P/1 – Priscilla, você pode falar seu nome completo, o local e data de nascimento?
R – Priscilla Fernandes de Meo Gazinhato, nasci em São Paulo, tenho 30 anos.
P/1 – Qual que é a data do nascimento?
R – Três de Julho de 1983.
P/1 – Priscilla, seus pais são de São Paulo?
R – São, os dois são de São Paulo.
P/1 – E seus avós?
R – Também são de São Paulo, todos eles.
P/1 – Maternos e paternos?
R – Todos.
P/1 – E bisavós?
R – Ah, boa pergunta. Eu tenho descendência italiana e espanhola, agora qual é qual eu não sei dizer.
P/1 – Você não sabe qual que é tua parte espanhola e italiana?
R – Eu tenho parte espanhola e italiana por parte de pai e parte espanhola por parte de mãe.
P/1 – Mas é o que? Bisavó, será?
R – Provavelmente. Por parte de mãe se eu não me engano é tataravô. Meu bisavô já era brasileiro. Por parte de pai, meus bisavós eram espanhóis e italianos.
P/1 – E seus avós maternos faziam o que? Você conheceu a história dos teus bisavós?
R – Então, não muito.
P/1 – E dos seus bisavós?
R – Não sei exatamente o que eles faziam.
P/1 – Os pais da sua mãe não?
R – Eu conheci os meus quatro avós, tanto paternos quanto maternos, perdi a primeira avó tem pouco tempo. Os outros três ainda estão aqui, mas não sei te dizer. O meu avô materno trabalhava com contabilidade um tempo, mas não sei exatamente o que ele fazia. Meus avós paternos não sei te dizer.
P/1 – Não sabe nada deles, o que eles faziam?
R – Ele trabalhava em fábrica, mas exatamente o que ele fazia não sei.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Eles tinham uma agência juntos, ela era funcionária dele e aí depois ela passou a ser sócia dele e aí eles acabaram ficando juntos.
P/1 – Agência do que?
R – Agência de publicidade.
P/1 – Ela era funcionária da agência e ele era dono?
R – Ela era funcionária da agência e ele era dono junto com outra pessoa e essa outra pessoa saiu e aí ele convidou minha mãe pra ser sócia e aí ela aceitou. E aí não sei quando tempo depois, mas eles, ou se durante o processo, nesse tempo eles acabaram ficando juntos.
P/1 – Qual a formação do seu pai?
R – Os dois são jornalistas de revista. Minha mãe abdicou da profissão pra cuidar dos filhos, agora ela voltou como gerente de vendas, então nada a ver com a profissão. E meu pai agora hoje ele é aposentado.
P/1 – E qual o nome do seu pai?
R – Meu pai é Laércio Gazinhato Filho, minha mãe Carmem Luz de Meo.
P/1 – E onde que era essa agência?
R – No centro da cidade. Agora onde eu também não sei dizer.
P/1 – Você não chegou a conhecer?
R – Não, eu era muito pequena. Minha mãe quando saiu da empresa, ela saiu quando meu irmão tinha um ano e meio, então eu também devia ter uns três anos e aí depois disso meu pai foi pra uma outra agência também como sócio proprietário específico em cutelaria e armamento, que era no Aeroporto, essa agência.
P/1 – E seu pai e sua mãe, quando eles casaram, eles foram morar aonde? Que bairro?
R – Eles moraram pouquíssimo tempo em Santo Amaro e depois eles foram pra Vila das Belezas que é o lugar onde eu deixei de morar pra casar. Então vivi lá...
P/1 – Vila das Belezas fica aonde?
R – É próximo a Santo Amaro mesmo, Campo Limpo, Santo Amaro.
P/1 – Você passou sua infância lá?
R – Infância, adolescência, saí de lá com 28 anos.
P/1 – Como é que era essa casa que vocês moravam?
R – Era uma casa térrea, de frente pra uma praça, numa vila super calma. Não chegava a ser condomínio fechado, mas por conta de alguns comércios que tinham, então eles não conseguiram fechar a vila, mas era como se fosse. Até hoje muitas crianças brincando na rua, carros passam só de trânsito local, então era uma vila super tranquila, uma casa térrea, razoavelmente grande, com um quintal enorme. Eu e meu irmão, brincamos bastante nessa pracinha e no quintal da casa também.
P/1 – Você tem um irmão mais novo? Como é o nome dele?
R – Alexandre, um ano e dez meses mais novo que eu.
P/1 – E Vila das Belezas como é que era? Fala um pouco mais do bairro.
R – Então, lá é um bairro super calmo, até de uns cinco, seis anos pra cá ele cresceu um pouco a área comercial, mas até então era uma área bem residencial, com pouquíssimos pontos comerciais, tipo um bazar, uma mercearia. Hoje em dia já tem umas duas ou três fábricas. Já tem escritórios de advocacia, de contabilidade, então de uns seis, sete anos pra cá, cresceu um pouco a área comercial dentro da vila. Por conta disso o movimento também aumentou, movimento de carros, movimento de pessoas, mas na minha infância mesmo era um bairro bem residencial. As pessoas que saem pra casar, geralmente depois voltam com filhos. Então tem pessoas que vivem lá 30, 40 anos. Minha mãe já está lá há quase 50, então a gente brinca que ela praticamente fundou a vila. E tem pessoas lá que chegaram junto com ela, então é um pessoal que se conhece bem, que pode sair, mas que volta. Um lugar bem agradável.
P/1 – E quais eram suas brincadeiras de infância?
R – Eu sempre fui muito moleque. Acho que primeiro que a minha geração era de muitos meninos na vila. Então tinha eu e mais uma menina só e nós empinávamos pipa, nós jogávamos bolinha de gude, ou então brincávamos só nós duas de boneca. A segunda geração já tiveram mais meninas, então as brincadeiras passaram a ser depois, mas aí já um pouco mais velha, então sei lá, eu já tinha uns nove anos, brincava com as meninas de seis, de escolinha. Então eu era professora, mas a infância em si mesmo, foi muito brincadeira de menino. Então as brincadeiras de criança que hoje já não se vê mais. Esconde-esconde, pega-pega, mãe da rua, pique bandeira, de brincar mesmo, de ir pra rua e chegar em casa suando, todo sujo de terra. A vantagem de ter a pracinha super bem cuidada, super bonitinha, na porta de casa, então tinham bastante opções de brincadeiras pra gente fazer. Mas 90 por cento das minhas brincadeiras eram de meninos, pipa, bolinha de gude, figurinha, carrinho de rolimã. Porque são três acessos pra vila e as três são rampas, então a molecada se acabava no carrinho de rolimã. Tenho várias marcas na perna por conta dessas brincadeiras.
P/1 – E como que era na sua casa? Vocês comemoravam festas, natal, que festas vocês comemoravam?
R – Meus pais eles nunca foram muito ligados em presente, assim aniversário, natal, essas coisas. A gente até se reunia, todos natais, por muito tempo. Aniversário eu não me lembro muitos, porque eu nem gosto até hoje de comemorar aniversário. Acho que por causa disso. Então a minha mãe fez alguns quando nós éramos bem pequenos, então tem um histórico não na cabeça porque nós éramos muito pequenos, mas em vídeo, que nós chegamos a ver. Aniversário de um, dois três anos, acho que no máximo, depois eu fui voltar a ter aniversário quando eu fiz 22 anos, que daí foi uma opção minha que daí eu quis fazer uma festa. Sempre se reunimos no natal com a família do meu pai. A família da minha mãe era festa todo final de semana, então a gente optava por passar o final de ano com a família do meu pai, mas a família do meu pai é muito pequena, se resume em seis pessoas, que são meus avós, minhas tias e meus dois primos e meu pai, então é uma família super pequenininha, ao contrário da minha mãe que são cinco filhos, mas cada filho teve pelo menos três, a minha mãe só que teve dois. Então só de primos do lado da minha mãe eu tenho quase 20 primos. Então é uma família bem grande e essa família a gente sempre se reúne. Em aniversários dos avós, ou quando dia dos pais, dia das mães, era sempre com a família da minha mãe. E final de ano era sempre com a família do meu pai. Mas isso até uns dez, 12 anos, depois disso acho que o pessoal começou a crescer, aí acho que já não conseguia mais reunir todo mundo, que cada um tinha seu compromisso. Os filhos também cresceram, os pais já não conseguem mais levar pra todos os lugares, aí também cada um ia pra um lado. Então hoje a gente até se reúne algumas vezes, mas numa quantidade bem menor. Tem os tios mais próximos, tenho tias mães que vivem em casa praticamente, na casa da minha mãe. Mas eles nunca se ligaram muito nesse negócio de data natal ou o data aniversário, sabe? Meu pai e minha mãe sempre acharam isso como consumismo e o fato de ter que dar um presente não precisava esperar essas datas. Então a gente meio que nunca se ligou. Eu comecei a recuperar essa parte legal de final de ano, de natal, de três anos pra cá, desde que eu conheci meu marido. Então quando a gente começou a namorar, a gente começou a tentar fazer e reunir família, está todos juntos de novo. E aí juntar minha família com a família dele. Aí a gente teve uns natais bem bacanas pra contar, mas de agora, recentemente.
P/1 – Como que era na sua casa, quem que exercia autoridade? Fala um pouco do seu pai e da sua mãe.
R – Meu pai ele sempre trabalhou muito, até por ele ter agência, então assim, era fechamento - eu nunca vou me esquecer dessa palavra “Ah, seu pai está em fechamento”, tipo ficava uma semana sem ver meu pai, né? As brincadeiras sempre eram com meu pai, então brincadeira sempre de menino, obviamente. Minha mãe sempre era a má, porque era quem ficava mais tempo com a gente, então automaticamente era a que exercia a função da chatona, dava as broncas, as chineladas. Meu pai era a parte do brincar. Como ele ficava pouco tempo, o pouco tempo que ele tinha com a gente, era a parte do brincalhão. Então que eu me lembro era assim, e minha mãe nunca deixava, a gente ia pedia pro meu pai e aí meu pai às vezes deixava, às vezes não deixava, mas era dividido. A mãe era a chata, a brava e o pai era o legal. Só que minha mãe ficava 95 por cento com nós, comigo e com meu irmão, e meu pai o cinco por cento e aí ele, dos cinco por cento que ele tava com a gente às vezes ele também tava trabalhando em casa, e o que sobrava ele brincava com a gente, mas não tinha tempo de dar bronca, entendeu? Foram pouquíssimas broncas que eu me lembro que meu pai deu em nós. Até por conta desse contato que nem sempre era grande.
P/1 – Vocês tiveram algum tipo de formação religiosa?
R – Não também. Meus pais eles nunca frequentaram a igreja. Meu irmão entrou na igreja pouquíssimas vezes. Eu tentei um pouco ir pra alguns lados, conhecer algumas religiões. Me batizei recentemente na igreja evangélica, também por conta do meu marido, que era evangélico e que acabou trazendo isso pra dentro de casa. Mas a gente não é de... A gente vai na igreja, mas não com uma frequência, ou coloca isso como obrigação. Mas dentro da nossa casa a gente sempre tenta fazer uma oração antes de comer, ou antes de dormir, antes de viajar, antes de pegar a estrada, antes de sair de casa, sempre agradecendo e pedindo proteção. Então não vinculamos tanto à igreja, mas a Deus mesmo.
P/1 – E com quantos anos você entrou na escola.
R – Eu entrei na escola com cinco ou seis anos. Eu acabei entrando mais cedo. Eu com 17 anos eu já tava terminando o primeiro ano de faculdade, então eu entrei na primeira série já com seis anos, que o normal seria sete, então eu acabei entrando um pouco mais cedo porque eu sempre gostei. Os melhores presentes pra você me dar quando eu era criança, era canetinha, lápis de cor, caderno, caneta, mochila. Adorava essas coisas de escola e aprendi a ler antes de entrar na escola.
P/1 – Quem te ensinou?
R – Minha mãe, meu pai também, minhas tias. Então quando eu fui pra escola, era pra ser no pré, só que eu tava muito além do pré e aí já me colocaram na primeira série. Então todas as crianças tinham sete anos, eu tinha seis, na primeira série, porque senão eu ia acabar me desestimulando porque eu já sabia uma coisa que tavam querendo me ensinar. Então eu acabei entrando mais cedo no colégio.
P/1 – Que escola que era?
R – Era Externato Elvira Ramos.
P/1 – É perto da sua casa? Como que você ia pra escola?
R – Perto da minha casa. Minha mãe me levava e me buscava até o terceiro colegial (riso). Eu saí desse colégio na sexta série, fui pra um mais próximo ainda de casa, fiquei até o segundo colegial.
P/1 – Mas você ia a pé? De carro?
R – Então, nessa que era mais próxima de casa eu ia a pé. Na outra era um pouco mais afastada, dava uns três quilômetros, mais ou menos, daí nós íamos de carro. Nessa que era mais afastada que foi onde eu comecei, minha mãe ia levar e buscar eu e meu irmão. Estudamos a vida inteira no período da manhã. Na sexta série eu fui pra um outro colégio que abriu na rua de cima da minha casa, daí nesse nós íamos a pé. Até porque foi um colégio que chegou na vila e acabou levando toda a molecada da vila pro colégio. Então íamos de comboio, íamos umas dez crianças juntas.
P/1 – Era escola particular, pública?
R – Sim, particular.
P/1 – E que lembranças você tem do primário? Você lembra das professoras?
R – Bom, eu tenho uma professora que acho que foi a professora que mais me marcou. Tenho contato com ela até hoje, foi minha professora de segunda série.
P/1 – Qual o nome dela
R – Professora Suzy. Depois nesse colégio eu voltei pro terceiro colegial, ela ainda estava lá como coordenadora. Ela faz aniversário no dia da minha mãe, então durante todo o tempo que eu fiquei ausente do colégio eu ligava ainda pra ela, pelo menos uma vez por ano, que era no dia do aniversário dela que não tinha como esquecer. E depois com as redes sociais a gente se encontrou em redes sociais. No terceiro colegial, quando eu voltei pro colégio, ela ainda estava lá e até hoje eu frequento as festas que o colégio faz, de feira de ciências, festa da primavera, carnaval. E aí eles convidam os ex-alunos pra irem e a gente vai. A gente tem um grupo bem legal. Então assim, nesse colégio eu fiquei até a sexta série e depois eu fiz o terceiro colegial, então tenho amigas até hoje, tipo amigos até hoje dessa época.
P/1 – O que você mais gostava nessa época? Algum fato que tenha te marcado?
R – Putz, difícil, heim?Não me lembro de nada. Me lembro do outro colégio já, que nós fizemos a viagem de formatura, eu fiz por esse outro colégio aí. Foi a primeira vez que eu andei de avião, nós fomos pra Porto Seguro na oitava série. Mas desse até sexta série, eu acho que eu era muito certinha, estudiosa. Eu me lembro de ir pra escola e...
P/1 – Que mais você gostava na escola?
R – Ah, eu gostava mais por encontrar amigos. Cabulei aula uma vez na vida só, não precisava disso até porque minha mãe sempre falava: “Não quer ir, não vai, depois só vai atrás da matéria” e era muito engraçado porque os pais ninguém sabia que não tinha ido pra escola e minha mãe sabia que eu não tinha ido. Uma vez que eu quis fazer escondido, deu tudo errado, tomei a maior bronca.
P/1 – Como é que foi?
R – Eu saí de casa pra ir pra escola e não fui. E deu um problema em casa e minha mãe foi me buscar na escola e eu não tinha ido. E aí juntou um desespero com outro e aí eu cheguei em casa no horário que eu costumava chegar, normal, com a maior cara lavada, como se nada tivesse acontecido e eles vieram tirar satisfação e eu em vez assim, já sabendo que eu não tinha ido pra escola: “E onde você tava?”, e quando eu falei “Na escola”, não deu nem tempo de eu terminar de falar. Fiquei de castigo um tempão e aí eu aprendi que nunca mais eu ia fazer isso. Então foi a única vez que eu fiz, eu sempre fui muito estudiosa mesmo. Eu gosto até hoje disso. Sinto falta de entrar numa papelaria e renovar todos os meus cadernos, todas as minhas canetas, de fazer as coisas certinho, super organizada. Meu caderno sempre foi referência. Tipo em dia de prova, até na faculdade isso, em dia de prova todo mundo queria o meu caderno pra xerocar. Eu ficava fazendo essas coisinhas, sabe, arrumando, passando a limpo e eu sempre tirava o horário de escola pra isso mesmo. Então não era muito difícil, no intervalo eu até saía pra lanchar, mas de me ver brincando, alguma coisa, tava sempre fazendo alguma coisa de colégio. No colegial eu fui um pouco mais rebelde, no primeiro e no segundo, até por conta disso eu saí do colégio, tive que retornar pro anterior. Acho que nessa fase de já adolescente rebelde mesmo, de querer se achar o dono da razão, as regras da escola não cabiam mais, não queria mais cumprir algumas regras. E aí eu já trabalhava também, já achava que isso já me fazia mais mulher e eu não queria cumprir algumas regras e aí eu fui convidada a me retirar do colégio porque eu briguei muito de bater boca. Eu não concordava e aí eu falava que eu não concordava, tipo eu não ia fazer e alguém tinha que me convencer o contrário e geralmente não conseguiam e eu não fazia e pronto. E aí acabei saindo do colégio de novo pra voltar pro meu primeiro colégio. Mas até o colegial eu fui super tranquila mesmo.
P/1 – Você já trabalhava? Você falou, com quantos anos você começou trabalhar?
R – Eu comecei trabalhar com 14 anos.
P/1 – Por quê?
R – Porque eu quis, na verdade. Eu sempre gostei de trabalhar em bazar, até por conta das coisas de escola, as novidades das canetas, as canetas coloridas e tudo isso. E aí eu comecei a brincar. Tinha uma moça que abriu um bazar próximo da casa da minha mãe e aí eu ficava com ela o dia inteiro. E ela precisou de uma pessoa, ela me convidou pra ajudar e aí eu achei o máximo poder ter o meu dinheiro e não... Tava do lado da minha casa, tipo eram três casas depois da minha, então pra mim era super tranquilo. Eu estudava de manhã e ficava lá da parte da tarde até o bazar fechar. Então era meio período, né? Já ficava lá sem ganhar, às vezes até já ajudava sem isso. Quando ela me convidou pra eu poder ter alguma coisa, eu não pensei duas vezes. E aí meus pais também não se opuseram, até por saber que eu ia dar conta do colégio junto com isso. Aí isso com 13, 14 anos. Com 15 anos eu fui trabalhar num colégio. Aí eu trabalhei na secretaria de um colégio, também meio período, e aí depois só saí desse colégio quando entrei na faculdade. Daí quando eu entrei na faculdade, eu larguei tudo. Aí eu fiquei um ano só fazendo faculdade e no segundo ano eu já arrumei estágio. Então foi dos 13 aos 18 anos, eu fiquei um ano sem trabalhar, que foi meu primeiro ano de faculdade só. Mas era bom porque às vezes todo mundo queria sair, aí ninguém tinha dinheiro e eu sempre tinha dinheiro, ninguém podia pedir pros pais e eu não precisava disso. Então era super legal, mas era assim, era meu dinheiro pra mim só, não é que eu gastava, por exemplo, lanche do colégio, lanche na escola tipo minha mãe que dava. Roupa minha mãe que dava, então era... Eu lembro que na época o salário mínimo era 151 reais e eu ganhava três notas de 50 e uma de um. Isso pra mim era o máximo, tipo receber esse dinheiro, né, porque uma menina de 14 anos, receber 150 reais por mês, na época era o máximo. O pessoal ganhava 30, 40 reais de mesada e eu ganhava três vezes mais. Então sempre foi muito legal o fato de trabalhar cedo e por conta de eu ser estudiosa e de eu gostar de estudar, nunca me atrapalhou em nada. Quando eu vi que ia me atrapalhar, que foi quando eu entrei na faculdade, aí eu fiquei só na faculdade.
P/1 – E na adolescência, quais eram os seus programas de adolescente? Pra onde vocês passeavam?
R – Por a gente morar numa vila tranquila, a bagunça era na garagem de alguém, sempre, ou na própria pracinha. Então a gente se reunia, compra pizza e refrigerante e ficava a molecada toda conversando, brincando lá. Com um pouco mais de idade, já com uns 14, 15 anos daí já começou a fase de baladinha e aí a gente saía muito. Na época o forró tava estourando, então foi a molecada toda pra onda do forró. Aí saíamos de sexta e sábado nas matinês, um pouco mais, um ano depois já começamos a frequentar os horários noturnos mesmo, que deixou minha mãe quase louca. Cinema nunca gostei, até hoje pra me levar pro cinema precisa me convencer muito bem, tratar um tempão antes. Meu marido fica louco porque ele adora cinema e filme e eu brinco que em três anos que nós estamos juntos, eu assisti mais filme que eu assisti a minha vida inteira, porque ele tem os argumentos dele, ele consegue me convencer e aí a gente acaba indo. Mas assim, a maioria dos filmes é filme de criança, então ou é filme de super herói, ou é desenho, os filmes que me atraem, né? Não sou muito chegada em cinema mesmo. Então era shopping, baladinhas, as brincadeiras geralmente na rua. Os parques perto da minha casa não tinha nenhum na época.
P/1 – Que tipo de música você ouvia?
R – Ah, eu sempre fui do pagode. Pagode, forró, até hoje. Agora, com a onda de sertanejo de cinco anos pra cá, entrou na minha top list, mas sempre fui do nacional, nunca... Até curto algumas bandas de fora, mas sempre foi daqui. Axé, dancei muito axé na época do Tchan. Então era sair pra isso, pra dançar, ou era forró, ou era axé, depois de um tempo fui do pagode, agora sou do sertanejo. Quer dizer, agora não sou de mais nada, agora eu casei (risos), as coisa mudaram. A gente brinca que a gente está casado tem um ano e a gente tá super velho, porque dá dez horas da noite de sexta-feira, a gente já está dormindo. Então a gente deixa pra aproveitar o dia ao invés da noite, o que quando você tem os seus 14, 15 anos não acontece. Você prefere acordar duas horas da tarde e dormir seis horas da manhã. Hoje já não tenho mais esse pique.
P/1 – E quando que você virou são-paulina? Com quantos anos?
R – Então, tem um vizinho da minha mãe até hoje, ele era treinador do São Paulo Juvenil, então ele tem quatro filhas, todas as filhas dele eram são-paulinas, a mais nova tem quatro anos a mais do que eu, então era minha referência. Era a única que andava comigo da turma, das meninas, porque não tinha ninguém, só tinha menino. E todas elas eram são-paulinas por conveniência, porque o pai trabalhava no clube. Então ele chegava com camiseta autografada dos jogadores da época. Isso nós estamos falando quando o São Paulo começou, foi o time do momento, ganhou o Brasileiro, depois ganhou duas Libertadores seguidas, isso eu já tinha dez anos e aí eu vi o São Paulo ser campeão de tudo e aí eu acho que isso me encantou, juntando com o fato do meu vizinho trabalhar no clube, das filhas dele serem são-paulinas, dele me dar um monte de coisinhas do São Paulo. Mas eu me lembro, o primeiro jogo assim que eu me lembro mesmo, eu já tinha 15 anos, que foi em 98. Isso aconteceu em 91, 92 que eu já tinha coisas do São Paulo, tudo, mas que eu disse “Meu, eu sou são paulina”, que eu vibrei com uma vitória mesmo, foi 98. Aí eu já tinha 15 anos.
P/1 – Você lembra desse jogo?
R – Perfeitamente.
P/1 – Como é que foi?
R – Foi um São Paulo e Corinthians, campeonato paulista, foi o retorno do Raí, era uma final de dois jogos. O primeiro jogo o Corinthians tinha ganhado se eu não me engano de 2 a 0 e o São Paulo,e o segundo jogo era no Morumbi e o São Paulo precisava reverter o placar em dois gols, e aí o empate era do Corinthians. Se eu não me engano o São Paulo abriu o placar e o Corinthians empatou, o São Paulo virou dois a um. E aí eu parei de assistir porque eu fiquei muito nervosa. E tava assim acabando e só o Corinthians atacava. Se o Corinthians fizesse um gol, o empate era deles e nós não íamos conseguir reverter o placar, né? E eu tava assistindo na casa da minha avó e eu saí e fui pra rua e aí eu escutei as pessoas gritando gol. E tinha um bar do lado da minha casa onde tinha um monte de corintiano e esse bar ficou em silêncio. Então eu deduzi que tinha sido gol do São Paulo e se tinha sido gol do São Paulo, o Corinthians não ia conseguir fazer mais dois gols, porque o jogo já tava acabando. E aí eu fui pra frente desse bar com as minhas amigas, tipo a gente ficou já zuando os corintianos que tavam no bar, que eram homens né, e a gente 15 anos, uma de 15 e uma de 17, 18 anos, e aí a gente ficou já zuando eles. Que eu me lembro, de jogo, pra dizer eu comecei a torcer pro São Paulo, foi nesse jogo, já em 98 com 15 anos. Mas antes disso era uns jogadores bonitos que o São Paulo tinha, então acho que foi uma mistura de eram jogadores bonitos, tava ganhando tudo e a facilidade que eu tinhapra ter as coisas do São Paulo porque meu vizinho trabalhava no clube e as filhas dele eram todas são-paulinas.
P/1 – Na sua casa seu pai assistia? Como é que era?
R – O meu pai e o meu irmão odeiam futebol (riso). Odeiam futebol. Meu pai não sabe quantos jogadores entram em campo. É engraçadíssimo assistir jogo com meu pai da Copa, que é o único jogo que ele assiste. Se o cara cai no meio do campo ele grita que é pênalti, é engraçadíssimo. Às vezes eu até levo alguns amigos pra assistir porque eles não acreditam, né? “Como assim? Seu pai e seu irmão não gostam de futebol”, não gostam, não torcem pra time nenhum, assistem a Copa do Mundo pelo evento e não pelo esporte, né?
P/1 – Qual que é a primeira Copa do Mundo que você lembra?
R – A de 94, com certeza.
P/1 – O que é que você lembra dela?
R – Ah, eu lembro que a molecada tava toda na rua no último jogo e tinha um italiano que mora lá na esquina da minha casa até hoje e ele ficava o dia inteiro zuando a molecada, falando que a Itália ia ganhar, a Itália ia ganhar e a gente tava assistindo no quintal de uma vizinha, que ela colocou a TV lá fora e foi a molecada inteira assistir e as bagunças eram sempre na casa dela, que ela tinha dois filhos. Então toda vez que era pra bagunçar, ela liberava a garagem dela, ele botava a TV lá, tava toda a molecada da rua. A hora que o Baggio perdeu o pênalti, na hora, mas ninguém combinou, saiu todas as crianças da garagem pra ir pra frente da casa do italiano pra ficar gritando na casa do italiano e ele ficou muito bravo. Ele ficou o maior tempão sem sair na rua porque ele sabia que se ele saísse, a molecada ia zuar porque ele ficou brincando com a gente o dia inteiro. Então a gente imagina que se tivesse sido o contrário, ele teria zuado a gente bastante também. Aí depois lembro da de 98 que foi pra mim um choque, a maior decepção e depois disso eu meio que não acordei nenhum dia de manhã nem de madrugada em 2002, pra assistir jogo. Eu fiquei bem frustrada mesmo com tipo a melhor campanha e aquela partida pífia que o Brasil fez contra a França em 98. Eu tava pintada, com o rosto pintado, toda uniformizada, eu acho que foi tipo um choque, sabe, “Calma aí, nós não somos toda essa potência que estão dizendo”. Enão, na verdade nós éramos e aí nesse momento que eu comecei a ver que o futebol não era só ter bons jogadores e torcer, que tinha muita coisa envolvida por trás disso. E aí depois veio a Copa de 2002, que não acompanhei, aí depois acompanhei a de 2006 e 2010, mas na mesma frustração da de 98. E agora nesse ano vamos ver aí o que nos reserva. O que eu sei dessa Copa de 2014, que vai ser a minha Copa mais emocionante, com certeza, porque vem aí um herdeiro já pra daqui dois, três meses. Então sem dúvida nenhuma, a de 2014 vai ser minha Copa mais marcante, não só por ser no Brasil, mas por tudo que vai acontecer nesse período de Copa aí.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. E aí na sua adolescência, e você, qual foi sua primeira paixão, namorado?
R – Então, a primeira paixão na verdade foi um professor, eu tinha 13 anos, acho que todas as meninas. Hoje nem me lembro muito bem da cara dele. Lembro do nome, era um professor de matemática, não era só eu, algumas meninas do colégio tinham acho que esse mesmo sentimento. Namorado mesmo, eu fui ter com 15 anos, era um cara bem mais velho que eu, ele tinha 24. Foi um tanto quanto um choque, né, em casa. “Como assim, uma menina de 15 anos tá namorando um cara de 24?” Mas não durou muito também, acho que quando eu conto essa história falo que foi um divisor de águas e de total responsabilidade dos meus pais, porque foi uma época que eu já trabalhava e que eu estudava. Então eles não tinham muito o que fazer em me proibir de estar com ele, apesar de eu saber durante todo o tempo, que eles não aprovavam isso. Eu acho que se naquele momento eles tivessem proibido ou eu teria perdido o ano de escola ou eu teria saído do serviço, sei lá, minha vida teria tomado um rumo completamente diferente do que tomou hoje. Só que eu acho que hoje, analisando friamente o caso que eu tenho certeza que pra eles não foi nada fácil, eles simplesmente me chamaram pra conversar e falaram: “Olha, se é isso que você quer, então prefiro que você fique com ele dentro de casa do que ficar na rua”. Aí pronto, aí perdeu o encanto, não tinha mais graça ficar com ele, porque a graça era ir contra os meus pais. A partir do momento que eles aceitaram, não tinha mais graça, então acho que o namoro durou sei lá, acho que três ou quatro meses, não muito que isso. E depois eu só fui namorar de novo, daí mais sério com quatro anos de duração, já tava na faculdade. Aí tive um namoro de quatro anos, outro de quatro anos, outro de dois, aí namorei um ano e casei.
P/1 – Quando você tava já trabalhando, no colégio assim, você pensava o que que você queria seguir, que carreira?
R – Sim, na época, na quarta série, eu fui apresentada pra uma tal de tabela periódica, me apaixonei, achei aquilo o máximo, nunca tinha tido química na vida, mas achei aquele negócio formidável. Como que tudo se encaixava, como que aquilo tinha sido construído, quem que tinha feito aquilo e comecei ir atrás, pra ajudar meu primo que hoje não mora no Brasil, mas que enquanto morou aqui foi meu irmão mais velho. Hoje é meu padrinho de casamento e tudo o mais, me deu, sem saber dessa paixão pela tabela periódica, me deu um jogo Alquimia e aí que eu me apaixonei de vez. Sempre falei que eu queria ser cientista, não tinha tido química até então. Na oitava série eu tive a minha primeira aula de química e me apaixonei de vez, e aí me formei bacharelado em química, hoje trabalho numa indústria farmacêutica, no controle de qualidade. Não me vejo fazendo outra coisa. Durante a faculdade...
P/1 – Você fez faculdade de química aonde?
R – Fiz no Mackenzie, não vou dizer que foi uma faculdade fácil. De 78 alunos que entraram, se formaram sem DP nem nada, 13. Então a gente brincava que o lema da química era ame-me ou deixe-me, não tem meio termo. Ninguém faz química por fazer, né, ou você gosta muito da química ou você não consegue acompanhar. E por alguns obstáculos eu pensei em desistir, e aí eu falava “E aí, eu vou fazer o que? Não sei, não tem outra coisa pra fazer. Então vamos continuar porque você está no caminho certo”, e não me arrependo nem um pouco, amo minha profissão, amo o que eu faço, gosto muito. Só fico louca da vida quando alguém pergunta: “Ah, mas você dá aula ou você trabalha?”, “Não, não dou aula”. A química é gigantesca, a abrangência de lugares pra se trabalhar com química é enorme. Então nunca dei aula nem fiz licenciatura. Sempre trabalhei em indústria. Tive a sorte de fazer estágio, meu primeiro estágio numa indústria farmacêutica.
P/1 – Que indústria?
R – A indústria farmacêutica que eu comecei foi a Marjan, aí depois trabalhei numa multinacional italiana, que era a Baldacci, fiquei lá um tempão, tipo devo minha vida profissional a eles porque eu aprendi tudo o que eu podia lá.
P/1 – O que você aprendeu lá?
R – Nossa, desde fazer a medição de um comprimido do começo da fabricação até o final da embalagem, quando ele já vem na caixinha, toda a parte analítica do medicamento, os lemas da empresa. Quando você trabalha com medicamento, que você está querendo salvar a vida das pessoas, então tem toda a parte de juramento que você faz na faculdade, que você começa a entender o porquê desses juramentos. Então fiquei lá um tempão, aí saí de lá pra ir pra uma multinacional indiana. Me arrependi horrores.
P/1 – Por quê?
R – Ah, porque eles são muito confusos, eles não conseguem colocar as ideias deles reais pra que você consiga exercer o que eles estão querendo. Então a gente começou a entrar num conflito muito grande, eu não consegui ficar lá um ano e aí saí de lá pra ir onde eu tô hoje, já faz seis anos. Essa empresa que eu estou hoje era uma empresa nacional, superfamiliar, tem três anos ela foi adquirida por uma multinacional americana. Agora nós estamos sentindo as mudanças disso, de sair de uma nacional pra uma multinacional. Então muitas coisas estão acontecendo, algumas coisas deixam os funcionários que eram super pra cima e que vestiam a camisa da empresa meio...
P/1 – Ela mudou? Ela era uma empresa nacional. Qual que é?
R – Era a Bergamo, Laboratório Bergamo e aí ela foi comprada por uma empresa americana que chama Amgen, que é uma empresa especializada em biotecnologia, querendo trazer a biotecnologia pro Brasil. Então assim, é uma mudança gigantesca. É muito mais difícil estar nessa transição, nessa mudança de status, de conscientização, de tudo que os americanos têm, que nós os brasileiros não tínhamos e que agora nós tamos tendo que ter essa visão, do que se eu tivesse saído pra uma multinacional e ter entrado numa multinacional já com todas as regras e tudo pronto. Então nós tamos implementando as regras, tentando arrumar as bagunças, então isso está gerando desafios que eu nunca tive, né? Poder aprender mais com... Tipo, eu tava na minha zona de conforto, então teoricamente eu já sabia tudo o que eu fazia e agora não mais. Então eu estou tendo que reaprender algumas coisas que eu achei que eu não precisasse mais e aí como minha mãe sempre disse pra mim “Você tem certeza que você vai ser cientista? Cientista estuda pro resto da vida”. Então agora eu estou começando a ter que ir atrás de novas informações, por conta dessa mudança toda. Então eu estou me sentindo como se eu tivesse entrado no mercado de novo, num mercado diferente, não é mais aquele mercado que eu já sabia tudo, que eu já tinha nove anos de experiência, não. Tipo zerei e estamos começando novamente. Então estamos iniciando aí novamente um desafio bem bacana.
P/1 – E quando você conheceu seu marido, como foi?
R – Meu marido estudou com meu irmão, nesse segundo colégio que eu estudei que era esse perto de casa. Nunca tive muito contato com ele no colégio, até porque eu sou mais velha, então o que uma menina de oitava série ia querer com um menino de sexta, né? Nada. E aí depois de uns 12, 13 anos nós nos encontramos em redes sociais, eu adicionei porque eu sabia quem ele era, mas ele me adicionou por conta de amigos em comum, mas não sabia quem eu era e aí ficávamos comentando sobre futebol, um na página do outro e aí ele perguntou pra alguns amigos em comum quem eu era. Aí descobriu quem eu era e a gente começou a conversar, mais né?
P/1 – Pelo chat?
R – É, com mais proximidade, mas assim, eu namorava, ele também namorava. De verdade mais assim, por conta do futebol mesmo, nada de mais. Daí passou-se algum tempo, um ano mais ou menos, aí eu tava sozinha e ele também estava sozinho e a gente começou a brincar num jogo que teve do Corinthians, que foi do Corinthians e Tolima, na pré Libertadores, e a gente tava conversando no chat, e eu falei pra ele: “Meu, Corinthians não vai passar”, ele: “Não, vai passar, vamos apostar?”, ele: “O que você quer apostar?”, falei: “Ah, vamos apostar uma garrafa de vodca” – bem bebo vodca (riso). Aí nesse meio tempo eu já tinha o encanto pela foto, porque ele sempre foi o franguinho do colégio, tipo magrinho, usava aparelho, tipo nada a ver e aí de repente virou um homem super bonito, né? E aí eu já fui, nessa hora eu já tava na maldade. Ele diz que não, mas... Falei: “Então tá, então vamos apostar uma vodca”. E eu não assisti esse jogo, mas eu fiquei o tempo inteiro na internet e ele ficou narrando o jogo pra mim, e realmente o Corinthians perdeu. E aí ele teve que pagar a vodca prá mim.Quando que ele pagou a vodca? Até pra não fazer uma coisa assim de pô,a gente tava o maior tempão sem nem ter contato. O que a gente se conhecia era de rede social, não tinha esse contato nosso, nós dois, e aí ia ficar super chato “Ah, vamos se encontrar pra te entregar a vodca?” Aí o que a gente fez? Marcou um churrasco com amigos corintianos e são-paulinos pra assistir um jogo que teve, Corinthians e São Paulo, e aí fizemos o churrasco, se reencontramos nesse dia. Ele me pagou a vodca, que depois ele bebeu ela inteira, porque eu não bebia. E aí foi muito legal porque foi um jogo que o São Paulo quebrou um tabu de quase quatro anos sem ganhar do Corinthians, Rogério Ceni fez o centésimo gol em cima do Corinthians e eu acabei ficando com ele. Eu lembro que quando eu fiquei com ele, minha postagem na rede social foi: “Pronto, pode acabar o jogo, não precisa de mais nada. O São Paulo já está ganhando, o Rogério já fez o centésimo gol e eu já fiquei com quem eu queria, não preciso mais, pode acabar o jogo”. E aí no dia seguinte ele me ligou e depois a gente não se desgrudou mais. O máximo de tempo que a gente ficou separado foi uma semana porque ele foi pra Espanha e porque já tava tudo certo, a passagem dele já tava comprada e ele acabou indo. Mas a gente morava super perto, então ele antes da faculdade ele passava em casa, então a gente se viu quase todos os dias. Pouquíssimas vezes não. Na semana seguinte a gente fez nosso primeiro passeio juntos, que foi pro Museu do Futebol, que ele achou que tinha tudo a ver. Ele falou: “Ah, vou te levar pra lá”. Ele nunca tinha ido, eu já tinha ido uma vez, mas era outra... Porque lá eles tem o Museu que não muda, e eles têm uma parte de exposição que muda frequentemente. Eu tinha ido numa outra exposição, eu falei: “Ah, vou porque a exposição mudou, então vamos de novo, né? Já que você não conhece, a gente conhece a exposição junto e você conhece o museu. Eu te apresento o Museu”, já que eu conhecia. Foi nosso primeiro passeio juntos, foi no Museu. Na semana seguinte, eu tenho pavor de altura e fui saltar de paraquedas com ele e aí de lá pra cá foram várias viagens e momentos muito loucos que eu nunca imaginei passar. O salto de paraquedas foi um deles, como? Se eu não tivesse filmado o salto, eu não ia acreditar que eu tinha feito, pra mim: “Não, eu sonhei, eu não saltei, imagina”. Tipo, eu não subo numa escada de quatro degraus. Pra subir eu até subo, o problema é pra descer, que eu tenho que descer de frente pro chão. Brinquedo de parque de diversão nunca vou e aí de repente: “Vamos saltar de paraquedas?”, eu: “Vamos”. Acho que a gente brinca que esse ponto foi o ponto que mostrou pra gente. Quando a gente saltou de paraquedas a gente tinha um mês junto, a gente falou: “A gente vai ficar junto por muito tempo ainda. Tipo, a gente vai casar, porque não é possível, essa segurança que...” E ele também tem medo de altura, então essa segurança que um passou pro outro, do nada, chega na porta do avião e se jogar, um com outro, tanto eu fiz e ele fez até um pelo outro, foi muito bacana. A gente se reencontrou, na verdade, e de lá pra cá a gente tem algumas histórias bem bacanas pra contar desse negócio de superação entre a gente. Então desde o começo a gente não tinha dúvida, com três meses a gente já tava falando em morar junto, com três mês junto. E assim, não foi surpresa pra ninguém, tipo nem pros meus pais, nem pros pais dele, porque a gente não se desgrudava mais. Ele praticamente morava na minha casa desde o começo. Só faltou minha mãe chegar e falar: “Já que vocês estão morando junto, vocês podiam ir morar em algum outro lugar que não me desse despesa”. Foi mais ou menos isso. E aí quando a gente falou: ”Ah, a gente está pensando em morar junto”, meio que todo mundo: “Tá, vai, né, porque já estão morando junto mesmo”. Então foi tudo muito rápido.
P/1 – Quanto tempo vocês namoraram?
R – Nós namoramos um ano já montando apartamento nesse um ano. Aí quando a gente fez um ano, a gente noivou no dia que a gente fez um ano. E a gente tava numa viagem de férias, quando a gente voltou e viagem a gente já tava morando junto. Então namorar mesmo, sem morar junto, foi um ano, aí moramos junto por mais um ano e quando a gente fez dois anos a gente casou.
P/1 – Vocês foram morar aonde?
R – A gente foi morar próximo de casa. Porque assim, como ele morava perto de casa e os pais moravam lá perto, meus pais também moravam lá perto, eu tava a 15 minutos do serviço por um lado e ele tava a 15 minutos do serviço pro outro lado, não tinha porque a gente sair dessa rotina. Então a gente continua morando num triângulo, não saímos dessa rotina, moramos bem próximo da casa da minha mãe e da casa dos pais dele também.
P/1 – E como é que foi o casamento de vocês?
R – Nosso casamento foi bem bacana, porque foi mais que um casamento. Acho que foi uma realização de um sonho e a gente conseguiu reunir no nosso casamento toda a nossa história de três anos. Quando a gente começou a falar de “Vamos casar, o que é que nós vamos fazer?”, eu nunca tive sonho de vestir, de ficar vestida de noiva, de casar, de fazer festa, de gastar esse turbilhão de dinheiro que todo mundo sempre falou: “Ai, casar, vendi meu carro pra casar”, falei: “Gente, nunca que eu vou fazer isso”. E a gente começou a conversar, tipo “O que é que a gente vai fazer? Não vamos fazer festa e vamos viajar? Vamos fazer uma festa pra poucas pessoas e vamos fazer uma viagem menor?”. E nesse meio tempo ele brincou comigo, falou assim: “Ah, vamos tentar casar no Pacaembu?”, eu falei: “Ah, vamos”, tipo “Tá bom, vamo tentar”. E ele levou isso a sério mesmo, e mandou um e-mail pro pessoal do Museu do Futebol, meio que contando a nossa história e perguntando se existia alguma possibilidade de nós fazermos nossos fotos pré-wedding no Museu do Futebol e eles adoraram nossa história. Chamaram a gente pra uma reunião e eles mesmos ofereceram pra gente o Pacaembu pra casar. Então assim, na verdade ele não quis ser tão ousado, e mandar um e-mail pedindo isso, falou: “Ah, será que a gente consegue tirar, a gente vai casar e a gente gosta de futebol, a nossa história é essa, essa e essa, será que a gente consegue tirar umas fotos dentro do museu?”, e aí eles chamaram a gente pra essa reunião: “Bom, a gente adorou a história de vocês e a gente queria ver onde vocês vão casar”, “Ah, a gente ainda não viu”, “Vocês têm interesse de casar com a gente?”. Nossa, tipo os olhos até brilharam: “Sim, nós temos”. Começamos a viajar, fizemos trocentos planos, depois acabou que os planos ficaram, caíram por terra porque aí era muita coisa em pouco tempo, nós tivemos seis meses pra organizar o casamento. Nós começamos a viajar horrores, fazendo vários planos de como seria essa noite e muito engraçado porque todo mundo que a gente ia entregar o convite olhava e falava: “Você vai casar de são-paulina?”, “Não, gente, eu vou casar de noiva. É um casamento normal como outro qualquer, no Pacaembu”. Mas lógico que a gente teve todo o cuidado de deixar que fosse um evento, que não fosse um casamento simples, já que nós távamos casando no Pacaembu, tinha que ter toda a nossa história envolvida naquele momento. Então todos os detalhes da festa nós tentamos levar pro futebol. Meu pajem, minha daminha entraram uniformizados.
P/1 – De que?
R – O menininho entrou de corintiano, segurando uma bola e ela entrou de são-paulina, jogando as pétalas de rosa. Todos os meus convidados – todos não, né, mas a maioria deles levaram as camisas do clube, então quando começou a festa tava todo mundo uniformizado. Essa hora foi bem bacana também. Não passamos gravata, passamos meião. Taças, a taça de champanhe era taça personalizada com os logotipos dos clubes, tinha bandeira, os noivinhos também.
P/1 – Sempre Corinthians e São Paulo?
R – A decoração era toda vermelha, branca e preta, que todo mundo falou: “Você puxou a decoração pro São Paulo, né?”. Eu não ia fazer uma decoração de casamento preta e branca, né? E o Corinthians, querendo ou não, tem detalhes vermelhos. A decoração em si foi vermelha e branca, os detalhes que foram pretos. Minhas joias eram com o símbolo do São Paulo, meu brinco, minha gargantilha, minha sandália era vermelha, minhas unham tavam preta. Quando eu fui fazer a unha no salão todo mundo ficou horrorizada, como assim que eu ia casar com uma unha preta? Que todo mundo ia lá e pedia o mais branquinho que tivesse e eu queria o preto brilhoso. A gente tentou, ele casou de preto e branco, lógico, com um broche do Corinthians, com uma pulseira do Corinthians. Então aonde a gente pode colocar coisas do clube nós colocamos. Entramos na festa cantando os hinos dos clubes e depois da cerimônia, nós conseguimos tirar as fotos no Museu do Futebol. Então assim, o Museu do Futebol é um lugar onde não se pode fotografar e filmar, então é muito legal pra gente ter isso em álbum. É nossa história no Museu do Futebol. Afinal de contas foi o primeiro lugar que a gente visitou juntos, como namorados, e nada mais justo do que selar nossa união lá. E aí deu tudo certo, as coisas foram acontecendo. Uma história muito legal dessa parte do casamento foi na hora do carro, porque minha mãe ela falou assim pra mim: “Eu vou te dar tudo da noiva, então. Vou te dar o vestido, vou te dar a maquiagem, o cabelo e o carro”, falei: “Tá bom”. Aí eu fechei tudo, faltava três meses pro casamento, eu falei assim: “Eu não vou fechar o carro ainda”, porque eu queria um cadilac rosa. Tipo ninguém vai querer um cadilac rosa, e a gente casou numa sexta feira santa, ninguém vai casar numa sexta feira santa. Então tipo, não tem problema, o carro eu vou deixar pra fechar só no final. E foi a maior sorte porque nós fomos entregar o convite de um dos padrinhos e esse padrinho há alguns anos, uns cinco, seis anos, ele tinha um fusca preto, um fusca preto. E nesse meio tempo que nós távamos juntos, esse fusca tava ali na região onde eu moro. Eu vi ele com placa de vende-se. Era um fusca tipo todo personalizado. A gente até chegou a ver pra comprar, só que ele tava com alguns problemas, a gente meio que abortou a ideia de comprar o fusca. Quando a gente foi entregar o convite de casamento pra esse padrinho, ele no dia que a gente foi entregar o convite, ele tinha resgatado o fusca, ele tinha comprado o fusca de volta. E o fusca era preto, com as calotas vermelhas e a roda em branco. E aí eu comecei a chorar muito, tipo tava muita chuva e a hora que eu entrei na casa dele que eu vi o carro parado na porta, aí o meu marido falou: “Nossa, o Angel pegou o fusca de novo”, aí ele olhou pra minha cara, falou assim: “E aí linda, quer entrar de fuscão preto?”. A hora que eu olhei pro fusca, tipo o fusca era vermelho, branco e preto, tipo tinha tudo a ver com o casamento, né? E tava chovendo muito e aí eu entrei e aí ele: “Nossa, você tá toda molhada, não sei o que”. Daí eu me enxugue, e ele: “Nossa, mas seu olho tá vermelho”. Mas meu olho não tava molhado por causa da chuva, tava molhado porque eu tava chorando, porque todas as coisas foram se encaixando de maneira que fizesse com que nós acreditássemos que realmente nós estávamos no caminho certo. Nós não tivemos empecilho em nenhum momento. O único empecilho que nós tivemos lá atrás que foi, é inviável o valor que o Museu apresentou pra gente de aluguel do espaço, não dava pra gente fazer. E quando nós já tínhamos meio que desistido, já távamos vendo outra opção, que era fazer uma coisa bem mais reservada e uma viagem legal, eles entraram em contato conosco, dizendo que eles queriam muito fazer, realizar o evento, e que pra isso eles tinham feito uma reunião e tinham chegado a um desconto de quase 75 por cento no valor que eles tinham apresentado pra gente. E aí sim esse valor entrava no nosso orçamento. Então mudou tudo de novo, então esquece a viagem, vamos focar realmente no casamento e na festa. Então foi o único empecilho. Daí pra frente tudo deu certo, tudo se encaixou.
P/1 – Quantos convidados foram?
R – A parte dos convidados foi a parte mais difícil, porque minha família é uma família grande. Nós tínhamos lugar pra 150 pessoas, sendo que 75 seriam minhas e 75 do noivo. Só que da minha família eram 58 e o que é que eu fazia com os meus amigos. E foi toda a minha família porque tipo a família que se vê sempre, sabe? Se reúne sempre, não tinha como dizer: “Ah, esse não vai”, tipo “Vai”. E alguns amigos tiveram que ficar de fora, muita gente ficou chateada com a gente, não entendeu o propósito do qual eu... não foi por falta de vontade ou por falta de grana, entendeu? Queríamos fazer uma festa pra 300 pessoas, mas o lugar que nós escolhemos e naquele momento era o principal, nós não queríamos abrir mão do lugar, pra convidar mais gente, nós queríamos fazer naquele lugar com menos gente. Foi uma opção nossa e isso nos custou alguns amigos, algumas caras feias. Do casamento em si foi a parte mais difícil, foi a lista de convidados. Mas graças a Deus a gente brinca que eu tenho certeza que lá não tinha ninguém que queria que eu tropeçasse, porque foi tão restrito, tão restrito, que quem tava lá realmente tava lá pra vibrar com a gente. Mas a parte mais difícil foi essa.
P/1 – Tem alguma loucura outra que você fez por futebol?
R – Eu fiz uma tatuagem junto com uma amiga minha que assim, eu nunca pude curtir muito esse negócio de uma menina que gosta de futebol como eu gosto, porque eu não assisto não só jogo do meu time. Nem no estádio. Tipo já fui assistir Guarani e Ponte Preta, por exemplo, tipo nada a ver. Já fui assistir jogo da Portuguesa. É muito difícil. Eu assisto campeonato espanhol, campeonato italiano, campeonato inglês. Eu gosto do futebol esporte e aí é muito difícil pra uma menina, primeiro porque mulher que fala de futebol não existe e segundo que pro homem ver uma mulher falando de futebol pra eles é muito ruim. Eu sempre senti isso. Começavam a falar de futebol, eu queria me intrometer na conversa, acabava o assunto, mudavam de assunto completamente pra que eu pudesse sair fora. Eles não aceitavam muito. Eu comecei a poder curtir mesmo futebol quando eu conheci essa menina. Essa minha amiga entrou na empresa junto comigo, na empresa que eu estou hoje, então eu já conheço já tem quase seis anos. Não nos demos bem de cara, pelo contrário, foi um momento de... não podíamos ficar muito próximas uma da outra, até porque pessoas que nos conheciam antes da gente se conhecer, diziam que nós éramos muito parecidas e que nós íamos dar certo juntas. Quando ficaram sabendo que ela ia trabalhar comigo, falei: “Vixe, vamos pegar fogo as duas”. E falo pra ela que toda vez que eu preciso falar sobre ela, eu lembro que algum dia alguém falou que a gente não ia se dar bem. A gente tanto não se dá bem, que a gente tem uma tatuagem juntas, ela é madrinha do meu casamento, parceiraça, e ela é palmeirense, ama futebol, também alucinada e uma vez a gente tava comentando, falei: “Ah, eu queria fazer uma tatuagem de futebol”, “ah, eu também queria”, não sei o que, “Ah, vamos unir o útil ao agradável então? Vamos fazer uma tatuagem que representa nós duas e que tem a ver com futebol?” e aí as duas, ao mesmo tempo, falou: “Vamos fazer uma bola de coração. E aí nós temos uma bola de futebol no formato de coração, na perna, as duas juntas, fizemos juntas. Então acabou que foi uma tatuagem pra selar o amor pelo esporte, porque eu jamais faria uma coisa do São Paulo no meu corpo, por exemplo, até pelo medo de como as coisas, como as pessoas hoje veem o futebol, de uma forma violenta e banal, enfim, eu gostaria muito, por exemplo, de assistir com meu marido um clássico e nós podermos sentarmos um do lado do outro. Isso não acontece. Todos os clássicos São Paulo e Corinthians que nós assistimos, a gente teve que assistir em casa. Quando a gente casou, uma das coisas, outra coincidência do casamento. Nós casamos no dia 29 de Março, no dia 31 de Março, sem saber, foi coincidência mesmo, foi o primeiro clássico do ano, que nós casamos. Foi no domingo depois do casamento, e aí nós conseguimos assistir juntos no camarote no Morumbi esse jogo. Então foi assim, foi o primeiro e acredito que tenha sido o último São Paulo e Corinthians que nós conseguimos assistir no estádio. Porque nós estávamos num camarote, e aí cada um vestindo a camisa do seu time. Não fomos uniformizados pro estádio, tivemos que nos uniformizar lá durante o jogo. Quando viram, a torcida do São Paulo era a maioria, quando viram ele corintiano me xingaram um monte. Como que eu tinha levado um moleque pra lá? Ficaram jogando coisa de cima da arquibancada na gente. Será que essas pessoas que fizeram tudo isso não têm nenhum parente que eles amam que não torça pro São Paulo? Ou nunca se envolveram com alguém? A mensagem que nós quisemos transmitir do casamento, além de ter sido a realização de um sonho pessoal nosso, foi essa. Se eu consigo conviver, na minha casa, por exemplo, você entrar você vê tudo do São Paulo e do Corinthians. Tudo que a gente pode ter de... Tem uns amigos que brincam, falam assim: “Já vi que tudo que entra aqui do Corinthians, tem que entrar do São Paulo também. Tem um shortzinho do Corinthians? Tem um shortzinho do São Paulo. Tem uma caixa de panetone do Corinthians, tem uma caixa de panetone do São Paulo. Tem uma caneca? Tem uma caneca. Tudo é Corinthians e São Paulo lá dentro. E seu eu consigo conviver dentro da minha casa, com uma pessoa que eu amo e que não torce pro mesmo time que eu e que a gente consegue conviver numa boa, por que eu não consigo conviver com uma fora de lá, fora da minha casa, que não torça pro São Paulo, por exemplo?” Então a mensagem era essa. Além da loucura da tatuagem, que eu acho que seja, eu acho que a maior loucura do futebol foi essa, ter casado com um corintiano e ver minha casa com coisas do Corinthians. Nunca imaginei que eu fosse ter, eu brincava: “O que que você...” Ah, estou solteira, “O que que você espera de um namorado?”, “Ah, que ele seja são-paulino”. E aí eu calei minha boca porque todos meus namorados foram corintianos. E aí deu que acabou que deu certo, ele respeita super bem e eu acho que eu também, quando tem um clássico, a gente fica só duas horas sem se falar, mas depois que acaba o jogo, a gente volta a ter uma relação normal.
P/1 – Quando vocês vão no campo, vocês vão separados?
R – Quando a gente vai em jogo – São Paulo e Corinthians a gente não vai junto, a gente assiste junto sempre em casa. O último que teve até um amigo nosso ligou: “Ah, vou dar uma passadinha aí”, ele falou: “Nem vem. Nem vem porque é dia de jogo, os ânimos não são muito bons. É melhor não vir”. Quando a gente assiste jogo juntos, mas assim, jogo do Corinthians que não é contra o São Paulo, eu vou com ele, neutra. Eu vou como mera telespectadora e vice-versa. Já teve jogo do São Paulo que ele foi comigo também, camiseta branca, normal. O problema é quando joga Corinthians e São Paulo, porque nenhum dos dois vai querer ceder, e nem vai conseguir também. Imagina, ele na torcida do São Paulo mesmo que neutro e o Corinthians faz um gol. Ele não vai se conter ou vice versa. Então é melhor que a gente assista em casa mesmo.
P/1 – E vocês já brigaram por causa disso?
R – Não, graças a Deus não e espero não brigar. A gente quando começa alguma discussão que a gente vê, ele fala pra mim: “Lembra o que nos uniu? Foi o futebol que nos uniu, vamos parar”, então nunca chegamos a nem levantar a voz um com o outro por causa disso. A gente conversa muito e a gente gosta muito do esporte. Então eu também sei reconhecer, por exemplo, que meu time não está bem, ou ele reconhecer que o time dele jogou mal. Se eu falo: “Nossa, o Corinthians jogou muito mal”, ele concorda comigo porque tipo realmente jogou muito mal. Ou: “O Corinthians jogou bem, não mereceu perder”, mas eu brinco assim: “No mundial, eu sempre torço pro time brasileiro”, e todo mundo fala: “Você torce pro time brasileiro porque nunca foi o Corinthians”, e quando foi o Corinthians, eu torci pro Corinthians. Só que eu falei: “Ó, eu vou torcer pro Corinthians, mas se o Corinthians perder eu vou zuar, lógico que eu vou. Aquele negócio, eu vou torcer, mas se perder eu não perdi nada, não é meu time que está jogando. Eu não vou chorar, não vou ficar triste, nada disso”, mas eu torço sempre pro time brasileiro. Torci pro Santos, torci pro Atlético, torci pro Inter que foi quem eliminou o São Paulo, na época, por que que eu não vou torcer por Corinthians? Nada a ver. A gente já chegou a começar uma discussão, mas sempre é ele que fala: “Lembra o que nos uniu?”, então se o futebol nos uniu, não é ele que vai separar. Então a gente nunca chegou nos finalmente de uma briga por conta de futebol não.
P/1 – Há quanto tempo você está grávida?
R – Eu descobri a gravidez em Novembro, no comecinho de Novembro, e não tinha parado ainda pra fazer os cálculos, e aí uma amiga nossa falou: “Nossa, vai vir na Copa”. E aí quando eu fui no médico a primeira vez a médica fez as contas no calendário, ela falou: “Você vai fazer 40 semanas no dia 15 de Julho”, e dia 15 de Julho é a final da Copa. Então ele tem, assim, se não quiser vim adiantado, ele tem do dia 12 de Junho ao dia 15 de Julho pra nascer. É exatamente no dia da abertura da Copa, ao final da Copa. E nós conseguimos ingresso pra ir pra Copa, um monte de gente aí brigando, fazendo filas e filas na internet pra conseguir ingresso, nós fomos sorteados pra assistir um jogo, mas foi pra assistir um jogo no Mané Garrincha, lá em Brasília, pro dia cinco de Julho, era o jogo, e aí tivemos que abrir mão do ingresso porque já pensou? Sem chance, né? Primeiro que não daria pra eu viajar de barrigão, segundo porque pode ser que eu já esteja com o nenê no colo. Acabou que infelizmente essa vai ter... Acho que não vamos ter outra oportunidade de assistir outra Copa do Mundo no Brasil, mas vai ser por uma boa causa.
P/1 – E tem expectativa se o nenê vai ser corintiano ou são-paulino?
R – Todo mundo brinca com a gente, fala que vai ser palmeirense, pra acabar. A gente fala: “Meu, a única coisa verde aqui na minha casa é o lixo”, então não tem chance de ser. Bom, eu não quis saber o sexo do bebê. Ele sabe, não sei, gostaria muito que fosse menino, até por ser parceiro, mais de estádio. Não que a nossa filha não vá gostar de futebol, porque acho que é praticamente impossível. Todo mundo fala: “Ah, a sua filha vai gostar de balé”,”Tudo bem, mas ela vai gostar de futebol, não tem como”, na minha casa não tem como. Mas a gente fala que a menina vai ser são-paulina e o menino vai ser corintiano até eles decidirem o que eles querem ser, mas fotos de bebezinho com a roupa do São Paulo vai ser pro resto da vida. Então se ela decidir depois que ela não quer gostar de futebol, que vai corintiana, eu vou falar: “Tá, mas quando você era pequena você era são-paulina”, tá aqui a prova disso. Então se for menino é corintiano, se for menina é são-paulina. Mas se ela quiser ser corintiana também, não tem problema.
P/1 – Bom Priscilla, aqui a gente falou da sua vida. Tem várias coisas que eu acho que a gente não perguntou, você não deixou registrado. Tem algum fato, episódio marcante da sua vida que você acha importante deixar registrado, que a gente não tenha tocado?
R – Ah, não sei, acho que com relação ao futebol mesmo, acho que as coisas mais marcantes que foram a Copa de 94 e o casamento em si, eu acho que foi dito. Acho que não... e o nenê, né, que também vai ser, já está sendo um fato bem marcante, mas acho que não me lembro de nenhum.
P/1 – Priscilla, quais são os seus maiores sonhos hoje?
R – Eu tava pensando nisso ontem. Poder saber o que me reserva no futuro. Esse seria o meu maior sonho, tipo “E aí, como vai ser? Realmente viver um dia após o outro? E aí, o que vai ser do meu emprego? Eu realmente vou me aposentar fazendo isso? Vou ter um plano B?”. Poder escolher a direção certa, continuar caminhando pelo melhor caminho. Não me arrependo de nada que eu tenha feito, nenhuma escolha. Acho que tudo foi feito certinho e hoje eu colho alguns frutos dessas escolhas, espero que no futuro esses frutos aumentem, que deem flores e tenha bastante histórias pra contar, boas sempre.
P/1 – O que que você achou da experiência de contar sua história de vida aqui no Museu da Pessoa?
R – Ah, eu acho que vocês fizeram eu puxar algumas histórias que eu nem me lembrava mais, algumas delas pode ser que saia daqui e fale: “Nossa, olha, quando ela me perguntou podia ter contado isso”, mas assim de imediato acho que foi uma bela recordação colocar a mente pra funcionar aí, buscando as coisas do passado. Foi bem bacana.
P/1 – Queria agradecer em nome do Museu. Super bonita sua história.
R – Muito obrigada.
FINAL DA ENTREVISTA
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