P/1 – Henrique, eu queria começar a entrevista pedindo para você falar o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Sou Henrique Frade, sou de 30 de agosto de 1934, sou de Formiga, Minas Gerais.
P/1 – E você lembra o nome dos seus avós e o que eles faziam?
R – Não, não me lembro não.
P1 – Não conheceu?
R – Não, não conheci.
P/1 – Então eu queria que você falasse o nome do seu pai, da sua mãe e qual era a atividade deles.
R – Meu pai era Luiz Clemente Frade e a minha mãe Clotilde de Brito Frade.
P/1 – E qual era a profissão deles?
R – Meu pai tinha lá em Minas carro de praça, tinha táxi, em Minas, como você também é mineiro, meu pai era motorista, tinha um táxi, carro de praça e a minha mãe sempre foi costureira.
P/1 – E vocês eram quantos irmãos?
R – Seis homens e quatro mulheres.
P/1 – Dez?
R – Nós éramos em dez ao todo.
P/1 – Como é que todo mundo chamava?
R – Chamava Lulu, como era conhecida, Lulu, Zica, era José Frade, chamava Zica, Carlos; então estes três são falecidos e tem vida que é o Aírton e o Hamilton, estão em Minas e uma mulher que é Maria Aparecida, chama de Tita. São os três vivos, dois irmãos e a minha irmã, que são vivos, os outros faleceram, meus irmãos e irmã, são falecidos.
P/1 – E você podia contar um pouquinho assim, como era, você lembra como era a sua casa lá em Minas?
R –Ah, lembro, lembro, me lembro que a minha casa era num bairro que chamado Santo Antônio, em Formiga, chamava Santo Antônio, hoje é o bairro Quintino Bocaiúva. Ali é... porque foi meus pais que criou, todos nós foi naquela casa, existe aquela casa até hoje, aquela casa está lá de pé até hoje. Mas, você sabe, vai aparecendo cunhado, cunhada, acha que tem de vender, já está na hora de dividir dinheiro e no final das contas, nessa parte. Mas naquela época que a gente podia arrumar a...
Continuar leituraP/1 – Henrique, eu queria começar a entrevista pedindo para você falar o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Sou Henrique Frade, sou de 30 de agosto de 1934, sou de Formiga, Minas Gerais.
P/1 – E você lembra o nome dos seus avós e o que eles faziam?
R – Não, não me lembro não.
P1 – Não conheceu?
R – Não, não conheci.
P/1 – Então eu queria que você falasse o nome do seu pai, da sua mãe e qual era a atividade deles.
R – Meu pai era Luiz Clemente Frade e a minha mãe Clotilde de Brito Frade.
P/1 – E qual era a profissão deles?
R – Meu pai tinha lá em Minas carro de praça, tinha táxi, em Minas, como você também é mineiro, meu pai era motorista, tinha um táxi, carro de praça e a minha mãe sempre foi costureira.
P/1 – E vocês eram quantos irmãos?
R – Seis homens e quatro mulheres.
P/1 – Dez?
R – Nós éramos em dez ao todo.
P/1 – Como é que todo mundo chamava?
R – Chamava Lulu, como era conhecida, Lulu, Zica, era José Frade, chamava Zica, Carlos; então estes três são falecidos e tem vida que é o Aírton e o Hamilton, estão em Minas e uma mulher que é Maria Aparecida, chama de Tita. São os três vivos, dois irmãos e a minha irmã, que são vivos, os outros faleceram, meus irmãos e irmã, são falecidos.
P/1 – E você podia contar um pouquinho assim, como era, você lembra como era a sua casa lá em Minas?
R –Ah, lembro, lembro, me lembro que a minha casa era num bairro que chamado Santo Antônio, em Formiga, chamava Santo Antônio, hoje é o bairro Quintino Bocaiúva. Ali é... porque foi meus pais que criou, todos nós foi naquela casa, existe aquela casa até hoje, aquela casa está lá de pé até hoje. Mas, você sabe, vai aparecendo cunhado, cunhada, acha que tem de vender, já está na hora de dividir dinheiro e no final das contas, nessa parte. Mas naquela época que a gente podia arrumar a casa, tinha um dinheirinho para reformar a casa sempre era eu, eu estava bem. Os outros também trabalhava e tal. Eles pegavam: “Olha vamos vender a casa?” “Não, vamos reformar ela. Vamos fazer uma reforma. Tem uma parte aí no fundo, vamos construir uma casa aí.” “Ah, mas quem é que vai construir?” “Meu sobrinho.” Tem mais de... não sei nem te dizer que tem mais de dez que eu não conheço ainda. Eu vou até agora em agosto em Minas porque eu quero conhecê-los, é claro. Então construí uma casa ali no fundo, onde mora até hoje meu sobrinho e na frente vendemos a casa. Mandei reformar e no fim das contas vendemos e demos dinheiro para todo mundo e foi um pouquinho mas mais para não ter briga. Vocês sabem família, falando em dinheiro você sabe como é. Então dividimos e agora só tem a casa do meu sobrinho, é dele, onde ele mora até hoje.
P/1 – E essa casa ela tinha quintal? Você jogava bola no quintal?
R – Tinha, tinha uma horta, um monte de terra para fazer, onde tinha essa casa, mas no fundo tinha uma espécie de avenida, no fundo da casa, tinha uma avenida e tinha um campo, um campinho de futebol e a gente jogava lá e do outro lado tem um rio, lá a gente jogava. E a gente tinha um time da rua, jogava uma peladinha ali, nosso timinho era respeitado, ninguém mexia com a gente naquele terreiro, como diz o outro. Ali foi onde eu comecei a minha carreira mesmo, ali no fundo das casas.
P/1 – E os seus irmãos? Jogavam com você?
R – Jogavam meus irmãos, um peguei para jogar, mas eles falavam que exclusive, Lulu era muito bom, tinha o Carlos, o Zica que esses dois disseram que era jogador de defesa, era muito valente. O Aílton chegou a jogar comigo, o Aílton e o Hamilton, cheguei a jogar com eles, tinha a idade de 15 anos e lá em Formiga nosso time era muito respeitado e até hoje respeitado. Então eu cheguei a jogar com eles, no caso do Hamilton, o Aílton foi para Belo Horizonte, trabalhar em Belo Horizonte, que eu tinha uma irmã que morava em Belo Horizonte e foi até o Cruzeiro onde ele passou a titular do juvenil, naquela época era juvenil, foi seleção mineira pelo juvenil lá em Belo Horizonte, jogou aqui no Rio contra os clubes e aí foi seleção, foi seleção. Foi nesse caso que ele foi para o Flamengo, o Gilberto Cardoso, naquela época, foi para Belo Horizonte, era um olheiro do Flamengo, foi lá e perguntou onde é que eles achavam um jogador lá em Belo Horizonte que podia levar lá para o Flamengo e indicaram o meu irmão. Levou o meu irmão e mais uns três ou quatro e então eles vieram para o Rio. Vieram, meu irmão veio para o Rio e tal. Aí perguntaram para ele se não tinha na família algum outro conhecido lá em Formiga e não é por ser meu irmão não, ele tinha 15, 16 anos e joga lá no meio dos grandões lá. “Está lá, quem sabe a gente podia trazer ele, é só telefonar para ele que ele vêm. Quem sabe a gente podia trazer ele.” “Vamos telefonar para lá e ele vêm.” Aí comunicaram e eu peguei e vim. Com frequência fazem muito essa pergunta, o primeiro formiguense andar de avião fui eu. (risos) É verdade, inclusive eu tive um medo danado a primeira vez, saí de Formigas e fui até Belo Horizonte, fazia, levava dez horas de ônibus de Formiga até Belo Horizonte, hoje se faz em uma hora, você vê o que eram as estradas, não tinha estradas.
P/1 – Me conta um pouquinho, como é que é, para quem não conhece, como é que é a cidade de Formiga na sua época, antes de você sair de lá?
R – Olha, tem seis anos que eu não vou para Formiga, com esse problema na cirurgia da perna, agora é que eu estou movimentando muito... inclusive queria agradecer à vocês que estão me botando de pé aqui hoje, me pondo de pé porque eu estava dizendo aqui com o Manoel, que eu tinha receio.... estava esperando o médico autorizar. Então, essa vinda para cá eu agradeço à vocês essa entrevista, porque eu estou andando de muletas e começo até a tremer. Mas agora eu já estou sentindo mais força. Agora Formiga me disseram que eu não conheço não. Formiga era um lugar muito... tinha lugar que não era calçado, tinha lugar, no centro onde tinha calçamento, era de paralelepípedo e hoje já mudou. Que eles disseram que eu não vou conhecer, asfaltado, Formiga está tudo asfaltado e eu não conheço. A Prefeitura que era uma coisa muito bacana, mas tem uma coisa, todo mês eles mandam um jornalzinho de Formiga para mim. Eu acho muito bacana isso, sei que daqui à pouco eles também estão vendo essa gravação também a prefeitura tem essa carinho e qualquer festa que tem eles não esquecem também de me convidar. Então melhorou muito Formiga, não posso dizer daquela época, é uma cidade, como toda cidade antiga, as casas todas antigas, agora disseram que está tudo novo. Disseram que derrubaram as casas todinhas, menos a casa nossa, dos Frade, não pode derrubar, não derruba não, não pode mexer nela não. Só pode reformar, deixei para reformar, mas derrubar a casa não, aquela dos Frade.
P/1 – E a família Frade tem muitos lá em Formiga?
R – Tem, agora nós temos por parte de parente, é como eu estou dizendo para você, são muitas sobrinhas, sobrinhos que tem quatro, cinco filhos, a maioria eu não conheço dos filhos. Então eu pretendo agora em agosto, como eu estou recuperado, e vou conhecer os novos da família que eu não fui conhecer ainda.
P/1 – E falando de Formiga, então você, adolescente, já jogava no Formiga, como é que chamava o clube?
R – Formiga Esporte Clube e Vila Esporte Clube, são os dois clubes que têm, mas agora têm outros clubes que eu não conheço. Tem o tal de Ipiranga que eu me lembro e tem mais que eu não me lembro. Agora o Formiga e o Vila são os dois clubes que me fazem lembrar quando eu joguei no Uruguai, jogava no Nacional e o Peñarol. Era uma rixa danada o Nacional e o Peñarol, onde mora a torcida do Peñarol, o Nacional não pode ir e onde mora o Peñarol não vai, porque sabe. E continua a mesma coisa. Você não pode ir num restaurante lá sendo Nacional, não pode ir num restaurante que é do Peñarol, você não pode ir. Não podia, na época não podia, é um caso muito sério. Na minha terra tem Vila e Formiga, é a mesma coisa, aquela rixa, de um lado e do outro, ponte para cá e ponte para lá, da ponte para lá é dos Vilenses e da ponte pra cá é dos Formiguenses. Ainda tem essa rixa lá até hoje, não se jogam não, não se jogam. Vila e Formiga, jogavam, faziam uma melhor de três, o Formiga sempre venceu o Vila e foi quando teve um Vila e Formiga e eu fui quando eu tinha uns 17 anos e a responsabilidade era muito grande. O treinador do Formiga era um paraguaio, era um paraguaio e eles ficaram impressionados quando me colocaram para jogar entre o Vila e o Formiga. Garoto, aquela responsabilidade e o Formiga nunca tinha perdido para o Vila. Então quando me puseram para jogar eu entrei garoto bobo para tudo e aí a torcida começou a gritar e eu comecei a chorar. Aí eu me lembro como se fosse agora, esse técnico do Paraguai chegou perto de mim e disse: “Frade, a torcida é toda tua.” Me deu aquela força o paraguaio e tal e acabou jogando, vencemos e eu fui o melhor jogador, me carregaram e aí eu comecei a deslanchar.
P/1 – Que beleza, foi o melhor jogador em campo?
R – Fui o melhor em tudo. Foi quando o meu irmão me pegou e me trouxe para o Flamengo.
P/1 – Está aí, isso foi um negócio mágico, tocou um dia lá o telefone te avisando, como é que...
R – Eles telefonaram porque lá em Formiga só tinha um telefone que era na delegacia, hoje não, mas naquela época só tinha um que era lá na delegacia. Então esse mano meu que estava aqui no Rio telefonou, a diretoria do Flamengo telefonou lá para a delegacia e mandou que a tal hora que eu fosse à delegacia que eles iam ligar à tal hora. E marcaram e eu peguei e cheguei à delegacia.
P/1 – E você sabia qual era o assunto?
R – Não, não sabia qual era o assunto. E quando cheguei lá, falei com o meu irmão: “Olha eles querem trazer você para treinar cá, de Formiga.” Falei: “Vamos embora.” “então você espera aí que eles vão pegar você aí. Marcaram um encontro, fui até Belo Horizonte, marcaram em Belo Horizonte e foi a primeira vez que eu andei de avião. Aí fui fazer um teste no Flamengo, fui fazer um teste primeiro. E todo mundo treinava e aqueles formiguenses que moram tudo no Rio sabiam, aí na mesma hora, mesmo naquela já mexia, ainda mais você vindo do Interior para o Flamengo. Aí eles me acharam, pode fazer e aí perguntaram daqui, perguntaram dali: “Você está nervoso com o treino?” Eu disse: “Não.” De fato eu dei muita sorte porque eu não estava nem pensando que eu estava em treino no Flamengo. E aí foi o primeiro treino, o primeiro treino estava o meu irmão me assistindo, que meu irmão era aspirante e aí eu treinei e ficaram comigo impressionados e na mesma hora queriam fazer que assinasse. Naquela época eu e meu irmão nós éramos dois leigos, meu irmão era mais, mais para frente porque morava em Belo Horizonte e falou: “Não, não é assim não, vamos procurar um advogado.” E não assinei e aí falei eu fizesse outro treino: “Vamos fazer outro treino.” “Não!” Porque tinha nessa época, tinha muito olheiro. Naquela época os olheiros iam para os treinos, pegavam jogadores do Fluminense e o Flamengo e na mesma hora me fizeram assinar aquele papel e na mesma hora e eu já assinei aquele papel e já estava preso ao Flamengo. Aí continuei.
P/1 – Henrique, você jogava em que posição nessa época?
R – Sempre fui centroavante.
P/1 – Sempre foi centroavante?
R – Sempre centroavante. Desde quando eu comecei foi como centroavante.
P/1 – Com 17 anos, você já media quanto?
R – Um e setenta e dois, depois eu aumentei muito, agora eu estou com um e setenta e três. (risos)
P/1 – Você já tinha altura de adulto então.
R – Já, já. Já era meio forte.
P/2 – Antes de entrar no Flamengo, eu queria saber se o senhor chegou a estudar, estudou em Formiga?
R – Não, estudei até o quarto ano primário, inclusive eu vim cá para o Rio, naquela época os meus pais: “Você tem de ir, mas você tem, de estudar.” “Então tá.” E antes disso, no Flamengo também devia ser a mesma coisa, você chegava para treinar no juvenil, ser jogador do juvenil, tinha de estudar!” Não era somente eu no Flamengo não, tinha muitas, mesmo naquela época, corria atrás, parava na cidade, pegava o melhorzinho, tinha o olheiro. E depois também Vasco e Botafogo, todo mundo ia atrás dos jogadores e aquele melhorzinho trazia para fazer teste. E hoje em dia não adianta porque quando chega lá, como dizem os empresários já pegou os garotos. Então tinha de vir para cá para estudar, mas não dava também para estudar, era o Rio de Janeiro, aqui em Ipanema em um colégio que o Flamengo, os jogadores iam para estudar. Eu morava na estrada da Gávea, na concentração do Flamengo, na estrada da Gávea. Eu tinha de sair, terminava o treino às seis horas, terminar o banho, ir na concentração e ir lá na Estrada da Gávea tinha de pegar um bonde e o bonde naquela época não podia só ficar pegando lotação, jogador tinha lotação mas se você ficasse subindo e descendo de lotação não dava nada. Então você tinha de subir de bonde até a subida da Gávea e lá até chegar na concentração, não dava para estudar. Quando chegava no colégio não tinha mais cabeça, então não deu mais para estudar, mas não somente eu, mas todos os outros também. Mas era obrigatório, o estudo era obrigatório, mesmo com a família da gente pedindo que não deixasse de estudar, mas não tinha condição não.
P/1 – E Henrique, você lá em Minas, você nunca tinha vindo para o Rio, antes deste teste do Flamengo, como é que você imaginava que era o Rio de Janeiro?
R – Não, não. É, o Rio de Janeiro sempre tinha, não sei se hoje tem, em, Minas, nós fluminenses, você deve saber disso, quem não conhece o Rio de Janeiro é o maior pagão. É! Mineiro falava assim. E pensava que o Rio de Janeiro era aquela coisa e a gente via, naquela época não tinha televisão também, mas a gente ouvia falar nos rádios. O Rio de Janeiro você chegava a pensar que era uma coisa do outro mundo. Mas em Minas ficava bobo e ficava olhando, como diz mineiro: “Você ia no meio do mato e falava que a água era salgada.” Sem querer você punha a mão na água para provar que era salgada. Mas é verdade mesmo, eu estou falando essas coisas mas aconteceu mesmo: “Quero ver se é salgada mesmo.” Coloquei a mão lá dentro e pus na boca. Eu falei: “Não vou morrer pagão não. Estou aqui!”
P/1 – E aí você chegou e achou a cidade bonita?
R – É, coisa de louco. Até você fazendo uma pergunta terminava em jogos, lá pelas seis horas, daquela tarde, estava anoitecendo, bonita, a gente passava por ali, na Praça Paris, a gente ia no Maracanã, aquela coisa bonita, olhava, olhava de dentro do ônibus. Naquela época, era caminhonete,estava voltando do Maracanã todo mundo ali, pegava e falava assim: “É, essa praça me faz tanto lembrar Formiga!” E aí eu quase batia. (risos) Porque a Praça Paris é uma coisa linda, até hoje maravilhosa, andaram desleixado, mas agora recuperaram. Mas é muito bonita e então ali escurecendo era uma coisa muito linda, linda, linda. E por isso, às vezes, eles pegavam e falavam assim: “Quando nós fomos à Formiga - a gente era como uma família, família, era uma família, então a gente brincava muito. E comigo mesmo, esse negócio de trem, eles pegavam e quando eu falava isso eles pegavam e falavam assim: “Nós vamos em Formiga, pô!” Um jogador falava isso: “Nós vamos em Formiga, então quando chegar na praça lá em Formiga, nós vamos fazer cocô na praça.” (risos) Eu ficava por conta e aí eu esculhambava eles: “Ah, você isso e você aquilo.” E uma vez nós fomos à Paris e naquela: vai na torre, porque tem de ver a Torre Eiffel, vamos lá na Torre Eiffel, ver. Vamos. Me deu uma vontade de fazer xixi, mas não tinha lugar de jeito nenhum, olhava e falava: “É impossível.” E aí fui encostando e chegando, na Torre Eiffel, debaixo da Torre Eiffel, um pé aqui e outro ali, aí tinha perto da Torre Eiffel, cheio de polícia, de policiamento eu falei com a turma para juntar uns quatro, fazer uma corrente, me escondi e fiz xixi no pé da Torre Eiffel. Aí , beleza pura, fomos lá e vimos a Torre Eiffel, coisa maravilhosa. Aí, prosseguindo, quando voltamos para o Rio, fomos jogar no Maracanã e na volta a mesma coisa: “Ah, você está lembrando de...”Gostavam de falar muito em Formiga. Eles pegavam e falavam assim: “Pois é, vamos lá em Formiga mesmo, fazer cocô lá no centro da Praça lá em Formiga...” E eu falei: “Agora vocês podem fazer o que bem entender em Formiga.” “Mas por causa de quê?” “Eu fiz xixi no pé de Torre Eiffel.” (risos) Caguei com eles, matei eles. Se eu fiz xixi no pé da Torre Eiffel...
P/2 – E nos tempos de Formiga, quais eram os ídolos do senhor? De futebol?
R – A gente ouvia falar, na minha época que a gente estava lá em Formiga mo Ademir, Ademir da Guia, Ademir sempre foi, Ademir e Queixada, mas era o Ademir, o Deus era o Ademir e mais rei, então... na minha terra naquela época quem tinha um rádio era alguém, era só rádio. Então para ouvir falar bem era só do Ademir, Ademir, Ademir, Ademir, Ademir! Eu tive um prazer de conhecer, graças à Deus ele e ainda estava vivo e eu tive o prazer de conhecer, foi em um programa de televisão, o canal 13, lá em Copacabana, canal 13, lá em Copacabana, onde faz televisão era ali. Tinha o programa do Ademir e então eu fui convidado e foi muito bacana e foi muito bacana eu chegar a conhecer o Ademir. E tem uma outra passagem que eu cheguei à conhecer o Heleno de Freitas, esse também eu não vi jogar, mas todo mundo falava dele muito. Então eu e o Heleno, no Flamengo nós fomos jogar em Barbacena, onde é a terra do Heleno. E foi o Bris e o Jaime, os dois são falecidos, o Bris era o treinador do Flamengo, na época ele era o treinador e nós fomos jogar lá. Então o Bris e o Jaime chegaram a jogar com o Heleno, jogaram juntos lá. E então nós fomos visitar, ele estava numa casa de saúde e nós fomos lá visitar, levou a delegação todinha para fazer uma homenagem à ele. E tem uma passagem, que ele é simpático, alto, aparência bonita, tinha um capote nessa época fazia um frio lá em Barbacena, ele num capote muito... e sentamos numa sala e abraçados os três, o Bris e Jaime foi até bonita a coisa, bacana. Então o Heleno começou a conversar e o médico do Heleno nada de lado e nós começamos a conversar e o médico já tinha avisado que ele começa a conversar a começa a falar em grandeza. Aí começou a falar, nós conversando e tal e começou a chegar aquela crise dele, falou que foi o melhor jogador do mundo, que ninguém jogava melhor do que ele, aí o médico ali. Aí ele pegou e falou assim: “Quem é o center-four – que naquela época era centre-four - quem é o center-four de vocês aí?” Quem for levanta, aí eu peguei e falei: “Sou eu aqui.” “Faz favor.” Aí eu cheguei perto dele, ele pegou e levantou da cadeira: “Aperta a mão aqui! Você está apertando a mão do maior center-four do mundo! Você pode se orgulhar disso!” Puta merda, aí foi aquela coisa, a turma bateu palma e ficou aquele silêncio, aquele minuto de silêncio e aí o médico veio e tirou ele devagar. É bom vocês fazerem essa entrevista porque a gente lembra. Não pode esquecer de uma passagem dessa, porque muita gente não sabe desse acontecimento comigo e com Heleno. Senão eu carrego para o caixão.
P/1 – Que beleza! Em Barbacena?
R – Em Barbacena, onde ele estava internado, depois ele morreu, mas quando a gente chegou lá ele estava com uma aparência boa, falava que era o maior mulherengo que tinha, as mulheres todas queriam ele. E de fato ele tem razão das mulheres terem querido ele porque ele era, a gente com todo o respeito era uma pessoa muito simpática, ele já com idade avançada, internado, e estava com uma aparência que a gente via que era uma aparência, para uma pessoa que era doente, que era bonito mesmo. Quando passa uma mulher a gente sabe, se a mulher na época dela já foi bonita, de você olhar você nota que tem uma parte dela que é bonita e é o mesmo o caso dele também. Era muito bonito e simpático.
P/1 – Então seu Henrique em que ano o senhor vai fazer o texto no Flamengo?
R –Olha quando eu fui para o Flamengo e eu estava com 16 anos, 15 para 16 e foi quando eu vim fazer o teste, já estou com 65.
P/1 – Foi o quê? 1950 e pouco?
R – É, 1950, na época da Copa que eu vim fazer o teste.
P/1 – Mas já tinha acontecido a Copa?
R – Não, ainda estava na Copa. Foi quando, em Formiga lá, só quem tinha rádio e pegava só a Rádio Nacional na época, então para você ouvir o jogo da Copa do Mundo você tinha de ir na Rádio ou então... foi nessa época foi que eu vim, logo que terminou a Copa foi que eu vim fazer o teste no Flamengo.
P/1 – E então você veio fazer o teste, foi bem sucedido, assinou o papel.
R – É, porque tinha de assinar, como hoje tem os empresários, como a gente estava conversando e naquela época não tinha, mas os clubes faziam, a primeira coisa que você fazia, passou um teste, você assinava um documento, já estava preso. Porque você não podia, naquela época no amador você não podia assinar contrato, você assinava um compromisso que você já tinha com o clube. E estava certo, você sair lá do interior, para me preparar todinho para depois ir para outro clube. Então você tinha que ter uma assinatura ali para assegurar, chamava contrato de gaveta, só não falava que existia esse contrato de gaveta, tinha contrato que você não podia sair para clube nenhum, já estava preso no Flamengo.
P/1 – E aí o que foi que aconteceu depois?
R – Aí depois eu comecei, fui reserva do Índio naquela época e já estava na época de eu sair porque era eu ou o Índio.
P/1 – Não, mais para trás ainda, eu queria que o senhor falasse um pouquinho do amador. Do aspirante.
R – Os aspirantes no Flamengo, se você ver, tem muita gente que ainda fala nisso, muita gente no Campeonato ia fazer o jogo do Aspirante, o jogo preliminar, todo mundo ia para ver a preliminar do Aspirante. Não deixava de faltar na preliminar, naquela época tanto o aspirante do Flamengo, do Vasco, do Botafogo, do Fluminense, não desfazendo do Olaria, todos os Aspirantes eram muito bons. Então as pessoas não deixavam de ir ver os Aspirantes, não deixavam de ir assistir aos jogos dos Aspirantes porque eram bons mesmo. Então é como você vê, não é só no Flamengo que levava todo mundo, na minha época também, o Flamengo vendeu os outros e subiu, o Botafogo, o Fluminense foi fazendo a mesma coisa, tiveram de vender os antigos para os novos subir. Hoje em dia, não querendo desfazer dos outros, como nós estamos falando que a safra acabou, hoje, eles dizem, eu não cheguei a ver, eles dizem que o melhor safra que tem é do Botafogo, que inclusive é um trabalho muito bonito que o técnico está fazendo, é muito bonito. Mas eles não estão, não estou dizendo que eu quero que o diretor vai escalar um time de garotos. Mas tem de dar chance aos garotos todo mundo fala isso, todo mundo falava dos botafoguenses, que o Botafogo não está dando força, não está dando chance para os garotos que estão subindo, inclusive até o técnico falou isso: “Não tem oportunidade para os garotos.” Agora, já estão querendo levar os meninos, já tem empresário aí que se bobear o Botafogo fica sem os garotos.
P/1 – E quem era os seus companheiros na época do Aspirante? Quem jogava com o senhor?
R – Na época do Aspirante foi o Dida, tinha o Babá, o Moacir, e muitos desses que jogavam o Zagalo já jogou, o Joel, clube feito não tinha jeito, tirava a gente debaixo e colocava em cima, com direito de ingressar e tinha de jogar. Não tinha nada dessa história do quadro de cima ser profissional, não, do Aspirante também. Mas jogamos muitos anos no ataque também, o Paulinho – não sei se você lembra do Paulinho, Paulinho Duca -, o Duca também foi tri-campeonato, entrou no lugar do Rui que machucou, então o Duca ficou maluco de ter de entrar no lugar do Doutor Rui se for ver, no tricampeonato. E acabou que corria muito o Duca e foi feliz. Então o Duca eu, Paulisho Duca, Dida e Vavá, nessa parte nossa do ataque e na defesa tinha o Joubert, tinha o Lídio Campolino e aí por fora, eu não lembro muito.
P/1 – E você morava aonde?
R – Eu morava na concentração do Flamengo, na Estrada da Gávea, 1951, hoje dizem que é uma casa muito bacana, mas era um lugar muito bom mesmo, lá no meio do mato, uma concentração muito bonita, uma casa muito bacana.
P/1 – O que é que era o seu dia-a-dia como aspirante? O que é que você fazia da hora de acordar até a hora de ir dormir?
R – A gente tinha, mais pegava sempre um livro para ler, tinha lá também na concentração, tinha sinuca que distraía muito, jogava sinuca ali, então a gente distraía muito ali, andava no meio do mato, porque ali era mato e a gente ficava andando ali, por aqui, se chegava no portão. Em frente tinha uma casa lá, e frente tinha uma casa de madeira, onde mais cedo ou mais tarde ali moravam os Golden Boys, era tudo criancinha, tudo garoto, ficavam brincando lá com a gente e depois passaram a Golden Boys, uma coisa muito bonita, foram um grande trio muito bacana. E passava, ficava sempre ali na porta e passava por ali camionete, lotação, lotação da Rocinha e todo mundo passava: “Oh, Oh.” E assim passava o dia. Mas treinava todo dia, então também todo o dia a gente descia, mesmo quando não tinha treino era obrigatório descer para assistir os treinos dos profissionais. Tinha disso, tinha de ficar por lá para não ficar na concentração, inventando modo.
P/1 – E a Gávea era diferente?
R – Nossa!! Completamente diferente. Outro dia passei, peguei o carro, fomos passeando, fui passear e não conheci mais, não conheci mais, não conhecia mais. Era só aquela matagal e hoje são só mansões, uma atrás da outra. Hoje, onde que era a concentração, hoje é um hotel, um mini-hotel que estão fazendo lá. Está muito bonito, parei deixa eu dar uma entradinha, tinha um guarda na entrada, um portão muito enorme, eu contei a história para o guarda e disse: “Deixa eu dar uma olhadinha aqui.” Foi uma passaginha boa, foi rápida mas deu para lembrar. A minha vida foi ali, então a gente não pode esquecer, não esquece não.
P/1 – Senhor Henrique, e o seu irmão, o Hamilton, ele continuava no Flamengo nesta época?
R – É, ele continuava mas depois nessa época, eu só também não voltei para Formiga porque estava acostumado, mas ele já estava acostumado em Belo Horizonte. Mas ele tinha arrumado uma namorada, estava noivo lá e infelizmente a moça, ele se perdeu, conheceu essa moça lá no interior, fez mal e teve de se casar, se não casar vai preso. E a nossa família era muito querida lá, então esse meu irmão que era o Zica, ele pegou e falou: “Não, o mano Hamilton ele vem viver comigo.” Então esconderam o Aílton também , ele não ia casar e em nada. Depois veio aqui: “Não, você vai ter - a família nossa é dessas antigas – vai ter de casar.” Então ele pegou, voltou para Formiga, casou e infelizmente a minha cunhada é falecida porque a gente gostava muito dela. Mas aí teve que casar, tem sobrinho meu e sobrinha que é filho dela com o Hamilton, meu irmão, que são uns sobrinhos muito bacanas. E teve essa passagem, deste...e que teve de casar e o pior é que eu ia ficar sozinho, e eu não queria ficar sozinho, ficar sozinho. Mas o Flamengo teve uma coisa, o Flamengo me alistou logo no exército, teve essa também, me alistou o exército. Mas eu não queria nem saber, pedi para ir à Formiga, fui para Formiga e não quis voltar lá, mas chegou a época do alistamento, de servir o exército, eu fui fazer o Tiro de Guerra, aí não pôde servir, não pôde servir porque eu estava alistado aqui no Rio. Aí é que eu fui para o Rio com o pensamento de que eu tinha de fazer, por sorte o Flamengo me chamou outra vez. E eu vim para fazer um novo teste e aí eu vim, fiquei com medo mesmo porque eu tinha de passar no teste, porque do contrário ia ficar no quartel, ia morar no quartel. Eu tinha de passar no teste do Flamengo para morar na concentração, senão tinha de morar no quartel. Aí eu fiquei com medo e vim fazer o teste e passei outra vez no teste do Flamengo e aí tinha de ficar, seguir o exército e aí eu fui obrigado a ficar.
P/1 – Quer dizer, você contou que já na campanha de 55 alguns aspirantes jogaram partidas no time de cima.
R – Foi Cruzeiro, eu cheguei a jogar, o Joubert chegou a jogar também, o Dida, Duca, o Duca tinha mais responsabilidade, todos nós tivemos responsabilidade, mas o Duca tinha muito mais porque o Duca ficou jogando, o Rubens machucou e era uma contusão muito séria e então...
P/1 – O Duca jogou a final, 4 X 1, com o Atlético.
R – Jogou e o Dida é que fez os gols, o Dida, entrou no lugar do Benitez? e foi aí que levantou o Dida também. E aí tiveram de vender, é o que eu estava dizendo para você, o Flamengo teve de vender o Rubens, vendeu o Índio, vendeu o Evaristo, tinha o Evaristo também. Evaristo era reserva mas um jogador imediato, imediato. Evaristo, Joel, essa turma, o Flamengo vendeu uns oito jogadores para a Espanha. Aí foi quando nós subimos. Aí depois veio outra safra, depois disso veio outra safra e aí nós saímos também. Eu fui para a Portuguesa, o Dida foi para a Portuguesa, para dar vaga para os outros que estavam subindo, hoje é que não tem mais isso, é o caso do Gérson, tinha o Gérson.
P/1 – Então repetindo a pergunta por causa do nosso problema técnico, então vocês subiram, alguns jogadores do aspirante subiram na campanha de 55?
R – Foi, os jogadores mais velhos já estavam todos vendidos e por conta disso nós subimos, na época foi o Rubens, Índio, inclusive o Joel, Evaristo, tinha de dar oportunidade para todos nós, entendeu?
P/1 – E nesse jogo, nessa final, que o Flamengo ganhou o primeiro jogo do América, perdeu o segundo jogo de 5 X 1. O jogo de 4 X 1 o senhor assistiu?
R – Assisti, era obrigado, obrigado não, mas a gente concentrava tudo junto, a gente concentrava todo mundo junto, então a gente assistia, como diz, não sei se hoje é, mas é uma família, até hoje quando a gente encontra um ou outro, por coincidência encontra na rua ou vai na casa um visitar o outro até parece que fica criança, a gente abraça! Parece que é irmão com irmão. Hoje eu não sei se tem isso, na minha época tinha, era uma irmandade danada, era todo mundo e até hoje tem essa irmandade quando encontra todo mundo. A gente encontra e parece até criança. Até há pouco eu encontrei com o Carlinhos, nós estávamos em um restaurante lá na Gávea, onde é que a gente vai sempre e por coincidência fazia um tempão que eu não via o Carlinhos. E eu estava lá no restaurante e quem é que me aparece? O Carlinhos! Aí abraçamos! E tinha muita gente no restaurante, e todo mundo olhando e nós nos abraçávamos e todo mundo olhava. E aquilo lá é com todos os outros. Aquilo lá é minha família e todo mundo participou e é uma beleza na época de... todos nós sempre fomos assim, e é uma família mesmo, como diz, é até hoje, a gente quando se encontra é a mesma coisa que estar vendo irmão com irmão.
P/1 – E você assistiu esse jogo de 4 X 1, você se lembra desse jogo? Que o Dida fez os quatro gols no América?
R – A gente tem uma recordação, não esquece, a gente não esquece mesmo, alguma coisa não esquece mesmo. Porque ali, O Dida, nós que assistimos os jogos, nós estávamos apoiando só o Dida, a gente queria que ele acertasse. Uma decisão! Decisão! Então, aquilo então parecia até que era a gente que estava jogando e aí foi aquela emoção todinha, quando o Dida fez os gols todinhos, foi a melhor emoção, boa a tudo, parecia que era a gente que estava jogando. É como eu estou dizendo para você: era uma família mesmo, a gente torcia com um e com outro que entrava e com os outros antigos também.! O Índio que Deus lhe dê saúde, que ele está vivo, tem o Rubens que está falecido, mas o Índio, até hoje eu devo obrigação ao Índio porque naquela época, é como eu estou dizendo para você, eles tinham de correr, eles tinham de correr o time de cima, senão corresse, o debaixo subia, e tomava a posição deles. Então era aquela luta. Eles falavam assim, mas o Flamengo quase nunca perdia, estava sempre nas primeiras e então eles falavam assim: “Vocês querem ver o time principal do Flamengo perder, vai assistir um treino.” Que o coletivo era na sexta-feira, o coletivo, então o estádio largava e ficava superlotado, lotadinho mesmo para ver o Aspirante contra o Profissional. E parecia até jogo! E aquilo lotava, para ver o profissional contra o aspirante jogar! E foi quando eu cheguei perto do Índio, então quando eu entrava para jogar no lugar do Índio, o Índio, por exemplo, terminava o primeiro tempo, no intervalo do primeiro tempo, o Índio pensava que eu me preparava para entrar no lugar dele e ele vinha e pegava: “Henrique, procura jogar assim, fazer isso e fazer aquilo, porque isso que eu estou fazendo não está dando certo.” Então eu carrego isso, um orgulho de ser amigo do Índio porque ele não teve olho grande, ele sempre que podia ia me ajudar. E quando eu entrava em campo, procurava fazer o que o Índio tinha dito. No final já, fiquei mais amigo ainda até hoje e muito me orgulho disso. Porque ele não teve vergonha em me... se fosse outro não falava nada: “Que se dane, vai entrar lá e faz o que o treinador manda fazer, que se dane.” Mas ele chegava: “Não, procura fazer assim e assado.” Por isso é que eu devo essa obrigação ao Índio até hoje.
P/1 – E o senhor se lembra quando o senhor estreou como profissional com a camisa do Flamengo? E quando é que o senhor fez o primeiro gol como profissional?
R – Me lembrar assim, não dá para me lembrar, mas o primeiro jogo do Flamengo, devo me lembrar do primeiro jogo que eu fui fazer como titular do Flamengo, porque ali eu sabia que eu era titular, porque o Índio, que tinha sido vendido para a Espanha. Era início do campeonato e era Flamengo e Bom Sucesso, não! Flamengo e Olaria, Flamengo e Bom Sucesso, no campo do Bom Sucesso e o goleiro do Bom Sucesso era o Barbosa, o goleiro era o Barbosa. E naquela época não tinha nada de time pequeno não, tinha uns times que você falava que era um time pequeno, era rival! Era jogo difícil, tudo era clássico. Não falava que ia jogar com time pequeno. E eu fui estrear como titular do clube, no Flamengo, foi contra o Bom Sucesso, no campeonato, no primeiro campeonato e a torcida superlotada, o estádio superlotado, lotado porque o estádio é pequeno. Superlotado e no início procurando os lugares e a torcida estava acostumada com ele, o Índio, claro. E aí Freitas querendo acertar e nada dava certo, dava errado. e terminou o primeiro tempo e a torcida: “Burro! Burro! Volta para Formiga. Sua mãe está assim, está assado! Volta para Formiga!” E me esculhambando, eu sai do campo amarrotado, parecia, o campo pequeno, parecia que a torcida estava em cima de você. Eu estou jogando no lugar do Índio e eles estão lá esperando. Mas estão acostumados com ele. E eu chego no vestiário amarrotado. Aí o Freitas que era o treinador pegou e me chamou num canto: “Olha, está jogando do jeito que eu quero. Quem manda aqui sou eu! Quem manda aqui sou eu! Eu sou responsável por você. Não é a torcida não. Lá, eles estão ali sabe porque? Para fazer o pagamento para a gente receber o nosso ordenado em um mês. Eles estão aí para o pagar e nós dependemos deles, deixa eles falar à vontade. Entra por um lado e sai por outro. O responsável sou eu. Se eu estou colocando você para jogar é porque sou eu que tem que achar por você para jogar, não é eles não. Eles querem vencer é claro, mas estão esqueça que eles estão falando de sua mãe, xingando você, xingando seu pai, esqueça. Procura fazer o que você está fazendo, é o que eu quero!” então o jogo estava 0 X 0 no primeiro tempo. Barbosa, mesmo depois de velho e você sabe como é a pessoa, quanto mais velho é melhor, e o Barbosa pegava tudo. Foi como você estava dizendo, pra mim foi o gol mais bonito que eu fiz na minha carreira até hoje, foi uma jogada – me lembro como se fosse agora -, o Dida fez a jogada para mim, não sei se você se lembra, como o Pelé jogou sem a bola uma vez no Maracanã, ele passou pela bola, foi lá no fundo, não teve o gol, chutou a bola, estava vendo a gravação ontem, na Copa, ele jogou sem a bola e passou, deu a volta por trás do zagueiro. Foi a mesma coisa. Eu estava no meio do campo e o Dida chutou a bola para mim, eu peguei, passei da bola, aí eu falo cada vez em quando, quando passa esse lance do Pelé, quando tem gente lá em casa, eu falo: “Está vendo? Mas eu fiz! Aprendeu comigo.” Mas eu fiz! Eles ficam por conta. Eles me esculhambam, mas eu saí da bola e depois, chegou perto de mim e foi a mesma coisa, eu saí, dei a volta por trás, o Barbosa saiu e eu fiz o gol. O Pelé agora passou de lado. Ontem passou outra vez essa gravação e eu estava lembrando do que eu falo. E muita gente que sabe que eu fico falando, quando passa: “Henrique eu vi seu gol, o Pelé querendo imitar o gol que você fez.” Ontem mesmo, você está fazendo essa pergunta é para mim, esse foi o gol mais bonito de minha carreira!
P/1 – E a torcida depois desse gol?
R – Aí passou, aí eu sou o Deus dessa torcida. Mesmo parado, mesmo sem jogar eles me consideram um dos Deuses, porque eu estou com esse problema na minha perna e estou na cadeira de rodas, então eu fico sentado na porta do prédio e passa todo flamenguista, todos vem conversar, homem, mulher, branco, preto, marrom, azul, então eu carrego esse orgulho comigo: “É, eu sou um Deus mesmo, eu me considero um Deus.” Eu não sabia que eu tinha, não sabia mesmo que eu tinha esse prestígio. Palavra que eu não sabia que eu tinha esse prestígio, todo mundo que passa conversa comigo, faz, até hoje faz diversas perguntas e eu carrego com muito orgulho e é como hoje, que vocês estão fazendo reportagem com a gente e estão levantando. O Flamengo está dando mais moral para os jogadores que já pararam e isso é a coisa mais bonita do Flamengo. É como vocês, vocês nem se fale também.
P/1 – Como você está falando da torcida. A torcida do Flamengo ganha jogo?
R – A torcida ganha, porque às vezes você está meio parado no campo, te dá força. Te dá aquela força. Às vezes vocês está meio parado e a torcida nota que você está meio mole e não é brincadeira não. O Maracanã lotado e ver aquela torcida do Flamengo gritar, você, nem que seja voando ou correndo e então ela te força a correr mesmo. Eu estava dizendo para a moça que trabalha com vocês aqui, a Juliana, que foi de carro é muito simpática. Ela estava fazendo uma pergunta e juntamente com o meu porteiro, o Zé, quando nós estávamos vindo, estávamos conversando, peguei e contei esse caso para ela, que o Flamengo levanta. Mexe com você e você tem de correr. Começa a lutar, quando ela levanta, levanta também você dentro do campo. Então tem essa vantagem. Se você vê essa torcida do Uruguai, da Argentina, Uruguai, Argentina, é como diz, você vê a torcida do Uruguai e dos argentinos, eles ficam de pé, gritando o tempo todo! Isso mexe com você, o time está mal e eles estão quietos e daqui a pouco a torcida começa a gritar. E é como você vê, mesmo o time, uma seleção, a seleção do Uruguai não é igual, mas mesmo a minoria d gente que tinha no Maracanã, de torcedor do Uruguai, eles fizeram mais barulho do que nós brasileiros! Nós dávamos três vezes mais do que a torcida do Uruguai e eles não pararam. Então mexe com o jogador e ele tem a obrigação de correr, estão lá gritando, então tem a obrigação de correr e essa torcida do Flamengo não é brincadeira não, não estou desfazendo das outras torcidas, mas a do Flamengo quando começa não pára não.
P/1 – E Henrique, quando a torcida começava a gritar o seu nome, o que é que te dava?
R – Te dava mais responsabilidade. “Poxa, se vocês estão gritando então tem de correr mesmo.” E, às vezes as coisas não estavam dando certo e você pelejava daqui, pelejava dali e a torcida vinha em cima te dando aquela força e “Mas não é possível, com aquela força todinha e nada dava certo.” O chato é isso, porque a torcida, aí a torcida pega no pé. O chato é isso, quando ela começa a dar vaia, você tem vontade de sair dali, enfiar debaixo do túnel e ir embora.
P/1 – Mas a gente estava falando de gols, tem outros gols que são marcantes na sua carreira, que você lembra?
R – Tem, tem um quando eu estava na Portuguesa de Desportos, na Portuguesa de Desportos, foi um gol que foi sem querer, mas que eu considero um gol bonito porque eu estava presente. E jogava Portuguesa e Corinthians e a Portuguesa há muito anos não era campeão, então eu e o Dida tínhamos sido emprestados para a Portuguesa de Desportos. Aí estava na decisão Portuguesa e Corinthians, no jogo, o empate e o Corinthians era campeão. E eu mal, estava mal, e naquela época podia fazer uma substituição. Então eu, terminou o primeiro tempo 1 X 1 e eu mal, mal no jogo, aí o treinador era o falecido Aymoré, falecido Aymoré e terminou o primeiro tempo e nós no vestiário sempre lava o rosto e tal e ele orientando. Aí eu peguei e falei: “Aymoré, você podia me fazer um favor, me tirar, me trocar, colocar o outro garoto que também é muito bom, eu estou muito mal, estou mal, estou querendo procurar fazer e acertar e não consigo acertar. Então tem mais um tempo, coloca o Aloísio que é o meu reserva e muito bom, porque eu estou mal.” Ele disse: “Henrique, um dia você vai ser treinador, você não vai esquecer disso que eu vou falar perto de vocês. Um bom jogador pode estar mal quando for numa decisão, ele pode estar mal, de uma hora para outra ele resolve o jogo.” E aconteceu, foi no Pacaembu na época, vai daqui, vai para lá e vai daqui. Aí o ponta-esquerda da Portuguesa, chamava Nilson, é falecido, grande jogador, foi na linha de fundo e deu um chute forte, cruzado no chão e eu vim correndo, vim correndo e bati. O jogador da frente não tinha visto mais a bola, no que eu vim, eu meti o pé na bola e ela passou a bateu na minha canela, quando eu vi ela passar, bateu na minha canela e entrou. Então esse é um dos gols mais bonitos, foi sem querer, mas foi bonito, com total, aquele lance na hora certa, como você está dizendo. A torcida do Corinthians, aquela torcida igual à do Flamengo também, gritando: “É campeão!” Porque isso é o que dói quando você está precisando fazer o gol da vitória e a torcida começa a gritar: “É campeão!” Aí é que você quer correr demais e acaba é não correndo nada. Você fica nervoso, aquela ansiedade de fazer o gol e não consegue fazer o gol. E quando a bola bateu na minha canela e “tum”, foi 2 X 1 e você vê o estádio fazer assim: “Uhhhhhhhh!” Esse foi um dos gols mais bonitos que eu já fiz na minha vida!?
P/1 – Sem dúvida. E pelo Flamengo?
R – Hein?
P/1 – E outro que você tenha feito pelo Flamengo?
R – AH, isso agora, eu fiz muitos gols bonitos pelo Flamengo, muito bonitos mesmo. Um dia eu vou mostrar um álbum para vocês, que eu tenho um álbum muito bonito, só falta falar o álbum. E aí tem tudo, os gols que mexeu muito com a gente e você vê, esse mais bonito meu foi esse que eu fiz no Barbosa, a jogada do Pelé que ele quis imitar mas que ele não foi feliz, não fez o gol.
P/1 – E Henrique, a maioria de seus gols era feitos de quê? De Chute, de cabeça?
R – De cabeça não, eu fui muito ruim, sempre fui um jogador muito pesado, não saía bem do chão, não. Gol meu mesmo era mais.... meu apelido era cavalo, então a maioria do torcedor sabe, que eu sempre fui muito valente, valente, então eu brigava. E o Dida, há pouco tempo eu dei uma entrevista com o Dida e até eu achei bacana e na entrevista ele falou: “E Dida você fez muitos gols também?” “É, fiz muitos gols, mas agradeça ao Henrique que está aí.” Estávamos nós dois gravando. “Eu agradeço ao Henrique.” “Mas porque é que você agradece à ele?” “O Henrique chegava lá, brigava, trombava , derrubava tudo e sobrava para mim e eu ia lá e pumba!” então eu sempre fui um jogador mais pesadão, eu nunca fui um jogador clássico, sempre fui mais pesado, mas de arranque.
P/1 – E essas coisas que ninguém consegue ver, só quem está jogando é que percebe. O que é que os zagueiros faziam aí para parar o atacante?
R – Não, por exemplo, o zagueiro, muita gente era muito amigo, mesmo adversário, no caso era o Bellini, eu cito o Bellini porque é um dos mais conhecidos, mas o Bellini, a gente não mexia muito um com o outro não, era muito amigo. Tinha o Brito, era um jogador, até hoje o Brito é uma pessoa muito alegre, brincalhão, sempre foi uma pessoa assim. E o Brito, teve um jogo Vasco e Flamengo, o Brito pegou e começou o jogo duro, o Brito pegou e começou: “Ô Cavalinho, ô cavalinho!” Durante o jogo. Começou a implicar comigo: “Ô cavalinho, ô cavalinho.” E eu virei para o Brito e falei: “Brito, o negócio é o seguinte: joga a tua bolinha que eu jogo a minha, defende o seu bicho que eu vou defender o meu.” Falei e ele olhou para mim com a cara fechada: “É toda bola que eu pegar, eu vou te quebrar!” “Você vem quente que eu vou fervendo!” (risos) E quando me fazem essa pergunta foi só essa rixazinha. Jogada besta de divisão, mas só lá dentro do campo, depois passava para dentro do campo. Mas ali dentro do campo nessa época, hoje o futebol é, mais lento, o jogador agora pode dar o carrinho pela frente, na bola você pode dar o carrinho na nossa época não podia, quem dava carrinho, não sei se você lembra, mas era só o Altair do Fluminense e inclusive ele aplicava um carrinho muito bem. Era um jogador que sabia aplicar, o Altair do Fluminense. Hoje você pode dar um carrinho, chegando na bola, não é falta, isso está errado, qualquer, na bola e sem ser na bola está errado, tem de... Mesmo o cartão vermelho está demorando para sair. Essa falta que está tendo de sair cartão vermelho, tem muita gente que tinha de sair, hoje dá mais essa chance.
P/1 – E Henrique, você é o terceiro maior artilheiro da história do Flamengo, não é?
R – Sou.
P/1 – O Manuel sabe o número exato de gols.
P/2 – 214 gols?
R – 216.
P/1 – Foram 216 gols em quantos anos?
R - Isso é que eu não sei essa matemática deles, de quanto anos eles tiraram para a gente, eu tenho muitos gols que eles não colocaram, muitos gols. Tenho gol da Portuguesa, quando eu fui da Portuguesa, fiz 12 gols quando eu fui da Portuguesa.
P/1 - Não, mas isso só somados os do Flamengo.
R – Os do Flamengo, exatamente.
P/1 – Lá no Flamengo foram só esses mesmos.
P/1 – Só?
R – Só! (risos)
P/1 – Para ser o terceiro.
P/1 – E você tinha uma maneira particular de comemorar os seus gols?
R – Alegremente, a gente comemorava alegremente, pulava, não tinha essa mania de como hoje que vai na torcida, fora do campo e sobe o alambrado, pula e cai no Maracanã. Eu acho bonito isso, mas naquela época a gente vibrava mesmo, só abraçava e então só comemorava desse jeito mesmo. Acho bonito isso, como estão comemorando hoje. E na época se eu fosse pular na grama escorregar iam falar que eu estava maluco. Hoje muitas vezes eu acho bonito mesmo, pula, abraça, mostra a camisa com alguns dizeres. É a coisa mais bonita. Agora na minha época não, se eu faço uma coisa dessas e levanto a camisa: “Ah, o Henrique está ficando maluco.”
P/2 – Henrique, eu queria falar um pouquinho de excursões internacionais. Quando foi a primeira vez que o senhor saiu para jogar fora, com o Flamengo?
R – Foi em 53, com o Flamengo, o Índio foi para a seleção, jogadores foi para a seleção, foi a primeira vez que saiu um jogador do juvenil para ir para a Europa, fui eu e o Duca. Eu no lugar do Índio e o Duca no lugar do Rubens, naquela época foi um Deus nos Acuda. Nós dois, primeiros titulares do Flamengo indo para a Europa? Era eu e o Duca e falatório danado. E é como eu estava dizendo, o Freitas é que deu seqüência aos jogadores novos, mostrando que tinha de dar oportunidade aos novos e aí foi um falatório total. Teve muitos jogadores que ficaram malucos: “Que Europa! Primeira vez que vai para a Europa e vai levar garoto de 16, 17 anos, o que é que é isso, garoto de 16, 17 anos, eu e o Duca, o que é isso? Na delegação do time do Flamengo para ir para a Europa? O que é isso, deu uma briga danada. E quando chegamos lá, já voltamos, voltamos quase titulares, foi quando, aí mesmo é que tinham de vender o Rubens e o Índio, que venderam, porque lá na Europa nós mostramos que tínhamos condições de ser titular.
P/2 – E onde é que vocês jogaram?
R – Ah, naquela época, nos países grandes de futebol todinho. Então tinha um jogo que parece que é piada, mas não é piada. O Flamengo fazia todas as inaugurações de estádio, por exemplo, o Estádio do Barcelona, estádio do Barcelona, foi o Flamengo que foi fazer a estréia do Estádio do Barcelona, inclusive o Paulinho Evaristo estava no Barcelona e jogou contra a gente no Estádio. E teve um jogo na inauguração lá do estádio, um jogo também duro, aquele jogo difícil, o Barcelona era o senhor Barcelona, ainda mais com o Evaristo Paulinho, um brasileiro. E aí o jogo duro, duro, duro, peguei a bola, o Fernando era o goleiro, não sei se vocês lembram, Fernando, era um altão. O Fernando pegou a bola com a mão, fez um lançamento para mim e eu peguei a bola no meio do campo e vim, passo para cá, passo para lá e ele veio no time todo do Barcelona e fez o gol. Foi 1 X 0, Flamengo e aí nós ganhamos. E tem isso no álbum, eu vou te mostrar no álbum porque o Barcelona queria me contratar de qualquer jeito. Mas o Flamengo tinha vendido o Índio e o Rubens e não queria me vender e eu perdi essa chance. De ficar no Barcelona. E tem também o Benfica, Benfica, inauguração do estádio da Luz, o Flamengo nesta temporada mesmo, de Barcelona, Espanha, fomos para Portugal, que é perto.
P/1 – Quem jogava, quem era o ataque nessa excursão?
R – O ataque era o Joel, o Moacir, eu, o Dida e o Babá. Jogamos muitos anos juntos e aqui a gente jogava até por pensamento. Já sabia tudo o que fazia.
R - ... jogamos muitos anos juntos. Aqui a gente jogava já por pensamento, já sabia tudo o que ia fazer. E naquela época tinha o Benfica, tinha o Costa Pereira, que era o goleiro, e tinha hoje aquele que é o treinador do Benfica, o ... como é que é o nome dele, aquele meio, meio de campo? É o treinador do Benfica até hoje, que hoje é o treinador. Eu esqueço o nome dele. Foi um dos maiores jogadores de Portugal, não me lembro agora. Então o goleiro era o Costa Pereira, aquele jogo duro, um a um, também... 1 X 1 pênalti. Então quem batia pênalti era eu.
P/1 - Ah, você que era o batedor?
R - É. O batedor, e falta do lado esquerdo quem batia era eu, do lado direito era o Gerson, o Moacir, quando estava um ou outro jogando. Então sempre revezava os dois. Então o pênalti eu quem batia. E o Costa Pereira era considerado o melhor goleiro para pegar os pênaltis. Então tem uma passagem até bonita, eu falo, depois os portugueses acham ruim. Que eu fui bater o pênalti, e o Costa Pereira pegou, foi na bola, e pegou a bola. E pegou pênalti. E jogava com boné. Ele tinha jogado... pegou o boné, tinha jogado o boné dentro da rede. Ele pegou, entrou com a bola dentro da rede para pegar a bola. E muita gente pensa que é piada que eu conto. Pensa que é piada. Mas você vai ver. No álbum tem essa... ele apanhando a bola, eu vou te mostrar. E o português fica por conta. (riso) Quando eu conto isso, que eu falo, aí o juiz deu gol. Inclusive o meu amigo Zé lá já viu que eu contei isso... Você que tem que contar isso.
P/1 - Vem cá, conta de novo. Você bateu o pênalti...
R - Um a um, o jogo estava um a um. Pênalti contra o Benfica. Eu fui bater o Pênalti. E o Costa Pereira usava um boné, como até hoje. Hoje quase não joga mais, mas o europeu sempre jogava com boné. Então fazia aquele... E ele ainda fez uma guerra de nervos comigo, porque ele tinha mania de pegar o boné quando tinha esses pênaltis, acontecia, ele pegava o boné, jogava para o chão, e olhava para o batedor, aí aquela criticazinha, aquela guerra de nervos. E pegava o boné, e punha na cabeça. Então eu manjando, eu só vendo ele fazer aquela trapaça todinha. Eu falei: Esse cara filha da p... (riso) Ele vai acabar pegando esse pênalti. “Ele vai ver uma coisa”. E corri. Quando eu corri, que eu bati no canto, ele foi lá no canto e pegou a bola. Eu falei: "Nossa senhora!" Aí é chato. "Mas que coisa impressionante! É o capeta mesmo dentro do gol." Eu cá comigo. Aí eu fiquei parado. Fiquei parado naquele... chateado, cabeça baixa. Quando eu levantei a cabeça estava a torcida gritando: "Ó!" Aquela torcida contra. "Ó!" Que eu levantei a cabeça, o juiz com o dedo assim, para o centro. Ele estava para dentro do gol, foi lá pegar a bola. (riso) Ainda peguei ele... olhei assim, ele caminhando lá para dentro. Mas eu não bolava que seria gol ele entrasse. Não tinha... não carregava comigo não que ele podia... para mim podia entrar com a bola e tudo lá, a bola presa no braço, não era gol nem nada. Aí que eu vi que começaram a gritar e me abraçar, que eu vi que tinha sido gol mesmo, que ele tinha entrado com a bola. Mas foi uma gozação danada. E a turma aqui no Brasil, quando eu cheguei aqui no Brasil, veio falar. E uma vez eu fui na televisão também, fui obrigado a contar esse caso, contei esse caso. Mas eu pus os portugueses... eu andava na rua, os portugueses me xingavam quando passavam por mim. Eu tenho muito amigo português, muito respeito, que é um lugar muito bom Portugal. Mas ficaram com muita raiva de mim mesmo. Na rua mesmo: "Você foi inventar esse troço!" (riso) Foi nada! Foi ele que entrou com a bola para dentro do gol. Eu não sabia que isso daria gol, fiquei sabendo depois. Não sabia dessa regra. (riso) Aí depois, na Europa tem... até hoje na Europa deve ter um.... Mas termina os jogos tem um banquete, operação banquete, para a delegação brasileira, para a delegação do outro time que está jogando. E a coisa mais bonita aqui no Brasil agora está fazendo também, aí te chamam lá na hora, te dá um presente, uma medalha, uma lembrança. E nós centrados lá. E vou te mostrar esse quadro no banquete em Portugal. Os retratos, sempre tive cuidado. Mas aí então o Costa Pereira pegou... (riso) o Costa Pereira com a gente abraçando, aquele troço todo. Aliás eles chamavam a gente pelo sobrenome, os gringos... é pelo sobrenome que eles chamam a gente. “Frade!” Ele é espanhol, o Costa Pereira diz que foi nascido na Espanha. Aí ele fala espanhol, fala português. Ele falando, puxando um pouco do espanhol. Falando que eu fiz uma trapaça, que eu fui o culpado. Aí eu falei para ele que eu não sabia, eu falei mesmo: "Eu sou fã de você. Eu não sabia disso!" Ele falou assim: "Não é só você também que não sabia. Que eu também não sabia!" (riso) É, você sabe que milhares de goleiros no mundo não sabia disso. Aconteceu muitos casos que juiz não soube dar gol. Teve juiz, que aconteceu... aí depois apareceu muitos casos, os goleiros entrando para dentro do gol, pegando pênalti, entrou para dentro do gol para pegar a bola, e o juiz não deu o gol nem deu nada. Aconteceu burrada com esse Costa Pereira. Um goleiro internacional como é, não sabia, como eu também batedor não sabia disso.
P/1 - Ah, mas isso foi o efeito retardado aí do chute.
R - E até hoje nós estamos aí conversando, tem muita gente que não sabe disso. Tem muita gente, como a gente está vendo na entrevista, tem muitas coisas na passagem, que a gente fala aqui, por intermédio da entrevista de vocês, vocês procuram esses casos, tem muita gente que não sabia disso. Nesse caso, eu, quando bati, que eu fiz gol, que ele entrou com a bola, eu não sabia. Como ele, jogador também, que era internacional, não sabia.
P/2 - Bom, nessa excursão também vocês jogaram contra o Roma? Como foi enfrentar esse que era tido como um grande time?
R - É, porque era considerado um dos melhores times do mundo. Era o Prusca, tinha o jogador Prusca, e os outros...
P/1 - Aníbal...?
R - É, eram considerados os maiores do momento, eram os melhores. E nós fomos jogar... foi aquela onda. "Você vão enfrentar o Prusca daqui? Pegar o Prusca daqui?" Tudo lá era Prusca. Todo mundo só queria falar no Prusca. Aí nós fomos fazer o jogo. Aí foi empate. Nós empatamos dois a dois, jogando lá dentro. Até foi o jogo mais bonito que eu me lembro, foi esse jogo contra o time europeu?
P/1 - Por que?
R - Porque foi um jogo muito difícil, e era naquela época... era invencível. Ninguém vencia. Só quem vencia era eles. E só vencia de cinco, seis. Eles eram muito bons mesmo. Aí foi dois a dois. Eu fiz um gol e o Dida fez o outro.
P/1 - Ah, você fez um gol?
R - É. E nós tivemos vencendo dois a um, até o final do jogo. No final do jogo, como não podia dar bobeira, o Prusca... Bobeou, o Prusca fazia mesmo, o baixinho era danado. Então foi dois a dois. Foi o último jogo na Europa.
P/1 - E vocês ganharam a taça?
R - Ganhamos um troféu bonito, tem no álbum também, que eu te mostro. (riso)
P/1 - Está lá no Flamengo.
R - Está. A taça... está bonito. Eu tive há pouco tempo, na festa lá no Flamengo... agradeço por eles terem lembrado da gente... Mas tem muito flamenguista que devia ir lá ver os troféus, aquela sala de troféu, tem ali coisa bonita mesmo. Então o torcedor do Flamengo achava que devia ir lá para ver... ir lá nessa sede do Flamengo é um coisa de louco, eu não conhecia a sede. Moro ali do lado e nunca tinha ido. Tinha vontade de ir. Agora vou sempre lá, que é muito bonito mesmo, vale a pena a gente olhar.
P/2 - Bom, e teve um outro jogo também com esse... com o Roma aqui no Rio de Janeiro, não?
R - Aqui também, foi dois a dois também.
P/2 - E o senhor fez...?
R - Fiz um também. Eu e Dida.
P/2 - De novo?
R - De novo. Aí não foi... lá foi de falta também. Aqui não, aqui foi na jogada. Aí foi dois a dois aqui também.
P/2 - E o senhor, quando que o senhor foi convocado para a seleção brasileira pela primeira vez?
R - Eu fui na primeira copa do mundo. Naquela que foi convocado os quatro jogadores do Flamengo.
P/1 - 58?
R - 58. E eu já sabia que eu estava convocado. Antes da convocação eu já sabia que eu estava convocado. Eu peguei... na época antes tinha o carnaval... eu fui passar o carnaval na minha terra, para mim não brincar o carnaval. Eu fui lá para a minha terra, porque lá eu não ia brincar. Eu nunca fui muito de carnaval não, mas eu fui para lá para... nada de clube. Que eu já sabia, que o presidente da Federação já tinha me falado: "Você se cuida, que você já é convocado, você já é um da lista." Então eu já sabia. E eu fui para Formiga. Cheguei lá em Formiga, arrumaram um bloco lá em Formiga, e eu fui entrar no bloco. Sem graça, sem nada. Estava aqui no Rio de Janeiro, não podia chegar em Formiga, mostrar que eu tinha vergonha de brincar o bloco. Aqui no Rio de Janeiro você tem que falar que... E eu peguei esse... como é que chama? Esse de jogar na cara dos outros?
P/1 - Lança perfume.
R - Lança perfume, e amarrei no pescoço, assim, num cordão, no pescoço, e na camisa. Quando eu ia ficando sem graça, eu molhava e cheirava, para ficar alegre. E no canto tem aqueles lugares, assim, que a água vai embora, esgoto, e estava sem a tampa. O esgoto estava sem a tampa. Eu, sem ver, sem nada, entrei naquele buraco. Aí torci o pé. Quando eu torci o pé, aí não aguentava mais colocar o pé no chão de jeito nenhum. Aí voltei para o Rio. Voltei para o Rio, aí voltava os jogos, começava a jogar, aí torcia o pé. Aí não pude ir na Copa. Torci o pé, aí foi o Mazzola no meu lugar. Foi o Mazzola que foi no meu lugar. Mas eu fui um dos quatro jogadores. Seria nós cinco, no ataque todinho. Era o Joel, o Moacir, eu, o Dida e o Zagalo. Então foram os quatro, eu não fui. Mas eu já sabia que eu estava convocado. Eu já estava numa fase muito boa nessa época. Basta dizer que depois, em 59, terminou 58, em 59 já fui convocado para o Sul-Americano argentino. Não sei se você lembra que houve aquela pancadaria, aquela briga toda, o Didi deu um vôo danado, que quase matou o zagueiro do Nacional. (riso)
P/1 - O que aconteceu nesse jogo?
R - Aconteceu que nós vencemos o jogo. Nós vencemos o jogo contra o Uruguai. O Didi deu esse vôo no jogador. O pior dessa confusão toda, essa pancadaria que teve, eu depois de cinco meses, eu fui para o Uruguai. E eles carregavam aquela briga danada, que os brasileiros quase mataram... nós fomos mais firme na briga. E chegando lá no Uruguai, no primeiro jogo meu lá no Uruguai, o Martinez, que era um zagueiro muito famoso, inclusive no Uruguai era Deus, ele pegou, jogando no Nacional - Peñarol, chegou perto de mim e falou assim: "Tche Frade, se recuerda de mim?" Eu peguei, olhei, falei: "Não, yo no." Um homem desse tamanho, assim... Se eu lembrasse da briga que o Didi deu um vôo em cima dele, quase matou ele... falei: "Não, eu fui” (riso) Aí teve essa passagem também.
P/1 - Mas nós vamos falar mais sobre ela. Ainda queria voltar ao Flamengo na conquista do nosso único Rio-São Paulo da história. Quem era... isso foi em 1961. Você se lembra desse time de 61?
R - Não, não me lembro.
P/1 - Já tinha o Carlinhos...
R - Tinha o Carlinhos e tinha o Gerson, o meio de campo era Carlinhos e Gerson. Era a maior transação. E o Duca, o Duca que continuava depois. Depois o Rubens parou, então continuou o Duca.
P/2 - E vocês sentiam pressão da torcida, da diretoria, pela participação que estavam tendo aí no Rio-São Paulo?
R - Não, a torcida, no início, como eu falei para você que me chamaram de burro no início lá, então, a torcida já era acostumada com o doutor Rubens, doutor Índio, com o doutor Evaristo, doutor Joel. Então os outros que estavam entrando, a torcida, errava um pouco, a torcida engasgava um pouco e queria dar início a uma espécie de uma vaia. Até a gente dizer: "Vamos olhar para a frente, vamos olhar para cima, vamos deixar a torcida para lá." E foi assim que nós vencemos, a gente era uma família que a gente orientava muito um ao outro, a torcida dava em cima. A gente orientava muito um ao outro, então foi aí que a gente pegou firmeza. E o Flamengo pegou num... largou os outros, falou: "Vamos vender os homens todos, vamos ficar com a garotada." Então teve até essa passagem, que a gente lembra. Mas a torcida levanta, mas também ela derruba. Se o jogador bobear, a torcida derruba.
P/2 - Nesse Rio-São Paulo teve dois jogos contra o Santos?
R - Contra o Santos. Nós perdemos aqui e vencemos lá, e vencemos aqui depois outra vez. E nós fomos campeão.
P/1 - Vocês golearam o Santos?
R - Seis a dois. Nós tinha perdido. Nós tinha perdido aqui a primeira, de seis. Aí nós fomos jogar em São Paulo, que é lá e cá. Então se o Flamengo vencesse não tinha na regra de gol. Venceu, o negócio era dois pontos. Se o Flamengo vencesse lá, teria que ter outra partida. Que a decisão era de Flamengo e Santos. Então o jogo tinha que ser aqui. Aí foi por sorteio. Nós perdemos aqui seis a dois, e vencemos lá três a um. Aí, então, foi fazer o sorteio. Aí deu que o jogo seria no Maracanã. Aí chegamos aqui, nós repetimos, tacamos a goleada neles. Não era de acreditar, a torcida não acreditava. Eu me lembro que foi uma festa, a torcida não deixou a gente sair do campo. Ficamos mais de meia hora depois que terminou o jogo, e a torcida também, tem umas coisas, passagens que a gente não esquece, que a gente carrega com orgulho mesmo. Então a gente ficava lá dentro do campo, abraçado. Eu me lembro agora de uma cena que teve, nessa decisão da Copa agora, que tiraram a camisa do jogador, tiraram o calção do jogador, tiraram a meia do jogador, ele ficou só de sunga. Não sei se você lembra, foi agora nessa decisão agora, qual foi? O time foi campeão agora nesse torneio agora.
P/1 - Da França?
R - Da França. Tiraram a roupa do jogador, ele ficou só de sunga. Eu me lembro aqui também no Maracanã, tem que ficar preparado, até uma sunga que pode tomar até banho. Mas me tiraram a roupa também todinha, aqui. Eu fiquei só... Não só minha não, de todo mundo. Levaram a roupa todinha, ficamos só de sunga também. Foi duas vezes que aconteceu isso, foi aqui e foi lá no Uruguai também, na decisão Nacional e Peñarol. Estava um a um, eu peguei, desempatei o jogo, fiz dois a um. E depois que terminou o jogo foi aquela festa, que há 12 anos que o Nacional não era campeão, só dava Peñarol. Aí me tiraram a roupa todinha também, e me levaram... eu morava inclusive em um bairro, como ainda moro. E era mais de duas horas de distância de carro, era muito distante do Estádio (na Centenário?). E eu fui... me carregaram, eu fui mais de três horas carregado, eles me carregando no pescoço, e só de sunga também. (riso) Saí para aqueles lugares todinhos bonitos do Uruguai, todinho a bem dizer pelado. Foi duas vezes. (riso) Se a moda pega...!
P/1 - Se a moda pega! Bom, eu só queria voltar então no jogo do Santos, que o Flamengo goleia, e você faz dois gols com o (Gilmar?)?
R - Gilmar. Fiz um gol de falta, o outro de carrinho.
P/1 - Como é que foi o gol de falta?
R - O gol de falta foi, do lado esquerdo. Eu batia de curva, como batia o Didi. "Você aprendeu a bater falta com o Didi?" "Claro!" Se você perguntar se eu aprendi, eu falo: "Eu aprendi muito a bater. Eu via que ele batia, e dava certo." E até hoje, se você bater a falta de curva, que agora está normal, que agora todo mundo sabe bater, até criança sabe bater. Mas naquela época não, naquela época quem batia era o Didi... era só o Didi e eu. Eu, porque eu aprendi com ele. Comecei a bater como ele. Como eu comecei a fazer o gol, a fazer esse gol no Rio-São Paulo, então eu pegava, chamava de folha seca. E o cara me entrevistou como você está me entrevistando, me perguntou com quem eu aprendi. Eu aprendi foi com o Didi mesmo, que ninguém batia de curva. Todo mundo chegava e dava aquele cacete, a bola passava e batia na barreira. Agora colocar de curva, quem lançou isso mesmo no Brasil e no mundo, os gringos aprenderam também foi com o Didi. Então o Didi pode carregar isso com ele com orgulho, que foi ele que lançou a bola de curva, foi ele. Eu aprendi e fiz muito gol de falta, fiz muitos mesmo gols de falta de bola de curva. Que a bola de curva até você pode notar: se ele bater de curva por cima da barreira no canto, o goleiro não pega, que não dá tempo para o goleiro sair. Quando o goleiro vê a bola, ela está chegando. Isso é matemático. Agora tem que passar bem por cima da barreira. Passou por cima da barreira no canto, você pode notar que não dá para o goleiro ver. É a mesma coisa pênalti. Eu também... quem batia as penalidades era eu. Então tinha aquela... aquele matemático mostrou: se for no canto, se você bater a bola em qualquer canto do goleiro, não dá tempo dele ir, não dá tempo dele sair na bola. Só se ele sair antes. Que muitos goleiros faz isso. Então tenta: o goleiro pula em um canto, se der sorte de a bola ir naquele canto, ele pega. Agora se você bater naquele cantinho ali não dá para ele... é matemático. Então todo goleiro sabia que eu batia pênalti só do lado direito. Todo mundo, só batia. E eu nunca virei a bater no esquerdo não. Só batia no direito. Que eu sabia que se eu batesse na beiradinha, não dava para ele pegar. E nunca perdi pênalti, bati diversos pênaltis na minha vida.
P/1 - Nem de Portugal você perdeu?
R - Nem de Portugal eu perdi. Mas Portugal é o único que enquanto eu estava perdendo. (riso) Aí voltei a não perder mais. Mesma coisa esse Matossi, o Matossi que jogou aqui no Brasil, que era goleiro do Peñarol. O Matossi era o maior goleiro pegador de pênalti, como tem o Dida. Então estava um a um o jogo, a decisão foi pênalti. Eu que ia bater. Peñarol e Nacional. Estava um empate, o Peñarol é campeão, então aquela responsabilidade. A torcida, aquele silêncio no estádio. Então, para o batedor de pênalti nessa hora, que o pênalti fica na distância como daqui lá em casa, no Leblon. Fica tão distante, que você olha, aquilo fica lá longe, não fica pertinho não. Por isso, o jogador, quando perde essas oportunidades que tem para bater o tempo em um jogo de decisão, muitas vezes às vezes perde, é por causa disso. O batedor, quando olha para a bola naquela hora ali, o gol está lá no “chica prego”, lá longe. Você não enxerga ele pertinho não. Por isso que muito jogador, tanto faz A ou B ou C, bom ou ruim, perde pênalti. Porque naquele momento ali... porque a torcida pára. Fica todo mundo parado, você, a bola e o goleiro. Então fica aquele estado, todo aquele silêncio, aquilo mata mais você, mais a responsabilidade sobe mais. Agora tem aquele caso também que você fala que o pênalti roubado não entra. Muita das vezes você bate o pênalti e perde: O juiz deu roubado. Então tem essa cena assim. Teve um pênalti, em um jogo contra o Vasco, estava vencendo três a zero, e teve pênalti contra o Vasco. Quem vai bater fui eu. Então eu olhava para cima, assim, que pênalti roubado não entra, eu olhei para o céu, falei assim: "Deus, que o castigo não caia sobre mim." Porque eu tinha a obrigação de fazer o gol. Eu tinha visto que não tinha sido pênalti. Eu vi que não tinha sido pênalti, o juiz que arrumou um pênalti em favor do Flamengo. Eu sei que o Flamengo tinha que fazer quatro gols para classificar para o torneio. Então essa responsabilidade minha no pênalti. Fica mais distante ainda. Ainda mais que se fala que o pênalti roubado... então eu notei que não tinha sido pênalti, que o juiz arrumou um pênalti. Agora o juiz não está ajudando o Flamengo mais não, agora está contra o Flamengo, está procurando fazer o contrário. Na minha época, se o jogo estava meio difícil, o juiz dava uma puxadinha mesmo.
P/1 - Mas Deus te ajudou?
R - Aí eu olhei para o céu: "Que o castigo não caia sobre mim, eu tenho que fazer o gol." Mas eu vi que não foi pênalti. Aí eu bati e fiz o gol. Aí nós classificamos. Mas tem essa passagem. Até hoje muita gente fala que o pênalti roubado não entra.
P/1 - E vem cá, você já presenciou o juiz claramente roubar contra o Flamengo?
R - Não, assim...
P/1 - Prejudicar o Flamengo?
R - Não, a gente fala que algumas jogadas eles têm que errar mesmo, não é só o juiz brasileiro não. Muitas vezes erra. Eu acho que é muita responsabilidade. A gente fala que o juiz roubou, roubou, roubou, mas nunca... eu nunca vi falar que ele roubou mesmo. A gente fala: "O juiz foi infeliz. Apitou isso, apitou errado." Como esse pênalti que eu estou dizendo, não foi pênalti, mas ele deu pênalti. Errou, na mesma hora ele notou que a jogada foi violenta, e dá. Acontece. Mas, assim, falar que o juiz fez, assim, na minha carreira não.
P/1 - E você, depois da conquista do Rio-São Paulo, você então vai para o Uruguai?
R - Eu fui para o Uruguai.
P/1 - Em 61 mesmo?
R - 61 para 62.
P/1 - Você nem disputa o carioca?
R - Não, fui direto para o Uruguai.
P/1 - E como é que foi mudar de país?
R - O que aconteceu é que o treinador do Nacional... que o Nacional há muitos anos que não era campeão. Há muitos anos, oito anos, não me lembro, assim, que só dava Peñarol. E o Nacional tinha contratado o Zezé Moreira. O Zezé foi contratado para o Nacional. E o Zezé lá e tal, eles perguntaram, o Zezé falou que precisava de um reforço, que o time lá estava precisando. Então eles perguntaram qual o reforço que ele queria, ele pegou, falou assim: "Olha, vocês querem ser campeão, vocês vão lá no Rio de Janeiro e trazem o Henrique. Aproveita que ele está brigado..." Eu estava meio brigado com o Flamengo. Na época o treinador já era o Flávio Costa. Eu estava meio brigado com o Flávio Costa. Então ele: "Olha, vocês querem ser campeão, então traz o Henrique." E nisso eu peguei... vieram aqui, o Flamengo pegou, me emprestou, eu peguei, fui para o Uruguai. E pegou uma responsabilidade muito grande para mim, porque na entrevista lá, eles me entrevistando: "Henrique, você sabe que o Zezé falou que se quisesse ser campeão que se fosse lá no Rio e trouxesse você. O que você acha disso?" Eu peguei, falei assim: "Agradeço esse pedido dele..." Mas era muita responsabilidade, aumentou muito a responsabilidade para mim. "Eu não sei disso. Eu vim para cá sabendo que o Nacional há muitos anos era campeão. Eu não vim aqui para passear. Eu vim para cá para mostrar a palavra do Zezé que ele me confiou. E vou procurar fazer o máximo para levar o título, esse título comigo, para o Brasil." Aí foi o jogo todinho, nós fomos campeão. Aí foi campeão, fui artilheiro. Aí na entrevista, no final, aquela festa todinha, aí o cara que me entrevistou, que eu falei que tinha ido lá para dar o campeonato mesmo, para provar que eu não vim para passear, esse pegou, falou assim: "Olha, está gravado, eu vou te dar a fita, tem a fita gravada. Eu vou dar para você a fita da nossa gravação, que passou, que nós te entrevistamos, que você falou que não tinha vindo aqui para passear, que você veio aqui para mostrar ao Zezé Moreira a confiança que ele te empregou, e que você ia dar o campeonato, e você deu. Aqui você está de parabéns, nós te damos o parabéns, que você mostrou mesmo, o que você falou você cumpriu." Fui muito feliz na entrevista, fui muito feliz, e o Zezé Moreira também foi feliz em falar isso, que se quisesse ser campeão que viesse aqui e me apanhasse.
P/1 - Quem jogava com você nesse time do Nacional?
R - Ah, tinha... eu só me lembro, assim, do Sosa, que era o goleiro. O Sosa era o goleiro. Tinha Gonçalves, tinha Ramires, aquilo lá tudo é... Benitez... tudo assim. Então tinha essa turma toda. Tinha bons jogadores, tinham muito bons jogadores.
P/1 - Então, quer dizer, conta um pouco dessa final, a final do campeonato. Você disputou com o Peñarol?
R - Com o Peñarol. O jogo, assim, sempre coincidiu de decisões, tanto aqui no Brasil como lá fora, a gente sempre tinha que vencer o empate... na (Portuguesa?), o empate o Corinthians a gente era campeão. Um torneio lá em Portugal, se empatasse, o Benfica era campeão, esse do gol do Costa Pereira, que entrou com a bola e tudo. Então coincidiu também no Uruguai. No empate o Peñarol era campeão. E como você está dizendo o goleiro, por exemplo, uruguaio, o goleiro argentino, não estou desfazendo o goleiro brasileiro, a bola... você não vê goleiro do Uruguai, ou argentino, levar gol de cabeça, muito mais. Porque ele sai muito bem do gol, e dá soco na bola, manda a bola distante. E os goleiros lá no Nacional... tinha três goleiros... eles treinavam entre os três sozinhos. Levavam dois sacos de bola, e jogava para cima, e dava soco, eu falava: "Esses goleiros..." Que fala que goleiro, quando não é viado, é maluco. Não tem essa... desculpa todos os goleiros, mas isso é uma... Porque eu falo que todo goleiro quando não é viado é maluco. Goleiro é profissão de doido mesmo, pegar no pé do jogador . Desculpe os goleiros. Mas esse goleiro Sosa era malucão, mas muito bom. Saía muito bem no gol. E o jogo empatado um a um, o Moacir... o Moacir jogava no Peñarol, o neguinho Moacir, do Flamengo, estava no Peñarol. E o neguinho correndo que nem um macaquinho. Eu falava assim: "Ih, desgraçado!" Falava assim: "Pô, Moacir, segura aí um pouco. você já foi campeão." Ele já tinha sido campeão lá mesmo, o Peñarol. Ele já começava a falar só em espanhol. Eu: "Ô, fala português, safado!" Aí (riso)... E o neguinho correndo, aquele jogo duro, um a um, a torcida: "É campeão, é campeão, é campeão!" Um corner contra o Nacional. Vai bater o corner. Quando ele bateu o colhe, eu fiquei no meio do campo, junto com os dois zagueiros. Eu no meio dos dois zagueiros. E o zagueiro, o goleiro, que era o Sosa, que esse era um cara, que craque! Tinha o Garcia, mas o Sosa. Mas bateram o corner, o Sosa saiu de soco, e deu aquele soco na bola, pegou bem na bola, aquela bola veio no meio do campo, em cima de mim. Aí eu dominei. E quando eu dominei a bola estava os dois zagueiros, que os dois zagueiros pararam, eu joguei a bola no meio dos dois. Joguei a bola no meio dos dois, eles ficaram indecisos se iria ou não. E eu passei no meio, com a bola e tudo, eu passei, joguei a bola no meio e passei no meio dos dois. Aí eu fui, fui entrando. Fui entrando, fui entrando, fui entrando. E aí olhava para trás e via aquele monte de gringo atrás de mim e eu lá na frente. E quando cheguei perto do goleiro, era o Maidano, aí eu peguei a bola... peguei e driblei o goleiro. Driblei o goleiro, aí agora já estava bem distante do pênalti. Aí fui levando devagarinho, já fui gozando, já vi que eu já estava... quando eu olhei para trás, aí vem o neguinho, o Moacir, o brasileiro, correndo, que ele era muito esperto. Aí quando eu mirei. "Desgraçado, quase que ele me tira o pênalti." Aí nós fomos depois jantar junto, depois que eles me carregaram Aí no dia seguinte, eu falei: "Você corre, neguinho, seu desgraçado. Em vez de você ter ficado quieto lá, quase que você me tira o pênalti da bola, quase que eu perco o gol." (riso) Aí fomos campeão, dois a um.
P/1 - Ah, então esse foi o que você fez dois gols?
R - Esse eu fiz dois gols.
P/1 - Aí depois teve o pênalti?
R - O pênalti. O pênalti não foi... foi contra o Peñarol também, que eu fiz, que ele pegou, que eu bati o pênalti, ele mexia muito. Batia pênalti, ele mexia. Então eu falei com o juiz, falei assim: "Olha, sai muito do gol. Ele mexe muito no gol onde bateu o pênalti." Falei para ele, o juiz. Aí fui bater. Quando eu corri, que eu bati, ele foi lá e mexeu, aí eu fiz assim, mostrei, aí já tinha batido. Mas aí o juiz voltou. Ele mexia mesmo. O goleiro quando mexe, vê que você vai na bola, ele mexe, ele não pode mexer, tem que ficar quieto. O goleiro tem que ficar quieto. Aí eu bati outra vez, aí fiz o gol. Mas ia ser o segundo pênalti que ele ia perder. (riso) Mas fomos campeão, aí foi uma festa danada. Aí o Flamengo não quis me vender para lá. Aí já não era mais o Flávio Costa, tinha enguiçado com o Flávio.. Mas depois a gente...
P/1 - Não quis te vender. E te chamaram de volta?
R - Me chamaram de volta. Eles quiseram me comprar, o Flamengo não quis vender. Continuei outra vez no Flamengo. Aí depois eu não quis mais, falei: "Não, também..." Aí fui para a Portuguesa. Não queria mais...
P/1 - Você encerrou a carreira como jogador na Portuguesa?
R - No Atlético Mineiro ainda. Depois eu fui para o Atlético. O Atlético teve uma fase que foi expulso dez jogadores do Atlético. O Atlético expulsou o time todinho do Atlético. Aí eu estava... também já não estava querendo mais na Portuguesa, eles foram lá e perguntaram se eu queria voltar, eu morava em Formiga, perto de Belo Horizonte. Aí acertei com eles, fiquei dois meses só também, no Atlético. Aí não quis mais. Aí peguei e falei: "Agora não adianta vir ninguém mais, que eu não quero mais não. Agora eu parei mesmo." Estava com 32 anos para 33, já não estava dando mais. Como eu estou dizendo hoje, jogador hoje em dia está jogando com 36, 35, 34, 33. O motivo é esse, é porque tem que jogar, porque a safra de jogador de futebol acabou mesmo. Não é dito por mim não. Todos nós que fomos jogadores... vocês mesmo que assistem... não tem jogador. Quando aparece um jogador de 20 anos, fica todo mundo maluco. Com isso você ainda tem muito jogadorzinho bom, que está começando agora, mas está todo mundo indo embora para o exterior. Como você estava dizendo, os empresários estão levando todo mundo. E aqueles que eles não estão dando força, e que tem que dar, o caso dos jogadores do Botafogo, que tem bons jogadores, não é porque eles são bicampeões. São bons jogadores, mas não estão dando vez para os jogadores, então eles estão vindo e levando. Se bobear, vai ficar sem ninguém.
P/1 - E depois você vira treinador?
R - Aí eu comecei a treinar um time na minha terra. Me chamaram, eu não estava... aí eu não queria mexer mais com futebol, então... Aí me chamaram para treinar um time na minha terra, que estava na primeira divisão em Minas. Aí fizeram... tinha que contratar, que só os jogadores daquela cidade não dá. Aí tinha um presidente, que tinha um dinheirozinho... Ainda tem, o sujeito está lá vivo até hoje lá, ainda tem o dinheiro. Então ele pegou: "Henrique, olha, vamos fazer um time?" "Vamos." Então vamos. Ele ia muito a São Paulo, por ser presidente do clube, aí trouxe uns quatro jogadores do São Paulo, eu vim aqui no Rio, levei uns três aí do Flamengo, e lá de Belo Horizonte. Então fizemos um timezinho bom, arrumaram 18 jogadores. Aí fomos formando daqui, aí comecei como treinador. Aí: "Vamos começar, vamos disputar o campeonato mineiro." E o Formiga tinha que vencer, senão rebaixava. Aí o primeiro jogo, fomos jogar em Belo Horizonte contra o Cruzeiro. O time em formação. Fomos no sábado, chegamos no domingo lá, era três horas de viagem na época, fomos lá concentrar no Mineirão, descansar no Mineirão. Aí quando... de manhã cedo, eu acordei toda a turma de jogadores, todinha: "Vem cá, vamos. Vamos lá no campo." Aí entrei com eles dentro lá do Mineirão, lá no gramado, lá no meio do campo. Falei: "Vamos começar. Já começa a olhar, todo mundo, os 18 jogadores, diretor." Estava todo mundo, era novidade, tinha muitos que nunca tinham entrado no Mineirão. Eu falava: "Olha bem para a arquibancada...", levando tudo na brincadeira. Aí o jornalista chegou para mim: "Mas por que você está fazendo isso, fazendo aquilo?" "Eu estou fazendo isso porque tem muitos que é a primeira vez que está entrando aqui. Então é para ficar olhando, olhar a arquibancada, olhar a grama. Porque chega na hora do jogo, vai chegar aqui, vai começar a olhar para a grama, olhar para a arquibancada, e nós vamos levar logo um chulé danado. Então nós estamos olhando agora para quando chegar na hora do jogo não ficar olhando para os lados. Levando na brincadeira, mas era sério. Levando na brincadeira, mas é uma coisa certa. Então eu falei: Vamos começar o jogo." Aí no fim das contas, na época do Cruzeiro, Tostão Lopes, Dirceu, tinha essa leva do Cruzeiro, que era... Palhinha, tudo... Piaza. Pô, só os jogadores ouvir falar dessa turma de jogadores já ficava maluco. Aí foi lá, vencemos dois a um. Vencemos o Cruzeiro dois a um.
P/1 - Venceram o Cruzeiro?
R - Ah, foi. Aí que nós começamos. Não perdia não. Aí chamava (Formigão 68?), lá em Formiga, carrega até hoje, fizemos um timaço, mas um timaço mesmo, não perdia não. Naquela época o campeonato era em Uberaba, Uberlândia, Governador Valadares. A gente ia para tudo quanto é lugar, e nós vencia. O Atlético... E o pior é assim, que depois nós começamos a jogar, vencer o Cruzeiro, fomos jogar contra o Atlético. A mesma coisa. Fomos lá no Mineirinho, e tacamos o pé no Atlético também. Nós não perdia não. O time era...
P/1 - Ganharam do Atlético também?
R - Ganhamos do Atlético também, dois a zero. O time não perdia não. E o que era bacana, que a cidade, que era pequena, distante era pouca, é 120 quilômetros de Formiga a Belo Horizonte. Então a cidade morria, porque todo mundo ia para o Mineirão, para Belo Horizonte. Todo mundo, a cidade ficava morta. Mas era bacana, que depois, quando vinha embora, terminava o jogo, a gente vinha embora, para Formiga, aqui na estrada a gente levava duas, três horas de ônibus, levava logo seis, sete horas, porque tinha que parar o ônibus em tudo quanto era lugar. Aí nessa hora, assim, você pode deixar o jogador, o jogador faz o que bem entende, toma a cervejinha dele, toma o que ele bem entender. Quando cumpre a obrigação, até segunda-feira eles podem fazer o que quiser, agora a partir de terça-feira não. E porque lá em Formiga é pequeno. Conheço o dono daqueles botequins todinho. Se tiver... pegar algum jogador bebendo aqui, você sabe que eu mando quebrar tudinho aqui. Você fecha as portas, e mando quebrar. A gente amedrontava. Que muito jogador... aquele cartaz todo, então o dono do botequim armava. Mas tem uns que escapulia, aí você tem que... malandro, muitas vezes aconteceu comigo aqui. Até hoje, eu ontem estava tocando no assunto... ontem... sempre tem um assunto, o assunto sempre é futebol... um rapaz que morava lá na Gávea, que eu estava sempre com eles, e tem o bar aqui no Rio, na Praça Santos Dummont, na Gávea, a gente ia parar para tomar um chopp, a gente pegava a caminhonete para a concentração na porta do bar. Então a gente ia na cozinha escondido, o garçom já sabia, levava lá na cozinha o chopp, a gente tomava lá na cozinha escondidinho. Mas o Freitas já sabia, o Freitas não é bobo. Então o Freitas já sabia. Corria como se não estivesse sentindo nada. Ele não podia me chamar atenção, que me viu na boate, que me viu tomando chopp, ou tomando uísque. E não falava nada comigo, e sabia! Mas chegava dentro do campo... na minha folga de segunda-feira, eu deitava e rolava. Fazia tudo que não podia fazer. Agora a partir de terça-feira era o que mais treinava, eu puxava, eu sabia que meu porte era forte, tinha que correr mesmo. Então eu procurava treinar. Mas dia de segunda-feira não enxergava ninguém. Era só eu, só eu mesmo. (riso)
P/1 - E que posição o Formigão em 68 terminou no campeonato?
R - Não, aí nós perdemos... o primeiro turno nós fomos campeão. Nós fomos campeão no primeiro turno. Mas chegou o segundo turno, aconteceu eu os jogadores começaram a ficar famosos, todos eles famosos, e o clube... foi erro do presidente. Não esperava, não esperava nunca acontecer aquilo, nós ser campeão do primeiro turno mineiro. Com o Cruzeiro e Atlético, dizendo que tinham um timaço que era, os outros clubes também, o América também. Então ninguém acreditava. E não incomodaram de renovar os jogadores, o contrato dos jogadores. Pensaram: "Terminar, não vai saber mais, pega e vai embora também." Aí os jogadores começaram a falar: "Eu quero tanto, eu quero tanto, eu quero tanto." O clube não tinha dinheiro para renovar os jogadores. Aí até eu peguei: "Bom, aí não ia renovar..." Aí foi um para o Cruzeiro, foi outro para o Atlético. Aí o que eu fiz? Aí o América, o América de Minas Gerais, foi lá e me pegou, perguntou se eu queria ser o treinador, nessa altura eu peguei, saí também. Aí o time rebaixou. Fizeram um time de garoto lá, aí até hoje nunca mais levantou o time. Mas eu fui ser treinador do América. O América há muitos anos que não era campeão. Eu fui treinador do América, o América muito bem no campeonato, nós estávamos sempre bem, levei uns quatro jogadores que estavam lá no clube também, lá no Formiga. Aí muito bem no campeonato, aí apareceu um jogador lá, nós fomos campeão. Eu fui campeão pelo América.
P/1 - Só antes de você chegar ao América, vamos dar uma pausa?
P/1 - Henrique, você estava falando da sua passagem como treinador do América, e você foi bem sucedido lá?
R - Fui, fui muito bem, fui campeão lá no América. Inclusive teve uma passagem que... tinha um jogador, um alemão, que veio passear no Brasil, e era jogador lá na Alemanha. E esse jogador ficou na casa de um dos diretores do Flamengo, esse diretor... do América. Diretor do América era o homem do dinheiro, dono do dinheiro. Então eles quiseram contratar esse jogador da Alemanha. Aí vieram falar comigo: "Vamos contratar fulano." "Não. Vamos contratar não. Igual a ele nós temos demais aqui." E de fato o alemão não era essas coisas. Eu peguei, falei: "Não quero o alemão não. Igual a ele nós temos aqui muito." E eu tinha ganho, quando eu tinha sido campeão, esse diretor tinha me dado um carro zerinho de presente. Foi até... fui apanhar o carro, que ele mandou apanhar, na agência do Palhinha. O Palhinha tinha uma agência de carro em Belo Horizonte. Aí eu fui lá na agência do Palhinha, e até escolhi um carro vermelho e preto, eu me lembro como se fosse agora, um Corcel zerinho. Aí muito bacana, tudo bem, tal. Mas como quando me chamaram lá para ver se fazia o contrato com o alemão, eu falei: "Não, igual a ele tem muitos. Não vamos contratar não, não precisa gastar dinheiro não." E esse diretor se invocou, que eu falei isso, que não queria. Então o diretor chegou para a diretoria e falou assim: "Ou o Henrique ou eu." E tinha um mês que eu tinha sido campeão, nós tinha sido campeão, me deu de presente o carro, tal. Aí então vai escolher eu ou ele, ele é o homem do dinheiro, vai escolher ele, claro. Então eu saí. Me falaram que a diretoria, me reuniu, e falaram: "Infelizmente aconteceu isso, isso, isso. É o homem aí que é o dono do América..." Eu falei: "Não tem problema. Eu agradeço aqui. Agora eu vou pegar a chave do carro, que eu deixei a chave lá no hotel, e eu vou pegar a chave do carro, e entregar a ele, porque tem dois dias que ele me deu o carro." Aí chegou no dia seguinte, foi a apresentação do Strink. E ele foi para os Strink chamado para treinar o América no meu lugar. Então teve a apresentação do Strink e a minha despedida. Aí eu cheguei na arquibancada, festa bonita, você vê que no América o Strink era Deus, sempre muito bacana também, bom treinador. Então estava aquilo super lotado. Aí chegou na hora lá, tal, eu pedi licença ao Strink, procurei me despedir dos jogadores. Falei para o Strink: "Olha, você está com um plantel de homem, não é de moleque não." É do goleiro ao ponta esquerda, e é do primeiro reserva ao último reserva, são todos... para mim aqui são todos titulares, igual seleção brasileira. Esse plantel de 22 jogadores, são todos titulares, são homens, você pode lidar com um plantel de homens. Aí o Strink pegou e falou assim: "Henrique, você gostaria de trabalhar comigo?" Aí eu peguei, não sei, veio no meu pensamento. Eu falei assim: "Olha, Strink eu gostaria muito de trabalhar com o senhor, porque eu estou começando a minha carreira agora de treinador. Eu, trabalhar com o senhor, só tenho o que aprender." Sem querer dei esse... Aí ele já tinha a bola alta, ficou mais alta ainda. E ele pegou, falou assim... Eu peguei e falei: "Mas está ali o diretor. O diretor ali, que eu fui mandado embora... Então, como eu estou dizendo, eu gostaria muito de trabalhar." Ele pegou, falou assim: "Fulano...", para o diretor de esportes, não me lembro o nome agora. "Henrique, quanto você ganha no América, qual o seu ordenado no América?" Eu falei: "Eu ganho tanto." Ele falou: "Fulano, o Henrique vai trabalhar comigo três vezes mais o ordenado do Henrique." Aí ouvindo lá, o diretor ficou com a cabeça desse tamanho. "Henrique, daqui a pouco vamos terminar aqui, nós vamos sair, nós vamos para o restaurante, nós vamos almoçar, nós vamos conversar, eu vou dizer para você como é que eu quero o nosso trabalho, nós dois..." E eu falei: "Não, claro." "Você está satisfeito, está feliz?" "Eu estou mais do que satisfeito." Sempre fui teu fã, falando sério, sem puxar, sem nada." Aí já estava com ele. "Eu sempre fui o teu fã, e sempre fui... onde que eu joguei, todo mundo só fala bem do senhor." Ele pegou e falou assim: "A partir de agora não é mais senhor, é você. Nós dois é você com você. Não é nada de senhor." Então eu peguei e falei, e de fato é verdade, o Flamengo fala muito bem dele, dele e dos outros antigos. Aí trabalhamos juntos muito tempo. Aí peguei, falei assim: "Você quer saber de uma coisa? Eu não quero saber mais disso não." E não quis saber mais, aí ele adoeceu. Aí tinha um time em Governador Valadares. Aí foram lá em Formiga, foram lá de avião, aí me chamaram: "Você tem que ir, o time está para rebaixar." Lá em Governador Valadares, o campeonato primeiro. "Está para rebaixar, nós precisamos de você, todo mundo quer lá na cidade, todo mundo só fala em você." Aí eu falei: "Então eu vou." "Só três meses." "Está certo." Aí fui lá, classifiquei o time lá em Portugal, o Democrata. Aí também o time... sempre assim: o homem do dinheiro, eles contratam... O mal é esse, como eu estava dizendo, eles pegam os jogadores, e vão... eu fiquei sem jogador também, mas acabou o time lá por causa disso. E em Governador Valadares foi a mesma coisa. Contrataram todos os jogadores, então vai fazer o que? Vai começar a pegar outros jogadores? Você não faz, é muito difícil. Aí eu larguei também o Democrata, aí não quis mais não. "Agora eu vou curtir um pouco, não estou curtindo a família nem nada." Aí parei. Aí passado uns tempos, dá saudade. Eu tive lá no Flamengo... morava lá perto, encostado no Flamengo. Aí eu ia sempre lá nos treinos. Então um dia me chamaram: "Você gostaria de trabalhar com a gente aqui?" Aí eu peguei, falei: "Eu estou desempregado...", falei, "agora eu estou querendo mesmo. Já descansei bastante, agora estou querendo procurar um time para treinar." "Não, mas é jogador experiente. Você vai pegar uns jogadores, a gente tem um campozinho muito bacana, um estadiozinho muito bacana, e nós queremos um jogador de experiência, jogador para treinar 30, 40, 50 meninos. Aquele que passar no teste com você, você traz aqui para a Gávea, e a gente faz um treino aqui, para escolher os melhores. Você quer topar isso? E tem uma pessoa para trabalhar com você, o Dida. O Dida já está trabalhando lá. Você vai trabalhar com ele. Nós já tivemos falando sobre você." Eu falei: "O que que é isso? Isso é uma maravilha, nós somos mesmo um pouco irmãos." Aí fomos trabalhar juntos, de treinador, aí na Ilha de Governador. Aí vai daqui, vai dali, o Dida... estava bem, tinha mais de 50 meninos para treinar, era bacana. Mas você que sabe, você pega a bola, você joga para o garoto, assim, só de ele pegar na bola você sabe o que ele sabe. Então aquele garoto, assim, que os pais... os pais levavam os filhos... Era tudo garoto até 16 anos. Era de 10 a 16. Então aquele monte de menino, tudo bem arrumado, menino inscrito, tudo arrumadinho. Porque aquele que passasse no teste já estava inscrito. Não tinha ninguém para roubar. Que muita gente ia assistir os treinos dos meninos. Olheiro do Vasco e do Fluminense e vice-versa também, eles iam lá também. Então viam... aquele menino que estava treinando lá, via que dava certo, pegava o menininho depois que saía... Mas quando a gente já notava que o menino dava jeito, já pegava logo a assinatura do menino. Sempre tem uma pessoa, um funcionário para acompanhar, para tomar parte disso. Então a gente falava: "Pode tomar nota... manda aquele menino assinar ali..." Aí depois o Dida teve que fazer uma cirurgia. Aí que veio o Joel para trabalhar comigo. Aí o Joel veio para trabalhar comigo. Fizemos muitos jogadores. Tem muitos jogadores aí...
P/1 - Quem que você se recorda de jogadores que vocês descobriram?
R - No momento o que eu me lembro é só do goleiro... aquele que está no América até hoje. Como é que é o nome dele? É o goleiro do América. Até hoje ele é o goleiro do América. Milagre. Até hoje ele é o goleiro do América. Ele é de Juiz de Fora. Jogava lá no Tupi. Aí ele foi jogar. Quando ele chegou para treinar, que ele veio com uma carta, tudo, lá do Flamengo. Aí eu olhei para ele, aquele cara com aquele mãozão danado, garoto novo, tinha 16, 17 anos, aquele mãozão, sujeito forte. O tipo do goleiro que você vê que é o jogador que parece que é goleiro mesmo. Eu peguei, falei com o Joel: "Joel, esse cara é goleiro bom mesmo." Porque os goleiros, no treinamento, não tinha jeito de você dizer que sim ou não. Então eu e o Joel, e quando era o Dida, a gente com os goleiros, tinha quatro, cinco goleiros, a gente batia a bola nos goleiros. A gente dava três vezes para treinar, três dias. Era toda terça-feira. Um terça-feira sim, na outra também, três vezes, a oportunidade que a gente dava. Para dizer para o pai: "A gente deu oportunidade para o garoto, então..." Três vezes era o suficiente. E o (Milagre?), eu ia, ele pegava, ele ia lá e... o Joel batia e chutava, eu chutava, o goleirinho. "Filha da Puta, esse é bom mesmo." Não deu nem três vezes não. Ah, na mesma hora eu falei: "Não, pode passar lá..." O pai tinha vindo de Juiz de Fora com ele. Nós chamamos o pai: "Resolve lá, que agora a parte é deles lá." E ele ficou muito tempo no Flamengo. Mas não sei o que que o Elau... o Elau era presidente na época, o Elau, não sei o que, que mexeu com ele. Não sei o que chamou a atenção dele, e ele era um garotinho, mas meio estourado, ele era meio nervosinho. E nisso mandou o Elau naquele nome. Aí o Elau pegou, claro, tem que sair. "Não quero mais não." Aí na mesma hora o América, mineiro, pegou logo ele. E até hoje tem muitos anos que ele é o goleiro do América.Há muitos anos. Mas ele pegou, acho que casou lá em Belo Horizonte, arrumou uma moça muito rica, e ele pegou, casou. Ele sempre telefona para mim, agradece, ele estudava, estava formando para médico...
P/1 - Está encaminhado?
R - Está. Eu pegava... família rica lá de Juiz de Fora também. Então eu pegava, sempre falava com ele: "Olha, não vai deixar de continuar. Quem sabe amanhã você vai me operar, eu vou precisar, você vai ser o médico." (riso)
P/1 - Henrique, nós estamos chegando no final da nossa entrevista, eu queria que você contasse um pouquinho: depois que você fica de olheiro do Flamengo, você vai até mais ou menos anos 70, é isso?
R - 70. Até 70. Aí eu tive que fazer uma cirurgia. Como aconteceu com o Dida aconteceu comigo. Aí eu larguei... até hoje eu peguei...esse problema aí na perna, mas já recuperei bastante.
P/1 - O que foi o seu problema na perna?
R - É operação na cabeça do fêmur. Nos dois fêmur. Eu tirei, coloquei os aparelhos, aí depois dos aparelhos, levei um escorregão. Aí... a patina. Aí a patina pegou, saiu fora do lugar, aí tive que operar outra vez, aí a perna teve problema, fiquei muito tempo engessado, fiquei engessado nas duas pernas. Aí bloqueou muito o meu joelho, que eu tinha problema de ácido úrico, então bloqueou o joelho, então não teve mais jeito. E agora que eu estou recuperando, que eu estou mexendo mais. Inclusive eu estava dizendo aqui agora, que eu ando na cadeira de roda, e procuro andar de muleta dentro de casa, usar muleta. Agora na rua eu fico só sentado na cadeira, na portaria, e o médico já autorizou que eu pudesse começar agora a levantar, andar na rua, até tem um porteiro lá que é meu amigão, o Zé, trabalha lá no prédio lá, conheço a medida dele. Então ele que me leva para aqui, me leva para ali. Então agora, hoje, além desse convite maravilhoso de vocês aqui, eu comecei a andar, essa data vai ficar marcada, que eu comecei a andar na rua,de muleta por perto, e descer aqui, entrei de muleta, sem sentir dor nenhuma. Para dizer que me deu mais coragem, agora, a partir de hoje, logo depois do almoço já vou começar a andar na rua também. (riso) Assim que vai.
P/1 - Então, quer dizer, hoje em dia você fica... você mora no Leblon?
R - Eu moro no Leblon.
P/1 - Você fica batendo papo com os amigos lá no portão do prédio?
R - É, amigo não falta. Ainda mais a gente que tem... O papo é bola. Então a semana passada tinha duas mulheres com os maridos delas, três. Então... e vinha com os maridos delas andando, e pararam para conversar comigo, são até de Belo Horizonte. E conversa vai, nós começamos a conversar, conversar, e as mulheres ficaram em pé, de lado. Aí uma pegou, falou assim: "Olha..." falou um dos nomes: "Marcos", um dos maridos, "o negócio é o seguinte: vem cá, agora vocês ficam aqui, de lado aqui, porque agora quem vai entrevistar o Henrique somos nós." (riso) Porque elas ficaram só olhando: "Não, agora quem vai entrevistar o Henrique somos nós." (riso) Mas é mulher, é menino, é menina, é criança. Tudo passa. Graças a Deus a amizade é muito grande.
P/1 - E a sua família? Você é casado?
R - Eu sou casado. Tenho um casal de filhos.
P/1 - Como é que chama sua esposa?
R - A minha esposa é falecida.
P/1 - Falecida?
R - É, tem três anos que ela faleceu. Então tem o meu filho, que chama Luis Henrique, e a Michele, chama Maria Michele.
P/1 - E eles são adultos?
R - São casados. São adultos, são casados.
P/1 - E você tem quantos netos?
R - Eu tenho três netos. Por parte dos filhos. Agora dos sobrinhos lá em Formiga eu tenho mais de 50. É muito sobrinho. (riso)
P/1 - E Henrique, conta para a gente aí agora, que a gente está fazendo avaliação aí da entrevista, você que jogou tantos anos no Flamengo, tendo sua vida toda ligada: o que é ser Flamengo?
R - Eu me sinto muito orgulhoso de ter jogado no Flamengo, na Portuguesa também, no Nacional do Uruguai, um pouco no Atlético. Mas ser flamenguista tem que ser muito orgulhoso. Como você estava dizendo que o Joel falou que quando veste a camisa do Flamengo arrepia, arrepia mesmo. Então a primeira vez que você veste... a primeira vez que eu vesti a camisa do Flamengo, eu achava que era brincadeira, que era mentira, eu cá comigo, por dentro: "Não, é mentira." E olhava, ficava olhando. Me até arrepia o corpo, quando começo a lembrar a primeira vez, você fica meio maluco mesmo, você fica, você sente que... "Agora parece que eu sou mais gente." Você sente mais gente. Não sei o que é. Não estou dizendo que o vascaíno é menos. Não, estou dizendo só do Flamengo. E deve ser a mesma coisa aquele que veste a camisa do Vasco, do Botafogo, deve sentir a mesma coisa, como eu senti com a do Flamengo. Você vê que tem jogadores famosos que o Flamengo contrata... Quantas vezes passou na minha época, que eu jogava lá, o Flamengo contratava aqueles jogadores, que fazia miséria nos clubes que eles jogavam. Punham a camisa do Flamengo, não sabia jogar. E até hoje é isso. Tem muito jogador que põe a camisa do Flamengo, não sabe correr com a camisa do Flamengo. Olha, nós temos aí... não vamos citar nomes... nós temos uns três aí, três que o Flamengo gastou dinheiro, que até agora não... jogadores que são internacionais. São dois aí bons jogadores, lá onde eles jogavam. Mas no Flamengo não sabem jogar.
P/1 - E Henrique, como você se sente aí contando a sua história para o Museu do Flamengo, e entrando para o Museu aí rubro negro?
R - Isso, para mim, é mais 30 anos de vida. Ser lembrado por todos vocês, como eu estava dizendo aqui, eu não sabia que eu era tão conhecido, porque eu, como eu estou lá na cadeira, eu fico sentado lá, e todo mundo passa, todo mundo conversa. Eu falo sempre com o meu amigo José, ele está sempre comigo lá. Eu falo: "José, eu não sabia que eu era tão querido não. Agora que eu estou me sentindo... não é nem 30 nem 40, eu estou me sentindo com mais 60 anos de vida." É que eu me sinto orgulhoso, porque criancinha passa vindo da escola, com a mãe ou com o pai, aí ele pára com garotinho, ou vindo com a babá ou com a esposa, aí fala assim: "Olha, esse aí foi jogador do Flamengo." Com garotinho de quatro anos, assim: "Esse aí foi jogador do Flamengo. Papai gostou muito dele." Então isso para mim é, como eu falo, é mais 20 anos de vida, eu me sinto mais novo. Um pai fala para a criancinha. E até hoje eu fico... as criancinhas passam: "Vovô, vovô!" Isso é um orgulho para mim. Então ser Flamengo pode se orgulhar mesmo. Eu não quero desfazer dos outros em que eu tive, na (Portuguesa?), fui muito feliz, mas o Flamengo é muito forte mesmo. Flamengo é muito mais que muita gente pensa que o Flamengo é. Não é fácil não.
P/2 - E qual foi o seu momento mais feliz dentro do Flamengo?
R - O meu momento mais feliz foi, como eu falei com vocês, que eu estava começando a ser o titular do Flamengo, onde eu fui xingado, por mim, minha família toda, e no fim eu fiz um gol, que o Pelé tentou fazer, não fez, eu fiz, inclusive com muito orgulho, que tenha a alma dele no Reino do Ceú, que morreu há pouco tempo, o Barbosa. O Barbosa era o goleiro, já estava... Mas era como uma espécie de um prêmio. O goleiro, quanto mais velho, melhor é. Então o que eu mais senti foi esse gol, que me deu força, que a torcida passou a acreditar nesse gol que eu fiz, passou a me acreditar, eu me senti mais orgulhoso ainda. "Se a torcida agora voltou a ser do meu lado, então tem que dar o troco." E, graças a Deus, até hoje eu dou esse troco de todo mundo, como vocês, nesse convite que estão me fazendo. Então me sinto mais flamenguista ainda, cada vez mais. E esse orgulho eu vou levar para o buraco, se Deus quiser. (riso)
P/1 - Henrique, então a gente agradece aí pela entrevista.
R - Eu que agradeço a todos vocês. E estou à disposição. Agora o Manuel vai ver o álbum.
P/2 - Todo nós.
R - Pois é, eu vou lhe mostrar o álbum, que é muito bacana.
P/2 - Muito obrigado.
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