P/1 – Podemos começar? Então Dona Rosa eu vou pedir pra senhora repetir, falar de novo seu nome completo, o local e a data de nascimento, dia mês e ano.
R – Eu me chamo Rosalina Pereira dos Santos, eu nasci em 1928, dia de quarta-feira, quando eu nasci no mês de fevereiro.
P/1 – Que dia que era do mês? De número.
R – Foi no dia de quarta-feira, quando eu nasci o rei bateu na porta.
P/1 – Ah é?
R – É, eu fui nascendo e o rei foi batendo, aí o povo não queria cantar por causa de mãe que tinha parido, ela disse não, pode cantar, aí cantou Reis, eu nasci e nem escutei.
P/1 – E como é que chama a mãe da senhora?
R – Minha mãe chama Etelvina.
P/1 – E o que Dona Etelvina fazia?
R – Etelvina trabalhava na roça, nesse tempo não usava trabalho, todo mundo sabe que vivia por conta do marido, né, antigamente o marido depois que casasse com uma moça, ele tinha que dar no sabão à missa. E hoje me dia não, um trabalha pra aqui, outro trabalha pra acolá, né, e vamos vivendo, antigamente não, era só dentro de casa, lavar, se fosse de roça, era trabalhar na roça, era só movimento que as mulheres fazia.
P/1 – E o seu pai, como que ele chamava?
R – Meu pai chamava João.
P/1 – João? E o seu João também trabalhava na roça?
R – Meu pai trabalhava na roça e no garimpo, é, roça e garimpo. E depois que nós mudamos pro Remanso ele começou a pescar, mas ele vinha de lá pra aqui pra trabalhar.
P/1 – Como é que era fazer garimpo naquela época, dona Rosa?
R – Quando havia garimpo, ele chegava na serra e dava a cara no lugar, agora aí era juntar as pedras e tirando os cascalho, se tivesse água ali mesmo, lavava, se não tivesse, carregava pra onde tivesse água pra lavar, pra pegar o diamante.
P/1 – E a senhora lembra quando o seu pai chegava em casa com a pedra, com o diamante, o que ele fazia, ele ficava feliz, como é que era?
R – Ficava alegre porque tinha pego, aí mostrava a gente, tinha um picuá desse tamanho assim, ai ele chegava lá, botava na mão, mostrava à mãe, mostrava à gente, que aquilo é “encantador”, se caiu no chão, não acha, é muito cuidado, pra não cair no chão.
P/1 – O que é que é Encantado?
R – O diamante “encanta” no chão.
P/1 – Ah, entendi... E como lavrador, o que ele plantava?
R – Ele plantava milho, mandioca, batata, feijão, arroz, de maxixe, a abóbora de tudo que existe ele plantava.
P/1 – E tinha fartura nessa época?
R – Tinha fartura.
P/1 – É, e como é que foi a infância da senhora, as brincadeiras, o que é que vocês brincavam? As traquinagens.
R – Eu fazia muita traquinagem, eu era muito traquina, eu era. Eu pescava de anzol, eu trabalhava na roça, eu fazia de tudo, tudo que meu pai fazia eu fazia, vinha ao garimpo mais ele toda semana.
P/1 – A senhora ia pro garimpo também?
R - Eu ia pro garimpo mais ele toda semana, toda terça-feira eu vinha mais meu pai, nós trabalhava, eu via ele trabalhando e eu sentada porque ainda era de menor. Aí quando era à tarde nós voltava pra casa, daí dos Caldeirão pra Remanso, nós ainda atravessava o rio, nós não morava, hoje em dia não mora não, nós morava do lado de lá, atravessava o rio pra lá. Todo dia tinha uma canoa grande, trazia a gente, eu, todo dia, todo dia, eu dizia: “Ô pai, estou cansada, não vou não” Quando era no sábado, a gente ia pescar, sábado ia pescar e fazia alguma coisa de roça. Ele não gostava de roça dia de sábado não. A gente ia catar as coisas, pra segunda-feira trazer pra feira, pra fazer “arrumaçãozinha”, ia fazer. Que quando ele morava aqui ele tinha patrão. P/1 – Ah é? R – Que o patrão dava a feira à ele, ele ia pra garimpo, que quando pegava o diamante, aquela despesa ele pagava, e depois que a gente foi pra roça, a gente tinha feijão de corda, tinha feijão de arranco, tinha angu, pescava o peixe, tinha leite de coco com dendê. E com isso ele fazia a “revoluçãozinha” dele dentro de casa e não precisava patrão, e com isso a gente vivia e estamos vivo até hoje. P/1 – E qual era as brincadeiras, quando a senhora era criança R – A minha brincadeira era fazer uma casinha, fazer cozinha, mas ali era só mulher com mulher, não tem negócio de homem pelo meio não. P/1 – Não podia? R – A gente não queria não, aí a gente ia cantar roda, aí deixava os meninos-homem, que os pais ficava todos aí rodeados, fazia aquela roda e a gente ia brincar, também quando eram dez horas, todo mundo ia pra suas casas. P/1 – E assim, qual era suas traquinagens que a senhora aprontou? A senhora lembra de alguma peraltice da senhora, pelos campos? R – Eu não tinha tempo de sair não, ele não deixava não. P/1 – Ele era bravo? R – Ô O pai pra bater, ele demorava mas quando o pai pegava, e tinha um tal de palmatória, e a palmatória P/1 – Como que era palmatória? R – Palmatória era um trenzinho redondo assim, tinha um cabo, cabinho deste tamanho, ai ele mandou fazer essa palmatória, cada filho ele chamou, cada um ele deu 4 bolos. Mas o trem dói demais na mão da gente, eu pedia: “Ô pai me bate de cipó, me bate de correia, mas não bate com a palmatória não” Tomei-lhe um medo que o trem é ruim, viu. P/1 – É mesmo? E a senhora comentou que a senhora vinha buscar lenha aqui onde é o hotel hoje, conta como era isso. R – Aqui eu vinha buscar lenha, eu morava ali, aqui no alto da serra, é perto daqui, agora eu vinha catar lenha pra cozinhar, nesse tempo ainda não tinha fogão de gás, era só de lenha, eu vinha mais as companheiras, umas ainda é viva, outras já morreu, mais eu vinha todo dia, botava uma roça aqui e queria limpar, agora dava à nós lenha pra nós pra tirar, pra poder limpar a terra, aí a gente vinha e pegava lenha. P/1 – Dona Rosa, e nessa época lavava roupa no Rio Serrano, aqui? R – Lavava, no Serrano. P/1 – É, no Serrano, então conta pra nós como é que fazia pra lavar roupa, tinha que trazer roupa no balde, na bacia, como é que era isso? R – Trazia na bacia, trazia trouxa, outros trazia no carro de mão. P/1 – Equilibrava na cabeça? R – É, é, a bacia trazia na cabeça, nesse tempo eu não tinha carro de mão não, depois eu carregava era na cabeça, levava os filhinhos tudo pra fonte, nesse tempo eu tinha um bocado de menino, levava tudo pra fonte e nós ia lavar. P/1 – E deixava a roupa quarar, como que era? R – Deixava quarar e deixava enxugar, quando era muito, quando o sol era bom, deixava enxugar, quando era muito, enxugava um bocado e o resto levava pra casa. P/1 Porque que era melhor deixar enxugar no sol?
R - Aqui no Serrano era melhor enxugar, porque tinha pedra, a pedra quente, a gente botava e de repente enxugava e dentro de casa precisava fazer varal, às vezes tinha lugar muito curto, não dava de fazer varal, era mais ruim. P/1 Serrano que era bom? Á senhora brincava muito de Ciranda, de roda? É, a senhora lembra de algumas músicas nessa época?
R - Lembro mais não, estou muito velha. P/1 - É mesmo? Não dá para lembrar mais? E me diga uma coisa, a senhora casou quando, como que a senhora conheceu o marida da senhora?
R - Hum Eu casei não sei nem a data de quando eu casei, eu casei com 22 anos quando eu casei, casei não, ajuntei com ele depois que eu tive quatro filhos, nós casamos. P/1 – E como que ele se chama? R – Chama Domingos. P/1 - Domingos de quê? R – Domingos Ferreira dos Santos. P/1 - A senhora fugiu com ele como falava na época ou não, não precisou fugir? R – Não, fugi não. P/1 – Mais de quatro anos, já tinha quatro filhos, porque eu tinha vontade de me casar, né? Toda vida eu pedia a Deus para mim me casar, ajuntar na beira de um toco que não precisava viver com a cuia na mão, pedindo um e pedindo outro. E Jesus me ajudou, que eu arrumei esse e não deu tempo para casar, na época, mas eu a caprichei e me peguei com Deus e Deus me ajudou. Eu me casei, me casei e vivemos. P/1 – Conta como foi o casamento da Senhora, foi aqui... R – Foi no Remanso, época de festa então teve muitos casamentos. P/1 – Que igreja? Tem igreja lá no Remanso, não conheço. R – Tem, lá a igreja, o Padre realizava missa todo ano, como ainda vai ainda, ai a gente se casou. P/1 – Mas aí, foi um casamento que casou um monte de gente? É isso. R – Casou um monte de gente, casou a irmã dessa, casou um bando de gente mesmo... P/1 - E como que era o vestido da Senhora?
R - Vestido? Meu vestido era lindo, casou uma mulher que tem ali que se chama Sissi, um bando de gente que eu já esqueci, veio muita gente de fora para p Remanso para casar. A festa foi mesmo, a festa lá era oito dias de festa, trabalhando de dia e brincando a noite. P/1 – O que fazia a cada dia? O quer tinha nessas festas a cada dia? R – A festa agente brinca, quando era noite era hora de brincar, cantar roda, cantar samba e bebia. P/1 - Bebia muito? O que bebia, cerveja?
R - Bebia um bocado, bebia tudo, era cerveja, era vinho, era cachaça, era guaraná, tudo quanto era bebida, se bebia. P/1 - E quais eram as comidas que tinham nessas festas?
R - Comida, tinha era peixe, carne, no dia mesmo da festa, matava mesmo um boi, porco matava. Era muita espetada de carne. P/1 – E as crianças participam? As crianças participavam da festa, podia?
R - Todo mundo, tanto tinha gente que chegava gente, vinha gente de Andaraí, montavam barraca, levava oito dias de barraca, só comendo e vadiando. P/1 – Vadiando? Porque dançando, bailando, é?
R - Vadiando, é, sambando, ou dançava ou sambava. P/1 – E esse samba dançava de par ou sozinho, como que é isso?
R - Dançava de par, nesse tempo era o pai de seu Aurino que era sanfoneiro. P/1 – Ah, seu Aurino que é sanfoneiro também.
R - Era o pai dele, agora o pai morreu, ele ficou sendo sanfoneiro. P/1 – Ele herdou? E que música cantava nessa época dona Rosa? A senhora lembra, de sanfona, de samba?
R - Eu lembro, umas coisas eu lembro e outras não, é muito samba, o samba vai sambando, vai esquecendo. P/1 – O que é que era bom nessas festas?
R - O quê que era bom? Que união, todo mundo brincava alegre, não tinha arrelia, não tinha aborrecimento nenhum, por isso todo mundo achava bom, e a gente brincava, brincava à vontade. P/1 – Ia até que horas a festa?
R - Ia até o amanhecer, uns iam até amanhecer, uns iam ate quatro horas, os homens que trabalhava, às vezes ficava até umas duas horas, ia dormir um pouco, uns iam pro rio pescar, uns iam para roça trabalhar e portanto era durante esse tempo todo. P/1 – E ai, durante oito dias era essa festa?
R - Era nove dias só, de noite é nove, nove dias de novena. P/1 – Festança hein? Dona Rosa como é que a senhora conheceu o Márcio?
R - Eu nem sei como foi que conheci o Márcio, conheci o Márcio que a gente foi labutando por aqui, eu ia correndo mais menina porque senão não via ele, não sei como começou nossa amizade que eu não sei como é que foi. P/1 – Faz muito tempo essa amizade?
R - Tem uns quatro anos assim. P/1 – O beleza hein? E aí a senhora ensina o Márcio algumas coisas, cantigas, o que a senhora ensina o Márcio? A senhora pode cantar para gente?
R - Posso. P/1 – O que é que a senhora canta para gente? A senhora quer uma água? Tomar um fôlego?
R - Quero.É bom P/1 – Vamos dar uma paradinha, pegar uma água.
R - A gente canta as cantigas, é ele quem puxa e a gente aprende e canta, e só na caminhada. P/1 – Desculpa, a senhora ia falar alguma coisa?
R - Nós canta mulher rendeira, é, mulher rendeira. P/1 – Quer cantar pra gente? Vamos.
R - Posso cantar? P/1 – Canta junto dona Lina, então como é que começa? Pra gente aprender, preciso aprender também. R – “Ô mulher rendeira, ô mulher rendá, você me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar. Lampião desceu a serra, vai de cajazeiro, pra caçar moça bonita, pra cantar mulher rendeira. Ô Mulher rendeira, ô mulher rendá, você me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.” P/1 – Essa é bonita.
R - Precisa ver como é linda aquela que ele fala do chapéu, mas não é daquele jeito que ele canta, não. P/1 – A do chapéu?
R - Eu esqueci agora. P/1 – Mas e outra que vocês cantam com ele, como é que tira? Dona Lina, como que é essa?
R - (Canta D. Rosa e Lina) Bebeu, bebe... Gabiraba, Lá no Bebedouro, Gabiraba, Meu Chapéu caiu, Gabiraba, Meu amor panhou, Gabiraba. P/1 – Que lindo Essa musica é daqui da região? É, vocês aprenderam de que, de criança?
R - De criança. P/1 – E tem mais alguma que vocês cantavam? Canta ainda.
R - Mai Márcio? P/1 – Aquela do papagaio, periquito, vocês cantam essa?
R - Periquito Maracanã? Canto. P/1 – Canta então a música Periquito Maracanã, é essa?
R - (Lina e D. Rosa) Periquito do Maracanã, cadê sua Iáiá Periquito Maracanã, cadê sua Iáia. Faz um ano, faz um dia que eu não vejo ela passar. Faz um ano, faz um dia que eu não vejo ela passar. P/1 – Bom né? Quer mudar? P/2 – Vamos mudar, daí eu pego o microfone. P/1 – Depois a gente grava.
R - O pai dele e outro, o homem chamava Mane Rico. Aí ele ia pra casa chamava pai, pedia pai, botava nós pra cantar, eu e minha irmã, chamava Maria, ai nos ia cantar, dava quatro tostões naquele tempo, cantava pra ganhar dinheiro, não tinha isso ai não, tinha um rapaz de lá da Piranha, ele vinha pra aí. Aí botava nós pra cantar, já achava bonito ver uma irmã cantar eu não tinha essa voz ruim, mas a voz dela era melhor que a minha, e botava nós, já achava bonito. P/1 – E vocês cantava aonde?
R - Nós cantava lá em casa, já foi lá do outro lado da roça e aqui Seu Mané Rico botava nós pra cantar e nós cantava, não sei se a voz dá.
R - Minha voz tá danada pra cantar, viu P/1 – Será que é por causa dessa chuva?
R - Eu não sei “Eu vou-me embora, é mentira não vou não.Ôô eu não devo nada. Quatro cachinhos de banana madura. Quatro laranjas descascadas. Quatro periquitos vive no arroz. Quatro sardinhas no molho. Quatro morenas na sala dançando. Mas eu, bonita a radiar aí meu benzinho eu não devo nada.” Nós cantava pra ganhar dinheiro. P/1 – E tinha acompanhamento de sanfona, viola?
R - Não, era só nós meninas só, acho que é porque ele achava bonito nós cantando lá. P/1 – Era a senhora e mais quem?
R - Eu e minha irmã. P/1 – Formavam uma dupla?
R - Chamava Maria ela. P/1 – Rosa e Maria.
R - É, era Rosa e Maria. P/1 – E quem que treinava vocês assim, pra ensaiar?
R - Era Mané Rico, o homem chamava Mané Rico, já morreu há muitos anos. P/1 – Ele era daqui?
R - Era daqui, garimpeiro forte. P/1 – Dona Rosa, depois que a senhora conheceu o Márcio, vocês tem ido fazer umas caminhadas, não tem? Conta pra gente como surgiu essas caminhadas, o que acontece nelas?
R - Acontece que a gente vai, chegando lá a gente senta, prosa, nunca fizemos festa não, das vezes quando a gente faz é no Remanso, a gente vai lá, faz umas festinhas, quando tem algum encontro e depois vem embora. P/1 – E a senhora tem ido à escola também? Na escola como é que é que a senhora chega lá?
R - Já chega cantando. P/1 – Com o Velho Griô?
R - É com o Velho Griô, já fomos assim no Serrano. P/1 – E as crianças, como é que recebem a senhora?
R - Recebe, recebe e fica tudo sentado, com respeito, levanta tudo e bate palmas, dá uma volta e todo mundo senta, agora a gente vai rodar todo mundo. P/1 – E a senhora ensina essas músicas pra eles, como é que é?
R - Nunca ensinei não, só espero o que vem de lá. P/1 – E o que a senhora acha do trabalho do Márcio assim como Velho Griô.
R - Acho beleza, adorei muito, só tenho sentimento que hoje em dia eu vivo muito satisfeito, muito alegre de conhecer vosmecês e eu não esperava não, que Deus promete não falta, mas não vive muito, muito alegre só por causa disso. Só basta porque não tenho vista, não tenho mas voz, não posso nem fazer mais “frorear” do mesmo jeito. P/1 – O quê que é “frorear”?
R - Florear é o que faz ou que a gente sabe, e não mete vergonha. P/1 – Dona Rosa, a senhora conhece assim, plantas medicinais, assim, pra que é que serve, erva cidreira, a senhora sabe essas coisas?
R - Erva cidreira eu conheço. P/1 – Mas a senhora não ensina isso à escola?
R - Sim, eu ensino as crianças. P/1 – É, e o quê que a senhora ensinou nessas coisas?
R - Ensinei, quando eles estiverem com dor de barriga, fazer o chá de erva cidreira ou capim santo, quando a comida fazer mal, fazer chá do capim caboclo ou do boldo. Mas depois eu deixei de ensinar porque hoje em dia, tudo é medico, tudo é médico, quando as mães ás vezes fazem, ainda fazem com mais cuidados, e crianças não vai ter o que gases, permitir que tanta coisa, deve se sentir mal, ou vai ver foi à gente que ensinou, e deixou de ensinar. P/1 - É melhor não aprender errado, mas quando a senhora era criança, remédio era só assim, de chá de plantas?
R - Só de chá. P/1 – E com quem a senhora aprendeu essas coisas?
R - Eu aprendi com minha mãe, minha mãe fazia muito chá pra dar pra gente. P/1 – E Dona Rosa, naquela época como as mulheres ganhavam neném, no hospital ou em casa?
R - Em casa, nos não conhecia o que era hospital não, fizeram em casa, aquelas parteiras velhas que vinham quando mães da gente estava pra ganhar neném, elas traziam e botava em casa agora do dia que chegasse e o dia da criança nascer, se morasse perto não precisava, mas se morasse mais longe vinha pra dentro de casa até o dia da criança nascer. Quando nascia com três dias ela ia embora e a mãe ia cuidar da criança dela. P/1 – Quem que era parteira aqui na região, tinha uma pessoa, tinha mais de uma?
R - Tinha mais, no tempo que eu era menina, já não tem mais nenhuma, não tinha mais nenhuma, ela morava lá nos Três Varão, lugar para cima do outro lado do rio como nem sei mais como ir lá mais, chamava três Varão, arriba do 108. Hoje em dia está tudo mudado, que tudo é fazenda, tudo mundo tem seus terrenos. P/1 - E a senhora teve seus filhos em casa ou no hospital?
R - Todos em casa. P/1- Quem que fez o parto, a mesma parteira?
R - Não, quem fez o parto, dois foi minha irmã e os outros teve outra parteira. P/1 - E assim, o que a senhora acha de importante desse encontro da Ação Griô, aqui em Lençóis, o que a senhora acha, o que a senhora viu lá na festa lá em baixo, que a senhora acha de importante?
R - É importante porque eu achei beleza mesmo, porque todo mundo alegre e tudo organizado. P/1 - A senhora está gostando? R – Estou gostando. P/1 - E esse trabalho que o Márcio e a Lílian fazem é importante?
R - É, pra mim é. P/1 - Porque que é importante?
R - Porque é um povo dedicado, quando a gente está doente eles não esquecem, sempre coopera, achei importante, acho muito importante. P/1 - Eles tem muito carinho com a senhora, né?
R - Tem, e muito, só não eu como minha família. P/1 - É né, então ta bom dona Rosa a senhora acha que ficou faltando alguma coisa, pra falar da entrevista?
R - Acho que não. P/1 - Está de bom tamanho?
R - O que está na minha memória, acho que já falei tudo. P/1 - Então está jóia, então quero agradecer aqui, a senhora ter vindo conversar com a gente. Obrigada viu.
R - Obrigada, a senhora também e vai desculpando as palavras erradas, você me desculpa. P/1 - Que isso imagina, a gente está aqui para ouvir a senhora está? Então obrigada. Agora a gente vai mudar e fazer a entrevista da dona Lina.
Recolher