Projeto Memória dos Brasileiros
Entrevistado por Thiago Majolo e Antônia Domingues
Depoimento de Sirlei da Silva Amaro
Presidente Getúlio, Santa Catarina, 15/09/2007
Realização: Museu da Pessoa
Código: MB_HV052
Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Vamos começar agora, e eu queria que a senhora dissesse o seu nome completo primeiro.
R – Sirlei da Silva Amaro.
P/1 – E a senhora nasceu onde?
R – Em Pelotas.
P/1 – Que dia?
R – 12 de janeiro de 1936.
P/1 – Qual era o nome dos seus pais?
R – João Xavier da Silva e Ambrosina Soares. Posso fazer? E nasci em casa. Naquele tempo os nascimentos, a maioria, eram em casa. A parteira vinha em casa pra ajudar.
P/1 – O que eles faziam os seus pais? _________ o seu pai, a sua mãe?
R – O meu pai eu conheci ele toda vida como cozinheiro. E consta que ele aprendeu a cozinhar, porque eu não fiquei com muita informação dele de muito antes de eu nascer, mas algumas coisas: que ele era de Pelotas, mas na época que ele foi jovem – eu tenho até que fazer cálculos assim porque ele morreu em 51, eu não me lembro que idade ele tinha quando conheceu a minha mãe. Quando ele era jovem, o porto do Rio Grande era um... Rio Grande era uma cidade que oferecia muito trabalho, estivadores do porto funcionavam, chegavam muitos estrangeiros. Pelotas e Rio Grande foram cidades muito ricas culturalmente por causa do porto. Então muitas pessoas que não arrumavam trabalho em Pelotas, iam lá, ficavam uma hora, de viagem, vai se encaminhando dentro do extremo-sul, vai pra aquela partezinha do mapa que fica fininha. E lá ele arrumou um serviço num navio assim que eu não me lembro bem, consta uma tia dele que me contou que ele arrumou um serviço num navio, e foi ajudante de cozinha. E o que aconteceu? Muitas pessoas estrangeiras chegavam e queriam às vezes comida diferente. Foi a possibilidade das pessoas aprenderem coisas diferentes, e ele começou a aprender um italiano. Pedia isso, aquilo, não sabia, explicava. Num dado momento ele voltou. Ele adquiriu bastante experiência. Não sei por que nem em que época voltou pra Pelotas com essa experiência. E em Pelotas tem um hotel que chamou-se, na minha infância e adolescência existia esse hotel, Hotel dos Estrangeiros. Então ele arrumou trabalho, as pessoas que chegavam já eram indicadas pra esse hotel e a pessoa vai ficando procurada pra fazer. Sabe fazer algo diferente na área da culinária.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe ela veio parar em Pelotas, também pelo que ela sempre me colocou, vinda de Canguçu. Canguçu é uma cidade que fica, mais ou menos, a uma hora e meia de Pelotas e tem a cidade, era uma vila, hoje é cidade. Mas pra dentro de Canguçu, hoje está sendo mais cuidada, tem mais professores, está sendo mais respeitado. Isso que a gente tem várias palavras de hoje que a gente não conhecia nem de onde estavam sendo usadas para estudo como quilombo. Mas hoje eu ligo os fatos: em Canguçu tinha muitos negros, então as famílias gostavam de empregadas conhecidas. Era sempre: “Ah, preciso de uma empregada, preciso de uma negra lá em Canguçu!” Quer dizer que ela foi buscada e veio para Pelotas para ser babá na época em que as famílias traziam uma babá pra cada criança. Na época que ela veio, a minha madrinha, que depois quando eu vim a nascer foi ser a minha madrinha, tinha já – deixa eu ver, a Léa, a Léa é uma das mais moças – acho que a minha madrinha tinha três porque a Léa é uma das mais moças, depois vem um outro o Isnar que era mais moço, e era um casarão enorme, tanto que o quarto das crianças era um quarto grande que tinha a cama da criança, o quarto todo arrumadinho num canto assim que a babá de noite, os pais só em último caso, mas a babá que acordava pra cuidar. E ela ficou nessa... Só que as coisas foram mudando, lá pelas tantas quando essas crianças estavam grandes, elas não puderam. Porque a minha mãe conheceu o meu pai nessa casa, tinha um cozinheiro que eu não sei lá pelas tantas adoeceu, saiu, e indicaram meu pai, foi aí que eles se conheceram. Eu me lembro da cozinha dessa casa que era de... Tudo era enorme naquela época, os casarões. Tinha um pedestal de tijolo assim como se fosse um palco e o fogão ficava ali, tinha duas escadas para subir no fogão assim, o cozinheiro subia a escadinha aqui e a outra do lado, panelas enormes e eles se conheceram. Foi assim que eles se conheceram. Mas depois também eles foram diminuindo os empregados, já não era mais cozinheiro, e a minha mãe também, a babá dos guris mais velhos também já tinha saído. Ficou a minha mãe e a Nádia, uma babá que depois não acharam a família dela e essa moça morreu sobre os cuidados da família. E quando o meu pai namorou a minha mãe, e anunciou que a minha mãe estava grávida de mim, a minha mãe ficou muito preocupada e disse pra ele, porque a minha mãe imitava a minha madrinha, ela disse: “João, como é tu, Ambrósia é uma moça.” Porque quando a minha mãe veio de fora ela veio viúva e chegou a ter uma filha que tinha falecido já, e a minha mãe disse que a madrinha: “Eu tenho responsabilidades porque ela veio pra nossa família, então tu procura aqui por perto uma casa pra alugar pra ganhar essa criança mas ela vai continuar aqui conosco.” Ela não era empregada assim fixa, mas ela ia pra fazer, ajudar. E tem uma coisa muito interessante, não sei se eu devo contar da casa que ele foi procurar pra ele morar, porque hoje a rua em que eu nasci hoje fica bem no centro da cidade, mas em 36 eu acho que já de uns seis anos antes era zona de mulheres da rua. Essa palavra: prostituição não era usada ainda, porque tudo vem mudando. Hoje nós temos palavras novas. E se chamavam mulheres à toa, mulheres da vida, mulheres à toa. E a minha madrinha disse pra ele que arrumasse uma casa ali por perto porque era mais, seria mais barato. Seria mais barato porque as famílias, família não estava querendo arrumar casas, naquela época tinha os preconceitos. Também mudou o estilo. Mas essas, cada casa que as donas iam saindo ou faleciam eram muito lavadas, pintadas e alugavam muito barato. Então ele encontrou, tanto que eu nasci, quando da minha infância que eu me lembro ainda tinha, quase na esquina, a casa de uma que eu nunca me esqueço o nome que era da Julinha. Porque essa não tiraram ela dali. Ela adoeceu, então quando ela falecesse tinha que tirar e lavar bem a casa, desinfetar pra alugar. E atrás da rua que eu nasci também tinha uma rua assim. Então eu acho interessante essa parte pra contar as coisas daquela época.
P/1 – Como era a cidade naquela época fora essa parte?
R – Olha, cresceu bastante as ruas. Da época que eu nasci, as ruas centrais continuam. Uma coisa interessante: as pedras do meio da rua são as mesmas ainda, que é tipo as do Pelourinho que diz que não pode tirar pois é histórico. São aquelas pedras regulares. Elas ainda continuam porque são uma travessa. Olhando a cidade assim ao comprido, porque as ruas de Pelotas todas nascem numa rua em São Gonçalo, então elas vão todas, as maiores, as mais largas, assim. Nesse sentido e a Major Cícero ela é travessa, ela é uma rua estreitinha. Até tem uma coisa muito interessante que ao comprido são bem largas: Andrade Neves, Osório, a 15 é mais estreita. E essas estreitinhas, essa minha rua quando eu fui visitar um filho que mora em Salvador, eu gosto muito de ler e ver filme, praticamente eu conhecia o Pelourinho. Mas quando eu saí do estacionamento, porque a moça me levou e eu entrei assim no Pelourinho, eu chorei tanto. Me deu uma crise de choro, e eu olhei aquela rua estreitinha e eu achei assim, viajei seis horas e de repente olho uma rua parecida com a minha no Pelourinho. Então coisas são marcantes assim pra gente. Outra coisa interessante que tem dessa rua também que, por exemplo, em 36 eu tinha uns sete anos, por aí. Eu caminhava umas cinco quadras pra direita porque tinha uma rua, a Barroso, que hoje está calçada, tem confeitarias lindas, várias empresas. E ela tem uma escola. Era ali numa chácara (tamber?) de leite, eu não sei se a palavra certa é (tamber?), vocês conhecem essa palavra? A gente, porque tem muitas palavras que também chegaram com os estrangeiros, a gente dizia assim: é (tamber?) de leite, (tamber?) era o lugar que a gente ia buscar o leite, não sei se essa palavra até é certa. E ali era uma estrada de chão e era umas chácaras e hoje a rua está urbanizada. E a gente ia buscar leite e eu tomava leite recém tirado da vaca e hoje eu não me animo, que o leite é meio amargo, meio espumoso. Vocês chegaram a tomar leite aqui recém tirado da vaca. Hoje não porque ele é muito forte, a pessoa, não estando acostumada, até dá dor de barriga. (risos)
P/1 – E a senhora tinha irmãos?
R – Não, sou filha única da minha mãe com o meu pai. A minha mãe teve essa outra filha que ela veio de fora viúva Teve essa outra filha.
P/1 – Na sua casa era só?
R – Só eu.
P/1 – Como era isso? Brincava?
R – Era só eu mas era, nossa, eu tive uma infância muito boa eu acho, porque, no que eu comecei a brincar na calçada, eu tive várias amiguinhas na quadra. E é muito interessante porque a Denise que é, foi a minha maior amiga de infância, íntima, nós moramos hoje perto na Cohab Lindóia. A gente viveu junto até os 13 anos, a Denise é branca. O pai da Denise era português, e consta que a mãe da Denise, que na quadra menosprezavam muito a mãe da Denise, que eu me lembro vagamente assim que parece que o Seu Machado tinha conhecido a mãe da Denise numa casa dessas assim de mulheres e ela ficou grávida e teve a Magali, que é a irmã mais velha da Denise. Então acho que aconteceu igual ao meu pai assim, teve a filha, assumiu, alugou uma casa também ali que era, hoje é centro mas era as casas que eram mais baratas porque tinham sido das mulheres. Então eu me criei vendo a Denise. A Magali era bem mais velha. Ela nunca se enturmou muito na minha turma, porque a Denise era bonita, que era a Magali. O Seu Machado tinha uma fruteira na Andrade Neves e eu me lembro assim que eu fui bastante sustentada com frutas que a gente ganhava, porque tinha fruteira. De tarde eu reunia com a Denise. Tinha aquelas frutas que eram tiradas da fruteira porque não estavam mais com aspecto bom pra vender. E ele era uma pessoa maravilhosa de humanitária. E a Cló, que era a mãe da Denise, foi uma vizinha que eu lembro dela com o maior carinho. Era aquela vizinha boa, sabe? E nós éramos vários meninos. Tem uma menina que saiu dessa quadra, que é a Conceiçãozinha, que hoje ela é mãe de quase 40 crianças, ela não lembro se eram espíritas naquela época, mas ela perdeu. Eu não me lembro bem da história dela, só soube, eu ouvia falar muito na Conceição no bairro da Vila Caxias que começou a cuidar de uma criança vizinha da outra, e foi pegando, foi aparecendo e ela foi pegando, e aí ela foi sendo ajudada. Um empresário ajudou ela a aumentar a casa, ela resolveu pegar mais criança e no fim ela abriu um tipo de uma escola, parece que ela já foi entrevistada até pelo Sílvio Santos. E ela mantém essas crianças. Muitos já tem acho que netos dos que saíram, é essa amiguinha de infância também. E muito interessante também as discriminações daquela época, defronte a minha casa tinha a casa da Durvalina, Seu Artur que tinha três filhos: a Marli, a Vilma e o Vilmar. Essa Durvalina naquele tempo tinha umas discriminações muito interessantes. Era uma discriminação social, porque tinha separado assim: clube dos brancos mais ricos, clube dos brancos que eram menos. Porque essa Durvalina conseguiu frequentar o clube dos brancos mais ou menos, não era nem dos riscos, mas ela se achava a tal, então ela não queria que eu me aproximasse das crianças. Nós morávamos defronte e na hora de um brinquedo... Se eu ia correndo e me sentava na beira da calçada dela, ela mandava sair, não queria. Mas as filhas enquanto pequenas acatavam. Só que já um pouco maior a Marli começou a se encontrar com a gente, a Marli vinha e brincava no nosso brinquedo. Já a Vilma e o Vilmar eram do lado da mãe, não se misturavam e a Vilma era mais também da turma da Magali, aquela primeira que eu falei irmã da Denise. Depois veio morar na quadra – eu tenho umas coisas interessantes. Na ponta da quadra veio morar a dona Conceição. Tinha uma porção de filhos, então consta que essa dona Conceição tinha, ela tinha tido o primeiro filho, ela era uma mulata clara mas tinha cabelo solto. O primeiro filho dela era bem mulato escuro, conta que ele era filho de um negro, de negro, só que ela conseguiu casar com outro senhor que era branco, era garçom, e começou a ter filhos mais claros. Ela não queria também a minha aproximação, minha e da Maria Helena, mas mesmo assim a gente brincou junto e a gente conseguiu construir uma infância boa. As diferenças que eu acho assim, que eu lembro que a gente ficava no verão brincando até duas horas, nessa época de calor, duas horas a mãe sentada na calçada, nós brincando até duas horas na rua, coisa boa! Uma coisa que eu gostava muito de fazer era olhar pro céu, eu tinha uma... Eu ficava tão transtornada porque, até estudando um pouco mais e a gente ia muito em cinema, a diversão daquela época, que eu olhava: “Como é que esse sol” Primeiro nós ficava conversando. “Será que esse sol dá pro mundo inteiro? Mas não pode existir vários sóis dentro da... E a lua também, as estrelas”. Nós gostávamos muito de contar, a iluminação era pouca, hoje a gente quase não vê as estrelas. Ai, nós gostávamos de contar estrela, a do Cruzeiro do Sul, agora como a gente faz pra descobrir o Cruzeiro do Sul? Tem que esperar uma noite estrelada pra olhar. Que a gente sabia que a última lá do Cruzeiro do Sul fica mas voltava, nós achávamos que ela aparecia mas só pra nós aqui no Sul. Mais ou menos coisa. Ah, tem outra coisa também, a cidade não tinha muito barulho e depois da Major Cícero tem a Senador Mendonça, depois a (Arbolo?) que é uma rua que tem um canalete que era pra escoamento de água, até fecharam uns pontos mas ainda tem um ponto que ficou aberto porque ele tem uma escultura muito bonita, que ele tem uns blocos assim estrutura assim. E tem um bloco grande que é de flor, depois tem um bloco assim como se fosse um banco assim, e é todo assim. Uma pena que algumas pessoas de hoje em dia teimam em derrubar pra dentro do canal, de quebrar, a prefeitura vive sempre falando. Olha, eu estou com 71 anos e em seguida acontece, eu fico tão triste de ver. Na minha infância até uma certa idade todo mundo respeitava, mas de alguns anos pra cá pega, simplesmente eles empurram a floreira, eles agora fizeram um sistema já preso assim de cimento, porque essa floreira grande ela é com flores. E nós brincávamos de esconder da Major Cícero. Até lá são duas quadras, vocês chegaram a brincar de esconder aquele que é “um, dois, três...” até dez. Então ficava um na esquina e nós corríamos até o canalete e descíamos pra dentro e gritávamos: “Deu!”. E perto da nossa casa, uma coisa também muito interessante que eu gostava de contar, a uma quadra da Major Cícero, caminha uma quadra, tem um quarteirão assim de, deixo eu ver, uma quadra tem cem metros, acho que a Catedral, o quarteirão da Catedral é quase cem metros. Nossa Catedral de Pelotas é muito bonita. E a década, ah não sei que é, eu não sei se vocês ouviram falar de um pintor que veio da Itália, Locatelli, que ele pintou a Catedral de Caxias. Ele conviveu bastante tempo lá em Pelotas, seria muito bom se um dia vocês forem passear porque é linda a pintura da nossa Catedral. E aquele comentário que ele vai pintar o teto, então ele começou a fazer andaime dentro da Catedral. Ela ficou anos, eu não me lembro quantos anos ele... Até tenho que decorar essas coisas pra quando for na entrevista contar as coisas da minha cidade mais certinho. Mas existem os livrinhos contando. Então tinha uns andaimes assim e os... Que agora eu fui a Caxias com o coral, no ano retrasado, e tem um grupo com o pessoal da arquitetura está recuperando a pintura dele e a Catedral ganhou um benefício também e vai ser recuperada. E a gente ficava, a gente entrava na Catedral pra ver eles subirem, ele pintava deitado e a gente queria saber: “Como é que ele vai pintar o teto?” E a gente era muito... Eu fui bastante moleque, então a gente fazia aposta de... Na hora do almoço, ela ficava aberta e a gente fazia aposta: “Ah, eu vou lá, vou subir no andaime”. “Ah, eu aposto, vamos apostar”. Aquele que conseguia subir um pouquinho eu nem lembro mais o que ganhava. E o bispado ficava ali perto e tinha uma família, a família Melo que era uma porção de irmãs que cuidavam a igreja e um dia foram contar pra elas que tinha um grupo de crianças fazendo festa na Catedral na hora do almoço, e eu um dia dei uma boa de uma subida. E quando a dona Maru chegou, era Maru, eu não me lembro. Não deu tempo de eu descer, ela me pegou subida, não até ali em cima. Então chamaram, mandaram uma carta pra minha mãe, pra minha mãe ir lá no bispado. E eu ganhava castigo assim: a diversão daquela época ia a matinê nos domingos, eu fui uma daquelas pessoas que curtia muito os filmes americanos daquela época. Então eu ficava, a Denise... Nós fomos, nós éramos amigas com gosto bem parecidos, nós adorávamos cinema, nós juntávamos os troquinhos na semana pra ir a matinê. Então eu tinha uns castigos que a minha mãe me dava, eu não cheguei a apanhar muito, algumas palmadas, uma coisa que não se usa mais que é remendar meia. A gente sempre arruma um buraquinho da meia. Eu acho que hoje se é pequenino mas naquele tempo a gente usava meia, a meia já estava curta de tanto que a gente costurava. Então a gente remendava muita coisa e eu fazia muita coisa a mão, junto com a minha mãe pra Casas Bahia: lençol, fronha, então eu ficava de castigo domingo. E era muito engraçado porque às vezes a Denise não tinha a ver. Mas a gente era tão amiga que ela ficava. E depois dos 13 anos da gente aí o Seu Machado já tinha falecido, a gente mudou, a Denise saiu pra ir morar com uma tia e o tempo foi passando. E já quando já era bem adulta a gente se perdeu assim na vida, eu casei, não lembro o que aconteceu. A Denise soube que ela casou, ela namorava, ela gostava de um rapaz desde o colégio e mais tarde veio namorar e casou. Soubemos que a Denise tinha ido morar no Rio de Janeiro. Mais ou menos na década de 80. De vez em quando via alguém da família. Na década de 80, eu trabalhava numa escola e um dia eu cheguei pra trabalhar e tinha uma notícia, um bilhete, que uma amiga minha de infância tinha chegado do Rio estava em Pelotas de novo. Ai, fiquei tão contente mas ela não deixou bem o endereço, a gente custou a se encontrar. Ela veio embora porque quando ela foi pro Rio com o Peri, ela tinha um filho mais velho, chegando lá ela, porque ele tinha arrumado emprego e ela foi morar em favela e começou a ter mais filhos e depois começaram a ter dificuldades e o Peri começou a beber e ela levou muitos anos pra vir embora. Que às vezes eu tinha notícia assim que ela estava querendo vir embora, mas não era notícia seguida, porque o Peri estava bebendo muito e depois do Joaquim, que é o mais velho, ela teve mais cinco. lá. E ele ainda está lá. O Joaquim está para se aposentar, ele é daqueles que sobe no morro, é policial. Ela vive sempre tomando remédio. Já foi ferido em vários tiroteios mas nunca ficou com defeito assim físico, e agora ele está trabalhando interno mas às vezes ele – eu não lembro como ela chama ele – ele faz também, eu me esqueci o nome do que a polícia faz, aquelas diligências. Porque ela estava passando no trabalho e as irmãs do Peri se reuniram, juntaram dinheiro, uma irmã foi e trouxe eles. Foi quando ficou o bilhete lá. E é interessante que quando ela chegou, uma das meninas não foi tanto. Eu visitei. A gente se reencontrou e uma das meninas veio mocinha já, uns dois anos depois já casou e ela me convidou pra madrinha de casamento dessa filha. Bom, a gente se falava de vez em quando e tal, eu saí de onde eu estava morando, fui morar em outro lugar, e de repente fui morar na Cohab Lindóia sendo que ela já morava lá. Nós morávamos assim, mais ou menos, a distância de duas quadras e a gente se vê de vez em quando. Eu até, antes de eu viajar, eu estava conversando comigo mesma no que eu chego eu tenho que contar essas coisas lá pra ela, que devido ela passar todo esse trabalho e ela fica muito nervosa por causa desse filho lá - ele já tem neto -, ela começou a adquirir uma obesidade. Então ela teve, ela foi obesa, agora ela melhorou, diminuiu bastante. É uma amiga de infância que tem que preservar a amizade.
P/1 – Quais eram... A senhora disse que era castigada quando criança, mas por que? O que a senhora aprontava?
R – É o negócio da Catedral que eu subi no andaime. Eu era um pouco teimosa assim. Algumas queixas do colégio. Eu me esqueci de perguntar quando vocês fizeram a entrevista ela é toda inteira desde que vai agora? A entrevista é inteira assim até o fim?
P/1 – É, não sei, por quê?
R – Porque eu sinto muito sede e eu estou ficando desidratada.
P/2 – Pode beber água.
R – E aí tu corta só um pouquinho?
P/1 – Uma outra coisa que eu queria perguntar é como que era a sua casa?
R – A minha casa ela era uma casa de... A gente chama em Pelotas casa de frente. Casa de frente é aquela que não tem jardim. Eu não sei em outros lugares como é que chama. Já na calçada é a parede da casa. Ela era uma casa não tinha pátio grande. O que ela tinha que eu gostava muito, que minha mãe mantinha sempre vaso com flores. Tinha a porta da rua depois um corredor que vinha a outra porta que passava pra dentro da casa, e uma ao lado que era a sala. Então durante o dia essas duas portas ficavam fechadas e esse corredor, hoje em dia as pessoas já não usam mais assim porque fica mais fácil o acesso pra dentro da casa. E a minha mãe usava nesse corredor vasos com flores, ela gostava muito de flor. Depois vinha mais, era... Então resumindo era assim: era a sala, depois um quarto e depois tinha uma varanda e um quartinho pequeno, depois tinha um outro corredor que eu era guria ainda e meu pai mandou fechar porque a chuva molhava muito aquele corredor, e um banheiro grande com chuveiro frio, que o chuveiro nessa casa... Eu saí de lá casada já, com filho, mas não cheguei a ter banheiro quente nessa casa, os banhos quentes no inverno eram em baciões. Porque eu lembro da minha infância a gente tinha vários baciões. Eam uns baciões que mandavam fazer na funilaria. enormes assim. E a minha mãe era muito habilidosa porque trabalhava com madeira, então ela mesmo construiu um fundo de... Ela fez um negócio assim de madeira que era quadrado mas a bacia entrava ali pra não roçar no chão. Então no verão a gente tomava banho de chuveiro frio porque não tinha. Tinha coisas que tinha na casa dos ricos e pra família pobre parecia uma coisa impossível. Algumas famílias já tinham mas a gente custava muito, tinha que mandar fazer a instalação e tudo então. Porque a luz mesmo eu – 36 eu fiz 15 anos, em 46 eu fiz 10 anos, então sete, oito, nove, dez... É, foi 51 que eu fiz 15 anos, o meu pai faleceu no mesmo ano. Em 50, foi um dos anos mais felizes pra mim porque antes do natal de 50, naturalmente que com uns meses antes eles começaram a providenciar, botar luz elétrica até que a minha madrinha ajudou porque a minha madrinha dizia pra eles. Eles já não trabalhavam mais lá na família mas que ela dizia: “Ambrósia, fala com o João porque vocês estão com uma filha quase mocinha e não tem luz elétrica”. A gente usava lampião ainda. A gente custou muito, tem muitas coisas que na minha família eu custei a usar, fogão a gás, por exemplo. Eu já quando eu me mudei, eu casei em 62, que a gente tinha pra quebrar galho fogareiro Primus. Vocês conheceram fogareiro Primus. Deixa eu parar... Como é que vai fazer com isso?
R – Festa de formatura com bingo! (risos) Ah não, a festa não é a formatura ainda. Como é que nós ficamos?
P/1 – Pode continuar, a senhora estava falando da... O nome que eu não conheço, o fogão a gás.
R – Ah é, fogão a gás. Eu me casei em 62, o Álvaro nasceu em 65, porque então nós mudamos dessa casa. Tem um fato muito interessante também de coisas que eu acho que essas coisas, esses dados são importantes assim. Eu fui ter quando a gente mudou-se dessa casa, porque assim tinha fogão a lenha, fogareiro a carvão, mas tinha... Que eu perguntei se vocês conheceram fogareiro Primus, porque por exemplo, vocês deverão pensar assim: “Bá, que fogão a lenha custa a ascender, carvão também”, então pra emergência fogareiro Primus ele hoje é relíquia, tanto que às vezes em exposição nos brechós tem. Ele era um fogareiro com um tanquezinho assim dourado com os suportezinhos assim, depois em cima tinha uma prateleirinha. Suporte aqui e a gente botava era querosene, fechava. A gente pra acender ele, no meio tinha um pratinho, botava álcool ali. E pra aquele álcool prendia o fogo na partezinha de cima. É fogareiro Primus se quiser botar aí pra pesquisar. E a gente dava, tinha que dar uma bombinha nele pro querosene subir, porque o álcool fazia uma chama em cima, quer dizer, quando o querosene subia pegava o fogo. E era assim. Se fosse um fogareiro de boa marca, e era uma marca alemã, não me lembro como que era uma palavra parecida com faca, uma coisa assim, eu me lembro que tinha na volta dele assim. E quando ele era bem bom o querosene era limpo, não deixava preta a panela também. Mas era um inferno também quando a pessoa quer sair do colégio e dava aquele trabalho, e quando ele entupia também. Sobe um fogo, deixava preto tudo. Eram umas coisas bem trabalhosas. Mas eu me lembro que quando nós mudamos, eu já estava casada, comprou um fogão a gás. Então a geladeira, uma coisa que eu conto, pena que esse espaço, esse trabalho que a gente está participando aqui é muito interessante porque olha quanta coisa a gente teria pra contar. Vocês viram que eu contei da minha mãe. Tem a parte das habilidades dela de criar coisas, por exemplo. Nós fomos ter geladeira depois de muito tempo mas às vezes me dá uma saudade dos natais. Eu vou lembrando das coisas que ela fazia pro natal. Ela pegava latas de banha, não sei se você se lembra daquelas latas. Hoje tem de tintas as quadradas, então vinha com banha porque óleo também naquela época... Porque tinha uma série de coisas que os ricos tinham que as pobres não podiam comprar e a gente ficava só na vontade de comprar. Então pobre usava banha, eu durante muitos anos: “Fazer comida com óleo era uma coisa muito chique”. E aí ela encomendava no armazém uma lata de banha daquelas, então ela deixava fechada nas laterais, tirava aqui, aí ela fazia dois furos aqui do outro lado e fazia umas prateleiras. E ela fez também pra essa lata um suporte de madeira. Naquele tempo vendia-se, hoje ainda se vende barra de gelo em alguns lugares, mas era vendido na porta. Tinha uma não sei se era carroça acho, toda de zinco assim. Porque tinha muita gente que não tinha geladeira. Mas existia uma, eu me esqueci o nome. Nesse tempo nós estávamos numa roda, existia uma marca de uma geladeira, tinha um nome que a gente dava. Sabe esse frigobar que tem nos hotéis? Eram umas geladeirinhas pequenas daquele tipo que era pra gelo só que elas eram feitas, era como se fosse uma geladeira, ela era de... Eu não me lembro por fora se era de uma (louça agatha?) ou o quê que era. E por dentro era toda de zinco e ela era própria pra botar o gelo, durava. Tinha as prateleirinhas e tudo, depois tinha uma torneirinha embaixo para escoar a água que o gelo derretia, só que aquilo também era caro. Então ela criou esse suporte de madeira, botava aquela lata ali dentro e a gente comprava gelo e ela fazia no natal. Não era só no natal, no verão a gente tinha água gelada, cremes. Nós tínhamos um banco enorme assim, então essa lata ficava em cima daquele banco ali. E assim ela criou essa lata pra ser geladeira. Ah, porque ela enrolava o gelo no jornal, você sabe que o jornal conserva tanto o calor com o gelo? Então sempre tinha jornal, o rapaz deixava no gelo era meia barra que se comprava. Se enrolava bem no jornal, depois num saco de estopa, ela comprava saco de estopa especialmente. Tudo era trabalhoso mas isso aí era confortável e muita gente copiou dela, da nossa amizade várias pessoas copiaram esse modelo. (risos) E desse tipo de lata igual ela também fazia forno pra assar pão. Era muita habilidosa pra inventar coisas.
P/2 – Conta um pouquinho desse talento pra fazer creme...
R – Ela criava muita coisa. Eu achava interessante, depois eu liguei os fatos, como é que uma pessoa que veio de fora, que não estudou mas sabe? Eu acho que ela ouvia muito, ela também, que quando ela foi saindo da minha madrinha, que eu falei pra vocês que já não suportava mais empregada, ela foi trabalhando em várias casas de faxineira. Naquele tempo também não se usava a palavra faxineira, era empregada de limpeza: “Sabe de uma empregada de limpeza pra mim?” Que um indicava ao outro. E ela trabalhou em várias casas, antes de falar da pomada, eu me criei com vários hábitos dela, que eu não sei se vocês estavam presentes. Foi onde que eu falei no baú do turco, ela trabalhou na rua General Osório. Se concentrou muito. A gente chamava de turco porque essas nacionalidades árabes tudo que a gente mistura, eu nunca sei bem quem é turco, quem é libanês, a gente acha que tudo é a mesma. Eles mesmos às vezes contam que as pessoas misturam. Em geral o mascate, aquele que vinha de cidade em cidade, a gente dizia: “O turco vem aí pra vender”. Porque eu tinha uma coisa muito interessante, eu vejo na religião deles aquele negócio da Meca. É Meca em que eles ajoelham a uma determinada hora pro lado. E a minha mãe olha o que ela tinha, que eu acho que é parecido com aquilo e eu agora depois de bem, depois que ela faleceu, depois de muitos anos que eu comecei – que eu fico muito só -, então eu fico matutando e ligando os fatos. Ela tinha um negócio em casa assim: se ela tivesse acordado às seis horas da manhã ela tinha que rezar. “São seis horas da manhã então vamos rezar!” Meio-dia, meio-dia era hora de fazer uma oração então a gente rezava, sabe? Só não ajoelhava assim, mas eu às vezes, não sei da onde ela tirava, aí seis horas da tarde também. Mas as pomadas também que eu lembro dela fazer. Agora, me parece que essas coisas também veio lá de fora, porque antigamente essas fazendas e até na cidade eu tenho uma amiga que mora em Porto Alegre que é sobrinha-neta de pessoas que eram amigas dela. As empregadas das famílias faziam muita amizade de acordo com as famílias também. Por exemplo, lá pra fora eu acho que até hoje, não sei se as pessoas ainda se dão ao trabalho de fazer sabão, porque a distância antigamente, acho que até compravam mas faziam sabão, até sabia a receita: é um pouco de gordura que vai com soda cáustica, não sei mais o quê. E eu acho que essas coisas ela também aprendeu com pessoas, que ela trabalhou muito com pessoas que tinham fazendas, essas pomadas, por exemplo, de enxofre me consta que tem estância. Hoje compram pra isso tem as lojas, hoje já existe a escola de agronomia que com certeza tem muitos remédios que vieram dessa base. Que me consta assim que ela fazia essas pomadas pra ter, mas que fazia muito lá fora com enxofre pra botar quando saía ferida nos cavalos, nos cachorros porque usava coisa com enxofre. Eu não sei se isso vem daí porque ela fazia, ela lavava a gordura de ovelha. Lá pra São Paulo eu acho que deve vender ovelha mas eu acho que não tem muito o hábito da carne de ovelha. Pra nós aqui é um charme, até ontem, não aqui eu não sei se eles já expuseram pra nós carne de ovelha, que tem uns restaurantes que botam carne de frango, às vezes tem. Mas na nossa vinda pra cá nós paramos num lugar que eu me lembro que o Mestre Batista serviu, ah é! Quando eu viajo eu não encho a barriga, eu viajo de barriga vazia, não como nada de pão, farinha. Eu sempre passei muito, sofri muito anos atrás de ficar. A gente fica produz gases, a gente fica incômoda pra viajar. Eu sempre fui de excursão fui sofrendo e fui aprendendo. Eu me lembro que a gente parou num parador que tinha no caminho e tinha uma carne de ovelha, mas eu já tinha me servido e eu não quis me servir mais. Então a ovelha é hoje em dia, assim como o porco hoje em dia, com esses processos novos a carne de porco já não é mais aquela carne tão gorda. Eles arrumaram um processo que o próprio animal. Acontecia muito dos porcos antigamente porque deixava engordar, eles ficavam com problema de coração. Muita gente até engordava tanto o porco que o porco, eu vi muitas pessoas, o animal morria. E a carne de ovelha também passou por um processo, que a carne de ovelha durante a minha infância e juventude era uma carne muito gorda, é aquela carne que faz a comida e se está frio, que aqui no Rio Grande do Sul a gente usa muito uma carne de ovelha com batata, uma gostosura mas no que esfriou até a boca fica, a panela, tem que ter muita água quente e tudo. Então é aquela gordura eu acho que as pessoas até começaram a inventar coisas porque era uma fartura de gordura. Então ela, é aquilo que eu disse pra vocês, ela derretia. Sem sal, depois passava num coador, esfriava. No outro dia tinha outra fervura, ela passava era num pano. Então a gordura ficava naquele pano branquinho, já torcia. Apertava com o garfo e no outro dia aquela gordura ela botava numa vasilha e essa parte era a purificação que ela chamava. E sovar, é um negócio, às vezes até eu sovava aquela gordura. Sabe aquela manteiga que a gente faz em casa pra fora. Depois que ficava uma gordura branquinha. Ela misturava enxofre. Eu me lembro que eu também ajudava. E essa pomada ela usava pra ferida, queimaduras. A cataplasma era muito interessante. Vocês já tinham ouvido falar em cataplasma que eu contei ali hoje, vocês estavam os dois de manhã?
P/2 – Não, não estava.
R – A cataplasma é a linhaça, que ainda se encontra hoje linhaça e usam em até alguns pães o grão. Porque quando cozinhar até tira o óleo, quando cozinha ela forma tipo um mingau, então você pega um pano, por exemplo, guardava lençóis velhos. Pega aquele lençol, um pano assim dobrado, põe aquela cataplasma, botava aqui e nas costas que era pra soltar o catarro e uma camiseta. E às vezes quando o caso era muito forte como acontecia ali, eu várias vezes fui ao colégio com aquela coisa grudada aqui assim na camiseta. Tinha também do óleo de mocotó, o processo todo do óleo de mocotó também o laboratório dela era bem derretido, bem fervido, passado no pano. Ela dividia aquele óleo de mocotó. A gente também, como a gente usa o hidratante, só que os hidratantes hoje não contém gordura, que são coisas que amaciam a pele, mas o gorduroso também tapa os poros. Mas naquele tempo não tinha outra coisa, então a gente antes de passear, principalmente nós que somos de pele escura. Lá pra cima tem uma série de posições diferentes porque agora faz frio mas não é como o frio nosso. A pessoa branca que está muito frio e não usa nada na pele vocês viram que eu estou, hoje eu não passei hidratante, viu como os meus pés incharam, mas aqui no inverno se não passa um creminho a gente que é escura olha aqui como fica, a pele fica tão áspera que chega a ficar cinza. Então a gente usava aquele óleo de mocotó pra ficar gostosinho e aquele do cabelo que ela punha e ficava bem, botava num vidrinho. Que tem uma água de colônia, que eu não sei se ainda se compra na farmácia, tem pessoas que compram que tem pessoas que fazem umas essências em casa. Então ela botava aquele óleo de mocotó num vidrinho e botava aquela água de colônia que era pra perfumar um pouquinho. E eu usava no cabelo assim só que a gente tinha que lavar o cabelo no outro dia porque o cabelo amaciava mas se estava muito calor, ficava aquele cheiro. Não tinha uma química pra tirar o cheiro do óleo. E várias, de manhã também não deu tempo porque tem um negócio também que não é só ela, isso daí eu vi muito. Nós tínhamos uma vizinha, muito interessante, até hoje quando eu me encontro com a Denise aí tem o caso da uva. Vamos supor que a Denise tivesse agora aqui perto ela ia dizer assim: “Me conta o caso da caixinha da goiabada” Vou ver se dá tempo de eu contar. Mas nós tínhamos uma vizinha, dona Judith, que quando nós começamos a ficar maiores, a gente gostava dela mas a gente ficava tão irrita. Inclusive tinha umas pessoas na quadra que eu morava que não queriam mais receber a dona Judith em casa. Naquela época tinha o negócio de “não presta”, não presta isso, não presta aquilo. Ah, não presta copo tem que guardar de boca pra baixo porque... Hoje as pessoas não tem, existem umas superstições hoje mas até são mais divertidas, mas essa dona Judith ela tinha uma vida muito sofrida. Eu não me lembro mais. Ela tinha uma filha também, ela tinha um drama com o marido muito triste, porque isso todo mundo tem até hoje, só que naquela época tudo era um drama. E ela teve uma filha também que teve um problema de amor muito sério, então, ela tinha aquilo como se fossem coisas azaradas. Então eu não gostava muito dessa e a minha mãe se influenciava muito, ela ia lá em casa e: “Dona Ambrósia, não guarde copo assim que não presta!” E ela tinha uma porção de coisas: “Isso não presta tem que guardar assim”. “Não presta dormir com a gaveta”. “Não presta não sei o quê...” Era tanta coisa (risos). E essa dona, e era uma coisa que as pessoas daquela época gostavam que também é uma descendência dos turcos, dos árabes, mas que é uma coisa muito interessante porque várias religiões as pessoas batem muito na religião africana e tal mas virando e mexendo, misturando tudo todas as religiões, eu cheguei numa conclusão, tem uma coisa da outra que é a defumação. Porque o incenso a religião africana usa nos seus trabalhos de defumação e até receito, a defumação pra abrir caminho e a outra que é pra amor, e a outra que pra saúde e tal. E tem uma defumação que é incenso e que a Igreja Católica queima. E Jesus Cristo quando nasceu, está dentro da história que os reis magos levaram pra ele incenso, mirra e benjoim. Cada um levava naquele. Porque lá os árabes usam muito porque eu acho que até uma coisa natural, porque tudo que é perfumado dá um bem estar. Mas essa dona Judith... Mas tinha a defumação daquela época que eu detestava e detesto até hoje, e parece que eles aconselham, não sei, nas religiões, não sei pra que ela é muito forte. Parece assim, parece que na religião africana eles receitam que é pra quando a casa está muito carregada com muitas coisas ruins que é a __________, não sei se vocês já ouviram falar. Naqueles, desses Globo Repórter, esses filmes que mostram os árabes e os turcos, aquele mercado Marrocos, que país que fica Marrocos, que tem aquele mercado persa. Marrocos é onde, eu não sei bem? É tudo parente. Aquele mercado que era ali que na minha infância eu me criei com aquela... É Marrocos? Eu me lembro dos filmes da minha infância, Marrocos é pra mim hoje eu tenho uma desilusão tão grande de ver aquela destruição. Vocês não queiram saber o que representa Marrocos pra mim por causa dos filmes do Ali Babá. Marrocos pra mim da minha infância. Eu vejo assim tudo dourado de ouro, aquelas coisas que eram mostradas, que os filmes mostravam. E hoje eu vi que quando foi lá aquelas bombas, eu fico tão triste que eu não sei o quê. Eu vi nas reportagens as defumações, eles usam muito essas defumações ainda. E essa tal de ________ tem um cheiro enjoado que vocês não queiram imaginar. E a dona Judith comprava pra ela e levava pra minha mãe. Acontecia qualquer coisa ruim: “Sua aqui é ______ é bom porque tira o olho grosso, não sei o quê. E nós detestávamos essa. E às vezes a gente tinha que ir lá na casa dela pra dar um recado e a gente não gostava que a casa dela tinha um cheiro muito forte. De manhã ela queimava um não sei o quê, de tarde, então tinha. E a minha mãe ia muito na onda dela nas coisas que presta que não presta. Mas a história, agora que eu falando nos árabes, os turcos, a minha mãe tem um baú que ela trabalhou muito tempo, era um turco que tinha uma lojinha depois ele se mudou de Pelotas, e o turco gosta muito de fazer trocas, não tem dinheiro. Eu tenho uma amiga que amiga que imita turco... Eu tenho uma amiga que trabalhou porque na volta do mercado tem muita loja de turco lá em Pelotas. Porque a Cláudia ela faz limpeza numas lojas e ela fazia limpeza numa loja que eu trabalhava, então às vezes a dona Fátima queria que ela fosse tal dia, ela dizia: “Eu tenho que ir lá, o turco _____________________ que eu tenho que limpar aqui” (risos) a imitar. Então o seu, eu me esqueci o nome dele, deu esse baú pra minha mãe que eu tenho até hoje. Foi tu que falou uma história de baú. Ele é grandão assim, eu cuido muito, de vez em quando eu ponho remédios pra aquele bichinho que come madeira. E na minha infância é a única coisa com chave que a minha mãe tinha, a gente tinha armário, guarda-roupa, tudo. Ela pegou esse baú pra guardar coisas mais sérias: documentos, às vezes até dinheiro, coisa, porque tinha o cadeado dele. O cadeado e a chave são as coisas mais lindas: é um cadeado assim e a chave ela é, a chave dele ela é assim como meu polegar ela é gordinha assim, é tão bonitinho, e larguinho assim. E às vezes eu tinha uma curiosidade de saber. São duas histórias, a caixa da goiabada tem sair, não tem nada com o baú é outra coisa, com o baú é outra coisa, do baú é uma bebedeira que nós tomamos. A minha mãe gostava muito de ter licor em casa, aqueles de bala assim, hoje ainda muitas pessoas tem é licor de botiá, de casca de bergamota, então tinha um armário tudo. Mas às vezes ela saía pra limpeza, quando eu era um pouco maior nem sempre eu ia com ela, então quando ela saía que ela via que ia demorar, porque nós adorávamos os licores, ela botava, ela pegava um guardanapo e amarrava em cada um porque tinha outras coisas dentro do baú e botava dentro do baú e levava a chave. Um dia a Denise estava lá em casa, e a Denise assim: “Sirlei, nós estamos com 70 anos e até hoje a gente se lembra”. A Denise disse: “Sirlei, eu acho que a tua mãe não vai fechar o baú vamos ver se...” E não que ela saiu e deixou o baú aberto! (risos) Nós abrimos o baú tudo e deu uma bebedeira de licor, pegamos uma xícara assim. Nós tomamos licor bastante, depois fechamos. Isso é coisa de criança mesmo. Quando ela chegou (risos). A Denise até hoje ela não se esquece disso. E a caixa da goiabada é que a nossa cidade é conhecida pelo pêssego, que é uma das histórias que eu gostaria... Eu tenho... Eu fiz um conto pra um concurso de um banco que tem de talentos da maturidade. E nós temos, no Brasil também tem uns lugares que fazem pessegadas muito boas, pessegada cascão. Mas a pessegada é um doce tradicional da nossa cidade porque a nossa região tem grandes plantações de pomar de pessegueiras, que ela é uma fruta que eu não sei se ela já era nata daqui ou se alguém trouxe. Chega a ter chácaras enormes de pessegueiras. Então tem pessoas que vendem até hoje na porta a pessegada naquelas caixinhas. E mãe que eu disse pra vocês que ela gostava muito de trabalhar em madeira ela guardava aquelas caixinhas que depois ela limpava e fazia caixinha pra guardar talher, a outra pra guardar moeda. E um dia tinha uma visita e eu quis, a gente queria ajudar pra abrir a caixinha de goiabada e a gente não deixava porque se tu abrisse mal a tampinha se partia. E ela: “Não, deixa que eu abro a caixinha, deixa tu mexes Sirlei, não mexe que eu quero abrir”. Só que ela estava conversando com a visita, quando ela botou a faca assim a Denise estava em casa, a caixinha abriu toda se desmanchou e nós caímos numa risada e nós rimos tanto daquela caixa que ela não queria. Eu fiquei de castigo, quer dizer, você estava perguntando. Fiquei de castigo porque ela ficou, claro, na hora ela não gostou de ter quebrado a caixinha. A Denise não se esquece disso até hoje. a história da caixinha da goiabada.
P/1 – Qual a diferença de goiabada...
R – É pessegada.
P/1 – E como são as comidas assim?
R – As comidas da... tem muita comida que continua ainda porque depende muito da região. Eu criei assim: feijão é uma coisa que sempre se comeu e se come até hoje. Mas uma comida que sempre se fez muito lá em casa é essa que eu falei pra vocês: ovelha, carne de ovelha frita com batata. Guizadinho com abóbora, bife. Uma coisa que eu me criei, que ela me acostumou que ela tinha preocupação, que naquela época as pessoas tinham muita preocupação para o filho se criar forte era comer de manhã, no café da manhã sempre ficava uma comidinha de manhã para tomar café: arroz, aquecia-se um arroz junto com pão. E agora uma coisa, uma comida que eu comi bastante na minha infância, que eu gostava e gosto até hoje e aprendi a fazer, e ensino a fazer bem feitinha, é bife de fígado. Tirar a pele do fígado, que tem gente que às vezes a gente chega em restaurantes, hoje já tem as nutricionistas que orientam, mas tem muita gente que não sabe tirar a pele do fígado e fazem, ele fica duro não tirando aquela pelezinha. E carne assada, bife enrolado a minha mãe fazia muito bem. E tem uma comida que é “simples que nem cem” que eu falo muito. Isso eu aprendi a fazer cedo. É uma coisa simples que muitas vezes a gente não sabe fazer e tem um segredo. Por exemplo, uma vez eu vi uma pessoa dizer: “Eu detesto guisado com tudo empelotado”. E o guizado tem uma ciência, que é simples e a maioria das pessoas fazem isso mas tem muita gente que não faz, que é o fazer o guisado e não deixar ele empelotar. Tu sabe essa técnica. Sabe a técnica de não deixar, mas parece que tu gosta de cozinhar. Tu faz guisado?
P/1 – Uma vez só.
R – Ele empelotou? Pois é, sabe qual é... Tem uma coisa que eu faço maravilhosamente bem, devido a eu ficar costurando toda a vida, eu não considero grande costureira mas fui eu mesma... Eu faço várias comidas bem, mas tem umas comidas que eu tendo calma e tendo tudo, que não são difíceis é a maneira de fazer: bife à milanesa, só que tem ser alcatra ou filé mignon, eu faço com colchão de dentro também mas pra ficar bom mesmo é com alcatra, um filé mignon é bem mais caro, bife à milanesa. Eu aprendi a fazer com a minha – não esqueci do guisado, eu vou dar a receita agora – com a minha amiga Cotinha é uma grande cozinheira, que é a Cotinha, é outra amiga de infância que está hoje viva, graças a Deus. A gente está sempre muito próxima, agora quando eu for daqui pra lá eu vou ficar uma noite na casa dela em Porto Alegre. A Cotinha é uma grande cozinheira e aprendi a fazer bolinho de bacalhau diferente que muitas, esses dias mesmo eu cheguei num lugar e comi o que não precisa botar farinha, porque tem gente que bota farinha no restaurante, ele fica mais duro, mas é só o bacalhau desfiadinho com a batata e o tempero, não precisa botar farinha. Esse você sabe fazer. sem a farinha. Mas o guisado não tem mistério nenhum, sabe qual é? Porque essa foi uma das primeiras comidas que a minha mãe me ensinou a fazer porque ela me botava pra mexer o guisado. Então a primeira coisa que eu faço pra fazer o guisado eu desmancho bem o alho no sal, pico cebola, gosta muito de orégano, uso orégano. Lá pra Pelotas a gente não tem muito assim de botar folhas, cheiros de folhas que italiano tem muito. mas o orégano eu uso, manjerona. Mas então eu refogo bem o alho. com a cebola e ele não deve, que às vezes a gente tira da geladeira o guisado está muito congelado, ele não desembolota, ele tem que já estar descansado. O segredo é seguinte: enquanto bota ele ali pra fritar tu tem que ir amassando com o garfo até ele perder todo sangue, entendeu? Porque por exemplo, tem pessoas que faz o refogado todo, põe o guisado e mexe com a colher e vai mexendo, a onde ele cozinhou o embolotado depois ele fica embolotado. Então o segredo está aí, tu experimenta fazer, tu amassa bem, tu vai amassando, é com o garfo, vai amassando, amassando até ele perder todo o sangue. e que ele já não está mais cru, já está cozidinho ainda mexe um pouquinho, mistura bem, mexe bem. Se tu tampar, ele vai criar liquido. Eu refogo ele até ele secar todo o liquido. e vai refogando. Depois que tu ver que ele secou tu pode tapar e deixa ele fritar. E existe dois tipos de guisado: de primeira e de segunda. Em alguns açougues o de segunda que é mais barato é muito gordo. Mas o de primeira não tem problema. E eu faço assim: eu deixo ele fritar mas não deixo ele ficar muito seco, depois eu pico um temperinho verde, ponho, e tiro do fogo. É lá no começo que tem. Eu já cheguei a ir em uns restaurantes com guisado embolotado. E eu gosto muito de botar ovo no guisado. Eu nesse fim de semana, agora eu estou deixando de estudar mas eu ainda faço, eu fico acordada, eu deito muito tarde então eu fico nos fins de semana, ainda mais quando eu estou só que o meu filho vende artesanato. Às vezes ele sai da cidade pra vender em praias, eu faço uma panela bem grande assim de guisado porque depois eu divido assim em uns potinhos e às vezes no domingo eu nem faço comida, eu como frutas, eu como guisado, eu pico uma alface. Eu adoro guisado, e eu gosto muito de guisado com ovo. Mas pra ele ficar gostoso também tu pica ovo, já bota quando tu aprontou. Porque se tu vai, esfria, depois tu vai botar o ovo não fica tão gostoso.
P/1 – E queria perguntar pra senhora se tinha história de assombração, se tinha causo assim, esses causos muito gaúchos. Muitas vezes?
R – É, eu não me criei com muito causo de ter medo de assombração. Hoje eu falei de manhã no evento sobre o Boitatá, naquele tempo a gente conversava muito sobre o Boitatá que hoje está meio esquecido que é uma lenda aqui do Sul, que eu não sei se lá pra cima tem, porque cada região tem a sua lenda. Porque consta que tem lugares que a terra tem muita fermentação assim. e o Boitatá é uma explosão tipo fogo que aparece nas estâncias de noite, então as pessoas chamam aquilo como... Foi sempre levado pelas pessoas como assombração mas dizem que não, que é uma coisa da terra, que existe até vulcões. Aquele fogaréu todo. E eu me criei, essa lenda. Agora, de assombração a gente tinha mania assim, a gente tinha muito filme do drácula daqueles antigos. Vieram muitos filmes que a gente dizia que era de assombração. Então a gente tinha o hábito, a gente ia ver porque gostava, mas às vezes a gente sonhava, às vezes as mães não deixavam muito a gente ir porque ia ver os filmes e depois ficava impressionada e queria passar pra cama da mãe ou queria dormir de luz acesa. Mas eu não me lembro assim se na minha, se a gente teve, porque em geral as histórias de assombração são pessoas que moravam em casas muito grandes assim. Casas às vezes que a pessoa tinha se matado, dava um tiro depois as outras não queriam morar porque diz que ouvia um barulho. Algumas coisas de assombração eu me lembro dos meus parentes contarem, aqueles que vinham de fora, que de noite ouvia um barulho nas cozinhas. Tem pessoas que contam que as casas, as fazendas que tinham escravo, que ouve barulho de correntes. Mas assim que eu, eu não vivi muito assim esse clima de assombração. Eu vivi muito, que foi muito bom, eram os efeitos dos filmes que naquele tempo os filmes eram americanos, predominavam, começaram aparecer filmes brasileiros que também a gente gostava muito do Grande Otelo, do Oscarito. E uma coisa muito importante que eu tenho pra falar da minha cidade, até porque fica registrado nessa entrevista, que muito do que eu tenho assim de artístico, que a gente vem tendo um aprendizado talvez seja herança de coisas que eu até tivesse comportamentos. Porque os filmes americanos eram. A gente gostava assim: filmes musicais românticos, e tinha, hoje em dia, e tem uma série de coisas que eu vi na minha infância, adolescência no cinema, que eu tenho uma época que eu morei quatro anos em Porto Alegre, então tem umas coisas que hoje estão no auge e que eu vi a olho nu. Mas, por exemplo, o que eu vi no cinema que hoje custa muito o Brasil se desenvolver que é o nado sincronizado a gente na minha infância e juventude, a gente se criou vendo no cinema porque tinha uma artista (Stele Willyans?), não sei se vocês curtem filmes antigos, já ouviram falar na (Stele Willyans?)? Ela foi na época dela, acho que foi bem... Porque eu comecei a ir em matinê bem 40, 50 ela no filme já era adulta, então acho que esses esportes foram desenvolvidos, vamos supor, início de 40 por aí. Ela foi uma artista que ela foi atleta e, depois, passa aquela idade que eles se apresentam. Ela passou a desenvolver, os filmes da Metra era a coisa mais linda as produções que faziam dentro d’água. Vocês já viram alguma filme daqueles da (Stele Willyans?) que vinha aquelas coisa do fundo d’água, aquelas músicas? Pois é, aqueles filmes nós não perdíamos. Então a gente conhecia muitos artistas pelo nome. E tem uma coisa muito estranha de hoje em dia, por exemplo, filme americano eu não sei quase nada e nem tem mais artista, eu não acho graça quando tem o Oscar. Eu fui uma pessoa que sempre acompanhei o Oscar porque o nome do artista durava muitos anos, a gente ficava sabendo dele, ficava com fama muitos anos. Hoje o fulano ganhou, tu se lembra quem ganhou o Oscar ano passado? Nem sei que filme foi, não é mesmo? Até hoje no Brasil as coisas hoje são todas descartáveis, não criam parece que raiz. Então, por exemplo, a gente fazia álbum de artista que eu tenho uma pena, eu imagino eu hoje nesse projeto eu tive caixas e caixas que a gente juntava tudo quanto era propaganda, nós íamos mexer no lixo do cinema pra coisinhas dos artistas, então a gente colocava das revistas. Então da (Stele Willyans?) a gente gostava, teve um grande artista que sempre o filme dele era policial, detetive, que era um homem muito lindo, Gregório Peppe. O nome dos artistas de hoje a gente nem sabe dizer. Porque naquele tempo a gente... Um artista que eu acho que ele está vivo e que eu tenho filme que sempre me impressionou muito e que, porque a Globo às vezes passava filmes mais antigos, que é o (Kirk Douglas?), pai do Michael Douglas, o Ulisses, não sei se tu viestes. Que filme. Filmão. E Robert Taylor, Elisabeth Taylor tudo isso eram artistas que a gente falava muito e guardava. (Bety Davies?), (Joana Crawford?) ela era antipática assim. Fazia filmes de mistério. Meu Deus, eram tantos filmes que a gente ficava assim, a primeira que sabia: “Vai passar o filme do tal artista”, então a gente tinha os artistas que a gente gostava Tarzan do ______________. O Gregório Peppe eu já falei. Meu Deus tinha tantos artistas que a gente achava eles bonitos, a gente sonhava em conhecer eles um dia. Aí tem também artistas italianos, tem um artista que eu gostava muito dos filmes dele que era o (Vitório Casman?) o Jô até falou que conhecia ele. Tem uns filmes muito bons também com a (Regina Lolobrigida?), Sofia Loren, aquele Marcelo Mastroianni, que chegou a ser considerado o homem mais bonito do mundo. Então a gente tinha, a gente era amarrada diferente de hoje, a gente se envolvia com o cinema. E uma coisa que quando eu morei em Porto Alegre que hoje o Faustão mostra aquele mistério todo daquele barulho que aquelas gurias duras, é uma novidade que eu vejo mas acho uma coisa assim porque eu via a olho nu, quer dizer, eu não sei se chegou a ser Holiday, ou se eram, como é, da Escola Holiday. Porta Alegre tem um cinema que houve muita briga pra desmanchar o Coliseu porque em Pelotas o nosso Guarani ele é um teatro, hoje ele é cinema e é aquela construção antiga que ele foi uma construção feita pra picadeiro de circo e pra pista de patinação. Agora, lá em Pelotas nunca foi feito patinação no Guarani. Me consta, eu não sei se é Bagé ou Santa Maria que tem um teatro nessa mesma estrutura. Mas o Coliseu, em Porto Alegre, eu cheguei a assistir companhias de patinação no gelo vindas dos Estados Unidos. Outra coisa que eu assisti muito... Bom, eu estava falando nesse programa de televisão que tem patinação eu até vejo que eu adoro patinação, mas falta muito naquelas pessoas pra ser uma coisa linda, suave. Como eu via a olho nu. E uma coisa que eu via muito também em Pelotas, e quando eu morei, eu morei quatro anos aqui por causa de um ateliê de costura que eu trabalhava em Pelotas, uma parenta abriu aqui em Porto Alegre e a senhora queria costureiras com a prática de lá então a gente vinha, de vez em quando, trabalhar. Era boxe, eu adoro luta de boxe e assisti muita luta de boxe em Pelotas, que os jovens hoje, aliás, acho que nem sabem. Ali onde era o Colégio Pelotense era um ringue de boxe que vinha uns lutadores dos Estados Unidos famosos. Do Brasil quase não tinha. Era um ringue que vinha lutadores de fora. Eu ia com o meu pai. Eu acho que isso foi década de 40 que eu me lembro de ir muito a luta de boxe com o meu pai. E até hoje eu tinha vontade de ver aquelas lutas, porque também já nem está a mesma coisa. Eu me lembro que nos jornais antigos a luta de boxe, em geral os lutares eram negros. E aquelas negras com aquelas peles lindas, todas sofisticadas, todas lindas. As esposas. E isso, eu assisti luta de boxe tanto em Pelotas como em Porto Alegre.
P/1 – A senhora nunca quis ser artista de cinema?
R – Na verdade, analisando uma resposta eu te respondo assim: eu acho que eu sempre quis ser atriz, mas na verdade agora como eu, que esse projeto me deu de presente eu fui atriz toda a vida e pelo teatro do oprimido todos nós somos artistas. Porque eu fui convidada pra esse projeto, se hoje eu estou aqui dando essa entrevista pra vocês é porque desde a infância carnavalesca, me vi sempre participando de manifestações principalmente da cultura negra em Pelotas e em vários lugares. Em Pelotas tem um grupo afro que chama-se Grupo Odara que foi uma das coisas da comunidade negra que eu consegui vingar, e eles até consideram que eu seja uma das que botou água na raiz. Porque a nossa cultura negra ela custou muito a ter voz, a ser valorizada, a gente poder começar a mostrar a dança, não ficar só, porque durante muitos anos ficou que o negro era só jogador de futebol ou pra fazer carnaval. E tem muita gente que ainda tem um pensamento diferente que acha que o carnaval foi uma invenção do negro e é uma coisa do negro. Na realidade houve foi uma assimilação porque pelo que me consta a palavra carnaval, o sentido de carnaval é uma festa de história antiga. Que era eu nem sei bem explicar e dizer, mas pelos filmes que eu vi vem da palavra carne, festa da carne, que as pessoas se expunham, festejavam e bebiam, gritavam. E naturalmente que com os europeus, eu acho, não sei quem é que trouxe pro Brasil, juntou com o samba, com o batuque do negro. Foi uma coisa que deu certo e virou o que é hoje carnaval. Mas ficou muitos anos assim parecendo que o negro só... Até muitos anos, inclusive, nós negros achávamos que era só aquilo e esse coral que achou, também vamos ter um coral na entrevista?
P/1 – Esses cachorros não tem como parar! (risos)
R – (risos) Como é que tu vai fazer, prossegue?
P/1 – A sua voz fica mais alta que está muito perto do microfone.
R – Ah está bom então. Cortando um pouquinho, não deixa eu perder o embalo do que eu estou contando que é do carnaval. Eu fiz uma entrevista pra esse concurso que tem da maturidade desse banco. Então eu participei do contador de história que fazia uma gravação, então a gente custa um pouco, a menina apagava e gravava, apagava e gravava e na hora que eu consegui fazer um bom texto, saiu o vizinho de moto e ela disse: “Ah, estragou tudo!” Ela ligou e saiu eu falando e aquela moto rouca. Mas voltando à nossa história. Até poucos anos atrás, nós mesmos achávamos que com o negro só se salienta futebol e carnaval. Ou então as empregadas cozinheiras que eram muito boas. E a gente começou a ser dar conta assim que muita coisa da nossa cultura começou sendo copiada, aproveitada. Eu acho que foi aí que o negro começou a ver que ele tinha que valorizar a cultura e descobrir que tem muito mais que o carnaval e o futebol. E também pras pessoas por causa da pele não achar que o negro é inteligente, o negro não é capaz de formar médico e tal. Mas eu, ainda respondendo a tua palavra que tu me perguntaste se eu quis ser atriz, na verdade, eu não sei se eu queria ser atriz, mas analisando o que eu falei do projeto, como eu participo muito desse projeto, o ano passado esse Grupo Odara foi uma das coisas que vingou em Pelotas. Porque todos nesses meus anos de vida surgiram vários movimentos negros por causa de política, o movimento negro quer fazer isso, quer fazer aquilo, o fulano que agora esse ano vai trabalhar no movimento negro em prol do negro isso, e aí se elege ou entrou na campanha e depois esquece de tudo. Então um grupo de pessoas numa escola, ela se formou, a professora Maíra, em dança e começou a levar a dança afro pra escola, e dali surgiu um projeto que até depois da entrevista eu tenho uma pessoa, eu não sei se vocês ainda tem tempo que seria uma entrevista bem importante. Essa pessoa, que é o mestre Batista, faz parte dessa história, que até nem vou contar muito que se vocês se interessarem em entrevistar ele mesmo conta. O supapo, que vocês viram ele falar, que é um instrumento que chegou em Pelotas através do Rio Grande, ainda está se pesquisando que tipo de negros trouxeram, que é um instrumento que as escolas de samba do Rio não tem ele. Ele surgiu mais na invenção aqui por causa do coro que afora. E esse grupo... E o Giba Giba que é um artista negro, que é de Pelotas, hoje convive em Porto Alegre, não sei se vocês conhecem – porque é tudo muito rico, tu começa a mexer com a coisa, começa a aparecer gente. O Giba Giba tocou muito supapo na juventude dele, depois também aquela coisa assim a história ficou atirada, agora eles estão com a valorização surgiu. Então foi criado um projeto, em um outro governo, da valorização do supapo e esse projeto foi levado pra Pelotas para que fosse fabricado, fosse levada, viesse à tona a história. Só que por motivos também que o mestre Batista que sabe explicar melhor, o projeto caiu e pra não ficar esquecido a direção do Grupo Odara, do supapo, eu não sei como era o projeto Cabubu, surgiu o Grupo Odara que é esse que vingou em Pelotas. Então, em uns quatro anos atrás na semana da consciência negra o Odara resolveu fazer uma passeata de rua, uma coisa inédita de Pelotas, e eu quando eu soube eu estou lá participando. Ainda mais eu tenho várias roupas africanas, várias roupas que eu mesmo faço que até eu te falei que se fosse pra aparecer toda eu tirei já da mala. Eu quero ver se uso amanhã, tenho uma bata africana que eu ando aí também. E eu acompanhei a passeata, e depois quando a passeata terminou na frente do mercado em Pelotas, o microfone ficou aberto e eu achei linda aquela passeata e pedi pro Dilermando e a Marisa que eu achei aquela semente maravilhosa, eu tinha então, eu me lembro que eu estava com 68 anos, eu disse assim: “Eu estou com 68 anos, vou ver se eu chego aos 70 e se o Grupo Odara estiver de pé e essa, vamos ver se vocês mantém uma coisa tradicional essa passeata, eu achei tão linda essa ideia. Essa semente hoje está sendo plantada aqui. Vamos botar água”. Quando eu fiz 79 anos, vocês fizerem outra passeata, eu estou com 71 e o Grupo Odara conseguiu vencer, ele hoje é ONG, está no Ponto de Cultura com o (Chibarro?), no mesmo que eu estou. Vão viajar a Salvador, já foram a Brasília, então vingou. E o ano passado na passeata, eu disse pro Dilermando que eu já tentei fazer trabalho comunitário várias vezes, eu tenho vários programas assim da minha área da costura para eu ensinar meninas, que não seria assim um curso de corte e costura, que um curso de corte e costura é uma coisa que nem as jovens de hoje têm paciência, eles não querem muito aprender, se acostumaram com a coisa toda pronta. É o creme que está pronto, que compra, a roupa de marca. E isso até que a gente está querendo passar nesse projeto: é a valorização das coisas antigas e o saber fazer, costurar, descostura manga, costura à mão se não tem máquina, tem que levar na costureira, mas você pode costurar à mão ali um feixe de calça. Eu mesmo que costuro já tenho calças, eu já cansei de trocar feixe de calças. O Eduardo, meu filho, sabe trocar um feixe de calça à mão. E não sei se você sabe que a calça jeans é mais difícil desmanchar o feixe estragado que costurar o outro, porque ela é costurada com cordão e tem várias costuras por dentro que não aparece, tu leva uns bons minutos desmanchando, tirando um feixe de uma calça pra botar o outro. Então tudo isso eu tentei já duas vezes fazer esse trabalho comunitário e não fui muito feliz porque uma vez me arrumaram uma escola de samba, um local, umas meninas, mas eram umas meninas muito sem orientação familiar, muito de andar pedindo na rua. Eram 11, não tiveram paciência, não sabiam enfiar uma linha na agulha. Eu me lembro que eu fiquei tão feliz na primeira aula que elas nunca tinham enfiado uma agulha, levaram horas enfiando a linha. E na outra aula eu já ensinei a pregar um botão, fazer um bainhazinha, eu levava todo o material. Eu falei pro Dilermando. No ano passado ele disse: “Ah, dona Sirlei, trabalhando muito?” “Ah, Dilermando, eu estou quase parando”. E o Odara é padrinho da Casa das Meninas em Pelotas, que é uma casa que recolhe meninas e atende meninos, essas meninas que são muito agredidas, que infelizmente hoje são abusadas, e tem uma casa que recolhe, elas são orientadas, algumas adotadas, elas passam por trabalho psicológico. E o Grupo Odara faz oficina lá com elas pra auto-estima. E eu ouvi uma entrevista do Dilermando e ele me disse: “Olha, dona Sirlei, pra trabalhar na Casa das Meninas passa num concurso na prefeitura a senhora tem que se informar”, ele disse: “Mas tem um projeto aí no Ministério da Cultura eu acho que muito próprio pras pessoas de mais de 70 anos, um projeto que já está acontecendo e custou aqui pra chegar pra nós no Sul que é a Ação Griô. Eu vou lhe apresentar para uma pessoa que vai conversar com a senhora, e algumas pessoas vão ser convidadas e vão ter que fazer um currículo” que foi o PC. E eu conversei com ele uma coisa muito interessante que tinha acontecido há uns três anos, eu entrei pro meu grupo de idosas da Universidade Católica, acho que 2003, e a Baronesa foi recuperada, a Casa da Baronesa em Pelotas, e o pessoal da área da história resolveu fazer estágio dentro do museu e criar uma tarde da terceira idade todas as quartas-feiras dentro do museu e o grupo que foi inaugurar foi o nosso. E eu chegando lá a gente, primeiro a gente foi conhecer a Baronesa porque de vez em quando a gente entrava lá ela não estava no processo que está agora com essa recuperação que ela tem atualmente. Quer dizer, atualmente mas que já tinha assim uns seis anos pra cá. E eu me lembro desses alunos e tinha um negro. O mestre Batista estava lá porque tinha sido convidado, o mestre Batista é uma pessoa que eu sempre conheci. Fui lá, nós fomos lá, conversamos, fizemos entrevista, aquela dos cheiros que eu falei num dos grupos ali, que foi dividido uns pra falar dos barulhos antigos, outros do cheiro, outro pra falar dos bailes. E a gente veio se reencontrar sendo que a pessoa que me apresentaram que o projeto foi o Paulo Sergio, o PC.
P/1 – Dona Sirlei, uma coisa que eu não entendi: a senhora foi procurada pelo mestre Griô pela sua arte de costureira?
R – Não não, não é costura, é pela arte toda, pela história toda de vida. Porque eu não sei se tu tem visto nas entrevistas que o Griô é de tradição oral, que é aquela pessoa que conta várias coisas. de vários tempos.
P/1 – A senhora passa esse conhecimento...
R – Eu sempre gostei muito de contar, como eu estou contando pra você, eu estou contando. Mas se eu fosse contar da minha infância, carnaval, tudo, nós entramos noite a dentro e amanhã ainda tem mais, porque tem uns 70 anos de vida. Eu estou contando porque tu faz duma pergunta e eu vou emendando, porque nós estamos na parte acho que artística ainda respondendo porque tu me perguntaste: “A senhora quis ser artista?” Na verdade eu acho que eu sempre quis. Eu como é que vou dizer? Acho que na verdade eu sempre me achei artista sem ser artista, é aquela coisa. Porque, por exemplo, na infância... Bom, pra resumir o Ponto de Cultura eu passei, entrei no Ponto de Cultura no projeto foi dessa maneira aí. Voltando à parte artística da infância, eu começo a analisar que eu toda a vida me apresentei, cantei. Porque bem na infância, no auge também tinha Carmen Miranda. Quando essa dona Judith ia lá em casa se lamentar, nós chamávamos ela de Libertad Lamarque, vocês de história sabem quem foi Libertad Lamarque, e viam muitos filmes também que eram argentinos. A Libertad Lamarque era uma cantora de tango, então a gente adora os filmes da Libertad Lamarque pra sofrer, porque as histórias dela eram sempre filmes dramáticos e ela cantava, como é? Tem um tanto que ela cantava que eu não me lembro, ia cantar meio “embromeichon” porque os filmes dela eram sempre “Carmelito lindo, porque se foi! Larari rari”. Ela fazia umas coisas assim, e as histórias dela. Tem um tango dela que foi muito famoso, eu não vou me lembrar agora da Libertad Lamarque, não, que era tudo sofrido. Então a gente ia no cinema e a gente chorava, a gente adorava sair chorando do cinema. Os filmes da Libertad era coisa horrorosa. Então, e a dona Edith, nós achávamos que a dona Judith se espelhava muito na Libertad Lamarque. Até que uns anos atrás ela andou participando de novelas que vocês talvez vissem, novelas que vinham sempre, não sei se a gente pode falar em nome de empresa e artista, Silvio Santos. Eu acho que uns quatro anos atrás ela estava como idosa numas novelas, tu não se lembra de ver o nome dela dessas que vem pronta da Argentina? E tinha, então. Em nosso grupo, eu me esqueci de falar da Iná, do seu Chico. Que ao lado da minha casa tinha um barbeiro, eu não sei porque motivo a dona Marina era filha de portugueses, e o seu Chico era meio amorenado. Mas a Iná era meio lourinha. É que às vezes a gente puxa muito os avós. E tinha uma artista também naquela época que era cantora lírica, que era _________________, e a gente ouvia muito rádio. Então a gente gostava muito de fazer festivais que as escolas montavam, naquela época faziam muitos festivais na primavera. A gente cantava, dançava como tem hoje mas era diferente. Naquele tempo a gente... Elas produziam festivais, festivais artísticos. E a Iná, então, e a gente se identificava também muito pelo jeito ou pela cor, eu por exemplo queria ser a Carmem Miranda porque eu acho que eu já tinha aquela coisa de carnaval, então eu não tinha dinheiro para comprar colar eu enfiava botão, tudo que era coisa de enfiar eu enfiava, às vezes eu fazia assim. Eu me lembro que eu ficava segurando, depois nós dobrávamos, eu pegava, botava uns panos botava na cabeça, fazia flor de papel crepom. Pena que nada disso eu tenha fotografia. E a Iná, então, se identificava muito com essa ___________. que eu hoje estou no coral, que eu descobri agora que eu sou soprano, e a __________ é lírica, cantava aquelas músicas. Então nós achava... E a Iná fazia aqueles “embromechions”. E tinha uma valsa daquele tempo que é (Vianinha Tiribiribi?), vocês já ouviram falar dessa valsa? As valsas vienenses, vocês têm cada músicas mais... Essas não são musicas populares valsas vienenses são uma coisa clássica. O Tiribiribi tinha uma artista que cantava, deixa eu ver se eu me lembro o nome dela, eu não vou me lembrar, ___________ cantava, então tinha que ser. Hoje eu vejo que se eu estudasse música o Tiribiribi era assim: “Tiribiribi, hihihihi. Tiribiribiii”. A __________ tinha uma voz que fazia: “Tiribiribi, hihihihi. Tiribiribiii”. Então a gente fazia teatro na calçada, A Iná então botava aqueles “is” em tudo que ela podia, e eu era a Carmen Miranda. A Denise eu não lembro bem o que ela gostava. Então desde pequena eu já tinha essa coisa assim. Ah, e tinha mais a Marli, que era a Libertad Lamarque, que a Marli era uma menina, me esqueci da Marli também, que perdeu a mãe. Tinha umas chácaras pra fora que hoje está na cidade, que é o Capão de Dentro, e a dona Conceição era uma senhora viúva que morava, tinha uma filha adulta já, e ela ia passear muito no Capão de Dentro. Tinha uma família que a mãe faleceu e a Marli era uma menina muito bonitinha e ela trouxe pra criar, só que o que a Marli chegou na cidade no colégio ela conheceu o Nei e ela era muito guria. Sabe aqueles namoros assim da infância? E os dois eram baixinhos e meio gordinhos, então a Marli tinha uma paixão por esse menino, e tinha uma coisa muito interessante naquela época que assim, que nós namorávamos todas juntas, por exemplo, ela arrumava um namorado e nós todas também a gente se apaixonava por aquele namoro, se ela sofresse nós sofríamos. (risos) Então, a dona Conceição não queria que a Marli namorasse o Nei. E a Marli sofria muito com aquele namoro, e a Marli tinha um jeitinho assim, então ela gostava de cantar os tangos da Libertad Lamarque. Eu não consigo me lembrar o... Pode ser que até o fim venha um tango mais dramático da Libertad Lamarque é de chorar, não é o Caminhito é o outro, não me lembro. E a dona Marli proibiu. A dona Conceição não queria que a Marli namorasse o Nei porque a mãe do Nei, naquele tempo, era uma coisa muito horrorosa, tinha se separado e estava morando com outro homem que não era o pai do Nei. Então ver o pai, a família do rapaz, heim? Então a dona Conceição não queria que ela namorasse o rapaz que a mãe dele estava com outro rapaz. E o Nei gostava muito de assoviar, eu não sei se vocês conhecem aquele bolero Sibonei? (risos) Coisas do tempo da avó! Sibonei mas a música eu vou cantar um pedacinho dela pra vocês ver se conhecem: “Sibonei, lararina, lararina, narara. Sibonei” Nunca ouviram essa música? “Lararina, lararina, narara, taratá, taratará”. Nunca ouviram nada? Às vezes botam em propaganda, era um mambo. Então o Nei pra se, a Marli ficava presa dentro de casa e o Nei chegava na esquina da 15 e assoviava. Não sei se o meu bico vai dar, o Nei fazia. A primeira de nós que ouvia a gente fazia sinal pra ele parar, daí a gente batia na dona Conceição pra disfarçar: “Dona Conceição, a senhora deixa a Marli ir na padaria com a gente.” Às vezes ia, então ela ia pra que a gente se encontrasse com o Nei. Então são coisas, tipos de namoros, você vê como mudou até o namoro daquela época pra hoje. Eu, por exemplo, quando eu namorei, quando eu estava começando a querer namorar o homem com quem eu me casei que é o pai dos meus filhos, eu morava aqui, já costurava, a máquina ficava na sala e ele trabalhava numa sapataria. Então às vezes eu estava muito atrapalhada de costura e a Sueli – a Sueli era outra que sofreu muito na mão do amor, a Libertad Lamarque da época (risos). Eu às vezes estava atucanada, e a Sueli, a Sueli gostava de fazer as minhas unhas, eu tinha que estar com unhas todas bonitas. Então o Osvaldo trabalhava uma quadra pra lá, então quando ele voltava do serviço ele morava, eu nem me lembro pra que lado ele morava mas ele saía sempre por aqui pra passar lá em casa, a gente não se falava ainda, inclusive eu não sabia o nome dele e nem ele o meu. Ele só tinha uns olhos, tinha e ainda tem ele hoje está morando com o filho dele em Salvador, que é o filho nosso. E a Sueli ficava, eu estava atrapalhada de costura. Ele caminhava uma quadra e meia pra passar na minha janela, então a Sueli atravessa e gritava: “Sirlei, Sirlei, vem vindo”. Então eu vinha pra porta bem disfarçada, ou então eu atravessava calmamente ia até a Sueli pra ver o pretendente que vinha vindo. Então são coisas assim. Mas nesse meio tempo, ainda que a tua pergunta tem uma resposta enorme do artista. E o meu pai, eu estava contando mas não estava gravado ainda, eu me criei sempre vendo a manifestação carnavalesca dentro de casa. O meu pai tinha uma mania que o meu filho, talvez de ele ouvir contar mas ele gostava, esse que está em Salvador, ele tinha mania de chegar e ficar assim. Nós morávamos em chalé. O Álvaro chegava em casa assim batendo nas paredes do chalé, o meu pai, quando ele chegava em casa, não batia na porta, ele batia um tanto pra dizer que estava chegando. E ele era morcego, eu me criei vendo ele morcego nos blocos. Os blocos eram pequenos. Naquela época que eram blocos mesmo, não existia escola de samba, era uma fantasia preta de asas assim, era uma fantasia preta a fantasia de morcego. Eu depois que eu já fui ser costureira, eu nunca cheguei a fazer. De dominó eu fiz muita, porque era uma fantasia que predominou muito aqui no sul no tempo da Foleria, que era o Carnaval a Foleria. Na cidade era um carnaval que as mulheres saíam vestidas de homem e o homem vestidos de mulher e podia tapar o rosto. A gente dava um jeito de tapar todo o corpo pra não aparecer se era branco ou negro porque não havia violência, a gente saía pra rua. Famílias inteiras assim e mexiam com os conhecidos, depois começou com a evolução a violência foi chegando, começou a haver brigas, vinganças. então. Mas a roupa de morcego era assim: o meu pai era uma roupa toda preta por baixo de calça preta e por cima como se fosse um ponche. só que depois botava-se uns arames, se fazia um... Vamos supor que essa blusa fosse bem grande aqui. Então se fazia duas costuras. Se fazia costuras assim: aquela parte ia diminuindo aqui e se enfiava um aramezinho fininho. Quer dizer que ele vinha dançando assim, quando ele abria assim, entendeu, ficava aquele preto assim e fazia um tapume assim na cabeça. E ele puxava os blocos, naquele tempo era muito comum. Não era só ele em Pelotas que tinha essa fantasia, quer dizer, vinha o bloco tal ele ia lá na ponta da quadra vinha, depois quando o bloco chegava na frente da prefeitura saía, ele podia ir lá. Ele podia também andar no carnaval com aquela fantasia, mas não precisava nem convidar, vinha o bloco, o bloco já aceitava porque era uma coisa. E eu também, a minha mãe gostava muito de reunir as gurias em casa pra fazer bloquinhos. Onde tinha uma coisa muito interessante daquela época, que me parece que Porto Alegre também teve que era assim: teve uma escola de samba de Pelotas que ela era dirigida pela dona Antônia, e a minha mãe gostava de reunir as minhas amigas lá em casa. Agora, essas minhas amigas de infância que eu estou falando, nenhuma foi minha amiga carnavalesca assim de participar dos bloquinhos, porque essa parte carnavalesca que minha mãe reunia gente era uma parte, eram outras amigas que foram surgir que eu comecei a ir a bailes, com ela com amigas que tinham outras filhas. Então como a gente morava no centro, porque no centro da cidade não morava muita gente pobre, principalmente negros. Eu e minha mãe tínhamos várias famílias negras pobres ali por aquelas redondezas mas não era muitas. Mas como as nossas amizades eram todas famílias mais de fora da cidade, então no carnaval até ficavam lá em casa, a minha casa ficava cheia de gente. Nesse carnaval a minha mãe fazia arranjos, fazia pão feito em casa pra ter bastante, licores, aqueles fazia bastante, muita fruta pra fazer suco. E antes do carnaval, por exemplo, janeiro era o mês dos assaltos. E quando eu falo em assaltos o quê que vocês veem na cabeça de vocês. Que assalto era esse? Eram assaltos carnavalescos que uma vez contando isso num lugar me contaram que tinha quase a mesma manifestação numa cidade, mas chamavam susto. Então é assim: a gente combinava de dar um assalto lá na dona Antônia, só que na verdade a dona Antônia estava assim. Às vezes tinham assaltos que o outro, a casa, não sabia mesmo. Mas em geral a gente dava uma combinada porque quando chegava lá dona Antônia já tinha bolachinhas, licorzinhos. Então se reunia tudo lá em casa e saía tocando, cantando pela rua as marchas daquela época. Antes de chegar na casa da dona Antônia, por exemplo, vinha um grupo de lá pra fazer um assalto aqui no hotel também. Lá na esquina todo mundo fica em silêncio, e a gente vem bem. Quando chega aqui assim “tucadigadã, tucadigadã”. Aí a gente era o assalto. Serenata também eu cheguei a receber várias serenatas, as pessoas vinham com um de violão na... Serenata não avisava mesmo, a pessoa vinha. Agora, era muito comum naquela época tu ter licores, a minha casa sempre teve bolachinhas, licores porque como a gente tinha esse meio assim, se chegasse alguma coisa dessa que também podia ser de repente tinha alguma coisa pra oferecer. E a minha mãe gostava e eu me criei vendo isso.
E não só no carnaval tinha, olhos os blocos se vocês quiserem anotar que é bem interessante o nome dos blocos, várias cidades tem nomes com blocos interessantes, até em Salvador eu achei muito interessante os nomes. Isso daí eu acho que é uma coisa do brasileiro, da criatividade. Mas os blocos mais antigos, que não existem mais, que o meu pai pertenceu, eu não cheguei a pertencer, teve o “Está tudo certo”, porque cada um deles tem uma história pra ter esse nome, e o “Quem ri de mim tem paixão”. “Está tudo certo” é porque diz que tinha, quando estavam organizando esse clube, tinha um dos senhores que tinha essa mania de dizer, as pessoas que às vezes tem essa, como é que se diz? Uns ditado assim, a gente dizia ditado. Tudo pra ele está tudo certo, está tudo certo, então não tinha bem o nome do clube mas “Está tudo certo”. Eu não cheguei a conhecer porque quando eu fiquei já jovem, adolescente já não existia mais, mas o meu pai pertenceu. E o “Quem ri de mim tem paixão” é porque diz que era um clube assim, eram umas pessoas muito pobres que criaram. Então uma vez que inventaram de fazer uma festa, um bloco, mas estava tão esquisito aquelas roupas que as pessoas riram muito deles, que eles disseram: “Não vamos”. Quer dizer, a gente não sabia as palavras mas conta que foi assim: “Ah, quem ri de nós tem paixão, quem ri de mim tem paixão, vamos tocar o clube pra frente.” Depois vieram os outros que esses, o que eu pertenci que hoje não existe mais o prédio: “Depois da chuva”. Também diz que foi feito assim, esse clube até tem uma história muito interessante. A gente está até numa... Tem também uma briga judicial porque ele foi comprado com muito sacrifício porque as empregadas copiavam muito o que as patroas faziam, então naquele tempo os homens iam pra jogos de tarde, xadrez nos clubes e elas não tinham tempo em dia de semana, mas elas começaram com os maridos, compraram esse terreninho dos senhores e esse clube de baile era um clube que os homens se juntavam pra jogar xadrez e elas levavam as crianças e faziam chá, bolo. As crianças ficavam brincando e criaram. Só que eles fizeram um tipo de balcão, não era bem feito, e um dia diz que ia ter uma festa e caía água que nem cem. “Agora só depois da chuva, só depois da chuva”. Então foi “Depois da chuva”. Esse foi o meu clube, já na minha adolescência e juventude ele era um prédio muito lindo que agora as últimas diretorias, essas últimas eu digo, de uns 12 anos atrás, não cuidaram e ele foi ficando abandono. Um vizinho do lado começou a cuidar, tem aquele uso capião que tomou conta, e a minha mãe estava doente. Faz mais de tempo isso que a minha mãe estava, não é 12 anos, a minha mãe faleceu em 89. 89. Quase 18 e tantos. Ela já estava doente e eu fui um dia visitar uma pessoa e eu contei pra ela que o “Depois da Chuva” estava tão abandonado que a gente chegou a fazer uma carta pra prefeitura pra ser recuperado. Um político que tem nome hoje lá encampou a minha ideia. Eu não tinha, eu cheguei a ter o estatuto do clube na mão e ele pegou a ideia e começou a fazer campanhas do Chuva até hoje. Resultado: o homem do lado entrou na justiça e a parede estava quase caindo e ele mandou arrumar, hoje é uma oficina de carro. E depois veio o “Chove não molha”, que eu também quando o Chuva começou a ficar ruim e andava tendo nuns bailes já meio maus elementos, nós começamos a frequentar o “Chove não molha”, que também vem de uma história assim, diz que meio parecida. Porque fizeram um teto e que achavam que chovia e que não chovia, não. “Chove não molha”. E tem “Fica aí pra ir dizendo” que era, na minha época, o mais chique de todos que eu não frequentei porque havia uma discriminação social naquela época. Aquilo que eu contei pra vocês do branco também, do negro também tinha. Esse “Fica aí” até agora a professora Beatriz _______, que eu gravei coisas com essa que eu estou contando pra ela fazer um livro e ela na pesquisa descobriu que esse “Fica aí” antes de ser clube dos negros, ele foi de brancos. Ele foi um tipo assim de uma associação de uma classe de empregados que era um sindicato, que se reuniam não sei pra quê, depois faziam campanhas já naquelas reivindicações. Ele é de 1900, bem no começo do século, parece que esse “Fica aí” foi fundado em 1912, por aí eu não tenho bem certeza. E começaram a inventar de fazer festa, só que eram, não foram negros, eram brancos, mas depois foram saindo aí os negros. Parece que uma vez alugaram, só que como a classe que estava reivindicando aquilo, não sei se era comerciário porque naquela época comerciário era uma classe bem, era uma coisa importante, tanto que no comércio de Pelotas custou muito a ter negros. Então como aquele prédio tinha sido desta classe comerciária, aqueles negros que eram mais bem, alguns melhor, acharam que alugando aquele lugar era um lugar mais chique pra ter festa e terminou que eles foram ficando e parece que aquela associação foi também desaparecendo. E o “Fica aí pra ir dizendo” diz que foi assim: ele agora está num prédio que é dele, o “Fica aí” é Ponto de Cultura agora também da Universidade Católica, entrou nesse projeto. Inclusive teve festa três semanas atrás que eu participei de um seminário, encerrou com a Leci Brandão, o baile eu não fui, eu participei de todo o seminário mas não fui no baile. Ele era na Teles da Cunha, quando eu conheci, mas antes ele começou num lugar que era muito ruim, e eles tinham programado fazer uma festa e diz que o lugar estava muito ruim. Então resolveram mudar para outro lugar, mas tinha que ficar alguém pra avisar. Assim dizem que ficou “Tu fica aí pra ir dizendo”. E ficou Clube Cultural Fica aí pra ir dizendo. As histórias são interessantes das coisas.
P/1 – Sirlei, eu estou ficando um pouco preocupado que a gente está ficando sem luz. Está ficando muito escuro pra filmar aqui na câmera. Eu diria o seguinte pra senhora: o papo está muito bom, a gente poderia ficar aqui cinco dias...
R – Está desligado agora?
P/1 – Agora está ligado.
R – Ainda está ligado?
P/1 – Está mas a luz está ficando ruim, está ficando muito escuro e a gente não trouxe refletor. Queria perguntar pra senhora se de repente, eu tinha uma última pergunta só pra ir fechando porque se não a gente vai ficar no escuro aqui.
R – Ah está. E aí encerra?
P/1 – É.
R – Tem muita coisa, mas não dá. Vê de todas. Mas está aparecendo o que eu estou falando agora aí?
P/2 – Está.
P/1 – Não, por quê?
R – Vocês que escolhem a pergunta mais importante, eu acho.
P/1 – A senhora queria falar alguma coisa, pode falar.
R – Porque assim, é tanta informação mas a gente sabe que tem tempo, não pode contar uma vida de 70 anos numa...
P/1 – A entrevista é só uma passagem.
R – Olha, eu... Que perguntas tu terias? Uma coisa que eu gostaria de falar é do que eu estou atuando no momento na Escola da Universidade Católica, das possibilidades que eu tenho. Então se é pra encerrar.
P/1 – Pode ser.
R – Porque, por exemplo, antes desse projeto, eu já estava vivendo uma vida, um preparo de velhice muito interessante por ter entrado no (CETRES?) Centro de Extensão e Atenção a Terceira Idade, que é o meu grupo de idosas que oferece umas oficinas de valorização do idoso incríveis. Inclusive o rap da terceira idade, quando surgiu, é que a nossa psicoterapeuta ela está sempre criando coisas diferentes para nós idosas fazermos. É até uma pena que no ano passado, ontem, hoje é sábado, ontem encerrou-se a Semana de Estudos dos Idosos, que eu até contei pra eles que eu no início da semana eu estive até amolada porque é a primeira vez que o coral canta que eu não estou em quatro anos. Principalmente porque foi a primeira apresentação do ano, mudou de professor, mas eu tinha que vir à viagem. E nesses quatro anos, eu acho que as pessoas até acham que eu falo bem, não sei o quê. Eu sempre fui falante mas eu vim aprendendo muitas coisas nesse, no (CETRES?), porque elas fazem trabalho em grupo em que é divido em grupo, que elas fazem palestras, que elas dão texto pra gente ler. Porque tem palestras que a palestrante, tem uns palestrantes visitantes aí não, mas tem palestras que são da oficina que a palestrante para tudo para que a gente fale sozinho, tenha opiniões. Às vezes tem sorteio, quem é que vai dialogar, então a gente vai aprendendo. E eu desde que entrei, eu entrei pro coral e estou na oficina de pintura, só que o ano passado nosso professor, esse que saiu, que agora entrou outro, ele começou a se preparar para se formar. Passou para as terças, então eu saí da oficina de pintura. E pra não ficar, como eu estava inscrita em duas oficinas, eu entrei pra informática, que é noções de informática. Uma coisa muito linda que aconteceu na minha vida, assim como esse projeto, é que a informática, o (CETRES?) funciona numa escola no Bairro do Areal, que era um internato muito antigo, e a Universidade pegou pra extensão, porque é uma escola que estava muito abandonada e eles recuperaram a escola, e ela é um prédio muito grande. Então o (CETRES?) faz funcionar todas as oficinas lá no Instituto de Menores, mas a informática é dentro da Universidade Católica. Então dá uma auto-estima na gente porque é aquele dia, não vai se emperequetar toda, mas é aquele dia que a gente, até pode ir à vontade também, mas é aquele dia que a gente pega a bolsa mais bonita ou a pasta e vai entrar junto com os universitários. Vai passar nos corredores, pra ir lá pro laboratório a gente passa por vários universitários e tem aquela sala lá só nossa. Então nós temos um professor na informática agora que é muito engraçado, eu não me lembro bem o nome dele, me esqueci do nome dele, é Pinto o sobrenome dele, ele não gosta de ser de chamado de Pinto, mas tem algumas que chamam ele de Pinto. Ai, parece que é... Eu esqueço do nome do professor, são dois nomes. Então onde é nossa aula tem uma parede aqui que é de vidro, então quando solta a aula no fundo passa alunos e professores, então ele diz assim pra nós: “Terminou a aula, façam que estão todos entendidos. Não fiquem olhando para mim nem para o lado, está todo mundo, façam que estão teclando”. Então quando termina a aula a gente se diverte com ele que às vezes a gente está meio devagar. Ele diz: “Não, não, quando passar o pessoal, vão olhar pra cá, eu vou estar parado e vocês não me olham, vocês façam que sabem tão bem”. E interessante que ele é o nosso terceiro professor de informática mas cada um deles nos trouxe uma informação. Dos três, o que eu gostei mais foi o do meio, uma menina que teve conosco. Mas todos, cada um a gente está tendo uma informação diferente. E o coral tem viajado, nós fomos a Curitiba o ano passado pelo projeto Talentos da Maturidade, que o coral não foi premiado mas foi convidado. Já cantamos duas vezes na (Urben?) em Canoas, fomos convidados para o Festival de Cordas. Este ano nós estávamos convidados para ir cantar em Santa Cruz, que é um não sei se é Festa do Arroz. Mas como estamos com professor novo, não tínhamos música pronta.
P/1 – Como que é o rap?
R – O da terceira idade ele... Tem uns minutos ainda?
P/1 – Tem. A senhora pode apresentar o rap pra gente?
R – Outra hora logo tem a trilha, mas agora eu vou cantar o primeiro verso, vou ver se eu me lembro todo porque eu custei muito a decorar, e aonde eu não decorei, porque a gente aproveita pra brincar com a plateia as oficinas, porque ele foi aproveitado pra contar a história do (CETRES ?), a gente tentou fazer uma letra mas não deu. Então o meu filho estava viajando, a gente procurou um rapaz, ele fez a trilha e na trilha ele botou as oficinas como refrão. Vocês não podem participar da entrevista? Vocês não? Porque nas oficinas eu digo assim: “Oficina de bordado”. E a plateia diz: “Ei”. “Oficina de Crochê”. “Ô”. Por isso que eu perguntei. Mas primeiro eu vou cantar o primeiro verso, começa assim: “26 de setembro de 89. Foi implantado o (CETRES?), seu passaporte. Para o projeto integrando gerações. Mostrando que somos capazes de fazer ações. Que sejam educativas. Que deem valor a vida. Que tragam boas vibrações. Perspectivas em forma de respeito. Buscando a qualidade. Permitindo o aumento da longevidade. Afinal não é de ontem que vem trabalhando. Não são 16 dias, são 16 anos. Iniciativa como essa tem que ser exemplo. Pra melhorar a situação de vários brasileiros. Aqui não é Show do Milhão, não, que dá dinheiro fácil. Porém contamos com o apoio dos universitários. Prefiro estar aqui junto com todos vocês que não deixam de ser minha família também. Parabéns ao (CETRES?). Muitas felicidades. Rimando aqui o som do rap da terceira idade. Parabéns ao (CETRES?). Muitas felicidades. Rimando aqui o som do rap da terceira idade. Oficina de bordado. Ei. Oficina de crochê. Oi. Oficina de Informática. Oi. Oficina de música. Ei. Oficina de cinema. Oi. Oficina de história. Ei. Tem a tapeçaria. Oi. Tem reciclagem. Ei.” E por aí vai. Porque as oficinas, quando eu canto, eu leio porque são dois blocos. E tem um segundo verso, tem mais dois versos do rap. Ele leva sete minutos quando eu apresento. Tem o pessoal do CEFET que criou um basquete. Acho que eu cheguei a contar pra você, que é pra terceira idade, um com menos tempo. As encestadas valem mais pontos e nos convidaram para a inauguração. E o que eles pensaram foi: que nós tínhamos vários raps, não isso foi criado, muita gente achou que eu ia andar cantando rap pela cidade, pros festivais, pros guris. Até me perguntaram: “Tu vai botar aquelas camisetonas, tudo?” Não. Porque tem uma coisa importante como funciona lá dentro o Instituto de Menores e a Escola. Foram convidados jovens, eu esqueci de dizer, a gente quando se apresenta, somos cinco senhoras, e sempre que a gente se apresenta, a gente vai lá na escola e vê os jovens que querem ir conosco nas apresentações, que eles ajudam a fazer o coral. Então pra esse basquete, nós criamos uma letra que eu não me lembro bem, eu ando com ela na bolsa mas o refrão ficou assim: “Cabelo branco chegou. Cabelo branco encestou. Cabelo branco chegou. Cabelo branco encestou.” A gente criou esse refrão sendo que os outros são falados. Então é mais ou menos esse trabalho assim que a gente faz.
P/1 – Está bom. Obrigado demais pela entrevista, foi ótimo assim.
R – Eu fico contente.
P/1 – Obrigado.
R – Eu que agradeço a atenção de vocês.
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