Projeto Plastek
Entrevista de José Josivan Entrevista Silva
Entrevistado por Nataniel Torres
São Paulo/Pernambuco, 22 de agosto de 2023
Entrevista Nº PLAS_HV002
Transcrita: Mônica Alves
P – Eu vou pedir pra você dizer o seu nome completo, sua data de nascimento e o local onde você nasceu e aí eu preciso que você me fale novamente pra ficar registrado.
R – Bom dia! Meu nome é Josivan Silva, nasci em 02/07/1980, aqui na cidade de Bezerros, Bezerros, Pernambuco.
P – E qual o nome dos seus pais, Josivan?
R - Como eu falei, meu nome é Josivan, filho de José Valdecir, conhecido como Capacidade e Irene Maria da Silva, conhecida como Nenê. E aí, sou irmão de quatro pessoas, que são: Jorge, que é meu irmão gêmeo, Walterlins, Maria e Walter que é conhecido como Maninho.
P – E seus pais trabalhavam ou trabalham com quê, Josivan?
R – Meu pai era motorista e minha mãe era do lar. Hoje ela não está mais conosco, está em memória, e meu pai é aposentado.
P – E seus pais também são da cidade ou eles vieram pra essa cidade? Você sabe a história do passado deles, Josivan?
R – Sim. Meus pais, um é do interior, né, porque a grande maioria dos idosos hoje, moram em distritos na zona rural da cidade. E aí, meu pai é de Varzinha, um distrito aqui de Bezerros, e minha mãe de Insurreição, que antes era de Bezerros, mas hoje é um vilarejo, um distrito da cidade de Sairé.
P – E eles te contaram como eles se conheceram, como é que aconteceu esse encontro dos dois até eles se casarem?
R - Então, esse é processo, por que assim, como a gente sabe, esse pessoal antigo né, não era muito aberto a falar em sexualidade, falar em amor e falar sobre essas questões e aí tinham algumas questões que a gente não sabia. Inclusive, por exemplo, hoje eu estou resgatando, fazendo o resgate cultural da minha história, da minha ancestralidade, porque por muito tempo foi negado, por quando tiveram as brigas de herança e tudo mais. E aí...
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Entrevista de José Josivan Entrevista Silva
Entrevistado por Nataniel Torres
São Paulo/Pernambuco, 22 de agosto de 2023
Entrevista Nº PLAS_HV002
Transcrita: Mônica Alves
P – Eu vou pedir pra você dizer o seu nome completo, sua data de nascimento e o local onde você nasceu e aí eu preciso que você me fale novamente pra ficar registrado.
R – Bom dia! Meu nome é Josivan Silva, nasci em 02/07/1980, aqui na cidade de Bezerros, Bezerros, Pernambuco.
P – E qual o nome dos seus pais, Josivan?
R - Como eu falei, meu nome é Josivan, filho de José Valdecir, conhecido como Capacidade e Irene Maria da Silva, conhecida como Nenê. E aí, sou irmão de quatro pessoas, que são: Jorge, que é meu irmão gêmeo, Walterlins, Maria e Walter que é conhecido como Maninho.
P – E seus pais trabalhavam ou trabalham com quê, Josivan?
R – Meu pai era motorista e minha mãe era do lar. Hoje ela não está mais conosco, está em memória, e meu pai é aposentado.
P – E seus pais também são da cidade ou eles vieram pra essa cidade? Você sabe a história do passado deles, Josivan?
R – Sim. Meus pais, um é do interior, né, porque a grande maioria dos idosos hoje, moram em distritos na zona rural da cidade. E aí, meu pai é de Varzinha, um distrito aqui de Bezerros, e minha mãe de Insurreição, que antes era de Bezerros, mas hoje é um vilarejo, um distrito da cidade de Sairé.
P – E eles te contaram como eles se conheceram, como é que aconteceu esse encontro dos dois até eles se casarem?
R - Então, esse é processo, por que assim, como a gente sabe, esse pessoal antigo né, não era muito aberto a falar em sexualidade, falar em amor e falar sobre essas questões e aí tinham algumas questões que a gente não sabia. Inclusive, por exemplo, hoje eu estou resgatando, fazendo o resgate cultural da minha história, da minha ancestralidade, porque por muito tempo foi negado, por quando tiveram as brigas de herança e tudo mais. E aí a gente é um pouquinho afastado, tanto da família do meu pai, que aí não tinha muito contato, tanto da família da minha mãe. Só que agora eu estou fazendo, que agora eu sou livre, eu posso fazer o que eu quiser, e aí eu estou fazendo esse resgate cultural. Mas o que era muito, muito comum naquela época, era ter festas nesses distritos e as pessoas iam e se conectavam através desses eventos, né. Festa de padroeiro, festa de forró e eles se conheceram basicamente nesse processo de algum evento, num lugar e outro. Como meu pai era caminhoneiro, vivia pra cima e pra baixo e aí era bem namorador e bem esperto nessa questão.
P – E aí você contou sobre a ancestralidade, que você está fazendo resgate, e o que você descobriu nesse processo? Conta pra mim, Josivan. O que você descobriu até agora?
R – Eu estou fazendo ainda, né. Um processo que eu descobri, que aí a minha família, os pais da minha mãe, são de João Alfredo, aquele lado mais de Limoeiro, e não consegui me conectar lá, porque meu tio disse que grande parte já faleceu e tudo mais. Só que tem os netos, os filhos, os sobrinhos e aí eu vou retomar isso de novo, pra que eu consiga me conectar com essa minha ancestralidade que está lá na região mais, do Limoeiro, João Alfredo, e por aí vai.
P – E dos seus avós, Josivan, o que você sabe deles, por parte de mãe, por parte pai? Você os conheceu? Conta o que você sabe sobre seus avós, por favor, Josivan.
R – Do meu pai eu não tive contato, que eles já eram falecidos, e aí meu pai falava muito pouco, porque ainda tem aquela história de que meu pai, toda vez que ele falava, ficava muito triste e a gente não queria ver ele triste e a gente terminou não tendo muita informação dos meus avós paternos. Dos meus avós maternos, a gente tem muita lembrança, que a gente, quando era criança, íamos pra casa deles brincar lá e passar o tempo. E como era numa zona rural, tinha muita árvore, tinha muito pé de umbu. Umbu é uma fruta aqui do Nordeste, muito típica e aí tinha pé de umbu, tinha barreiro. Barreiro era um poço que eles faziam pra eles terem acesso à água e a gente... eu tinha acesso com eles. Depois, a minha avó adoeceu, a gente quase não via mais o meu avô, que a gente chamava ele era de pai querido e mãe querida. E aí eles... meu avô era muito presente aqui e aí ele ficava trabalhando, na época, no campo, né, que ele tinha um roçado, que aí vocês conhecem como roça, e ele tinha um roçado e aí sobrevivia dessa questão de plantar e colher o que ele mesmo tinha. Só que aí, depois, a família fez com que eles fossem para uma cidade vizinha aqui, que é Caruaru, que é onde acontece a maior São João do mundo. E aí ele começou a trabalhar e ele ficou sendo pedreiro, e aí uma pena, porque assim, ele trabalhava muito para ter acesso às coisas, até depois que ele ficou aposentado, ele precisava de mais grana, porque lá é uma cidade mais cara. E aí eu fico feliz, porque eu sei que vou viver muito, porque ele viveu até 105 anos. Até 99 anos, ele vinha de Caruaru pra cá sozinho, lúcido e aí depois, a gente sabe como é o processo de longevidade, ele foi se debilitando, enfim, mas até os 99 anos ele estava lúcido e ele viveu até os 105 anos.
P – Então, já que você começou a falar um pouco sobre sua infância, vamos entrar nesse ponto aí. Como é que foi sua infância? Onde você passou e como foi esse período aí?
R - Minha infância foi um pouco turbulenta. Porque o que acontece é o seguinte, eu tinha um irmão gêmeo que era mais velho do que eu, eu sou o mais novo da família, só que desde criança eu fui muito forte, fui grandão, sempre fui e sempre envolvido com diversas frentes era... se tinha teatro na escola eu ia, se tinha dança na escola eu ia, se tinha esporte eu ia, em tudo que é canto eu ia, porque assim, eu era muito inquieto e as pessoas não me entendiam, e até hoje não me entendem, porque eu quero fazer tanta coisa. “É por que eu sou uma pessoa livre, é por que eu gosto de tudo”. As pessoas dizem: “Oh, vocês só usam 20% do cérebro”. Eu acho que eu uso 100% ou quase isso, porque eu vivo fazendo, produzindo projetos, vivo dançando, vivo jogando handebol, voleibol. E quando eu era criança, por meu pai ter vindo de uma geração que homem não dançava, que homem não participava de teatro, que homem não fazia escultura, que homem não fazia... eu apanhei muito, ele batia demais em mim, demais, demais, demais, e ele batia em mim era de chicote de boi, ele batia em mim de corda. E aí eu sofri muito, porque assim, meu irmão tinha acesso a tudo, o que era gêmeo meu, porque ele era o menorzinho, o pequenininho, e a mim ele não dava nada, porque eu já era grandão, eu era forte. Só que eu era grande e forte na estatura, mas na mente era de uma criança e ele não entendia isso. E aí eu sofri muito, porque eu não entendia porque meu irmão ganhava tudo e eu não ganhava nada. Inclusive eu tenho relatos dos amigos que gostam do que eu falo, era que, por exemplo, quando é… sempre adoeciam os dois né, porque a gente dormia na mesma cama, eu e meu irmão gêmeo, e aí quando um tinha gripe, consequentemente o outro tinha gripe também, porque estava na mesma cama. E aí eu sempre pedia a Deus para eu adoecer depois dele, porque se eu adoecesse depois dele, eu ia ter acesso, (que naquela época a gente não tinha acesso) a iogurte, frutas, refrigerante. E se eu adoecesse primeiro, eu não tinha acesso a isso, porque eu era grandão, era forte e não precisava. Ele precisava disso porque ele era pequenininho, xoxinho, enfim. E aí, teve outra coisa também que marcou muito a minha infância, foi que no dia de Natal, meu pai comprou uma roleta linda e maravilhosa e deu a meu irmão e a mim nada. E a gente estava na mesma cama, e aí eu sem entender, porque não sabia se era o Papai Noel ou o pai, eu estava naquela descoberta, e aí Papai Noel não tinha dado presente a mim. Eu sofri muito, por muitos anos eu fiquei muito triste, por conta desse processo. Só que depois, no outro dia, eles viram que eu fiquei muito triste, meu pai e minha mãe, aí disseram: “Não, Papai Noel vai lhe visitar amanhã e tal”. E aí eu fiquei ansioso né, esperando Papai Noel. E aí eu descobri que não existia Papai Noel, descobri que eu não ia ganhar a roleta e descobri que era o meu pai, porque ele me deu um dinheiro, que por exemplo, hoje era por exemplo, a roleta era R$ 80,00, ele me deu R$ 5,00 e eu comprei só um quebra-cabeça e um pega-vareta, que brincou uma vez e acabou a história, né. Mas, mesmo assim, aí teve uma amiga minha que disse: “Oh, Josivan. Eu acho massa essa história tua, quando tu fala isso, porque é aquela questão de dar a pérola, né. Tua história, muita coisa ruim que aconteceu contigo, mas tu transformou numa pérola”. E é isso, assim, eu não fico me martirizando por isso, me vitimizando por isso. Tudo que eu passei era pra me tornar uma pessoa melhor, tudo que vivenciei, hoje eu sei que sou uma pessoa do bem, uma pessoa que aprendeu que eu sou a imagem e semelhança do Cristo e eu vim aqui pra _______ do amor e do bem. Então tudo o que eu passei só serviu para eu me tornar a pessoa que eu me tornei hoje.
P – Nessa época da infância, vocês moravam onde? Como é que era a casa onde vocês moravam, Josivan?
R – Então, a gente quando era pequeno, a gente morou numa casa. Até os oito anos a gente morou numa casa alugada, várias casas né, porque a gente ficava mudando de lugar para lugar por conta dessa questão do aluguel. E aí, meu pai comprou um terreno no centro da cidade e começou a construir. E aí construiu uma casa enorme, como ele tinha muitos filhos, foi uma casa de três lugares, de três quartos, uma casa que tinha duas salas, uma cozinha gigante, um quintal gigante, numa área privilegiada da cidade, que era na parte central. E aí foi nesse sentido, a gente passou um tempo morando de aluguel, mas depois aí a gente conseguiu que meu pai comprasse a casa, a tão sonhada casa própria.
P – E aí você começou a contar que gostava de dançar, de fazer teatro, um monte de coisas na infância. Como é que eram suas brincadeiras nessa época? Como é que era o Josivan criança?
R – Então, eu sempre buscava oportunidades onde tinha, porque por exemplo, na época que era criança não tinha tanto essa violência, não tinha tanto essa questão do consumismo né, por que a galera não tinha grana, não tinha essa questão das tecnologias que prende muito as crianças. Inclusive essa questão de obesidade, essa questão de um monte de doenças ligadas à parte física, a gente não tinha, porque a gente vivia correndo de polícia e ladrão, vivia correndo de pega-pega. E aí com essas experiências, com esse repertório, a gente vivia inventando situações, né. Aí o que acontece, a gente brincava muito com brincadeiras que a gente mesmo fazia, que eram brinquedos de garrafa de plástico de água sanitária, a gente fazia uns carrinhos que ajudaram muito na minha coordenação motora, que eram uns carrinhos de desodorante, que antigamente os desodorantes eram de plástico e a gente fazia uns carrinhos e ficava brincando na rua, a gente pegava as bolsas de plástico e fazia a rabeta da pipa, a gente pagava essa bolsa plástica, inclusive, às vezes, e fazia o trançado dá… que a gente não tinha grana, aí a gente tinha que reinventar, tinha inventar. A gente assistia na televisão o voleibol e a gente dizia: “Como é que a gente vai fazer uma rede?”. E fazia a rede ou com cordão, com corda, a gente pegava as abas e fazia com corda e cordão, e aquele trançado a gente fazia com bolsa plástica, que era parecido com o trançado que a gente fazia na pipa. E aí a gente usava e fazia na rua várias brincadeiras e brinquedos confeccionados pela gente, porque aí, peteca, a gente conseguia fazer também, que era com... a gente pegava os galos ou as galinhas, as penas e fazia com bolsa plástica embaixo o suporte, e em cima, as penas, a gente usava pra fazer a peteca e por aí ia. Porque assim, como a gente não tinha acesso a dinheiro, a gente não pegava em dinheiro, era muito raro, a gente só tinha dinheiro, acho, que era no final de ano, ganhava uma mesadinha para ir para as festas e brincar no parque. E então a gente não tinha grana, aí o que a gente fazia? Inventava, brincava com carretinha, e ou então juntava os moradores na época e comprava uma bola e usava as calçadas pra brincar, tanto no futebol, futsal, e então nas ruas que a gente pegava o giz que usavam na escola para fazer o campo de futebol. Aí depois a gente ficou esperto, a gente pegava pedaço de gesso e fazia o campinho do lado da casa ou então do lado da minha casa que tinha uma padaria, a gente usava a noite, como era fechada, a gente usava a calçada para fazer o campo de futebol
P – E você contou que tinham essa reutilização do plástico, por exemplo, e como é que era sua família? Tinha algum cuidado com reciclar? Se falava isso na época, não falava, como é que era Josivan?
R – Não. A gente não falava, porque a gente não tinha conhecimento sobre isso, né. Mas eu lembro muito forte que a gente comprava uma sandália e aí era a sandália! Na época quem tinha sandália, ave Maria, eram de ricos. Na verdade, não é rico não, rico é quem tinha outras de plástico com cheirinho de morango e tudo mais. A de pobre, como a gente era uma família mais pobre, nunca faltou nada pra gente, comida, tudo do bom e do melhor, mas como eram muitos filhos, meu pai comprava sandálias Havaianas e as sandálias Havaianas acabavam, né. E aí tinha umas também que quebrava embaixo o pitoquinho, aí a gente usava um prego, botava na… inclusive a gente nem sabia naquela época que queimava os dedos. Botava no fogo o prego e quando ia pegar o prego, estava pegando fogo, a gente queimava os dedos, mas botava “na chinela” para usar. A minha mãe usava muito, isso eu sei que eu lembro muito, que eram os potes de alguma coisa que ela comprava, que vendiam os potes de leite, os potes de algum objeto que ela comprava, que eram de plástico, ela reutilizava para guardar o material, guardar o feijão, guardar a farinha, guardar o arroz e aí tinha lá, que antigamente não tinha essas marcas, Tupperware, não sei o que. E aí o pessoal não usava isso. E a gente usava muito, isso eu lembro, é muito, muito, muito presente na minha… hoje, até hoje, quando quebra uma sandália Havaiana, não tem perigo de eu não botar um preguinho, não é nem que eu não possa comprar outra, que graças a Deus eu posso comprar outra, é para relembrar o meu passado, é para dizer que era isso mesmo que eu fazia quando era criança, a gente fazia isso e... enfim.
P – E vamos falar um pouco da educação Josivan. Então como é que foi a sua entrada na escola? Como é que foi sua primeira escola?
R - A minha primeira escola, foi uma escola evangélica. E eu lembro muito era dos desfiles cívicos, que era um acontecimento na cidade, até hoje é um acontecimento na cidade. Como a gente não tem muito acesso a atividades de lazer, atividade cultural. E aí são pontuais as atividades que tem aqui na minha cidade, né. Tem o carnaval, que é a questão do… que é o terceiro maior polo de carnaval de Pernambuco, tem o São João que é muito forte aqui no Nordeste, tem o 7 de Setembro e tem o final de ano, que é o reveillon, enfim. E aí no 7 de setembro é um evento na cidade, todo mundo vai fantasiado, inclusive, as “pisas” que eu levava de chicote de boi, foi meu irmão que foi fantasiado um ano de cavaleiro e aí tinha que ir com o _______ do chicote de boi, e aí esse chicote de boi deu o que falar, que até hoje eu lembro dele. Mas a minha primeira escola foi maravilhosa, porque assim, eu tenho muitas memórias, por mais que seja, porque por exemplo, hoje as crianças entram na escola com dois, três anos, a gente entrava com sete para ser alfabetizado e tudo mais. E aí eu lembro muita coisa da minha infância, muita, lembro que inclusive, também, deixa eu dizer uma coisa importante aqui a vocês, a minha professora usava reciclados para dar prendas no dia das crianças pra gente. Eu lembro, é muito nítido que ela fazia com coisa de leite ninho, uma latinha de leite ninho, ela fazia um palhacinho, e aí o olho do palhacinho era de plástico, a boca, era tudo com reciclado e aí dentro ela colocava um monte de doce, pipoca, que a gente ficava super feliz quando via aquilo. Mas sempre foi… e aí outra coisa também importante, que na minha escola… e aí como a gente estava falando dessa questão de reciclado, tudo que a gente fazia na época do São João, a decoração quem fazia éramos nós, a bandeirinha era de plástico ou de papel, tinha uma tal de corrente, que era umas correntes que a gente fazia, fazia uma tira no papel e enrolava um no outro e ia fazendo umas correntes, tudo com papel e decorava a escola que era lindo, porque como as crianças levavam vários tipos de bolsas e vários tipos de revistas, ficava um colorido bem bonito na escola, porque era a gente mesmo que fabricava sem nem saber essa questão de sustentabilidade, as escolas por não ter dinheiro, já faziam essa decoração na escola. E eu me lembro, é muito nítido para mim, com sete, oito anos a gente produzindo a decoração da escola, a gente produzindo. E aí o que acontece é que é massa isso, é que a gente se sentia pertencente à festa. Quando chegava lá, a gente identificava a bandeirinha que a gente fez, a gente identificava, as correntes que a gente fazia e aí se sentia pertencente à festa, né. Porque hoje muitas vezes a gente chega num lugar que tá tudo pronto, tudo organizado, mas não foi você que contribuiu com nada, você não fez nada, então você não se sente pertencente.
P – Aí você justamente começou a falar sobre isso, você estudou nos anos oitenta, né? Nessa época se falava sobre preservação de meio ambiente na escola? Como é que era isso?
R – Eu não lembro muito de falarem sobre o meio ambiente, o que acontece muito, que a gente fazia, era nas aulas de ciências, a gente tinha essa noção, a gente plantava uma sementinha de jerimum, uma sementinha de milho, uma sementinha de feijão e a gente esperava um período, que era justamente pra entender esse processo de fotossíntese, que eu nem sei se na época fotossíntese que diziam os professores, mas era na parte de ciências, elas ensinavam a gente a fazer isso. Que aí depois, como eu disse antes nessa questão de teatro, dança, e essa questão eu não sei até que ponto me influenciou pra eu escrever um livro, que eu escrevi um livro, e no livro tem essa questão de os meninos trabalharem, tanto a questão de plantar essa sementinha, como a questão de compartilhamento que também antigamente era desse jeito. Como eu vivi muito tempo no roçado, na casa do meu avô, a gente tinha acesso. E aí meu avô plantava milho, só que o vizinho dele plantava feijão, o outro plantava alface, jerimum e aí a gente trocava, tinha esse escambo e tinha esse compartilhamento, que aí também eu coloco no livro, que é justamente para que as crianças tenham acesso a isso, que hoje é bem… não tem né, é muito difícil. Fala sobre essa sustentabilidade, fala sobre várias coisas, mas não fala dessa questão de compartilhamento com as crianças.
P – E nessa época de escola teve algum professor, alguma professora que tenha te marcado Josivan?
R - Tem sim, é a primeira, né. A primeira a gente nunca esquece, que é Ubiracy, Uberilda Silvestre. Dona Uberilda, era ela que fazia essa questão da sustentabilidade com os bonequinhos para dar a gente. E ela era uma querida, porque assim, muitas das lembranças que eu tenho, a gente ia pra alguns passeios, levava a gente na praça, as brincadeiras foram muito dela, sabe? Assim, ela estimulava muito a gente nessa questão de arte, estimulava muito a gente nessa questão de atividade. E aí uma das coisas que é muito legal, é hoje eu estar podendo… hoje ela não está indo mais, porque ela está com alguns problemas de mobilidade e tal, mas ela me ensinou quando eu tinha sete anos. E há uns cinco anos atrás, ela participou do programa Vida Ativa que eu coordeno, e aí eu ensinei a ela, sabe? Essa troca, assim, eu achei massa. Até inclusive, eu sou amigo da filha dela, do filho, e aí ela sempre dizia: “A mãe fica tão feliz, porque ela te ensinou e agora tu tá ensinando ela”. E é isso, né. A gente tá nesse planeta para isso, para focar e um ajudar o outro.
P – Josivan, você tinha comentado que como você gostava de teatro e de dança, seu pai, por causa da criação dele, era um pouco preconceituoso. Como é que era a cidade relacionada a isso? Porque você era ativo, como você contou, se metia a dançar, se metia a fazer tudo, por que você gostava. E como é que eram as outras pessoas? Como elas lidavam com isso, era só em casa ou na cidade também era difícil?
R – Não. Em casa o único que enveredou pra esse lado artístico… minha irmã também pintava e fazia algumas coisas, e aí não teve continuidade. As únicas pessoas que deram continuidade fui eu, nessa questão de trabalhar com dança, querendo fazer mais pela minha cidade, nesta questão de literatura, escrevendo livro, e meu irmão que é músico. Hoje ele é cantor, ele é multi musicista, ele toca bateria, violão, cavaquinho, canta. E aí, aqui na cidade, por muitos anos, só quem dançava era gay. E aí era muito punk, porque por exemplo, tinham as pessoas que queriam dançar, tinham outros meninos que queriam dançar, inclusive meus amigos, e não iam por conta de as pessoas estarem falando, “Se fosse dançar era gay” e eles não queriam, porque assim, eles estavam com as menininhas, namorando, imagine se a menina soubesse que ele era gay, mesmo ele não sendo, mas como estavam participando. E aí que bom que o Papanguarte, Papanguarte é um balé aqui, que faz 27 anos que a gente está nesse processo, eu fui da primeira geração, não participei por um tempo, porque eu precisava construir a minha história também, estudar, me formar, construir meus projetos, e aí ele oportunizou a gente de várias atividades, inclusive do folclore nordestino, né. Eles lá dão oficina, dão aula de frevo, maracatu, caboclinho, xaxado, coco, ciranda, muitas coisas. E o Papanguarte, o Papanguarte, o nome vem de Papangu e arte, ele fez essa junção e criou o grupo. Porque Papangu é uma figura folclórica que está aqui no carnaval de Bezerros, mascarado pra não ser reconhecido e arte, ele pegou os dois e fez o nome Papanguarte, é projeto bem sucedido, vive participando de festivais nacionais, leva pra tudo que é canto uma figura folclórica que só é nossa, você só vê Papangu em Bezerros. Papangu são mascarados que saem no carnaval e tem várias versões, uma delas sai no carnaval mascarado, com essa máscara aqui, sai mascarado e de lugar em lugar vai comendo angu, e aí como ele comem angu em todos os lugares e bebem, aí ficou Papangu. E a outra versão é que os homens saem mascarados, e aí botam essa máscara e bota aqui nas mãos, que antigamente não tinham luvas, eles botavam meias, botavam fronhas, que não eram máscaras assim, eram de fronhas de travesseiro e aí furavam pra não ser reconhecido, e aí mudavam o jeito de andar, mudavam a voz e aí ficavam andando, que era justamente pra não ser reconhecido. E aí, alguns relatos dizem que esses homens iam para as casas das outras mulheres, para não serem reconhecidos e aí ficavam andando. E aí o Papanguarte leva essa figura folclórica, essa figura do Papangu pra tudo que é canto no Brasil e no mundo.
P – Como que foi a sua adolescência, Josivan?
R – Então, a minha adolescência também, como eu disse pra você, a minha infância foi também conturbada com meu pai, porque ele não aceitava de jeito nenhum. Eu apanhava demais, eu apanhava muito. Teve dias que eu levei 44 chicotadas, de chicote de boi, porque eu acho que _______ porque eu estava jogando bola, enfim não lembro mais. E aí, aquilo me revoltava, porque eu não estava fazendo nada de mais, eu só estava fazendo, por exemplo, eu tenho muito carinho pelos animais e um dos animais que eu adoro é macaco, e aí eu fiz uma terapia uma vez com um índio pataxó, Ubiraci Pataxó, e aí, falando sobre essa questão que eu gosto muito de macaco e tudo mais, e ele dizendo: “Olha, tem tudo a ver com o que você viveu na sua infância e adolescência, porque você ficava de galho em galho”. E aí o que acontece é, é exatamente isso, eu ia dançar, aí meu pai não deixava, aí eu apanhava. Aí eu ia fazer escultura ou alguma coisa que a gente aprendia na educação artística, que antigamente a aula de educação artística era isso, era fazer alguma coisa com arte, não era pra saber a história da arte. E aí eu chegava em casa e ia fazer os objetos e tudo mais aí eu levava outra pisa. E até então eu descobri o handebol, que aí eu acho que foi o handebol que me salvou, foi o esporte que me salvou. E aí eu fui pra lá, que naquela época, também, quem jogava handebol e voleibol era gay, não tinha essa história que era o esporte pra todo mundo não, o esporte de homem era o futebol, que nem as mulheres praticavam. E aí, meu pai não sabia que era um esporte gay, que na verdade não era um esporte gay, era um esporte pra quem quiser praticar, mas naquela época tinha preconceito. E meu pai não sabia disso, como meu pai não sabia disso, deixou eu jogar handebol. E aí, graças ao handebol, se abriram muitas portas, porque aí eu fui jogar handebol e aí treinava na escola. Só que quando eu ia pra escola eu ia fazer o que eu aprendi no treino, eu fintava todos os esportes da cidade, que as pessoas diziam assim: “Eu acho que ele é louco”. De tanto que eu treinava. Aí o que acontece é que quando chegava na hora do jogo, eu estava à frente de todo mundo. Por que? Os outros tinham treinado 10 vezes na escola e eu tinha treinado 250 vezes. Porque eu tinha fintado e tinha feito os processos, aprendido no treino nos postes e aí quando chegava… e aí eu era a referência no handebol na cidade, com 13, 14 anos. E aí eu ganhei bolsa para estudar em escola particular, e aí meu pai não deixou eu ir jogar lá, disse que só ia se fosse meu irmão gêmeo. E aí, consequentemente no outro ano ele colocou meu irmão para estudar em uma escola particular e eu continuei na escola pública e me colocou em uma guarda mirim, que era para me alinhar, porque eu não podia mais gostar de arte, não podia mais gostar mais de dança. Aí tinha que ser em um lugar que parasse com isso, e o lugar que “parasse” com isso, era no militarismo. E aí tinha aqui uma guarda mirim e aí eu fiquei. Só que eu não gostava, eu gostava de dançar, de pular, de esporte. E aí comecei a treinar mais o handebol. Aí ganhei bolsa para estudar em escola particular aqui da cidade, fui selecionado pra jogar na seleção pernambucana de handebol. E o esporte abriu as portas pra mim, assim, abriu muitas oportunidades. E aí tem uma questão também, como o handebol abriu portas para mim. A arte também abriu muitas portas, porque por exemplo, um amigo meu me convidou para um halloween, aí disse: “Oh”. Amigo meu hoje, mas na época não era meu amigo. Aí disse: “Oh, você pode entregar esse ingresso a tua amiga”. Porque a gente tinha uma amiga em comum. Aí eu levei os ingressos pra ela. Ele disse: “Toma esses dois ingressos pra você”. Aí eu perguntei: “Onde é esse halloween?”. Aí ele me disse o lugar. Eu fui no ambiente que era o halloween, observei o espaço e fiz a decoração do halloween, sem nem conhecer o cara. Aí o cara disse: “Oh”. Que era dono de uma escola de inglês aqui na cidade, disse: “Oh, esse menino é doido, porque eu dei pra ele entregar dois ingressos e ele veio com o projeto do halloween, mas ele tem talento, vamos dar uma oportunidade a ele?”. Aí me deram oportunidade, eu fiz a decoração, ficou maravilhoso, ficou incrível o negócio. E aí me deram bolsa de estudos pra eu estudar inglês, e aí foi através disso que eu comecei também a produzir eventos, baile de carnaval eu fiz, halloween, aniversários, eventos, que aí eu fazia, eu desenhava o que eu queria fazer e fazia, porque ficou muito presente isso dentro de mim, de arte, de produzir, de fazer.
P – E como é que se deu a sua formação? Porque você contou sobre o handebol e eu sei que você se formou em educação física. Como você chegou na educação física?
R - Então, eu comecei com educação física, porque eu tive vários professores que eram referência pra mim no handebol. E como eu amava o handebol, como eu adorava o handebol, aí geralmente esses professores estudavam em escolas particulares, ensinavam em escolas particulares, aí me convidavam pra eu jogar nessa escola. E aí eu acho que eu fui a pessoa, eu fui a pessoa aqui na cidade que mais estudou em quase todas as escolas, porque eu ficava migrando. O professor mudava e chamava: “Vamos jogar naquela escola?”. Eu dizia: “Vamos embora”. E aí eu estudei em escolas públicas e em escolas particulares também, porque esses professores, como eu tinha acesso… e aí eu lembro muito de Edvonaldo Alexandre, que era uma referência no handebol, de Claudiomir Venceslau, que ele usava o número 3 na camisa, que até hoje eu uso, que era porque eu achava que ele jogando, ele jogava bonito, tinha um salto bonito. E Nelson Lopes, que era um dos professores que me ajudou na questão do ser humano, sabe? Ele não só estava preocupado em me formar como atleta, mas também formar não só eu, mas todo mundo, como pessoa, com um cidadão. E aí a gente… eu estudei, migrei muito na escola pública e particular, justamente por conta do handebol e aí termina o handebol, termina esse processo de escola do terceiro grau, do ensino médio. E aí eu fui convocado em vários anos, com 14 anos já estava na seleção bezerrense de handebol. E aí eu terminei e fui pra faculdade, né. E aí é muito bom a gente saber que hoje, graças ao Governo Federal, graças ao presidente que nós temos hoje, Lula, trouxe pra nossa comunidade, trouxe pra nossa realidade a Universidade, porque na época eu não tinha acesso a Universidade, só tinha acesso em Recife, e a gente está a 120km de Recife. Eu não tinha condição de pagar a passagem e não tinha condição de pagar a hospedagem lá. E aí eu me organizei e disse: “Como que eu posso fazer?”. Eu passei na primeira fase da Federal e tinha a segunda fase. Nesse meio tempo eu fiz a faculdade em Caruaru, que era a Asces. Ai a Asces era uma faculdade que tinha aqui ao lado e aí a gente começou, eu comecei a fazer lá, fiz vestibular, passei e aí cursei o curso de educação física e comecei a estudar e me voluntariar, e trabalhar nesse meio. E aí fiquei até hoje trabalhando e fazendo um monte de projetos, um monte de ações, nesse sentido, para devolver o que eu recebi através da universidade.
P – E na época que você estava na faculdade, alguma situação te marcou?
R – Marcou. Foi programa, que é o projeto que salvou vidas também, e que eu sou muito grato também ao Governo Federal, que hoje tenho muitos alunos, muitos, da época eu acho que sei lá, de 60 alunos, só dois que enveredaram pro lado de drogas ou dessa questão de estar preso, enfim. A grande maioria não está mais, porque existia o projeto Segundo Tempo. Projeto Segundo Tempo, no primeiro tempo as crianças estavam na escola, tendo atividade. E no segundo tempo, à tarde… e aí era sempre no contra turno, quem estudava de manhã, tinha atividade à tarde, e quem era à tarde, tinha de manhã. E aí eles deram um ofertado de reforço escolar, ginástica, dança, esporte, jogos, luta. E aí o projeto Segundo Tempo, eu comecei como voluntário e aí fiquei voluntário, depois me convidaram para ser monitor, eu fiquei como monitor. E aí aumentaram os núcleos aqui na cidade, aí eu fiquei monitor em 2 núcleos. E depois me convidaram pra eu ser coordenador. E aí eu passei por todos os processos do Segundo Tempo. E aí hoje eu me encontro com os meninos, os meninos hoje são pais de família, pais. E diz o quanto foi importante eles terem atividades no contraturno escolar, de atividades que ocupassem a mente deles e eles não tivessem acesso às drogas, à criminalidade. Isso é tão importante, assim, eu fico muito feliz em poder estar dando esse relato, porque só sabe quem participou efetivamente, né, desse processo. Não só eu, como professor, como monitor, mas também as crianças, eles me dão esse relato e eu acho isso sensacional.
P – E depois que você se formou Josivan, o que que você fez, o que aconteceu depois?
R – Então, quando eu me formei em 2009, e aí dá aquela inquietação, né, a pessoa fica com medinho de… abriram muitas portas, mas não são tão assim, né. Você está em uma posição que você é leigo na situação, por mais que você tenha vontade de fazer, por mais que você tenha, pra profissional. E aí dá aquele medinho de fazer: “Será que vou fazer o melhor? Será que vou fazer?”. Enfim. E aí em 2009 eu me formei e aí continuei fazendo esta questão de produção cultural, que eu sempre fazia aqui na cidade e eventos e tudo mais. E aí teve uma seleção no Estado, de professor de escola, e aí eu fui, e aí eu fazia sempre, como eu disse a vocês, eu vivo fazendo coisas diferentes, eu gosto de fazer coisas novas. E aí comecei a fazer atividade com as crianças, aí fiz olimpíadas e eles construíam tudo, eles que faziam o processo todo com as olimpíadas, porque aí eles… eu sempre quis que eles tivessem esse pertencimento. E aí a gente fazia muitos brinquedos populares, que na época a gente fez muito, que era para resgatar justamente esse processo da infância deles. E em 2013 eu fui convidado a ser coordenador de lazer e boa idade, na nossa cidade. Que antigamente a gente não tinha esse conhecimento, mas não existe essa questão de boa idade. Boa idade é algo romantizado, né, porque a gente sabe que na longevidade não tem nada bom e tem tudo bom, porque tem as experiências, mas se falar mesmo em saúde, é todo um declínio a partir de alguns anos é que vem o declínio. E aí eu fui coordenador, fiquei por oito anos coordenador de lazer e boa idade na cidade. E aí construí vários projetos, dentre eles, foi o Vida Ativa, que hoje é o Vida Ativa 60+, que é um projeto voltado às pessoas idosas. Construí também, que foi um projeto lindo e infelizmente não deu pra continuar, porque foi muita coisa que aconteceu com a gente, porque era muita ciumeira, porque o projeto Vida Ativa trouxe muitos frutos, a gente ganhou o prêmio ______ da Natura, em 2017 um prêmio nacional, agora em 2022 a gente ganhou outro prêmio, do Futuro Bem Maior, do movimento Bem Maior, outro prêmio nacional, foram quase 500 instituições que foram escolhidas. E aí eu achava lá em 2018, 2017, que eu estava fazendo pouco, estava muito bom o projeto, estava funcionando, a gente já estava atendendo quase 500 idosos na cidade, em diversos bairros, porque o programa, as pessoas fazem um projeto para idoso, mas faz no centro da cidade e os idosos da periferia não conseguem chegar lá por n motivos, né, mobilidade, por conta dinheiro que não tem pra chegar lá, enfim. E aí, a gente levou esse projeto pra todos os bairros, que era pra justamente levar onde os idosos estavam. E aí foi o maior sucesso, era televisão, era entrevista, enfim. E aí teve uma ciumeirazinha, e aí, nesse meio tempo eu estava fazendo, construindo um projeto lindo, que é o PACO, que é Programa de Assistência à Criança com Obesidade, que não tem nada em canto nenhum no mundo, não se faz nada pra criança obesa, não estão se fazendo nada. E aí a gente retorna agora, que eu estou fazendo agora o PAPSO, que é o Programa de Assistência à Pessoa com Sobrepeso e Obesidade, que atende todo mundo, tanto idoso como criança, como adolescente obeso, e aí vai fazer uma diferença grande na vida deles. E aí, voltando ao Programa Vida Ativa 60+, a gente construiu um projeto lindo, e atendendo todas as pessoas, os idosos, e aí faz com que isso, com que os idosos tenham acesso a ter de volta a vida deles. Porque antigamente, na grande maioria, aí em São Paulo, nas grandes capitais, os idosos tem shopping, tem cinema, tem teatro e eles vão e acontecem, né. Aqui não tem tanta autonomia pra isso. Aí os idosos ficavam em casa e era justamente preso em uma cadeira de balanço esperando a morte chegar. Com esse projeto, as idosas começaram a ir para feira, porque antigamente eram os filhos que faziam a feira, começaram a ir na feira de novo, começaram a se maquiar, porque eu fazia eventos, e começaram a melhorar a autoestima, começaram a independência. E aí foi um processo lindo, que os filhos vinham relatar, porque várias famílias não tinham mais encontros familiares, porque os idosos ou estavam reclusos, ou estavam depressivos e não queriam contato com ninguém. E depois que vem esse processo, que elas voltam a ter alegria, voltam a ter essa disposição, voltam a ter essa animação! Aí volta e tem o pessoal agradecendo a gente, eu disse: “Ué, a gente não tá fazendo nada, a gente só está fazendo o que todo mundo deveria fazer, que é cuidar de quem construiu a nossa história”.
P – Josivan, de onde veio essa ideia de criar programas para pessoas idosas? Aconteceu alguma coisa, você viu alguma coisa que te “startou” essa ideia?
R - Então, esse processo aconteceu lá na gerência de esportes, juntamente com Márcia Cordeiro, que era coordenadora de educação física escolar e juntamente com Edvonaldo Alexandre, que era coordenador, o gerente de esporte. E tinha o Rozan na época, que era o diretor, coordenador de esporte, de rendimento e comunicado. E a gente organizou, e eles viram a possibilidade de a gente criar. Que na época eles me convidaram pra ser professor, porque disseram que eu não tinha perfil para coordenar o negócio. E aí eu fui, maior amor do mundo, comecei a dar aula, comecei a fazer atividades, só que aí o programa era de fazer atividade física, de 06h às 07h da manhã e de 04h às 05h da tarde, e como eu disse a vocês, eu sou fazedor, eu gosto de fazer. E aí como não tinha nada de atividade, de lazer, esportiva, cultural para esses idosos, eu comecei a fazer. Aí começou o que? Começou com núcleo com 40 pessoas numa praça, aí o líder comunitário gostou da ideia, achou massa aquilo, fez um movimento e pediu pra prefeitura botar em outro lugar. Aí eu coloquei em outro lugar, depois a gerente da farmácia quis dar as camisas para gente, pediu pra fazer no bairro que a sogra dela morava, que é no bairro que ela morava ali do outro lado também. Depois o dono da farmácia pediu pra botar no bairro que ele morava, que era no Santo Antônio, a gente foi lá e botou. E aí hoje a gente atende toda região, assim, na cidade, todos os bairros da cidade são contemplados com o Vida Ativa. E aí eu fazia, como tinham vários núcleos, eu fazia as integrações, e aí eu levava um núcleo para se encontrar com outro núcleo. E aí eu fazia um café da manhã, que além da colaboração a gente tinha integração com elas. E aí com esse processo, começamos a fazer amizades. Essas idosas que eram isoladas, essas idosas que eram sozinhas, começaram a se integrar com as outras, trocar ideias e aí diziam assim: “Oh, Maria, vai lá em casa tomar um chá”. Aí Maria ia pra casa de Zefinha tomar um chá. Aí depois Zefinha: “Maria, vem aqui almoçar”. E elas ficavam. Uma coisa que aconteceu, elas não ficavam mais só, porque uma ia pra casa da outra e tinha essa questão do compartilhamento, sem falar em todo o processo que a gente vive diariamente, né. É uma dança, hoje a gente tem dança de salão, a gente tem ioga, a gente tem oficinas de dança, de frevo, de máscaras, tem oficina de artesanato, tem oficina de um monte de coisa que antigamente elas não tinham e ficavam em casa isoladas e hoje a gente oportuniza elas de várias oficinas.
P – Eu fiquei com uma questão na cabeça, pra depois a gente entrar nas questões do trabalho, algumas coisas relacionadas à sua família. Você contou que sua mãe faleceu. Que aconteceu, Josivan? Quando ela faleceu, como foi isso?
R – Então, esse é um processo bem doloroso, porque em 2010 meu irmão, aqui dentro da cidade mesmo, sofreu um acidente, tinham cinco pessoas dentro do carro e virou o carro e só ele morreu, porque ele bateu com a cabeça no chão e só ele morreu. E aí como ele era muito ligado aos meus pais, por conta do que eu disse desde o começo, ele era muito mais pequeno do que eu, o povo chama aqui de xoxinho, ele era mais magrinho do que eu, aí todas as atenções eram para ele, todo mundo só se voltava pra ele e aí eram muito apegados a ele. E aí em 2010, com 30 anos ele faleceu. E aí teve um processo, que aí com essa perda, que aí geralmente, eu fiz o curso de autonomia da cura e descobri que toda doença física e mental, toda doença física é ligada a alguma coisa mental. E minha mãe sentiu muito, e aí depois de acho que, dois ou três anos dessa morte, ela teve um câncer no útero, que é justamente essa questão ligada ao filho, né, ligado diretamente à maternidade. E aí ela teve câncer, e aí ficou num processo bem doloroso, mas ela sempre dizia que rezava muito e agradecia a Deus pela oportunidade de estar viva e estar participando disso, e aí ficou de boa. E aí, com esse processo todo que aconteceu comigo e com meu pai, ela sentia muita culpa, ela ficava muito culpada, porque não podia fazer nada, porque como ela era muito submissa, como ela dependia do dinheiro, ele que mandava, ele que fazia nas casas. Aí ela ficou muito triste, aí eu disse:” Pronto, vou fazer o seguinte: eu vou colocar a senhora em uma psicóloga”. E aí na psicóloga ela começou a ter o atendimento, só que veio à tona tudo que ela vivenciou com ele, comigo, com meus irmãos, meu pai teve outras famílias, com tudo isso e aí as emoções estão ligadas diretamente com o pulmão, aí ela teve câncer de pulmão, outro câncer, e aí não resistiu e morreu há quatro anos. E aí foi bem dolorido pra mim, porque eu… eu… ela no hospital, e eu não queria visitar ela, porque eu sabia que tudo que ela estava passando vinha em decorrência dos processos todos que ela vivenciou. E aí era punk pra mim, porque eu não ia, e era punk pra mim porque eu via minha mãe naquela situação. Mas que bom, porque aí eu conversei com ela, falei com ela, e aí depois falei com a psicóloga e fiquei muito mal sobre isso, mas depois eu descobri que era um processo dela, foi ela que quis passar por isso, foi ela que quis ser submissa, foi ela que… eu sempre sonhei de ela ir morar lá na minha casa, que eu moro só, sempre eu sonhei que ela fosse ter outras atividades, porque assim, como ela era aposentada, ela podia fazer o que ela quisesse, mas ela não queria, ela sempre queria estar junto do meu pai, sempre queria fazer as coisas pra ele. E aí é uma escolha, cada um com suas escolhas e ela escolheu ficar nesse sentido. E aí foi assim, mas ela é uma querida, ela me ajudou demais a ser a pessoa que sou hoje, se não fosse ela eu não teria chegado onde eu cheguei, sabe? Porque hoje eu estou falando com vocês aqui, mas hoje está tendo aqui escola, a maior escola da cidade, que é referência, que é o colégio Nossa Senhora das Dores, uma… uma… não é… uma manhã… não… não é amanhã não, dois dias de capacitar os alunos que estão no terceiro ano do ensino médio, a falar sobre as profissões, que é um evento, tendo oficina, tendo palestra e tendo profissionais de diversas áreas para estimular as crianças, pra elas saberem qual cada área representa. E aí, convidaram pra eu ser uma dessas pessoas pra estar lá falando da minha profissão, falando do que eu faço na minha cidade, a contribuição que estou fazendo na minha cidade, contribuição positiva. E essa mesma instituição que me enche de alegria de dizer isso, foi onde eu tive as melhores experiências, foi onde eu tive as melhores vivências, porque as vivências a gente guarda na adolescência, e lá foi o melhor momento que eu tive na minha vida, um dos melhores momentos, vários momentos maravilhosos! E no começo do ano, no carnaval, eu fui homenageado no carnaval de lá. E quando eu cheguei lá, foi a coisa mais linda do mundo! Como a gente é… a cidade, né, é do carnaval e é muito falando sobre máscara, máscara, máscara, todas as crianças, todas, quando eu cheguei lá, todas as crianças estavam com minha máscara e elas estavam fantasiadas de Josivan, isso me deixou com uma alegria tão grande, porque é muito privilégio você enquanto vida, ter alguém, ter uma instituição que lhe reconhece como alguém que está contribuindo com a arte, com a cultura, com atividade física, com diversas frentes, com o meio ambiente da sua cidade e isso não tem preço. Aí me deixa muito feliz saber que estou contribuindo e que tem muita gente que está sabendo e que está dando valor ao que estou fazendo.
P – Aí, só pra gente fechar essa questão com a família, que era a pergunta sobre a sua mãe, e aí você começou a falar sobre a relação com seu pai. Como é que ficou a relação com seu pai? Só pra gente fechar esse capítulo da família, porque você contou que na infância foi difícil, e depois como é que ficou quando você cresceu?
R - Então, aí o que é mais legal é que, por exemplo, na minha formatura teve vários, né, porque tem, quando você se forma tem vários dias que tem colação de grau, tem culto, tem não sei o quê, enfim. E aí na colação de grau, meu pai só fazia chorar, porque o sonho dele era ter alguém formado e nenhum dos meus irmãos são, só eu. E ele chorava demais, demais, demais. E aí minha mãe chegou perto de mim e disse: “Nem se preocupa, porque ele está chorando de remorso, tudo que ele não lhe deu, agora você está dando a ele em dobro ou em triplo, porque assim, é o prazer dele, o que ele mais queria era ver um filho formado. E esse é um ponto. No dia da festa a mesma coisa. E depois com o tempo eu descobri que ele me deu a coisa mais importante da vida, que foi a minha vida. Então o que ele podia me dar na época de melhor era aquilo. Às vezes eu não pensava, assim, na época que eu era criança, na época que eu era adolescente, eu não entendia muito, porque eu sempre fui uma pessoa boa, eu nunca me enveredei pro lado das drogas, da criminalidade, sempre era esporte, sempre era ajudar as pessoas, sempre era fazer o melhor pelo outro, porque que eu sabia que fazer o melhor pelo outro era fazer o melhor pra mim também. E eu não entendia aquilo. E aí eu descobri com esses longos tempos da minha vida, com tudo que eu passei, que ele estava dando o melhor que ele podia naquela época. Uma coisa importante é, por exemplo, ser gay nos anos 80 era questão de ser travesti, que se criou mulher e tudo mais, não tinha essa história de você é gay e tá tudo bem, você pode vestir a roupa que quiser, você pode ter uma postura diferente. E eu acho que na cabeça dele ser gay era dançar, ser gay era fazer arte e ia envergonhar ele ter um filho desse jeito, e um filho que se vestia de mulher e tererê, e na cabeça dele ele não sabia. E aí por isso que ele batia, por isso que ele queria que eu fosse pra guarda mirim, porque lá era muito rígido o negócio, e aí tinha que ser do jeito que os policiais queriam e aí ia mudar de alguma forma essa questão, essa minha visão de mundo, essa visão de cultura de arte e não mudou, nem vai mudar porque eu acho que é isso, a gente tem que estar fazendo o que a gente acredita. Eu fiz vários lives no meu Instagram e uma das coisas que a gente estava vendo com uma moça que é potência que é uma querida minha, Valéria Lapa, e ela falando que a gente tem vocação, a vocação é que você nasce com aquilo, é um eletricista, é um marceneiro, é um artista plástico, a missão é a que é dada a você: “Olhe, vou lhe dar a missão de você fazer 10 quadros”. Aquilo é uma missão, e propósito é esse mix todo, você juntar tudo, sua missão com sua vocação, com o que você veio fazer aqui nesse planeta. E o que eu vim fazer aqui nesse planeta, foi compartilhar o bem e o amor, porque eu sou imagem e semelhança do Cristo. Eu sabendo disso, tudo que eu fizer agora só vai fluir, porque eu não estou pensando em mim, tudo o que eu faço, todas as vezes que estou fazendo alguma coisa, claro que isso me deixa o coração feliz, isso me deixa com alegria imensa que às vezes eu digo: “Olha, eu não sei nem como que vou aguentar meu coração, porque ele está se expandindo tanto, se expandindo tanto, que não sei como é que eu consigo”. Mas é tão bom você receber o carinho, receber de uma idosa, que diz assim: “Oh, eu não conseguia, eu ia pra igreja e não conseguia me ajoelhar, eu recebia a hóstia e não me ajoelhava, o pessoal levantava pro santíssimo e eu não me ajoelhava e hoje depois do Vida Ativa eu me ajoelho. Toda vez que me ajoelho me lembro de você”. Tu tem noção do que é isso? Assim, a importância de que uma pessoa todo dia reza por você? E eu estou dizendo uma, porque é o relato de uma, mas são todas, “Olha, rezei por você, viu?”. Imagine 500 pessoas, 400 pessoas vibrando para que as coisas que você faça deem certo, para que as coisas que você faça fique bem. E aí eu acho que é isso, assim, eu acho que as pessoas tem que se conectar com um propósito, que eu acho que é a coisa mais importante e cada dia mais clarificar a sua identidade, saber quem você é, sabe? Porque se fosse depender do meu pai, ou eu ia ser um militar ou qualquer coisa, menos a pessoa que eu sou hoje, que eu digo que sou empreendedor social, né, porque eu estou com um negócio de impacto social, mas eu sou um fazedor, eu faço projeto sócio ambiental, eu faço projeto cultural, eu faço projeto de qualidade de vida das pessoas, eu faço projeto com obesidade, eu faço projeto de literatura, enfim, escrevi música, uma música linda que aí o trecho da música é: “Felicidade pode até ser sentar numa árvore e na sombra dela se sentar”. Porque é exatamente isso, quando você planta uma árvore, você quer que ela dê fruto, mas você também quer que ela dê uma sombra, porque tudo que você fizer vai reverberar a você lá no futuro. E aí é isso que eu penso muito: “O que eu estou fazendo agora vai reverberar, vai amplificar lá no futuro, como está acontecendo agora com o Projeto Vida Ativa.
P – A gente começou a falar um pouco sobre os projetos, né? Você falou do Vida Ativa e a gente estava falando sobre as questões da reciclagem, do plástico que é a temática, né? Aí você tinha começado mostrar pra gente algumas artes, como é que é isso na cidade? Como é que é isso nos seus projetos?
R - É isso, veja só. Aqui na minha cidade é muito, mas muito cultural, muito, muito. Se você chegar aqui em Bezerros, no mínimo, no mínimo, você vai encontrar 100 artesãos, de criança a idoso. E aí tem artesãos, têm as melhores bonequeiras de Pernambuco, de Bezerros, o melhor xilogravurista do Brasil, que é esse aqui olha, J. Borges, que faz xilogravura é de Bezerros, o rapaz que faz, aqui olha, essa máscara, que é máscara de papel machê, é Lula Vassoureiro, é de Bezerros, a moça que faz esses ímãs de geladeira aqui, essas máscaras, que são máscaras de Papangus, é de Bezerros, esse artesanato aqui olha, que isso é pra colocar na mesa, pra fazer tapete e tudo mais. Isso aqui é com resto de tecido, é de Bezerros, esse aqui é com tricô e com latinha, com lacre de latinha, é de uma pessoa de Bezerros. E aí, o melhor de tudo é que eu estou pegando essas idosas e estou dando a elas essa noção de que elas são artesãs, que elas são artistas, porque elas não sabem. Elas fazem isso, aí tem um monte, olha aqui ó, que outra que faz, branquinho com o lacre, que aí tem passadeira, tem descanso de prato, bem legais, mas elas não sabem que elas são artesãs. E aí a gente está fazendo esse artesanato com elas, que é pra justamente dizer assim: “O lixo pode se transformar em luxo”. Tudo que a gente tem no lixo pode se transformar e pode fazer, como aqui na terra dos Papangus, a gente está pegando e vamos fazer com as crianças também, um Papangu com um tubo de linha. Quando a linha acaba, tem o carretel da linha, aquilo é plástico e é jogado, ninguém faz nada com aquilo. A gente pega o carretel, coloca uma máscara dessa em cima, que é como se fosse assim, é um carretel aqui em baixo, coloca aqui a máscara em cima e um tecido, aí quando a gente empurra em baixo o tecido, ele fica subindo aqui, que aí vai fazer os Papangu com o resto de costura. O resto de costura e de tecido, a gente faz pano pra guardar, descanso de prato, descanso, enfim. E a gente vive inventando. E aí um dos meus sonhos também, e que a gente já está começando a fazer, é a questão da intergeracionalidade. A gente é muito forte com as crianças, mas é pontual. E eu quero fazer é que seja o ano todo, que eles tenham acesso o ano todo. E aí a gente vai começar agora uma oficina de pífano. Pífano é feito de bambu, e está morrendo o pessoal antigo, o pessoal velho está morrendo e não se tem mais banda de pífano novas, criadas enfim. Nós vamos fazer a primeira banda de pífanos infantil do mundo, porque só tem banda de pífano com adulto e a gente vai fazer com criança. E aí os pífanos, que a gente vai começar primeiro é com resto de cano, que é plástico também, que as empresas de Compesa, as empresas de água do Brasil todo, pegam e jogam fora este pedaço de cano. E aí eu estou usando esse resto de cano, pra gente fazer as flautas e essas flautas os meninos vão usar pra aprender o pífano. Quando eles aprenderem, aí a gente vai dar o pífano, porque o pífano é um pouquinho mais caro e como a gente não tem recurso agora pra isso, aí a gente vai fazer essa mobilização, vai fazer, de alguma forma a gente consegue ter verba para que a gente faça, não só esses brinquedos que a gente está dizendo: “São os brinquedos com as crianças”. Mas também que a gente consiga impactar na vida, por exemplo, um exemplo disso, é que eu sou consultor da Natura e eu ganhei o prêmio Maculelê em 2017, e aí eu inventei o termo que é brinquetura, pegar reciclado e transformar em brinquedo. E aí não existe esse termo, fui eu que inventei a brinquetura. E aí o que acontece, as tampas dos perfumes eu vou fazer um tabuleiro e o tabuleiro vai servir as pecinhas de dama, do xadrez, com as tampas dos perfumes. E aí ajuda tanto as pessoas que forem fazer, que por exemplo, vai ser um processo que a empresa vai se beneficiar com isso, porque muitas pessoas vão querer comprar o produto para ter completinho o tabuleiro, fora pegar esse plástico que ia ser jogado fora, sem dizer que isso ia ser descartado para fazer. O vidro a gente estava tentando ver o que a gente pode fazer, pode fazer uma luminária, pra fazer um difusor daquele para botar cheirinho dentro de casa, enfim. A gente está vendo mil possibilidade, porque assim, como eu disse a vocês, eu sou um fazedor, não paro, não paro um minuto, porque eu vivo fazendo e a intenção é essa, que a criança tenha acesso, não só a esses brinquedos, mas também à literatura, por exemplo, a gente faz, a gente está fazendo a caravana Vida Ativa, que é fazer as integrações com todos os núcleos e todos os núcleos que a gente participa. Aí o que a gente faz, pega… o último que a gente fez no núcleo de São Sebastião, levamos eles para lá, as crianças, aí tinha piscina de bolas, cama elástica, algodão doce, pipoca, tinha oficina com Papanguarte de forró, xaxado, coco e as danças do ciclo junino. E a gente colocou livros na praça, e aí a gente botou em diversos lugares da praça um tecido com um livro em cima e só brincavam nos brinquedos quem lesse um livro. Além da gente estar estimulando a atividade física, a gente estava estimulando a leitura, que é justamente isso, como eu disse, a gente precisa transitar por tudo que é canto, não ficar focado, não, eu só vou falar de sustentabilidade, você pode falar de sustentabilidade usando atividade física, usando uma brincadeira para que as crianças possam fazer, por exemplo, uma corrida para que as crianças corram e peguem o maior número de feijões. E aí como é o processo? Quando terminar de botar lá os feijões, pergunte a eles: “Quanto tempo dura a germinação do feijão? Quais são os tipos de feijão?”. E aí você está estimulando tanto a ciência, como a atividade física, como compartilhamento, como eles saberem o produto que eles estão comendo, sabe? Se é orgânico, se não é orgânico, sabe? Isso é muito importante. E aí, falando em orgânico, não é orgânico, eu desenvolvi aqui também na minha cidade, esse projeto aqui que é Sacola Orgânica. Sacola Orgânica é justamente as pessoas terem acesso a produtos orgânicos, mas terem acesso a produtos orgânicos em uma bolsa só. Nessa bolsa aqui, que é grande, eu boto alface, eu boto todos os tipos de hortaliças e orgânicos. E o que acontece, não usa mais plástico. Toda pessoa recebe essa bolsa aqui, recebe essa bolsa da Sacola Orgânica e na próxima semana recebe os produtos em outra sacola e tem o processo de fazer a limpeza da sacola. Toda semana troca a sacola e não usa mais sacola plástica, que eu acho um fator importante, não só você estar se alimentando bem, mas estar ajudando no processo do planeta no processo de não estar jogando lixo, até porque o lixo que a gente joga no meio ambiente, a gente está jogando na nossa casa, que a nossa casa é o planeta, quanto mais lixo tiver, mais a nossa casa estará suja.
P – Nesses projetos todos, como é que vocês fazem a coleta desse material, dos plásticos, das tampinhas, dos vidros, como é que se mobiliza?
R – Então, como a gente tem muitos idosos e graças a Deus a gente tem credibilidade e legitimidade na cidade, tudo que a gente faz a gente consegue ter muitos adeptos, e aí por exemplo, como eu disse na escola, eu não fiz ainda essa mobilização na escola, mas se eu chegar na escola e pedir, fique tranquilo que as pessoas vão fazer e vão mobilizar. E outra coisa é saber, as pessoas sabem, por exemplo, uma coisa que eu fico muito feliz, é ter os relatos, vários relatos: “Oh, Josivan, a gente… tudo que tu fizer, a gente compra a ideia. Porque a gente sabe que tudo tu está fazendo não é só pra tu, é no contexto geral. O que tu tá fazendo? Por exemplo, o Projeto de Sacola Orgânica, tu não só está preocupado em ganhar dinheiro, que o dinheiro reverte para outro projeto. Mas tu tá preocupado também no alimento, qual alimento que a gente está comendo, com o que a gente está se alimentando”. Que é uma coisa importante que eu aprendi é que a gente tem que saber quais são os alimentos que a gente ingere. O que que a gente escuta, o que que a gente se alimenta, o que é que a gente vê, que isso tudo repercute nas suas ações e em tudo o que você vai fazer. E aí, todos os meus projetos que eu costumo fazer, super dá certo, porque as pessoas acreditam e dão credibilidade a aquilo que eu estou propondo.
P – E aí você comentou até sobre essa questão da sustentabilidade econômica, tanto dos seus projetos quanto da sua cadeia produtiva dos materiais e depois do reuso desses materiais. Como é que se dá essa sustentabilidade econômica? Como é que você equilibra esses pratinhos, Josivan?
R - Então, a gente está no processo. Porque, por exemplo, antigamente a gente recebia o aporte da prefeitura e aí a nova gestora entendeu que tudo isso que eu estou fazendo não faz sentido pra ela. E tá tudo bem, e tá tudo ok. Que aí depois eu descobri que era porque… quem disse a mim foi o irmão dela, disse que ela me tirou do projeto, me tirou de tudo, porque ela queria fazer novos líderes. E aí tentou me apagar, tentou dizer que eu dava trote nas idosas, inventou mil histórias minhas e aí me jogou no buraco. Eu fiquei muito mal, fiquei em deprê, porque todo dia um idoso ia lá em casa, todo dia um idoso: “Josivan, volta pelo amor de Deus, vamos fazer um abaixo assinado, vamos pra igreja pedir, vamos pra rádio pedir, vamos pra televisão pedir”. Eu disse: “Não, não quero”. Se não faz sentido pra ela, eu não quero forçar a barra. E aí eu passei um ano e meio e aí eu descobri que eu sou uma semente, quando ela me jogou no buraco, ela não sabia que eu sou uma semente, hoje eu sou uma árvore frondosa com vários frutos. Os frutos todos são esses projetos, os frutos todos são eu estar cada dia mais conectado com o que eu vim fazer aqui, com meu propósito e tentando cada vez mais ajudar aqui a construir nossa história. Porque o que acontece é o seguinte, se eu não sei de onde eu vim, se eu não sei pra onde eu vou, quem eu vou ser hoje? E aí por isso que eu faço esse resgate cultural, porque eu tenho que saber quem somos nós. Foram essas pessoas, foram esses idosos, que na década de 60 na ditadura revolucionaram, são esses idosos que hoje estão fazendo a revolução da longevidade, da vida saudável. E é por isso que eu faço tanto, por isso que eu quero tanto. Eu acho que eu faço pouco, mas eu me escutando agora com vocês aqui, eu estou descobrindo o quanto eu faço, o quanto eu sou potente na minha comunidade, o quanto eu estou contribuindo não só para longevidade ativa e saudável, mas uma infância ativa e saudável, para uma adolescência com atividades culturais, com atividades de lazer. Porque como são muito carentes, a gente vive inventando história. E aí o acontece é o seguinte, eu disse a vocês, já falei a vocês com isso, que isso aqui é o primeiro livro infantil de frevo de Pernambuco, que é “Da Cabeça a Ponta Do Pé” e aí ele vem com as ilustrações lindas, sabe, o livro vem, aqui olha, pra trabalhar ciência, trabalhar compartilhamento. E aí a ilustração é linda do livro, aos poucos vai aparecendo os passos do frevo, aqui olha, girassol é um passo de frevo, tesoura é outro passo de frevo, Saci Pererê aparece as lendas aqui, Saci Pererê onde passa o frevo, e aí vão aparecendo os passos do frevo no decorrer da história, sabe? E isso é muito importante, porque eu quero que os meninos tenham acesso à leitura, mas que seja um processo dinâmico, um processo que não chegue na casa e fique lá olhando o livro: “Tá, terminei”. Sendo obrigado. Com esse livro os meninos vão ter acesso ao hino de Pernambuco, a bandeira de Pernambuco que vai vir em uma bolsinha, que é essa bolsinha aqui, essa bolsinha vem com o hino de Pernambuco aqui, vai na frente a bandeira de Pernambuco e uma sombrinha de frevo que é para as crianças terem acesso não só à leitura, né, a leitura, o intelecto, mas também a parte física. Por isso que é “Da Cabeça A Ponta Do Pé". Porque eu quero que fique na cabeça dos meninos essa questão de sustentabilidade que o livro aborda, de compartilhamento, mas também eu quero que fique na ponta do pé a oficina do frevo. Aí toda criança vai ganhar o livro, a bolsinha e a bandeira de Pernambuco, e aí a gente vai vivenciar o hino de Pernambuco e a bandeira de Pernambuco que eu acho que é algo muito importante a gente fazer, né. Que nem eu disse, não adianta eu querer fazer qualquer coisa se eu não sei de onde eu vim e pra onde eu vou, né. De onde eu vim, é de um lugar que os artistas são potentes, que as pessoas em minha comunidade vivem o carnaval intensamente, vive os Papangus, vive a arte intensamente. Eu estou vivendo isso tudo hoje, mas eu quero, no futuro, que toda criança do Brasil, que toda criança do mundo tenha acesso à oficina do frevo. Conheça o que é o frevo, conheça quem são os Papangus, por que eu acho que quanto mais a gente amplia esse repertório cultural das crianças, mais serão crianças que terão vez e voz, são crianças e adolescentes que saberão para onde vão, saberão votar, saberão ter suas escolhas, porque foram apresentados a elas projetos culturais, projetos esportivos, projetos de lazer e eu acho que é nesse sentido que eu vivo e quero contribuir, não só para minha comunidade, que eu acho que já contribuo e já faço um trabalho bacana, mas para Pernambuco, para o Nordeste e para o Brasil.
P – Me conta como é que foi esse processo de escrever o livro? Como é que surgiu a ideia? O que aconteceu e como é que foi escrever o livro?
R – Então, como eu falei com vocês, o Papanguarte era um balé daqui de Bezerros, e o rapaz que se chama Carlinhos Marques é uma potência que está há 27 anos em resistência com esse projeto aqui e apresentou a mim lá em 96, quando eu tinha 16 anos, as danças os foguetes populares, e aí coco, ciranda, caboclinho, maracatu. E aí como eu disse, teve um processo aí que eu não tinha como participar do projeto, e aí vivo inquieto, fazendo cursos, fiz curso de cuidador de idoso internacional, agora mesmo eu fiz um curso de captação de recursos, que é pra justamente captar recurso não só pro Vida Ativa, mas pro Papanguarte, para outra instituição que é a AFAB, Associação dos Filhos e Amigos de Bezerros que tem 30 anos num trabalho árduo de ajudar o pessoal das comunidades quilombolas, do pessoal das comunidades ribeirinhas, do pessoal das comunidades da zona rural. E aí eu estou fazendo esses cursos e produzindo. E aí no livro eu fiz um curso de elaboração de projetos em literatura. Quando eu estava lá fazendo o curso, foi naquele exato momento que eu descobri que quanto mais eu estou inserido num lugar que eu quero, mais vem ideia, mais vem coisas pra eu fazer. E aí meio que eu psicografei o livro, foram 2 horas e meia eu escrevendo o livro e as ideias vindo, e passei 2 horas e meia. E aí as pessoas acham que, inclusive na oficina do livro eu já fiz em Recife com o livro e com a sombrinha, as pessoas acham que já está pronto assim, o livro é isso, tá aqui já. E aí não tem, tem todo um processo com isso. E aí um artista plástico aqui de Bezerros, um designer gráfico, que é Ricardo Lima, fez todas as gravuras. E aí teve todo um estudo, né: “Como é que vai ser o cabelo de Apolônio? Vai ser com cabelo ou sem cabelo? O de Do Carmo, vai ter… ela vai ser repartido no meio? Como é que vai ser o nariz? Como é que vai ser a boca?”. A gente estudou tudo isso, como colocar isso da melhor forma no livro. E aí no livro tem também, que foi aquela questão que eu disse para vocês, das lendas. E aí a gente queria mostrar às crianças as lendas, mas a gente queria mostrar de uma forma que fosse bonitinha, que as crianças não tivessem medo, sabe? Os papafigo, a mula sem cabeça, e a gente colocou isso, pensou em tudo. E aí como você faz esse processo no livro, não é só dizer assim: “Escrevi um livro e está tudo bem”. Tem todo um processo, tem o processo da escrita que está guardadinho ali, tem o processo do estudo dos personagens, tem a correção do livro, tem a diagramação do livro, tem pessoa que vai montar o livro, página tal e tal, essa é assim, assim. Aqui foi outro cara aqui de Bezerros também, que é Francis, que fez toda essa questão da diagramação e tem todo um processo, sabe? É assim. E aí vem num processo e como a gente tinha falado anteriormente sobre a sustentabilidade do projeto, esse livro é um produto para sustentabilidade do projeto. Eu não quero pra mim, eu já disse, claro que esse livro e todos os meus projetos, todas as coisas que estou fazendo vai me levar pra um lugar que eu nem imagino, mas toda renda vai ser revertida para ajudar tanto o Papanguarte, que é onde eu comecei, né, que foi através dele que fiz o livro, como também no Vida Ativa e na AFAB. E além de tudo, lá na instituição, que eu dou em minha casa, e o espaço do lado que é pra transformar no IVA, que é Instituto Vida Ativa, aí fica IVA as iniciais. E aí eu estou produzindo com elas os produtos da vovó Iva. E os produtos da vovó Iva, só esses artesanatos que ela faz, é doce caseiro que a gente vai fazer, porque não existe mais, é tudo industrializado, você não chega num lugar e come aquele docinho com gosto de avó. A gente vai fazer os doces da vovó Iva, a gente vai fazer esses artesanatos que é justamente com resto de plástico, resto de tecido, resto de cano, enfim, o que a gente puder fazer. Porque o que acontece é, como a gente não tem muita grana, a gente tem que se reinventar e a gente só consegue reinventar desse jeito e aproveitando os resíduos né, sólidos para fazer arte, pra fazer o que a gente acredita que é a solução de um lugar mais legal, de um lugar mais limpo, de um lugar mais respeitoso. E aí vindo com essa história de lugar limpo, respeitoso, eu moro onde hoje é o Instituto Vida Ativa, que está localizado no centro da cidade, só que o nome da rua, é Rua do Grude. Por que Rua do Grude? Porque tinham umas pessoas que moravam lá antigamente, na década de 80, 90, que moravam em circo e não… o pessoal sabe que o pessoal de circo não tem tanta água para o circo, aí as roupas eram um pouquinho amareladas, a rua era suja. Quando eu fui morar lá, eu fiz sensibilização e a mobilização dos moradores para limpar a rua, e a gente começou a limpar a rua, eu limpei a minha parte em frente da minha casa, e fui pedir aos outros. E aí esse terreno que era cheio de lixo, eu pedi uma máquina que limpou tudo, e hoje eu transformei em uma floresta urbana. Que é justamente as idosas terem acesso lá. Quando elas eram crianças, o lugar que elas tinham, elas moravam no sítio, na zona rural, e na zona rural é muita árvore, muita coisa e aí eu transformei nessa floresta urbana. E aí elas se sentem pertencentes àquele lugar, elas vão se sentir bem naquele lugar. Fora isso, a gente desenvolveu lá, que a gente usa também as garrafas plásticas, as pets pra fazer isso, a gente fez uma farmácia viva, que elas tomam muito chá. A gente paga caríssimo no remédio, mas tudo tem lá no meio, nas plantas. Aí a gente planta colônia, cidreira, capim santo, cana de macaco e aí elas têm acesso a farmácia delas lá, elas vão pra lá. A gente vai inaugurar agora, porque a gente alguns encontros pontuais, mas agora a gente vai ter encontro diariamente e aí desse encontro diariamente, fora tudo que a gente faz, farmácia, TCI que é Terapia Comunitária Interativa, ainda vai ter atendimento psicológico, atendimento médico, tudo voluntário. Eu já estimulei elas, e foi porque viajei agora e não pude ficar com elas, mas a gente vai fazer o Feijão Solidário, porque uma das coisas que está bem punk com os idosos é a insegurança alimentar, muitos deles, porque não tem grana pra comprar, porque tudo é muito caro ou elas não tem mais vontade de fazer, porque já fizeram tanto, já passaram a vida toda trabalhando, e não querem mais, só querem descansar. E aí o que acontece? Estão comendo de qualquer jeito, estão comendo alimentos industrializados, que ficam lá, processados. E aí o que acontece? Eu vou fazer, desenvolver com elas agora um projeto, que é o Feijão Solidário. O Feijão Solidário, dona Maria só pode levar 1kg de feijão, mas dona Margarida leva 1Kg de tomate, dona Joaquina leva cebola e junta tudo, eu vou juntar tudo isso num mix, nós vamos fazer um grande feijão e aí vamos fazer feijão e arroz, que são as proteínas necessárias pra gente sobreviver. Aí a gente vai ter isso, elas vão almoçar lá no espaço e aí o que sobrar eu vou botar em umas quentinhas e elas vão levar pra semana toda e congelar. Só tirar do congelador se alimentam e na segunda-feira a gente retorna de novo, faz o feijão, elas comem e levam pra casa. Porque, assim, com esse processo tem a questão da interação, tem a questão de terapia mesmo, porque elas vão rir, brincar, contando uma história e também eu vou fazer vários resgates culturais, porque vai ter muitas histórias lá, eu vou gravar tudo, na mesinha vou deixar gravando e elas cortando a cebolinha, colhendo feijão, catando o feijão e eu estou deixando lá, e uma conta história, outra conta história, a outra conta e gente vai contribuindo com a nossa história aqui e com a vida delas né. Porque eu acho que, eu digo o tempo todo e repito, digo e repito, a gente tem que cuidar de quem construiu a nossa história, não faz sentido eu estar aqui se eu não estou pensando em quem, lá atrás, abriu os caminhos para que hoje eu estivesse aqui falando com você na internet, dando este depoimento aqui na internet, porque se não fossem eles, a gente não estaria aqui fazendo o que a gente está fazendo hoje.
P – E me diz, na sua cidade Josivan, você vê algum tipo de programa, não que você tenha proposto, que venha de política pública, sabe? Relacionado ao meio ambiente, a questão do lixo, reciclagem e reuso, você vê algum tipo de movimento? Como é que é isso?
R – Então, aqui não tem muito, por isso que eu digo muito, assim, por exemplo, essa questão da sacola orgânica, de levar às pessoas, produto orgânico com uma sacola que fosse reutilizável, foi um negócio massa, impactante, que eu tentei propor para os mercados aqui, os mercadinhos da localidade, porque isso é um custo a menos pra eles. E aí ia fidelizar, sabe? Ia fidelizar os clientes: “Se você chegar com a minha bolsinha aqui, vocês vão ter tantos por cento de desconto". Além deles irem pra lá, eles não estavam poluindo. E aí tem poucos, mas os poucos que tem são muito legais. Tem outro aqui que faz que é Rafa Brito, que ela é minha amiga, que ela deu inclusive, entrevistas, várias entrevistas, participou da Fenearte e algumas oficinas convidativas, que é usar o plástico. Ela usa o plástico para fazer fotos e fazer reprodução de algumas coisas. E aí ela está fazendo agora um projeto bacana, que é com uma instituição, que é a AFAB, que aí eu vou fazer com ela, ajudar nesse processo, que é a mobilização, que é de esmalte. Ela vai pegar o esmalte, o fundo do esmalte vai ficar colorido, que ela vai quebrar e vai usar só a parte do fundo e vai fazer, juntar os pedacinhos de esmalte e botar aqui na instituição, formar vários Papangus de esmalte, que é o fundo lá, que eu esqueci agora o processo, que é de botar tudo juntinho assim, e aí ela vai fazer e vai ficar lindo e já está reutilizando algo que é descartável, que não usava, que não presta. E aí ela também faz várias coisas com moda, ela já fez. E aí eu acredito que com o passar do tempo, a gente vai se utilizando desse processo pra fazer. Eu já mobilizei algumas pessoas aqui agora, porque Bezerros fez 158 anos. E como eu disse a vocês, a gente falou muito aqui, é muita coisa pra mim, eu faço muita coisa, eu vivo fazendo. E aí eu descobri em uma mentoria que eu estou fazendo agora, com um movimento bem maior, que é: “Se tudo é importante, nada é importante, se tudo é prioridade, nada é prioridade”. E aí eu estou tendo as prioridades agora que eu quero fazer, eu estou começando a fazer a reforma agora, eu já fiz está quase pronto a reforma do IVA, pra gente começar a fazer os feijões e as coisas lá. E aí no aniversário de Bezerros eu queria ter feito, só que eu não tinha braço pra isso. Que Bezerros completou 158 anos, aí eu ia plantar o presente do Vida Ativa para Bezerros, ia não, vai ser, vão ser 158 árvores que a gente vai plantar em diversos lugares na cidade e plantas que tenham flores né, porque quando florir vai ficar aquela boniteza, é Ipê, e Flamboyant. E aí a gente está nesse processo que assim, tudo que a gente faz… que aí o nome do projeto é Plante seu Futuro. A gente vai plantar o futuro que vai nascer depois né. Tem muitos idosos que vão plantar agora, mas não vão ver essa árvore grande, florindo, mas o que importa é que a gente plantou o futuro de outras pessoas.
P – E como é que você vê o futuro desses projetos todos que você está propondo agora daqui 5, daqui 20 anos?
R - Eu estou muito feliz, porque com esse movimento todo que está acontecendo comigo, esse curso que eu fiz de captação de recurso, vai me dar meios para que eu consiga captar recursos, via editais, via vaquinha, via valor social dos idosos, via pessoa física, pessoa jurídica, via edital, via produtos e serviços, porque assim, eu não consigo fazer nada, por mais que eu romantizava de primeiro, que não precisa de muito dinheiro pra fazer. Porque o que acontece é, meu sonho era ganhar na mega sena pra fazer melhor esses projetos todos que eu estou fazendo. E eu descobri que eu não preciso ganhar na mega sena pra fazer todos os projetos que eu estou fazendo, basta a minha expertise, basta minha força, minha energia e eu consigo fazer pode ser que não seja na velocidade que eu queria, mas aos poucos eu estou fazendo e construindo tudo que eu sonhei. E aí eu vejo muito esses projetos todos em outras cidades, eu vejo impactando as crianças e adolescentes com livro, com atividade física pra obeso, com atividade física pra idosos. Porque o que acontece é o seguinte, existe já o Vida Ativa, O Vida Ativa 60+, com as crianças vai ser o Vida Ativa Kids, com os adolescentes vai ser o Vida Ativa Teen e com adulto jovem vai ser Vida Ativa Des, e aí eu vou ter toda a família na cadeia, porque o valor social que o idoso dá, eu vou fazer o projeto pra criança, o valor que a criança dá, eu vou fazer pro adolescente e o que o adolescente dá, eu vou fazer pro adulto jovem, e aí vai ficar o dinheiro circulando né, o tempo todo. E aí eu acho que isso é o futuro, a intergeracionalidade é o futuro, poucas pessoas estão falando. E aí eu já começo 5 anos atrás, já produzindo isso, fazendo projetos pensando não só em idoso, mas na criança, no adolescente e eu acho que é o futuro. A intergeracionalidade, pegar não só a intergeracionalidade, mas vários eixos, sustentabilidade, longevidade, arte, cultura, lazer e misturar isso tudo. Eu acho que isso é muito importante, porque nem fica chato, e fica atrativo para as pessoas, né. Imagina eu pegar, por exemplo, uma idosa escreveu uma música de frevo, que a música é assim: “Já é madrugada e o dia já vem, já é domingo vem cantar meu bem, é frevo no pé, papangu na rua, vem pra Bezerros que a folia é tua”. E aí a gente vai fazer com essa música, a idosa já fez a música, linda a música. Eu mobilizei quase todos os cantores da cidade e eles fizeram a música, cantaram, gravaram. Aí agora a nova missão minha é fazer um vídeo clipe e aí eu vou fazer o vídeo clipe com Papanguarte, com as idosas, com os cantores, vou chamar as crianças e dançando e vai ser lindo, vai ser uma festa linda! E aí isso vai ficar pra sempre, né. A gente está pegando uma música, um elemento e usando vários elementos né, cultura, lazer, porque vai ser um lazer para as crianças ir para lá dançar, brincar. Vai usar nossa maior… nosso maior carro chefe, que é o Papangu na música, que eu quero que seja muito forte. E aí pegar uma potência, que é uma idosa que estava lá isolada, que ninguém sabia dessa música, bota e estimular, dizer assim: “Olha, a idosa fez, uma criança pode fazer, mas pode fazer música, pode fazer um projeto, pode fazer um poema, pode fazer filme, pode fazer o que quiser. A gente é livre, a gente é o que a gente quiser”.
P – E você tinha contado sobre as redes sociais que é uma forma até também de divulgar o teu trabalho, de divulgar todos esses projetos. E você estava contando que você que administra, como é que é isso, essa questão com as redes sociais?
R – Então, é bem punk. Porque assim, com esse processo do Fomenta e do Bem Maior, que a gente ganhou essa formação, recebemos um dinheiro para investir, para ter mais projetos. A gente consegue fazer isso tudo mas é assim, antes era “euquipe”, eu que dava aula, eu que fazia as redes sociais, eu que captava recurso, eu que produzia os eventos, eu que decorava os eventos, eu que tudo! E aí com esse processo que a gente está tendo da formação, eu estou descobrindo que a gente pode fazer, mas a gente pode fazer, captar voluntários na área da sua expertise. Agora tem um rapaz de dança de salão, ele é voluntário em dança de salão, outro professor é de recreação, outro professor é de musculação e aí a gente vai estimulando nas áreas todas, coordenação motora, a parte cognitiva das idosas de forma ampla. E aí nas redes sociais é bem fácil pra gente colocar lá, assim, a gente não tem o engajamento que a gente queria, porque eu queria que mais gente visse esse movimento que tem aqui em Bezerros, pra estimule os pais, os avós porque assim, é muito importante eles terem essa autonomia, é muito importante eles estarem o tempo todo em movimento. Mas a gente faz um trabalho bacana, não só das fotos que a gente tira, tira cada foto legal delas, os depoimentos delas, é bem importante que as pessoas observem que a gente coloca lá os depoimentos. E aí faz dois meses que eu estou voltando, comecei fazer, que aí sou eu que faço tudo, eu que elaboro como é que eu vou fazer a planilha, eu que elaboro a pauta, como é que eu vou fazer. Aí eu estou fazendo agora, os resgates culturais da nossa cidade. Fiz um vídeo com Seu Tatá, com ele falando como era, como ele aprendeu a ser sapateiro, que hoje tem muitos cursos, um monte de coisas, mas antigamente não tinha, ele aprendeu e foi aprendendo só, e foi indo e foi indo. Tem outra mulher, Dona Maria da Sanfona, que ela tocava sanfona e o marido dela proibiu dela tocar, e isso me feriu o meu coração, eu fiquei muito triste, assim. Ela podia ser hoje uma Marines da vida, uma referência na sanfona, igual foi Luiz Gonzaga. E ela não pode fazer isso, porque o marido não deixou, mas ela enveredou pro lado da costura e aí fez o curso e aprendeu a costurar e é uma potência, ela é referência aqui no estado de costura, ela é potente essa mulher. E aí tem muitas histórias lindas, que aí eu estou resgatando, e aí estou resgatando também… e aí o resgate cultural é perguntar a elas como elas brincavam na infância, e aí eu vou ter esse relato todo delas. Porque aí tem umas que usavam sabugo de milho e as folhas do milho para fazer boneca. E aí eu vou fazer essas bonecas com as crianças, a gente vai fazer boneca de pano com resto de tecido, para tanto encher a boneca, como para fazer o formato da boneca. A gente tem um relato também de um cara, que é um poeta maravilhoso que mora em um distrito na zona rural, que é Júlio do Joá. E aí Júlio do Joá me disse uma coisa, me perguntou e eu fiquei encantado, assim, eu fiquei chocado com ele, ele me perguntou quando é que começavam as festas juninas e eu não sabia responder, eu disse que era no dia 1 de junho, que é quando começam os dias juninos. E aí ele disse: “Não, o São João começa no dia 18 de março, porque é o dia de São José. Porque se chover nesse dia é sinal de que vai ter uma boa colheita. E o São João é a festa da colheita. Só tem milho se chover lá no dia de São José”. E aí fez todo sentido pra mim. E são essas histórias, são esses relatos que estou vindo buscar, estou indo buscar e através das redes sociais, através da minha rede, do que eu posso fazer, da minha força de trabalho, é que eu estou querendo que não só seja vista aqui na nossa região, aqui em Bezerros, mas que o Brasil todo, que o mundo conheça as histórias dos nordestinos, das pessoas que por muitos anos viveram em cima de um cabo de enxada, trabalhando. Hoje elas têm as peles enrugadas, tem câncer de pele, tem um monte de coisas que acontecem com elas, mas ninguém sabe que lá atrás, ela sustentou o Brasil todo trabalhando na roça para te mandar os sustentos, feijão, milho, tudo, café, a cana de açúcar que é muito forte aqui no estado e para o país todo. E é isso que eu quero que as pessoas entendam, que a gente está agora fazendo essa revolução da longevidade ativa e saudável, oportunizando esses idosos do que eles nunca tiveram, nunca! Tem uma idosa que esses dias me disse: “Olha meu filho, eu estou brincando agora, minha vida toda foi debruçada num cabo de inchada”. Isso me deixou, assim, sabe, com o coração feliz e ao mesmo tempo triste, porque ela não sabe nem… ela nem conhece o dinheiro, o dinheiro é a família que toma todo o dinheiro dela, que ela não sabe ler nada. E aí isso é importante demais, a gente saber que a gente está contribuindo de alguma forma na vida delas. E aí por isso que eu uso as redes sociais, pra que mais pessoas tenham acesso a esse relato todo deles, que eles vivenciaram, mas também eu quero e vou deixar aqui uma dica, que as pessoas usem as redes sociais do Vida Ativa 60+ para descobrir os segredos da longevidade. Os idosos estão lá com 98 anos, 95, 46, 48, mas tem um segredo, pra eles chegarem nessa idade tem vários segredos e lá a gente conte a vocês esses segredos da longevidade.
P – Agora fiquei muito curioso, quando você descansa, rapaz? Por que você faz muita coisa, como é? Quando você consegue descansar?
R – Então, é que, por exemplo, agora na pandemia eu descobri uma coisa bastante importante, que aí eu vou falar um pouquinho o que a gente fez agora na pandemia com elas. Eu descobri que eu sou livre, essa história de: “Não, domingo é dia de descanso. Não, sábado é dia de descanso”. Não tem isso, eu descanso no dia e na hora em que estiver precisando de descanso. E aí eu caminhei muito no domingo, eu ia visitar esses idosos no domingo, no sábado, pronto, na segunda-feira de manhã eu quero dormir até 10 horas, eu vou dormir até 10 horas. Na pandemia foi isso: “Ah, não. Hoje eu estou sem sono, eu vou ficar assistindo filme até 3 horas da manhã”. Tudo bem, tá tudo certo. E aí depois que eu aprendi é que, por exemplo, é muito particular aqui na nossa região, todo dia na hora do almoço comer feijão, arroz, macarrão e carne, e aí eu quebrei isso na minha rotina, porque eu posso comer o que eu quiser, eu posso comer salada, eu posso comer raízes, macaxeira, batata doce, enfim, eu posso fazer o que eu quiser. E aí o processo da pandemia veio pra isso, pra eu quebrar barreiras, quebrar rotina. E uma das coisas que aconteceu com a gente na pandemia foi que parou, e a gente não tinha construído essa questão das redes sociais com idosos, os idosos não sabiam mexer no telefone, não sabiam ligar. E aí foi bem punk, porque eu tive que ligar de uma por uma, e foram quase 400 ligações que eu fui fazendo: “Olha querida eu vou fazer agora um grupo do WhatsApp e vou lhe botar lá no grupo, quando eu mandar uma mensagem é pra todo mundo”. E aí aconteceu isso. Nesse processo a gente fez a escuta toda do idoso, pegava uma pessoa, um voluntário, e botava com cinco idosos e aí eles conversavam toda semana, perguntava como eles estavam, se eles estavam bem, se eles precisavam de alguma ajuda para poder comprar algum remédio, porque eles não estavam saindo, se precisava comprar algo na feira. E a gente fez isso, a escutatória, que inclusive a escutatória deu frutos e tem uma aí em Florianópolis que pegou o Brasil todo, como a moça era da TV Globo, ela fez essa mobilização na cidade dela e veio gente do Brasil todo ser cuidador do idoso e eu achei arretado. E aí foi isso, eu fiquei pensando: “O que é que eu vou fazer?”. Aí parou a pandemia e disseram: “Dia 17 de março nós vamos lá trabalhar”. No dia 18, chegou um enxame de abelhas lá na minha casa e aí invadiu o terraço e eu escutei aquele barulho, quando eu abri a porta e vi, aí eu fechei ligeiro a porta e disse: “Meu Deus, o que aconteceu?”. Aí esperei as abelhas irem embora e elas foram embora, eu achei que elas tinham ido embora. Aí quando eu fui ligar a televisão, a televisão queimou. Aí eu disse: “Pronto, você ficar na pandemia sem televisão, sozinho, isolado”. Enfim. Aí fui no centro, comprei uma televisão e voltei pra casa. Quando eu estava limpando um banquinho lá, eu caí no choro, chorando desesperadamente. Eu disse:” Ôxe, o que é isso?”. E aí fiquei sem entender. Aí passou. Aí veio uma intuição, disse assim: Olha, as abelhas a gente mandou aí, pra saber que você é a abelha rainha das idosas. Não abandone elas”. E aí, me surpreendeu, né. Aí eu fui fazer as coisas e daqui a pouco a vizinha chegou, que tinha o primeiro andar de Josivan. “Cuidado que as abelhas entraram no teu forro, está o enxame de abelhas lá dentro da tua casa”. Aí estava lá o enxame. E aí passou lá o enxame de abelha, um ano e seis meses, porque não podia tirar, porque os bombeiros não podiam tirar e ficou lá. E aí ficou lá e aí o cara tirou mais de 30 litros de mel, quando tirou as abelhas, eu pedi pra ele tirar e ele tirou, lá. E aí ficou um pouquinho de abelha. Ele disse: “Olha, ficou um pouquinho aí, se a abelha rainha não foi nesse enxame, a gente vem tirar”. E aí depois foi embora. E aí antes das abelhas irem embora, depois eu lhe mando, elas fizeram um coração de agradecimento, parece até mentira, mas fizeram um formato de coração, as abelhas, como se dissesse assim: “Obrigado pela oportunidade, por ter deixado esse 1 ano e meio aí”. Enfim. E aí, com esse processo de cuidar das idosas, eu fiz o cuidador de idoso, eu fiz uma mobilização que eu levei pra todas as idosas na minha moto, eu fiz um caderno com mandala e levei pra todas, lápis de cor e mandala, que é para elas pintarem, pra ter esse processo. Aí eu disse: “Olha, tem que ser um por semana”. Porque era pra ficar, como eu levei, parece que foram seis ou oito, que dava pra ficar um mês e meio, pra ir entregando. E aí usava a mandala para fazer meditação, porque aí eu ensinei a elas como olhar para um lugar fixo e fazer a meditação, mandei pra elas um vídeo que era um peixinho subindo e descendo, que é justamente o movimento da respiração, quando o peixe subia, ela inspirava, quando o peixe descia, expirava, que era exatamente o tempo. E aí quando a gente terminou esse processo de entrega, que foi muito tempo, né, porque aí como eram 400, 500, sei lá, eu tinha que imprimir 3 mil mandalas, tinha que pegar, botar num envelope, envelope por envelope, papel por papel e de bairro em bairro, de casa em casa, entregando uma por uma. Aí quando eu cheguei lá, eles diziam assim: “Josivan, olha, eu rezei pra Deus. Foi Deus que te mandou aqui. Porque eu rezei pra você vir me visitar”. Isso aqui não tinha preço. E aí, quando terminou, a gente recebeu mil sabonetes da Natura. Aí eu fiz outro movimento, botei sabonete, recebi máscara de um amigo meu, que é Manoel, que está em São Paulo, recebi mais 3 mil máscaras e recebi da prefeitura álcool líquido. Aí botei nas vasilhas álcool, máscara e sabonete e levei tudinho para elas de novo. Quando terminou de entregar isso eu peguei Covid. Eu disse: “Não acredito não, que eu vou morrer depois de eu ter feito isso tudo. Então era minha missão ter terminado com elas”. E aí fiz, e aí depois foi bem punk, porque os gestores não entendiam quando terminou esse processo, aí terminou em agosto, setembro. E aí era época de eleição e eles queriam que as idosas estivessem na praça. E eu não queria, porque eu estava com muito medo que elas fossem pra praça, pegassem Covid e morressem, eu ia me sentir culpado. Mas não queriam saber, eles queriam saber que elas estariam na praça, que eles queriam tirar fotos para postar nas redes sociais, enfim. E aí foi e quando terminou, a gestora que está hoje foi a que ganhou e me tirou desse processo todo e tudo que eu tinha feito. Que aí por isso que eu fiquei muito mal. Mas depois eu descobri que eu sou… eu era uma semente e ela me jogou num buraco e eu me transformei em uma árvore potente, que hoje tem muitos frutos, não só tem frutos com idoso, mas cada fruto é fruto com o idoso, o fruto com criança, o fruto é com a arte, é com lazer, é com literatura, enfim. E estou bem feliz, porque acredito demais na força do um. Não adianta nada eu estar pensando no coletivo se eu não começar por mim, sabe? Eu que tenho que começar esse movimento, eu que tenho que dizer: “Olha, gente. Vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”. E aí vai estimulando, vai mostrando resultado, vai mostrando que a gente fez e deu certo e as pessoas vão ajudando, como eu acredito, né.
P – Josivan, a gente já vai para as perguntas finais agora, mas aí a gente sempre pergunta, essa é de praxe, qual você sente, qual você pensa, qual você acha que é o seu legado?
R - Olha, o meu legado… e ainda eu estou o tempo todo dizendo às pessoas que as pessoas se conectem com seu propósito, não adianta de nada, de nada, de nada você estar fazendo várias coisas por dinheiro, você vai ver que tudo que você juntou, no final da vida você não leva nada e tudo que você construiu não foi pelo outro, foi para você. E é por isso que eu estou o tempo todo querendo que as pessoas entendam que tudo que você faz por amor, tudo que você faz pelo outro, volta pra você numa dimensão, num processo que você nem imagina. Eu digo direto para as pessoas, por exemplo, isso eu digo porque eu acredito, esse é meu lema, isso é meu mantra, “Eu sou incrível, minha mente é genial, eu sou um ímã que atrai todo dinheiro do mundo e virei um radar que só atrai pessoas do bem para transformar o planeta”. E é isso. E está acontecendo, o dinheiro, veio um dinheiro do Change X para eu transformar em atividade com criança, que é do Instituto Lego, da Amazon e da Microsoft. Eu ganhei um prêmio do Movimento do ________ da Natura, que foi esse dinheiro que chegou pra mim. As pessoas que estão se conectando comigo, só gente de primeira qualidade, do bem, do bem, do bem. Eu já disse a Deus, já disse ao universo, não quero mais do que isso. Eu quero acessar coisas extraordinárias, mas eu quero também que as pessoas que vivem na minha comunidade tenham acesso às coisas extraordinárias também, porque eu fui com o balé Papanguarte para Olímpia, que tem um festival, que é o FEFOL, Festival de Folclore de Olímpia, quando chegou lá, a gente chegou nas escolas, as escolas dançando o frevo e a referência que elas têm de frevo é o Papanguarte. Eu perguntei ao idealizador: “Você tem noção do que é isso? A potência que é o Papanguarte na vida dessas crianças?”. E é fã clube, é muita gente lá apaixonada pelo projeto. Aí eu disse: “Isso é muito forte, eu estou percebendo agora”. E é isso, justamente por isso, eu quero outras crianças, outras pessoas, quando estiverem mais velhos, por exemplo, no handebol já acontece isso muito em Bezerros, muita gente me tem como referência, projeto social, a referência de idoso em Bezerros sou eu. Todo mundo fala: “Olha, é o projeto de Josivan”. O pessoal da prefeitura, que faz qualquer evento da prefeitura com idoso, as pessoas dizem: “Vocês viram o projeto que Josivan fez? A festa que Josivan fez? A festa do Vida Ativa?”. Isso é muito importante, porque assim, é isso que eu quero deixar, sabe? Que as pessoas… primeira coisa, o legado que eu quero deixar é que as pessoas comecem a fazer já, sabe? Não existe essa história: “Não, quando eu me aposentar”. Tu sabe se vai se aposentar? Você tem o agora, o agora é o que você precisa fazer pelo outro, fazer por você. Outra coisa que eu quero deixar é que as pessoas entendam que a velhice começa hoje, a sua longevidade começa hoje. Tudo que você faz hoje vai reverberar lá quando você estiver idoso. As pessoas acham: “Eita, aquela velhinha é tão ‘desentrevada’, é tão alongada, tem um corpo maravilhoso, tem uma pele maravilhosa”. Sim, mas o que que você está fazendo hoje para que na velhice você tenha uma pele maravilhosa, tenha uma saúde maravilhosa, uma qualidade de vida maravilhosa? “Ah, aquela velhinha é tão legal, tão simpática”. Sim, e o que que você está fazendo hoje pra que lá no final da sua vida você seja uma pessoa feliz, uma pessoa que todo mundo queira que você fique perto, sabe? E aí, isso está acontecendo comigo, porque muita gente fica dizendo… é muita, muita, muita! Que até eu digo: “Meu Deus, que massa é isso, que massa esse movimento”. No meu Instagram quando eu posto foto com as idosas, posto foto do que eu estou fazendo, aí muita gente diz:” Josivan você é luz, você é luz, você é luz”. Eu sou luz, Natan é luz, Margarida é luz, fulano é luz, todo mundo é a imagem e semelhança de Cristo, então todo mundo é luz, basta a gente acertar e ser luz e mostrar o que a gente tem de melhor. Quando a gente faz ao outro, para o outro sem precisar de que o outro reconheça, sem que o outro precise: “Não, vou pagar tanto por isso”. Não, o dinheiro chega, o dinheiro não precisa ser a primeira parte não, o dinheiro vai chegar. A primeira parte que tinha que ser feita, é você trabalhar com amor, você fazer com seu propósito, dizer assim: “Eu fiz, mas aquilo ali… não tem dinheiro no mundo que pague aquele sorriso! Não tem dinheiro no mundo que pague aquele relato! Não tem dinheiro no mundo que pague um relato que uma idosa com 68 anos, ir pela primeira vez para uma confraternização com uma amiga, ela nunca teve”. A filha dela disse: “A minha mãe nunca teve uma confraternização”. Foi a coisa mais linda do mundo hoje ela chegar e arrumar o cabelo e se maquiar e dizer assim: “Minha primeira festa com minhas amigas, Josivan aqui você não tem preço”. Teve outro relato que eu levei as idosas para um museu em Recife, nunca elas tinham ido a um museu, 70 anos, 75, nunca, choravam, quando viram o Museu do Cais do Sertão. E aí é isso que eu quero deixar, é isso que eu quero que as pessoas entendam, que dinheiro é bom, dinheiro é maravilhoso, mas quando você tem um impacto na família, quando você tem um impacto na vida dessas pessoas, é a coisa mais importante que você pode deixar. E eu acho que estou deixando, porque o meu livro vai ser um legado bastante incrível, um livro não, que é uma coleção, tem o Da Cabeça A ponta do Pé, tem O Gigante de Caruaru, que é feito por J. Borges e tem As Pastoras do Reino, que é do ciclo natalino, que é ciclo junino, natalino e carnavalesco. E aí são os legados que eu vou deixar, os meus livros. Outro legado que eu vou deixar é o Vida Ativa 60+, que aí eu já estou me ausentando dele e outras pessoas já estão tocando, que é porque se eu não estiver mais aqui, que eles toquem esse projeto todo. Cultura na cidade, os resgates culturais, vou deixar também. A parte esportiva com handebol, o tempo todo querendo que eu fique mais. Fiz escolinha também de voleibol, fiz circuito de vôlei. Eu acho que é isso, assim, a gente… é muita coisa que eu faço, que às vezes acho que não faço nada, assim, sabe? Eu digo: “Não, não estou fazendo não. Porque preciso fazer mais”. Mas quando você faz sem esperar nada em troca as coisas acontecem de uma forma linda e maravilhosa.
P – E aí pra gente fechar eu quero saber como foi contar a sua história para um museu, saber que agora sua história de vida vai fazer parte do acervo de um museu?
R – É isso que eu acabei de dizer, eu lá atrás comecei um projeto que impactou vidas, que teve iniciativas como de pegar um plástico e fazer uma oficina, de pegar tecido velho e fazer uma oficina, de pegar as expertise das idosas e fazer crochê, tricô e fazer uma oficina e hoje chegar minha história de vida num museu para que mais pessoas tenham acesso, que mais pessoas consigam entender que quando você está alinhado com seu propósito, quando você está alinhado cada dia mais para identificar sua identidade e saber que a gente está aqui não só pra olhar pro umbigo da gente, mas no contexto geral, no contexto coletivo, não tem preço. E é isso assim, eu fico muito grato a Deus, muito grato ao universo, muito grato ao Programa vida Ativa 60+, muito grato a essas idosas, porque se não fossem elas participando do projeto, não estava tendo projeto. Muito grato a Deus por me dar essa expertise que é a criatividade, porque criatividade você não compra. E aí vem muita, muita ideia maravilhosa, muita ideia que não é só pra mim, sabe? É pra mim também, mas todas as ideias que vem pra mim, é pra impactar um grupo, é pra solucionar um problema social, é pra solucionar um problema sócio ambiental e isso não tem preço, assim, eu fico muito grato a Deus por estar conectado com ele, conectado com o universo, e todo dia eu me conecto com a minha raiz, todo dia eu me conecto. Que tudo isso que acontece comigo se vier prêmio, se vier entrevista, se vier para eu estar minha história em museu, ser contada a história em tudo que é canto. E isto aqui não seja ferramenta para que meu ego fique, sabe? Querendo ser melhor do que ninguém, que eu não sou melhor do que ninguém, até porque se a gente é a imagem e semelhança de Cristo, a gente é igual na essência. Então a gente não precisa estar com essa vaidade, por isso tantas coisas acontecem por mim, porque eu sempre digo que esse projeto não é meu, esse projeto é nosso, os livros não são meus, os livros são nossos. E é isso assim, muito, muito bom a gente estar contribuindo e mostrando um pouquinho da minha história, né, que é muito grande, é muita coisa que eu faço. Mas mostrar um pouco da minha história nesse museu tão importante, que é o Museu da Pessoa, que mostra histórias lindas, que mostra histórias de pessoas diferentes, pessoas que estão de alguma forma contribuindo para melhoria do mundo e para melhoria do planeta.
P – Realmente foi um prazer conhecer a sua história e muito obrigado pela sua disponibilidade, Josivan.
R - Não, eu estou de boa. O que vocês precisarem, de saber, por exemplo, eu não sei como é esse processo, não sei como é essa seleção do museu, sabe? Mas eu tenho aqui contato com o cara que é J. Borges, que é um puta de um artista no Brasil todo, conhecido internacionalmente e aí pode ser uma para vocês, tem os filhos dele, sabe? Que estão levando esse legado, os filhos de J. Borges, _______ Borges. Os outros que fazem xilogravuras, fazem um monte de artesanato através da xilogravura. Tem um outro que é esse aqui… Lula Vassoureiro, que inclusive tenho um projeto com ele, Natan que eu vou fazer, que esse é mais robusto, esse projeto. Que ele fazia vassouras e aí eu vou fazer com ele e com as pessoas nas cidades, vassouras de garrafa pet, que eu não sei se você já viu, tem as vassouras de garrafa pet, e o lixo que a gente arrecadar, papéis, tudo mais, a gente vai fazer máscaras. A gente vai fazer a vassoura, varrer a cidade, e o que a gente arrecadar vai fazer as máscaras, e o nome é “Vamos Varrer esse Pernambuco com Lula Vassoureiro”, porque ele era vassoureiro, ele fazia vassoura, só que ele não faz mais vassoura, ele faz máscara. E a gente vai varrer para dar essa questão de sustentabilidade, essa questão de movimento, sabe? De limpar as ruas e não botar mais lixo na rua, e pegar o lixo que a gente pegou com a limpeza da rua e fazer as máscaras, que são os papéis que a gente limpou, enfim. Aí é muita coisa, que é muita coisa que eu quero fazer, mas não tem grana e todo dinheiro que for vindo eu vou fazendo os projetos que eu acredito.
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