Newton Carneiro da Cunha, nasci em 9 do 7, 9 de julho de 1955, em São Paulo.
PAIS
João Carneiro da Cunha e Diva Lira da Cunha. Meu pai, depois que foi para São Paulo entrou na Polícia Militar - na época não era Polícia Militar, era Força Pública, né? Depois da Força Pública, quando se transformou na Polícia Militar, entrou na Polícia Florestal. Por isso vivemos em várias partes do Estado de São Paulo. Morávamos perto dos parques do Estado. Por exemplo, depois que saiu de São Paulo ficou em Santos, por conta da Serra do Mar, aí depois foi para o interior, na Alta Paulista - é uma cidade chamada Dracena, tem muito pouco ali, mas era. Depois voltou para São Paulo e ficou naquela região de Itapecerica da Serra, que tem uma grande reserva do Estado, naquela região de Registro, naquela região que pega todo o alto da Serra mais para o Sul. Depois ficou em São Paulo até se reformar.
Meu pai a princípio apoiava a ditadura, porque eu tenho vaga lembrança de quando eu estava em Dracena de algumas movimentações por conta da luta armada no campo. Então ele, como era da Polícia Florestal e conhecia as reservas - eu sei aí também por histórias - ele levava. Conhecia a região e indicava. Quando precisavam de alguém - o alto comando aqui, tanto da Polícia Militar quando do Exército – ele é quem dava ou conhecia a região e levava para as regiões em que tinham interesse. Mas também eu lembro que quando nós saímos de Itapecerica e voltamos para São Paulo, eu entrei na Escola Técnica Federal em São Paulo - foi no auge do regime militar em 72 -, e ele ficava muito preocupado porque lá na Escola Técnica Federal a gente tinha um núcleo que começava a discutir o movimento estudantil. Aí tinha um núcleo que começava a discutir política - e ele nunca soube disso; só veio a saber muitos anos depois -, mas foi o primeiro movimento ali, e ele tinha muita preocupação quando a gente começava a ser adolescente por...
Continuar leituraNewton Carneiro da Cunha, nasci em 9 do 7, 9 de julho de 1955, em São Paulo.
PAIS
João Carneiro da Cunha e Diva Lira da Cunha. Meu pai, depois que foi para São Paulo entrou na Polícia Militar - na época não era Polícia Militar, era Força Pública, né? Depois da Força Pública, quando se transformou na Polícia Militar, entrou na Polícia Florestal. Por isso vivemos em várias partes do Estado de São Paulo. Morávamos perto dos parques do Estado. Por exemplo, depois que saiu de São Paulo ficou em Santos, por conta da Serra do Mar, aí depois foi para o interior, na Alta Paulista - é uma cidade chamada Dracena, tem muito pouco ali, mas era. Depois voltou para São Paulo e ficou naquela região de Itapecerica da Serra, que tem uma grande reserva do Estado, naquela região de Registro, naquela região que pega todo o alto da Serra mais para o Sul. Depois ficou em São Paulo até se reformar.
Meu pai a princípio apoiava a ditadura, porque eu tenho vaga lembrança de quando eu estava em Dracena de algumas movimentações por conta da luta armada no campo. Então ele, como era da Polícia Florestal e conhecia as reservas - eu sei aí também por histórias - ele levava. Conhecia a região e indicava. Quando precisavam de alguém - o alto comando aqui, tanto da Polícia Militar quando do Exército – ele é quem dava ou conhecia a região e levava para as regiões em que tinham interesse. Mas também eu lembro que quando nós saímos de Itapecerica e voltamos para São Paulo, eu entrei na Escola Técnica Federal em São Paulo - foi no auge do regime militar em 72 -, e ele ficava muito preocupado porque lá na Escola Técnica Federal a gente tinha um núcleo que começava a discutir o movimento estudantil. Aí tinha um núcleo que começava a discutir política - e ele nunca soube disso; só veio a saber muitos anos depois -, mas foi o primeiro movimento ali, e ele tinha muita preocupação quando a gente começava a ser adolescente por conta da repressão. Tinha medo assim, não que não soubesse da questão política, mas ele tinha medo que se fizesse, que se aprontasse alguma coisa na rua, se fosse pego, o que fazia, então eu acredito que ele tinha conhecimento de como que era isso.
A Policia Florestal foi uma opção dele, eu acho que foi uma opção. Ele gostava muito, porque ele conhecia, eu lembro. Ele tinha amostras de madeira do Estado, ele tinha uns toquinhos de madeira do Estado, ele tinha catalogado do Estado inteiro a madeira, mostrando o que era maroeira, uma canela, um monte de coisas. Eu acho que ele reuniu o material, ele reuniu o material, talvez tenha sido até por conta do pai, né, do meu avô ter sido de serraria, pode ser, nunca conversei - engraçado, nunca tinha feito, nunca fiz essa associação e nem conversei com ele sobre isso, mas pode ser. Chegando, conversando agora pode ser que tenha alguma coisa a ver.
AVÓS
Severino Carneiro da Cunha com Carminha Carneiro da Cunha, e do meu avô materno eu não lembro agora. Nem da avó, porque eles morreram muito cedo, nem minha mãe mesmo conheceu. Eles eram de Pernambuco, Estado de Pernambuco. Minha mãe nasceu lá, e meu pai nasceu lá. Meus avós paternos também eram de lá, de Vitória de Santo Antão, terra da Pitú, a cachaça Pitú. Meu avô era dono de serraria. Meu avô paterno, dono de serraria, tem poucas histórias também, porque eu só vim a conhecer quase no final da vida deles, dele, né? Eles nunca vieram para São Paulo, meus pais casaram lá e logo depois do casamento vieram para o Rio de Janeiro, aí acho que passaram 1 ou 2 anos no Rio e depois ele veio para São Paulo, aí ficou em São Paulo o tempo todo.
LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA
Quando eu fui para Dracena eu lembro que tinha, quando eu fui para lá 6 a 7 anos, ficamos até uns 10 anos. Aí depois de lá nós voltamos para São Paulo. Aí ficamos, até os 5 anos estava em São Paulo, depois ficamos um período em Santos - desse período eu não lembro - e depois no interior e depois voltamos para São Paulo. Em Dracena são poucas lembranças, porque era o início da infância, com 7 anos. Nós ficamos lá uns 4 anos, aí já começa a recordar um pouco. Mas interessante, o que marca daquela época é que tinha trem quando a gente vinha para São Paulo; o meio de locomoção era o trem, ainda tinha aquele trem-restaurante, tinha trem leito, coisa que hoje não existe mais. Mas essa passagem marca a cidade do interior, né, cidade do interior. Eu gostava de andar de trem. O trem chegava na estação da Luz. Não tenho idéia de quanto tempo de viagem, sei que era mais ou 1 dia de viagem, não, mais de 1 dia porque, não tenho esta certeza, porque tinha carro leito, talvez fosse umas 12 horas, 13 horas de viagem, por aí.
Eu saí com 11 anos, cidade do interior que naquela época você tinha livre, ia para a escola o pessoal em bando, solto. Tinha um clube de campo a que a gente ia que era muito bom - a cidade parecia já um campo, mas tinha um clube de campo de que eu tenho poucas lembranças, em que a gente se divertia nesse clube porque tinha um lago e tinha barco. Então foi uma infância boa, nesse aspecto. Eu morava em casa. Tinha quintal, cachorro, árvores, tinha direito a todas essas coisas boas, que hoje não tem muito mais, quem mora na cidade grande.
ESTUDOS EM COLÉGIO DE PADRES
Começou lá a vida escolar, aí terminei, ainda estudei 6 meses, antes de sair de lá ainda estudei 6 meses num colégio de padre, num colégio interno, fiquei num colégio interno. Era numa cidade próxima a Dracena, era em Araçatuba. Porque eu ia muito mal na escola, brigava muito com os irmãos, meu pai achou que era a medida corretiva colocar num colégio interno; foi o prêmio que eu recebi. Foi traumático, pela forma de ir. Chega lá, comecei a ter assim regras, porque você acordava muito cedo, tinha que acordar, tinha que rezar e ficar o tempo todo, só depois que ia tomar o café - acho que era uma hora de missa que tinha, a partir das 6 horas da manhã. Nós dormíamos em dormitórios, acho que eram 30 pessoas que tinha lá. Era um colégio muito grande, que se chamava Dom Bosco. Nós éramos internos de lá, não éramos seminaristas - porque tinha a parte de seminarista também, mas era separada. Então foi a primeira vez que começou a ter a questão de regras, foi aí, acho que a experiência foi boa, traumática, mas boa - começou a dar a questão da responsabilidade e ter uma outra visão. Meu pai era rígido, tanto que para ir parar num colégio de padre por conta disso era bem a característica dele, de militar. Minha mãe, como a gente vem de uma cultura - eles vêm de uma década lá, década de 20, 30, é uma outra cultura, minha mãe foi sempre assim, a mulher era mais submissa, né? E ela sempre fez esse papel de mulher e ainda de um militar, então - era mais aquela questão mesmo: ficava com dó, chorava, como chorou muito quando eu falei que não queria que fosse para esse colégio, mas ela era sempre assim, acatando as decisões do meu pai.
No começo foi muito - uns 2, 3 meses, porque eu fiquei pouco tempo – traumático, e depois, lógico, o ser humano vai se adaptando. E mesmo sendo criança você começa a se adaptar às coisas e tem assim algumas lembranças, alguns passeios bons. A questão da disciplina que ficou muito na minha cabeça e a gente não podia fazer muita arte, talvez pelo pouco tempo que estivesse lá, com as pessoas não deu para fazer muito a questão de arte, mas talvez se ficasse mais tempo daria.
Eram padres salesianos. O ensino era bom, a recordação que tenho do estudo -principalmente de latim; foi a primeira vez que tive contato com latim, a primeira e única vez que tive contato com latim foi lá, isso dava assim uma diferença muito grande. Depois a gente termina sentindo falta da continuidade disso. Foi pouco, 6 meses, porque aí foi mais por causa da mudança também, porque fim desse tempo foi quando meu pai voltou para São Paulo e aí de São Paulo para Araçatuba naquela época ficava muito mais longe, e eu devo ter melhorado na visão dele depois, porque não precisou mais. O único que passou por essa experiência fui eu. Sou o mais velho, talvez tenha sido usado como exemplo.
Voltei para São Paulo com 12, talvez 12 ou 13 anos, eu posso estar errado aí em um ano, mas era talvez 12 anos. Aí nós viemos para São Paulo, ficamos pouco tempo em São Paulo e fomos para Itapecerica da Serra. Itapecerica é uma cidade bem perto de São Paulo, que hoje pode ser considerada Grande São Paulo. Mas na época era como se fosse assim, eram culturas completamente diferentes de Itapecerica para São Paulo, embora fosse a distância geográfica muito pequena, mas era como se fosse uma cidade do interior também naquela época. Nesse intervalo - só questão de um ano para ir pra Itapecirica da Serra. Lá nos moramos perto do Horto Florestal. Não havia alojamento, nada, era sempre a ida, tinha que chegar e procurar casa; meu pai procurava casa.
GINÁSIO
A vida em São Paulo não foi muito diferente, porque na época também no Horto Florestal é como se estivesse vivendo num campo. Na época, aquela região do Horto Florestal tinha muita mata, era distante, e tenho poucas lembranças também dessa época, mas não foi muito traumático por conta disso. E aí logo depois nós fomos para Itapecerica da Serra, que voltou a ser para nós como cidade do interior. Aí lá a vida assim de adolescência era aquela questão lá, caçava de estilingue na mão e ia nadar em lagoa - tinha um bairro chamado Lagoa, que tinha as lagoas, a gente ia para lá nadar e lógico que apanhava quando chegava em casa, quando pai e mãe descobriam que tinha ido nadar na lagoa levava uma surra - e foi assim.
Em Itapecerica nós estudávamos num colégio publico. Na época era o ginásio já, a gente chamava ginásio, um prédio muito bonito e grande como eram as escolas públicas - não existia escola particular - me lembro, bem cuidado, com cortinas, um lugar bem agradável.
ESCOLA TÉCNICA FEDERAL
Em 1972 nós mudamos para São Paulo. Meus pais todos voltam, a gente volta a morar perto do Horto Florestal e ficamos em São Paulo, aí em 73 eu estava na Escola Técnica Federal.
Não digo que começa a militância - acho que começou, foi uma fase em que a gente começou a ter uma discussão, em que eu iniciei e começou, eu não sei se por conta disso, que foi 72, 73 – é, 73. Aí, por conta disso, eu sei que meus pais mudam, ele sai da Polícia Florestal, tem alguma coisa aqui nesse ano que teve problema, eu não sei se ele não concordou com alguma coisa que estava arrumando na política da Polícia Militar, já era Polícia Militar, por conta dessa questão de repressão. Ele foi transferido para São Sebastião, lá no litoral, saindo da Polícia Militar, saindo da Polícia Florestal, indo para São Sebastião. E aí eu fiquei em São Paulo, concluí o curso na Escola Técnica, lembro que ele ficava muito preocupado em eu ter ficado em São Paulo sozinho, mas não teve efetivação na militância, porque teve uma repressão muito grande na Escola Técnica Federal. Eu lembro das pessoas que tinham a questão política, mas foram afastadas de lá, uma coisa que a gente não soube, foram afastadas, aí ficou um negócio meio amorfo lá na Escola Técnica Federal. Pararam de freqüentar e aí não teve grandes movimentos por conta disso, não. Eu morava com uns parentes nossos, morava com um primo distante que tinha quase a mesma idade e fiquei dois anos nessa vida, de 73 até 75. Também, era lá perto do Horto Florestal, já um outro bairro perto, eu não me lembro o nome do bairro, mas já não era no Horto Florestal, na região do Tremembé. Cantareira, exato, exatamente no pé da Serra da Cantareira.
A Escola Técnica Federal era na época ali no centro, perto ali do Minhocão, na continuação da avenida São João, eu esqueci o nome agora - Amaral Gurgel, é uma travessa ali da rua Helvetia, hoje acho que é do MEC, alguma coisa do MEC lá, a Escola Técnica Federal era ali. Hoje é lá do lado da Marginal do Tietê, perto do campo da Portuguesa, mas na época, não, na época era lá na Helvetia, não lembro o nome da rua agora.
Meu curso era de eletrônica. Era o que estava começando, surgindo na época - na verdade, o primeiro ano eu comecei a fazer mecânica, aí logo surgiu o curso de eletrônica, que começou a ser assim para todo mundo: “A eletrônica vai surgir e tal”. Foi quando eu fiz, fui para eletrônica, fiz o primeiro ano de mecânica e depois de eletrônica. A escola era disputada, porque você estava lá, era o primeiro vestibular, né, que eu lembro de fazer concurso. Não, acho que antes da escola você tinha um, na época que eu lembro você tinha a questão da admissão, eu não lembrava, uma questão, que era um pré-vestibular, era admissão de você passar do ginásio para o colégio. Aí na época eu optei pela Escola Federal e aí fiz o vestibular da Escola Federal, acho que até hoje ainda tem esse pré-vestibular, né, eu não sei como é o nome, mas aí foi quando eu fui para a Escola Federal. De escolas assim eu lembro que eram poucas escolas que tinham aparelhagem da Escola Técnica. Na época eram impressionantes os laboratórios, coisa que não existia na grande maioria das escolas. Na verdade eu estava um pouco empolgado, queria, mas quando veio essa questão da Petrobras, e que mexe muito mais com outras coisas - mecânica, é muito mais voltada para mecânica, eu me empenhei mais com a parte mecânica, porque na operação em que fiz o concurso, e depois, entrando na Petrobras, ela mexia com toda, ela envolve mecânica, eletrônica, envolve todas as áreas, porque você tem que ter conhecimento geral. Então aí deixei um pouco de lado essa questão especifica de eletrônica.
VIAJANDO PELO BRASIL
Eu trabalhava numa casa de artigos religiosos, era um atacadista de velas e artigos religiosos, artigos religiosos não, artigo de umbanda - na época era muito engraçado, não tinha nada a ver com isso, mas comecei a trabalhar com isso, aí antes tinha começado a trabalhar na venda interna no balcão e depois passei a ser vendedor externo. E aí comecei a viajar muito, aqui primeiro no Estado de São Paulo e depois para alguns Estados do país, principalmente para o Nordeste. Quando comecei a viajar eu estava no terceiro ano, aí eu parei. Por conta das viagens aí eu não terminei o terceiro ano, aí só vim a terminar o curso muito tempo depois - inclusive nem pela Escola Técnica Federal, terminei em outra escola, depois de ter entrado na Petrobras. Eu só tenho os dois primeiros anos, que foram expedidos, mas o diploma saiu por outra escola. Acho que a perspectiva de começar a viajar, com 18 anos, 18 para 19 começar essa questão de viajar, aí abandonou um pouco, a questão da escola foi renegada por conta disso, a oportunidade. Meu pai não queria, foi um pouco traumático porque ele não queria e tal, mas já não tinha muito mais aquele rigor – lógico, quando você se afasta, os vínculos começam a ser diferenciados, e foi isso que aconteceu com meu pai.
Meu pai queria que os filhos fizessem curso superior. Sempre cobrou, mas aí, depois, quando entro na Petrobras, que aí achava que ia ficar lá em São Sebastião, aí ele ficou mais calmo. Mas aí depois eu falei que não queria ficar em São Sebastião justamente para continuar os estudos e foi por um desses motivos que eu não fiquei em São Sebastião, para dar continuidade nos estudos, que eu queria fazer, aí eu já tinha optado por fazer mecânica. Eu comecei a gostar da área de mecânica, mas aí terminou, porque o serviço de operação é serviço de turno, e quando você começa no turno muda completamente o que é a vida - você começa a ter um relacionamento completamente diferenciado e tal.
SOZINHO EM SÃO PAULO
Aos 18 nos fico sozinho em São Paulo. Sem o pai militar por perto, não pude ter muita essa questão, porque eu tive que começar a trabalhar também. Então quando você começa trabalhar e estudar, não sobrava muito tempo, mas sim a sensação de liberdade e tal. Para quem vivia sempre sob o julgo do pai, militar e muito rígido, foi uma experiência nova. Não foi muito assim de liberalidade, porque não tinha, não podia mais por conta do trabalho, tinha que começar a trabalhar, que foi uma das formas de eu ter ficado e não ter ido para São Sebastião na época com ele foi por conta disso, de estar trabalhando e aí de ter ficado. Meus irmãos foram com ele, eles eram menores.
São Paulo nos anos 70 era... Fora que eu me lembro de muitas barreiras que existiam, comandos que paravam os carros nesta questão, mas fora isso São Paulo era bem mais tranqüila. Eu não lembro de – engraçado, eu não tenho lembrança de violência, de alguma coisa assim, sinceramente eu não lembro. Lembro que muitas vezes a gente adolescente, saía, bebia, ficava, nunca tivemos problema nenhum. Então essa lembrança de São Paulo nessa época são lembranças boas. A única coisa é que de vez em quando você encontrava barreiras policiais. Eu lembro que era muito forte quando você encontrava numa barreira os policiais, a forma de abordagem era muito dura, a desconfiança, era muito dura. Não sei se talvez por a gente ser na época estudante e tal, tinha repressão ao movimento estudantil, mas fora isso eu não lembro de problema.
Eu gostava muito daquela região do Horto Florestal, lembro que era época de bailinho e tinha muito bailinho na – engraçado, o bailinho, se pensar bem, era do lado do salão da igreja, os bailinhos na época. A gente fazia aquela festa ou, num final de semana um dos programas melhores que tinha era quando pegava o Fusquinha e descia pra Santos; descia pela Serra velha para não pagar o pedágio, porque ainda tinha a Serra velha. Mas o mundo era ali naquela região do Horto Florestal, como se fosse colônia, se conhecia todo o pessoal que ia para os bailinhos namorar ou coisa assim. Não tinha essa freqüência de ir no cinema no centro e tal, era um passeio realmente, mas era mais raro, o pessoal ficava mais nos bailinhos mesmo, era mais a vida de bairro, no centro já trabalhava e nos finais de semana ficava nos bairros. Esse primo com que eu passei a morar tinha um Fusquinha, porque ele era mais velho, aí a gente se juntava, fazia a caixinha para poder juntar o dinheiro para botar gasolina para ir no sábado passear, fazer aquele programa de farofeiro: descia no sábado, passava a noite lá, dormia na praia e depois voltava no domingo todo queimado, cheio de areia, de ressaca.
Na época para você ir para São Sebastião era uma aventura. Eu lembro que demorava, a viagem de ônibus era de 6 horas, saindo de São Paulo, por Santos. Eram 6 horas se não ficasse atolado no areal, porque não existia estrada, passavam muitos trechos da estrada pela praia, e quando subia a maré você não passava. E era isso - de ônibus era 6 horas; de carro devia demorar umas 4 horas e meia. Então era difícil a ida, mas muito interessante, porque São Sebastião na época era bem mais primitivo. A única coisa de novo que tinha em São Sebastião era justamente o terminal da Petrobras, e foi quando começou o desenvolvimento. E quando chegava em São Sebastião eu achava que a Petrobras era um mundo, porque foi a primeira assim, você em São Paulo você não tem dimensão do que é a Petrobras, porque você não tem, você não encontra elementos. Porque São Paulo é muito grande. Quando eu comecei a ver aqueles primeiros tanques enormes que existiam em São Sebastião - e mais impressionante ainda, os navios, os tamanhos dos navios, porque naquela época, na década de 70, a maioria do nosso petróleo vinha de fora, e o único porto que recebia era o porto de São Sebastião, o porto da Petrobras de São Sebastião. Então a primeira vez que eu vi um navio daqueles lá eu achei uma coisa impressionante o tamanho que era, a magnitude, foi um dos primeiros contatos que teve.
INGRESSO NA PETROBRAS
Em 74 nos jornais em São Paulo eu tinha visto a chamada para concurso da Petrobras lá em Campinas, para a Refinaria de Campinas, eu fui fazer o concurso, não passei na época, aí com essas idas, em 75, quando eu fui uma vez a São Sebastião, meu pai falou: “Ó, vai ter concurso aqui, por que você não tenta?” A princípio assim eu resisti. Eu falei: “Fazer concurso para vir aqui para São Sebastião não quero”, mas terminei fazendo, e no concurso em São Sebastião passei, aí terminei indo para São Sebastião por conta disso.
Foi interessante chegar a São Sebastião, porque São Sebastião como naquela década de cidades mais afastadas tinha poucas pessoas de fora, quando você chegava aí que eu me lembro da minha turma só tinha de fora, só tinha eu de São Paulo e um outro companheiro de Santos. E muitas pessoas também da redondeza e do Vale do Paraíba, mas que eram consideradas mais ali da região. Então de fora só tinha eu, que vinha de São Paulo, e tinha esse outro companheiro, que depois saiu da Petrobras de Santos. No começo é muito bom, você chega numa cidade do interior que na verdade é interior, embora litoral. Então você começa a conhecer todo mundo, você tem uma vida diferenciada. Da cidade grande você chega numa cidade pequena, foi interessante isso aí. Então o primeiro ano - e o único que eu fiquei lá - foi interessante, a gente lidava era como estrangeiro, forasteiro, então essa relação era interessante. Mas também sentia falta da vida, porque você está acostumado, era completamente diferente de São Paulo, você estava acostumado em São Paulo, e ir para São Sebastião na época, que ainda era muito pequena - hoje as coisas são bem diferenciadas, hoje as distâncias são muito pequenas, as diferenças culturais são muito poucas hoje. Acho que a televisão, os meios de transporte, tudo isso melhorou, mudou muito e encurtou muito o caminho, mas naquela época o caminho era muito longo, então você se sentia como se fosse um forasteiro e era visto dessa forma. Com status de petroleiro – porque, só para imaginar, em São Sebastião, o pessoal que trabalhava, o horário normal, o administrativo, como nós chamamos, ia trabalhar com uniforme da Petrobras. E você chegava na cidade, você com uniforme da Petrobras, você era considerado um rei. E era isso mesmo, porque era uma cidade que não tinha nada, só vivia de pesca e muito pouco turismo e começa a ter uma indústria que começa a pagar bem, porque na época primeira década do petróleo da Petrobras assim, começou, era status, ela começou a contratar muita gente com um salário bom, porque ela precisava colocar gente por exemplo lá em Manaus, no Amazonas, no Maranhãoa para explorar petróleo. E você tinha que dar incentivos para isso. E quando dava incentivo para qualquer um que trabalhava lá você pegava aqui, porque era uma empresa nacional que não tinha distinção. Então era um poder aquisitivo muito grande para uma cidade pequena que não tinha nada, então a cidade viveu um boom por conta disso e você ser petroleiro e ser de fora, então, o status era redobrado. Não precisava de fiador, não precisava disso. Tem umas histórias interessantes, você chegava lá, falava que era da Petrobras, não precisava assinar, não precisava fazer nada, mesmo porque tinha uma relação muito grande - porque se você não pagasse o comerciante ia lá no terminal cobrar da gerência e pagava. Então tinha essa relação no começo e essa confiança. A gerência descontava do trabalho ou forçava ele a fazer, o indivíduo a pagar isso, acontecia nos pequenos centros. Isso acontecia, né? E depois mudou muito, chegou uma época aí, acho que em 90, naquela época da inflação, em 90 e pouco, eu lembro da história que um dos petroleiros não conseguia nem fazer financiamento para uma televisão, você vê como muda, né? É impressionante.
CONCURSOS
Na verdade o primeiro grande concurso, nessa época que eu parei de estudar, parei na Escola Técnica de fazer eu comecei fazer projeto de máquinas na escola, na Protec porque era perto da onde eu trabalhava e eu falei: “Vou fazer alguma coisa”. Não era a continuação, fazer estudar, aí foi projeto de máquinas. Aí nessa época veio o concurso primeiro lá da Replan, que eu não passei, e depois veio esse de São Sebastião, depois que eu entrei na Petrobras e que aí eu voltei, eu fiz outros dois novos concursos fora. Um foi na Telesp, já visando a área de eletrônica, e passei, só que na época, para eu optar pela Telesp eu ia ter perda salarial em função do turno, porque eu trabalhava de turno e ganhava. O ganho noturno era maior, aí eu optei por não ir. Aí acabei ficando na Petrobras e depois eu fiz, quando eu vim para São Paulo, depois, numa época, não quando eu estava trabalhando em Barueri, no terminal de Barueri, fiz um concurso na Cobrasma, que na época estava aumentando se não me engano era o parque de criação para fazer vagões, ia ter expansão de vagões. Eu fiz um teste na Cobrasma, em que tinha um grupo francês querendo produzir trens no Brasil. Aí já dentro da questão de projetista de máquinas, porque eu terminei o curso de projeto de máquinas, aí fui fazer um teste lá, aí ficou aquela coisa demorou um pouco, talvez, aí chamaram. Aí quando chamaram eu também falei, não quis mais, porque aí comecei a ter gosto pela questão da Petrobras, desisti dessas questões, porque dentro da Petrobras tinha uma carreira que é a de inspetor de equipamentos - tinha não, tem até hoje - que é inspetor de equipamentos; eu falei: “Olha, eu estou gostando tanto dessa área de eletrônica como de mecânica então eu vou terminar os estudos e vou fazer para inspeção de equipamentos”. E fiquei dentro da Petrobras, foi essa opção que tive. Aí desisti assim de qualquer outra coisa fora da Petrobras. Foi uma decisão aos poucos, eu fiquei tentado na época, porque justamente eu tinha um amigo que estava na Telesp e que estava bem e tal e incentivou a ida, mas terminei depois desistindo da idéia e ficando aqui.
TRANSFERÊNCIA PARA UTINGA
Eu fui para o terminal em Utinga, lá em São Caetano. Terminal de Utinga, porque o bairro se chama Utinga, mas era bem na divisa São Caetano com Santo André, né, atrás da GM ali em São Paulo, em São Caetano. Aí nós fomos morar numa república, porque a maioria do pessoal que veio era pessoal lá oriundo de São Sebastião, daquela região do litoral Norte, e nós morávamos numa república. Praticamente durante uns 2 anos nós moramos numa república lá, em São Caetano. Que também era uma época completamente diferente, São Caetano era uma cidade-dormitório; não tinha nada o que se fazer, era uma cidade completamente diferente do que é hoje, era simplesmente a cidade-dormitório, né? E nós trabalhamos, e eu fiquei lá e eu achei isso aí muito ruim, essa vida na forma que era em São Caetano. Aí eu consegui uma transferência para Cubatão mas só fiquei 6 meses, porque aí tinha vaga no terminal de Barueri, onde que eu fiquei. No terminal de Barueri não, na época esse terminal de Barueri pertencia a São Sebastião, quando o terminal foi criado, pertencia - ó que loucura, né, porque na época não existia mais nada em São Paulo a não ser essa encampação que teve - a São Sebastião, e as pessoas que estavam lá eram de São Sebastião, que tinham ido para Barueri. Então era um terminal completamente moderno, para a época, ou completamente diferenciado do que era o terminal lá que a gente tinha encampado da rede rodoviária, era um terminal que tinha toda da época a tecnologia de ponta, completamente diferenciado desses terminais lá de Utinga, de Cubatão, que eram da rede ferroviária.
TRANSFERÊNCIA PARA BARUERI
Em Barueri eu morava no começo no centro de São Paulo, no centro não, na Bela Vista, na rua Herculano de Freitas, mas aí logo depois eu casei e fui morar na zona sul, morei ali do lado da Chácara Flora, o bairro chama-se Alto da Boa Vista, um lugar muito gostoso, muito bom. Casei-me em 78. Engraçado - eu fui para Barueri em 78, acho que foi 79, 80, aí eu morei no Alto da Boa Vista até em 84, quando eu fui para Santos, aí sim eu fui para Santos. Barueri é um município da Grande São Paulo, no sentido interior pela Castelo Branco.
REGIME DE TURNOS
O regime de turno hoje está bem melhor do que naquela época, porque naquela época - eu não digo até a reforma da Constituição, porque mudou na Constituição; até naquela época a gente trabalhava num regime de revezamento de quatro turnos, de quatro grupos que eram assim, vou dar uma explicada: eram três grupos trabalhando as 24 horas e um de folga; era assim: 3 dias você entrava às 16 e ia até meia-noite.3 dias não, 4 dias das 16 à meia-noite, aí tinha intervalo de 24 horas, entrava no outro dia da meia-noite às 8 da manhã, 4 dias também; passava 1 dia, trabalhava 4 dias das 8 às 16 e aí saía 3 dias de folga. Isso dava um ciclo em que você a cada 36, 37, 38 dias você pegava um final de semana completo a cada 36, um ciclo assim, não menor do que 36 dias. E com uma vida social, geralmente você pegava ou se você pegava a cada 36 praticamente a cada 4 semanas você estava assim com um final de semana comprometido ou trabalhando a zero hora ou trabalhando das 16 à meia-noite ou das 8 às 16. Então essa vida social, esse círculo social era muito complicado, porque vai contra tudo o que está em volta, e a carga nesse tipo era muito pesada, aquela época tinha muito estresse, tinha muita gente morrendo do coração, problemas gastrointestinais eram normais. Com a Constituição mudou aí, aumentou, nós ganhamos o direito de ter mais um turno em que ficou, aí nós começamos a trabalhar com um turno a mais, aumentou o número de folgas e aí você, dentro do círculo de 1 mês, você tem pelo menos dois finais de semana de folga. Então isso já deu uma aliviada muito grande. Mais ainda para o pessoal de plataforma, porque pessoal de plataforma já é um outro regime. Antes era 14 por 14 - a pessoa trabalhava 14 dias embarcada e 14 dias de folga. Hoje não, hoje é 14 por 21, trabalha 14 dias embarcado para 21 dias de folga. A gente fala 21 dias de folga, mas geralmente não dá isso, porque você perde 1 dia e meio no dia anterior de transporte, 1 dia e meio depois, então tem 2 ou 3 dias que ficam para o deslocamento das pessoas que trabalham em plataforma.
É impressionante. Antes, quando era 14 por 14, eu conheci um monte de companheiros que antes de embarcar, uns 2 dias antes de embarcar começavam a sentir assim aquela questão da maresia, o cara sentia já, sugestivo, mas acontecia isso.
DESCARGA DA PETRÓLEO
Eu prestei concurso para operador de transferência de estocagem. É o que movimenta toda a parte de recebimento. Vamos ver um terminal marítimo: o navio chega, ele atraca, aí ele tem que descarregar o produto que tem lá - vamos dizer, petróleo - para o terminal. Então, toda a parte operacional, o que é que era? Desde medir os navios, checar, fazer a checagem do que está chegando no navio, medir, fazer a conexão do navio com as linhas de terra e começar a operacionalizar a descarga do petróleo do navio para o terminal. Aí você precisa acompanhar a saída do navio e a chegada no tanque. Tem todo o complexo, aí você tem que ficar vendo vazão, pressão, temperatura, tudo, e do terminal para as refinarias no caso, é você tirar do tanque - desse mesmo tanque que recebeu do navio - para mandar para as refinarias através de tubulação, aí você tem as bombas, você tem que controlar o petróleo que chega, você tem que tirar a água dele - porque geralmente ele vem com água -, aí você tem que fazer a drenagem, tirar o máximo possível da água dentro do terminal. Aí quando você tira a água de um tanque desses, ele vai para um separador de água e óleo, aí você tem que estar tratando que a separação seja eficaz e que o óleo que saiu de lá você recolha e que não saia óleo nenhum, uma gota de óleo para fora do terminal, aí você recupera esse óleo, aí você trata esse óleo. Dentro do terminal aí tem o sistema de caldeiras, que é a geração de vapor - porque você precisa de vapor para em alguns casos manter o petróleo aquecido ou o vapor que você gera para alimentar geradores de energia, que você não fica só dependente da energia convencional, a elétrica que chega pelas concessionárias de energia elétrica. Então a operação cuida de toda essa movimentação, de todo recebimento e cuidado com o petróleo e transporte deste petróleo, mandando ele para a refinaria. Geralmente um navio desses superpetroleiros, um dos grandes, demorava 2, na época demorava 48 horas a descarga de um navio desse. Hoje não, hoje já diminui bastante, a tecnologia mudou bastante nisso, hoje você, um navio desse você descarrega ele em 12, 16 horas, navio que você demorava aí quase 48 horas hoje em 16 horas você descarrega um navio desses. Eu fiquei um ano em São Sebastião. Eu saí de lá justamente por essa questão de querer continuar estudando e voltar para um grande centro, aí foi por isso. Surgiu a oportunidade porque em 75 eu fui lá para São Sebastião, e em 76 a Petrobras encampou a rede rodoviária, porque a rede rodoviária era quem operava os dutos de Santos, Cubatão até São Caetano do Sul em Utinga, terminal de Utinga. Eram do lado dos trilhos da rede ferroviária, e quem operava esse oleoduto era a rede rodoviária. Como já havia aquela questão que a Petrobras é que tinha que fazer isso, então foi uma época em quer houve a fusão, a incorporação da rede ferroviária. A parte de dutos da rede ferroviária passou para a Petrobras. Isso foi um pouco traumático, porque na Petrobras você estava acostumado já a tecnologia moderna, e na rede ferroviária era aquela tecnologia da época em que foi construída - 1924, 25, que começaram a construir os primeiros tanques lá em Santos - e o oleoduto que trazia o petróleo, não muito petróleo, mas já mais os derivados e entregava em São Paulo por duto, e quem operava era a rede ferroviária. Isso quando passou para a Petrobras, que a Petrobras encampou, houve um conflito de pessoal, porque tinha as pessoas que trabalhavam na rede nesse setor de oleoduto e que não tinham preparo como tinham os funcionários da Petrobras, que não tinham tanta tecnologia, e uma parte desse pessoal teve que ser absorvido. Isso gerou um conflito no pessoal muito grande, mas foi resolvido. Muitos não puderam ficar porque não tinham - era engraçado, para você trabalhar na Petrobras você não podia ter menos do que o colegial, e a maioria do pessoal da rede não tinha nem o primário, então o choque cultural era muito grande, a diversificação de tecnologia era muito grande, então teve um conflito. E esse foi um conflito assim, um aprendizado para nós que fomos os primeiros a ir para lá. Foi muito interessante, em termos de relacionamento.
REFINARIAS DE SÃO PAULO
Então aí talvez tenha que explicar um pouco, porque São Paulo, hoje São Paulo tem quatro refinarias, né, e dois terminais marítimos, um em São Sebastião, que é de petróleo, e Santos. Santos e São Sebastião interligam, todo o Estado de São Paulo está ligado por dutos, por oleodutos. Então vai de São Sebastião até Guararema, um município que distribui, vai para a refinaria de São José dos Campos ,e de Guararema vai para a refinaria lá em Campinas; também vai para as refinarias de São Paulo. A refinaria de Mauá, em São Paulo, e a de Santos. Liga também a refinaria de Cubatão, que interliga com todos esses terminais, de São Caetano, Barueri - e Barueri ficava para receber o oleoduto, porque os derivados vinham da Replan de Campinas e abasteciam São Paulo. Então esse terminal era entre Campinas e São Paulo, bem próximo a São Paulo, mas que recebia os produtos de Campinas - gasolina, diesel, querosene de avião e gás de cozinha, todos esses produtos.
O petroleiro está sempre mudando. Eu não sei se por conta, eu mesmo, a maioria fica assim mais em alguns setores, tem alguns setores, aqui se você pegar o pessoal de geologia não, esses andam o mundo, né, e mais eu tive uma facilidade por ter esses terminais e aí rodar muito, talvez eu tenha voltado isso aí, adquirido um pouco do meu pai, que ficou rodando um poucão, né? Eu gosto, porque meu pai, a última mudança, ele voltou, agora está morando em Jacareí, ele contava 36 mudanças, é quase uma mudança por ano aí de vida de casado. Então ele ficou, aí eu adquiri um pouco disso, porque aí depois de Barueri eu fui para Santos e depois de Santos eu fui para Brasília, aí eu fiquei essa...
EXTRAÇÃO DA PARAFINA
Também foi uma coisa que mudou bastante dentro da Petrobras. Porque se vocês lembrarem, lá na década de 70 a gente tinha 70% do nosso petróleo vindo de fora e não existia ainda, estava no começo a Bacia de Campos. Estava no começo da produção, e o maior campo de produção que a gente tinha era na Bahia. Só que o óleo da Bahia é um óleo muito pesado, a gente chama parafínico; ele tem muito teor de parafina, então é um óleo que você tirava, quando você tirava do poço, você tinha que colocar em um navio, em uma plataforma que tinha aquecimento, porque esse óleo; se ele esfriasse, ficasse à temperatura ambiente ele virava uma graxa - e graxa você não consegue bombear. Então na época, eram todos os navios, os oleodutos, os terminais tinham que ter estações de aquecimento, que era para não deixar esse óleo, porque esse óleo depois que ele entrava na tubulação ele tinha que estar entrando lá com temperatura de 70 graus, e a temperatura mínima a que ele podia chegar era 45 graus. Então tinha que ser aquecido assim permanentemente, porque senão ele entrava na tubulação ou no próprio tanque e virava uma graxa? E aí você perdia o oleoduto. Nós tivemos trechos pequenos, nunca que acontecesse acidente que você não conseguia tirar aquele trecho lá. Tinha que ser cortado e é como se fosse raspar ele para tirar. Num oleoduto não dá para fazer isso, não dá para imaginar, né, então se acontecesse isso num óleoduto você perderia o oleoduto, por isso que tinha... Aí de São Sebastião para Santos, no meio tinha uma estação de aquecimento, hoje desativada. Tem lá a estação até hoje, mas desativada, porque ao longo do tempo também foi mudando o perfil do nosso óleo. Aí foi quando começou a ter o óleo da Bacia de Campos, que é um óleo que não e parafínico, que é grosso mas não é parafínico. E diferente, completamente diferente por exemplo do óleo que a gente recebe do Oriente. O óleo do Oriente é fino, é bastante leve. Então o óleo, quanto mais leve, mais rico, mais caro ele é, mas naquele momento, aquela época era isso que a gente tinha e tinha que trabalhar com isso, por isso que a maioria das estações que tinham de aquecimento foram desativadas, mas era necessário por conta disso. Hoje em dia então esse procedimento não é mais utilizado, nós não temos mais o óleo parafínico lá, são os postos que, o pouco óleo parafínico que tem fica hoje lá na Bahia, na Refinaria de Mataripe. A parafina sempre foi aproveitada, só que antes ela era transportada de lá para cá para a gente refinar porque você não tinha óleo; hoje não, está mais concentrada na Bahia, a maior produção de parafina vem, a maior não, acho que a única produção de parafina vem lá de Mataripe, que tira o óleo, que é rico, é parafínico, então toda a parafina é tirado lá.
PRIMEIRO CASAMENTO
É engraçado - eu conheci a minha ex-esposa em Santos, quando eu trabalhei uma época em Santos. Nesses 6 meses de Cubatão tinha um barzinho a que a gente ia muito lá, não sei se você lembra, o bar do Tite, que era lá perto da ponte pênsil. Tite era um jogador do Santos antigo que gostava mais de tocar violão e gostava mais da noitada do que jogar bola, aí jogava bola. É famoso lá em Santos. Então conheci, gostava de música e tal e a conheci lá, foi quando nós nos conhecemos. E aí a oportunidade de ficar mais perto era ir para São Paulo, aí tinha essa vaga em Barueri, aí foi quando eu fui para Barueri por conta disso. Aí fiquei casado até 85. Ela já morava em São Paulo, ela mudou depois quando nós viemos em 84 para Santos. Vieram, gostou e ficou. Ela não era petroleira. Aí, quando eu comecei a militância mesmo, a partir de 84, a militância no mês sindical aí, que começou a deteriorar um pouco também isso. Porque não tinha mais, a partir do momento em que eu cheguei a Santos, aí começou a ter reuniões. Muito, principalmente quando era da oposição - na época a gente era oposição sindical, então a dedicação era assim muita, porque, além de trabalhar em turno - imagina trabalhar em turno -, saía de lá tinha reuniões ou tinha congresso, alguma coisa. A gente tinha que sair, e na época não existia, não era avião, a gente era do sindicato, então era ônibus ou quando muito, quando era um luxo, a gente conseguia ir de carro. Aí geralmente era aqui no Rio de Janeiro, vinha aqui para o Rio de Janeiro para esses encontros, aí essa questão. Na verdade é que já tinha um componente, é que isso aí só ajudou. Depois, não. Aí depois a minha outra companheira já era do meio sindical, aí entendia mais um pouquinho. É diferente, entende mais um pouquinho.
SEGUNDO CASAMENTO
Ela é petroleira também. Militava, ela já militava antes, porque quando eu cheguei, em 84, conheci só depois, mas ela já fazia parte da oposição. Já tinha uma oposição montada desde 82, que foi quando começou o primeiro núcleo de oposição, que se fortificou mais, fortaleceu mais depois da greve de 83 de Campinas. Foi quando deixou o pessoal de Campinas e Mataripe, - a nossa região lá de Santos deixou o pessoal na mão, aí foi o que mais intensificou a oposição sindical. Ela é ajudante administrativa, na parte de escritórios. Trabalhava em Santos, ela trabalhou na refinaria e depois foi para o terminal da Alemoa.
VILA SOCÓ
Na verdade eu só peguei o pós-acidente, porque em fevereiro eu ainda estava em Barueri, quando teve o acidente. Aí foi justamente depois, eu tinha feito um concurso para operador 2, que era carreira, porque até aquela época lá a ascensão era via concurso. Tinha feito o concurso e tinha passado e tinha uma vaga justamente por conta do acidente que estava tendo e estavam faltando pessoas para trabalhar, porque umas pessoas ficaram afastadas, 12 pessoas ficaram afastadas muito tempo, por conta do trauma do acidente, para se recuperarem. Aí estava faltando gente para Santos, para o terminal de Alemoa. Aí eu fui para lá por conta disso, e o clima encontrado foi muito assim, muito tenso, porque as pessoas, ainda existia uma interface no terminal de Alemoa do pessoal do Porto, porque quando a Petrobras encampou lá atrás - quando eu falei que encampou a rede rodoviária -, havia dentro do terminal de Alemoa a questão do Porto, que operava uma área operacional que não foi encampada por brigas na época lá, não deixou o Porto, a Docas de Santos não deixou a Petrobras encampar essa área. Então no terminal de Alemoa era o único no Brasil que era dessa forma, a gente tinha interface Petrobras e Porto. Então foi nessa interface justamente que quiseram jogar a culpa por conta do vazamento, então era o seguinte, a Petrobras operava, mas fazia tudo por telefone e quem fazia a operação, fechar válvula, abrir válvula, ligar bomba, eram os portuários. E nessa interface aí é que estavam jogando a culpa na questão do vazamento que tinha acontecido. Lógico, isso teve um problema - o vazamento acontecia por outro problema, que era a corrosão nos dutos. Já tinham feito várias análises, já tinham montado estudos que diziam que tinha que trocar. E aí naquela época foi a época do ufanismo da Petrobras, que tinha que fazer o máximo de barris possíveis, e exploração. Então toda a ênfase da Petrobras era por uma questão de exploração, né, de produção. E aí era para vencer os 500 mil barris se não me engano naquela época e fazia com que a manutenção, essas coisas, fossem relegadas ao segundo plano. E na época eu lembro que era o Shigeaki Ueki o presidente da Petrobras, sabiam que tinham que fazer a mudança dessa tubulação e não fizeram. Mas aí uma das culpas foi recair em quem? Quem estava trabalhando, dessa interface que existia da Petrobras com os portuários. E aí a relação entre Petrobras e portuários ou melhor entre petroleiros e portuários - aí o ser humano - ficou muito tensa, dos dois lados, porque aí quando a coisa vem para baixo, ficou aquela culpa: “Não, a culpa foi dos petroleiros, a culpa foi dos portuários” e assumindo a culpa de uma coisa maior. Então essa relação ficou muito tensa. O pessoal da Petrobras ficou com a responsabilidade das mortes por quase três anos seguidos, até ter a sentença final. Ficaram com a responsabilidade, sendo acusados de homicídio culposo. Então foi uma questão muito tensa trabalhar naquele periodo. Aí foi quando a minha vinda para essa questão, que foi coisa nova, de relacionamento diferenciado. Como eu já tinha participado de um relacionamento conflituoso lá atrás entre petroleiros e rede, da rede ferroviária, aí foi mais um elemento assim também nessa de petroleiros e portuários. Foi uma questão assim bastante tensa, que aí só foi ao longo do tempo diluindo, demorou muito tempo para diluir, tanto que isso foi traumático. Faz muito pouco tempo, questão de assim de 3 anos para trás que a Petrobras encampou aquela área que era de portuários, que os trabalhadores dos portos saíram e a Petrobras assumiu aquela área lá, questão de três anos atrás, então teve todo esse, um período de conflito aí em conjunto, não sei se era essa, se é isso que você quer saber.
Então eu cheguei depois do acidente. O acidente foi assim basicamente uma fatalidade, porque o tubo estava corroendo. Era tubulação que bombeava gasolina. Aí foi um dia que a maré estava alta, e a tubulação passava, o oleoduto passava embaixo de uma favela. Embaixo não, ao lado de uma favela, mas como eram áreas de mangues e eram palafitas, no dia que começou a vazar, vazou, estava vazando em quantidade excessiva, a gasolina ficou por baixo de todas as palafitas; alguém deve ter acendido alguma coisa. Deu a explosão, e as palafitas todas de madeira, foi assim questões, foi muito rápido, foi muito rápido o fogo, mas foi bastante traumático lá para toda a Baixada Santista. Foi muito traumático, é isso.
INÍCIO DA MILITÂNCIA
O envolvimento com o movimento sindical começou quando eu fui para Santos. Foi interessante, porque assim quando eu fui para Santos foi logo depois do acidente da Vila Socó. Foi muito traumático isso aí entre as pessoas que estavam trabalhando no terminal. A gente tem uma cultura na Petrobras que tem terminal, refinarias que são coisas diferenciadas e separadas até na vida. Mas essa questão terminal foi muito traumático para essas pessoas que estavam trabalhando, os operadores, porque ficaram por muito tempo –por 2 ou 3 anos - com a responsabilidade das mortes que aconteceram. Estávamos em 84, no inicio da militância, eu gostaria de ter uma questão anterior... Ah, a questão da militância, porque não há uma militância antes de 84, foi interessante, todos esses lugares, por exemplo quando eu fui em 85 para São Sebastião, o sindicato era Santos, Santos e Cubatão, não existia nem Santos, era Cubatão que era onde tinha a refinaria, e era basicamente na refinaria. E o terminal tinha acho que uns 2, 3 anos, foi em 76 quando fizeram as assembléias lá para ele se anexar ao Sindicato de Santos, de Cubatão. Então quando eu fui para lá não tinha ainda a questão sindical, quando cheguei em Utinga também não tinha, porque ela tinha acabado de ser implantada, passado da rede, em 76. Barueri não tinha sindicato em São Paulo que representasse, a gente era representada pelos químicos, que nunca tinham ido ao terminal, nunca tinham ido, e a gente era afastada lá de São Sebastião, não tinha interesse de quem estava em Santos cuidar de São Sebastião e cuidar de Barueri. Então foi por isso que nunca teve esse movimento. O primeiro contato assim mesmo sindical que a gente foi ter foi na greve de Campinas em 83. Foram requisitar, durante a greve, alguns trabalhadores nossos lá do terminal para irem para Campinas. E dois ou três assim, sem testa: “Isso é coisa fácil”. “Que é isso, vamos participar de uma, estão fazendo greve lá, vamos sair daqui para ir lá.” “Não.” Um grupo se juntou lá e falamos que não íamos, fomos ameaçados, mas essa questão ficou só assim. Como nós não tínhamos representação sindical, não foi nada, o meu primeiro contato com o movimento sindical foi logo quando eu cheguei em Santos. Logo em 84, quando eu cheguei, estava tendo eleições, ia ter eleições questão assim de 1 mês ou 2 meses ia ter eleições para o Sindicato lá em Santos. E tinha começado a ter pessoas que estavam, que eram de Santos que tinham ido para o terminal de Utinga, que eram de Santos e tinham ido para o terminal de Barueri. E em São Sebastião, que já fazia parte nessa época, tinha uma urna itinerante. Quando eu cheguei lá eu conheci algumas pessoas que já estavam lá que estavam na oposição sindical, e a oposição sindical era a oposição cutista, porque na época do sindicato, na frente do sindicato estava um pessoal que a gente chamava de pelegos, que eram anticutistas e antipetistas, que eram contrários à CUT e contrários ao PT, embora tivessem muito pouco tempo de vida a CUT e o PT. Mas então nós fundamos a oposição cutista, porque na época já tinha o sindicato de Campinas, que já era cutista, o sindicato do Paraná; eram poucos sindicatos que eram cutistas. No Estado de São Paulo era só Campinas e depois São José dos Campos. Aí estava tendo as eleições, e como eu conhecia algumas pessoas da oposição, me chamaram para ser fiscal pela oposição sindical na urna itinerante, porque iam passar por estes terminais e eu tinha conhecimento nos terminais. Aí tanto que nessa urna itinerante eu lembro que a chapa de oposição foi a única urna que ganhou, porque eu tinha conhecimento com o pessoal e tal e aí como eu fui e o fiscal da outra chapa não tinha conhecimento, terminou a oposição ganhando só nessa urna, porque nós não ganhamos. Foi quando começamos a fazer, foi aí que eu comecei a fazer parte da oposição sindical. Na época, quem dava suporte era o Jacó Bittar; Jacó Bittar é quem ia fazer reuniões, que dava toda a estrutura para a gente da oposição formar lá em Santos, e foi aí que começou a militância no movimento sindical.
OPOSIÇÃO SINDICAL
A gente formou uma cadeia assim de arrecadação que era justamente para se manter. Por quê? Porque todos os congressos, todas as palestras que tinham, sindicais, o sindicato lá – lógico, quem estava na direção do sindicato não levava, na hora de tirar delegados faziam com que a gente não pudesse participar. Então a gente tinha que fazer uma estrutura paralela, e essa estrutura paralela, lógico, ajudada por outros sindicatos - na época, quem começou ajudar era Campinas, depois São José dos Campos, aí depois de 88, Mauá, sindicato de Mauá, que aí passou a ser cutista também, e a gente precisava de dinheiro para quê? Para essas viagens, para deslocamento, fazia o nosso boletim,. Quer dizer, tinha um boletim da oposição, e a gente era sistemática, a gente tinha um boletim da oposição, pelo menos um por mês e uma época ficou um a cada 2 meses, mas a gente manteve sistematicamente a oposição funcionando. E para isso precisava de arrecadação, que era o mínimo. E sempre o foco da oposição maior de arrecadação foram os terminais, embora o maior centro fosse a refinaria. Mas os terminais sempre foram o maior foco da oposição, por conta de ser relegado e deixado de lado pelas direções sindicais daquele momento, que eram todss da refinaria e não davam muita importância para os terminais. E aí a nossa maior fonte, nossa maior fonte de arrecadação, sustentação, eram os terminais, que mantinham a oposição, aí nós perdemos essa eleição de 84, depois nós perdemos a de 88; fomos ganhar em 90, fomos ganhar o sindicato em 90. Os mandatos são normalmente de 3 anos. Então é de 87 e depois 90.
BOLETINS
Havia interesse porque na época a gente batia muito. Nós, a oposição, batíamos muito na forma de condução, da direção naquele momento e que começava a destoar das outras direções, principalmente no Estado de São Paulo. No Estado do Paraná é que era cutista. Porque naquela época, em 84, só dois Sindicatos eram cutistas. Começou assim: foi Campinas, e antes de Campinas foi Paraná. Então foram os dois primeiros sindicatos cutistas, aí depois Campinas começou a fazer uma política da região de Campinas para as outras áreas de atuação sem serem só os petroleiros, começou a aumentar, e na Baixada Santista tinha um aspecto que depois da revolução, da revolução não, depois do golpe de 64, que Santos era considerada a cidade vermelha, eles acabaram, limparam, tiraram de circulação lá de Santos, por ser uma cidade de lutas históricas contra o golpe. Aí no golpe eles aproveitaram e limparam, porque antes de 64, quando paravam os metalúrgicos da Cosipa, os petroleiros paravam em solidariedade, e o Porto parava em solidariedade. Quando era o Porto que fazia a mesma coisa, os metalúrgicos paravam e os petroleiros paravam. Então havia uma interação muito grande, por isso que era conhecida como a cidade vermelha - porque a maioria dos dirigentes sindicais era do Partido Comunista. Aí, quando veio o golpe, acabou, destruiu isso aí, perseguiu e passou a ser uma cidade... Por exemplo Cubatão, até 89, não sei, ainda era considerado município aqui de segurança nacional; não tinha eleição, o prefeito era indicado. Santos ganhou um pouco antes o direito de voltar a eleger. Então limpou e no movimento sindical, quem ficou do movimento sindical a partir de 64 eram os pelegos históricos. E quando veio a criação da CUT, na Baixada Santista ninguém tinha se filiado. Para não dizer que não tinha ninguém filiado, um sindicato cutista lá era o de alimentação, em que o poder de representação era muito pequeno, mas era um sindicato que se manteve cutista. Então nós começamos a fazer a oposição sindical com apoio dos sindicatos nossos, dos petroleiros que estavam na CUT. Só que para você mudar a cultura que tinha... embora o pessoal em Cubatão sempre foi um pessoal que lutou bastante, mas só que tinha uma cultura... Deixaram já na greve de 83, deixaram Campinas e Mataripe, na Bahia, de lado. Se Cubatão na época tivesse ido, não teria acontecido, se tivesse ido para a greve não teriam acontecido aquelas demissões. Mas não foi para a greve ,e isso foi alimentando cada vez mais a gente para poder fazer a mudança, né? Então a gente era sistemática, a gente tinha boletins, a gente se organizava, ia para os congressos da categoria que a direção boicotava, não iam mas a gente tinha direito a tirar delegados entre a oposição sindical, para o número de pessoas que contribuíam. Aí você provava o número de pessoas que contribuíam; a gente tirava delegados para ir para os grandes congressos dos petroleiros - sempre foi anual, então todo ano tinha uma atividade, e isso que manteve a gente por muito tempo.
Aí foi quando começou a militância mesmo. Aí comecei. Como trabalhava de turno, aí quando aparecia viagem não sei para onde, estava na folga, quem ia era eu. “Fazer boletim”; eu estava num horário que não estava trabalhando, ia buscar o boletim e depois ia distribuir o boletim. E a distribuição como que era? Era complicado, porque você não podia distribuir dentro da área. Você era proibido - até o próprio sindicato na época não queria que a gente fizesse isso, e em comum acordo com a empresa não deixava. A gente tinha que ir na hora de folga, antes do trabalho esperar o ônibus entrar, entrar ônibus por ônibus, eles tentaram no começo não deixar a gente parar o ônibus, a gente ficava na frente do ônibus para poder parar e pelo menos entregar os boletins. Todas essas coisas nós fazíamos. Então foi uma constante. Foi virando, e aí cada dia que você vai se colocando mais, cada dia tem mais coisa para fazer, e foi isso que aconteceu. Então foi, começou a ser dedicação completa a militância, aí você se envolve depois com partido, depois com CUT - isso só vai crescendo, a tendência é só aumentar o trabalho. Por isso que, aí a companheira que seja militante nessa hora o entendimento fica mais tranqüilo, mais fácil.
DIFERENÇAS ENTRE AS DIREÇÕES
Primeiro que as direções pelegas elas tinham aquela questão de fazer a negociação direto com a superintendência local ou com a direção da Petrobras. Chegou ao cúmulo em 89 - era o Geraldo Silvino que era o presidente do sindicato na época. E o Geraldo Silvino, era engraçado isso, até 64 era um militante comunista muito atuante e depois de 64 ele foi perseguido e tal, voltou, e quando voltou, voltou completamente apático nesta questão. Em 89 os sindicatos cutistas - porque aí começou dentro do petróleo a formar os sindicatos, as oposições cutistas ganharam e os sindicatos e se formou uma coisa. E nós tínhamos uma divisão do sindicatos cutistas e dos sindicatos não-cutistas, que eram basicamente contra a CUT e contra o Partido dos Trabalhadores que estava se formando; não queriam ouvir falar nem de CUT nem do PT. Em 89 o Silvino, numa das negociações em que a gente já tinha conseguido um aumento, os sindicatos cutistas já tinham conseguido um aumento, posso errar nos valores mas é só simbólico, tinha conseguido um aumento de 19,5%, na mesa, negociado e tudo; então o Geraldo Silvino com o general na época que era ministro das Minas e Energia, fecha um acordo com 15%, tá? Então a gente já tinha conseguido com greve e tal 19,5%; ele vai lá e fecha um acordo com 15%. Isso foi assim e aí fechou acordo pelos petroleiros, passando por cima de tudo. Então essa era a grande questão. E outra coisa era o enfrentamento, quando você ia para o enfrentamento - e naquela época era muito forte em paralisações, quando você ia, estava no auge do movimento - ele dava um jeito de levar a categoria a voltar atrás, a não avançar mais alguma coisa, então essa era uma das características fundamentais. O que fez a gente ganhar as eleições também em 90 foi, na greve de 89 - naquela época lá, de 88 até 90, os petroleiros fizeram greve praticamente de 6 em 6 meses -, tinha uma greve que era aquela conta da inflação alta, não tinha reposição e tinha que brigar. Aí eu lembro que em 89, na greve de 89 nós ficamos com... a refinaria já tinha demitido - isso foi na porta da refinaria -, já tinha demitido 12 companheiros nossos e aí ele falando que a gente tinha que entrar, que não dava mais, que era insustentável e que a gente ia ver e que depois voltava. Aí foi quando nessa assembléia eu fui para o microfone, peguei o microfone e falei: “Que era um absurdo que a gente não podia entrar, não podia deixar essas 12 pessoas, que isso era um absurdo”. E eu não era da refinaria, era do terminal, mas a assembléia tinha sido lá. Aí foi para votação, a decisão de ficar, só entrar se eles não fossem demitidos prevaleceu por muito poucos votos, mas prevaleceu. Aí eles tiveram o Silvino ficou, foi ali que foi a derrocada dele, que ele teve que sair lá do caminhão e é um caminhão de som, saiu do caminhão e foi negociar com a empresa, readmitiu o pessoal e aí voltou a trabalhar. Aí demonstrava assim, ficava claro que bastava um pouquinho só de vontade política e aí não aconteceriam as demissões conforme iam acontecer, né? Então foi essa uma das mudanças básicas assim do que era uma linha ou outra. E tinha a questão do trabalho sindical que o pessoal, o pelego ficava mais dentro do sindicato, de cuidar da estrutura sindical, de convênios. Outra coisa, em vez de estar lá direto na base era essa a diferença básica, né? Porque quando nós ganhamos as eleições já vinha desde 88 que foi o último mandato do Silvino e a gente vinha comandando de fato a categoria, as greves, as paralisações, então não teve foi só uma mudança de comportamento. O Silvino já era anistiado, tinha voltado pela anistia, então ele já era anistiado, aí saiu do movimento, outros dois se aposentaram logo depois que perderam a eleição. Então não teve muito esse trauma não, foi mais a continuidade, teve a mudança de postura porque aí começamos a defender o nome da CUT, aí veio o primeiro sindicato de peso na Baixada Santista - sindicato de peso não, porque antes os metalúrgicos já estavam na CUT, só que os metalúrgicos sofreram toda aquela, foi início de privatização da Cosipa, e aí tinha uma guerra muito intensa dentro dos metalúrgicos pela corrente do Partido Comunista, que ainda estava dentro e era da CUT e com o pessoal do Partido dos Trabalhadores, então fosse um sindicato de peso mas não levava o nome da CUT por questões interna. Então o grande sindicato mesmo cutista que começou a ter na Baixada Santista fomos nós a partir dessa eleição de 90.
NÚMERO DE SINDICATOS
Olha, até o ano retrasado nós éramos 19 sindicatos dos petroleiros. Até 2001, aí depois começou uma discussão de unificação dos sindicatos. Por exemplo, em São Paulo nós éramos cinco sindicatos, hoje nós somos três, porque unificou São Paulo, Campinas e Mauá, fundiram num sindicato só - então hoje a gente chama Sindicado Unificado do Estado de São Paulo. E ainda nós temos Sindicato de São José dos Campos, o Sindicato de São José e o Sindicato agora, hoje chamado de Santos, Cubatão e São Sebastião hoje na nova denominação é o Sindicato do Litoral Paulista, que ainda a gente está em discussão para fazer um Sindicato único para o Estado de São Paulo. Só que esse Sindicato Unificado ele ainda pega as bases, os Estados de Goiás e do Distrito Federal por conta do oleoduto que sai de Campinas e vai até Brasília. Inclusive fui eu, quando eu fui transferido, quando eu fui na última etapa de me aposentar, eu fui para Brasília e depois eu estendi bases desses sindicatos lá para Ribeirão Preto. Só não pode Uberaba, Uberlândia embora a gente represente, porque é um Estado, e o Estado lá, o sindicato de Minas é estadual, então pega essas duas cidades, embora quem represente de fato somos nós lá por conta do oleoduto. E aí também estendemos base para Goiás, porque tem o terminal grande em Senador Canedo, que é a cidadezinha do lado de Goiânia e Brasília onde termina o oleoduto. Então hoje a gente tem uma discussão de diminuir esse número de sindicatos, de fundir sindicatos. Aqui no Rio de Janeiro nós temos três sindicatos, que é o Sindicato do Norte Fluminense e o Sindicato de Duque de Caxias, que é por causa da refinaria, Norte Fluminense, que pega toda área de produção da Bacia de Campos e o Sindicato do Rio de Janeiro, que é o pessoal aqui que pega toda parte aí do escritório da Petrobras, tal, e mais a Refinaria de Manguinhos que não é da Petrobras. Então é essa divisão. Mas então hoje nós somos 17, acho que 17 sindicato, tentando fazer fundir esses sindicatos. Uma característica por conta disso também, que a mão-de-obra da Petrobras diminuiu muito, a tecnologia fez com que a mão-de-obra diminuísse muito, então os sindicatos são menores, hoje com muito poucas pessoas ativas. Então você tem que tentar fazer essa unificação.
FALTA DE CONTRATAÇÃO
Sem contratar, usando muito terceirizado, esses novos terminais - para ver como há questão da contratação de terceirizados e a tecnologia diminuiu, os novos terminais que foram feitos em Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Goiânia e Brasília, são terminais que se você fosse operar do método antigo você precisaria no mínimo quatro operadores por turno; cinco turnos, 20 operadores, mais umas cinco pessoas de apoio, de manutenção e tal, no mínimo 25 pessoas por terminal desses. Hoje esses terminais operam com três, cinco pessoas no máximo, por conta da questão tecnológica, porque ele fica um período sem ninguém, ele é operado à distância, é operado aqui do Rio de Janeiro,. O oleoduto fica funcionando, recebendo no tanque, e não tem ninguém no terminal, aí só precisa ter alguém no terminal de dia, que é para mandar para as companhias distribuidoras, aí precisa de um acompanhamento efetivo. Então essa tecnologia, aí as pessoas que colocam para tomar conta desses terminais são pessoas terceirizadas, a maioria, a vigilância, o cara que cuida da segurança e tal - tudo terceirizado, então isso diminuiu e muito o número de trabalhadores efetivos da Petrobras.
MUDANÇA NOS SINDICATOS
A maioria dos sindicatos está mudando os estatutos para passar a representar essas pessoas também, os que trabalham dentro do intramuros, que nós chamamos de intramuros. Mas isso tem uma resistência muito grande de todos os lados - da empresa, das empresas que contratam; a maioria não reconhece o sindicato dos petroleiros como representante e aí tem a conivência - tinha, pelo menos, a conivência das direções anteriores que não fizesse se representar mesmo. Mas essa é uma política que começa a ser discutida agora, muitos sindicatos na Bahia, aqui no Rio de Janeiro já começam a ter a representação dos terceirizados, principalmente na Bahia. Só que isso também choca com quem representa os terceirizados. Por aí tem metalúrgicos, tem montadoras, tem vários sindicatos que também têm interesse, e aí entra em conflito com esta questão da nossa representação. Mas é um fato interessante. Por exemplo, em Santos a gente vive isso: a maioria dos terceirizados quer ser representada pelo sindicato dos petroleiros, porque é o que tem a força, é quem, na hora que ele não recebe - porque geralmente a empreiteira contrata, aí nos últimos meses dá o golpe, não paga, e o funcionário fica sem receber. Então quem interfere muitas vezes não é o sindicato deles - sei lá, não tem interesse -, aí quem vai para cima somos nós. Ele está lá trabalhando na área, aí a gente vai, usa a força nisso, para cima da Petrobras, para poder fazer o pagamento de fato para essas, para esses trabalhadores. Então termina tendo atuação mais efetiva do Sindicato dos Petroleiros.
SECRETÁRIO GERAL
Em 90 me afastei, aí fiquei direto todo o mandato afastado como secretário geral, na verdade eu tive que assumir esse sindicato, fiquei à frente do sindicato porque o companheiro Silva, que foi o presidente, nós tiramos ele para vir para, na época era o Comando Nacional dos Petroleiros, antes da criação da FUP, e o Silva veio e ficou no comando, e aí ele ficava direto no Rio, e eu ficava direto lá no terminal, no terminal, no sindicato e fazendo todas as questões. Foi nessa época, começou também logo que o Collor assumiu, aí começou: ele colocou as emendas constitucionais, e uma das emendas era justamente a privatização da Petrobras. Por conta disso, junto com as greves, os movimentos que começaram a acontecer, nós criamos um comitê de defesa do sistema Petrobras; isso foi tirado num congresso nosso e aí nós formamos um grupo. Esse comitê era um grupo que trabalhava, que ficou sendo eu, o Jacaré, o Samuel, que era do Sindipetro de São Paulo, o Geraldo, que era do Sindipetro do Rio Grande do Sul, o Cotia, que era do Sindipetro de Mauá, o Erasmo, que na época era do nosso sindicato lá em Santos, mas que era demitido de 83 da refinaria que depois foi para Santos e que depois foi demitido mais uma vez, e como demitido - aí foi demitido outra, terceira vez, em 90, nessa greve de 90 e que nós trouxemos ele para fazer parte, que o Erasmo foi sempre muito articulador e gostava de escrever muito. Aí nós fundamos esse Comitê de Defesa do Sistema Petrobras e começamos a atuar em Brasília, aí minha vida ficou lá direto sendo no sindicato e em Brasília; ficava nesse vaivém. E mais um companheiro, Silvio, que era de Campinas; então nós montamos um grupo, alugamos um apartamento em Brasília. Qual era a tese? A gente tinha que convencer os parlamentares, porque o emendão ia ser votado, acho que era o Nei Lopes, que era lá do Rio Grande do Norte, que era o relator da quebra do monopólio. E aí nós começamos a fazer várias reuniões, vários tipos de pressão, aí nós fomos, eu lembro que eu e o Erasmo fomos parar no Maranhão, porque tinha um dos parlamentares da comissão que era do Maranhão e que estava em dúvida, aí nós fomos fazer pressão lá em cima, fomos para São Luís, aí demos entrevista em jornais, tudo defendendo o movimento e criando vários documentos para trabalhar lá no Congresso. Culminou em 93 com a invasão do salão verde que nós fizemos isso aí, planejamos junto com o MST, um dia que ia ter votação. Aí foi interessante que nós fizemos uma estratégia, nós levamos vários ônibus de petroleiro para lá e também levamos vários ônibus, porque o MST não tinha porte e a gente estava trabalhando em conjunto, porque o MST tinha um entendimento, porque na época estava a privatização também dos fabricantes de fertilizantes que pertenciam à Petrobras, eram coligadas da Petrobras, e eles tinham entendimento que se isso fosse privatizado e fosse parar na mão de estrangeiros ou na mão de particular, que o insumo, o adubo ia ficar muito caro e que aquela política que tinha de reforma de fazer, de implantar. Então com esse entendimento nós fizemos em conjunto, nós fizemos duas inclusões em Brasília, dois movimentos grandes, mas esse de 92 - ou 92 ou 93 – em que nós ocupamos o salão verde foi muito interessante. Nós levamos os ônibus de petroleiro, aí fizemos uma forma de entrar, porque petroleiro e tal, mas bem vestido e tal, nós colocamos o Prado: “Vai disfarçado, vai ficar lá, vai dizendo que vai no banco, vai conhecer”. E entrou por vários lugares, né? E dizendo, não em grupo, mas mesmo assim os seguranças começaram a perceber, porque a gente já vinha fazendo atos direto lá, eles perceberam. Mas quando eles perceberam, a gente já estava em grande número lá, aí da escadinha do salão verde nós invadimos aquele salão verde mas foi um corre-corre, um bate-bate. Mas ao mesmo tempo, porque naquela época não tinha celular, né, lembrar que você não conseguia fazer a comunicação, né? E ao mesmo tempo o Spis estava do lado de fora com o pessoal do MST, aí quando foram tentar, como nós tivemos que antecipar a nossa entrada no salão verde porque eles já estavam reforçando a segurança. Aí nós tivemos que antecipar a entrada, a subida para o salão verde, e isso fez com o pessoal que estava lá fora, do MST, não conseguisse entrar, porque aí eles foram, fecharam porta, quebraram vidro, teve um quebra-quebra danado, na época o único senador do PT era o Suplicy, aí foi o Suplicy um dos que vieram negociar. Nós ficamos lá o dia inteiro, foi um quebra-quebra, aí depois disso foi todas as reformas que foram feitas lá no Congresso - num outro dia teve aquela questão de jogar as moedas, aí logo depois disso colocaram os vidros, aí mudaram a segurança, mudaram toda a segurança nas galerias. E um outro fato interessante também foi quando o Gerdau organizou os industriais, a base dele, para ir a Brasília apoiar uma das votações da quebra do monopólio. E aí de novo nós juntamos o pessoal junto com os sindicatos lá de Brasília, da CUT junto com o pessoal do MST e foi, teve o maior quebra-pau lá no aeroporto quando eles estavam descendo, chegando de avião e tal. Foram dois grandes movimentos aí, que esse núcleo da comissão, que fazia na verdade, fazia, estruturava a questão documental de mostrar e ao mesmo tempo a gente fazia o outro viés, o sindical, para em conjunto evitar esses tipos de coisa, acho que foi uma grande coisa que foi criada nessa época.
PERDA DA DIREÇÃO
Concorri, aí nós perdemos as eleições, porque no meio do nosso mandato teve um pessoal nosso, tudo da área cutista, que não concordou, não lembro qual era o momento, mas não concordou. Ah, era o seguinte: o companheiro Everaldo, nessa greve de 91 na parte da refinaria, de 92, nós tivemos uma greve forte na refinaria que foi muito traumática, e o superintendente na época queria demitir outros três companheiros nossos da diretoria. Nós não concordamos, levamos a greve até o final; aí voltou atrá,s mas naquele momento, ele, o superintendente na época queria que ele ficasse pelo menos um mês fora de entrar na refinaria. Aí nós concordamos, por conta de que, para quem estava demitido, ficar 1 mês fora, sentar, nós avaliamos que era razoável. Só que ele não concordou com isso, achava que porque no dia seguinte terminou a greve, ele voltou, foi entrar na refinaria, não deixaram. E como tinha terminado a greve durante a noite, nós terminamos numa assembléia durante a noite terminamos não conversando e tal. Aí ele achou que tinha sido sacanagem nossa. Aí começou um racha, aí rachou, aí chegou na eleição, ele montou uma chapa, montou uma chapa. Nós não concordamos na época, hoje não tem problema, porque nós somos tudo da mesma chapa, tudo junto, voltou, mas na época ele teve que se juntar com aquele mesmo pessoal que a gente tinha derrotado, anterior, na greve, montou uma chapa, e como a gente tinha naquela época muito problema com aposentados - porque tem uma Associação de Aposentados lá, em Santos, muito forte, porque nós temos um número de aposentados muito grande na Baixada Santista e ele teve o apoio da Associação de Aposentados. Aí nós terminamos perdendo a eleição por conta disso, só que eles continuaram ainda com... desviaram um pouco da questão cutista, mas da coisa, mas não saindo da CUT, e aí começaram a fazer uma política mais independente, mas que não deu certo porque a própria categoria não deixou. Aí eles voltaram para dentro e começaram a fazer um trabalho da direita, tanto que na chapa seguinte aí já foi uma chapa que terminou sendo de composição. Só que aí eu não quis sair, eu não fiquei porque nessa época eu já tinha ido para Brasília e me filiei ao Sindicato de São Paulo foi quando, para estender base para Brasília, como eu tinha falado anteriormente, em Goiás.
O Comitê acabou em 95,na verdade num congresso de 95 ele acabou, aí foi dissolvido. Nós só continuamos trabalhando depois individualmente por conta da... quando entrou o Fernando Henrique, porque depois, na época do Itamar teve, acabou todo o emendão, né? Então aí acabou acho que em 94. E quando veio 95 a gente já estava desestruturada, é que veio o Fernando Henrique. Aí nós tivemos aquela greve em 95, que foi extremada e aí Cubatão, e o Everaldo principalmente, na frente do movimento, chegou onde chegou, naquele estágio. E a partir de 95 o movimento sindical sofreu muito. Com todas as questões que teve com o FHC - colocou para cima do movimento sindical principalmente petroleiro repressão e nessa hora ele foi podando as militâncias e tal e poucas resistiram. Resistimos, mas o boicote ao sindicato foi muito grande, né? Eu já estava em Brasília, já estava fora do sindicato, não tinha estrutura de sindicato, tinha necessidade de continuar trabalhando a reforma, aí eu comecei a trabalhar com um deputado que a gente tinha na época, o Luciano Zica, a dar suporte nessas, na reforma da Constituição que tentaram fazer, novamente, e teve a mudança, a quebra do monopólio. Antes disso a gente tentou trabalhar muito em conjunto, eu, o próprio Erasmo, o Ênio Barreto, e dando suporte ao nosso deputado Luciano Zica, que era petroleiro e na época entrou, mas também isso não teve sucesso, porque veio a reforma quebrou o monopólio e tal e nós não tivemos, assim como o movimento sindical, que foi desestruturado, barrar este sistema. E fez falta a gente ter mantido o Comitê, aquele Comitê que a gente tinha formado lá atrás, porque aí já não tinha muito mais estrutura para manter da forma que nós mantivemos na época.
Eu fiquei em Brasília de 96 até 98, quando eu aposentei, em 98. Aí, quando eu me aposentei, em 98, aí eu quis ficar, não queria mais estar no movimento sindical só de apoio, mas aí o Sindicato de São Paulo fez com que eu ficasse na diretoria. E na nova eleição, a chapa seguinte do Sindicato em Santos - porque aí eu voltei para Santos - também fez com que eu fosse lá organizar o departamento de aposentados. E aí fui, terminei indo, aí depois logo que me aposento nessas eleições, nós ganhamos as eleições aí já foi mais tranqüilo e com o mesmo pessoal também, aquele mesmo que tinha sido rompido lá atrás, o Everaldo tudo na mesma chapa, nós ganhamos as eleições, aí eu fui para o Congresso, no Congresso de 99. Aí eu fiquei como suplente do Santarosa, na representação dos aposentados, só que o Santarosa logo em seguida sai porque vai para a administração de Campinas. Aí eu assumi no lugar dele, por conta de ser o suplente, e começamos a fazer e nesse mesmo tempo começamos a criar também, aí a se dedicar eu e o Santarosa mais à questão de fundo de pensão, à parte previdenciária assim dizendo. E aí a gente cria, a gente começa, inicia a discussão e cria em 2000 a Anapar, que o Santarosa iniciou e eu continuei, que é Associação Nacional dos Participantes do Fundo de Pensão, que até aquele momento não tinha alguém que representasse os participantes do fundo de pensão. Porque o que acontecia? O sindicato, que em si representava, mas que qualquer ação que entrava muitos juizes não reconheciam o sindicato como representante do participante. Aí nós tivemos que criar essa Associação, que era mais na verdade para dar suporte aos sindicatos sobre a questão previdenciária, né? E aí quando vem a emenda 20, em 98, e o movimento sindical e principalmente nós petroleiros e os bancários não, acho que não faltou entendimento naquele momento, só viemos a perceber o que significava isso quando a emenda determinava que em 2 anos fosse incrementado e isso veio a acontecer em 2000, aí teve toda reforma da lei previdenciária, né, que aí entraram as leis 108, 109 - até na verdade em cima da hora, aí fomos que ter uma dedicação maior desses quadros para cima da previdência complementar.
MUDANÇAS NA LEI
Teve toda uma regulamentação da lei da emenda constitucional 20 que ela modifica a forma da previdência complementar. Começa a dar, na verdade ela dá garantias maiores para os participantes, coisa que não existia. Só que de outra forma também começa a tirar da previdência complementar, dando ela mais para os bancos, como se fosse, tira o caráter previdenciário um pouco, né? E aí começou a ser a nossa grande batalha 2000, 2002, 2002, que estava tirando o caráter previdenciário dos fundos e aí nós tivemos que manter a batalha para manter dessa forma. E aí foi o grande embate que nós tivemos. Por exemplo, nós petroleiros, foi que começou a ter migração, apresentaram um novo plano para os petroleiros e teve a migração de um plano de benefícios definido por contribuição definida que foram as duas últimas batalhas dos últimos anos, nós tivemos essa guerra contra o fundo de pensão e contra a patrocinadora que é a Petrobras e tal até que culminou agora, mudou o governo, nós mudamos e nós estamos dentro do fundo de pensão, né? Mas ainda a questão existe, aí somos nós que vamos ter que dá solução para a coisa agora, né?
GREVE DE 1991
Isso ajudou e muito, isso foi porque a gente desde já das eleições passadas a gente apoiava os candidatos do Partido dos Trabalhadores e principalmente a eleição da Telma como vereadora e depois ela como prefeita. Então nós nos engajamos na luta e teve sempre um estreitamento muito grande, esse estreitamento foi tanto que na greve de 91 que foi a ocupação, acho que foi uma das maiores greves que nós fizemos no terminal foi que ficou 15 dias de ocupação no terminal, inclusive aquelas fotos que estão aí, foi a primeira vez que nós paramos efetivamente a distribuição, foi o controle, o que a gente sempre dizia, discutia em tese como que era a gente ter o controle da produção, ali efetivamente na greve de 91 nós tivemos controle da produção. E a Telma na época era prefeita e por vários momentos, teve vários dias com tensão que a polícia ia invadir, a tropa de choque da Polícia Militar ia invadir o terminal, aí nós tivemos táticas lá impressionantes, tática de guerrilha mesmo, que era colocar o pessoal em cima dos tanques de gás, esse tanque de gás refrigerado que eu te falei, onde nas esferas nós colocamos, distribuímos linhas de mangotes - a gente estava pegando vapor, porque o vapor com o gás, na hora que ele se expande, você não sabe o que é vapor e o que é gás, então nós colocamos algumas linhas conectadas no vapor, porque se a polícia fosse entrar, a gente dizia que estava abrindo o gás. Colocamos pessoal nosso em cima dos tanques, aqueles tanques altos que tem porque ele tem uma válvula lá, que a gente chama de válvula de segurança para atmosfera que se você abrir aquela válvula é o gás direto para a atmosfera, aí nós ameaçamos se a polícia entrasse a gente ia abrir. E o pessoal foi lá para cima e ficou lá em cima de plantão mesmo. Aí como a gente estava em greve também e era greve nas nossas unidades, na refinaria e estava acampando na refinaria; nós trouxemos o pessoal acampado, família da porta da refinaria para a porta do terminal e no dia mesmo que estava a invasão que veio tropa de choque que iam entrar, a Telma esteve, né, presente, evitou junto ao governo estadual, evitando que houvesse esta questão, mas teve toda uma condição para ter a invasão mesmo, assim como tinha sido feita a invasão do Exército em 83 na Replan, né, só que lá ia ser pela Polícia Militar embora os fuzileiros navais estavam na cercanias, o fuzileiro naval ficou lá em Santos, mas não atuaram, aí foi a tropa de choque. Mas aí, graças à atuação da Telma na época foi que evitou esse tipo de coisa, a invasão. Aí terminou nós saindo lá depois do 14º dia, mas foi negociado porque no dia seguinte, nós saímos a noite no dia seguinte terminou a paralisação, mas ali efetivamente nós bloqueamos toda entrega de gás na época, nós mantivemos o controle do terminal.
PETROS
Hoje, eu estou na Secretaria Geral do Fundo de Pensão na Petros, né, que atua na diretoria entre o Conselho Deliberativo, que é eleito, que nós conquistamos também, a nova lei também deu isso e foi uma conquista que é um Conselho Deliberativo paritário que antes não era. E o Conselho, eu já explico o que é o Conselho Deliberativo. Mas hoje a Secretaria Geral fica entre o Conselho Deliberativo e a Diretoria Executiva, né, num dia fica no dia-a-dia na Diretoria Executiva junto com o Conselho Deliberativo. Conselho Deliberativo até o ano passado eram cinco indicados pela patrocinadora e dois eleitos pelo participante, então era um Conselho de sete em que eram cinco indicados pelos patrocinadores; você não ganhava nunca, né? E a nova lei determinou que ele é paritário, três indicados pela patrocinadora e três eleitos, né? Isso está a partir desse ano e sendo que ainda no Conselho Deliberativo o voto de Minerva, foi mantido o voto de Minerva que é uma coisa que nós não concordamos mas tem que mudar a lei pra isso, o voto de Minerva é do Presidente do Conselho que é o indicado pela patrocinadora, que hoje no nosso caso não tem muito problema que o Presidente do Conselho é o Santa Rosa, né, mas em tese, a tese não é porque é o Santa Rosa, agora a tese que nós achamos é que não deve ter o voto que ele chamam hoje o voto de qualidade que seria o voto de Minerva. Porque não deve ter porque essas coisas tem que ser acertada, se o participante entra com 50% e a patrocinadora entra com 50%, né, do montante aportado então tem que haver, acho que as coisas não precisa ter um voto de Minerva, tem que ser na verdade discutido e chegado num consenso, aí fala: “Ah, mas nunca chega”, não, chega. A Previ era dessa forma, né, a Previ antes da lei era dessa forma e nunca teve problema, nunca deixou de investir ou deixou de fazer alguma coisa por conta que não tinha o voto de Minerva, então a questão é filosofia, né? Nós vamos tentar agora modificar na lei só que isso tem que entrar, é projeto, tem que ira pra plenário, tem que ser votado, né?
APRENDER COM O PASSADO
Bom, principalmente agora que eu estou na área previdenciária, aí eu posso omitir uma opinião, chegar nisso porque é o seguinte, na área previdenciária não tem cultura previdenciária, a gente só vai se preocupar com questão previdenciária quando está perto de se aposentar e tal, por quê? Porque a gente não tem uma cultura previdenciária, mas isso eu acho que é justamente por falta de projetos como este, que é a questão de memória, de cultura isso é cultural e nós, principalmente no movimento sindical então. Mas eu acho que não é só no movimento sindical, isso é generalizado aqui, acho que é cultura nossa não cultuar o passado, não conhecer, acho que a gente erra muito por conta disso. Então projetos como esse são fundamentais que é a gente ter história, eu acho que tem um monte de histórias principalmente na questão dos petroleiros, né, que faz uma parte nesse país, eu acho que quando eu comecei a... quando nós formamos um Comitê em defesa do sistema da Petrobras eu tive muito contato com o professor da lei do monopólio, eu esqueci, nome do auditório lá da... professor Eusébio, as histórias que ele contou, as histórias que contava da época como foi a questão, né, da briga do “O Petróleo é Nosso”. Aí nós temos muito pouco tempo, é curto o tempo e nós não temos praticamente mais nada, está esquecido ou perdido por falta de projetos e coisas, por falta dessa questão da gente não ter essa cultuação ao passado, ao guardar as memórias. Então eu acho que projetos como este são fundamentais, fundamentais e preservar a história, porque se preservando a história talvez a gente deixe de, olhe com mais atenção, né, a história para não acontecer os erros do passado, acho por isso que projetos como esses são fundamentais.
Está numa fase nova, né, por exemplo a gente participar do fundo de pensão hoje que foi uma coisa que nós lutávamos muito tempo pra participar e nunca conseguimos, quando eu te falei que nós tínhamos cinco indicados pela empresa e dois eleitos, antigamente era menos, antes a gente não tinha nenhum eleito. Aí nós conquistamos lá em 86, 85 eleger um e depois passado um tempo é que nós conseguimos eleger o segundo e mesmo assim era aquela coisa “Você é eleito mas você não faz parte”, pra direção que tava lá, você é eleito mas você só tem direito a ver uma parte da história, hoje mudou completamente, hoje nós estamos lá dentro, hoje nós estamos vendo com funciona a coisa e hoje nós estamos tentando modificar em tudo aquilo em que a gente acredita, né, em mudar. Lógico que as coisas são novas, lógico que a gente muda em alguns conceitos porque você, quando você está fora você pensa que é uma coisa e vai descobrir que são diferentes, mas acho que o conceito em si não, esse não muda e tem muitas coisas que a gente está aprendendo, nós estamos vendo hoje como é uma forma, a gente tem a idéia de como fazer, de como a gente sempre quis e colocar na prática isso, lógico que é o dia a dia que vai estar dizendo. Mas acho que essa questão tem sido um aprendizado pra todos nós, né, e tendo a chance de fato estar cuidando daquilo que a gente sempre quis, dividir esse poder ou poder pelo menos dá palpite de ou mudar os rumos, né, conforme a gente pensa.
ENTREVISTA
Interessante, bastante bom, lembrei pelo menos de coisas que eu não lembrava havia muito tempo, né, acho que essa prática de você estar... essa entrevista assim de voltar coisa de infância e talvez depois entrelaçando com hoje, o que é o dia-a dia, uma das coisas que eu esqueci de falar, porque foi uma ironia, meu pai militar repressivo e quando eu comecei a militar assim ele só veio a saber muito tempo depois que estava no sindicato. E quando veio a saber que estava no sindicato foi assim uma, um Deus-nos-acuda. Eu tive, por exemplo, só para ter uma idéia, na primeira eleição do Lula em 89, uma das vezes que eu fui na casa do meu pais quase que eu mando ele para o hospital, porque já era militante, já defendia e ele extremamente de direita, na concepção de direita. Nós brigamos tanto, nós ficamos 3 ou 4 meses sem nos falarmos por conta da questão política. E hoje não, hoje não vou dizer que ele é um petista de carteirinha, mas pensa já de uma outra, embora não esqueça aquele resquício militar, toda a formação, mas já pensa de forma bem diferenciada. Não tem muito problema, então essa é uma questão assim em que o tempo também mostra, né?
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