Era almoço de Domingo. Como habitualmente acontecia era oferecido macarronada e frango assado, típico cheiro de infância, uma infância recheada de tradições italistanas (combinação de São Paulo e Itália).
Uma memória olfativa e saudosista invadiu aquela mulher nos seus 35 anos de idade. Ah, como era mágica aquela reunião em família. Pai, mãe e as 3 irmãs sentadas à mesa.
Certo que nem tudo era encantador. Às vezes um silêncio revelador engolia o ambiente da cozinha, ora por um desentendimento matinal de qualquer natureza, ora por mágoas acumuladas que pareciam vir à tona justo naqueles dias especiais de Domingo.
Domingo também era dia de sua mãe curtir uma tristeza que parecia inundar todos os cômodos daquela casa. Lembrar os pais que partiram, a despedida de sua cidade natal, as mazelas que a vida havia lhe imposto e sabe-se lá o que mais atormentava tanto o seu misterioso íntimo.
Pensou ser uma característica peculiar dos tão amados e temidos domingos, mas logo lhe ocorreu que não eram os domingos que traziam aquelas infinitas inquietudes. Domingo não era essencialmente depressivo ou eufórico. Concluiu que era a visibilidade, a convivência mais estreita entre os cinco que marcava esse transbordamento.
Era também dia de assistir programas vespertinos, todos sentados no acolhedor sofá da sala. Bons tempos aqueles em que os quartos não dispunham de tvs e não eram redutos solitários de si mesmos.
Tempo de colocar algumas coisas em ordem quando os dias transcorridos na semana não permitiam realizar. Tempo de brincadeiras com os amigos na rua, ainda serena, no subúrbio carioca. Tempo de almoçar fora ou reunir-se com as famílias de nossas famílias e alegrar-se de fazer uso desse singelo mimo.
Domingo era assim essencialmente paradoxal.