P/1 - Consuelo Montero
P/2 - Monique Lordelo
R - Carlos Vitor Ajuz Braga
P/1 – Senhor Carlos, em nome da White Martins e do Museu da Pessoa, eu agradeço a sua presença aqui. E para começar, gostaria que o senhor dissesse seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Eu é que agradeço por ter sido convidado para esse evento de 100 anos, principalmente porque eu trabalho em uma empresa que vai completar 100 anos também em agosto do ano que vem. Meu nome é Carlos Vitor Ajuz Braga. Carlos Vitor é um nome raro, não é comum. O Ajuz é um nome grego, de meu avô por parte de mãe. E o Braga, lógico, é português, de meu avô Luiz Lisboa Braga. Mais português que isso não podia ser. Ele é de origem mineira, mas neto de portugueses. Nasci no Rio de Janeiro, já perdi o sotaque - não tenho sotaque carioca. Percebe-se que eu estou com mais sotaque paulista do que carioca. Nasci no bairro de Vila Isabel, no dia 27 de março de 1946, quer dizer, eu sou um “baby boom”. Por coincidência, 27 de março é aniversário da Xuxa também, então, sempre que a Xuxa faz aniversário, com certeza, lembram de mim (risos) - é o dia do aniversário dela. E foi isso, nesses anos todos... De Vila Isabel fui morar em Copacabana, numa rua chamada Ronald de Carvalho, que era uma rua muito boa. Muito tempo eu morei por lá, depois eu fui morar... Morei muitos anos na Tijuca. Depois casei com uma carioca também, chamada Lilian Maria, que chamo de Lilinha. Tivemos dois filhos maravilhosos. O mais velho, casado. O mais novo, solteiro, tem um 1,80 metro, olhos azuis, forte... Se alguém estiver solteira também, pode apresentar. (risos) Tenho um neto e uma neta que são maravilhosos: o Felipe, com cinco anos e a Gabriela, que fez um ano ontem. Em 1964, comecei a estudar engenharia na PUC, Pontifícia Universidade Católica, na Gávea. Me formei, e fui trabalhar com vidro em 1968. Trabalhava com garrafas de vidro. Com o tempo... O tempo foi...
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P/2 - Monique Lordelo
R - Carlos Vitor Ajuz Braga
P/1 – Senhor Carlos, em nome da White Martins e do Museu da Pessoa, eu agradeço a sua presença aqui. E para começar, gostaria que o senhor dissesse seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Eu é que agradeço por ter sido convidado para esse evento de 100 anos, principalmente porque eu trabalho em uma empresa que vai completar 100 anos também em agosto do ano que vem. Meu nome é Carlos Vitor Ajuz Braga. Carlos Vitor é um nome raro, não é comum. O Ajuz é um nome grego, de meu avô por parte de mãe. E o Braga, lógico, é português, de meu avô Luiz Lisboa Braga. Mais português que isso não podia ser. Ele é de origem mineira, mas neto de portugueses. Nasci no Rio de Janeiro, já perdi o sotaque - não tenho sotaque carioca. Percebe-se que eu estou com mais sotaque paulista do que carioca. Nasci no bairro de Vila Isabel, no dia 27 de março de 1946, quer dizer, eu sou um “baby boom”. Por coincidência, 27 de março é aniversário da Xuxa também, então, sempre que a Xuxa faz aniversário, com certeza, lembram de mim (risos) - é o dia do aniversário dela. E foi isso, nesses anos todos... De Vila Isabel fui morar em Copacabana, numa rua chamada Ronald de Carvalho, que era uma rua muito boa. Muito tempo eu morei por lá, depois eu fui morar... Morei muitos anos na Tijuca. Depois casei com uma carioca também, chamada Lilian Maria, que chamo de Lilinha. Tivemos dois filhos maravilhosos. O mais velho, casado. O mais novo, solteiro, tem um 1,80 metro, olhos azuis, forte... Se alguém estiver solteira também, pode apresentar. (risos) Tenho um neto e uma neta que são maravilhosos: o Felipe, com cinco anos e a Gabriela, que fez um ano ontem. Em 1964, comecei a estudar engenharia na PUC, Pontifícia Universidade Católica, na Gávea. Me formei, e fui trabalhar com vidro em 1968. Trabalhava com garrafas de vidro. Com o tempo... O tempo foi passando, e passa rápido, os filhos nasceram e eu fui transferido para São Paulo. Vim para São Paulo e fiquei cinco anos, de 1979 a 1984. Eu fiquei na fábrica de garrafas em São Paulo. Em 80, fui para Espanha.
P/1 – Eu vou interromper um pouquinho o senhor. O senhor está falando muita coisa interessante, vou ter que voltar um pouquinho.
R – Pois não.
P/1 – Eu fiquei curiosa com o nome Ajuz, ele significa alguma coisa?
R – Ajuz significa o mais velho. Quer dizer, é costume nas famílias, tanto do Líbano, Síria, Grécia, manter o sobrenome e, às vezes, com algum significado. Esse Ajuz veio para cá. O sobrenome dele era Demétrius, ficou Miguel Demétrius Ajuz. Quando eu era mais novo, perguntavam o que significava Ajuz e eu dizia que significava “o mais bonito”, (risos), mas, na verdade, quer dizer “o mais velho”. É esse o significado.
P/1 – Senhor Carlos, e na família, havia conversas a respeito do que o senhor ia ser quando crescer?
R – Tinha. Há muitos anos atrás, ainda jovenzinho, eu pensava em ir para Marinha. Trabalhar na... Ser oficial de marinha. Mas nunca concretizei, nunca... Comecei a ver outras coisas. Na PUC, essa Pontifícia Universidade Católica, que é muito boa e deve ser até hoje, assistíamos a palestras de empresas. Ia o diretor da Ford, o diretor de laboratórios químicos, e faziam palestras sobre as atividades que havia nas empresas.
P/1 – A partir do primeiro ano?
R – Já no segundo ano.
P/1 – O senhor escolheu Engenharia...?
R – De produção.
P/1 – De produção?
R – Mecânica de produção.
P/1 – E quais seriam os motivos que o levaram para essa área?
R – Pois é. Eu diria que uma contribuição foi a palestra que eu vi sobre engenharia de produção, mecânica de produção.
P/1 – Mas antes disso, engenharia por quê?
R – Eu diria que foi por exclusão, eu nunca seria médico nem dentista, não. Tanto é que meu irmão é dentista; eu nunca seria médico, nem dentista, eu não tinha essa vocação. Não seria advogado, não seria político, que já naquela época não era bom ser político. E aí eu fui eliminando, entende, como o jovem faz normalmente; e achava engenharia um negócio bacana. Eu sempre gostei de matemática, de estatística, de... As coisas que eu gostava me levaram para a engenharia, foi por aí.
P/1 – Como é a Engenharia de Produção? Dê um exemplo, assim... Descreva alguma coisa que tem a ver.
R – São frequências de ocorrências. Por exemplo, no nosso caso. A senhora tem certa atividade, a produção de um produto, um prato, por exemplo, e começa a analisar estatisticamente com que frequência determinado defeito, determinado ajuste, precisa ser feito. Então, isso vai criando um gráfico, dizendo assim: “Olha, isso acontece mais no segundo turno, quando há troca de turno”. Porque aqui sempre se trabalha em três turnos - 24 horas, sete dias por semana -, não tem feriado. Então, se isso aconteceu num sábado, se isso aconteceu num fim de semana, à noite, se isso aconteceu numa troca de turno, isso vai lhe dando instrumentos estatísticos para fazer algumas análises, algumas correções, inclusive, ações em cima dessas... Então essa, quer dizer... Na verdade, eu gostava de estatística e vim [a] entender que ajudava muito, estatística, na área de produção. Então, foi esse o caminho seguido. A matemática, lógico, na engenharia tem muita matemática, e a mecânica também é interessante. Na época, eu... Eu não defendi uma tese, mas apresentei um projeto sobre elevadores, que é um negócio também muito interessante. Acho que até hoje tenho esse trabalho; e como aprendi para fazer esse trabalho! Como aprendi sobre elevadores! Mas antes de trabalhar com vidro, eu trabalhei com computadores. Trabalhei na IBM como estagiário, até pra ajudar a pagar a escola; e foi uma época muito interessante, porque os computadores, na época, não eram como os de hoje - os “tablets” pequenininhos -, era uma máquina imensa...
P/1 – Cérebros eletrônicos...
R - Isso... Eu nasci... Tenho 65, vou fazer 66 anos, no dia do aniversário da Xuxa. Então, (risos) não é pouco tempo... Os computadores, na época, eram diferentes, trabalhei muito tempo com isso também.
P/1 – Como estagiário?
R – Como estagiário. A IBM fazia o fechamento de uns 10 a 15 bancos, pequenos, menores. Então, eu começava a trabalhar às sete horas da noite nessa central que era na Avenida Presidente Vargas com a Avenida Rio Branco. Naquela esquina ali, tinha o prédio da IBM e era lá que eu ficava. Nessa época, o vovô Miguel tinha uma casa lá em Paquetá - não sei quem conhece a Ilha de Paquetá, mas ela é uma delícia. Por sinal, era a casa onde ficou exilado o José Bonifácio. Isso foi o meu tempo de garoto, juventude. Em 1970, casei. Sou casado há 41 anos com a mesma mulher, que é um negócio também muito raro hoje em dia, mas, eu estou muito contente. Eu casei no dia 12 de junho de 1970.
P/1 – Casou na época da faculdade?
R – Não, em 70, eu já estava formado. Eu queria casar antes, minha sogra que não deixou, (risos) mas...
P/1 – Por conta de terminar primeiro a faculdade?
R – É. E porque ela era chata também, (risos) ela era implicante, mas - Deus a tenha, ela faleceu -, e teve isso também: “Não, não. Deixa ele se formar, aí vocês casam”. Eu me formei, casamos.
P/1 – Casado, o senhor já estava trabalhando?
R – Já, já tinha...
P/1 – Qual foi esse...? Conta um pouquinho para a gente sobre esse primeiro emprego, então.
R – Eu trabalhei no departamento central de engenharia de produção, de uma fábrica de vidros americana. Era responsável pela mecanização. Tudo que era mecanização na fábrica. Tinha que estar antenado para ver o que havia de moderno, o que não, o que era pra fazer, o que não era. E foram muitos anos trabalhando. Depois eu fui ser chefe da manutenção das máquinas, na fabricação de garrafas e moldes, depois gerente da manutenção geral, que é uma atividade muito parecida com a do prefeito, quer dizer, tudo o que acontecia na fábrica, qualquer buraco no chão, qualquer coisa, era manutenção geral, tinha que ver. Depois fui gerente de produção, e aí vim pra São Paulo como gerente da fábrica daqui de São Paulo.
P/1 – Sempre na área de vidros?
R – Sempre trabalhei com vidros. Tirando esse estágio na IBM, eu sempre trabalhei com vidro - nunca foi diferente não. É o que a gente chama vidro oco. O vidro plano é o vidro pra automóvel, pra janela. O vidro oco é pra garrafa, copo, travessa - isso é vidro oco. Desde 1968, eu trabalho aqui.
P/ – Então, o senhor saiu do Rio de Janeiro e veio... Como foi essa transição?
R – Olha, a fábrica que eu trabalhei, essa fábrica do grupo americano, é enorme. Têm as residências, a casa dos... Tinha a casa do gerente da fábrica, do gerente de produção, e do gerente de produtos acabados. Era uma casa maravilhosa, um terreno de quatro mil metros quadrados, casa de seiscentos metros quadrados, piscina, quadra de tênis, vôlei. Para as crianças, meus filhos que eram pequenos, foi ótimo. Um deles... Acho que tinha oito anos, o outro tinha dez, por aí, então foi muito bom pra eles; foi muito bom pra minha mulher, ela gostava muito daqui; e com a facilidade... Como a fábrica era distante, nós tínhamos um motorista. Um era pra mim e pra minha mulher, e outro era para as crianças. Por isso que eu pouco conheço São Paulo. Toda vez que eu saía, saía de motorista. Então, a gente fica assim, (risos) não conhece as formas de sair de alguma encrenca: “Está engarrafado? O que faço? Fico no engarrafamento”. Mas foi uma época interessante. Depois, fui convidado para ser o diretor das fábricas na Espanha. Na Espanha, esse grupo americano tinha uma fábrica em Madrid e uma fábrica em Sevilha. Fui para Madri e fiquei trabalhando, foi muito bom. Meus filhos foram junto e começaram a estudar no colégio americano. No final da história, eles falavam inglês, espanhol, porque estávamos na Espanha, e português, quer dizer, já tinha três idiomas na cabeça deles. Depois, essa fábrica que tinha em Madri, fechou. Outra foi comprada, e juntada à outra fábrica em Barcelona. Dividiram a diretoria. O diretor presidente e outros mais ficaram em Sevilha, e outros foram para Barcelona. Eu fiquei em Sevilha. Foram seis anos de Madri e dois em Sevilha. Minha mulher adorava Madrid. Sevilha, ela não gostou muito não, não se adaptou muito, porque ela estava muito sozinha. Os filhos já tinham saído. O filho mais velho foi para Boston, nos Estados Unidos, fazer marketing, e o mais novo estava indo pra Suíça estudar gastronomia e hotelaria. O mais velho é esse casado e o mais novo é esse de um 1,80 metro, olhos azuis, forte. (risos) Então, eles estavam fora, ela [ficou] muito sozinha, eu trabalhando... Ia à Barcelona, vinha ao Brasil, ia aos Estados Unidos, e isso foi incomodando ela. Quando apareceu oportunidade, voltamos para o Brasil. Fomos morar no Recife.
P/1 – Trabalhando na mesma empresa?
R – É. De certa forma, sim, porque essa empresa começou a dar assistência técnica para a empresa de Recife. Fiz um contrato com eles. Terminou esse contrato, vim trabalhar na Nadir. O presidente da Nadir, Morvan Figueiredo, fez contato comigo, me convidou se eu queria vir pra cá, ser o diretor industrial, e eu aceitei sem dúvida e rápido, porque era interessante.
P/1 – Nesse período todo da faculdade até essa fábrica, o gás, como é que entrava na sua vida? Já tinha ouvido falar? Ouve-se falar em gases na universidade?
R – Ah sim, sem dúvida.
P/1 – Existem disciplinas correlatas? Você já sabia da conexão dos gases com os vidros?
R – Já. Aliás, na Espanha, ouvia-se falar muito num sistema de combustão para fusão do vidro, que são os fornos oxigás com oxigênio e gás natural. E o oxifluor, que pode usar também com óleo. Foi feito na Nadir, junto com a White Martins quando eu estava voltando para o Brasil. Temos até hoje o forno oxigás em parceria com a White. Tem as vantagens na combustão do gás natural. Para a senhora ter uma ideia: é preciso uma quantidade de gás para doze quantidades de ar, pra fazer a combustão, ou uma quantidade de gás e duas e meia quantidade de oxigênio pra fazer a combustão - isso é chamado de relações taqueométricas. Então, fica muito mais rica a combustão. Claro que o ar tem oxigênio também; agora eu estou entrando numa parte técnica. Se não me falha a memória, o primeiro forno oxigás do Brasil feito em parceria com a White Martins foi esse aqui.
P/1 – E o senhor acompanhou esse projeto?
R – O finalzinho dele e o início de operação do forno. Isso foi em 1995. Participei bastante do projeto de construção do forno, era um forno totalmente elétrico que passou a ser um forno oxigás. Na época, eu trabalhei, e trabalho até hoje com um rapaz chamado Abílio, que é da White Martins. O primeiro contato com a White Martins começou nesse ponto.
P/1 – E como surgiu essa demanda, o senhor acompanhou o surgimento dessa demanda? Quais foram os fatores que impulsionaram vocês? E que tipo de contrato era, que tipo de relação?
P/1 - O forno oxigás com oxigênio e gás natural ocupa menos espaço, ou seja, na mesma área, consegue-se fundir mais vidro. Essa é uma vantagem. A White Martins participou muito do projeto, entende?
P/1 – Em que sentido?
R – No tipo de forno, no desenho, os queimadores que devem ser usados, o material que deve ser usado, como deve ser feita a montagem do forno. Foi uma parceria muito interessante na época. A White Martins ofereceu essa parceria, e foi aí que conhecemos mais profundamente a White Martins. A White é um fornecedor de oxigênio e outros gases em escala menor... Neste caso, não, aí já foi... E aí veio a construção. Nós temos uma fábrica de oxigênio da White Martins aqui dentro da empresa.
P/1 – Aqui em São Paulo?
R – É. Na nossa fábrica tem um VPSA. É uma unidade quatro vezes o tamanho dessa sala aqui, que produz o oxigênio para nos atender. Então, isso também foi interessante, na época, ter essa parceria. Porque enquanto nós estávamos construindo o forno, eles estavam construindo essa unidade fabril de oxigênio.
P/1 – Quer dizer que além dos equipamentos, tem o serviço e o insumo?
R – Exatamente, ou seja, foi barba, cabelo e bigode, foi completo o atendimento na época.
P/1 – E hoje, o senhor está envolvido em que projeto aqui na White Martins?
R – Os próximos fornos nossos serão oxigás, ou seja, vamos construir outros, transformar fornos que nós temos hoje que não são oxigás, e passar pra oxigás. Desenvolvemos também com a White Martins, o uso do hidrogênio pra produção do vidro; e desenvolveremos queimadores novos. Estive visitando em Buffalo [Estados Unidos], o Centro Técnico da White Martins, que é um negócio espetacular. Quem não conhece, deve conhecer.
P/1 – Por que é espetacular?
R – Pela história. A senhora que gosta de histórias... Eles estão hoje no prédio onde construíram a bomba atômica, numa cidade próxima de Buffalo, que eu não vou lembrar o nome, mas é bem próxima. Fui de carro, podia ter ido até andando de tão próximo. E é interessante porque são diversos prédios, e os prédios não seguem uma numeração ordenada, tem o prédio número um número cinco, número doze, número dois... Até porque se alguém fotografasse, falasse: “Não, o pessoal está no prédio número três”, eles não saberiam, na sequência, qual seria o prédio número três - isso me contaram lá. E as experiências que eles fazem lá, o ambiente é muito interessante, são as inteligências trabalhando. E no meio tinha como se fosse um, uma área de lazer, um bar, um café, com... Muito interessante, muito... E as inteligências, você vê o pessoal estudando, trabalhando nas ideias e tal.
P/1 – E o senhor foi para lá com alguma missão?
R – Eles estavam desenvolvendo, estavam buscando parceria para um sistema de aquecimento da composição na entrada do forno, ou seja, eu preciso fundir o vidro, a mistura; está tudo lá em pó e eu preciso fundir. Preciso jogar fogo e tudo mais... Se eu tiver essa mistura aquecida, até pela exaustão dos gases do forno, eu ganho muito em termos de energia, muito. Eles estavam desenvolvendo e queriam uma parceria, e eu fiz parte, fiz esse trabalho com eles buscando a solução pra esse problema. Tinha alguns problemas, não é? Era um rapaz, que está até hoje lá, chamado Kobayashi, que vocês devem conhecer - vale a pena conhecer. Ele e o Abílio, o Abílio que eu falei ainda há pouco, estavam participando desse projeto, me levaram lá pra... Então, juntaram as vinte inteligências numa sala para a gente conversar sobre o assunto: como faríamos; como deixaríamos de fazer; quais eram as dificuldades; o que poderia acontecer de diferente do que estávamos imaginando. Esse projeto só não vingou pelo alto volume do investimento, eram números muito altos. E claro, todos teriam que assumir: a White Martins, nós, o construtor. Era muito pesado na época e havia alguns poréns, ou seja, talvez pudesse não dar certo. Investir dez milhões de dólares no que pode ser que não dê certo, (risos) só a NASA faz isso - nós não fizemos. Então, foi uma época que estudamos bastante juntos, com a White Martins, soluções. Eu sei que eles continuam estudando, vira e mexe eu tenho uma informação de alguma coisa que já se conseguiu, que já se adiantou, mas de concreto, funcionando, ainda é cedo, ainda é para o futuro, mas é uma ideia genial, é um negócio que tem que... Que vai ser uma evolução muito grande, sem dúvida.
P/1 – Tem alguma pergunta?
P/2 – Você falou muito em parceria da White em combustão, nos fornos. Quais são os outros gases que a White oferece? Outros serviços?
R – Nós temos um sistema de corte da boca do copo, que fica bem... Que é feito com um sistema desenvolvido por nós junto com os japoneses, que é com hidrogênio. O hidrogênio é difícil de usar, é arriscado, perigoso, mas [quando] bem trabalhado, bem cuidado, faz um... Então, também trabalhamos junto com a White no desenvolvimento desse projeto com o hidrogênio. Da White, nós usamos o oxigênio puro, chamado até de hospitalar, [que] tem 100% de pureza. Esse oxigênio que nós produzimos, tem 91% de pureza - o que para nós é ótimo pra combustão -, e o hidrogênio seria para fazer esse corte.
P/1 – Então, para finalizar...
R – Já falei da minha mulher, falei dos meus filhos, dos meus netos, [mas] não falei da minha nora. Eu tenho uma nora maravilhosa também, que é a mãe dos meus netos. Se não amanhã, vão assistir ao vídeo: “Ah, não falou de mim”, (risos) está falado.
P/1 – O que o senhor faz, hoje em dia, para dar uma relaxada do trabalho? Sete dias por semana, 24 horas...
R – Ah, muita coisa.
P/1 – O senhor consegue passear, viajar?
R – Passeio e viajo muito. Agora mesmo eu estou juntando a família toda e nós alugamos uma casa em Orlando. Estamos indo para Orlando. Depois vamos pegar um navio da Disney, aquele Disney Dream, novinho, que saiu. Vamos passear no Disney Dream. Depois vamos para Madrid, que meu neto quer conhecer a neve e conhecer onde o vovô morava e trabalhava.
P/1 – E a Marinha? Saiu da sua vida totalmente?
R – Completamente. Só nesse navio Disney Dream que eu vou (risos) matar a saudade do navio... Saiu completamente. Até porque... Você não perguntou por que eu pensei na Marinha. A família de papai, toda ela, menos meu pai, todos eles são militares, entende? E não eram poucos não, eram quinze filhos, quatro mulheres e onze homens. Dos onze homens, dez foram militares. E pelo lado de papai, o pai dele era militar, o vovô Luiz, Luiz Lisboa Braga, que foi... Ficou uma figura muito bonita, olho azul. Daí meu filho teve olhos azuis também. Ele tinha uma barba branca e tal, mineiro, muito elegante, e eu gostava daquilo. Quando garoto, o via fardado: “Olha que espetáculo, homem fardado e tal”. Tio Marcilio foi para Suez. Quando voltou, me lembro, eu moleque, na casa de vovô, ele chegando de Suez [com] um monte de histórias... De camelos, nossa! Eu pensava: “Puxa vida, eu vou ser militar”, e era mais bonito ser militar da Marinha do que militar do Exército, e foi por isso. Pronto.
P/2 – Acho que... O que a White Martins pode estar fazendo no futuro pra continuar essa parceria com vocês e o processo de industrialização no Brasil?
R – Bom, a parceria está forte, não enfraqueceu, pelo contrário, ela só vem crescendo. O que eu disse antes a respeito dos projetos novos de fornos, a ideia de trabalhar com o oxigás, isso tem a parceria da White Martins. Evidentemente, a White Martins, fazendo um preço especial no gás, no oxigênio, (risos) nós vamos fazer os fornos, com certeza. A White Martins tem uma concorrência muito forte aqui em São Paulo e no Brasil... Que a White Martins foi uma empresa nacional, puramente nacional, hoje se chama Praxair e sofre uma concorrência grande, entende? Vira e mexe vem namorar a gente aqui com ideias: “Ah, por que vocês não fazem isso, não fazem aquilo?”, nós estamos resistindo.
P/1 – Os profissionais que vem com as sugestões, com as ideias, com essa vontade de ser uma parceria, são engenheiros?
R – São.
P/1 – É você quem os recebe?
R – Muitas vezes.
P/1 – Então, é o engenheiro de produção recebendo engenheiros... Vários?
R – É. De todo o tipo. Não entendi, por que a pergunta?
P/1 – Porque é sempre no âmbito da engenharia que a coisa acontece.
R – Ah, sim, sem dúvida. O que eu pretendo agora é conversar com o Roberto, o Gabriel, com a turma da White Martins. O Abílio eu gosto muito, estou toda hora falando nele. Conversar sobre o desenvolvimento de um Centro de Tecnologia aqui em São Paulo. Poderia ter uma área de vidro e outras áreas também. Mas ter esse centro, para estarmos junto, antenados com o que está acontecendo no mundo. Visito muitas fábricas fora do Brasil, uma das concorrentes quando vem, oferece isso: “Olha, nós temos um Centro de Tecnologia, muito interessante, tem uma parte de vidro”, isso seria bom conversar com eles.
P/2 – Você falou desse namoro dos concorrentes, mas por que a White? Qual é o diferencial? Assim, na ponta do lápis, quando você vai conversar: “Não, a gente vai ficar com a White mesmo.”
R – Monique, tem o seguinte: é que nem namoro; você tá namorando, ficou noivo, casou, que é o nosso caso, e aí aparece um monte de moça bonita, [mas] você continua casado. (risos) Então, com a White Martins, já aconteceu isso, claro. Quando alguém vem propor alguma coisa, a gente leva essa alguma coisa para White Martins saber: “Olha, nós temos essa oferta”, e eles procuram também participar e contribuir, para que por parte deles a gente receba essa mesma atenção. Respondi a tua pergunta? Por isso que eu sou casado há 41 anos com a mesma mulher.
P/1 – O senhor gostaria de acrescentar alguma coisa mais, senhor Carlos?
R – Eu gostaria de agradecer mais uma vez por ter sido convidado para esse trabalho, e dizer da simpatia de vocês todos, cinegrafistas, fotógrafos, entrevistadores, a nossa amiga escondida ali, a Aline, muito bacana, bonito o trabalho de vocês. Bonito mesmo, parabéns!
P/1 – Então, muito obrigada, foi um prazer tê-lo aqui conosco.
P/2 – Obrigada.
[Fim do depoimento]
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