P/1 – Boa tarde, Virgínia.
R – Boa tarde.
P/1 – Para começar eu queria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Virgínia Ribeiro de Aguiar Guglielmi, nasci em Fortaleza, Ceará.
P/1 – E a data de nascimento?
R – 30 de março de 1958.
P/1 – Certo. Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama Luciano Rangel de Aguiar, da minha mãe Maria de Lurdes Ribeiro de Aguiar.
P/1 – E qual é a origem da sua família? Eles são todos de lá?
R – São. São de lá mas com forte influência de outros países, né? Como Portugal, a própria Alemanha, que era a descendência dos meus pais. Então um pouco brasileiro. Mistura de um pouquinho de cada coisa.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Meu pai era advogado, ainda hoje atua como advogado, no escritório próprio. E a mãe artista plástica.
P/1 – E ambos ainda residem em Fortaleza?
R – Na realidade eu só fiz nascer em Fortaleza, por influência do meu pai que era cearense. Então toda a minha trajetória de vida de infância até adolescência, foi em Recife. Onde era a maioria...
P/1 – Ah, Recife.
R – ...da família da minha mãe, na realidade.
P/1 – E então você foi para Recife com qual idade?
R – Só, praticamente, só fiz nascer em Fortaleza.
P/1 – Só mesmo, literalmente.
R – É, então só tenho o registro civil, mas a minha formação toda foi em Recife.
P/1 – Ah.
R – A minha mãe era de uma família bastante influente da cidade, então conhecia muita gente, então tinha mais estrutura de sociedade, tudo, de apoio em Recife. Então a gente acabou ficando lá.
P/1 – E quais são suas lembranças, do seu período de infância em Recife?
R – Tudo de lembrança positiva. Porque falar disso há quase 50 anos atrás, era uma época, né, que não tinha tanta agressividade do ponto de vista social. Então as condições de vida eram...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, Virgínia.
R – Boa tarde.
P/1 – Para começar eu queria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Virgínia Ribeiro de Aguiar Guglielmi, nasci em Fortaleza, Ceará.
P/1 – E a data de nascimento?
R – 30 de março de 1958.
P/1 – Certo. Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama Luciano Rangel de Aguiar, da minha mãe Maria de Lurdes Ribeiro de Aguiar.
P/1 – E qual é a origem da sua família? Eles são todos de lá?
R – São. São de lá mas com forte influência de outros países, né? Como Portugal, a própria Alemanha, que era a descendência dos meus pais. Então um pouco brasileiro. Mistura de um pouquinho de cada coisa.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Meu pai era advogado, ainda hoje atua como advogado, no escritório próprio. E a mãe artista plástica.
P/1 – E ambos ainda residem em Fortaleza?
R – Na realidade eu só fiz nascer em Fortaleza, por influência do meu pai que era cearense. Então toda a minha trajetória de vida de infância até adolescência, foi em Recife. Onde era a maioria...
P/1 – Ah, Recife.
R – ...da família da minha mãe, na realidade.
P/1 – E então você foi para Recife com qual idade?
R – Só, praticamente, só fiz nascer em Fortaleza.
P/1 – Só mesmo, literalmente.
R – É, então só tenho o registro civil, mas a minha formação toda foi em Recife.
P/1 – Ah.
R – A minha mãe era de uma família bastante influente da cidade, então conhecia muita gente, então tinha mais estrutura de sociedade, tudo, de apoio em Recife. Então a gente acabou ficando lá.
P/1 – E quais são suas lembranças, do seu período de infância em Recife?
R – Tudo de lembrança positiva. Porque falar disso há quase 50 anos atrás, era uma época, né, que não tinha tanta agressividade do ponto de vista social. Então as condições de vida eram melhores. E, principalmente por ser uma capital do Nordeste, onde as coisas já são mais tranquilas se compararmos com São Paulo, né? Então só tenho boas lembranças. Eu era muito moleque. Eu tinha, a família era grande em termos de primos. Então eu era mais menino do que menina. Estava no mundo onde aquela bagunça funcionava. De jogar bola na rua, de correr, soltar pipa, de brincar. Brincar, moleque de rua, eu era moleque de rua. Então era isso. Estudava de manhã, a tarde era sempre a brincadeira. Passeio. A cidade todo mundo se conhece. A gente costuma dizer que é cidade de muro bairro, baixo, né? Então todo mundo ali se conhece, então a ponto de encontrar na rua. Isso de uma certa forma eu acho até que ajuda do ponto de vista social, uma criança. Porque hoje em dia eu falo com todo mundo, me relaciono da mesma forma com todo mundo. Eu não tenho nenhuma timidez neste aspecto de me aproximar das pessoas, ou de quebrar barreira. Ao contrário, a gente chega com ar de fazer a coisa acontecer. Acho que isso tem a ver com a parte de estrutura de infância, de educação. Da falta de temores, de receio. A única coisa que eu costumo dizer, que é o lado negativo de tudo isso, é que como a família era muito grande, a gente tinha que brigar para ocupar o espaço. E todo mundo falava ao mesmo tempo. Então eu sou uma pessoa que fala muito rápido até hoje. Mas eu acho que era um pouco disso. (risos) Tipo assim, como se posicionar, né? E é um pouco da história que fica da gente, né? Então eu acho que esse meu ar de moleque ainda, eu sou um pouco até hoje, acho que é um pouco dessa influência de vida de liberdade, de acesso a tudo. Eu não tinha nenhuma restrição. Saía de manhã e voltava a noite para casa com total confiança. Então a gente ia, jogos universitários, ia brincar de escola em escola. Fazer parte da equipe de voleibol. Então não tinha temores, não tinha insegurança de andar na rua. Isso eu acho que é um lado muito forte que infelizmente a gente não tem mais hoje.
P/1 – E você é filha única?
R – Não, na idade eu sou a terceira, de três meninas. Eu era a mais nova. Esse é um lado bom também. Porque todo tipo de quebra de paradigmas, né? As minhas irmãs de certa forma abriram as portas. E nunca fui mimada, nunca tive esse aspecto de ser protegida, nem coisa nenhuma. Mas tinha que correr para ocupar o meu espaço. Porque realmente como terceira eu não podia ficar, né, esperando que as coisas viessem na ordem natural das coisas. Então tinha que dar uma acelerada aí para conquistar os espaços. Mas muito tranquila. A relação com a família é muito tranquila.
P/1 – Inclusive com as outras duas?
R – Inclusive com as outras duas.
P/1 – Duas irmãs, três mulheres...
R – E é uma, é, se junta para o bem e para o mal, né?
P/1 – (risos)
R – E também coisa interessante é que na família, Nordestino tem muito disso, né? A gente acaba buscando outras frentes de vida, como aconteceu comigo. Eu tenho uma irmã que mora nos Estados Unidos, acabou também optando por morar fora. Eu tenho primos que moram na Inglaterra, na Itália. A família acabou dispersando muito, do ponto de vista de busca de, profissionalmente falando, uma oportunidade melhor. Então apesar de ser tão grande naquela ocasião de pequena que nós éramos, a família depois perdeu um pouco do, daquele elo que tinha. E cada qual buscou um horizonte diferente. Aí dispersou legal.
P/1 – E na sua época de infância - você falou das suas brincadeiras de ruas, que você era um moleque, né?
R – Moleque.
P/1 – E qual que era a brincadeira que você mais brincava, ou que mais você lembra até hoje que era a sua preferida?
R – Ah, a gente tinha uma brincadeira que eu acho que aqui é queimada que chama. Que você joga bola para o outro e tal. E aquilo eu era muito feliz. Porque eu sou muito rapidinha. Então eu sempre pegava as bolas e corria. (risos) E jogava para o povo. Então era engraçado porque toda vez que tinha seleção de time o pessoal queria que eu ficasse no time. (risos) Mas eu levava todas. Porque também eu era muito magra quando eu era pequena. Então quando pegava, pegava para valer. E é o que eu lembro mais. Eu tinha uma atuação muito forte. O vôlei também marcou muito para mim. Porque a gente tinha um timezinho mesmo de bairro que a gente fazia, que eu jogava. Eu era muito assim, Nordeste tem muito, muita opção de praia. Então eu era uma pessoa que gostava brincar, o pessoal tinha lancha, meu pai tinha lancha. Então a gente fazia esqui, tinha aquelas coisas de cidade de praia. Então tudo era muito fácil. Você não ficava presa a uma determinada opção. Não era balé, não era aquela coisa estruturada formal. Era, porque era bagunça mesmo. Era muita espontaneidade.
P/1 – E uma lembrança marcante da sua infância, que você guarda até hoje?
R – Olha, foram tantas lembranças, né? Como eu falei, a família era muito, muito grande. Então a gente se encontrava bem naqueles âmbitos formais. Informais, de brincadeira. Teve uma ocasião que meus pais viajaram e eu acabei ficando quase que um mês com a minha tia. E justamente eu não pude ir porque eu peguei hepatite naquela ocasião. E essa viagem era viagem de ______, meus pais estavam indo para a Argentina. De Recife para a Argentina, Bueno Aires, era um projeto que a gente trabalhou o ano inteiro naquilo, tal. E de última hora eu não pude ir porque eu fiquei com hepatite, aquela coisa toda. Mas assim, é engraçado que eu fiquei para ficar repousando. O critério, naquela época, de tratamento da hepatite era ficar de cama um mês, repouso. Imagina, eu ficava no primeiro andar da casa eu pulava. Saía pela janela do quarto, descia pelo telhado, ia parar na casa do vizinho. E trancava a porta, dizia que estava dormindo. E a empregada, imagina, não tinha ideia do que estava acontecendo, quando ia procurar (risos) eu voltava de noite, não tinha ninguém, né? Então, isso me marcou muito. Esse sentido de fazer as coisas com uma certa irreverência sem medir as consequências. Porque aquilo eu podia ter me dado mal, né? Mas, mas era assim, tudo se dava jeito. Nada acontecia. Não tinha grandes consequências. Então eu acho que um pouco que marcou a minha infância foi isso. Foi fazer as coisas, ousar, sem ter grandes sequelas. Porque eu acho que a coisa, ou o anjo da guarda era muito forte, ou a condição do ambiente permitia que se fizesse isso. Acho que hoje em dia as coisas são outras. Mas eu acho que isso também caracterizou um pouco a minha forma de ser. Porque eu gosto de arriscar algumas coisas com, é lógico, né? Quando eu desci, eu desci pelo telhado, eu não pulava. Acho que é mais ou menos assim. Fazendo uma analogia. Hoje quando eu me arrisco, eu vejo onde eu estou pisando. Mas eu costumo dar umas aceleradas (risos) em algumas coisas.
P/1 – É um risco calculado, né?
R – Mais ou menos. (risos)
P/1 – (risos)
R – Pode constar na gravação, mas é mais ou menos assim. (risos)
P/1 – (risos) E, Virgínia, que escola você frequentou lá no recife?
R – Eu estudei na escola de freiras, aliás foram duas escolas. Regina Passos, onde eu fiz desde pequena, e depois eu fui para a Damas, que também era um colégio de freira. E foi uma história muito engraçada também. Porque eu era muito danadinha. Eu era muito capeta. Então eu conhecia todo mundo na escola e a gente tinha aquele grupo do mau, né? (risos) E então as freiras toda a semana me chamavam, fazia a catequese, fazia ajoelhar no milho. (risos) então de uma certa forma essa questão de religião para mim é uma coisa que eu tenho uma certa, um certo problema. (risos) Porque eu fui muito massacrada. Tinha que ler muito a Bíblia, não dava certo. Porque quanto mais eu lia, mais eu ficava revoltada.
P/1 – E durante todo o seu período escolar foram colégios de freira, mesmo?
R – Foi colégio de freira.
P/1 – Nossa.
R – Foi colégio de freira.
P/1 – E como que era de, você já falou que você, assim, sofria as consequências...
R – Era fogo. Eu era meia fogo.
P/1 – Mas como que era a estrutura do colégio, como que era o cotidiano dessa escola?
R – Como toda boa escola, né? Ela, na realidade, ela tinha um padrão muito formal, por ser de freiras, tal. Mas eles tinham uma boa estrutura, um bom programa de ensino. As freiras, elas que lecionavam naquela época. Depois começou a abrir um pouco para o mercado aberto, abrir o mercado, né? Para professores externos. Então assim, não tive dificuldade não. Eu nunca fui uma aluna a primeira da sala de aula. Nunca. Nunca fui aquela de ficar deitada em cima do livro estudando. Mas eu, eu absorvia com muita facilidade e me contentava com aquilo. E passava. Não fazia questão de ser a primeira em estudos, né? Na bagunça (risos) a gente estava lá. Mas foi muito feliz isso. Porque a pressão era grande, a gente tinha que estudar, porque colégio de freira tinha que estudar mesmo. E não podia colar. A coisa era muito sistemática, tal. Mas nunca, nunca passei mal apuros. Isso não. Fazia parte dos trabalhos de escola, tinha teatrinho, tinha não sei o quê, tal. Mas era um colégio bem estruturado. A programação era boa. Era coisa tradicional. Como eu falei, Recife é uma cidade tradicional. Então aquela coisa que os pais tinham estudado, e tal. E infelizmente as escolas não sobreviveram. Porque com o tempo também não evoluíram tanto e aí a coisa acabou perdendo um pouco do espaço. Que foi o Regina Passos, colégio maravilhoso. O pátio do colégio era uma coisa absurda. Tinha, era um sítio na realidade. Tinha um pé de manga, pé de cajá, pé de jaca. Era um sítio muito grande. Talvez isso tenha sido o problema. A área era tão grande, tinha manutenção muito elevada. Então acabou a escola não conseguindo sustentar. Quando eu saí fui para o Colégio das Damas, também era de freira. Mesma coisa, um colégio bem estruturado. Este existe até hoje, mesmo conceito dos Irmãos Maristas. Muito bom. E foi lá depois da escola que eu fui fazer faculdade, inicialmente eu tinha começado pela Escola de Estatística, e depois, da faculdade de Estatística que eu vi que não era a minha praia. Aí fui para Administração. E foi onde eu acabei fazendo a faculdade.
P/1 – E esse colégio era um, de freira, era um de exclusividade para meninas?
R – Para meninas. Por isso que a coisa era tão, né? (risos) Se fosse misto talvez podia ter tido mais calma. Mas a gente, era uma sociedade, veja todo mundo era muito feliz. Então, você pega um grupo feliz com energia e saúde, não, lógico que tem que fazer bagunça. Mas era bagunça inocente. Não era nada de soltar bomba no colégio, não era isso. Era de perturbar mesmo. Brincar, de encontrar. E assim, fazia coisa errada? Fazia. E todo mundo ia fumar. Eu fumava muito na época. E fazia questão de fumar, porque era desafio. A brincadeira é porque era desafiar a escola. E a gente fumava onde não podia fumar. Então essas coisas.
P/1 – E das disciplinas que você tinha qual que você tinha uma maior empatia?
R – Empatia?
P/1 – É, que você mais gostava?
R – É, eu sempre gostei muito de História. Gostava de História e depois eu gostei muito de Inglês, a outra matéria que eu tinha muita facilidade. E aí eu acho que também tinha a ver com a professora, a professora de História era uma pessoa com um conteúdo de vida e técnico muito bom. E ela influenciava positivamente, né? E engraçado que até hoje. Eu ainda penso em fazer outra faculdade e ainda faria de História. Pela informação. Assim, algo pessoal. Não é por questão de formação de carreira profissional. Mas para complementação de vida. Eu gostaria de fazer uma escola, faculdade de História. Ainda penso.
P/1 – E por que você acha que você tinha essa identificação com a História? Porque você é uma pessoa curiosa?
R – Curiosa, sim. E outra, a História é linda. A História é a história do Egito, a história dos passados. Tem muito o que falar. Se você comparar o que é hoje, a gente tem muita evolução, mas lá atrás eles já eram muito evoluídos também. É gostoso ver que sob outro aspecto, né, outra condição eles tinham informação muito adiantada. Muito bonito, muito bonito.
P/1 – E até que ponto você acha que a sua, os seus estudos iniciais, o seu colégio influenciou o caminho que a sua carreira tomou na vida adulta? Até que ponto você acha que teve uma influência?
R – Eu acho que tudo influenciou. Mas eu acho que é uma conjugação de oportunidades, também. Se você, se eu refletir muito sobre a pergunta eu não vou saber dizer em que momento. Mas somando a minha história de vida como família, da cidade, e da própria escola, certamente conduziram o meu caminho para, na área que eu atuo hoje. Eu tinha pensado um tempo da minha vida fazer advocacia. Até por influência do pai, aquela coisa toda. Que eu também acho que eu teria dado bem. Eu gosto de área que você tem um contato direto com o público. Eu não vejo fechada no escritório, coisa confessional, formal. Admiro muito quem faz isso, lógico. Mas eu não vejo, eu não me identifico nisso. Eu preciso uma área de criação. E eu acho que toda essa estrutura, essa ambientação propiciou para isso. Agora, o quanto da escola, o quanto da família, o quanto do ambiente social, aí eu já não saberia te dizer quem, né, partiu mais a, o comprometimento. Uma conjugação de fatores.
P/1 – Uma mistura de tudo isso.
R – É.
P/1 – E, na sua adolescência, né, você, qual era o seu grupo de amigos? Qual era o seu cotidiano de adolescente?
R – Olha, era muito tranquilo também. A gente lembrando que uma cidade como Recife as pessoas se conhecem. Então a gente tinha aquele grupinho: filhos dos pais, né? A sociedade é pequena e as pessoas se conhecem. Então a gente tinha uma certa influência social na cidade. Então a gente estava no grupinho das pessoas que tinham evidência social. Mas assim, não era pejorativo. Nem era discriminatório. A gente era bem aceito na situação. Então a gente chegava no restaurante chegava um grupo. Aí, né, todo mundo se conhece. O ponto de encontro da cidade de Recife era na praia. Então assim, todo mundo se encontra, todo mundo se envolve. E eu tinha as minhas melhores amigas mais próximas, tal, aquela meia dúzia de amigas. Que como eu falei, a gente, a gente era banda de, (risos) não era ‘bandidinha”, mas era um grupo bem, né? Para brigar com a gente tinha que pensar um pouquinho antes. Então a gente era muito, na era arruaceiro. Era de fazer, de aparecer, de fazer as coisas acontecerem. E assim, coincidentemente os namoros que surgiram era dentro do grupo mesmo. As pessoas já se achavam. Essa é outra coisa na época, né? Os namoros eram longos. Eu comecei a namorar cedo. Então eu tinha um namorado, fiquei lá cinco anos com ele e tal. E era um namoro que todo mundo participava. Porque todo mundo era amigo de todo mundo. Mas não tinha aquela coisa isolada. A gente namorava em grupo. Primeiro que ninguém namorava sozinho. Você não podia sair sozinho com o namorado. Se saísse, saísse com irmão, com parente, com os primos. Então era uma sociedade muito tranquila. Todo mundo era amigo de todo mundo. Então eu acho que isso é um processo interessante, que hoje em dia não dá para pensar em fazer mais, né?
P/1 – E você disse que um dos pontos de interação social era a praia, no Recife.
R – É.
P/1 – E quais eram os outros? Existiam outras, por exemplo, bares? Existia uma estrutura também nesse sentido, não?
R – Hum, hum. O que acontecia é que a gente se encontrava na praia. Geralmente ficava aquilo, ficava até uma e meia, duas horas da tarde. Aí depois as pessoas iam ou para casa ou para restaurante almoçar, mas mais ficava em casa. Todo mundo ia para casa almoçar. Descansava um pouco, no final do dia ia-se para cinema. Tinha sempre um cineminha que era um ou dois cinemas que todo mundo ia. De novo todo mundo se encontrava. Às vezes, você assistia o mesmo filme duas, três vezes, porque era a oportunidade de se encontrar. Tomava um sorvete. Tinha a lanchonete clássica da época, e no final do dia ir para barzinho. Brincadeira de carro. Pegar carro, aquelas coisas de moleque, também a gente fazia, né? Pega na rua. Isso também funcionava. Era isso. Então a sociedade era pequena. As brincadeiras quase que sempre iguais. E todo mundo participava daquela brincadeira toda.
P/1 – E nessa sua época de juventude você e o seu grupo vocês tinham alguma participação em alguma atividade social, na comunidade? Alguma...
R – Não, infelizmente não. Infelizmente não. Na realidade é um pouco, talvez, até de não observação. A gente vivia sob situação que era privilegiada, evidentemente, e não que a gente não conhecesse o lado de necessidade da sociedade. Mas acho que faltou um pouco de direcionamento já naquela época para como olhar o vizinho de uma forma diferente. Não tinha. A gente vivia um pouco, né, uma redoma que não mostrava esses outros lados não. Honestamente eu não tive nenhuma atuação nesse sentido quando de pequena.
P/1 – E agora você terminou o colégio, aí é hora de decisão, de carreira, etc e tal. A sua família influenciou em algum sentido para que você seguisse a carreira que você tomou hoje?
R – Não, na realidade uma coisa muito interessante. Entre nós, três filhas e meus pais é uma coisa que ficou muito estabelecida desde o começo é que os pais nunca iam influenciar nem em escolha de casamento, marido, nem de profissão. Então nesse aspecto meus pais nunca contribuíram no sentido de forçar. Ao contrário. A gente tinha dúvidas a gente conversava e ia. O que eu acho que contribuiu muito foi que quando eu tinha 17 anos eu tive a oportunidade de fazer um curso de intercâmbio nos Estados Unidos. E eu fui. Eu passei lá na realidade 6 meses em uma cidade dos Estados Unidos, cidade que não tinha nenhum brasileiro. Era, naquela época as comunicações também não eram tão boas, então eu me afastei de casa por 6 meses. E quando eu voltei, eu voltei muito inquieta. Porque eu tive chance de ver coisas lá fora que eu dizia: "Eu quero mais, eu quero mais, eu quero mais." Então voltar para Recife me incomodou um pouco. Então o que é que aconteceu? Quando eu voltei foi daí que eu comecei. Foi em 1976 que eu voltei. Eu falei, eu vou começar, eu queria ganhar dinheiro para voltar para os Estados Unidos. Na realidade eu tinha gostado muito do jeito da vida americana. Sabendo das limitações dos americanos no sentido cultural e de posicionamento, mas eu tinha gostado da forma como eles conduziam a vida deles. Então eu resolvi trabalhar para juntar dinheiro para passar um tempo maior lá fora. Comecei a dar aula de inglês, já em cursinho de bairro. E aí, por coincidência, uma ocasião dessas, e aí esse meio tempo eu fiz faculdade, passei, estava fazendo Administração. E aí um colega de turma falou que o Banorte estava precisando de gente para trabalhar na área de câmbio. Como era uma área que precisa do domínio de inglês e tal, eu acabei indo lá. Me coloquei à disposição, fui até o banco para saber como é que estava a abertura do processo. Então foi um episódio muito interessante. Que até hoje eu vejo com boa lembrança. Porque, imagina, eu tinha 18 anos. Eu cheguei lá, procurei saber onde era a área de câmbio do Banorte. Na época o Banorte era o banco de maior influência na cidade, o Banco Nacional do Norte. E aí me falaram que ficava na ________ Barreto, 507, tal, não sei o quê, andar, deram lá o andar. E aí eu entrei. Fui lá no andar, chamei, entrei no andar não assim, não tinha a recepcionista tinha saído. Devia ter ido no banheiro, alguma coisa. Aí eu entrei no andar, e aí eu perguntei: "Eu estou procurando a área de câmbio." "Ah, você quer falar com o seu Valter Uchôa?" "É, isso mesmo." "Ah, ele está naquela sala dali." Aí eu entrei, imagina, bati na porta e entrei. E o tal do Valter Uchôa, que era diretor da Carteira, ele estava em reunião. Tinha mais umas seis pessoas lá com ele. Imagina. Nunca tinha me visto na vida nem coisa nenhuma. Aí eu entrei. Ele achou engraçado. Eu baixinha. Continuo baixinha, lógico. Cheguei lá falei: "Seu Valter, tal, não sei o quê." Não, aí eu, imagina, total inocência. "Não, pode entrar." Imagina, (risos) uma mocinha chegando em uma sala com oito homens? Também, né? Aí ele falou: "Não, está procurando alguém?" "Ah, estou procurando o seu Valter." Ele se apresentou. Eu falei: "Olha, eu ouvi falar que vocês estão precisando de um profissional para trabalhar na área de câmbio. E eu gostaria de saber qual é o processo." Imagina, os caras ficaram interessadíssimos na história. Aí fizeram: "Tá, bom, como é que você quer, o que você quer, o que você pensa?" "Eu não penso nada. Eu só vim perguntar (risos) se existe vaga e como é que, o que é que eu tenho que fazer." E aí foi muito engraçado. Porque ele falou: "Olha, realmente eu estou precisando de gente. Que experiência você tem?" Não tinha nenhuma. Estava recém ingressada na faculdade, chegando de uma viagem no exterior. Eu falei: "Olha, o que eu tenho para oferecer é dedicação, vontade de trabalhar e o idioma de inglês." "Você faz datilografia?" Aí eu: "Datilografia? Sim, sei datilografia." imagina, eu não sabia nem como começava. “Tá bom”. Isso era, eu acho, uma quinta ou uma quarta-feira. Ele fez: "Olha, a semana que vem, então, você vem aqui para fazer um teste." "Ah, para fazer um teste?" "É sim, um teste de redação e de datilografia." "Ah, tá. Semana que vem, que dia?" "Você pode vim, que dia é melhor para você?" "Pode ser quarta-feira?" "Pode." Resolvido. Saí de lá, fui a banca de jornal: "Como é que eu faço para pegar, fazer um curso de datilografia?" Na banca de jornal, em frente ao banco assim. Aí o rapaz falou: "Tem um livro." Imagina, só ensinava, só tinha o telhado, né? Eu juro por Deus, eu fui para casa, peguei uma máquina que meu pai tinha que era mais velha do que ele, era do meu avô. Aí eu decorei onde ficavam as sílabas todas, e comecei a praticar. E a máquina era muito dura. Nossa, cada vez que eu fazia aquilo não dava velocidade. Bom, pratiquei, decorei, tal, tal, tal. Fiquei o resto do período que eu tinha, né, treinando, exercitando. Aí quando eu cheguei lá para fazer o teste, as máquinas já eram um pouco melhores, mais leves, mas errei tudo. Lógico. Porque, primeiro que estava nervosa com a situação, tinha outras pessoas fazendo o teste. E eu não tinha nenhuma familiaridade com o texto, copiar texto. Uma coisa é você ficar, não era bem assim. Da quarta para quarta não ia ter aprendido. Mas aí o que eu achei interessante porque a instrutora veio falar comigo para saber exatamente qual era o meu nível de informação, né? Aí eu contei a verdade. Eu falei: "Olha, aconteceu assim, assado. Acho que tudo que a gente consegue na vida é com esforço. Decorei, me esforcei e tal. Só não tenho agilidade, não tenho ainda a mobilidade dos dedos." Ela fez: "Olha, eu acho que no todo você tem chance de evoluir." E aí eu passei no tal teste. Tinha sido ruim. Evidentemente eu sabia que não tinha sido o melhor de todos. Mas eu acho que pela forma como eu tinha me posicionado, de compromisso, que queria fazer a coisa melhor tal, não sei o quê, aí me aceitaram no banco. E foi assim que eu entrei.
P/1 – Aos 18 anos?
R – Aos 18 anos. Aí eu comecei a trabalhar e daí segui a vida _____. Acho que então, tudo isso, aconteceu meio que em função de uma necessidade que eu tinha de buscar novas oportunidades.
P/1 – Só uma coisinha que eu queria te perguntar, Virgínia, que é com relação ao seu período de intercâmbio: como foi essa experiência de seis meses lá fora? Porque você tinha 17, 16 anos, né?
R – 17 anos.
P/1 – Como que é para uma menina de 17 anos em uma época que a informação era totalmente restrita, muito diferente de hoje.
R – Limitadíssima.
P/1 – Chegar em um país estranho, em uma língua estranha, e em uma cidade que não tinha um brasileiro. Fala um pouquinho disso para a gente.
R – é, então, é muito interessante. Primeiro a questão climática, né? Eu saí de Recife, eu lembro que foi em janeiro, dia 15 de janeiro que eu fui. E saí de 40 graus, sol, cheguei lá estava menos 25. Que eu fui para a região mais fria dos Estados Unidos, que é a região Nordeste. Equivalente ao Nordeste lá. É o estado de Maine, quase fronteira com o Canadá. Muito frio. Então assim, já foi um choque de temperatura. Eu não tinha roupa adequada. Imagina. Nenhuma, nenhuma, nenhuma. E logicamente a família que me recebeu, tinha levado dinheiro acabei comprando algumas coisas, então essa questão foi tranquila. A outra foi a questão de acesso, como você falou, a família que, a rua que eu morava nos Estados Unidos, eles compartilhavam uma linha telefônica. Apesar de ser Estados Unidos, naquela época, era cidade nova, a cidade era pequena, tinha mil habitantes. Então era uma linha telefônica por rua. Então assim, se uma pessoa da casa estivesse usando a outra, as ruas, né, as outras casas da rua não podiam ligar o telefone. Então era muito controlado o acesso à linha. Então eu não ligava para casa. Correspondência escrita, na época, de correio, demorava uma semana entre ir e voltar. Então assim, não tinha muito o que fazer. Eu tinha namorado, na época eu tinha deixado em Recife o tal do namorado de quase cinco anos. Ficou. E lógico acabou acabando porque não podia sustentar um namoro desse na distância sem correspondência, né? Mas foi interessante porque a família que eu fui recebida, uma família muito interessante. Apesar de uma situação financeira bastante diferente da que eu vivia em Recife. Mas pessoas de boa índole, de boas iniciativas. E, de novo, eu era a curiosidade da cidade. Quando eu cheguei lá eles nunca tinham visto um turista. Muito menos um estrangeiro, muito menos do Brasil. Então assim, eu era menina, tipo físico diferente do americano. Então eu era curiosidade. O primeiro dia que eu fui para a escola, né, porque logo em seguida eu tive aula na escola. O reitor da escola estava me esperando na porta. Ele foi de sala em sala me apresentando. Eu era um bicho de, né, para ser ilustrado na escola inteira. Então, a cidade pequena, poucos estudantes, a minha receptividade foi ótima. Todo mundo me recebia muito bem. E todo mundo queria me ajudar. Eu já tinha um bom conhecimento de inglês, que eu já, já, sempre gostei de língua, né? Então eu já me defendia bem. Então foi a melhor experiência que eu tive. Porque eu não pude me entregar a nenhum tipo de contato com brasileiros. Era um intercâmbio, né, e de vez em quando o intercâmbio fazia encontros dos estudantes para poder verificar como é que estava tudo e tal. E eu fazia questão de não ir. Porque eu sabia que: primeiro, juntar com brasileiro naquela época lá fora, não seria bom para mim. E brasileiro lá fora é pior do que aqui. Quando eles se reúnem, né, é um troço. Então eu falei: "Olha, não quero." Aí realmente eu estava dedicada a investir na questão da formação. Foi excelente. Foi a experiência maravilhosa de vida, que por sinal eu acabei fazendo recentemente com a minha filha. Minha filha fez agora 18 anos e ela passou um ano nos Estados Unidos. Eu fiz com que ela repetisse a mesma trajetória que, eu conversei com ela. Não é que eu obriguei. Mostrei para ela as oportunidades e ela entendeu como sendo importante para ela também.
P/1 – Então é uma experiência que você...
R – Maravilhosa.
P/1 – ...leva com você para sempre.
R – Para sempre, para sempre.
P/1 – E aí, você entrou no Banorte aos 18 anos na área de Câmbio, é isso?
R – Então, mas aí, é outro detalhe que eu não complementei. A minha ideia era entrar na área de Câmbio, né? Mas interessante é que naquela ocasião estava precisando de gente para trabalhar na Banorte Turismo, na área de Turismo. E, cujo diretor chamava Roberto Granja. Na área, na ocasião do processo seletivo os diretores vieram conversar com a gente. Eram mais candidatos e aí por questões de afinidade eles entenderam que eu tinha um perfil mais adequado para trabalhar na área de Turismo. E eu fui trabalhar na área de Turismo. Comecei lá e, justamente, o interessante é que eles estavam lançando naquela ocasião um cartão de compra de passagens aéreas que todas as filiais do banco podiam comprar bilhetes aéreos pelas companhias aéreas. Então eles tinham um cartão que eles chamavam de Turispag, que o banco tinha lançado. E eles precisavam uma pessoa para conduzir esse projeto. Aí eu entrei no projeto. Então eu me relacionava, já naquela época, com as filiais do banco. E eu controlava as vendas que as agências faziam para os clientes. E eu fiquei lá tempo suficiente, que quando o banco começou a conversar com a Credicard, naquela ocasião, e com a Visa. Na época a Visa, né, estava se aproximando dos bancos emissores para vender o cartão. Então, lógico, depois de alguns anos, eu tinha desenvolvido bastante habilidade naquela condução do processo o banco me mandou inclusive para Miami. Para fazer integração com a Visa em Miami. Para ver como era a funcionalidade do cartão, tal, tal, tal, e a gente implementou o cartão no banco. Então eu fui a pessoa que do lado do Banorte implementou o cartão Visa do banco.
P/1 – E, mas a...
R – E a Credicard representava o Visa naquela época. Então eu comecei a ter ligação com a Credicard. Eu vinha de São Paulo, do Rio de Janeiro, 'tsc', minto, de Recife para São Paulo, fazer o contato com o Credicard. E aí, naquela ocasião, minha inquietude bateu de novo. Como eu falei: eu estava trabalhando para juntar dinheiro para voltar para os Estados Unidos. Esse era o meu objetivo que eu estava começando a dar aula de inglês e tudo. Mas aí surgiu a seguinte oportunidade: se eu viesse transferida pelo Banorte, para São Paulo, eu iria ver como é que as coisas se comportavam, e eu ia ver se dava certo ou não. Aí eu vim, pedi transferência do banco, e vim para São Paulo para tocar a operação do cartão de crédito em todo o Banorte Brasil.
P/1 – Mas nisso você já tinha terminado a faculdade?
R – Já tinha terminado lá.
P/1 – Já tinha se formado em Administração.
R – É. Não, minto, eu não tinha terminado. Eu estava fazendo Administração, transferi para São Paulo a programação. Isso foi em, quando eu vim para São Paulo foi em 1983, eu vim para cá. Aí eu comecei a trabalhar no Banorte, fiquei uns 2 anos, 1985. Em 1985 eu me casei com o meu atual marido. E nessa ocasião, foi nessa ocasião, eu recebi um convite da Credicard para trabalhar na Credicard. Aí eu saí do Banorte. Engraçado que na minha foto de casamento tem uma mesa que tem foto do pessoal do Banorte, que é com quem eu trabalhava. E uma mesa com o pessoal da Credicard, que no futuro ia ser meus trabalhadores. Muito engraçado. Porque eu casei em, eu casei em janeiro de 1984, e em julho de 1985 eu vim para, não, junho de 1985 eu vim para a Credicard.
P/1 – Então você conheceu o seu marido já aqui em São Paulo?
R – Eu tinha conhecido ele em Recife. Ele é engenheiro, trabalhava muito. Mas era só meio namorico. E aí vim para cá, a coisa ficou mais envolvente e a gente acabou casando. Eu vim em 1983 e casei, casei, agora está, 1986, 1985, 1984? Casei em 1985. Eu não sou boa de data, hein?
P/1 – (risos)
R – Não me faça errar. Eu casei, se eu erro para o marido eu vou ter problema, né? (risos) Eu casei em 1985. Eu estou fazendo 21 anos de casada, eu casei em 1985. Eu vim em 1983, e casei em 1985.
P/1 – E os seus estudos, então...
R – Eu concluí em São Paulo.
P/1 – Foram concluídos em São Paulo?
R – Em São Paulo.
P/1 – E você concluiu onde, aqui?
R – Na Faap.
P/1 – Na Faap?
R – Na Faap.
P/1 – Administração mesmo?
R – Administração.
P/1 – E como que foi essa mudança, aí já na área acadêmica mesmo, do curso de Recife aqui para São Paulo? Teve alguma diferença?
R – Teve, teve.
P/1 – Adaptação?
R – Teve, teve.
P/1 – Fala isso para a gente.
R – Na realidade, é, eu senti não só na parte da faculdade, né? A gente vê que o ensino do Nordeste é bom, bem estruturado, mas a gente vê que é, a quantidade de assuntos que são tratados por São Paulo são muito mais, muito maiores. Eu vi até nas minhas filhas. O programa de escola das minhas filhas é muito superior do que o meu. Comparado hoje, então tem informações que elas traziam que eu tinha que ajudar no dever de casa para aproveitar para estudar junto. Porque a gente sabe que existe comparativamente um programa um pouco diferente. Quando eu vim para cá eu senti um pouquinho sim da transferência. Algumas matérias que eu tinha lá dada como resolvidas chegava para cá era um nível muito de eficiência. Eu tive que me dedicar um pouquinho a esse assunto.
P/1 – Teve que se preparar também.
R – Me preparar melhor.
P/1 – E teve algum professor emblemático na faculdade ou alguma matéria, ou alguma situação que tenha te...
R – Não, não.
P/1 – ...dado uma maior atenção, e falou: "Não, quero me, sabe, aprofundar mais nisso para..."
R – Não, que me chamasse a atenção não. A matéria que eu tinha mais dificuldade, que eu precisei me dedicar mais era Matemática Financeira, realmente, Contabilidade, tal. Que por eu ser muito, né, rápida, eu acabei: "Espera um pouquinho, Virgínia, senta que a coisa, dois mais dois tem que bater quatro, (risos) não dá para ser ficção." Aí eu tive que realmente parar um pouco e refletir mais. Mas nada que tenha fugido ao comportamento normal, não.
P/1 – E aí como é que foi essa mudança da Banorte, do Banorte para o Credicard, essa sua mudança de área?
R – Foi muito interessante, porque no Banorte, o que eu fazia na realidade, eu representava o cartão Visa nas agências. E eu estimulava as agências a vender, dava orientação, falava de procedimentos. E naquela ocasião a Credicard estava com um programa de expansão para outros bancos. Então o que era interessante? Eu sempre trazia das reuniões que eu tinha com as agências bancárias problemas que precisavam ser resolvidos na Credicard. Então toda vez que eu chegava, tinha uma reunião quase que sistemática todo mês com eles. Aí eu trazia alguns pontos de observação de melhorias, que estavam, tinham que ser feitos. Então o que é que aconteceu? O pessoal da Credicard começou a me observar como uma pessoa multiplicadora. E aí eles disseram: "Olha, Virgínia, eu não posso te contratar, porque você trabalha no banco (risos) do concorrente. Mas, poxa, seria fantástico se você puder vir trabalhar aqui." E aí eu me voluntariei para trabalhar na Credicard. Aí eu falei: "Olha, então está bom, se é assim, se eu manifestar interesse como é que a coisa fica?" E foi muito tranquila. Foi tranquila porque assim, o banco também sabia que mais cedo ou mais tarde, né, ele tinha que dar um outro passo nessa direção. E também, ficou o meu comprometimento para o banco de que eu iria estar, de uma certa forma, contribuindo para o banco. Eu vim transferida, né? Quando eu vim transferida para cá eu vim com todos os direitos adquiridos do banco. Eles me pagaram apartamento, aquela coisa toda. Então eu me sentia tendo obrigação, né, uma missão a cumprir dentro do banco. E eu lembro ainda que eu fiquei um ano e meio meio dividida. Vivia, né? Final de semana encontrava o pessoal do banco, porque eu gostava dos caras. Depois tinha ficado muito tempo lá, né? Tinha o gerente aqui de São Paulo, o Zé Alberto, que era um cara muito gente boa. Me ajudou muito nessa mudança. E a gente sempre trocava informações. Eu dava sugestões para ele como conduzir. A pessoa que ficou no meu lugar eu treinei. Eu fiquei acompanhando ela um tempão depois, para ver como é que estava a situação. Aquela coisa de ter duplo emprego. _____ assim, no sentido de: olha, como fazer, como assegurar que o filho estava crescendo?
P/1 – (risos)
R – Mas foi tranquilo, foi tranquilo. Aí do Credicard de novo peguei a empresa no momento que ela estava expandindo. Ela tinha naquela ocasião sete bancos no sistema e a ideia era em pouco tempo, um ano, dois, fosse chegar a 48 bancos.
P/1 – Quais eram esses bancos iniciais, você lembra mais ou menos?
R – Eram os acionistas: o City, Itaú, Unibanco, tinha Real, tinha o Banespa, né? O Banespa, na época, é, Itaú, Citibank, Unibanco, Banco real, Banespa. Depois veio a Caixa Econômica Federal, o próprio Banorte que acabou entrando. Então assim, de peso é mais ou menos o que tem hoje. Outros foram agregados, mas os mais fortes são os mesmos que tem hoje no, não mudou muita coisa. O mercado enxugou, né, de bancos, mas os mais fortes ficaram mais fortes, mais consolidados, tal.
P/1 – E aí você entrou exatamente na área...
R – Nessa área, nessa área que fazia essa relação com os bancos, né? Então dentro dessa área tinha estímulo para os bancos emitirem cartão. Então eu cuidava, no começo, da coordenação de campanhas de venda. Que era estimular as agências bancárias para vender o cartão de crédito. Então a gente fazia: "Ó, se você atingir tal meta você tem tal brinde." Aí a gente começava a fazer assim: quem deveria estar envolvido na campanha? No nível da agência, como eu tinha experiência das agências, então eu sabia como funcionava a hierarquia de determinação do banco, né? Porque tem o gerente que manda, que vende, que manda vender. Mas tem os que fazem a diferença, tem a alta Diretoria que resolve, né, dá as coordenadas. Então também foi muito importante a minha experiência do banco porque eu pude adicionar informações construtivas para a formação dessa, dos programas. Mas daí de novo, eu viajava muito. Aí eu comecei a pegar alguns bancos, a gente trabalhava por geografia. Então eu fiquei responsável pela região Centro-Oeste. Então eu pegava o Distrito Federal, a, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul. Eu era responsável pelos bancos que estavam nessa geografia. Daí eu viajava muito. Naquela época eu já era casada, tinha filha pequena. O tempo está passando, né? Já tinha tido filho, e viajava muito. Aí era cansativo, porque eu tinha quatro estados para cuidar. Bancos em fase de implementação. Imagina, Banco do Mato Grosso, Banco _______, de Goiás. Era Banco de Brasília, o, bom, e tantos outros. Em Minas Gerais tinha caixa econômica da Minas Caixa, que era da época. Bemge, que depois virou Itaú e tudo. E então assim, eu viajava toda semana. Se eu ficasse, se eu viajasse uma vez por mês para cada estado era no mínimo uma vez por semana que eu ficava fora de casa. Então era muito complicado. Porque eu viajava super cedo, eu preferia abrir mão, né? Viajava tipo seis horas da manhã, seis e meia para tentar ir e voltar porque eu tinha filha pequena. Então eu dava de mamar naquela época ainda. Era complicado. Mas aí eu preferi ir mais cedo para poder tentar voltar no mesmo dia para casa, aquela coisa toda. Mas também foi uma época de muita conquista. Porque era um momento muito favorável, as coisas estavam acontecendo. E a briga era grande. Nessa ocasião a Credicard já estava com a bandeira MasterCard. Então a gente já estava disputando mercado. A Visa era muito agressiva na situação de posicionamento perante os bancos. E a gente tinha que fazer a diferença.
P/1 – Claro.
R – Então a gente sempre tem que buscar outra alternativa.
P/1 – E, Virgínia, quando você entrou a Visa ainda estava na Credicard? Estava...
R – Quando eu vim para o Banorte a Visa estava na Credicard. Em seguida, eu acho que 1988, 1987, eu já não recordo bem, a MasterCard foi substituída como bandeira dentro da Credicard, que foi quando eu estava no processo.
P/1 – Entendi.
R – E aí a gente mudou toda a filosofia. Hoje, eu lembro até hoje alguns brindes que a gente fazia com a logomarca do Visa. E aí nessa migração aí: "Pára fornecedor, suspende tudo. Espera um pouco, dá um tempo." E aí tinha que reprogramar a identificação visual dos brindes e tal.
P/1 – E você sabe por que é que aconteceu esse rompimento, essa mudança?
R – Na realidade foi uma oportunidade de mercado. As próprias bandeiras se posicionaram, então tinha toda uma perspectiva de crescimento. Foi uma decisão, na realidade, do grupo dos conselheiros da época. Que era o City, Itaú e o Unibanco. E eles entenderam que a MasterCard tinha as melhores condições de plano, alinhamento estratégico com o que era a filosofia da empresa. E foi tomado nesse sentido. O que era melhor para a empresa.
P/1 – Nesse período em que você iniciou a sua trajetória dentro da Credicard, a popularização dos cartões de crédito ainda não estava nesse patamar que nós conhecemos hoje, certamente. Qual era o público para esses cartões nesse período? Quem é que realmente tinha cartão de crédito e se utilizava dele?
R – É o que você colocou. Na realidade a, o perfil do cliente naquela ocasião era um perfil mais elitizado. Era a população de um nível aquisitivo maior, eram os clientes preferenciais dos bancos. E daí o que aconteceu? Houve a necessidade das áreas de Crédito começar a ter ferramenta de análise mais apurada para poder ampliar esse mercado, e poder atingir uma população em potencial. Então quando a gente olha para a estratificação socioeconômica: A, B, C, D, você tem toda uma, um formato de oferta para esse público. E naquela ocasião a gente tinha um modelo de escoragem de crédito, né, que fazia esse trabalho, mas plotava a experiência clientes potenciais com muita carta de crédito com a experiência do próprio banco, e tinha uma série de aprendizado nisso. A Credicard passou por um episódio, eu acho que foi em 1984, ou 1985 também, onde teve um alto índice de inadimplência por conta de clientes mal performados, tal. Então foi enfatizado naquela ocasião a necessidade de ter um modelo de escoragem de comportamento mais aprimorado, né? Então, era agora só no negócio. Não podia dar uma linha de crédito mal concedido porque você tinha impacto. Mas já se tinha a visão clara de que, era um alinhamento muito claro. Uma vez que os bancos, outros bancos estavam dentro do sistema, eles tinham outros perfis também. E a gente queria atingir. Eu lembro quando a gente chegou à marca de primeiro um milhão de cartão de crédito, nossa, a empresa inteira brindou com champagne, né? Até recentemente a história conta que eles tinham oito milhões de cartões de crédito sozinhos, né, a Credicard. Os outros bancos com outros números. Então naquela ocasião já tinha sim a visão de que o mercado ia ter uma amplitude de oportunidade muito maior e que tinham que ter ferramentas de análises, né? Então na estratégia de trazer outros bancos tinha o comprometimento, o entendimento de que tinha que ter uma, uma ferramenta adequada de análise.
P/1 – Na sua visão, uma pergunta, na sua visão mesmo, quando foi que aconteceu essa ampliação?
R – O boom, quando se deu?
P/1 – O boom, do cartão de crédito.
R – Em 1988 pensar que deu, 1987 para 1988. Até 1990.
P/1 – Foi exatamente nesse período.
R – Foi nesse período. Foi quando a coisa, a própria Visa Net, como eu falei na ocasião, na época não era Visanet, era Visa. Ela tinha uma agressividade muito maior. A Credicard era sinônimo de cartão de crédito. Não era só em letra de música, efetivamente ele tinha um posicionamento. A Visa ficou bastante desconfortável com a saída da Credicard e ela começou a procurar outros bancos com maior nível de agressividade, com a política de remuneração inclusive bastante agressiva. Porque ela queria fazer a diferença. Então, na disputa, todo mundo começou a buscar novas oportunidades. Aí foi 1987, 1988, que foi muito mais, muito mais percebido esse boom. E aí de lá para cá a história se conta. Não tenha dúvida.
P/1 – Aí no Credicard você foi crescendo também dentro da própria empresa? Queria que você desse um apanhadinho para a gente da sua trajetória lá no Credicard.
R – É interessante, porque eu acho que assim: um pouco da minha atuação refletia o estado de espírito da empresa. A empresa estava muito inquieta. Era muita mudança, muita, muito rápido, né? Não só mudança de quantidade, mas de agilidade. E as pessoas que tinham essa característica de ser mais inquieta, de reivindicadoras, de realizadoras acabam saindo em evidência. Porque, e é interessante observar o seguinte: naquela época não tinha disputa. Não é que eu brigasse pelo seu lugar. Não. Todo mundo teria chance se fizesse um bom trabalho. Então todo mundo trabalhava muito. E todo mundo crescia junto. Era a empresa que foi formando os seus líderes. Porque a coisa acontecia nessa velocidade. Então não que fosse desorganizada, isso não. Eu acho que assim, o momento propiciava que as pessoas que tivessem um nível de comprometimento e acreditasse no processo, aparecessem. Então, é interessante que todo mundo que fazia parte daquele grupinho, a gente trabalhava muito assim, muita intensidade. Mas ninguém se preocupava em, necessariamente, né, prejudicar o outro. Ao contrário, era uma situação que se todo mundo trabalhasse bem todo mundo cresceria. E foi o que aconteceu. Você pegar esse pessoal pelo mercado hoje, não só o que está na Redecard mas que está no mercado lá fora, foram aqueles caras lá atrás que fizeram a diferença. Porque a gente ajudou a fazer o processo. E aí você tinha um comprometimento natural. Você era o negócio. Então quem tinha esse perfil, com certeza, o nível de dedicação era maior. Alguns ficaram com úlcera, né? (risos) Brincando um pouquinho e tal, mas porque todo mundo acreditava no negócio. É, ele entra na veia, é difícil tirar. Porque você, é muito automático.
P/1 – Sim.
R – Você faz o negócio, o reflexo é imediato. Não é coisa de médio e longo prazo. Você vê, né, que nem levantar fervura no fogo. Você vê as borbulhas saírem.
P/1 – E aí em 1996, né, surgiu a Redecard, né? Por quê? Como se deu?
R – A minha vinda para a Redecard?
P/1 – Não...
R – A Credicard?
P/1 – ...você acompanhou a criação da Redecard, né?
R – Ah, tá.
P/1 – Você estava, você foi um, um agente presente no período, né?
R – Houve um fato sim que realmente movimentou tudo isso. O posicionamento da Redecard, da Credicard naquela ocasião trabalhava com os bancos da bandeira MasterCard e do Dinners. E os bancos da Visa trabalhavam com bancos da bandeira Visa. Naquela ocasião o, Itamaraty? Deixa eu lembrar direitinho, o Francês e Brasileiro, o Francês foi comprado pelo Unibanco? Deixa eu tentar lembrar quem comprou quem. O Unibanco comprou... Puxa, deu branco agora... Daqui a pouco vem a informação. O Unibanco comprou um banco do sistema que vendia a bandeira MasterCard, Visa. E aí dentro da política, na realidade, não poderia ter um banco que emitisse dois cartões: Visa e MasterCard. Então, e aí toda, já vinha uma situação de pressão muito grande, né, dos bancos de querer emitir as duas bandeiras. Se você pensar e olhar para o modelo americano, os bancos lá fora, desde muito tempo eles já vendiam o cartão de acordo com o interesse do cliente. Então o portfólio do banco oferecia cartão Dinners, Amex, se fosse o caso, Visa e MasterCard. Não tinha problema. Aquela situação de dualidade não existia no Brasil. Quando o Unibanco comprou esse banco que eu vou lembrar o nome daqui a pouco, criou o primeiro paradigma. Quebrou o primeiro paradigma, que foi a questão da dualidade. O Unibanco passou a ter a bandeira Visa e MasterCard, e não poderia. Então naquela ocasião a Visanet também já estava com um processo de movimentação, né? Ela estava se formando como empresa, e que meio que forçou situação da Redecard aparecer. Como empresa a cuidar especificamente dos estabelecimentos. Então aí abriu o processo ao equivalente ao modelo americano. O que é que é acquire e o que é que é o adquirente. Então os bancos na realidade são responsáveis pela concessão de crédito. E aí eles podem ter tanto a bandeira MasterCard, como a bandeira Visa, ou qualquer outro cartão que ele venha a ter. E a Redecard, assim como a Visanet, eram, ficaram responsáveis pela relação com os estabelecimentos, nesse processo que a gente chama de acquire. Que é fazer com que eles recebam cartão, processem o cartão corretamente, etc. Porque aí, no caso, a Redecard não poderia processar o cartão da bandeira Visa também.
P/1 – Então você, que legal isso, esse fato do Unibanco...
R – É, eu vou lembrar do banco daqui a pouco.
P/1 – ...é. Então ele foi um fator...
R – Slow motion.
P/1 – ...fator bastante decisivo...
R – Foi um fator de influência muito mais forte.
P/1 – ...na criação da Redecard.
R – ...antecipou um processo que iria acontecer mais tarde. Mas ele trouxe para uma situação mais rápida.
P/1 – Interessante isso. E aí você, a Redecard foi criada...
R – Em 1996.
P/1 – ... E aí? Você estava na Credicard, você foi transferida, como foi isso?
R – É, naquela ocasião eu cuidava da relação com o Citibank, da implementação dos cartões de crédito. Que eram os cartões _________ que ele fazia. Eu já estava no processo há uns dois anos e meio para três anos. Um processo que já estava atingindo sua maturidade, do ponto de vista de oportunidade. Eu me reportava direto para o vice-presidente na época, que era o Gastão Nieto, e quando surgiu a oportunidade eu falei: "Não, eu gostaria de tentar uma coisa nova." O meu currículo você vai perceber que a minha média de ficar em algumas áreas eram três anos, três anos e meio. De novo, a empresa era muito rápida. Aí forçava a gente a ter movimentação mais acentuada. Surgiu a oportunidade eu me candidatei. Efetivamente eu gostei da oportunidade, e vim para a Redecard. Que ainda não era Redecard, ela estava ainda sendo montada como empresa, tudo, né? Mas aí comecei a atuar e cuidava da área de Shopping Center. Então eu me relacionava com aquele nicho do negócio que era mais próximo do shopping center. Então as grandes redes de varejo tipo M Officer, Fórum, Zoomp, loja de calçado. Cujas redes estavam mais em shopping center, né? Aí eu comecei a trabalhar na estrutura da, que já na época era na Estácio Ramos, como responsável pela área Comercial. Ainda era uma área Comercial. Toda Redecard era uma única área Comercial. e daí veio no processo para cá. o primeiro presidente foi o Olívio Sales, ele assumiu, ele começou a, ele veio de uma experiência do oriente. Ele tinha uma visão do cartão de crédito bem interessante, globalizada. Trouxe alguns, né, observação de tendência. E a gente foi fazendo a empresa. A empresa não era só mais uma área. Começou a ter necessidade a área de Processamento, a área de Tecnologia, depois veio uma área do Legal, a área de Marketing. Então aí formou-se realmente a empresa. Mas no começo era interessante. Porque a gente falava de Redecard o pessoal falava: "Rede o quê?" Não tinha ressonância. O nome não identificava a função da empresa. A gente tinha que falar: "Redecard, que era da Credicard." Então você sempre dava aquele tipo de assinatura, tal. Hoje a empresa está aí com 10 anos. Tem um nome no mercado, tem um reconhecimento, um posicionamento, e uma das empresas melhores para se trabalhar. Quer dizer, o mercado certamente já sabe o que se trata.
P/1 – Você acompanhou esse início, né? Então, pelo menos na sua área, no que você atuava dentro da Redecard, quais foram os maiores desafios nesse período inicial, nesse... Quais foram os principais obstáculos que você hoje consegue perceber na história da Redecard?
R – A empresa quando, né, veio para a Redecard, ela trouxe muito dos seus processos operacionais que já tinham na Credicard. Mas eu diria que no início esses processos tiveram que ser revistos. E isso trouxe realmente uma preocupação maior. Então em termos de relatórios. Os relatórios eram bons mas eram, a gente tinha uma necessidade de uma eficiência e de uma prontidão de informação diferente. Porque novo, ela estava dentro de uma empresa que era uma área. De repente você passar a gerir um negócio, ele demandava informações diferenciadas. Então eu acho que no começo, e compreendo claramente, ela foi um pouco morosa nesses seus ajustes, por conta da própria composição dela como nova empresa.
P/1 – Claro.
R – É, então assim, a empresa precisou um tempinho para aquecer os seus motores e levar essa posição para o mercado. Eu lembro também que naquela ocasião, 1996, por conta do número de cartões que estava muito mais forte no mercado, os estabelecimentos estavam começando a perceber que, a forte influência do cartão de crédito no mercado. Alguns estavam mais resistentes, achando que iam ficar dependentes de cartão de crédito. Usavam até da expressão: "Um mal necessário." Então assim, era uma coisa nova para o lojista. Então a cultura do lojista era, não queria se render ao cartão. Era como se fosse uma coisa de desafio. E eles não viam isso como algo que pudesse ajudá-lo, né, a trazer novos mercados, clientes. Novos clientes, novas oportunidades. Aumentar o poder aquisitivo do próprio cliente. Então eu acho do ponto de vista cultural o próprio mercado precisou ter tempo para ajustar essa nova realidade.
P/1 – E hoje, você acha que, porque o cartão na verdade, o cartão de crédito ele tem um valor agregado, né?
R – Certamente.
P/1 – Na verdade ele é um produto que possui um valor agregado muito forte.
R – Hum, hum.
P/1 – Você acha que hoje a visão do comércio com relação a esse produto é diferente? É positiva?
R – É positiva.
P/1 – Ou ainda continua nessa visão de: é um mal necessário?
R – Não, não, eu acho que, lógico a gente nunca está falando de 100% da base. Vamos ter sempre aquelas situações de pessoas que veem de uma forma diferente. Mas a grande maioria entende hoje da importância do cartão de crédito, vê isso como sim um valor agregado. O que eu acho que acontece de uma forma natural também, né, e aí vêm os concorrentes que podem também estar com essa mesma conduta, é que eles querem agora - já que tem uma dependência tão grande do cartão de crédito - eles querem sempre buscar melhores condições financeiras, né? A própria questão de taxa. Então é uma coisa que sempre surge como um questionamento, por que a taxa é de um jeito, por que é que o prazo é outro. Algumas redes globais, como é o mercado que eu atuo, de companhia aérea, tem companhias aéreas internacionais, a própria rede de hotéis também com essa característica, eles têm uma informação externa. Então, por exemplo, uma rede de hotel ele tem uma relação com o Brasil, Redecard. E tem nos Estados Unidos. Tem outros países. E eles sabem das taxas que se faz lá fora. E cada mercado tem sua característica. O mercado americano tem um fôlego de um jeito, o mercado do Brasil tem outro. Então eles buscam, né, a palavra globalização para eles podia ser uma coisa mais percebida como uma taxa padrão, etc, etc. Então alguns buscam, às vezes, uma condição de taxa as melhores condições que eles querem buscar. Mas nem sempre a gente consegue evidentemente ajustar isso. E tem características típicas do Brasil. Estados Unidos o cartão de crédito você compra existe uma, você começa a financiar em seguida. O cartão de crédito não tem um prazo que a gente tem para dar aqui no Brasil. Então o que ____________, o financiamento é automático do lado deles. Por isso que eles têm um float um pouco menor, o prazo que eles recebem, né? E aí eles acham que o mercado lá fora, né, a taxa de juros americana pode servir de referencial positivo. Não é bem assim. Mas o que eu digo é o seguinte: com uma boa explicação, com um bom mapeamento desse mercado eles entendem. Eles podem até não querer ficar mas entendem o que está acontecendo. Está no papel dele, logicamente, buscar as melhores condições. Como eu acho que está do nosso lado também sempre buscar as melhores condições. Se tem alguma situação que a gente pode fazer, trazer uma nova tecnologia que possa melhorar o custo operacional de captura, eu acho que o mercado, né, pode se beneficiar desse repasse de oportunidade.
P/1 – Então assim, pelo que eu entendi, o mercado de cartões de crédito no Brasil é muito específico, no sentido se você comparar com outras áreas como os Estados Unidos...
R – Com outros mercados? Tem sua característica própria. São.
P/1 – São suas, existe várias peculiaridades, né?
R – Existe, existe evidentemente. A própria economia já define algumas diretrizes aí.
P/1 – Aí, agora a pouco, a gente falou das dificuldades, dos desafios. E os momentos alegres aqui na Redecard que você vivenciou? Um momento que, sabe, de realização que você tenha passado?
R – Olha, eu diria que eu tenho dois momentos de realização com relação à empresa. Um do ponto de vista de conquista, de resultado. Porque a gente tem algumas medições aí de performance. E nós temos na área Comercial, uma política de premiação que acontece a cada ano de melhor desempenho. Então passagem internacional, um grupo na realidade que vai. Então tem todo um tratamento diferenciado, que é o famoso Club Vip. E eu posso dizer com felicidade, né, os dois últimos eu participei. Já fui duas vezes, o ano passado eu fui para a África do Sul, desculpa, esse ano eu fui para a África do Sul. Em função do resultado de 2005 e no ano anterior eu fui para Lisboa, Portugal na realidade, em uma viagem também de premiação. Além de outras premiações que eu já fui conquistando ao longo do tempo. Então o que eu posso dizer é que do ponto de vista de resultado financeiro para a empresa, não só eu porque eu acho que ninguém é sozinho, a minha equipe tem trazido excelentes resultados e atendido à expectativa da empresa. E olha que as minhas metas são arrojadas. Mas a gente vai lá com jeitinho de criatividade a gente consegue sobreviver. E a outra realização que eu posso dizer, que aí eu fico realmente muito feliz, é do ponto de vista de equipe. Eu vejo que as pessoas com quem eu trabalhei ao longo dos anos elas também se desenvolveram. E aí não é democracia, nem é querer também me gabar disso. Mas aquelas que se, né, vêm feliz com isso, vem dizer para mim que está satisfeito, que está crescendo e tal, eu vejo isso com muita satisfação. Eles entendem que eu contribuí de alguma maneira aí para a trajetória de vida deles. Eu acho que isso é gratificante. Então eu posso dizer o seguinte: momentos felizes? Poxa em 10 anos tanta coisa boa aconteceu. Além da gente ficar mais velha com a empresa, né? (risos)
P/1 – (risos)
R – Mais amadurecida, evidentemente, ter 10 anos na empresa e trazer o resultado que a gente está trazendo como empresa, né, é gratificante. Agora, se eu puder adicionar uma coisa bastante pessoal, eu acho que o momento que a gente está vivendo com o Presidente Anastácio é especialmente gratificante. O Anastácio como presidente, ele vem de uma origem de base. Ele conheceu essa empresa pequenininha. Não só porque ele veio da Credicard também, mas ele foi funcionário como todos nós, carregando pastinha, e conheceu a realidade do mercado. E ele tem um jeito muito catalisador, em relação às pessoas e o processo. Então eu diria que ele está fazendo a diferença, né? A forma como ele trata as pessoas. O Anastácio ele tem um ritmo muito, né, muito militar, inclusive, algumas vezes, duro, tal, não sei o quê. Mas ele, ele conhece o negócio. E as sugestões que ele dá, e as observações é muito construtiva, não é, ele não busca algo pessoal. Ele busca pelo coletivo. Então assim, se eu tivesse de dizer o momento da empresa, de verdade, está sendo muito gratificante, estar sendo conduzida por ele. Eu confio muito na capacidade dele como executor e como um líder mesmo. Então eu acho que é gratificante.
P/1 – Está sendo um momento...
R – Faz a diferença.
P/1 – ...importante agora para a Redecard. E na sua trajetória aqui dentro, você vivenciou algum momento de tomada de decisão no sentido que envolviam pessoas? De você ter que escolher quem fica, quem vai? Ou você presenciou situações desse tipo?
R – Hum, hum.
P/1 – Para a gente entender um pouco a dinâmica da empresa.
R – Essa empresa, a empresa é muito boa. Um pouco daquilo que eu falei da Credicard de oportunidade, fazer acontecer. Eles apresentam o lugar certo na hora certa. Também se vê aqui. Agora, eu tenho um rito, assim como eu tenho um nível de comprometimento muito alto, eu cobro também da equipe que trabalha comigo. Eu acho que se a gente está fazendo um bom trabalho, acho, né, que é tão claro quanto isso. Você se dedica bem ao que está fazendo, você vai trazer resultados adequados. Então quando eu vejo que tem situações que o funcionário não está conseguindo acompanhar esse ritmo, evidentemente a gente busca soluções de trazer a pessoa para participar do processo. Mas quando a gente vê que não tem solução, também tem momentos de tomada de decisão. Então infelizmente, ao longo daí desses anos todos, eu tive n necessidades de desligamento de pessoas, né? Ou de substituições, ou identificar que o perfil daquela pessoa não era bom para aquela área e trocar por outra. Então o gestor não é só o gestor que vai, né, bater nas costas e dar os parabéns. O gestor significa orientar as pessoas. E, primeiramente, fazer com que as melhores pessoas estejam aptas a adotar, a aplicar, a conduzir aquela função. Não dá para ser amigo. Você pode ser amigo por consequência, mas você tem que ver primeiramente o negócio. E evidentemente tem momentos que a gente tem que tomar uma decisão mais crítica, tentar logicamente ao máximo envolver essa pessoa para ela saber por que é que não está atendendo a expectativa. Até para a pessoa em outro lugar, ou qualquer situação rever. Agora, não dá para ter dúvida. Você tem que pensar muito, evidentemente, antes de tomar uma decisão. Mas se você tem que tomar a decisão, toma e acabou. Tem que tomar a decisão, não tem jeito.
P/1 – Tem horas que não tem como, né? (risos)
R – Tem hora que não tem como, veja, tem que ser um bom gestor.
P/1 – E, Virgínia, como é a relação da Redecard com os funcionários e vice-versa? Como que o funcionário vê a empresa e como que a empresa se relaciona com ele? No seu ver.
R – Olha, eu vejo que a empresa ela é muito aberta. Ela tem um nível de informalidade ainda que permite uma exposição, uma transparência muito grande. Então sem falar dos outros gestores. Porque aí eu acho que fica complicado eu falar, né, do que eu não tenho o dia-a-dia a informação completa.
P/1 – Claro.
R – Mas, do meu lado, por exemplo, é o que eu comentei antes. Eu tenho um nível de exigência com os meus funcionários bastante elevado. Mas uma coisa é você cobrar a eficiência, mas dar diretriz, dar o espaço. E se a pessoa tiver que complementar, ou voltar, voltar. Eu, particularmente, vejo a empresa como muito sensível, ela é muito aberta para isso. Eu não sei se todos os funcionários entendem isso. Também é uma questão, ele pode, a gente pode achar que está agindo de um jeito e não está sendo percebida de outra, né? A empresa é muito aberta. O próprio Anastácio como presidente, ele permite esse acesso. O Anastácio é um cara que, anda os andares. E anda com essas pessoas pelo nome e pergunta caso a caso. Então assim, se eu tivesse que dizer um ambiente de trabalho aberto eu diria Redecard. Honestamente falando. Sem demagogia. Dificuldade, a pessoa não está satisfeita? Isso sempre vai acontecer, porque afinal de contas a cobrança é muito grande. Agora, costumo dizer, aqueles funcionários que querem se desenvolver e que estão dispostos a fazer um bom trabalho, a Redecard é um bom caminho. Agora, não é um lugar que você vá colocar o burro na sombra. Esquece. A empresa é muito rápida, não permite isso. Então assim, se o funcionário está certo, aquela pessoa é a pessoa certa no lugar certo, a coisa acontece. Agora, se está em dicotomia, se tem um ritmo diferente da empresa, vai sofrer.
P/1 – Vai ficar difícil.
R – Vai sofrer. Porque aí não tem, não dá para ficar na sombra. É o que eu falei antes.
P/1 – E, dentro do seu crescimento aqui na Redecard, teve alguém, uma pessoa que tenha desempenhado um papel importante nesse processo? Alguém que tenha te, a quem você recorria, a que você buscava orientação? Algum colega ou...?
R – Veja, meu chefe recentemente é o próprio Anastácio. Ele era vice-presidente da área Comercial. E ele é uma pessoa que, evidentemente, quando eu tinha alguma necessidade do ponto de vista formal eu recorria a ele. Então assim, a pessoa mais próxima que eu tinha como modelo era ele mesmo. E ele me atendia completamente na, nessa questão. Agora, eu sempre fui uma pessoa que eu sempre procurei ler muito. Então eu me espelho em outros mercados, não só de cartão de crédito. E então de uma certa forma sou curiosa. Mas dentro da Redecard certamente seria o Anastácio que seria o diferencial.
P/1 – E teve alguma história, algum caso pitoresco nesses seus, de Redecard são 10 anos porque ela tem 10 anos, né? (risos) Se tivesse mais você teria mais.
R – É.
P/1 – Mas são 10 anos de Redecard. Você tem algum caso pitoresco desse período? Alguma história engraçada, algo que tenha acontecido?
R – Nossa, tem muita. Agora deixa eu tentar lembrar de alguma, né? Olha, tem uma história muito interessante que eu conto, que também até hoje eu comentei com a minha equipe, não foi nem na Redecard. Foi no começo da Redecard. Nós estávamos no prédio ainda que era da Juscelino. Eu fui, eu saí para almoçar um pouco mais tarde, rápido, almoço rápido. Encontrei na recepção um senhor. Um senhor realmente que não era, eu sabia que não era funcionário da empresa. E observei que ele estava falando na recepção. Eu passei, passei rápido. Bom, eu sei que eu fui almoçar, devo ter voltado logo depois, porque eu fui pegar só um lanche. Quando eu voltei o senhor estava lá ainda. E eu vi que ele estava abordando de novo a recepcionista, com alguma coisa. E achei estranho, porque, o senhor ainda estava lá. Aí eu parei e perguntei para a recepcionista o que estava acontecendo que aquele senhor estava lá. Aí ela explicou que ele tinha, na realidade uma dificuldade, porque ele tinha pagado o cartão de crédito e não estava constando o extrato dele ainda. E ele tinha ido a uma agência de viagem para comprar uma passagem e não tinha sido autorizado, porque não tinha sido dado baixa na fatura dele. E o senhor estava no prédio, e a área de Atendimento ao Cliente tinha sido, não existia mais. E ele estava tentando falar com o pessoal da Ipiranga, não conseguia falar. Imagina, o cara já estava nervoso. Já estava começando a ficar irritado. Aí eu o chamei de lado, cheguei para a recepcionista: "Deixa que eu vou tratar esse caso." Aí peguei o senhor: "O senhor por favor me acompanhe." Aí subi, fui até o meu andar, pedi para ver o documento que ele tinha que ele já tinha acertado a fatura. Liguei para a pessoa que eu conhecia na área da Ipiranga. Passei o fax para ela mostrando que realmente a pessoa tinha, já estava quitado. Tinha até a autenticação mecânica do banco. E que, por favor, verificasse junto do banco o que estava acontecendo porque ele precisava comprar a passagem naquele dia que ia viajar. Assim, uma situação que acho que qualquer pessoa que vê outra pessoa apurada tomaria a decisão. E aí eu subi, tal, pagou, passou. Ele agradeceu muito, foi embora. E engraçado que resolveu a situação, tudo, fui embora para casa e tal. No dia seguinte, estou chegando na minha mesa tem um ramalhete de flores maravilhosas. Era o cliente que tinha se sentido muito agradecido pelo que eu tinha feito. Ele era diretor do Clube Pinheiros. Um nível de influência que o cara tinha lá dentro muito grande, e todo reconhecido. Então ele mandou um bilhetinho (risos) bem simpático tipo assim: "Obrigado pela sua ajuda." Bom, e eu com toda, fiquei feliz. Ele mandou uma carta também na época. Mandou para o pessoal de Recursos Humanos elogiando a atitude. Se todos os funcionários fossem daquela forma. Engraçado que lá fui eu para casa com o meu ramalhete de flores feliz da vida. (risos)
P/1 – (risos)
R – Cheguei em casa, coloquei - totalmente inocente - meu marido olhou falou assim: "(risos)Que flores são essas?" Aí pegou o cartão, era mais comprometedor ainda. Porque o cartão não dizia muito. Porque a carta dizia tudo, né? Mas o cartão dizia: "Mais uma vez, gostei muito da sua atitude de ontem." Uma coisa meia assim.
P/1 – (risos)
R – E aí eu dizia: "Poxa vida, de um lado eu fui reconhecida pelo cliente que tive uma atitude muito proativa, né? Do outro lado meu marido me olhou com aquela suspeita (risos) achando que eu tinha aprontado alguma, né, no meio do expediente." Eu trabalhei, nem almocei, eu falei: "Pô, tem alguma coisa errada aqui." (risos) Mas aí, só voltando a história, que eu falo para a minha equipe assim: "Gente, você tem que fazer o seu melhor. Não importa se todo mundo vai entender o que você está fazendo. Faça o seu melhor." (risos) E é mais ou menos assim. Essas coisas que acontecem de vida que você tem que ser proativa em algumas coisas e vai embora.
P/1 – Ai, ai. E o que a Redecard representa na sua vida, Virginia?
R – Na realidade, veja, foi uma parte da minha vida. Então eu diria que, eu tenho duas filhas, que na realidade acaba virando mais uma filha também. Então é muito engraçado porque ela faz parte da minha vida e da minha família. Muitas vezes eu vou sair para o restaurante ou qualquer outra coisa minhas filhas falam: "Mãe, a sinalização não está boa, olha. Mãe o equipamento não está funcionando. Olha, aquele cara ali não está falando do cartão." Então vira uma coisa meia comum. Ela sofre a influência, ela dá uma influência tão positiva que a minha, eu tenho uma filha de 18 anos, como eu falei, eu estava solteira quando eu comecei a trabalhar aqui. Ela tem 18 anos e ela está fazendo Administração no Inimec. Quando eu fiz o meu MBA foi lá, no Inimec, né? E ela fala: "Mãe, eu quero ser igual a você." É engraçado, né? Porque você acaba gerando aí um impacto, por tabela, que você não percebe. O que eu acho com uma certa preocupação. Eu acho que a gente tem que separar as coisas. O filho não pode viver a figura da mãe como sendo o modelo e seguir. Mas assim, é engraçado porque as minhas duas filhas, a empresa propicia essas festas de Dia das Crianças. Então assim, Hoje Eu Vou Trabalhar com Você. Você deve conhecer esse programa, né? E a minha outra filha fez 15 anos agora, não, fez 14 anos, desculpa, fez 14 anos. E até o ano anterior ela trabalhava. Vinha fazer parte do grupinho Eu Vou Trabalhar com Você. Então ela, imagina, ela se achava no mesmo direito como se fosse funcionária da empresa. Chegava para o pessoal de Recursos Humanos e falava. Para o Anastácio, falava. Quando o Anastácio assumiu a Presidência, de fato, minha filha quis falar com ele para dar parabéns. Nesse ponto. Quer dizer, então você não, tem hora que você mistura as coisas. Não que você queira, mas a coisa é natural. Porque eu chego em casa estou conversando com o meu marido, nomes surgem, né? Meus pares de trabalho, outra situação de funcionário. Eu me refiro ao Anastácio, como me referia até então como chefe, agora estou com outro chefe. Mas eu ________. Então assim, as minhas filhas acham que podem tratar tudo igual. Então que tem o mesmo (risos) muitas e muitas vezes eu levo minhas filhas para eventos. Quando a minha filha fez 15 anos eu tinha um evento em Recife, que foi da Abave. O dia da festa da Abave era o dia do aniversário de 15 anos da minha filha. E eu não podia deixar de ir porque eu tinha uma relação de trabalho muito forte lá. Eu a trouxe junto. Ela foi para Recife comigo. E ela participava do trabalho. E assim, vou sair às vezes para jantar fora com cliente, alguma coisa, eu levo as vezes junto, porque não dá. Tem hora que você tem que começar a, e dá para levar, porque pode levar acompanhante. Então em alguma situação eu levo. Então elas, a vida dela ficou muito para esse meio. Se você conversar com minhas duas filhas você vai pensar que elas trabalham na empresa. Porque elas falam e argumentam de igual para igual. E discutem cartão, se preciso for, com você. É engraçado.
P/1 – Tamanho a identificação. (risos)
R – Não, e discutem, falam em viagem, comentam. Então assim, todo mundo participa.
P/1 – E, Virgínia, agora só falando um pouquinho sobre a sua área mesmo. Ela foi criada quando? A que você atua hoje.
R – É. Essa área, na realidade, ela tinha uma outra...
P/1 – Só para constar, é a área de Turismo e Entretenimento, né?
R – Turismo e Entretenimento. Ela tinha uma outra configuração, ela hoje está muito mais robusta do que tinha há dois, três anos atrás. Mas assim, foi um crescimento meio que, tem toda uma cadeia produtiva desse segmento de Turismo e Entretenimento. Então quando você fala de hotel, companhia aérea, locadora, operadora de turismo, é o que a gente chama de turismo. O entretenimento é outra parte que tem muita interligação com isso. Que é de restaurante, cinema, teatro, parque temáticos. Então toda cadeia produtiva, até o mercado vê esse segmento dessa forma, né? Tem até um símbolo que a gente identifica e bota os principais parceiros nisso. É uma área extremamente interessante, de um nível de complexidade um pouco mais alto, porque está muito relacionado ao emocional. E as pessoas que lidam com isso têm algumas características. Mas é uma área extremamente atrativa. Desafiadora. Ela nunca estará pronta. Eu costumo dizer que no dia, se alguém ousar dizer que essa área está pronta, tem problema. Porque ela nunca vai estar em conformidade. Não é uma coisa que você olha: concluiu. 100%. Não, ela vai estar sempre uns 85, 90%. Que eu acho que a própria área tem essa característica. Que existe um, tudo é muito grande nesse setor de pessoas, de funcionários envolvidos no processo, e mercado, né? E existe também uma troca de propriedade muito grande. Restaurante existe uma vida útil um pouco mais baixa do que o resto dos segmentos. Então um abre e fecha, desafios constantes. Então assim, é uma área muito inquieta por natureza. Então não dá para ficar, achar que está tudo calmo, conformado, não. Não dá.
P/1 – Tem que estar sempre em movimento.
R – Tem que estar movimentando.
P/1 – E, qual é a principal razão de você trabalhar hoje na Redecard? O que é que a empresa te traz de bom? O que é que te motiva cada vez mais a continuar aqui e seguir em frente?
R – Eu acho que é justamente essa capacidade de realização. Não é uma área que eu tenha limitações de ação. Não é uma área fechada. Não é uma área que me limite em termos de criatividade. E ela por si só ela é multifuncional. Ela é impinge em você um ritmo de atitude que, como eu tenho esse perfil, né, de fazer a coisa a mil por hora. Eu, quando tudo está calmo eu procuro o estresse, né? O estresse saudável, é engraçado isso. Então eu diria que é justamente essa capacidade que eu tenho de fazer as coisas acontecerem. Talvez se eu estivesse entre quatro paredes com um pouco de limitação eu não sentisse tão bem. E efetivamente eu gosto do que eu faço.
P/1 – E quais são os valores que você percebe nas relações aqui na Redecard? Quais são os valores que você identifica?
R – Olha, eu prego - eu ,né, a pessoa Virgínia - eu prego muito a questão de ética, de comprometimento, determinação, de criatividade. E eu vejo que as pessoas com que eu tenho melhor afinidade têm essas características também. De modo geral eu acho que todo mundo é um grupo de realizadores. E, evidentemente, tem que ter observações sobre a esfera de um e do outro. E os espaços devem ser compartilhados. Mas o que eu percebo de todo mundo é a vontade da coisa acontecer. Que eu acho que isso é mais presente em todo mundo. E o respeito. Eu acho que as pessoas têm necessidade de se respeitar, com certeza, até para ser respeitados. E com isso me conquista. Isso me desafia inclusive a melhorar a própria pessoa.
P/1 – Aí, agora, com o olhar para o futuro, Virgínia, como que você imagina a Redecard daqui a 10 anos?
R – Eu acho que esse mercado ele tende a ter mudanças. Afinal de contas a gente vive em um processo constante no Brasil. Então dizer que vai ficar efetivamente como está agora não seria uma maneira razoável de analisar. Mas eu vejo a empresa, perante a característica que ela tem de realização, de determinação, ela tem, ela sabe onde quer chegar. Ela tem um plano estratégico. Ela tem, os acionistas têm essa visão também. Eu não sei que destino vai ter, que rumo vai ser tomado. Mas eu posso ter certeza, na minha avaliação, que ela vai chegar a um lugar com certeza campeão. A gente não tem espírito de derrotada. A gente não sabe lidar com perda. Esse é um ponto que tem até que ser observado. Porque se a gente levar uma derrapada pode dar uma frustração geral em todo mundo. Porque ninguém está acostumado a perder. Esse é um aspecto importante. A gente só ganha. Então enquanto você está sempre ganhando, ganhando, ganhando, você se acostuma a ganhar. E acho que a gente tem que refletir, porque nem sempre as coisas são como a gente planeja. Mas, de novo, eu vejo que a empresa está direcionada para o sucesso. Ela estabeleceu isso como norte, né, sucesso, tal. Certamente vão ter n rumos novos a serem seguidos. Mas eu não vejo falta de visão de médio e longo prazo. De falta de estratégia. Não, eu imagino que qualquer situação nova que venha surgir a gente vai estar preparado para buscar outros horizontes. Eu não vejo com insegurança não. Não mesmo. Não sou uma pessoa, sou uma pessoa muito pé no chão. Apesar de muita criatividade. Também não sou pessimista, quer dizer, certamente eu não me derroto por isso. Mas eu sou ponderada na minha reflexão. E eu vejo com sucesso. Tendo esse espírito que a gente tem. Se a gente entrar em um caminho tortuoso certamente vai ter uma retomada para o rumo certo.
P/1 – E o que é que você acha do mercado de cartão de créditos? Agora é uma pergunta pessoal mesmo.
R – Hum, hum. Veja, muita coisa tende a acontecer. A gente vê, sei que tudo que a gente fala aqui dentro existe lá fora também. Novas situações estão surgindo, novos players, vamos chamar assim, estão surgindo também. E não só de cartão de crédito. A gente vê uma, novas tendências de meios de pagamento. Aí no sentido mais amplo. A gente olhava o mercado, por exemplo, americano que recentemente teve chance de observar, a gente já vê surgir outras formas de transferências eletrônicas e outras coisas surgindo. Que podem ser novo, novos concorrentes. De novo eu acho que a gente tem que ver sob a ótica de eficiência. Eu acho que a gente tem que ter isso como norte principal. E se a gente souber fazer um trabalho dirigido nesse sentido a gente consegue até mesmo entrar nesses novos nichos. Então assim, se a gente souber ser proativo e ágil, a gente consegue chegar primeiro. Concorrência é saudável. Veja, de novo, concorrência é o que te faz estimular a se superar. Não é saudável só ficar se achando bem na foto. O mercado está inquieto, muito inquieto. Tem gerado preocupação sim, isso, né, até alguns clientes perguntam. Evidentemente porque também são abordados de outras maneiras. Mas eu acho que temos que ter muita consistência em termos de observação desse mercado e se posicionar adequadamente. Então não dá para falhar em eficiência. Não dá para falhar em humildade. Não dá para ser agressivo nessa hora. Eu acho que a gente tem que olhar um pouquinho e saber onde é que a gente tem falha. Porque a gente tem falha.
P/1 – E, hoje, qual seria na sua visão o maior desafio da Redecard?
R – Eu acho que a gente tem que manter essa agilidade, ou acelerar essa agilidade. Então a gente ter alguns acertos, eu acho, de estruturas operacionais, né? E estruturas da empresa que têm sofrido algumas mudanças. A gente só não pode demorar muito a tomar a decisão. Porque temos que saber tomar a decisão da maneira certa, não é com ansiedade. Mas não dá para deixar de tomar a decisão. Então às vezes eu me incomodo sim com um pouquinho de falta de agilidade em algumas situações. Então tem que ser ágil, tem que acelerar um pouquinho algumas circunstâncias.
P/1 – Então, no seu ver, o grande desafio é ficar mais rápido do que já é.
R – É ficar mais eficiente, mais ágil. Mas vamos usar a palavra ágil, mesmo, dentro das circunstâncias. Não dá só para pensar. Tem que agir. Tem que pensar rapidamente e buscar a solução.
P/1 – E, Virgínia, como que você avalia o impacto da passagem pela Redecard, essa sua trajetória aqui, na sua vida profissional, na sua vida pessoal? O que é que você leva daqui para, com você para sempre?
R – Como ensinamento eu levo para mim que eu trago para as minhas filhas, é que qualquer ser humano é capaz de qualquer coisa. Tem que ter comprometimento, tem que ter vontade de fazer, de realizar. Então assim, não é a empresa que tem que fazer nada por você. Eu acho que é você que tem que posicionar onde você quer chegar. É como eu coloquei lá atrás, naquela ocasião todo mundo que se dedicava, que tinha esse ritmo, essa situação de atuação, se deu bem, porque conseguiu ser reconhecido pela empresa. A empresa reconheceu esse esforço e deu oportunidade. Outras pessoas que tinham até talvez mais potencial, mas que no nível de posicionamento talvez não tenha se comprometido tanto, não tiveram a mínima chance. Então não dá para criticar que a empresa não deu oportunidade. Eu acho que a pessoa não soube fazer a oportunidade. Então o maior ensinamento que eu tiro para mim mesma é assim: que eu acho que eu, aonde eu cheguei, né, é lógico, n oportunidades foram sugeridas. Aconteceram para mim. Mas eu podia ter perdido. Então assim, a gente tem que saber aproveitar. A gente tem que estar preparado para a oportunidade antes que ela chegue. _________ fica esperando, esperando, aí quando chega começa a trabalhar. Não funciona assim. Então assim: aonde você quer, não importa aonde você quer chegar, faça o seu melhor do que você tem hoje. Se você se superar você vai estar sempre em vantagem em alguma coisa. Então eu acho que a gente tem que se superar sempre. Não é balela. É de fato, se você não se superar, vale para todo mundo, a gente vai morrer aqui. Quer ser motorista de ônibus, ou quer dirigir, ser dono da Mercedez? Tem que discutir. Então eu acho que a gente é que faz as coisas circularem a favor. E as oportunidades muitas vezes deparam e a gente, nada é fácil. Eu acho que assim, se olhar para trás, né, nossa estou na empresa, estou trabalhando no grupo há 21 anos. Então já tive momentos de decepção, momentos de euforia, de cansaço físico, de exaustão. Tudo isso acontece. Mas nada foi fácil, mas sempre tem uma oportunidade lá na frente aparecendo. Então a automotivação leva você para isso.
P/1 – E, dessa iniciativa da Redecard, ao comemorar 10 anos ela buscar junto aos seus funcionários, aos seus colaboradores, às pessoas que fizeram parte dessa história, um pouquinho do que elas têm para falar, do que elas participaram nesse processo, o que é que você acha dessa iniciativa?
R – Veja, eu acho isso extremamente saudável. Porque, de novo, eu estou imaginando que vocês estão pegando depoimento de pessoas que têm uma história para contar. Então são pessoas que viveram essa história. E a partir do momento que você bota isso como referencial, e tangibilidade para outras pessoas, você está credibilizando o teu processo de valorização do recurso interno. Então assim, olha, tem um belo plano de aproveitamento interno e no fim das contas você não tem histórias para contar. Então quando você começa a exemplificar isso você está dando a chance das pessoas perceberem que de fato acontece isso. Então eu só posso dizer o seguinte: é uma atitude extremamente louvável, porque quem está atrás conduzindo esse projeto eu sei que é bastante sério, não está sendo feito com tendência política. Certamente não é isso. E além de estar dando a chance para as pessoas, que isso é um reconhecimento, concorda?
P/1 – Hum, hum.
R – A partir do momento que a gente está conversando sobre essa história eu estou entendendo que a empresa me vê como pessoa que contribuiu para o processo. Além desse aspecto, demonstrar para os outros, poxa vida: "Olha, você também poderia estar aqui." Então eu acho que, se você, muito ideal seria que outros, muitas pessoas tivessem chance de contar seu depoimento. Agora, que isso, os poucos que tiveram essa chance que sirva de referencial para os outros. Porque aí cada um se identifica, né? Um pouco disso, de mimetizar o processo.
P/2 – Rodrigo, antes de terminar eu queria fazer uma pergunta para a Virgínia.
P/1 – Claro.
P/2 – A Redecard veio da Credicard, veio de uma área praticamente _______. As pessoas que vieram da Credicard há 10 anos atrás. Na Credicard com certeza tinha uma identidade. Eu queria saber a tua opinião sobre a identidade da Redecard hoje. Você acha que ela tem a sua identidade própria? Nesses 10 anos ela conseguiu construir a sua própria identidade? Como é que você vê isso?
R – Tá, entendi. Eu diria o seguinte, perante o mercado sim essa identidade existe como bandeira, como empresa. Para nós funcionários, tem um aspecto interessante considerar, principalmente aqueles que vieram dissidentes da Credicard: a gente acaba sendo muito exigente com a gente mesmo. Porque a nossa história de vida, né, era essa. Então eu acho que ao longo do tempo o ritmo da empresa, e a agilidade que as coisas vêm acontecendo, de mudança lá fora, vem forçando algumas pessoas a se ajustarem no processo. Então é preciso entender o que é que é identidade da empresa ou as mudanças naturais do processo. Então assim, a identidade a empresa tem. Clara, definida, etc. O que tem que entender é que as mudanças que estão acontecendo não têm nada a ver com a identidade da empresa. Eu não sei se eu me fiz entender. Então assim, uma coisa é que nem físico, você quando tem 10 anos você tem um tipo de atitude. Você tem 30, 50 é outro. Não é que a pessoa mudou a personalidade, ou a estrutura. A pessoa muda fisicamente e vai se ajustando com o tempo. Isso é um processo. Agora, a identidade a gente trás. A empresa já nasceu com identidade. Apesar de não ser naquela ocasião reconhecida pelo mercado, ela tinha sua identidade. Ela tinha missão, tinha contribuição, tinha tudo. Uma coisa é como a gente está contribuindo para o amadurecimento dessa situação. A gente está sabendo amadurecer? Está sabendo consistir isso? Essa é a pergunta que a gente faz. Agora, da forma como eu atuo, por exemplo, eu identifico a empresa e vejo a identidade dela. Então eu não estou em crise de identidade, nem pessoal, nem profissional. Agora, os processos estão mudando. E, de novo, se a gente quer ter uma identidade de empresa extremamente saudável, focada no mercado, enxergando o cliente como precisava acontecer, quais os processos, quais são as ferramentas que a gente tem para atingir esse objetivo. Esses processos quando a pergunta que ele me fez, como é que eu veria a melhoria do processo, essa agilidadezinha, que eu acho que tem que ser. Apesar de eu falar que a empresa é ágil, tal, tal, tal, e ela é. Porque ela segue o mercado. Mas, às vezes, internamente o ritmo há uma dicotomia entre entrada de um pedido e a saída de fábrica. Então essa agilidade tem que ter. Agora, eu não sei se eu me fiz explicar com clareza. Mas identidade a empresa tem. Ela sabe onde quer chegar, tem estratégia, tem tudo isso. Agora, o que é que nós estamos fazendo para assegurar a permanência dessa identidade? Essa é que é a pergunta.
P/2 – Deixa eu ver até se eu entendi. Você está dizendo assim: a identidade existe, a missão, os valores estão estabelecidos. Talvez quem veio da Credicard, aí não sei se tem essa diferença de quem veio de quem entrou de mercado, né? Nesses 10 anos. Talvez tivesse que ter um pouco mais de agilidade. Porque assim, uma coisa são os processos, você tem os processos que eles mudam ao longo do tempo. Perfeito. E as pessoas neste contexto, então talvez essa agilidade também por parte das pessoas? Elas também teriam que ter mais essa, essa agilidade nessa mudança, vamos dizer assim, né?
R – Tá, eu vou dar um exemplo prático para te ilustrar isso. Mas a teoria é que não ficasse registrado dessa forma.
P/1 – Não, pode ficar tranquila.
R – Por exemplo, eu recebo uma demanda de um cliente x. Então um cliente quer fazer uma campanha de venda porque ele acha que pode incrementar o negócio dele em 40%. Para isso tem que ter um investimento de x. Se eu trago essa proposta para dentro de casa muitas vezes o tempo que vai levar para avaliar isso, porque já existe umas definições prévias, definidas. Então assim, se eu consigo trazer isso e dar uma agilidade nessa avaliação eu consigo responder para o mercado e de repente ser bem sucedida. Posso até dizer não para o cara. É uma situação que eu posso dizer. Mas às vezes a gente fica com uma definição interna por n outras razões para ser discutida - e eu acho que a discussão tem que ter - mas às vezes se perde um tempo precioso e a gente não consegue chegar a resultado nenhum. É nessa hora que eu falo de agilidade. Então assim, também não, só definir uma situação. No começo do ano a gente define um plano de ação junto a esse grupo de clientes. Mas assim, ele não pode ser engessado a ponto de você não ter mobilidade de outras situações. Então às vezes, por você ter alguns processos previamente definido, você engessa outros. Então assim ó: "Esse assunto não está na pauta? Então não vai entrar na pauta de reunião." não dá para ser assim. Às vezes quem determina o tempo do mercado hoje em dia é o, do negócio, é o mercado. Você vai visitar um Carrefour da vida, não é nem conta minha, mas visitar um Carrefour, o cara faz uma proposta não dá para demorar dois dias para responder para esse cara. E às vezes as pessoas não são acessíveis por n razões, ou porque não estavam. Teriam que ter um banco de emergência, uma linha vermelha onde toca o telefone e diz: "Escuta, é agora." Pára todo mundo - dentro das limitações - e toca isso. Às vezes quando falo de agilidade é isso. A Comercial que está muito com o termômetro da rua, né, o asfalto pegando fogo, chega dentro de casa com um monte de iniciativa, um monte de coisa, e aí esbarra em alguns processos, né? Que têm que acontecer, mas aí o que é que acontece? São duas forças contrárias. E aí o que é que acontece? Diminui a ansiedade do cara. Palavra vulgar: brocha. Porque o cara não faz mais nada. Não consegue dar ele para a frente. Aí sabe o que ele faz? É a história do laboratório do ratinho, né? Ele vai na primeira vez tenta, não come a comida. A segunda, vai, depois não traz mais comida. Então nessa hora, o que eu digo assim, de risco de identidade, é um pouco disso. A empresa não pode passar lá para fora uma percepção de morosidade dos seus processos, nem coisa nenhuma, porque senão compromete. Mas, de novo, a identidade não pode ser essa. A identidade da empresa tem que ser a eficiência que ela atua, etc, etc. Então tem que separar o que é identidade e o que são os processos. Então você pegar um índice de satisfação, por exemplo, de cliente, pode ser que alguns não estejam satisfeitos com alguns processos da empresa. Mas não é que a empresa não tem identidade. Eu não sei se eu me fiz entender.
P/2 – Não, não, está ok.
R – É isso? Mas assim, nem registra isso porque assim...
P/2 – Não, pode ficar tranquila.
R – ...eu peguei um caso esporádico que não quero comprometer nenhuma relação com... (risos)
P/1 – Claro.
P/2 – Tá bom, nós não vamos registrar o caso não.
R – ...veja, é hipotético para todos os lados, entendeu?
P/2 – Pode ficar tranquila.
P/1 – E, Virgínia, o que você achou de ter participado? Você já falou o que é que você acha da iniciativa. Mas e você pessoalmente, o que é que você achou de ter participado?
R – Olha, em se tratando de uma sexta-feira (risos) nessa sala quieta sem nenhum barulho, foi terapia. (risos)
P/1 – (risos)
P/2 – (Risos)
R – Foi reviver alguns momentos aí, né, interessantes de vida que você perguntou de data, não sei o quê. Eu sou muito desligada para data. Então eu troco, e troco mesmo. Você vê que até a data da minha filha eu troquei, data de casamento eu troquei, tal. Mas aí é característica, defeito, né, que a gente tem de fabricação. E foi interessante porque eu comecei a relembrar de algumas coisas que eu já tinha, né, esquecido. Estava lá atrás. Foi curioso. (risos) Foi gostoso, foi gratificante. Não achei que fosse demorar tanto. Vocês me enganaram. (risos) Falaram meia hora, mas tudo bem.
P/1 – (risos)
R – Meia hora foi só de foto. Mas foi, foi gostoso. Eu me senti totalmente à vontade, nenhum tipo de pressão, rapaz. Os dois rapazes lá fazendo o trabalho deles ali quietinho, ali. E sei que está gravando mas totalmente à vontade, não é? Então é isso aí. Me senti tranquila.
P/1 – E aí?
P/2 – Tranquilo.
P/1 – Então, Virgínia, muito obrigado pelo seu depoimento, pelo seu tempo.
R – Obrigada.
P/1 – E pela sua história.
R – Então está bom. Divirtam-se.
[Fim da Entrevista]
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