Projeto ADC Eletropaulo
Entrevistado por Rosali Maria Nunes Henriques e Nelly Aguero Aronovich
Depoimento de Maria Lucione Gomes Ferreira
São Paulo, 19/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
ADC_HV005_ Maria Lucione Gomes Ferreira
Revisado por Ana Paula Santana Bertho
P/1 - Boa tarde, Lucione! Eu gostaria que você dissesse seu nome completo, a data e o local de nascimento e o nome de seus pais.
R - Boa tarde! Maria Lucione Gomes Ferreira. Eu nasci na cidade de Timbaúba, Pernambuco. Meu pai chama-se José Bernardo Ferreira e minha mãe Dione Gomes Ferreira.
P/1 - E o que seus pais faziam?
R- Bom, quando a gente morava em Timbaúba, meu pai era sapateiro e minha mãe era costureira. E no ano de 1972, meu pai resolveu vir para São Paulo para gente ter uma vida melhor né? Tanto para mim, quanto para os meus irmãos. Então, meu pai veio para São Paulo no comecinho de 1972 junto com meu irmão mais velho e logo em seguida ele arrumou aqui emprego, casa e depois mandou buscar minha mãe, eu e meus três irmãos que tinham ficado lá.
P/1- E aí vocês vieram para São Paulo?
R- É, aí nós viemos para São Paulo, meu pai já trabalhava na época de cobrador de ônibus e minha mãe começou...era costureira, continuou costurando. E eu ficava em casa, cuidava dos meus irmãos, que eu era a mais velha... Quer dizer, sou a mais velha. Então, eu cuidava dos meus irmãos e logo em seguida eu arrumei um emprego também. Fui trabalhar na Socipla, que era uma fábrica de plásticos onde fabricavam chupetas e mamadeiras. E eu trabalhava lá e estudava à noite. Depois eu saí, pedi demissão da empresa e comecei a trabalhar ali na Rua 7 de Abril, em um escritório de advocacia, de secretária. Aí também como...você conta muito aquelas histórias né, não sei, uma moça vindo do interior do Nordeste e eu achei que o advogado queria assim, me cantar e tal. Tive medo, fiquei insegura e pedi demissão também. Foi quando estudava à noite, eu já estava...
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Entrevistado por Rosali Maria Nunes Henriques e Nelly Aguero Aronovich
Depoimento de Maria Lucione Gomes Ferreira
São Paulo, 19/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
ADC_HV005_ Maria Lucione Gomes Ferreira
Revisado por Ana Paula Santana Bertho
P/1 - Boa tarde, Lucione! Eu gostaria que você dissesse seu nome completo, a data e o local de nascimento e o nome de seus pais.
R - Boa tarde! Maria Lucione Gomes Ferreira. Eu nasci na cidade de Timbaúba, Pernambuco. Meu pai chama-se José Bernardo Ferreira e minha mãe Dione Gomes Ferreira.
P/1 - E o que seus pais faziam?
R- Bom, quando a gente morava em Timbaúba, meu pai era sapateiro e minha mãe era costureira. E no ano de 1972, meu pai resolveu vir para São Paulo para gente ter uma vida melhor né? Tanto para mim, quanto para os meus irmãos. Então, meu pai veio para São Paulo no comecinho de 1972 junto com meu irmão mais velho e logo em seguida ele arrumou aqui emprego, casa e depois mandou buscar minha mãe, eu e meus três irmãos que tinham ficado lá.
P/1- E aí vocês vieram para São Paulo?
R- É, aí nós viemos para São Paulo, meu pai já trabalhava na época de cobrador de ônibus e minha mãe começou...era costureira, continuou costurando. E eu ficava em casa, cuidava dos meus irmãos, que eu era a mais velha... Quer dizer, sou a mais velha. Então, eu cuidava dos meus irmãos e logo em seguida eu arrumei um emprego também. Fui trabalhar na Socipla, que era uma fábrica de plásticos onde fabricavam chupetas e mamadeiras. E eu trabalhava lá e estudava à noite. Depois eu saí, pedi demissão da empresa e comecei a trabalhar ali na Rua 7 de Abril, em um escritório de advocacia, de secretária. Aí também como...você conta muito aquelas histórias né, não sei, uma moça vindo do interior do Nordeste e eu achei que o advogado queria assim, me cantar e tal. Tive medo, fiquei insegura e pedi demissão também. Foi quando estudava à noite, eu já estava terminando o ginásio, conheci um amigo meu que estudava na mesma classe e o pai dele trabalhava na antiga Light. Ele falou pra mim: "Por que você não vai fazer um teste na Light?" Eu achava que na Light, na época, só trabalhavam homens, achava que não trabalhava mulher. Eu falei: “Como? Não sou homem!” Ele falou: "Não, há moças que trabalham no escritório". Eu tinha aquela noção que era só aquele pessoal que fazia instalação, que subia nos postes. Aí ele falou: "Vou falar com o meu pai". Falou com o pai dele, que me indicou, enviou uma carta e mandou na época eu ir na Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Aí eu fui lá e fiz a inscrição. Logo em seguida eu fui chamada para fazer os testes: fiz no meio...acho que nós éramos em 230 pessoas; dessas passaram 10. A segunda fase foi os testes psicotécnico e de datilografia e dos 10 foram chamados eu e mais outra pessoa. Fui para entrevista e, depois da entrevista, o moço perguntou para mim...Era o Toninho, que hoje é diretor do sindicato, né? Ele virou para mim e perguntou assim: "Onde você quer trabalhar? Na Rua Xavier de Toledo ou no bairro do Cambuci?" Eu falei assim: “Ah, eu moro no bairro do Ipiranga, acho que no Cambuci é mais perto”. Fui indicada para trabalhar no departamento de Engenharia do Cambuci, isso em 1976. Então eu fui admitida na Light em 21 de setembro de ... 21 de outubro de 1976. Entrei como arquivista; depois, com o passar do tempo eu fui aprendiz de escritório, escriturária, e.... depois eu fui.... foi quando eu conheci, né? Começaram a falar muito do clube que existia dentro da Light, que era a antiga ACEL. Então, o pessoal ficava me convidando para ir, para dar uma passada lá. E eu falava assim: “Ah, não vou, eu não tenho tempo, tenho que estudar”. Mas um dia resolvi ir de tanto o pessoal falar. Quando cheguei lá, conheci de imediato o Takeo, presidente, o Arnaldo e o Mizo. Eles foram, assim, as três pessoas que eu mais me entrosei no começo. Eles me convidaram para ajudar a ADC [Associação Desportiva e Cultural]. Eu falei, "Ah mas como eu posso ajudar?" Eles falaram: "Não, você vem aqui, a gente vai fazer campeonatos". Aí que pensei, pensei e falei: “Então tudo bem, vamos lá!”. Eu já tinha terminado o segundo grau, então eu saía da Eletropaulo cinco horas da tarde e ia direto para ADC. Naquela época, a ADC não tinha dinheiro, nós não tínhamos dinheiro para nada. Então a gente comprava do nosso bolso mesmo: caneta, borracha, lápis e o que a gente quisesse usar a gente tinha que comprar. Aí fui diretora de jogos de salão. Então, comecei a organizar campeonatos dentro da Sede Brigadeiro: de xadrez, dominó e bilhar. Então, começou a luta e comecei a treinar também voleibol. Joguei voleibol pela seleção da ADC. Falei assim: eu gostei...
P/1- Você sempre gostou de esportes?
R- Sim.
P/1- Conta o que você jogava quando era criança?
R- Ah! Acho que quando era criança eu jogava... gostava muito de brincar na rua, com a molecada. Sempre fui menina, mas brincava mais no meio dos meninos. Eu jogava com bolinha de gude, era brincadeira na época que no interior você tem...e pega-pega. Sabe, essas coisas que eu jogava. Pulava corda e brincava de pedra.
P/1- Era cidade pequena?
R- Era cidade pequena, pequenininha, só tinha um cinema e uma igreja: eram essas coisas que tinham na cidade. Tudo muito pequeno, onde as pessoas conheciam a gente assim: "Tá vendo? A filha... a neta do senhor Bernardo... “. Era dessa forma que conhecia, não pelo nome da gente.
P/1- E quem eram seus avós?
R- Meus avós eram... bom, quando a minha mãe casou com o meu pai, nós fomos morar com os pais do meu pai, meus avós. Então a gente morava já na cidade. Era o senhor Manoel e a dona Davina. Hoje eu tenho a minha avó paterna e meu avô, infelizmente, morreu. Mas eu era o xodó dele. Era ele que me levava na escola, sabe? Que não deixava meu pai me bater. Sempre tinha aquela mesona grande que na hora da janta e do almoço tinha que estar a família toda reunida. E eu sempre sentava na perna dele, só almoçava no colo dele. Eu tinha um tio, irmão do meu pai, que bebia muito. Ele começava a brigar com a gente; na época, só tinha eu e minha irmã. Ele queria bater na gente e corríamos no sítio porque a casa era grande e ele tinha um cinto enorme. Aí meu avô saía correndo atrás dele, pegava a vassoura e tacava nele porque ninguém podia mexer nem comigo nem com a minha irmã. Então, eu tenho assim uma recordação muito boa do meu avô, pai do meu pai. Já os pais da minha mãe eu não tenho muita recordação porque eles eram de Timbaúba, só que eles tinham fazenda, essas coisas e depois eles venderam tudo e foram morar no Recife. Então eu já não tinha muito contato com eles. Eu era mais apegada à família do pai do meu pai.
P/1- E você foi na escola lá?
R- Fui, lá eu fiz o primário e saí quando eu estava na quinta série, que lá chamava, na época, de primeiro ano do ginásio. Não gostava muito de estudar, só que também não era a última da classe. Mas eu nunca tirei assim...nunca repeti de ano, minha média de nota era assim 6, 7, 8, 9. Não era a primeira, mas era uma das melhores. Eu não era assim de ficar grudada, de chegar em casa, pegar o livro e fazer a lição, sabe?! Eu prestava atenção mais na aula, gravava aquilo que o professor falava, fazia as minhas tarefas de casa e eu nunca repeti de ano. Estudava no colégio que era o único da cidade, que era colégio de freira.
P/1- Colégio de freira?
R- De freira, é. Então, só estudava mulheres nesse colégio. E a gente tinha muita aula de sábado de trabalhos manuais, que chamavam: aprendia a fazer bordado, crochê, tricô e costurar.
P/1- Você gostava?
R- Eu gostava. Hoje em dia eu faço alguma coisinha de crochê quando me sobra algum tempo. Que eu aprendi no colégio.
P/1- E naquela época você tinha algum tipo de atividade esportiva além dos jogos?
R- No colégio eu jogava também vôlei e participava da fanfarra. Gostava muito de desfilar no dia 7 de setembro. E lá na minha cidade tinha o mês de maio, que chamava o mês das noivas. Então, todo dia era dia de um comerciante fazer aquela novena, aquela missa na igreja, sabe?! E dia de domingo eram os colégios. Então eu desfilava na fanfarra, durante o dia e à noite tinha a procissão que saía do colégio até a Igreja Matriz. Eu lembro que, até uma vez, eu tinha uma tia que estudava lá também, que era o último ano dela de formanda, ia se formar professora. Então quem era do último ano de escola tinha que levar o anjo e eu fui vestida de anjo, o que não tem nada a ver, pois eu sou capeta. Mas fui vestida de anjo e eu gostava, sempre gostei disso: de participar e de fazer as coisas.
P/1- E os trabalhos em grupos?
R- Trabalhos em grupo.... também sempre me dediquei à vida política, isso já vem... É um mal de família. Não sei se é mal ou se é bem, mas já é de família.
P/1 - Por que?
R- Porque, na cidade em que eu morava, o primo de minha mãe era o prefeito, né? Então desde pequena o meu avô me levava para os palanques, fazia música para eu cantar. Então, sempre fazia campanha. E hoje...quer dizer, o prefeito de Pernambuco, Joaquim Francisco, ele é primo da minha mãe. Então a minha família toda é mais de política. Só que, da minha casa, dos meus irmãos, a única que saiu mais para politicagem fui eu. O resto não gosta.
P/1- O que fazem seus irmãos? Onde eles estão?
R - Eu tenho uma irmã casada, que mora em São Bernardo, trabalha em um escritório aqui no Centro. Tenho outro irmão que trabalha com computação e é solteiro. O irmão mais novo, que também é solteiro, trabalha na Telesp. E ainda tenho outro que tem uma empresa metalúrgica, em São José...em Ribeirão Preto...
P/1- Não ficou ninguém em Pernambuco?
R- … e é casado. Ficou, só tem dois irmãos solteiros com minha mãe e meu pai.
P/1- Mas eles estão aqui em São Paulo?
R- Todos aqui na cidade de São Paulo. Só tem um que está em Ribeirão Preto. Nenhum ficou em Pernambuco, ninguém quer saber de lá. Nós viemos para cá, né? É uma vida, foi uma vida difícil, é uma vida sofrida, mas graças a Deus nós vencemos e está todo mundo aí entrando no eixo.
P/1- Você falou que seu primeiro trabalho foi em um escritório de advocacia. Você tem uma atividade na ADC e outra no sindicato quase pioneira: foi a primeira mulher eletricitária. Conta um pouco disso.
R- Quando eu fui para ADC, tinha algumas mulheres que participavam de jogos, como tênis de mesa, de ping-pong e que treinavam voleibol comigo. Mas assim, para fazer um trabalho dentro da ADC não tinha. E é difícil a mulher participar da vida tanto do sindicato quanto da ADC porque algumas eram casadas, com filhos e tinham que ir cedo pra casa; outras porque não gostavam mesmo e achavam que tinha muito homem na ADC. Então foi difícil trazer mulheres para dentro da ADC, mas nós conseguimos através desses jogos. E foi interessante: quando eu fui para a ADC, comecei a organizar esses jogos, depois fui diretora de obras e também diretora de patrimônio. E como eu já tinha falado, nós não tínhamos dinheiro. Então o que acontecia? Tínhamos campeonatos no CERET e no 7 de setembro e não havia dinheiro nem para tomar um táxi para ir da Avenida Brigadeiro Luís Antônio até lá; também não havia muita gente que tivesse carro. Então quantas e quantas vezes eu mesma coloquei aqueles sacos de uniforme dentro daquelas sacolas grandes, punha nas costas, tomava o ônibus e ia para o Ceret [Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador] e para o 7 de Setembro. Então, você fazia aquilo por amor, vestia a camisa da ACEL na época. Você vestia, ia e fazia. Não tinha dinheiro para pagar as pessoas que trabalhavam nos jogos, só tinha para o juíz. Os juízes me ensinaram e eu cansei de fazer súmulas de voleibol, basquete, futebol de salão e futebol de campo. Então, por isso me tornei muito conhecida dentro da Eletropaulo. E eu tive um chefe no departamento que me colocou o apelido de Baiana. No começo eu fiquei louca e dentro da Eletropaulo é assim: se você se esquenta com o apelido que te dão, aí é que pega mesmo e eu não sabia disso, né. Aí pegou, mas hoje em dia a maioria me chama de Baiana e agora eu não ligo mais, até acho carinhoso e gostoso. Aí teve a Olimpíada da ADC, uma primeira olimpíada em 1982. Na época, eu tinha um superintendente, o Gumiero, que hoje aposentou, e que falou para mim que eu ia organizar os jogos lá dentro. Então organizei os jogos tanto masculinos quanto femininos. Arrumei uniforme e tudo mais para eles. E eu joguei também, né, porque tinha que completar o time. Então saí me inscrevendo e jogando em tudo; falei assim: “bom se ganhar ganhei”. Quem ganhava uma modalidade, ganhava uma pontuação e nós fomos campeões . Foi a primeira olimpíada da ADC e a Regional-Centro foi a campeã e eu recebi o troféu de melhor representante do ano. Então fiquei conhecida. O Magri, que na época era presidente do sindicato, me convidou para fazer o Congresso da Mulher Trabalhadora e, com a ajuda de outras pessoas de lá, nós partimos para fazer o 1º Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora.
P/1 : E onde foi ?
R- Foi aqui em São Paulo. Nós conseguimos trazer 2.000 mulheres de todas as categorias e de todos os estados. Só que isso deu muito trabalho,pois tínhamos que viajar muito por todos os estados, contatar os sindicatos, fazer um seminário em cada um e explicar tudo. Foi um congresso maravilhoso, né, 2.000 mulheres trabalhadoras lutando porque naquela época, foi em 1985, tava muito difícil a coisa, principalmente para mulher, no meio político, sindical e esportista; ela não tinha muita vez. Realmente, ela tinha que ser boa, mostrar que tinha capacidade para que os homens pudessem acreditar. Na maioria das vezes o congresso mais debatia isso: colocar a mulher nas direções do sindicato, que eram muito poucas. Logo depois disso, em 1986 teve a eleição no sindicato e o Magri através do Takeo, porque eu era mais conhecida dele, me convidou para fazer parte da diretoria do sindicato. Aí eu pensei muito, em tudo e falei: "Ah,eu vou. Eu quero fazer alguma coisa pela mulher eletricitária”. Aí participei da eleição e fui a primeira diretora feminina no sindicato. Eu peguei o cargo de diretora do Departamento da Mulher. Aí começou: antes ainda não tinha sido aprovado pela constituinte os 120 dias de licença maternidade, mas no nosso acordo coletivo a gente já tinha colocado essa cláusula e a Eletropaulo já dava os 120 dias. Consegui também a licença paternidade de 5 dias para os homens porque, quando a mulher tem o filho, ela precisa do marido do lado pelo o menos uma semana,porque é difícil. Foram muitas as conquistas que tivemos: tinha um auxílio-creche, mas na época era muito pouco e conseguimos levantar o seu valor; criamos o auxílio-babá dentro da Eletropaulo, depois de conversarmos com as meninas do sindicato dos aeroviários, onde já havia esse benefício.E eu ainda acho que fiz muito pouco pela mulher eletricitária, deveria ter feito bem mais, só que eu não tive muito apoio daquela diretoria porque nós éramos em 24 diretores, então eram 23 homens e só eu de mulher.
P/1- E a proporção de mulheres que trabalha na Eletropaulo?
R- Uns 30% são mulheres considerando a Eletropaulo, CESP [Companhia Energética de São Paulo] e Furnas. Comecei, fiz um trabalho, depois eu saí. Quando eu entrei no sindicato em 1986, deixei a diretoria da ADC porque não dava para conciliar as duas coisas ao mesmo tempo. Então eu deixei a ADC e fiquei só no sindicato, mas eu continuo no conselho deliberativo da ADC, dando uma força, até hoje, no que eu posso, né, para todo mundo. Inclusive lá na Zona Leste porque eu trabalho na agência Belém e a gente está fazendo um clube lá. Já temos o local e tudo, agora precisa de verba para começar a construir uma piscina, quadras, tudo para levar os associados a ter um clube melhor dentro da zona leste. Porque a gente tem a Praia do Sol, só que ela fica um pouco distante para o pessoal da Zona Leste. Mas a gente vai chegar lá.
P/1- Lucione, voltando a sua vida pessoal, quando você se casou?
R- Eu casei em 1986. Meu marido era de Brasília, ele trabalhava lá e eu o conheci em um Congresso da Fundação CGT na Praia Grande. No meio de 7.000 pessoas, ele achou de me encontrar e aí nos casamos. Ele já tinha três filhos do primeiro casamento dele e nós ficamos juntos. Em 1990 eu queria ter um filho de todo o jeito e não conseguia, sempre engravidava, mas não conseguia segurar. Até que um dia eu falei: “ Oh, quer saber, se tiver que vir vem”. E aí em 1990 veio o Alex. Ele está com quatro anos, e logo em seguida veio a Luciana que vai fazer dois anos em dezembro. Agora eu estou grávida, para março do ano que vem e aí eu encerro, chega, porque ao todo vão ficar seis filhos. Ele tem uma de 20 anos, a Cinthia, que é casada. Quer dizer, eu já sou avó, é de parcela, mas sou. Tem a Tatiana e o Junior que moram comigo e eu tenho eles como meus filhos. Realmente eu crio eles e tenho o mesmo amor que tenho com os dois pequenos. Não discrimino de nada: se tiver que dar bronca em um dou no outro, se tiver que fazer alguma coisa por um, faço pelo outro. E minha vida de casada é boa, tranqüila. Não somos ricos, mas graças a Deus o que a gente tem dá pra levar. Sou apaixonada pelo meu marido, não adianta negar, falar mentira. E acho que ele também deve ser apaixonado por mim, porque me aguentar é fogo.
P/1- E você consegue conciliar sua atividade sindical e na ACD com sua vida doméstica?
R- Enquanto eu fiquei lá, eu consegui conciliar vida sindical com a de atleta e a de diretora do clube. Agora, depois que tive as crianças pequenas, eu não me dediquei tanto, não como eu participava, de treinar, de fazer, sabe? Sair para reivindicar. Eu vou em algumas reuniões agora, mas não me dedico totalmente porque fica difícil, as crianças ainda são muito pequenas. Mas aonde dá, sempre estão me ligando, pedindo isso e aquilo e eu estou sempre colaborando da maneira que eu posso. Porque isso já vem de mim: eu nunca fiz isso obrigado, mas porque gosto e sempre gostei. Eu sou apaixonada pelo esporte, sabe.
P/1- O que você gosta?
R- Eu gosto muito de voleibol, minha paixão maior é o voleibol. Não sou muito chegada a basquete, joguei para dar uma força para as minhas amigas que estavam na equipe, só foi para completar o time; não que eu gostasse, minha paixão mesmo é o voleibol. Gosto também de ping-pong. Aliás onde eu trabalho, na agência Belém, quando eu cheguei nós tínhamos uma área muito grande atrás da agência, só que não tinha nada lá para brincar, um lazer na hora do almoço ou mesmo depois do expediente, onde os meninos podiam ficar. Eles sempre estavam em um bar da esquina jogando bilhar. Então eu conversei com o Takeo e ele conseguiu junto com o gerente na época da minha agência colocar telhado na parte de trás, e na ADC lutei bastante e ela nos deu uma mesa de pebolim, uma de bilha e uma de ping-pong. Fizemos uma churrasqueira, então sempre às sextas-feiras o pessoal de lá faz um churrasco e começa a jogar. Agora, faz questão de uma semana, eles fizeram um campeonato de bilhar interno da agência, com troféu, churrasco; teve de tudo. E sempre eu fico um pouquinho, até o final não dá, mas um pouquinho, eu fico.
P/1- Lucione, eu vou te pedir licença para interromper um segundo só. Pensando na situação local na Eletropaulo e o fato de que você lutou para conseguir essa área onde você trabalha, dentro da ADC ou mesmo fora dela, você conseguiu, você lutou por outras áreas que a gente sabe que existe de lazer local?
R- Sim. Na Regional Centro, por exemplo, ela era antes dividida: tinha um setor na Rua 25 de Janeiro e outro na Rua Junqueira Freire. Na Rua 25 de Janeiro trabalhavam poucas pessoas na época e lá a gente tinha um lugar onde dava para fazer uma quadra de vôlei. Então nós improvisamos uma, onde a gente fazia treinamento todas às sextas-feiras para as olimpíadas. Hoje há um prédio sendo construído lá e a maioria do pessoal que tava na Rua Junqueira Freire foi para a Rua 25 de janeiro e eles já têm uma quadra. Eu acho que foi também eu dando uma força nisso, né, porque eu trabalhei 12 anos na Regional Centro. Depois eu saí, vim para o sindicato como diretora e depois em 1989 que eu voltei para Eletropaulo e eu pedi transferência para a agência Belém. Então quando eu estava na ADC a gente via que em muitos setores o pessoal reivindicava muito essa área de lazer porque saíam às 17h e muita gente ia para o bar, ficava bebendo e gastando o dinheiro com bilhar. Então a gente achava: “Por que a gente não briga para fazer isso dentro do próprio setor do trabalho?”. Então eu senti a necessidade, dentro da minha agência e foi aí que eu consegui e que eu vi que outros setores que tinham pessoal também lutavam. A gente sempre dava uma força dentro da ADC. Só que demorava para fazer porque na época nós não tínhamos dinheiro. Hoje, graças a Deus, a ADC cresceu e acredito eu que tenha dinheiro porque tem bastante sócio. Eles tão fazendo muitas áreas de lazer por aí. Agora, inclusive tem a subsede dentro do local do trabalho. Acho que isso é muito importante porque às vezes a pessoa não está a fim de ir embora para casa às 17 horas e, ao invés de você ficar arrumando encrenca em um boteco, você está dentro da empresa, brincando junto com os seus próprios amigos. Acho que é importante.
P/1- Justo na hora do rush, né?
R- É e na hora do almoço também. Porque às vezes, na agência Belém, por exemplo, não tem nada para fazer. Então a gente precisa brincar um pouco e fica lá.
P/1- Eu sei que você foi na constituinte. Eu gostaria que você contasse como foi a sua participação, o porquê vocês foram lá, o que vocês aprontaram e o que conseguiram.
R- Na época estavam para fazer a nova constituição e as mulheres tinham que fazer alguma coisa por elas mesmas. Não sou machista, nem feminista, mas acho que a gente tem sempre que lutar pelos nossos direitos. Hoje você está vendo aí, tem um monte de mulher boa como deputada e com cargos importantes. Lutamos sempre por isso, né. Mesmo dentro da Eletropaulo, hoje em dia você vê muita mulher como gerente, coordenadora e encarregada. Tudo está valorizando a mulher. Então só os homens que iam para Brasília? Fazer um trabalho? Não! A constituição é de todo mundo, é do país e a maioria da população brasileira é mulher, principalmente votante. Então nós fomos para Brasília, uma representando cada estado. E eu fui representado o estado de São Paulo, pelo Sindicato dos Eletricitários de São Paulo. Ficamos mais de uma semana lá, andando por todo aquele congresso, de sala por sala para conseguir os 120 dias de licença- maternidade, a licença paternidade, um salário mais justo para as trabalhadoras, para não ter mais a discriminação no setor trabalhista. Porque não pensem vocês que não tem! Pode não ter dentro da Eletropaulo - e acredito que não -, mais aí fora, o que tem de discriminação... Há muitas empresas que não contratam mulheres casadas, que pedem o atestado de laqueadura da mulher. Isso é um absurdo em um país como o nosso. Então deu para conhecer. É bom mesmo que eu possa deixar um recado aqui, para as próximas eleições, porque nós tivemos a oportunidade de conhecer muitos deputados canalhas que vão na televisão prometer uma coisa e quando a gente chega lá para pedir alguma coisa pela mulher, vem com gracinha e não quer cumprir. Eu acho que nós divulgamos, na época, um monte de nomes, sabe? Eu acho que agora, nessas eleições de 3 de outubro, a gente tem que estar muito esperta, muito alerta para os deputados que nós temos que escolher. Porque senão, muitas coisas que foram conquistadas por homens e por mulheres vão acabar sendo destruídas por esses homens. Temos que votar em gente realmente competente e que vai fazer alguma coisa por nós porque senão nossa luta vai todo por água abaixo. Então foi um trabalho bom que nós fizemos. Conversamos com todos eles, nas reuniões e nas votações íamos lá. Pressionávamos, mas pressionávamos decentemente, não era com bagunça, não. Porque geralmente, para o pessoal, para a gente falar alguma coisa o pessoal já fala: “Ah, sindicalista?”. Acha que já é baderna, que está lá para quebrar as coisas, para bater. Nada disso, nós fomos lá como mulheres trabalhadoras, batalhadoras. E conseguimos um monte de coisas hoje para a classe feminina do Brasil e espero que quem esteja lá ou na diretoria dos sindicatos, agora consiga mais coisas do que nós conseguimos na época.
P/1- Lucione, na Eletropaulo quando uma mulher tem a mesma função que um homem, ela tem o mesmo salário?
R- Tem o mesmo salário. Não tem discriminação.
P/1- Não tem?
R- Não. Se você tem a mesma função você recebe pela mesma função. Tem aqueles negócios, não que seja discriminado de homem de mulher, de que uma é mais velha e outra mais nova, uma ganha mais que a outra. Mas vem os apadrinhamentos, um monte de coisa. Aí você fica meio louca da vida, né, por você ter tanto tempo de empresa e depois ver entrar uma pessoa ganhando menos que você. Mas tudo bem, a gente tira de letra, mas discriminação não tem.
P/1- Não tem?
R- Não.
P/1- Quantos anos você tem na empresa?
R- Vou fazer agora dia 21 de outubro 18 anos. Gosto muito da Eletropaulo e gostava muito da antiga Light. Eu faço o que eu gosto, principalmente agora que eu sou técnica comercial e atendo o público, que é uma coisa que gosto muito de fazer. Gosto muito de conversar com o ser humano e você escuta muita coisa do público. Você dá muito o que você já sabe também, você passa. E eu gosto de trabalhar e fazer o que eu faço hoje na Eletropaulo, sempre gostei e gosto muito da empresa em que trabalho. Acho que todo mundo que trabalha lá deveria valorizar porque tem muitos que não valorizam, sabe. Mas, eu acho que pelo pouco que a gente ganha, compensa.
P/1- E na sua atividade na ADC, o que você está fazendo agora?
R- Agora eu sou do Conselho Deliberativo, que é assim: vai haver as eleições e então se forma um conselho. Quatro chapas concorrem e o sócio vota no conselho. Depois do conselho eleito, ele elege o presidente. E o presidente elege seus diretores que vão trabalhar junto com ele. Acho que o conselho é algo maior da ADC, porque pode derrubar o presidente e tudo passa por ele.
P/1- Sei.
R- É importante o conselho dentro da ADC, né?!
P/1- E agora você não tem atividades esportivas, assim, como membro? Ou tem?
R- Não, por enquanto eu não tenho, mas eu vou voltar. Vou colocar meus filhos para começar a aprender jogar também. Tudo o que eu tive de aprender, vou ensinar pra eles sobre esporte. Vou começar a levá-los no clube. Meus irmãos foram e jogaram pela ADC. Eu sempre os levei, entraram como meus dependentes e trouxeram também títulos. Jogaram na Olimpíada pelo meu Departamento, pela minha Superintendência e trouxeram títulos na época. E meus filhos vão ser da ADC, quer dizer, já são sócios, são meus dependentes. Mas quando eles estiverem maiores, já vou colocar para aprender a jogar, tem que participar de campeonato, tem que fazer tudo o que a mãe deles fez. Por isso que eu tenho em casa minhas medalhas e meu troféu guardados. E tenho toda uma história para contar pra eles, sabe. E eu tive uma coisa muito importante também: quando eu estava na ADC, eu não conhecia meu marido ainda. Mas quando eu fui para vida sindical, foi ele quem me deu a maior força. Eu não queria entrar muito no sindicato, eu estava indecisa, mas ele já era do meio sindical. Ele é jornalista, e na época ele trabalhava como chefe do Departamento de Jornalismo da CNTI, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria. Eu o conheci bem no meio sindical e falou que eu tinha que participar mesmo, que eu tinha que fazer alguma coisa. Então foi uma das pessoas que mais me valorizou e muito me ensinou, foi ele. E até hoje ele não discorda de nada. Sempre onde estou, ele está junto comigo e eu vice-versa. Eu sempre tive muito o apoio dele. No começo era mais fácil porque eu não tinha criança e o que você faz, você tem que se dedicar de corpo e alma, tanto ADC como sindicato, porque se você deixar de lado, você não faz, não conquista aquilo que quer. Eu era diretora de patrimônio da ADC, mas eu sempre estava ajudando o pessoal da área social e da área de comunicação. O que me pedissem para fazer, eu tava ali fazendo: organizava baile junto com eles e vendia o convite. Houve uma época em que nós perdemos a eleição, mas continuamos batalhando. Também só foi uma gestão porque depois ninguém quis mais saber. E voltamos, batalhamos, sabe? E ficamos e estamos aí. Hoje a ADC está grande, né? De ACEL virou ADC. Para você ver, temos muitos atletas, disputando nacionalmente e levando títulos. Acho que isso é muito importante para ADC e para Eletropaulo, pois a ADC cresceu muito e tende a continuar crescendo. Sinto saudades daquelas épocas , sinto mesmo. A gente era muito unido, nós diretores que fomos os primeiros, os pioneiros que pegamos a ADC sem grana, batalhamos, pomos dinheiro do nosso bolso. Éramos eu, o Takeo, o Mizo, o Marcos, o Arnaldo e o Otávio. Éramos sempre nós, aqueles cinco ou seis que ficavam ali lutando e batalhando, sabe? Arrumando dinheiro daqui e dali. Tinha até época que chegava o mês, nós não tínhamos dinheiro para pagar os salários dos funcionários da ADC, nós fazíamos uma vaquinha do salário entre nós e pagávamos. A gente valorizava aquilo que a gente fazia . E hoje, a ADC tá enorme, com muitos funcionários, muitas coisas, bastante sócios e ajuda. A Eletropaulo mesmo dá uma subvenção para ADC e tanto é que .você vê o Clube da Praia do Sol, que com muito suor, muita luta muita batalha nossa, conseguimos fazer uma piscina, não é? Já está funcionando a sede social lá. Então eu acho que isso tudo fomos cada um de nós, não só diretores, mas também associados, que lutamos e acreditamos principalmente no Takeo. Porque ele sempre foi o cara que gostou do esporte, merece ser presidente da ADC por muito tempo ainda. Porque foi ele que lutou também, que batalhou junto com a gente, que nos incentivou. Porque não é fácil, às vezes dava vontade de desistir, mas sempre ele estava do nosso lado: “não, vamos à luta que a gente consegue chegar lá". Eu acho que conseguimos, está aí o resultado, a vitória de um trabalho enorme. Hoje em dia se vê muitos diretores novos na ADC que não sabem o sufoco que nós passamos. Mas tudo bem, eu acho que tem mais é que continuar, progredir e construir mais coisas para 22 mil associados.
P/1- 22?
R- 22, acho que deve estar com 22 mil associados e hoje tudo mundo fala bem. Antigamente nós não tínhamos e hoje nós já temos subsede em Mogi, São José dos Campos, Pirapora, ABC; temos muitas subsedes agora e que na época só tínhamos vontade e projeto, mas que com o tempo foi conseguindo e eu espero que consiga muito mais. Agora a luta da Zona Leste é pelo nosso clube aqui, que eu já tinha falado. Vamos ver o que nós vamos conseguir. Agora na Olimpíada já foi feito. O pessoal fez os agasalhos e pelo menos nós estamos ajudando; compramos agasalho e você arrecada dinheiro daqui, dali e vamos embora. Só que tem muita gente da ADC da diretoria agora que não sabe a luta que nós tivemos, o esforço que fizemos. Então, às vezes você chega, olham para você e não sabem quem você é. Por isso que é bom fazer essa multimídia né, porque as pessoas ficam conhecendo a história da gente, o sofrimento que a gente teve para hoje eles serem os diretores, que são competentes, mas que saibam como foi duro, para eles hoje estarem neste cargo. Eu sinto muitas saudades da ADC e dos meus colegas de antigamente. Mas por enquanto não dá. Quando meu nenê nascer, eu vou fechar a fábrica e vou voltar .
P/1- Vai voltar?
R- Vou voltar, se Deus quiser, para continuar a luta junto com eles.
P/1- Lucione, fala um pouco mais das coisas que você gosta. Você disse que gostava de esporte, mas que também você gostava de passear e de ler.
R- Gosto de ler um pouco, não sou muito chegada, mas gosto de ler alguma coisa. Eu gosto de teatro, praia, sítio...não gostava muito de sítio, mais de praia. Sempre fui de sair muito com o pessoal da Eletropaulo. Em feriados e finais de semana íamos acampar. Aprendi a gostar muito de sítio depois que eu conheci meu marido, porque ele é mais chegado a sítio e a cavalo, essas coisas mais para você descansar mesmo. Então aprendi a gostar, sempre nós estamos indo para Poços de Caldas, porque é uma cidade gostosa, o pessoal fala que é uma cidade de velho, mas não é não. Não é mesmo. É uma cidade gostosa, tranquila, onde você vai, leva as crianças, solta as crianças lá na pracinha, elas saem correndo, brincando sabe. Eles ficam livre, não é como aqui.
P/1- E por que Poços de Caldas ?
R- Porque foi onde eu passei a minha Lua de Mel. Então eu guardo ela com muita lembrança, sempre que posso estou indo para lá e as minhas crianças também gostam, pois eles andam de charrete, de cavalo e de bondinho. E o que faço mais? Gosto muito de jogar uma cartinha, um baralho em casa. Só que agora não tenho tempo, mas a gente gosta. Gosto de teatro, um bom teatro. Cinema não sou muito chegada porque eu durmo, não consigo ficar acordada. É que nem televisão: não consigo, começo a assistir uma coisa e daqui a pouco estou cochilando. Gosto muito de música também.
P/1- Você organizava concurso de música sertaneja também lá no...
R- No sindicato tinha o Nogueira, um diretor que gostava muito dessas coisas. Então ele falava: “Ah, Lucione, vamos organizar um festival de música sertaneja?” “Vamos Nogueira”. Então, a gente junto com a ADC organizava, fazíamos festa junina também lá dentro do sindicato com música sertaneja, colocava uma coisa na outra. Então ele convidava, eu fazia e vendia os convites, organizava o palco, as coisas e ele convidava os cantores porque ele conhecia muito mais, era mineiro também e gostava dessas coisas. Organizava para encher também o sindicato, sempre a gente gostava de fazer um trabalho em conjunto, Sindicato e ADC, porque o Takeo, além de ser presidente da ADC, ele também era presidente do Conselho Fiscal do Sindicato. A gente organizava o Festival de Música Sertaneja e, dentro do Sindicato, além desse primeiro Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora, nós fizemos no Departamento da Mulher seminários, Semana da Eletricitária para comemorar o dia 8 de março, a gente chamava médicos para falarem...é teve logo o negócio da AIDS, então chamamos um médico para falar sobre a AIDS, nós chamamos a Sílvia Pimentel para um seminário para falar sobre as leis, chamamos a Dra. Albertina, que era uma ginecologista na época para falar para mulherada como que eram as coisas e como não eram, como se prevenir. Então, a gente fazia esse tipo de coisa dentro do sindicato. Isso tudo começou depois que eu fui para lá porque os homens não iam se interessar em fazer. Aliás, foi muito duro no começo você enfrentar uma mesa de reunião de 23 homens. Era assim, começava a reunião e eles começavam a falar, todo mundo falava, todo mundo falava e eu só escutava, quando eu ia falar alguma coisa eles começavam a falar entre eles. Aí um dia eu me invoquei, levantei e dei um murro na mesa e falei: "Escuta aqui, ou vocês me escutam como eu escuto vocês com atenção ou pego as minhas coisas e divulgo na base que vocês são todos uns machistas. Então o Magri falou: "Nós temos que escutá-la”. Aí começaram a ver que eu era uma mulher, mas que fazia as coisas, que eles também tinham que me escutar do jeito que eu escutava eles. A partir daí começou aquele respeito profissional porque você conversava tudo agora na hora de tomar as decisões... Você joga do lado? Não pode ser assim, tem que tomar as decisões em conjunto. Eles ficavam com medo porque eu era muito de falar e eu nunca esperei, nunca deixei barato as coisas, o que tem que falar eu falo, goste se gostou, às vezes se eu falar alguma coisa que eu fui rude com a pessoa, eu me arrependo, posso voltar pedir desculpas, mas não retiro; falei e é assim. Até dentro de casa eu sou dessa forma. Sou muito nervosa ainda: às vezes você chega cansada do serviço tal, meu marido briga muito comigo porque fala que eu grito muito com as crianças, mas eu acho que eu não grito, é meu jeito de falar, eles se acostumaram já. Só que eles obedecem mais ao pai que a mim, mas é assim e a gente está levando.
P/1- Eu gostaria que você fizesse uma avaliação do seu trabalho. Na ADC, você falou. Mas no sindicato? Todos esses anos, que você disse que conseguiram tanta coisa. Você continua com essas atividades no sindicato?
R- Não, agora não continuo mais, né. Ainda por cima porque eu fui diretora da gestão Magri e saí do sindicato formando uma chapa de oposição, que no entanto era chapa 3 em 1989. Teve as eleições e formamos uma chapa: juntamos eu mais quatro diretores. Depois teve aquele negócio de negociação, essas coisas e não deu mesmo. Então, a chapa 1 que era a chapa, que o Magri tava apoiando, ganhou as eleições, que é hoje o presidente ____. Mas, eu não sou contra o sindicato, sou a favor. Converso com todos os diretores do sindicato, não saí de lá por oposição. Eu saí por uma causa justa, uma coisa que você tem que fazer. Então eu acho que cumpri em partes a minha função. Eu deveria ter feito bem mais coisa pela mulher eletricitária, só que eu não tive condições, nem apoio da diretoria, então eu não fiz tanto. Mas eu acho que dei de mim, não tudo, mas dei um pouco, dei um empurrão. Hoje em dia quem está lá que continue o barco porque graças a minha gestão, foi o que eu te falei, tivemos um auxílio-babá, que nós não tínhamos, aumentou o auxílio creche, tivemos a licença de 20 dias que não era regularizada pela Constituição, que agora foi. Quando saiu na Constituição a licença paternidade de 5 dias, a Eletropaulo já dava. Então, sempre me esforcei para dar de mim o melhor, só que não deu. Mas eu sou amiga dos diretores do sindicato, sempre que eu preciso eu vou lá, debato e converso com eles. Tenho o apoio deles e sempre que precisarem também terão o meu apoio, porque eu gosto do trabalho que eles estão fazendo. Não estão fazendo um trabalho errado, estão fazendo um trabalho que não está prejudicando a classe trabalhadora. Sempre vai diretor do sindicato no meu setor de trabalho e a gente conversa, discute, o que eu acho que tenho que falar para eles eu falo. Mas, sempre com aquele negócio, que a gente está sempre lutando por nós e pelos outros. Eu acho que eu gostaria de ter feito mais no sindicato. Só que não deu.
P/1- Mas você pretende voltar ao sindicato?
R- Não, para o sindicato eu não pretendo mais. Para ADC sim, mas para o sindicato não.
P/1- Agora, a gente está começando a finalizar. Eu gostaria que você fizesse uma avaliação pessoal: o que você achou da entrevista; primeiro que se você tem alguma coisa que você queira acrescentar e depois que você se sentisse à vontade para fazer comentários acerca da entrevista.
R- A entrevista foi boa. Eu acho que foi uma ideia magnífica, maravilhosa do pessoal da ADC junto com vocês entrevistadores. Porque eu acho que deveria... Isso tinha que constar um dia, da história da ADC, as pessoas tinham que contar. Porque muita gente não sabe como nasceu a ACEL/ ADC, como foi o sofrimento da gente lá dentro para chegar aonde é hoje. Para valorizar o presidente que a ADC tem porque o Takeo, ele pode ser tudo, mas é uma pessoa competente e que entende da coisa. Ele luta muito porque é uma coisa que ele gosta. Desde que eu conheci o Takeo dentro da Eletropaulo, ele sempre está lutando pelo esporte dentro da empresa, acho que ele até merece ficar como presidente por mais uns anos da ADC. Ele tem que acabar o projeto que tem na cabeça para depois passar para outra pessoa. Tinha que ficar isso registrado. Eu acho que foi ótimo essa forma multimídia porque em livro você faz e muitas pessoas não lêem, você deixa lá na biblioteca da ADC e muita gente não se interessa. E você tendo um vídeo, uma fita, vai com seus amigos, ou então dentro dos departamentos da Eletropaulo, sempre passa filme, né? Sobre CIPA [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], sobre isso e aquilo. A gente tem a televisão e tem o vídeo. Você pede um dia essa fita emprestada da ADC e passa para o teu setor de trabalho para o pessoal conhecer a história. Não as pessoas porque nós já somos conhecidos até demais. Mas acho que para conhecer um pouco da história da ADC, que muita gente não conhece. Eu acho que foi válido isso, vocês entrevistadores estão de parabéns. O Takeo está de parabéns. O Arnaldo também porque a ideia também acho que foi do Arnaldo por ser o jornalista brilhante que ele é. Acho que estão todos eles de parabéns. E foi muito boa a entrevista. Agradeço a todos por terem lembrados de mim. E acho que é isso.
P/1- Por nada, à disposição. Sempre que precisar, estamos aí.
R- Nós que agradecemos. Muito obrigada pela sua colaboração.
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