Leticia Maiumi Mendonça, 26/07/2020, 3º dia da jornada
Eu só morei em dois lugares até agora, dois apartamentos. Ficam no mesmo bairro, inclusive. Mas eu não tenho memória da minha primeira casa, a única exceção é a história que contei no primeiro dia de jornada, história sobre minha lembrança mais antiga. Então, quando penso na minha casa presente, penso que vivi quase minha vida inteira aqui: entre essas paredes, debaixo deste teto, sobre esse piso.
Acho que casa é diferente de lar. Para mim, a palavra "casa" é algo que remete a construção, tem um aspecto concreto, material. Já "lar" eu penso ser onde nos sentimos acolhidos, um lugar, um espaço social, talvez. Tem uma música do Talking Heads chamada This must be the place, que diz: "Home is where I want to be". Neste sentido, a casa pode ser um lar ou não, ou melhor, pode estar um lar ou não.
Porque existe momentos e momentos. Às vezes, nos sentimos bem na nossa casa, nos sentimos seguros, mas também acontece de querer ir embora, procurar outro lugar. Acho que nesta pandemia estes sentimentos distintos têm aparecido com mais frequência.
Apesar da casa estar ligada a moradia, ao material, ela carrega muitas memórias, muitas vivências. No meu caso, é possível dizer que minha vida está aqui: lembro de muitos episódios, bons e ruins, que associo a cada cômodo. Quando eu me mudar de casa, as paredes vão ficar, o teto e o piso também, mas as histórias vividas eu vou levar e vão me remeter aqui.