiesp?
R – E da Fiesp. Eu sou conselheira da Abimo, Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médico Odontológicos. São muitas empresas que fazem parte da associação, e existe um grupo de conselheiros, de diretores conselheiros. Nós temos uma reunião a cada dois meses, onde a gente debate temas que são de interesse do setor, por exemplo, como é que vamos reduzir, como é que se vai viabilizar o preço dos remédios no Brasil na situação em que se encontra o INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], temas variados, não são só temas de saúde bucal ou de Odontologia, que eu entendo. Tem gente da indústria, de todos os segmentos, e a gente dá uma opinião e procura encontrar uma forma de o setor progredir.
P/1 – O que você conhece da história da Colgate?
R – Bastante, porque, como a gente fala para os dentistas, eu já estudei bastante e já fizemos linhas do tempo para explicar. Eu vou resumir pra vocês, que a Colgate é uma empresa de mais de 200 anos, ela começou em Nova York e foi fundada por William Colgate. William Colgate era um produtor de velas e de engomadores de roupa, e a empresa começou, foi crescendo, o negócio dele prosperou, em determinado momento, que eu não sei precisar, se juntou com a Palmolive, que na verdade em inglês é palm olive, óleo de palma, que são os sabonetes Palmolive. Por isso a Colgate se chama Colgate-Palmolive, é a junção de duas marcas. Colgate é uma marca muito famosa, líder mundial em higiene bucal, é uma marca que está presente, é a marca mais presente nos lares do mundo, 64% de todos os lares do mundo têm um produto Colgate. No Brasil também é a marca mais presente, nos lares do Brasil. E o que mais eu posso falar? É a marca mais reconhecida pelos dentistas, mais lembrada pelos consumidores.
P/1 – E aqui no Brasil, dos 90 anos... O que representa uma empresa fazer 90 anos aqui no Brasil?
R – Uma das responsabilidades da minha área, que é a área de relações profissionais, é a área de educação pra saúde bucal, eu cuido de um programa chamado “Sorriso Saudável, Futuro Brilhante”. É um programa mundial que a Colgate tem, que educa crianças de seis a dez anos a escovarem os dentes, ensina, pra que elas aprendam a escovar os dentes de forma adequada e lavem suas mãos de forma adequada. Eu sou responsável por esse programa no Brasil, o programa existe há 25 anos, e nós já ensinamos mais de 55 milhões de crianças brasileiras a escovar os dentes. A Colgate doa uma escova, um creme dental e um sabonete pra cada criança. De várias formas a gente consegue fazer isso. Através de iniciativa própria, a gente tem dentistas que vão às comunidades ensinar, ou nós fazemos parcerias com as universidades de Odontologia, com os professores, com os conselhos, com a Igreja, com a Rede Globo, com uma série de programas de assistência à criança, à saúde, somos parceiros do Ministério da Saúde, somos parceiros dos municípios, das Secretarias de Saúde, das Secretarias de Educação, e juntos somamos esforços. A Colgate doa a escova dental, o creme e o sabonete, o dentista doa o seu tempo, e a criança aprende a escovar os dentes, é um conhecimento que ela vai levar pra vida inteira. A cárie, no Brasil, teve uma redução enorme nos últimos anos, ainda inspira cuidados, mas nós somos um país com uma condição de cárie muito boa, muito baixa perto de outros países até mais desenvolvidos do que o nosso.
P/1 – A Colgate tem um papel grande.
R – Um papel fundamental, porque a Colgate não faz propaganda disso, muita gente fala: “Nossa, eu nunca soube disso.” É porque a Colgate não fica falando: “Ai, eu faço caridade, olha, eu ajudo, eu faço”, não. Ela faz, sempre fez, vai continuar fazendo e quietinha.
P/2 – Nesse projeto do “Sorriso Saudável, Futuro Brilhante”, você tem alguma história em alguma comunidade?
R – Nossa, muitas!
P/2 – Fala de algumas.
R – Por exemplo, uma coisa que, se eu falar, vocês vão falar: “Não, não acredito que você foi lá!” No Morro do Alemão, lá em cima, no teleférico. Como a gente tem uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, onde outras empresas também somaram esforços pra atender as comunidades do Rio de Janeiro, a gente atende algumas comunidades: Maré, Alemão. A gente foi fazer uma visita, e fomos até o alto do Morro do Alemão, lá em cima na comunidade, e você vê a vida lá, é igualzinha à vida aqui. A gente tem uma ideia errada do que é uma comunidade. Eles são pessoas como a gente, vivem como a gente, as casas são muito bem equipadas, têm televisão, têm antena parabólica, têm som melhor do que o que você tem na sua casa, geladeira, tudo bonito, tudo maravilhoso. Claro, eu estou falando de uma condição no Rio de Janeiro. Por exemplo, se a gente, quando a gente vai para o sertão do Cariri, a condição é outra. Então, esse trabalho me permite conhecer áreas muito diferentes de São Paulo, por exemplo, áreas de extrema pobreza que a gente tem no município de São Paulo, que são bolsões de pobreza. Junto com a Prefeitura de São Paulo e com professores da USP [Universidade de São Paulo], do Departamento de Odontopediatria, a gente consegue ajudar, doar produtos pra comunidades que têm extrema necessidade.
P/1 – Tem algum contato com alguém da comunidade que você tenha tido?
R – Uma vez teve uma coisa engraçada. Tem uma favela aqui do lado, uma comunidade. Daí, estou no meu ramal, me liga uma pessoa: “Alô, Doutora Patrícia? Oi, aqui é o Zé das Neves, tudo bem?” Eu: “Zé das Neves, pois não, tudo bem?” “Então, olha só, eu sou aqui da favela do lado da Colgate e eu sei que a senhora que é responsável por esse projeto, né?” “Sou.” “Eu queria saber se a senhora vai doar os kits pra gente aqui, se a gente vai poder ir aí buscar, porque...” Daí eu falei: “Espera aí, como você conseguiu meu contato?” “Não, o pessoal aqui da portaria que falou, todo mundo sabe que a senhora que é responsável.” Falei: “Caramba, meu Deus do céu” (risos). Eu falei: “Não, não, nós vamos doar, não se preocupe, nós vamos atender vocês.” Então, ligam umas coisas, umas situações que você tem que... Ou gente que reclama que não foi atendido, porque, imagina, a gente tem uma quantidade de kits limitada, são milhões de kits, mas chega uma hora que o milhão acaba: “Ah, eu pedi, não recebi.” “Mas, doutor, pede de novo o ano que vem.” “Não, eu não posso esperar, minha comunidade...” “Eu sei, mas...” Gerenciar esse tipo de recurso também é complexo, porque as pessoas acham que você é obrigado a dar. As pessoas pensam muitas coisas, sabe?
P/2 – E alguma coisa com alguma criança nesse projeto de educação?
R – Cada encontro é uma coisa muito emocionante.
P/1 – Alguma que você se lembre, alguma história específica?
R – No Brasil, as crianças escovam os dentes, graças a Deus. As crianças não têm, às vezes, uma escova pra cada pessoa, a pessoa não tem. No Brasil, se compartilha escova. Creme dental está presente em todos os lares brasileiros, 98% dos lares brasileiros, de cima a baixo, têm creme dental, as pessoas escovam os dentes, mas nem sempre cada um tem a sua escova, e as escovas não são trocadas com a frequência que deveriam. Pra uma escova ser eficiente, você tem que usá-la por mais ou menos três meses ou até antes das cerdas se abrirem. Quando a escova estiver toda aberta, ela não faz mais a função de limpeza, ela não limpa nem sapato, mas as pessoas às vezes não trocam a escova, não têm condição de trocar a escova ou, às vezes, aquela família toda usa uma escova, o pai, a mãe e os filhos. Quando você doa uma escova e um creme dental e um sabonete para aquela criança: “Ah, nossa, tia, muito obrigada, é a minha primeira escova.” Crianças de oito anos às vezes, estamos falando em São Paulo, eu não estou falando de quando a gente vai para o sertão da Paraíba. Então, é muito emocionante, mas, quando você faz isso há muito tempo, você se acostuma a poder ajudar e a ouvir essas coisas das crianças, e eles falam coisas muitos legais: “Ai, eu vi na televisão.” Televisão é um negócio que a criança vê e: “Ah, eu vi”, eles sabem. A gente lançou um creme dental muito inovador, com uma tecnologia chamada neutraçucar, que age no PH da sua placa bacteriana, é como se fosse um produto inteligente, e o que a gente falava na televisão as crianças falavam: “Ah, eu sei o que é neutraçucar, a tecnologia que...”, sabe? (risos) Eu falo: “Nossa!” Criança é fogo.
P/1 – Patrícia, pegando sua trajetória de vida, você lembrando, qual é uma lembrança que te faz sorrir dessa sua trajetória de vida? Pode ser mais de uma.
R – Ah, na relação com pessoas, sempre eu vou sorrir com pessoas, na convivência, no trabalho. O dia a dia de trabalho é leve, porque você trabalha com pessoas que você gosta, a gente convive mais com as pessoas do trabalho do que com, às vezes, a nossa própria família. Então, você tem que criar um ambiente agradável, prazeroso. Nem todo mundo que trabalha junto se gosta, é superamigo, não precisa ser superamigo, mas tenha uma boa convivência, uma camaradagem: “Estamos juntos na alegria e na tristeza.” Eu sempre tenho lembranças muito boas desses momentos de convivência.
P/1 – Você lembra de algum, pode descrever algum?
R – Tem tantas coisas engraçadas, eu sou muito prática, então...
P/1 – Você deve ter várias histórias que você está escondendo.
R – (risos) Eu fico pensando: “Será que eu posso contar isso?”
P/1 – Pode, se você não quiser deixar gravado, a gente edita.
R – Eu sou muito prática, e às vezes as pessoas... Eu penso muito rápido, eu falo rápido e já estou pensando em outra coisa. E às vezes as pessoas não acompanham o que está na minha cabeça, elas não têm obrigação de entender o que eu estou pensando. Com o tempo, eu fui aprendendo isso, que eu preciso meio que desenhar, eu falo: “Espera aí que eu vou...” Então, eu tenho um papel embaixo da minha mesa, um bloco, eu puxo, eu falo: “Eu vou desenhar.” Eles já tiram sarro: “Você vai desenhar?” Eu falo: “Vou, tem que fazer primeiro? Primeiro você vai fazer isso aqui, depois...”, eu puxo uma flecha. Os meus desenhos são uma pessoinha, uma flecha ou um gráfico assim: “A gente tem que crescer.” É isso, mas eles já tiram sarro de mim falando: “Você vai desenhar?” “Eu vou desenhar, espera aí, deixa eu...” (risos) e começo a desenhar. Daí o Luciano, que trabalha comigo, fala: “Eu tenho todos os seus desenhos, olha, esse aqui você fez pra mim esse dia, depois você repetiu esse gráfico aqui.” (risos) E as coisas que eu falo também.
P/1 – Tipo?
R – Eu falo: “O que não está claro? De novo, eu vou explicar, o que não...” Daí começo a fazer essa cara de nervosa (risos), a pessoa fala: “Não, Pati, está claro, só essa parte que eu não entendi.” Eu falo: “Então, eu vou te explicar de novo, vamos de novo.” (risos) Mas no fim a gente lembra o que precisa fazer. Tem tantas prioridades, a gente tem tanta coisa pra fazer, tanta cobrança, que a gente não sabe o que faz primeiro. Se alguém não te disser, alguém que tem mais senioridade que você, te disser: “O caminho é por aqui, faz isso.” “Eu não sei se eu faço isso ou aquilo.” “Para isso, que não é tão prioritário, faz aquilo.” Quando as pessoas vão dando pra gente um norte, você vai: “Ah!” Tem muita gente nova, que você precisa pegar pela mão e explicar o que é pra fazer. Então, o meu jeito de explicar é bem de encenação: “Deixa eu te explicar, vem aqui, tá vendo? Isso, isso, nós vamos fazer isso aqui, isso aqui esquece.” “Não, mas fulano falou.” “Guarda pra depois, agora não, vamos fazer isso aqui primeiro. Já terminou esse? Não terminou, então, não vai pegar outro.” É engraçado.
P/1 – Pensando na sua trajetória de vida, infância, juventude, qual é uma lembrança que te faz sorrir agora? Hoje você lembrou algumas coisas aqui.
R – Família.
P/1 – O quê na sua família?
R – O jeito da minha família, a minha família é uma família que pergunta: “Foi boa a festa? Você ficou feliz? Você gostou? Como foi a viagem? Como você se sentiu?” A minha família não pergunta: “Você foi ao casamento? A noiva estava bonita? O que tinha pra comer?” São famílias diferentes, quando você convive com outras famílias, outras pessoas de outro jeito, você vê que muitas pessoas são muito ligadas em coisas que pra mim não são tão importantes. Eu estou mais preocupada: “Ah, eles estão felizes? Ai, vocês gostaram de mudar pra esse lugar? Vocês gostavam mais quando vocês moravam antes?” Porque você vai aprendendo com a experiência dos outros. Se a pessoas estava vestida assim, assado, se o carro que ela comprou agora é melhor do que o que ela tinha ou se o dinheiro que ela tem... É tudo tão passageiro. Uma hora a gente está em cima, depois a gente está embaixo, depois a gente sobe de novo, depois você cai outra vez, porque o Brasil entra numa situação. Então, a gente não pode ser muito apegado às coisas nem muito: “Ai, eu sou isso.” Hoje eu estou aqui, pode ser que um dia eu não esteja mais, mas eu vou continuar sendo quem eu sou, independentemente da posição que eu ocupar. Se você é uma pessoa legal, legal para você e para os outros, não é ser legal para os outros, se você é uma pessoa de bem com a vida, você está bem aqui como chefe, está bem como a base da pirâmide, está bem como topo da pirâmide, e vai, e vamos indo, bola pra frente.
P/1 – Patrícia, tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você acha importante deixar registrado, algum fato?
R – Não, porque eu estou falando tanto, eu não parei nem pra pensar em nada.
P/2 – Quer beber uma água?
R – Não, obrigada, eu quero só ver que horas são.
P/1 – A gente vai caminhar pra encerrar.
R – Duas e 15. Eu só não queria que ficasse uma coisa um pouco... Sabe?
P/1 – Não, pode ficar tranquila.
R – Porque parece muito metido.
P/1 – Está o contrário disso. Patrícia, o que você acha de ter contado a sua história? O que você achou da experiência de ter contado a sua história de vida para os 90 anos da Colgate e para o Museu da Pessoa?
R – Achei incrível, porque, quando você começou a explicar o que é o Museu da Pessoas, eu falei: “Nossa, eu vou ficar registrada pra posteridade, que máximo!” Achei muito legal e agradeço a lembrança do meu nome, o time todo de marketing, os meus colegas, a Paula, toda a equipe, que estão me dando essa oportunidade rica de estar aqui podendo falar. Ela me explicou, mas na hora eu não tive a dimensão do que é isso, que é muito legal. Se cada pessoa, tem tanta gente que tem tanta história legal de exemplo, de motivação, de inspiração, de aprendizado para os outros, né? Nem sei se a minha história é uma história de aprendizado, mas eu acho que ela é a minha história. Então, legal eu ter a oportunidade de poder contar e alguém estar ouvindo. Minha mãe, no céu, vai ficar muito feliz, e o meu pai vai ficar empolgado também (risos). Obrigada pela oportunidade.
P/1 – Eu queria agradecer em nome do Museu da Pessoa, foi uma entrevista superbonita.
R – Obrigada, adorei.
P/1 – Qual creme dental você usa, Patrícia?
R – Eu uso Colgate Total 12, eu até brinco que, se um dia eu for sequestrada, vai ter que pedir pro sequestrador levar um Colgate Total 12 pra mim (risos), porque eu sou dependente do produto.
P/1 – Patrícia, você tem uma comenda.
R – Tenho.
P/1 – Você pode contar como é que foi?
R – Claro, com prazer. Eu fui reconhecida pelo Conselho Regional de Odontologia de São Paulo pela parceria que, junto com o Conselho e a Secretaria de Saúde e de Educação do Estado de São Paulo, nós doamos e implementamos nas escolas públicas um programa de educação pra saúde bucal das crianças do Estado de São Paulo. Em função dessa parceria, que foram milhões de kits doados ao longo de vários anos, o Conselho reconheceu a Colgate e me reconheceu como pessoa chave nessa iniciativa. Eu fiquei muito honrada de receber a comenda, a Medalha Tiradentes, que é a mais alta honraria que a Odontologia paulista pode conceder a um pessoa. E sou muito privilegiada e me senti muito lisonjeada por ter sido reconhecida pelo conselho.
P/1 – E um prêmio que você ganhou em Nova York?
R – Eu ganhei também pela Colgate. A Colgate tem um prêmio chamado “You Can Make a Difference”, é “você faz a diferença”, para todas as iniciativas que os funcionários têm que fazem a diferença para a empresa. E eu ganhei o prêmio em 2012, referente a 2012, sobre uma iniciativa de um programa de educação para a saúde bucal para os agentes comunitários de saúde. O Brasil tem 250 mil agentes comunitários de saúde, que são pessoas das comunidades que visitam as casas das famílias e fazem todo tipo de orientação de saúde, prevenção de doenças, dengue, zica, todo esse tipo de trabalho. E nós fizemos uma abordagem ao Ministério da Saúde perguntando: “Vocês educam sobre saúde bucal?” “Não, não educamos.” “Nós podemos, nós, Colgate, podemos fazer um projeto piloto pra que os agentes comunitários de saúde do Brasil recebam educação em saúde bucal?” “Podem.” Então, fizemos um projeto em parceria com o Ministério da Saúde, onde o programa foi desenvolvido a quatro mãos com professores de universidades muito conceituadas do Brasil. Implementamos esse programa, e esse programa foi reconhecido na Colgate como iniciativa inovadora e que melhora a condição de saúde da população. E por isso eu recebi o prêmio da Colgate em Nova York.
P/1 – Bacana.
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