IDENTIFICAÇÃO Me chamo Celso Luis Mansur. Nasci em Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro, no Vale do Paraíba, no dia 23 de dezembro de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. FAMÍLIA / PAIS E AVÓS Meu pai é Mario Mansur e minha mãe Irene Camerana Mansur. Meu avô materno era de origem italiana, Luis Camerana, e a minha avó materna Olga Camerana. Meu avô paterno era libanês, Hanna Mansur, Hanna que no Brasil passou a ser João, e a minha avó Necima Mansur, também libanesa, vieram de Jounieh, do Líbano. Meus avós paternos vieram para o Brasil no início do século XIX. Meu pai já nasceu aqui, foi concebido em viagem de navio que demorou alguns meses. Meu pai era comerciante, minha mãe do lar. Eles se conheceram em Barra do Piraí mesmo. Meu avô materno era também comerciante, dono de açougue, e meu avô paterno era dono de armazém de secos e molhados. Então juntou os cereais com a carne. O meu avô nasceu no Brasil; seus pais que eram italianos de uma cidade chamada Camerano, mesmo nome da família. INFÂNCIA Piraí fica às margens da Rodovia Dutra e Barra do Piraí fica no Vale do Paraíba. Vivi em Barra do Piraí até vir para o Rio de Janeiro estudar. A casa em que eu nasci fica exatamente onde o Rio Piraí deságua no Rio Paraíba, daí o nome Barra do Piraí. Era uma casa muito grande que existe até hoje. Minha mãe tem 90 anos e mora ainda na mesma casa – uma casa de cinco quartos com quintal muito grande e com mangueiras, goiabeiras e outras árvores frutíferas. Nós brincávamos muito ali, nadávamos, aprendemos a nadar no Rio Paraíba, contra a correnteza. Brincávamos de tudo, inclusive de circo e de programa de auditório em rádio: daí nasceu a minha vontade de trabalhar na área de comunicação. Por que o circo? Porque em frente à casa do meu pai tinha um terreno muito grande onde armavam os circos e os parques de diversão. E nós ficávamos amigos das pessoas dos circos, entrávamos...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Me chamo Celso Luis Mansur. Nasci em Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro, no Vale do Paraíba, no dia 23 de dezembro de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. FAMÍLIA / PAIS E AVÓS Meu pai é Mario Mansur e minha mãe Irene Camerana Mansur. Meu avô materno era de origem italiana, Luis Camerana, e a minha avó materna Olga Camerana. Meu avô paterno era libanês, Hanna Mansur, Hanna que no Brasil passou a ser João, e a minha avó Necima Mansur, também libanesa, vieram de Jounieh, do Líbano. Meus avós paternos vieram para o Brasil no início do século XIX. Meu pai já nasceu aqui, foi concebido em viagem de navio que demorou alguns meses. Meu pai era comerciante, minha mãe do lar. Eles se conheceram em Barra do Piraí mesmo. Meu avô materno era também comerciante, dono de açougue, e meu avô paterno era dono de armazém de secos e molhados. Então juntou os cereais com a carne. O meu avô nasceu no Brasil; seus pais que eram italianos de uma cidade chamada Camerano, mesmo nome da família. INFÂNCIA Piraí fica às margens da Rodovia Dutra e Barra do Piraí fica no Vale do Paraíba. Vivi em Barra do Piraí até vir para o Rio de Janeiro estudar. A casa em que eu nasci fica exatamente onde o Rio Piraí deságua no Rio Paraíba, daí o nome Barra do Piraí. Era uma casa muito grande que existe até hoje. Minha mãe tem 90 anos e mora ainda na mesma casa – uma casa de cinco quartos com quintal muito grande e com mangueiras, goiabeiras e outras árvores frutíferas. Nós brincávamos muito ali, nadávamos, aprendemos a nadar no Rio Paraíba, contra a correnteza. Brincávamos de tudo, inclusive de circo e de programa de auditório em rádio: daí nasceu a minha vontade de trabalhar na área de comunicação. Por que o circo? Porque em frente à casa do meu pai tinha um terreno muito grande onde armavam os circos e os parques de diversão. E nós ficávamos amigos das pessoas dos circos, entrávamos de graça, ajudávamos nas tarefas do circo. Meu pai geralmente alugava o porão, que era habitável, para o dono do circo, os empresários e alguns artistas. Fazíamos aquela amizade e nos divertirmos muito no circo. Uma das brincadeiras mais maravilhosas que a gente fazia era montar um circo no quintal de casa; arrancava a cortina da casa para cercar, o trapézio era pendurado na goiabeira, eu era trapezista e palhaço, não combina, mas eu era as duas coisas. Um dia, eu estava pendurado no trapézio, num galho de goiabeira, o galho quebrou e eu caí de cabeça no chão; a minha sorte é que tinha areia no quintal e não aconteceu muita coisa, mas fiquei muito tempo com o pescoço doendo. A minha infância foi maravilhosa como toda infância de cidade do interior, brincando na rua até tarde com meus irmãos. Somos cinco irmãos homens, quatro com diferença de idade pequena de um ano, no máximo dois anos, e um que é temporão, 13 anos mais novo do que eu. Eu sou o segundo. Meu irmão mais velho é arquiteto, eu sou jornalista, os outros dois irmãos abaixo de mim são professores e o último é oficial de marinha, já é almirante reformado, quer dizer, o caçula da casa já tem mais de 50 anos. Havia muitos vizinhos, muitas crianças nas casas em volta; brincávamos muito com todas elas. Tínhamos time de futebol, a equipe de futebol local. Uma curiosidade interessante é que a cidade é cortada pelo Rio Paraíba do Sul e pelo Rio Piraí, então havia uma disputa muito grande, uma rivalidade entre um lado e o outro do Rio Paraíba. Jogávamos e fazíamos vários tipos de competição: um lado do rio contra o outro lado do rio. Aí saía não só competição, mas também muita briga. Mais tarde, com a adolescência, a briga era por causa de namorada. Nós não deixávamos quem era do lado de lá vir namorar as meninas do nosso lado, e eles também não deixavam a gente namorar as meninas do lado deles. Isso criava um problema muito sério, porque geralmente a gente se apaixonava pela menina do outro lado do rio. Era um Romeu e Julieta sem tragédia, mas não deixava de ter algumas brigas muito feias. Eu mesmo uma vez briguei com José Joaquim, hoje um grande amigo meu que mora lá em Barra do Piraí, político, prefeito e comerciante. Nós brigamos por causa de namorada e para disputar quem era o mais bonito da cidade. Era a coisa mais engraçada do mundo. Houve um empate, caiu um para cada lado desmaiado de tanto brigar. O técnico do time disse: “Olha, vai acabar essa rivalidade hoje, vocês vão brigar, vão brigar até cansar, ninguém aparta a briga”. Nós brigamos até cansar e resolvemos parar de brigar. Vendíamos entradas para o pessoal mais velho, os pais, as irmãs e irmãos mais velhos, amigos mais velhos. Nós cobrávamos 20 centavos de Cruzeiro como ingresso para o circo. E tinha de tudo: malabarista, trapezista, palhaço, bailarina. Era muito interessante. Fazíamos no porão da casa da mamãe programas de auditório, programa de calouro entre o pessoal da rádio. Eu sempre era o apresentador e, de tanto trabalhar com isso, fui ser locutor da rádio da cidade, a Rádio Difusora Vale do Paraíba. Lembro-me até hoje do prefixo: ZYG7 Rádio Difusora Vale do Paraíba de Barra do Piraí. E aí tinha uma brincadeira que a gente fazia, como a rádio pegava só no Vale e na montanha era muito, só ouvia assim um barulhinho a gente dizia que era: “Falando para o Vale e cochichando para a montanha” Na época de ginásio, fui ser locutor da rádio da cidade. Fazíamos de tudo, desde locução comercial, radiar futebol até alguns programas de auditório. Vim ao Maracanãzinho uma vez, com o diretor da rádio, no carro dele, para narrar o concurso Miss Brasil, [junto com] um advogado, meu primo também, que fazia os comentários sobre cada uma das candidatas. FAMÍLIA / PAIS Meu pai era muito rigoroso e a minha mãe passava a mão por cima. Mas foi uma criação muito séria, muito correta, tanto que nós todos, os irmãos, temos profissões sérias, todo mundo leva uma vida muito regular. A educação que nossos pais nos deram foi muito correta, muito certinha, o que eu procuro dar aos meus dois filhos. Todos nós fizemos primeira comunhão. Tanto o meu pai quanto a minha mãe eram bem religiosos, não eram de freqüentar muito a igreja; o meu pai não, mas a minha mãe ia à missa todos os domingos. Então, todos nós fizemos a primeira comunhão e até hoje todos somos católicos. Meu pai era um pouco seco não era de muita conversa. Era um homem apaixonado por futebol, pelo futebol da cidade. Naquele tempo, o futebol no interior era muito sério, havia muita rivalidade. Geralmente, as cidades têm dois clubes, na minha cidade tinha o Royal e o Central. O Central era de camisa vermelha igual a do América, e o Royal tinha a camisa tricolor igual a do Fluminense. Então o que acontecia? Meu pai era tão fanático pelo tricolor Royal que, [mesmo tendo o] coração botafoguense, que era seu segundo time, virou fluminense por causa das cores do seu time de coração da cidade de Barra do Piraí. E como o outro time era vermelho, ele raramente comia tomate, goiabada, ele tinha horror a tudo que era vermelho. Era fiel ao Royal. E na verdade a rivalidade era tão grande que os pais não deixavam que as filhas de royalino namorassem as filhas dos centralinos e vice-versa. Então, no início tinha que namorar escondido, depois é claro que aceitavam. Mas havia uma rivalidade muito grande isso. Essa era a maior preocupação do meu pai, além da preocupação de sustentar a família, de prover todas as necessidades da família, de que os filhos todos estudassem e tivesse uma profissão. Do ponto de vista político, nós éramos de esquerda e o meu pai conservador. Isso ocasionava discussões muito sérias, meu pai era um lacerdista doente, foi camisa-verde, integralista. Quando entramos na faculdade, isso provocava algumas discussões muito sérias de política na família, mas sem maiores conseqüências. FORMAÇÃO ESCOLAR Todos nós estudamos em colégios públicos. Eu não fiz Jardim da Infância, porque no meu tempo não havia. Os meus dois irmãos mais velhos não freqüentaram o jardim de infância, mas os outros três sim, e todos em escola pública do Estado. O grupo escolar onde nós fizemos era na nossa rua a uns cem metros da nossa casa, íamos a pé. Eu me lembro de algumas professoras que marcaram muito a minha vida: dona Graciema, que está viva até hoje, dona Ramira, que já faleceu, e dona Mireta, que foi uma professora para o admissão ao ginásio. Eram todas professoras de curso primário, formadas no Curso Normal, mas que tinham uma capacidade, uma formação muito grande que você não encontra hoje nas professoras de curso primário. Eu fui bem levado no colégio, fui suspenso várias vezes, ficava embaixo do relógio. Esse castigo era muito interessante; na saída do grupo escolar havia um relógio de parede antigo muito grande e todas as pessoas tinham que passar por ali para entrar e sair do colégio. Então, para a gente passar a vergonha por estar de castigo, ficava na hora da saída em pé embaixo do relógio. Esse foi o primeiro castigo: “Olha, você vai ficar embaixo do relógio hoje”. Ficava uma semana embaixo do relógio, todos os dias, todo mundo passando, olhando para a sua cara e você embaixo do relógio. O segundo castigo era suspensão. Cheguei a ser várias vezes suspenso por uma semana. Eu fiz muita coisa terrível. Uma delas foi acender um produto de matar mosquito, um tubinho, enquanto a professora estava de costas no quadro negro. Aquilo fez uma fumaceira dentro da sala de aula. Descobriram. Alguém disse que tinha sido eu e fui suspenso por uma semana. Essa foi uma delas e as outras eu não me lembro muito bem. Todos nós, [irmãos], estudamos na mesma escola, no mesmo grupo escolar e no mesmo ginásio que era também estadual: Colégio Estadual Nilo Peçanha, que existe até hoje. Eu sempre detestei Matemática, talvez porque não tenha tido um bom professor; acredito que tenha sido isso. O que mais me encantava, o que eu gostava era História, Geografia e Português, que na época chamava-se Linguagem, no curso primário eram as matérias que mais me empolgaram. INFÂNCIA A minha mulher é da minha cidade também, então nós temos, mais ou menos, o mesmo passado. Éramos vizinhos e eu era amigo do seu irmão, ia chamá-lo para jogar basquete. Sempre gostei mais de basquetebol do que de futebol. Ela morava em uma chácara que tinha comunicação com o Barra Tênis Clube, na minha rua também. Quando nós íamos treinar ou jogar uma partida de basquete, como era ao lado da casa dela, eu chamava seu irmão, o Antônio José, e ela era ainda criança, tinha dois anos, estava lá brincando. Eu a conhecia desde criancinha, bebê. Não podia imaginar que um dia me casaria com ela. Eu me lembro muito bem de um dia, quando cheguei, ela sempre foi muito inteligente e esperta, chamei: “Antônio, vamos jogar”. Ela estava no quintal, olhou pra mim, virou para dentro da casa e disse: “Mano, chamam-no”. Ela devia ter uns quatro anos e já era sofisticada. JUVENTUDE Fui diretor social do clube quando devia ter uns 16 para 17 anos, não era nem sócio ainda, era dependente do meu pai. Como na minha casa tinha um movimento muito grande, me chamaram para ser diretor social do clube. Movimentávamos o clube, todo fim de semana, durante a semana, às tardes, e fazíamos uma seção de dança ao anoitecer. Foi aí que eu comecei a notar minha mulher, ela já devia ter já uns 14 anos. Criamos um grupo de teatro amador, quando eu estava com 20 anos e ela com 15. Lembro-me até do nome da peça, “Se o Anacleto soubesse”, uma comédia ligeira, de costumes. Eu era diretor da peça e ela era a minha filha que tinha um namorado. O ator que fazia o namorado era meio ruim para interpretar; chegava para abraçá-la e falava: “Meeuu amooor, eu te amoô”. Como diretor, eu disse: “Olha, não é assim, preste atenção”. Eu olhei para ela e disse: “Meu amor, eu te amo”. Aí tudo começou. Nos ensaios de “Se o Anacleto soubesse”, começamos o flerte, a aproximação, depois o namoro e chegamos ao casamento. Estamos casados há 39 anos. Era o início da Bossa Nova. Criamos também um grupo chamado R Mauro, conjunto de Bossa Nova logo no início do movimento. Eu tocava contrabaixo, meu irmão mais velho tocava violão, o outro irmão abaixo de mim era ritmista, Nos juntamos com outros amigos: um saxofonista e um acordeonista que tocava também vibra-fone. Era muito difícil, o teclado eletrônico ainda não tinha surgido, pelo menos, para nós no interior, havia apenas aqueles órgãos de igreja. Tocávamos por toda a nossa região, no Sul Fluminense, em Vassouras, Volta Redonda, Barra Mansa, Valença, Gil Paranã, Vargem Alegre e outras cidadezinhas da região. Nesses bailezinhos, tocávamos principalmente Bossa Nova, muito bolero e Ray Conniff, que não podia deixar de ter. Nos grandes bailes da cidade, o traje era a rigor. Com 16 anos, eu já tinha o meu smoking para os bailes de debutante, os bailes de fim de ano. Todo ano tinha baile de debutante e, também, as famosas misses, princesas e rainhas, todo o interior fazia estes concursos. Em Barra do Piraí, os bailes eram: Rainha da Primavera, Miss Suéter, Miss Simpatia e Miss Campeonato, do campeonato de tênis no clube. Na nossa cidade tinha também a Miss Elegante Bangu, [promovida pela] fábrica Bangu de Tecidos, que existia em praticamente todo o Brasil. A minha mulher foi Miss Suéter, Miss Simpatia e Miss Campeonato. TRABALHO NA RÁDIO Já com meus 15 anos, trabalhava na rádio como locutor. A gente começou a se apresentar na rádio com um grupo de música. Certo dia, procurei o dono da rádio, o doutor Vitor Bezerra, uma pessoa muito simpática e chegada à sociedade local, embora não fosse da cidade, e disse-lhe da vontade de ser locutor. Contei-lhe que na época de eleição eu fazia campanha de candidatos no serviço de alto-falante montado na cidade. Lembro até de um tio-avô, irmão do meu avô materno, candidato a prefeito e eleito com um slogan que nós criamos. Nesta campanha, tinha três candidatos principais: um médico muito velhinho, doutor Osvaldo, o meu tio-avô Camerano e o Murilo Portugal, cujo o filho hoje é um economista que já foi do Ministério da Fazenda. Eu criei o seguinte slogan: “Osvaldo 80 anos, o Murilo está babando, nós queremos o Camerano”, para fazer a rima. Lembro-me até hoje disso; o slogan foi adotado pela cidade. Meu tio-avô foi eleito prefeito, depois deputado estadual. Por causa disso eu fui trabalhar na rádio. Fizemos vários tipos de programas. Eu fazia um programa que começava às 11 horas [da noite] e terminava meia-noite, quando a rádio fechava. Eu declamava uma poesia e o meu irmão mais velho fazia o fundo musical no violão, botávamos um tango para tocar e depois eu declamava outra poesia, aí tocava um bolero, por isso chamava-se “Um tango e um bolero”. Neste último programa, eu tinha uns 17 anos. INFÂNCIA A gente podia fazer o que quisesse, voltar sozinho á noite. Brincávamos até 11 horas da noite na rua; o pai tinha que buscar a gente, senão não entrávamos em casa. Nas férias, a gente ficava até tarde na rua fazendo tudo, rodávamos a cidade inteira sem problema. JUVENTUDE Eu era o mais agitado de todos os irmãos. Meu irmão mais velho era muito calmo, tranqüilo. O terceiro, o Zezinho, que até hoje tem um grupo de música em Barra de Piraí, era como eu mais agitado. O outro acima de mim, também era um pouco mais agitado. Mas eu era, realmente, o mais agitado de todos, o que estava sempre liderando esses movimentos na cidade, pelo menos na minha região. Mas todos os irmãos participavam. Tinham também vários amigos que participavam de tudo. PRIMEIRO TRABALHO Eu ganhava muito pouco na rádio, mas com 17 anos fui trabalhar na Delegacia do Imposto de Renda. Não havia ainda a Receita Federal, era Delegacia do Imposto de Renda. Barra do Piraí tinha uma Delegacia Seccional do Imposto de Renda. Um amigo da família era o delegado do Imposto de Renda, e meu pai pediu a um primo meu, que trabalhava com ele, para arranjar emprego para os seus filhos. O seu Milton Gadeira, então delegado que depois ficou muito meu amigo, arrumou o emprego para mim. Só que ele achou que era para o meu irmão mais velho, o Roberto, que já tinha 18 anos; eu tinha ainda 17. Numa quarta-feira de cinzas, depois do baile de carnaval, o filho do delegado do Imposto de Renda, também meu amigo, me avisou: “Olha, papai disse que é para você se apresentar hoje”. Eu fui em casa, tomei um banho, botei uma camisa comum e fui trabalhar. Quando cheguei lá, ele me olhou e disse: “É você? Eu achei que seria o filho mais velho do Aziz” – Aziz era como o meu pai era chamado – “Você é um moleque ainda Como vai trabalhar aqui? Agora não tem mais jeito, já saiu a portaria”. Então, eu comecei a trabalhar com 17 anos, ganhando um salário bem legal que deu para comprar uma lambreta. JUVENTUDE Era o período da juventude transviada, a lambreta estava na moda, James Dean e tudo isso. Falei para o meu pai: “Vou comprar uma lambreta”. Ele me disse: “Compre um terreno, não compre uma lambreta que é uma loucura, é uma maluquice, não faça um negócio desses”. Falei: “Tá bom”. Eu não podia comprar nada à prestação com 17 anos. Falei com o meu irmão e ele comprou a lambreta para mim. Quando cheguei em casa com a lambreta, o meu pai disse: “Não falo mais com você Falei para você comprar um terreno, você vai e me compra uma lambreta Não falo mais com você”. Passou-se uns dias, um mês, e ele já estava andando na garupa da minha lambreta. Nós tínhamos uma turma de lambreta que saíamos pelas cidades. Vínhamos de Barra do Piraí para o Rio de Janeiro de lambreta. Foi uma temeridade. Acho que sou um sobrevivente dessa história de lambreta, porque era, realmente, muito perigoso, alguns dos meus colegas tiveram problemas sérios, alguns morreram de acidente de lambreta. Ninguém usava capacete, primeiro porque não era obrigatório e ninguém nem pensava nisso, e a idade é aquela que você não pensa no perigo, né? Todo mundo é super-homem nessa idade. TRAJETÓRIA PROFISSONAL / FORMAÇÃO Como eu trabalhava no Imposto de Renda, em uma área que contabilidade era importante para fazer carreira, eu fui estudar contabilidade. Terminei o ginásio e entrei, em Barra do Piraí, na Escola de Comércio Cândido Mendes, o mesmo nome da escola aqui do Rio de Janeiro, embora não fosse do mesmo dono. Me formei em contabilidade e continuei na Delegacia do Imposto de Renda. Mas resolvi estudar jornalismo. Como eu trabalhava na rádio, fazia o jornal da rádio, eu pensei: “A minha vida não vai ser como fiscal do Imposto de Renda não, eu quero ser jornalista”. Em umas férias, eu vim para Rio, fiquei no alojamento da Faculdade de Arquitetura, onde o meu irmão estava estudando, estudei uns 20 dias e fiz o vestibular para a Faculdade Nacional de Filosofia, onde se situava o curso de jornalismo. Isso foi em 1963. Não havia a faculdade de comunicação, existia apenas o curso de bacharel em jornalismo. A Faculdade Nacional de Filosofia tinha os cursos de letras, de filosofia, de ciências naturais e o curso de bacharel em jornalismo. No Rio de Janeiro, existiam cursos de jornalismo também na PUC e na Nacional de Filosofia na Universidade do Brasil. Fiz o vestibular e passei, só que em 1964 houve a Revolução e reduziram o número de vagas, queriam reduzir os cursos noturnos. A Faculdade de Filosofia tinha um curso de jornalismo à noite e a primeira coisa que o Eremildo Viana fez, diretor da Faculdade Nacional de Filosofia – aliás é o “Eremildo, o idiota” que o Élio Gaspari cita – foi cortar o curso noturno. Eu tinha escolhido o curso noturno e quando cheguei lá para me matricular: “Não, o senhor foi reprovado”. “Como reprovado? Eu passei no vestibular”. “Não, mas os que foram para o curso noturno estão reprovados, não vai mais ter curso noturno”. Fomos para a Justiça e conseguimos um habeas corpus e entramos na Faculdade. O curso noturno só funcionou ainda durante a minha turma, depois não teve mais, porque a administração da Faculdade, colocada pelos militares, não o autorizava. Isso porque [à noite estudava] o pessoal mais conscientizado, que já trabalhava. Bom, me formei em Jornalismo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Com o crescimento da Baixada Fluminense, criaram uma Delegacia do Imposto de Renda em Nova Iguaçu e eu consegui vir transferido, porque o Imposto de Renda de Barra do Piraí era seccional de todo o Sul do Estado, que vinha até Nova Iguaçu. Assim, eu trabalhava em Nova Iguaçu e estudava à noite no Rio de Janeiro. Eu disse: “Tenho que me transferir para o Rio de Janeiro”. Fui procurar o diretor da divisão do Imposto de Renda na cara de pau, cheguei lá falei com a secretária dele: “Eu trabalho em Nova Iguaçu e preciso ser transferido para o Rio de Janeiro, porque a despesa é muito grande e tal”. Eu queria falar com o diretor da divisão. Ela me disse: “Ele é muito ocupado, mas como ele é um homem do interior também e eu conheço a história de vida dele, vou ver se te atende. Espera aí”. Fiquei um tempinho, ela foi lá, voltou e me falou: “Ele vai te atender”. Falei com o diretor da Divisão do Imposto de Renda, o segundo no escalão do Ministério da Fazenda, que me disse: “Ah, eu já passei por isso também, vou chamar a secretária e mandar fazer a portaria te transferindo para o Rio de Janeiro”. Trabalhei 11 anos no Imposto de Renda, antes de ser Receita Federal. Depois fui trabalhar na Tribuna da Imprensa, como estagiário, cobria a área de energia de petróleo. De vez em quando, ia à Petrobras pegar informações para fazer a Tribuna da Imprensa e uma revista que já estava trabalhando, chamada “Posto de Serviço”, dedicada à distribuição de derivados, ligada à Federação dos Revendedores de Gasolina do Rio. Na Tribuna da Imprensa, eu estava estagiando, continuava no Ministério e fazia trabalho nessa revista também. O Fernando Leite Mendes, jornalista muito conhecido, foi até jurado daqueles programas de televisão, meu professor na faculdade, criou essa revista junto com o pessoal da Federação dos Revendedores e me chamou para trabalhar lá e eu fui. Como era uma revista mensal, não precisava trabalhar em horário integral. Um dia, saiu um press-release dizendo que a Petrobras tinha aberto concurso para profissionais da área de relações públicas, jornalismo e publicidade. Eu fui, me inscrevi, isso em 1968, passei no processo seletivo para a área de comunicação e estou na Petrobras até hoje, sou aposentado mas continuo prestando serviços. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL O meu primeiro emprego, na verdade, foi na Receita Federal, no Imposto de Renda. Na rádio, quase não era um emprego, não era diário, era locutor apenas alguns dias na semana e aos domingos fazia um programa de auditório no clube. Na verdade, não era um emprego, não tinha salário, recebia um vale esporadicamente. Trabalhava quase de graça, pelo prazer de trabalhar em rádio. Como em rádio do interior você faz tudo, foi uma escola maravilhosa, espetacular para minha profissão. Havia a introdução: “ZYG7 Rádio Difusora Vale do Paraíba de Vale do Piraí. Falando para o Vale e cochichando para a montanha”. Esse finalzinho é uma brincadeira que eu fazia. O trabalho na rádio durou dos meus 15 aos 17 anos. Um ano e meio. Foi com este trabalho que me empolguei com a profissão de jornalista. A minha idéia era me dedicar à rádio. Trabalhei com rádio, trabalhei em televisão, depois na própria Petrobras trabalhei na TV Bandeirante, estagiei na TV Globo, paralelamente. Mas como, logo no início, com 28 anos, eu fui para a Petrobras, dediquei-me praticamente à vida jornalística e à assessoria de imprensa. NAMORO Todo fim de semana eu [voltava à Barra do Piraí]. Naquele tempo, tinham trens que saíam do Rio de Janeiro para Belo Horizonte e para São Paulo. Eu vinha para o Rio de trem e voltava de trem. Tinha um trem que se chamava Litorina, um automotriz, um carro só que saía da Barra do Rio de Janeiro para Barra do Piraí, depois para Juiz de Fora. Ele saía às oito horas do Rio de Janeiro. Toda sexta-feira, às oito horas, eu já estava lá para vir, na Estação Dom Pedro II. Deixava várias festas no Rio de Janeiro, movimentos da faculdade para namorar em Barra do Piraí. Na última vez em que eu encontrei os colegas de faculdade, 35 anos depois, um que eu não via há muitos anos me perguntou: “E você, como está, casado?” “Sim” “Não vai me dizer que é com a mesma mulher de Barra do Piraí?” “Sim, senhor” “Olha, isso é difícil”. Eu e a Olívia nos casamos em 1969, seis meses depois de já estar na Petrobras. DITADURA MILITAR Entrei na universidade em pleno movimento de 1964, em março. Pegamos todo o movimento estudantil. A nossa faculdade, a Filosofia, e a Faculdade Nacional de Direito eram as que tinham a efervescência política estudantil no Rio de Janeiro. Eram da minha faculdade o Gabeira, o Franklin Martins, o Marcos, que eu esqueci o sobrenome. O Elio Gaspari era da Nacional, do Largo de São Francisco, se eu não me engano. Vários líderes estudantis eram da Nacional de Filosofia e outro da Nacional de Direito, do CACO, o Centro Acadêmico Candido de Oliveira, que ficava na Praça da República. Eram as duas faculdades com maior efervescência política. E nós tivemos problemas sérios de invasão na faculdade. Eu não era do diretório, mas participei de todos os movimentos estudantis. Todas as passeatas, todas as reuniões que a UNE promovia na Cinelândia – as famosas reuniões da Cinelândia –, eu estava sempre presente. A cavalaria entrava em cena na Cinelândia, a polícia jogava bomba de gás lacrimogêneo e a gente saía para se esconder em algum lugar. Uma vez, eu entrei no Amarelinho, fiquei dentro do banheiro do Amarelinho escondido um bom tempo, esperando a coisa acalmar. A gente jogava bola de gude para o cavalo tropeçar e esse tipo de coisa. Eu tenho até hoje uma bomba de gás lacrimogêneo, que ainda peguei quente, guardei e escrevi: “1968: Brava Mocidade”. Ficava na minha casa, meu filho levou para casa dele para mostrar aos amigos. Meu filho, que já tem 35 anos, me disse: “Pai, deixa comigo aqui, eu não vou sumir com isso não”. É uma relíquia de 1968, quando foi instituído o AI-5 [Ato Institucional número 5]. O sentimento era de raiva. A gente achava que ia conseguir movimentar a opinião pública e levar a algum tipo de reação, o que não aconteceu. Mas nós tínhamos mais raiva do que outra coisa, raiva do que estávamos vendo acontecer no país. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Me formei em 1968. Continuei trabalhando naquela revista do estágio até passar na Petrobras, quando tive também de pedir demissão do serviço público federal, porque na Petrobras, como empresa do governo, você tinha que assinar um documento [declarando não ocupar] nenhum cargo público. Consegui pegar uma certidão negativa de todo o tempo de serviço e levei para o INSS. Esse período eu também contei para a aposentadoria, inclusive o período da rádio, como eu tinha muito documento, vários com carimbo da rádio e programas que eu escrevia com papel timbrado da rádio. Eu guardei tudo. Eu gostaria de dizer isso para as pessoas: não joguem fora nada disso, isso é importantíssimo. Então, como eu guardei tudo isso, serviu para comprovação na Previdência de que eu havia trabalhado nesse período, por isso consegui me aposentar com 49 anos de idade e 32 de serviço. IMAGEM PETROBRAS Eu já tinha o conhecimento do valor da empresa e do que ela representava para a nacionalidade, porque eu conhecia todo o movimento da criação da Petrobras. Como tinha trabalhado em uma revista dessa área, eu já conhecia isso dos noticiários e tinha me interessado mais por isso. Tinha conhecimento do conteúdo de brasilidade, de nacionalismo que a Petrobras levava junto com a sua marca e da importância que o petróleo representava para o país e para a humanidade, como maior combustível, maior fonte de energia utilizada em todo o mundo. Esse valor, eu levei comigo à Petrobras e é um valor que eu guardo até hoje. No período em que eu entrei na Petrobras, os salários eram contidos pela própria política governamental. Então, os salários não eram maiores em comparação com o das multinacionais, mas isso não impediu que eu continuasse lá. Logo depois, houve um aumento salarial na empresa. Mas a idéia de que era um emprego para toda vida já existia, isso certamente já era uma convicção. CASAMENTO Alguém dizia: “Nomeou, casou”. Seis meses depois [de entrar na Petrobras], eu aluguei um apartamento pequeno de quarto e sala. Minha mulher continuava morando em Barra do Piraí, embora estudando no Rio. Ela foi uma heroína. Ela era professora primária em Barra do Piraí, numa escola rural na região de Cinco Lagos, perto de Mendes, entre Vassouras e Paulo de Frontin. Acordava às quatro horas da manhã para pegar um ônibus e ir para essa escola. À noite, ela vinha estudar no Rio de Janeiro junto com um grupo de oito ou nove pessoas, que alugavam uma Kombi com motorista. Eles vinham para o Rio e voltavam para Barra do Piraí. Isso porque em Barra do Piraí não tinha faculdade, nenhuma cidade das redondezas tinha faculdade. Ela vinha estudar História na Gama Filho, em Piedade. Chegavam aqui, assistiam à aula até dez horas da noite e voltavam para Barra do Piraí. Ela foi uma heroína, era uma vida complicada. Ela se formou em História na Faculdade Gama Filho, em Piedade, e continuou em Barra do Piraí. Quando nos casamos, ela conseguiu ser transferida para o Rio de Janeiro, como professora do Estado, trabalhando como orientadora educacional, na supervisão educacional. Como ela estava em Barra do Piraí, eu montei o apartamento sem deixá-la ver. Um primo dela, decorador, me ajudou. Montei todo o apartamento e ela só entrou depois de casada e não se decepcionou – o que é importante. Foi um casamento com a família, na cidade. O casamento foi às oito horas da noite, oito e meia, não me lembro bem, mas foi o primeiro casamento nesta hora, porque os casamentos no interior são mais cedo. Não houve festa, foi só na igreja. Dos filhos, eu fui o segundo a casar, o mais velho se casou antes de mim, mas na mesma época. Tanto que os meus filhos, os filhos do meu irmão mais velho e os do abaixo de mim são praticamente da mesma idade. São os primos, mas bem amigos. FAMÍLIA / FILHOS Tenho dois filhos, meu irmão mais velho tem um filho e uma filha e o abaixo de mim tem também um filho e uma filha. Eu e a Olívia demoramos cinco anos para ter filhos. A diferença entre o primeiro e o segundo também foi de cinco anos. Meu filho mais velho chama-se Cristiano e o mais novo Juliano. Eu até brinquei: “Oh, vocês podiam tocar violão e formar a dupla caipira: Cristiano e Juliano. Pega bem”. O mais velho é jornalista, já trabalhou em vários jornais no Rio de Janeiro, trabalhou em empresas de comunicação e agora tem uma empresa de comunicação de idéias chamada Saravah. O mais novo é advogado trabalhista. Está formado há quatro anos, se não me engano, e já tem um escritório de advocacia muito bom; está indo muito bem na carreira. Esse já tem um filho, eu tenho agora o primeiro neto. FORMAÇÃO / FACULDADE DE FILOSOFIA O curso [de jornalismo] não foi muito bom. Era um período muito conturbado da vida universitária. Tivemos alguns bons professores como Celso Keli e Luis Carlos Lisboa. Tinha o Domício Proença, um professor de português muito bom. O Celso Cunha era professor de gramática. Tínhamos bons professores na área de formação geral, mas na área específica de jornalismo tivemos um único professor que eu reputo muito bom, o Fernando Mendes Leite, que era um jornalista conhecido, mais cronista do que jornalista, do dia-a-dia, com uma experiência muito grande no Correio da Manhã. Dos professores da área específica de jornalismo, foi ele quem realmente me orientou e de em quem tive algum beneficio para utilizar na profissão. Agora quanto à formação cultural, a formação geral da faculdade foi muito boa, tivemos excelentes professores, porque a faculdade era mais voltada para História, Letras e Flosofia do que para Jornalismo. O curso de Jornalismo era um apêndice na faculdade. O jornalista que não tivesse diploma ainda podia se provisionar no Ministério do Trabalho, comprovando dois anos, se não me engano, de trabalho em um veículo de comunicação, fosse jornal, rádio ou qualquer coisa similar. Nesse período havia a exigência de diploma ou de provisionamento. INGRESSO NA PETROBRAS O concurso para a Petrobras foi voltado para jornalismo, relações públicas e publicidade. Eu fui chamado e me perguntaram se aceitaria ir para Bahia, onde seria criada uma área de comunicação grande, com assessoria de imprensa. Eu aceitei e o chefe da área de Relações Públicas, não se chamava comunicação ainda, me disse: “Você vai estagiar um mês aqui e depois vai para Bahia” “Tudo bem”. Fiquei estagiando no setor de Imprensa. [Ao final do estágio], tive que fazer um relatório para o chefe do setor de Imprensa que juntou os meus trabalhos e levou para o chefe geral de Relações Públicas, um general, e lhe disse: “General Barros Nunes, o Celso Mansur ficou aqui um mês e vai para Bahia, mas eu acho que a gente devia segurá-lo aqui, porque ele demonstrou que vai ser muito útil para nós; ele escreve muito bem, estão aqui os trabalhos dele. Eu acho que podíamos chamar outro para a Bahia e ele ficaria conosco, porque nós estamos com deficiência de redator”. E o general disse: “Tudo bem, vamos autorizar, ele fica”. O candidato que estava na minha frente na classificação foi chamado para Bahia e não aceitou. Passado algum tempo, ele descobriu que eu estava classificado depois dele e tinha ficado no Rio. Ele fez uma carta à Petrobras reclamando, dizendo que entraria na Justiça, por ter sido preterido. O General que era o chefe-geral de Relações Públicas me chamou: “Olha o que você me arrumou. Você agora vai ter que se virar para responder essa carta. Responde e eu assino. Não vai ter problema nenhum, porque ele não vai entrar na Justiça e se entrar não tem problema”. Escrevi a carta respondendo ao cara porque eu tinha ficado, o General assinou, mandaram-na para o cara e ficou por isso mesmo. Era em plena Ditadura, acho que as pessoas não podiam reclamar de qualquer coisa assim. A Petrobras estava espalhada pelo Rio de Janeiro. A presidência e a diretoria ficavam ao lado da Candelária, na Praça Pio X. A nossa área de Relações Públicas funcionava na Rua Buenos Aires, 40, em um prédio que existe até hoje. Ali funcionava a Comunicação, Relações Públicas, a Engenharia, a Petroquisa – Petrobras Química – e outros órgãos que eu não estou lembrado agora. Na Urca, funcionava o Centro de Pesquisa que depois foi para a Ilha do Fundão. Na Avenida Presidente Vargas, na Uruguaiana, tinha vários prédios com órgãos da Petrobras. Enfim, ela era espalhada pelo Rio de Janeiro inteiro, até se construir o prédio na Avenida Chile. ARPUB / SERPUB Toda a área de Relações Públicas funcionava em um andar [do prédio da Rua] Buenos Aires. O auditório da Petrobras também era lá. Era o Serviço de Relações Públicas – Serpub, que substituiu a Assessoria de Relações Públicas – Arpub, que veio desde o início da empresa. A Arpub era um órgão muito pequeno, não sei exatamente, tem outras pessoas anteriores a mim que poderão dar esta informação. Mas me parece que tinham dois ou três setores, uma área de imprensa, uma área de divulgação e uma área de promoções. O Serpub passou a ter uma divisão de divulgação com dois setores: um setor de imprensa e um setor de publicações; passou a ter uma divisão de comunicação interna e uma divisão de relações exteriores, chamada Direx; passou a ter uma área de documentação. Quer dizer, aumentou o status dentro da empresa, passou de uma Assessoria para um Serviço. A Empresa tinha departamentos de suas áreas fins: produção, perfuração, exploração, transporte e comercialização. As áreas fins eram departamentos e as áreas de apoio eram serviços. Tinha o serviço financeiro, serviço de organização, serviço de planejamento e a área de relações públicas era uma assessoria. Com a criação do Serpub, Serviço de Relações Públicas, a área passou a ter o status de serviço que era o segundo escalão da Companhia. Então, com a criação do Serpub, a área de comunicação passou a ter uma importância maior dentro da estrutura da Companhia. Eu acho que um fator importante [para esta mudança] foi a presença do General Barros Nunes que tinha um relacionamento muito grande com os militares que estavam no poder e com os militares que estavam na direção da Petrobras. Acho que ele vendeu essa idéia que a área de Relações Públicas deveria ter importância dentro da empresa. O General Barros Nunes era muito ligado a essa área, era membro do Conselho Regional de Relações Públicas. A sua presença na área de Comunicação foi muito importante para elevar o status da nossa área dentro da Companhia. Sem dúvidas, a empresa começava a crescer. Isso foi em 1968. A empresa estava começando a explorar no mar de Sergipe e no Espírito Santo. Em 1969, aconteceu a primeira descoberta de petróleo no mar, em Sergipe, no campo de Guaricema, quer dizer, a empresa começava a se expandir. Havia construído várias outras refinarias, estava se expandindo como uma empresa de refino e tinha uma grande frota de petroleiros que crescia com o incentivo à indústria naval brasileira. Foram as duas, tanto o crescimento da empresa, como a presença de alguém que era da área de Relações Públicas que sentiu essa necessidade de melhorar o status da atividade dentro da Companhia. SETOR DE IMPRENSA A imprensa era um setor subordinado a uma divisão, subordinada ao chefe do Serviço de Relações Públicas. Então, eu estava no terceiro nível, tinha duas esferas de decisão até chegar à direção da empresa. Isso certamente prejudicava e inibia a nossa atividade de imprensa que deve ter de rapidez e ter acesso às áreas de decisão. Nesse momento, havia um problema muito sério de acessar a diretoria da empresa, porque você tinha que falar com o chefe da Divisão de Divulgação, que falava com o chefe do Serviço de Relações Públicas, para este reportar ao presidente e aos diretores. O meu chefe era o Palmyr Virgílio da Silva, acima dele era o próprio Barros Nunes. [Quando eu entrei na Petrobras], entraram cerca de 20 ou 22 pessoas, não mais do que isso. Era um departamento bem menor, deviam ter umas 60 pessoas, no máximo 80. O meu foi o segundo processo seletivo para essa área, o primeiro não sei se foi em 1966 ou 1967, não tenho certeza. DITADURA MILITAR O General Antonio Luis de Barros Nunes era de uma família de militares, um dos irmãos foi o Ministro da Marinha Adalberto de Barros Nunes – tem até o nome dele na Avenida Brasil em um órgão da marinha. O outro irmão, Heleno Nunes, foi presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportes), órgão de esporte mais importante do país. O General Barros Nunes era ligado à comunidade de informações e ao pessoal da área de relações públicas do Exército. Ele tinha o apelido de General Cacau, era vascaíno, tinha um relacionamento muito grande com a área esportiva também. Ele assumiu a área de relações públicas da Petrobras depois de ter sido: primeiro, chefe de polícia do Carlos Lacerda na Guanabara; segundo, um dos militares do Inquérito Policial Militar – IPM – instaurado na Petrobras pela Revolução Militar; e terceiro, quando terminou o IPM, ele ficou como assessor da presidência. Quando o General Ernesto Geisel foi ser o presidente da Petrobras, o General Barros Nunes foi designado chefe do Serviço de Relações Públicas. A Petrobras estava levando bordoada de todo o lado, dos jornais. Estava começando certa abertura política e os jornais, principalmente os mais críticos à estatização, o Jornal do Brasil e o Estado de São Paulo, questionavam muito a Petrobras pela questão do preço da gasolina, por caixa-preta. Ninguém sabia para onde ia esse dinheiro. A Petrobras não divulgava e o governo usa esse dinheiro para outras coisas. Essa foi uma das razões porque eu resolvi procurar o gerente da Área de Abastecimento, de Comercialização, da Petrobras e propus a ele mostrar que a Petrobras não era a vilã da história do preço da gasolina. A Petrobras ficava com uma pequena parte do preço total da gasolina, sendo o restante impostos, como também a comissão do revendedor e do dono do posto. O gerente desta área era o Armando Guedes Coelho que foi diretor e depois presidente da Petrobras; hoje está aposentado e é um executivo da área de petroquímica. Eu convenci o Armando de fazermos uma entrevista em off para os principais jornalistas. Eu disse a ele para ter confiança. Esta entrevista era para mostrar a estrutura de preços da gasolina, para acabar com aquela história dos jornais dizerem que a Petrobras ficava com o preço total da gasolina. Nós fizemos essa entrevista com uma meia dúzia de jornalistas que eu tinha confiança e, no dia seguinte, saiu esta informação que foi uma bomba, porque até então o governo não queria que se divulgasse que a maior parte do valor de um litro de gasolina era de impostos, para subsidiar o diesel. Quando saiu [na imprensa], o General Barros Nunes me chamou e disse: “Você não me falou Quem deu essa informação?” Eu contei a história para ele. Eu disse: “Olha, General, se eu falasse, o senhor não deixaria eu fazer o que fiz. Eu fiz o seguinte: falei com o Armando e nós resolvemos divulgar, mostrar para a opinião pública o que a Petrobras leva da gasolina, que não é ela que fica com esse valor, para ver se os veículos de comunicação param de falar de caixa-preta e que ninguém sabe para onde vai o dinheiro, o que é uma coisa complicada”. Aí ele disse: “Mas você está doente”. “Eu, General? Eu tô bem”. “Não, você está doente. Você vai para casa, volta só daqui uma semana”. Realmente, eu passei por cima do General, passei por cima de duas estâncias hierárquicas da empresa. Isso já tinha acontecido outras vezes que, talvez, o General tenha percebido, mas não tinha sido tão clara como essa que saiu em todos os jornais. Aí ele me mandou para casa, para eu descansar, mas aquilo foi uma maneira de ele me dizer que eu estava errado. Como eram férias dos meus filhos, fui para minha cidade, Barra do Piraí, passei uma semana com eles lá, voltei e estava tudo bem, não aconteceu nada. Foi um negócio interessante, aquela coisa de militar sentir que foi passado para trás; hierarquia militar é um troço complicado. Eu já era chefe do setor de imprensa, acho que foi em 1972, por aí. COTIDIANO DE TRABALHO No início do nosso trabalho, logo que entrei em 1969, como ninguém falava com a imprensa, nem diretor, nem presidente da Petrobras dava entrevista, a empresa só falava com a imprensa através de press-release. Então, o quê a gente fazia? Como os press-release não eram muitos, tínhamos muito tempo para escrever e escrevíamos matérias especiais. Como a censura era muito grande, os jornais tinham espaço, a parte de economia tinha muito espaço, fazíamos matérias especiais específicas para os jornais, matérias boas, e os jornais as publicavam. Essa era uma ocupação principal que a gente tinha. Como a empresa também não tinha uma área específica de publicidade, a área de imprensa fazia toda parte de criação de anúncios, que eram poucos. A Petrobras não tinha campanhas, mesmo porque quem vendia nesse tempo eram as distribuidoras e a Petrobras não tinha distribuição ainda. Quem tinha que fazer publicidade para vender eram as distribuidoras, a Esso, a Shell, a Ipiranga, a Texaco. Então, a Petrobras não tinha campanha comercial, o que a gente fazia na área de publicidade eram anúncios de oportunidades, como aniversário da Petrobras, dia da Independência, coisas desse gênero. Nós, que éramos redatores, fazíamos um texto e o setor de projetos, que era mais voltado para feiras e exposições, como tinha desenhista e arquiteto, fazia a arte. A área de imprensa também veiculava, a mídia também era feita por nós. Quer dizer, como a assessoria de imprensa não tinha como levar a Empresa a falar com os jornalistas, acompanhando o governo. Era fechamento geral. Então, a gente fazia isso: redação de press-release, redação de matérias especiais e parte de publicidade. DITADURA MILITAR Não sentia controle de informação sobre a empresa. Nunca recebi nenhuma orientação do General, o nosso chefe de Relações Públicas: “Isso não pode ser falado e aquilo não pode ser falado”. Não havia problema na divulgação das atividades da Companhia, o único problema era a questão do preço, nisto havia uma orientação de não abrir o preço de derivados. Eu tomei a iniciativa de abri-lo e tive aquele probleminha, que, na verdade; não foi um problema, foi até um prêmio, porque meus filhos estavam de férias. REVISTA PETROBRAS A Revista Petrobras era dirigida aos empregados, para todos os empregos. Tinha uma equipe de redação da revista e nós também participávamos, principalmente com a parte de noticiário da empresa, como também sugeríamos pauta. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL O chefe do setor de imprensa foi ser chefe da divisão e eu passei a ser o chefe do setor de imprensa, no início de 1972 ou 1973. Foi nesse período, já como chefe do setor de imprensa, que eu tive aquele problema com o General. O trabalho nessa época era redigir press release, procurar nas áreas da empresa o que podíamos divulgar para fazer notas à imprensa e fazer matérias especiais para os veículos de comunicação. VISITAS ÀS UNIDADES DE NEGÓCIO Chegamos a promover algumas visitas às áreas da Companhia. Levamos jornalistas para visitar refinaria, levamos jornalistas quando houve a primeira descoberta de petróleo no mar, em Sergipe, levamos até à plataforma. Levamos jornalistas quando houve a descoberta de gás no Amazonas, para o Rio Juruá. Foi em 1970, logo depois da descoberta de petróleo no mar de Guaricema, que começamos a fazer esse programa de visitas dos jornalistas a essas áreas operacionais. Em 1974, levamos os jornalistas à primeira descoberta de petróleo na Bacia de Campos, no Campo da Garoupa, na plataforma Petrobras-II. Pela primeira vez os jornalistas entraram em um navio plataforma, ficamos lá um período. Foi emocionante não só para nós, mas para todos os jornalistas [cobrir a descoberta do Campo de Garoupa]. O chefe da perfuração que estava lá, o engenheiro Andreatta, transferiu a emoção dele para todos os jornalistas, as matérias foram excelentes. Pela primeira vez, descobriu-se petróleo em águas de 100 metros, hoje é considerado águas rasas para a indústria do petróleo, mas era uma descoberta grande; a de Guaricema era uma descoberta pequena e em águas mais rasas. Então, o engenheiro conseguiu realmente transmitir para os jornalistas essa emoção. Para nós foi muito emocionante aquela visita. Em Sergipe, como era perto do litoral, você via a costa, mas no Campo de Garoupa a 80 e tantos quilômetros do litoral, pela primeira vez você não via terra, foi realmente um negócio interessante. Voltar lá depois e ver como um paliteiro de plataformas, você fica lembrando daquele início, daquele navio sonda ali, a empresa ainda não sabia como faria aquela produção, ainda tinha que desenvolver tecnologia para produzir em águas de 100 metros de profundidade, acho que isso estava começando no mar do Norte. Realmente foi muito gratificante, muito emocionante essa visita, em 1974. A visita no Rio Juruá foi muito interessante. Uma descoberta de gás que até hoje não produz, porque só seria comercial se tivesse consumo ali perto, mas como ela está no Alto Amazonas, é um reservatório guardado para quando houver necessidade, quando houver consumo na região ou se for comercial trazer pelos gasodutos para o consumo em Manaus. [Esta descoberta] foi praticamente exclusiva de gás, e o gás você tem que produzir e consumir não tem como armazenar, tem que ter um duto para levar ao consumo naquela hora. Logo depois, se descobriu Urucum que é mais perto de Manaus e tem produção de petróleo, se produz o petróleo junto com o gás e já injeta o gás para guardar no gasoduto que, até o final deste ano, será construído. Então, foi muito interessante quando estivemos lá no meio da floresta no Alto Amazonas, área que praticamente ninguém tinha pisado antes. Eu levei os jornalistas para lá, atravessamos uma estrada na floresta, aberta de uma sonda para outra. Encontramos até um índio que estava trabalhando para a empreiteira que abria a estrada, ele estava sentado num tronco de árvore; foi fotografado pelos repórteres que lhe perguntaram: “Você trabalha?”. “Trabalho. Trabalho”, [respondeu] num português muito difícil. “Para quê você trabalha?”. “Beber cachaça”. Lembro-me perfeitamente disso, tenho a foto junto com esse índio, lá em casa. Foi muito emocionante também a primeira vez que se descobriu alguma coisa comercial na Amazônia. A Petrobras, desde o início, havia tentado, mas sempre descobria em volume não comercial. Pela primeira vez, se descobriu gás em volume comercial. Foi muito importante levar a imprensa lá. A Amazônia sempre foi um sonho, não só para quem trabalhava com o petróleo, mas para a população brasileira. Para os estudiosos dessa área, [a Amazônia] é a maior bacia sedimentária brasileira, então sempre se achou que era uma floresta em cima de um mar de petróleo. E até hoje a gente não tem petróleo, tem descobertas, mas, na verdade, a coisa foi mesmo para o mar. ASSESSORIA DE IMPRENSA: CRIAÇÃO Aí eu fiz um trabalho junto com a área de organização da Petrobras para transformar o setor de imprensa em assessoria, para aumentar o status, porque a área de imprensa precisava ter status para ter acesso à diretoria, acesso aos superintendentes das áreas importantes da Companhia para apurar a informação. Como chefe de setor, você tinha a intermediação do chefe da divisão e do chefe do serviço. Fiz esse trabalho junto com um gerente, o Lucas Jofre, chefe da divisão de organização, que depois foi presidente da Petros. Foi aprovada pela diretoria a criação da Assessoria de Imprensa da Petrobras, ainda ligada à área de comunicação, mas com status de assessoria que era o mesmo status de divisão, com maior acesso às áreas de gerências da Companhia de primeira linha. Isso foi entre 1980 e 1981, não lembro bem. Com a criação da assessoria, nós passamos a ter um acesso maior e começamos a aumentar a divulgação da Petrobras na imprensa, passamos a melhorar o relacionamento dos gerentes das áreas fins da Petrobras com os gerentes dos veículos, a empresa passou a ter um noticiário bem mais favorável nos veículos de comunicação. MUDANÇAS: SERPUB / SERCOM A transformação de Serviço de Relações Públicas – SERPUB – para Serviço de Comunicação – SERCOM – foi entre 1979 e 1980, não lembro a data exata. Mas a criação da Assessoria de Imprensa se deu quando já era Serviço de Comunicação Social, hoje Comunicação Institucional. Com o Serviço de Comunicação Social foi criada a área de publicidade, uma área de pesquisa, uma área de relações com empregados. Enfim, foi intensificada toda a nossa comunicação com os públicos de interesse. Foi ampliando a nossa ação, nossa atividade com públicos que até então a gente não atingia ou atingia mal, como empresários e acionistas. Passamos a editar publicação para acionistas. A Revista Petrobras passou também a ir ao público externo. Foi criada uma revista específica para público interno chamada Gente. Foi criada uma revista para público interno e outra para público externo. A Revista da Petrobras passou para público externo e a Revista Gente para público interno. A área de relações com o exterior passou a ter uma atividade maior, passou a editar também, em inglês, publicações para o exterior. PUBLICIDADE Quando foi criada a Distribuidora, a Petrobras passou a ter pela primeira vez uma agência de publicidade, sob contrato, para fazer publicidade comercial, a Agência Alcântara Machado. Mas a Petrobras Distribuidora criou também sua área de publicidade e comunicação, separada da comunicação da holding. Havia um intercâmbio, mas a Distribuidora era voltada mais para a publicidade comercial. A gente participava, a área de comunicação da Petrobras participava da aprovação de campanha, com sugestões. Tínhamos um relacionamento bem grande com a área de comunicação da Distribuidora, tínhamos certa influência também nisso. IMAGEM DA PETROBRAS Ainda era incipiente a preocupação com a imagem da companhia, com a marca. Tanto que durante muito tempo a marca era aquele triângulo. A preocupação começou quando a Distribuidora quis mudar a sua imagem, criando uma mais agressiva e, para isso, contratou o escritório do Aloísio Magalhães que criou o BR e os designs dos postos. Foi essa criação que levou a holding também a se preocupar com sua imagem e a mudar sua logomarca. Na nova logomarca, tirou-se a Petrobras da clausura do losango e a colocou abaixo do losango. Foi aí que houve maior preocupação com imagem e com marcas, em função do crescimento da empresa que, no final dos anos 1970, começou a produzir petróleo no mar. A empresa se expandia para o exterior, com descoberta de petróleo no Iraque, descoberta em Angola e na Colômbia. A exploração no Irã era um reflexo do desenvolvimento da Companhia, não só internamente, mas no exterior. A empresa já era uma grande refinadora de petróleo com auto-suficiência na produção de derivados, exportando, inclusive, para os Estados Unidos. COMUNICAÇÃO INTERNACIONAL A nossa área de relações com o exterior dava apoio à Braspetro, principalmente em visitas de delegações do exterior, das empresas congêneres de petróleo no Brasil. Também acompanhava o nosso pessoal que ia visitar as nossas atividades no exterior. Havia esse intercâmbio. Surgiu também, como derivada da Braspetro, a Petrobras Comércio Internacional – Interbrás – que, por ser comercial, contratou também agência de publicidade para atuar no exterior. A Interbrás trabalhava muito com a nossa área de comunicação. Ela foi criada para utilizar o poder de compra de petróleo da Petrobras. Naquela época, a nossa produção não atendia a necessidade de consumo e, como a Petrobras era uma grande importadora de petróleo, havia um poder de barganha muito grande para colocação de produtos brasileiros no exterior, por isso foi criada a Interbras. Houve um trabalho muito grande de comunicação com os grandes países fornecedores, no Iraque, no Irã e Arábia Saudita, principalmente com as empresas importadoras de produtos acabados e commodities. O trabalho [foi realizado por] agência de publicidade contratada. PUBLICIDADE No tempo em que a assessoria de imprensa fazia também a publicidade, nós queríamos criar um anuncio para os 16 anos da Petrobras. Havia a música “Aquele Abraço”, que o Gilberto Gil tinha lançado. Vamos botar um empregado da Petrobras abraçando uma pessoa comum. Quem vai ser a pessoa comum?. [E disseram:] “Mansur, vai você mesmo” Tudo feito lá mesmo, com fotógrafo, dentro do nosso auditório, na Rua Buenos Aires. Um colega meu de costas com o losango da Petrobras [na camiseta] e eu com a roupa comum abraçando: Aquele Abraço Foi um anúncio criado e produzido por nós, sendo os modelos também da área de relações públicas. Isso aconteceu quando a Petrobras fez 16 anos, em 1970. COTIDIANO DE TRABALHO Todo tempo, todo mundo fazia tudo. Como não tinha agência, a parte de publicidade era produzida por nós. A montagem de estandes também era feita por nós. Contratava-se uma empresa montadora, mas o projeto de estandes era nosso, tanto que nós tínhamos dois arquitetos em uma área chamada Projetos. Hoje, a comunicação não tem essa área, se contrata, tanto para o projeto, quanto para a execução, empresas especializadas em montagem de estandes em feiras e exposições. Normalmente, a gente fazia tudo, entregávamos o projetinho prontinho para a empresa montar nas feiras e exposições. Tínhamos dois fotógrafos de plantão que andavam com a gente o tempo inteiro, embora a empresa não pudesse ter no seu quadro de empregados um fotógrafo, como função oficial. O Trovão, um desses fotógrafos, ocupava um cargo comum na empresa, acho que de ajudante administrativo, mas como era fotógrafo fora da empresa, passou a ser o fotógrafo dentro. Foi só no final dos anos 1980, meados dos anos 1980, que começamos a terceirizar. ASSESSORIA DE IMPRENSA A grande dificuldade que tivemos foi no período da Ditadura, dificuldade de acesso às fontes, de conseguir juntar o repórter com a fonte da Petrobras, porque ninguém queria falar. Então, nós éramos porta-vozes. Como assessor de imprensa, eu cansei de dar entrevista para o Jornal Nacional, porque a orientação era que ninguém falava. Como o presidente e os diretores não falavam com a imprensa, os superintendentes também não, diziam para que a gente fosse o porta-voz. Depois da abertura, essa figura do assessor de imprensa como porta-voz da empresa deixou de existir. Quer dizer, na Ditadura, era difícil conseguir divulgar bem a empresa, melhorar a imagem através de divulgação das suas atividades operacionais que eram excelentes. Era fechado e as pessoas não queriam falar com você, porque falar com você era falar com a imprensa; a direção poderia saber e não querer que se falasse, o governo poderia não querer. Então era uma dificuldade muito grande sob esse aspecto. Foi assim até o Geisel assumir a presidência da República, pois ele saiu da Petrobras para ser presidente da República. Foi assim até a abertura, com o fim da censura. E com o fim da censura, a Petrobras passou a levar mais bordoada dos jornais mais críticos à estatização. Porque antes, o censor estava lá para não deixar que entrasse matérias negativas à Petrobras: “Olha, agora não tem mais jeito, não tem censura, nós vamos ter que mostrar o que a gente tem de positivo, se não só teremos matéria negativa; vamos mostrar o que temos de positivo”. Passamos a fazer reuniões com os superintendentes; os diretores e o presidente passaram a fazer almoços com os diretores de jornal. Começou uma aproximação maior, no início abertura [política], no final do governo Ernesto Geisel. MUDANÇAS: SERCOM Barros Nunes saiu quando o presidente da Petrobras era o Shigeaki Ueki. Entrou no seu lugar o Carlos Alberto Rabaça, que tinha sido da AERPE, Assessoria de Relações Públicas da Presidência da República. Ele tinha sido gerente de comunicação da Shell, quer dizer, tinha uma experiência nessa área de petróleo. Foi convidado pela direção da empresa para assumir essa área. Rabaça era professor de comunicação. Foi ele quem me convidou para ser superintendente-adjunto da área de comunicação. Pouco tempo depois, ele saiu e eu continuei como superintendente-adjunto durante nove anos, entraram outros superintendentes de comunicação e eu fiquei sempre como adjunto. Hoje já não existe mais essa posição na empresa, o que era superintendente virou gerente e não existe um gerente-adjunto. Quando o gerente sai de férias ou viaja, ele faz a designação de algum substituto entre os gerentes do nível imediatamente abaixo do dele. Então, quando era Serviço de Comunicação Social, havia esse cargo de superintendente e eu fui por nove anos, talvez o que demorou mais tempo nessa atividade. Estive como superintendente-geral durante alguns meses, aguardando um superintendente que fosse indicado. Mas essa mudança para o Rabaça foi muito traumática. Não por causa da mudança dos personagens, mas porque o Carlos Alberto Rabaça recebeu uma orientação de enxugar a área para melhorar a qualidade da equipe. E mexer com recursos humanos, com pessoas, é muito complicado. A rádio tamanco começou a divulgar isso. Ninguém disse, mas começou a vazar [essa informação] pela rádio tamanco. A gente chama rádio tamanco as coisas contadas de boca a boca. Foi uma clima muito terrível nesse período, as pessoas achando que podiam ser demitidas e tal. Mas não aconteceu demissão, o que estava para acontecer era procurar, dentro do quadro de empregados da área de comunicação, aqueles que não tinham perfil para essa atividade e aloca-los em outras áreas da Empresa e trazer gente de outras áreas que tinham especialização na área de comunicação. Tudo feito através de processo seletivo interno que naquela época era possível, depois proibido pela constituição. Então foi traumático no início, depois esse problema foi superado. Agora, a mudança de um militar para um civil foi muito benéfica para a área de comunicação. Um profissional que era do ramo e que tinha relacionamento com a imprensa, que tinha sido um homem de comunicação de uma grande empresa multinacional como a Shell, para a nossa área de imprensa foi ótimo. O professor Rabaça passou a melhorar o contato com jornalistas que cobriam a área e promoveu reuniões de diretores de veículos com a direção da empresa. Foi um período excelente de mudança de comportamento, de mudança de atitude da Companhia com a imprensa, da companhia com os seus públicos. Realmente, essa mudança foi bem marcante. Não me lembrou se houve alguma mudança de publicações, se foi criada alguma outra publicação, não me recordo. Mas, de conteúdo, eu não tenho a menor dúvida, houve uma preocupação muito maior com relações internas, com o relacionamento com empregado. Houve uma preocupação muito maior em relacionamento com a imprensa. Nessa época, ainda não tínhamos publicidade, continuávamos sem agência de publicidade e sem campanhas institucionais ou comerciais dentro da holding. O SERCOM foi com o Rabaça, ele que promoveu essa modificação. Foram feitas reuniões, foras de lá, em hotel, para todo mundo se posicionar sobre e contar a experiência de cada setor para a reformulação da área. Tudo com o apoio da Área de Planejamento da Petrobras. Através de reuniões internas, foram ouvidos todos os chefes de setores e de divisões para reformulação e criação da área de Comunicação Social que substituiu Relações Públicas. MUDANÇA NA ESTRUTURA DO SETOR Shigeaki Ueki foi quem tirou o Rabaça para colocar uma outra pessoa, as razões eu não sei. A outra pessoa chamada foi Atán Barbosa que era da Interbras, ligado à área de comércio exterior. Ele veio ser o superintendente de Comunicação Social e me manteve como adjunto. Como eu conhecia bem a empresa, fiquei mais na parte operacional e ele ficou na parte política, acompanhava o presidente em viagens. Nesta época, o relacionamento com a Interbras passou a ser muito intenso, porque ele era originário de lá. Foi na administração dele que houve o primeiro contrato com empresas de publicidade, quer dizer, as primeiras produções de anúncios por empresas de publicidade. Não chegou a ser [efetuado um] contrato, ele chamava as empresas de publicidade e entregava determinada campanha para elas produzirem. Isso depois teve um problema muito sério na área de auditoria da Companhia, porque essas empresas de publicidade foram chamadas para fazer determinados trabalhos sem licitação, isso provocou posteriormente até um inquérito administrativo. Eu o preveni desses contratos sem licitação, mas ele simplesmente botava uma autorização na proposta de uma empresa e considerava aquilo um contrato. Juridicamente, você tem autoridade para autorizar e assinar, você está contratando, mas não está dentro das normas da Companhia. Quando o presidente Shigeaki Ueki saiu da empresa, entrou o Hélio Beltrão, conseqüentemente, o Atán foi retirado da gerência, substituído por Guilherme Duque Estrada. Foi instaurada uma auditoria para apurar se havia irregularidades nas várias áreas da empresa e na nossa área aconteceu. Não assinei nada que fosse irregular, embora pudesse assinar, porque era o substituto, mas eu disse a Atán que o que não estava dentro das normas da Companhia, eu não assinaria e aquilo estava guardado. Fui chamado ao gabinete do presidente, do Beltrão, junto com o Guilherme Duque Estrada e ele me disse: “Gostaríamos que você levantasse o que não está dentro das normas da empresa lá na área de comunicação”. Eu disse: “Olha, presidente, eu tenho tudo, só tenho que organizar. Para me resguardar, como empregado de carreira, eu guardei as coisas que estavam [irregulares], tirei cópia e guardei comigo.”. Fui incumbido de organizar isso tudo, houve um inquérito interno e o senhor Atán Barbosa foi demitido, a bem da empresa, e o outro chefe da assessoria de imprensa que assinava quando ele estava viajando, porque eu como substituto me recusava a assinar o que estava irregular, foi também demitido da empresa. O Guilherme Duque Estrada deu uma outra orientação, principalmente na área de imprensa, porque ele era jornalista. Pela primeira vez nós tivemos um jornalista, porque o Rabaça era um homem de relações públicas. Pela primeira vez a área de comunicação da Petrobras teve como chefe um jornalista. Guilherme Duque Estrada havia sido chefe de redação da Rádio Jornal do Brasil e tinha trabalhado em outros veículos. Tivemos uma orientação melhor, uma aproximação muito boa, aumentou ainda mais a preocupação com a imagem da Companhia nos veículos de comunicação. Eu continuei como superintendente-adjunto. Depois do Hélio Beltrão, entrou o Coronel Ozires Silva, o Guilherme ainda continuou como superintendente de comunicação por um período. Depois que o Ozires saiu, entrou como presidente o Armando Guedes Coelho, depois o Orlando Galvão. Com a saída do Guilherme Duque Estrada, entrou Carlos Leonan. Foi este que colocou uma outra pessoa como superintendente-adjunto e eu fui chefiar a divisão de Recursos Informativos que editava a Revista Petrobras e parte de vídeos e fotografias para divulgação da empresa e produção de documentário. Havia muita produção de documentários. Fiquei uns dois anos e me aposentei em 1990. Com a saída do Carlos Leonan, entrou o Rogério Coelho Neto, que era comentarista de política do Jornal do Brasil e que tinha sido coordenador da campanha do Collor. Com o Collor no governo, ele foi ser chefe de comunicação na Petrobras, ficou um período até a queda do Collor, quando entrou outro presidente na Petrobras e, eu acho, voltou o Guilherme para a Comunicação. APOSENTADORIA Aposentei-me aos 49 anos, em 1990. O que estava acontecimento no momento, na área de comunicação, não me agradava, não era um ambiente em que eu gostaria de continuar trabalhando. Pedi a minha aposentadoria com 32 anos e meio de trabalho. A empresa estava num processo, que eu não considero adequado, de incentivo à aposentadoria. A empresa não tinha quadros excessivos de empregados para fazer isso, tanto não tinha que, hoje, há uma carência muito grande de profissionais, principalmente na área de engenharia. Em resumo, a empresa estava oferecendo incentivo para você sair, não para ficar. E com o ambiente que estava na área de comunicação, eu resolvei me aposentar e trabalhar em outras áreas. Se continuasse um ambiente de trabalho, como gostaria, talvez não tivesse me aposentado naquele momento, poderia até esperar completar 35 anos de trabalho. Registrei uma empresa chamada Comunicação Verbal, empresa do “eu sozinho”, em casa com o computador. Já era época do micro. Na Petrobras, até 1990, estava começando a ter micro para toda a empresa, ainda não havia cada um com seu. Eu criei essa empresa e continuei fazendo free lancer, inclusive para a Petrobras. Até que em 1997, com a eleição do [Luiz Paulo] Conde para prefeito do Rio de Janeiro, um amigo meu, Haroldo de Andrade Júnior, filho do radialista Haroldo de Andrade, foi convidado para ser presidente da Imprensa Oficial do Município. O Conde gostava muito dele, e o chamou para ser presidente da Empresa de Artes Gráficas do Município do Rio de Janeiro, que edita o Diário Oficial, as publicações, faz cartazes. É uma gráfica, na verdade. Ele foi ser o presidente e me chamou; disse-me que não entendia nada daquilo e me perguntou se eu queria ajudá-lo, sendo diretor do industrial. Eu disse: “Eu não queria mais voltar a ter horário para trabalhar”. Isso foi na véspera de Natal. Como ele era casado com uma pessoa de Barra do Piraí, ele estava lá na casa de sua sogra. Ele me chamou na véspera de Natal para oferecer esse trabalho, então eu pensei e disse: “Ah, eu gosto de desafios também, está bom, então vamos ver”. Ele me disse: “No dia 26 de dezembro, o secretário de Governo, a quem estaremos subordinados, vai fazer uma reunião e eu queria que você fosse.” O secretário do Governo era o Rodrigo Maia, filho de César Maia. Eu fui e passei a ser diretor-administrativo dessa empresa. Fiquei quatro anos no Governo Conde e continuei com a minha empresinha fazendo alguma coisa como free lancer. Foi uma experiência interessante, passei a conhecer bem gráfica. Reformulamos e melhoramos a gráfica. No início de 2001, quando o Cesar Maia entrou na prefeitura, ainda fiquei dois meses esperando o meu substituto, depois recebi o fundo de garantia e fui passear antes de gastar com doença; é melhor gastar com passeio. Fui viajar com a minha mulher. Estava em Portugal, quando o então gerente de imprensa da Petrobras, Carlos Pinto, me telefonou: “Nós estamos precisando de gente com a sua experiência, com o seu conhecimento. A empresa ficou muito tempo sem processo seletivo, precisamos em todas as áreas, inclusive na nossa de comunicação e eu queria que você viesse aqui conversar e voltar a trabalhar com a gente. O que você acha?” Eu falei: “Pô, estou viajando, só volto daqui a um mês”. “No dia seguinte à sua chegada, venha aqui”. Eu fui lá, isso em 2001, e fiquei na área de imprensa como consultor, onde estou até hoje. RETORNO À PETROBRAS Voltar foi encontrar uma empresa completamente diferente daquela que eu deixei em 1990. Em 11 anos a empresa mudou muito, cresceu, se internacionalizou, se profissionalizou muito mais do que era antes. Encontrei uma área de comunicação, que quando saí tinha 80 pessoas, cerca quatro vezes maior, com uma estrutura muito grande, ágil apesar de grande, com atribuições muito bem definidas para a atuação com os públicos de interesse da Companhia, com o relacionamento com os empregados muito bem colocado, uma Revista Petrobras muito bem estruturada, bem editada, com três grandes agências de publicidade contratadas, com campanhas de produtos e campanhas institucionais muito bem feitas. Encontrei uma outra Petrobras e que, certamente, daqui para frente vai ser outra ainda muito maior, muito mais importante, principalmente com as novas descobertas que estão ocorrendo aí na área do pré-sal. Estou trabalhando como um dos assessores de imprensa. Logo que eu voltei, estava como um consultor contratado diretamente pela Petrobras como pessoa física, pelo conhecimento e pelas minhas condições profissionais. Esse contrato durou dois anos. Depois, como tem uma empresa contratada para prestar esse tipo de serviço à Petrobras, eu entrei para esta empresa e sou um dos assessores. Trabalho o dia inteiro recebendo a imprensa, produzindo release e matérias especiais, procurando pautas positivas para vender aos veículos, para tentar melhorar ainda mais a imagem pública da Companhia, que as pesquisas indicam que está muito boa. DITADURA MILITAR Eu não estava na empresa nesse momento, mas com a caça às bruxas pela Revolução as pessoas do IPM, do Inquérito Policial Militar, instaurado na Petrobras pegaram uma capa da Revista Petrobras, que tinha um desenho abstrato, alguma coisa parecida com círculos e algumas setas. Era um desenho gráfico meio abstrato, mas que eles identificaram como uma foice e um martelo. Havia um ponteiro também em um outro círculo indicando uma hora. O Assis era o desenhista que fazia as capas da Revista Petrobras; um excelente desenhista. Eu o conheci depois desse episódio que eu vou contar. As capas feitas por ele, que eu tenho no meu arquivo de revistas, são lindas, muito bonitas. Em uma de suas capas, ainda do período de caça às bruxas da Revolução, na paranóia de que qualquer coisa tinha dedo de comunista, o Assis fez um desenho abstrato. Um desenho gráfico e abstrato que, na verdade, era uma torre de petróleo estilizada, com círculos e linhas. Não sei quem foi do IPM, Inquérito Policial Militar, na Petrobras, que identificou naquela capa a foice e o martelo e que indicaria também um horário que deveria ser algum tipo de mensagem para alguma organização terrorista fazer um ataque à Petrobras. O Assis foi chamado para depor e foi uma confusão. Resultado: o Assis foi demitido, por causa dessa capa. Posteriormente, quando houve a anistia, ele foi chamado, mas não quis voltar. Pela informação que eu tenho, ele tem uma agência de comunicação fora do Rio de Janeiro e está muito bem. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Há uma outra história para mostrar a ligação que nós empregados temos com a Petrobras. Quando um dos meus filhos estava ainda no curso primário, no ensino fundamental, a professora pediu para ele desenhar a casa dele. Ele desenhou duas casas, uma casa de um lado e outra maior do outro. E a professora perguntou: “Mas você mora em duas casas?”. Ele falou: “Não, essa aqui é a minha casa, essa aqui é a Petrobras, a casa do meu pai”. Gosto de ouvir música, fazer samba, tocar cuíca. Não com compositor, mas roda de samba, adoro Eu toco todos os instrumentos de ritmo e toco cuíca. E cinema, teatro, leitura. Mas música, principalmente Bossa Nova e samba, enraizados na minha vida desde adolescente. Tenho uma história com João Gilberto que eu vou contar rapidinho. O dentista do João Gilberto era de Barra do Piraí, meu amigo. Logo que o João Gilberto veio para o Rio de Janeiro tentar a sorte como cantor e compositor, nós estávamos fazendo um baile, em Barra do Piraí, para angariar fundos para a formatura de uma amiga que veio a ser a minha cunhada, casada com o meu irmão. E aí o Jacó, esse dentista, [disse]: “Vocês não querem trazer o João Gilberto aqui? Ele está precisando de dinheiro, vamos trazer o João Gilberto para fazer um show no baile? Ele cobra baratinho; está começando”. A gente já era apaixonado por ele, já tinha acho que uns dois discos do João Gilberto na praça, mas a Bossa Nova ainda não era aquilo, ainda não tinha acontecido o show do Carnegie Hall. Nós aceitamos, o João Gilberto veio a Barra do Piraí de ônibus, eu fui esperá-lo na rodoviária. Ele foi para o clube, ficou lá com a gente, tocou um pouquinho. Aí teve o baile, com o nosso conjunto, R Mauro, e o seu conjunto; eu tocava contra-baixo. À meia noite começou o show do João Gilberto, ele cantou a primeira, que não podia deixar de ser “Chega de Saudade”, cantou a segunda que eu não me lembro qual, e, na terceira, ele cantou “O Pato”. Quando ele começou: “O Pato vinha cantando alegremente: Quém Quém”. Alguém falou: “Chega”. Nós erramos, não devíamos ter levado o João Gilberto em um baile em Barra do Piraí, no início da Bossa Nova, porque pouca gente o conhecia. Ele pegou o violão, saiu do palco; nós fomos atrás dele, que nos disse: “Não, não vou cantar mais Eu canto para quem quiser me ouvir. Que horas acaba esse baile?”. “Quatro horas da manhã”. “Então, eu vou andar pela cidade e, às quatro horas da manhã, eu estarei aqui na porta. Reúne quem gosta e quem quer [ouvir], porque eu vou cantar”. Sentamos em uma escadinha e ele cantou até seis horas da manhã. Ele pegou um ônibus para o Rio de Janeiro às sete horas, em Barra do Piraí. É uma pena não ter fotografia do João Gilberto. E tem mais. Eu fui levá-lo, eu tinha um carrinho chamado Renault Rabo Quente, que é precursor do Gordini, do Dauphine, um carro que tinha o motor atrás, daí ser chamado de Renault Rabo Quente. Eu tinha batido num caminhão que nem nos viu, porque o carro era muito pequenininho; quebrou o pára-brisa. Era um carro francês, não tinha pára-brisa para comprar no Rio, muito menos em Barra do Piraí. João Gilberto entrou no meu carro, botou as pernas para cima, para a frente do carro que era pequenininho e adorou: “Ó que beleza Ventinho Bom” MEMÓRIA PETROBRAS É um prazer muito grande [participar] e até muita emoção. Eu cheguei umas duas ou três vezes quase a chorar, por relembrar essas coisas todas. Isso me faz lembrar a minha vida na Petrobras. Tudo o que eu tenho, tudo o que sou hoje, consegui com o meu trabalho na Petrobras, com o que ela me retribuiu pelo meu trabalho. Acho da maior importância esse trabalho que vocês estão fazendo, é uma pena que em algumas administrações anteriores não tiveram essa preocupação que estão tendo hoje, que a atual gerência de comunicação está tendo em guardar e preservar a memória da Petrobras. Muita coisa se perdeu, muitas fotos antigas, muitos textos. Quando me aposentei, levei oito caixas de folhetos, de palestras, porque não tinha aonde colocar na empresa. Algumas coisas eu mandei para a biblioteca da Universidade Coorporativa, algum tempo atrás. Ainda tenho algumas coisas que eu preciso ter tempo para selecionar. Em resumo, essa preocupação maravilhosa com a memória, pena não ter sido despertada há alguns anos. Teríamos guardado não só imagens, mas textos, informações, depoimentos importantíssimos para a história da comunicação e para a história da Petrobras. Muito obrigado.
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