Entrevista de Sandro Ramos da Silva
Entrevistado por Maria da Consolação Soares e Sofia Tapajós
Rio Doce, 04 de março de 2023
Projeto Memória do Rio Doce
MRD_HV006
0:20
P1 - Qual é o seu nome, local e data do seu nascimento?
R - Meu nome é Sandro, a data de nascimento é 12/04/87.
0:32
P1 - Quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai chama Adão Maria da Silva, minha mãe Ana Aparecida Floriano.
0:40
P1 - O que eles faziam?
R - Meu pai pedreiro, sempre foi pedreiro, minha mãe dona de casa.
0:47
P2 - Você sabe como eles se conheceram?
R - Como eles se conheceram? Então, meu pai, antigamente, antes dele ser pedreiro, ele foi trocador de ônibus, na época ele tinha um ônibus que rodava de Ponte Nova à Rio Doce, e eles se conheceram assim, que ela foi passear em Ponte Nova, aí se conheceram no ônibus.
1:13
P1 - Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Então, minha família, os principais costumes dela, dos meus avós, dos meus pais, era mexer com roça, esses trem, trabalho na roça mesmo.
1:32
P1 - Você gostava de alguma história quando criança?
R - Bastante, principalmente dos meus avós, as histórias deles era muito gostosa, a gente sentava na cozinha, ou na sala, ou no terreiro da casa da minha vó, quando eles contavam histórias, era muito gostosas, eu guardo isso aí para a minha vida toda.
1:54
P2 - Você lembra de alguma história que eles contavam?
R - Lembro bastante.
P2 - Você quer contar aqui alguma?
R - (risos) Hein? Quero contar? Lembrava assim, uma história que o meu avô contava, que hoje a gente não vê mais, é quando tinha a quaresma, meu avô contava dos lobisomem, ficava contando essas histórias para a gente, a gente dormia ali como medo, porque ele falava mula sem cabeça, era bastante histórias.
2:29
P2 - Você falou da casa que vocês ouviam as histórias, você lembra como era essa casa?
R - Então, é uma casa simples, que meu avô construiu buscando pedra, buscando barro para fazer o tijolo, na...
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Entrevistado por Maria da Consolação Soares e Sofia Tapajós
Rio Doce, 04 de março de 2023
Projeto Memória do Rio Doce
MRD_HV006
0:20
P1 - Qual é o seu nome, local e data do seu nascimento?
R - Meu nome é Sandro, a data de nascimento é 12/04/87.
0:32
P1 - Quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai chama Adão Maria da Silva, minha mãe Ana Aparecida Floriano.
0:40
P1 - O que eles faziam?
R - Meu pai pedreiro, sempre foi pedreiro, minha mãe dona de casa.
0:47
P2 - Você sabe como eles se conheceram?
R - Como eles se conheceram? Então, meu pai, antigamente, antes dele ser pedreiro, ele foi trocador de ônibus, na época ele tinha um ônibus que rodava de Ponte Nova à Rio Doce, e eles se conheceram assim, que ela foi passear em Ponte Nova, aí se conheceram no ônibus.
1:13
P1 - Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Então, minha família, os principais costumes dela, dos meus avós, dos meus pais, era mexer com roça, esses trem, trabalho na roça mesmo.
1:32
P1 - Você gostava de alguma história quando criança?
R - Bastante, principalmente dos meus avós, as histórias deles era muito gostosa, a gente sentava na cozinha, ou na sala, ou no terreiro da casa da minha vó, quando eles contavam histórias, era muito gostosas, eu guardo isso aí para a minha vida toda.
1:54
P2 - Você lembra de alguma história que eles contavam?
R - Lembro bastante.
P2 - Você quer contar aqui alguma?
R - (risos) Hein? Quero contar? Lembrava assim, uma história que o meu avô contava, que hoje a gente não vê mais, é quando tinha a quaresma, meu avô contava dos lobisomem, ficava contando essas histórias para a gente, a gente dormia ali como medo, porque ele falava mula sem cabeça, era bastante histórias.
2:29
P2 - Você falou da casa que vocês ouviam as histórias, você lembra como era essa casa?
R - Então, é uma casa simples, que meu avô construiu buscando pedra, buscando barro para fazer o tijolo, na beira do rio, então ele fez tudo com o próprio punho, com a própria mão dele.
2:52
P1 - E era uma casa aconchegante, tinha muita gente, a família frequentava a casa com frequência, como é que era isso?
R - Bastante! Era uma casa aconchegante, todo mundo, vamos supor, a família inteira, são doze tios, juntava todo mundo, tanto para passar fim de ano, era na parte de tardinha, todo mundo largava o serviço e ia para lá ficar batendo papo com os meus avós. Infelizmente, dois anos para cá, que veio a COVID aí, meu avô foi a primeira morte de COVID em Rio Doce, depois minha vó faleceu também, depois dele. Aí hoje a casa tá meio solitária, tá assim, acabou. A gente fica guardando aquilo ali, entra só tem histórias para contar agora.
3:41
P2 - Você se lembra da casa que você passou sua infância, que você morou com a sua família?
R - Lembro! Como é que era essa casa? Então, minha casa sempre foi aconchegante, sempre foi cheia de colegas. Vamos supor, lá na minha casa eu tinha minhas brincadeiras, que era brincar de gangorra, nós tinha uma bateria lá de lata que a gente brincava de músico, então tinha de tudo na minha casa. A minha casa sempre foi cheia de crianças, sempre, né! Foi muito bom!
4:16
P2 - E quem eram esses amigos?
R - Os amigos são de Rio Doce mesmo, sempre os de Rio Doce que estudou comigo. E hoje tá aí também, não saíram aqui de Rio Doce não, estão todos aí.
4:30
P1 - E a rua que você morava, como que era?
R - A gente fala que é a rua do alto do cemitério, é onde eu morava. Morei lá por um tempo, depois vim morar com a minha vó, com os meus avós, minha mãe nunca mudou não, mas eu optei morar com eles, porque eles também gostavam da minha pessoa, então queriam que eu morasse com eles. Mas a nossa casa lá era muito boa mesmo.
5:00
P2 - Você falou da sua bateria de lata, como que ela era?
R - Lata, você fazia bateria de lata, vamos supor, lata de tinta, a gente tinha um microfone de cabo de vassoura, cantava, fazia o show mesmo, uma tábua a gente desenhou um teclado, e aquilo ali saia o som na boca, era aquilo ali. Para nós era uma alegria e tanto.
5:21
P2 - O que vocês tocavam?
R - Hein? De tudo! Forró, mas era forró.
5:29
P1 - Então você nunca mudou de Rio Doce, nunca morou em outra cidade?
R - Nunca! 36 anos, nascido e criado em Rio Doce. Arredei o pé daqui uma vez só para trabalhar, porque o serviço aqui enfraqueceu, aí a gente teve que ir para fora, mas fiquei 9 meses só também, depois voltei, nunca mais sai, graças a Deus!
5:52
P1 - E sobre a escola, quando você foi para a escola, você tem alguma lembrança?
R - Tenho bastante, da escola.
P1 - O que te marcou mais na escola? Quando você entrou na escola, primeiros anos, por exemplo?
R - Ha Consola, o que que marcou? A minha turma, que era uma turma animada, que eu converso, eu falo com os meus colegas, que é uma turma que, deixa eu te falar assim, que a gente vê que hoje em dia, você vê que todo mundo cresceu, hoje um é advogado, hoje um está estudando para juiz, hoje um é engenheiro, hoje um é… cada um tem uma profissão, então aquela turma ali cresceu, você entendeu? Eu assim, fiquei na cidade de Rio Doce, e assim, pelo decorrer da minha vida, eu também cresci, você entendeu? Porque hoje… eu sou pedreiro, dali para cá eu passei a ser vereador da cidade, 3 mandatos, terceiro mandato já. Então a gente vê que cada um da nossa equipe cresceu.
6:54
P1 - Você lembra do primeiro dia de aula?
R - Nossa, lembro! Lembro! Eu lembro e também assim, lembro do primeiro dia, da professora, que era Fatinha, foi a minha primeira professora, assim, lembro de quando precisei ir no banheiro, ela não deixou. E hoje a minha esposa, que estudou comigo naquela época, eu pedi para ela ir lá pedir, “pede para Fatinha para eu ir no banheiro que eu não estou aguentando”. E ela que foi, a gente lembra isso aí, diariamente, sabe! É gostoso!.
7:38
P1 - E como que era o seu trajeto para a escola? A ida e a vinda? Se ia como, ia sozinho, como que era esse trajeto?
R - Então Consola, antigamente, na primeira série assim, segundo, terceiro, o que acontece, a gente acompanhava os avós até 10h na roça, vinha, tomava o banho e ia para a escola. A gente descia, era um morro, descia. Minha mãe trazia até ali no morro, perto do do grupo ali, dali a gente entrava para a sala de aula.
8:08
P2 - E o que você fazia na roça com os seus avós?
R - Uai! No começo a gente ia de companhia, mas depois foi aprendendo, aí a gente capinava, com o passar do tempo, capinava, quebrava milho, carregava, vamos supor, punha miho no balaio para juntar, com o tempo, isso aí, foi fazendo isso aí. Mas no começo quando a gente era criança mesmo, ia de companhia.
8:35
P1 - E aí depois, quando você foi crescendo, quando você começou a sair sozinho, ou com amigos, como é que foi isso? Como é que vocês faziam, conta pra mim?
R - Então, como se diz, a nossa turma aí, que é a turma mais antiga. Antigamente, a gente saía, vinha na praça de Rio Doce dar um passeio, não tinha essas coisas de bebedeiras, vinha, conversava, dialogava. E tinha horário de chegar em casa, se a gente descesse 6 horas, 8 horas tinha que estar em casa, porque meu pai era rigoroso demais, é até hoje, até hoje!
9:21
P1 - Então você já saiu com os seus amigos já?
R - Saía com meus amigos. A gente vinha, tinha até… to lembrando aqui, antigamente a gente tinha uma discoteca aqui, de Edmilson, como a gente era menor de idade, não podia entrar, a gente ficava olhando ali, dali para casa.
9:38
P1 - Quando você começou a trabalhar? E qual foi o seu primeiro trabalho?
R - Então, aos 12 anos eu comecei a trabalhar com o meu pai, que ele era pedreiro, então ele me levava para obra, para a gente começar a aprender como funcionava, como trabalhava, então a gente começou cedo. E aí a gente tinha que trabalhar até certas horas e depois ir para a escola.
10:06
P2 - E como pedreiro, ajudando o seu pai, o que você fazia?
R - Eu fazia massa, coava uma areia. Não assim, não aguentava fazer aquilo, aquela massa não! Mas ele fazia, a gente ajudava, aí massa pronta, a gente pegava no balde e colocava no caixote para ele. E ali ia o dia… vamos supor, o dia que não tinha aula ficava o dia inteiro, no sábado.
10:28
P2 - Você gostava?
R - Gostava! E muito! Graças a Deus através de isso aí eu tenho o que eu tenho hoje, você entendeu? Não fui para outros caminhos, meu pai me ensinou a ir no caminho certo, graças a Deus! Não tenho arrependimento nenhum.
10:45
P1 - E aí quando você começou a ganhar o seu primeiro salário, o que você fazia com ele?
R - Consola, meu primeiro salário, o que acontece, na minha casa são 4 irmãos, eu assim, o meu primeiro salário eu comprei uma chuteira, que eu jogava bola. E toda vez meu pai, quando ele trabalhava em Viçosa, eu punha no bolso da camisa dele, querendo um chuteira, e ele não podia me dar, não dava, porque não tinha, trabalhava para sustentar a gente dentro de casa. Porém aqui o serviço estava fraco, ele foi para Viçosa. Aí toda vez eu pedia uma chuteira, uma chuteira. Nisso eu comecei a trabalhar com o meu tio Luiz depois, você entendeu? Aí foi o meu primeiro salarinho que eu ganhei, primeira coisa que eu comprei foi uma chuteira, uma chuteira. Apesar que não fui jogador de futebol não, mas foi uma chuteira.
11:38
P2 - Você falou dos seus irmãos, quantos irmãos você tem?
R - Hoje… antes era 4, hoje tem mais 1, fora do casamento, que minha mãe mais o pai hoje são separados, então ele tem uma menina fora, então são 5.
11:53
P2 - E como era a relação de vocês?
R - É gostoso, até hoje… como se diz, menino briga, você sabe, era uma brigalhada aquele tempo todo, mas é gostoso. Apesar que a minha irmã, porque antigamente lá na minha casa, a gente brincava de circo também. Eu tinha um circo dentro de casa (risos). A gente tinha um circo aqui na rua, a gente descia aqui para vê, tinha o espetáculo e queria fazer em casa. Aí a boneca da minha irmã furava toda, brincando de jogar faca, meu pai não gostava de jeito nenhum, tomei um couro de chicote por causa disso, de chicote. Que eu furei a boneca da minha irmã, jogando faca.
P2 - Ainda bem que foi a boneca.
R - Ainda bem!
12:43
P2 - E o que vocês faziam no circo? Como era esse circo?
R - Como era esse circo? Então, nesse circo tinha, vamos supor, eu tinha o chicote do meu pai, que a gente via no circo que cortava o papel, nossa, você precisa vê, eu dei uma chicotada no dedo do meu irmão, aquilo foi couro, era certeiro. Lá em cima tinha gangorra, vamos supor, a gente cobrava, na época lá era um centavo, uma moeda para sentar na gangorra, cinco minutos para você ficar gangorrando, era o nosso circo, espetáculo, tinha mágica, cada coisa.
13:16
P1 - Você foi mágico nesse circo?
R - Claro! Era mágico, era tudo! Era uma brincadeira saudável, gostosa, que hoje a gente não vê isso mais, acabou, infelizmente hoje é o telefone, dominou tudo.
13:31
P1 - Então, você falou que começou com o seu pai como ajudante do seu pai. E que outros trabalhos você já executou além desses aí?
R - Então Consola, igual eu falo, trabalhei fora, conheci uns colegas lá. E na empresa eles falavam assim, você faz de tudo? “Ô cara, na minha cidade, se a gente não fizer um pouquinho de tudo, infelizmente você não trabalha, porque hoje a gente é pedreiro, aí você faz lá, você é um bombeiro, você é um eletricista, e aí vai, você tem que fazer um pouquinho de cada coisa, se não você não tem jeito”.
14:06
P2 - Voltando um pouco, você também falou da chuteira, você jogava muita bola?
R - Muita não, mas participei muito do campeonato que tinha aqui na cidade, quando pequeno, depois de velho, infelizmente partir para o carnaval, larguei o futebol de lado, porque não tinha jeito não.
P1 - Não deu para conciliar?
R - Não! Não dá não. Ou um, ou outro.
14:30
P2 - Você lembra de algum momento marcante em algum jogo nesses campeonatos?
R - Então, o que que acontece, eu lembro assim, quando o nosso treinador, que era Eurico, na época, ele selecionou o time para jogar em Barra Longa, aquilo eu fiquei muito ansioso, que eu nunca tinha jogado fora, e nem… sinceridade dormi pouco a noite esperando amanhecer para a gente ir para Barra Longa, aquilo ali para mim, nossa senhora, é coisa de outro mundo, era gostoso, você ficava naquela ansiedade para chegar no outro dia, para você jogar num lugar que você nem conhecia. Aí era isso aí!
15:08
P1 - Mas aí qual foi o motivo de você abrir mão do futebol? Aconteceu alguma coisa ou você mesmo teve outra prioridade, como é que foi?
R - Então Consola, futebol, aí depois a gente, né! Trabalhando aquele tempo todo, aí eu esqueci um bocado do futebol, também eu vi que não era muito a minha praia, você entendeu? Eu não era aquele cara bom de bola não, sabe? Então aí eu fui, saí, larguei mesmo de mão.
15:39
P1 - Você saberia dizer quando começou a surgir na sua vida essa vontade de criar o bloco, como que o carnaval chegou na sua vida?
R - Então, antigamente a gente via, vamos supor, igual tem o Antônio ali que é velho, Antônio de Agostinho que é velho na bateria, a gente escutava ele bater notinha ali lá bateria, tocava ele, uns rapazes mais velhos com ele lá, e a gente via aquilo ali. Aí nisso, conversando eu, o Fernando que é mais conhecido como Matei, que hoje não está com nós, e o Marcinho, nós três em conversa, cismamos, “vamos montar um bloco de carnaval no morro, para nós, vamos homenagear o morro aqui de Rio Doce”. Falei, “vamos, ué!” Aí ficamos aquele trem conversando, aquele tempo todo, beleza, ficou naquilo ali. Sentando, aí a gente tava uma dia lá, “vamos fazer, bloco da Turma do Gueto.” Falei, “bloco da Turma do Gueto?” “É!” Aí fomos pesquisar o que que é gueto. Vamos pesquisar primeiro o que que é gueto para depois a gente, né! Vê se vai ser ou não. Aí fomos pesquisar aquele trem todo, que gueto é uma cidade, onde a gente tem um morro onde a gente é obrigada a morar, não sei o que, e fomos surgindo o Gueto, vamos fazer o bloco do Gueto. Em 2015 lançamos com o pessoal na rua o bloco do Gueto. Apesar que a gente não tinha instrumento nenhum, aí lançamos, saímos batendo lata mesmo, a turma até ria, aquela meninada toda batendo lata. E dali começou, dali começou e não parou mais.
17:17
P1 - Então no primeiro momento saiu só vocês e os instrumentos?
R - É Lata! Batia com lata.
P1 - E depois, como é que foi isso? No outro ano vocês já fizeram um projeto? Como é que foi a sensação do primeiro carnaval de vocês?
R - Então, projeto a gente não tinha na época, não pensava assim de fazer um projeto, era uma coisa simples. Juntava assim, um mês antes e ensaiava ali o que tinha que ensaiar, era marchinha, a gente já sabia mais ou menos, lata e batia, entendeu? Inclusive, em 2006, foi o primeiro instrumento que foi para a gente, que a gente conseguiu no colégio Estadual como o Pretinho, que ele cedeu para a gente, um Tarol e uma caixinha, tava até estragado lá no colégio. Ele falou, “Sandro, se você quiser reformar e levar”. Foi o primeiro instrumento que ele cedeu para a gente, aí nós jogamos na rua, arrumamos, reformamos tudo e jogamos na rua. Aí começamos ali. Aí já começamos a fazer as camisas, já foi, a cabeça já foi abrindo, começamos a fazer as Maria Pereira, pegava um pedaço de pano com um com o outro, costurava, fazia aquela Maria Pereira, era meio avacalhado, mas fazia a alegria da criançada.
18:38
P2 - Você pode explicar o que que é a Maria Pereira?
R - Então, a Maria Pereira é um bonecão, que a gente via contar histórias antigas, você entendeu? Eles contavam a história que tinha Maria Pereira, que isso, que aquilo, então naquela história a gente fundou a Maria Pereira também. Fizemos, pegamos aquelas caixas de descargas antigas, aquilo ali era a cabeça da Maria Pereira, aqueles cabaços de roça, desenhava nela, punha um cabelo, fazia o corpo dela de bambu, e ali ficava um rapaz ali dentro guiando ela ali por rua a fora, correndo atrás das crianças. Aquilo ali minha filha, era a alegria da criançada.
19:15
P2 - E você nesses primeiros blocos, você tocava?
R - Tocava! Tocava! Tocava caixa, e aí, tocava, tinha vezes que ficava comandando os bonecões, tinha os meninos, vamos supor, o Matei ficava na parte, aí já começamos a organizar, 2006, 2007, começamos a organizar. Matei já ficava nas parte das camisas, os uniformes, esses trem todo. A gente pedia patrocínios nos bares aqui da cidade, você entendeu? Inclusive, tinha dois patrocinadores que acompanhava a gente sempre, que foi o Márcio, que tinha o bar de Tia Maria aqui em baixo e o Silvério com a pizzaria dele, Escort Bar, era os dois que ajudavam também. E Russo do posto ali, eles ajudavam a gente, dava uma lona para a gente fabricar as alegorias, você entendeu? Que depois em 2008 veio as alegorias.
20:10
P1 - Isso que eu ia perguntar, quando foi o primeiro carro alegórico que vocês fizeram? Além da Maria Pereira, qual foi o outro personagem criado por vocês, e quando foi?
R - Então, em 2009, a gente lançou o carro Abre Alas, que foi o dragão, você entendeu? Um dragão do Gueto, que é o símbolo que a gente cismou e colocou ele na praça, o dragão, o dragão surgiu, foi o primeiro carro abre alas nosso.
P1 - Você poderia falar como é que foi esse processo de construção desse Dragão e como que ele funcionava, se tinha algum efeito, como é que era?
R - Então, esse Dragão, a gente não sabia muito, tinha da cabeça da gente, fizemos ele de madeira e de bambu também, no caso a cabeça dele era de lata, a gente cortava os dentes, aquele trem tudo, e nisso trabalhava o maçarico ali, na boca dele e o bujão lá dentro, nisso ficava uma pessoa lá dentro soltando fogo na boca dele. Era uma coisa meio perigosa, você entendeu? Mas jogamos isso daí para a rua.
P1 - E qual foi o seu maior desafio com esse carro abre alas? Ele saia de onde, qual era o percurso dele no carnaval?
R - Então, o maior desafio era descer, porque a gente, vamos supor, a gente fazia as alegorias, descia lá do Morro, desce do Morro. Aí tem que ter o pessoal para segurar, porque desce a ladeira, tem que ter o pessoal para vim segurando ela aí.
P1 - E como é que eles seguravam, como que era feito isso?
R - Na corda, segurava na corda! Juntava, vamos supor, era seis, três de um lado, três do outro, três homens de um lado e do outro e descia segurando.
P2 - E por que um dragão? Vocês escolheram o Dragão por que?
R - O que que acontece. Assistindo uma escola de samba do Rio, a gente viu um dragão, você entendeu? “Vamos fazer igual!” Não foi idêntico, não, você entendeu? Mas fizemos, uma coisa simples. Inclusive, era TNT, você entendeu? A gente fizemos o corpo dele de madeira, igual eu falei, de bambu e TNT, fizemos simples.
22:24
P1 - Aí em 2009 então foi esse primeiro carro. E 2010, o que vocês trouxeram de novo em 2010?
R - Em 2010 nós fizemos, aí já foi o ritmo da Copa, fizemos o carnaval em ritmo da copa, em 2010. Aí nós trouxemos foi uma bola, gigante, uma bola gigante, trouxemos também o barco, rumo a copa, o barco, ele balançava, tinha uma menina lá em cima no barco, ele balançava tudo direitinho. Aí já evoluímos um pouquinho a mais.
P1 - O material que você usou, foi o mesmo?
R - Aí já mudou, aí já foi mais para a estrutura metálica. Aí passamos a evoluir mais um tiquinho. Aí foi o barco e… a bola, o barco, foi os dois, isso mesmo, que nós trouxemos, em 2010.
23:18
P1 - E aí cada ano você trazia uma coisa nova, ou vocês todo ano saíam com o Dragão?
R - Não, cada ano inovando, vamos supor, o dragão era o carro Abre Alas, a gente só modifica ele, você entendeu? Esse ano ele veio dessa cor, ano que vem ele vai vir de outra, aí vinha. Aí cada ano foi fazendo. Teve um ano que marcou muita também a gente, foi o aniversário de Rio Doce, que deu na data do Carnaval, aí nós contamos a história, contamos a história de Rio Doce no samba enredo também, fizemos um samba enredo contando a história, fizemos essa estação, fizemos a igreja Santo Antônio e a Maria Fumaça. Num ano nós fizemos isso aí, trouxemos os três carros alegóricos, com o dragão 4.
24:09
P2 - E como vocês escolhiam os temas?
R - Então, o que que acontece, a gente junta, vamos supor, hoje a gente tem uma comissão, evoluímos, já vamos evoluindo aos poucos, aí hoje a gente tem uma comissão, joga para comissão, “vamos decidir o tema!” Cada um dá uma opinião. Ou então a gente pega o tema que tá assim, vamos supor, aconteceu isso em tal lugar assim, assim, vamos jogar esse tema no carnaval. Ou na cidade de Rio Doce vai acontecer isso, ou está acontecendo, vamos jogar esse tema. A gente trabalha assim.
24:38
P1 - Mas aí como você tinha falado antes, vocês começaram batendo as latas e tal, foi começando adquirir um pouco dos instrumentos e até então vocês só cantavam as marchinhas, quando é, que ano vocês criaram o primeiro samba enredo do Gueto?
R - Em 2013. 2013 veio um participante, que ele… vamos dizer assim, ele participava na linha, aí nós trouxemos ele para o Gueto, conseguimos resgatar ele para o Gueto, aí ele que trouxe o samba enredo para dentro do Gueto, que é o Leandro, é o nosso ritmista hoje. Que ele que bola tudo, samba é com ele, o enredo, deixa tudo por conta dele, ele que é o cabeça do samba enredo.
25:29
P1 - Então ele escreve?
R - Faz tudo! Letra, tudo é com ele! É por conta dele!
25:33
P2 - E como você se sentiu vendo o primeiro samba enredo do Gueto?
R - Nossa, nem te conto! É que é uma emoção… tem hora que a gente nem acredita, quando joga na rua você não acredita que isso tá saindo dentro de Rio Doce, você entendeu? Você não acredita! Porque assim, a gente vê o carnaval do Rio, vê o samba enredo do Rio, mas sinceramente, a gente não tem inveja nenhuma, que fazemos a mesma coisa, é só ensaiar, é só ensaiar, você vê que tem profissionais dentro de Rio Doce aqui, e muito! É show! Gente que chega até emocionar, tem hora que você vê a bateria, o coração treme, é gostoso! É um gosto que só Deus sabe.
26:13
P1 - Conta para a gente um pouquinho como que é a rotina do Gueto no carnaval? Como que vocês começam o carnaval, como que vocês passam os 4 dias de carnaval? Como que vocês fazem essa comemoração dentro do Gueto?
R - No trabalho? Então, o que que acontece, a gente elabora, vamos supor, chega dezembro, não vou falar para você que a gente tá tudo antes não. Mas é um corre-corre, chega dezembro a gente senta, eu, Leandro, o Quevê, chega a comissão, senta, “gente, vamos fazer o carnaval.” “Vamos!” Leandro, joga para Leandro, o enredo é com você. “Beleza!” Aí comigo já é as alegorias. Quevê já tá para me ajudar também, as meninas já ficam por conta das camisas. Daí tem as vestimentas das portas Bandeiras, aí começa. Aí a gente elabora aí com um mês, um mês pau arriado, vai até a noite, encontra… sai de lá das alegorias, vamos para o ensaio da Bateria. E é um corre danado, corre, corre, mas no final de tudo dá certo! É uma correria mas dá certo!
27:18
P1 - E o gueto sai no carnaval quantas vezes?
R - Então, esse que é o pecado, porque a gente faz esse trabalho todo, para desfilar duas horas, uma vez só. Aí todo mundo fica cobrando, “por que que vocês não vão desfilar mais vezes, por que que vocês não desfilam?” Aí eu falo, “não é só nós, infelizmente é o cronograma da cidade, então não tem jeito!”
27:39
P2 - E o trajeto do Gueto sempre foi o mesmo?
R - O mesmo! Antigamente o trajeto do Gueto era descer a cidade, fazia o carnaval, pronto, parava ali na praça ali, aí o que acontece, as alegorias ia guardar no pátio, ali nós arrastava a turma, lá para cima, para o clube. E no último dia, a gente tinha a volta olímpica, que falava, a gente pegava, passava pela linha, passava lá no asfalto, descia com as alegorias tudo, para entrar na cidade, aquilo ali era o cortejo nosso, você entendeu? Só que hoje acabou, hoje tem muitas barricadas aí que atrapalha um pouquinho, então não pode.
28:25
P2 - E como era esse cortejo, o que acontecia nele?
R - Esse cortejo? Era samba no pé, era, como se diz, quem gostava de beber, bebia e acompanhava, e lotava, a turma gostava desse cortejo, dá essa volta olímpica, era bom demais. Tanto faz os Rios Docenceses, como os visitantes, todo mundo cobra isso daí da gente, você entendeu? Mas hoje ficou mais difícil.
28: 50
P1 - Vocês, o Gueto, o grupo do Gueto tem um dia específico dele, que vocês fazem a sua programação pro carnaval?
R - Então Consola, até hoje nós não tivemos esse dia ainda não. Como se diz, o Gueto até hoje, assim, faz a alegria da turma, a nossa, por enquanto, assim, tirar esse dia nós não programamos ainda não, você entendeu? Até hoje não.
29:14
P1 - Você saberia falar todos os carros alegóricos que você criou? Todos foram criados por você?
R - Todos criados por mim, pela nossa equipe também. Tem sim, nós trouxemos primeiro igual eu falei, o carro Abre Alas que foi o dragão, o elefante, nós fizemos um elefante também, que jogava água no pessoal, tinha o elefante, aí a tromba dele sai a água, lá dentro trabalhava um menino com um galão de 200 litros com uma bombinha, que era o meu irmão, tinha o Dito que trabalhava com nós também, ficava ali dentro bombeando água para jogar no pessoal. Aí quando acabava a água, nós já sabia mais ou menos o cortejo, a gente abastecia lá no posto de Russo, que lá já deixava uma mangueira no jeito de abastecer, para nós acabar de fazer a caminhada nossa, que era até deixar o pessoal lá em cima. Aí trouxemos também uma baleia, jogando água também, trouxemos o peixe, fizemos a Maria Fumaça, fizemos uma Maria Fumaça, os vagões da Maria Fumaça era um bolo, o bolo partia, virava o vagão da Maria Fumaça, chegava na praça ele juntava, aí era assim também, desse jeito. E qual que foi o outro carro? Foi esses aí! Igual a Igreja de Santo Antônio também, nós trouxemos a igreja, a estação, esses carros aí.
30:43
P1 - E o carro alegórico, independente de qual que seja que você criaram, quanto tempo mais ou menos vocês gastam para produzir, elaborar, fazer aquele projeto seu de o que que vai ser, material que vai utilizar. Quanto tempo que leva para ficar pronto?
R - Então Consola, vamos supor, a gente chegava a desenhar no papel do jeito nosso lá, vamos fazer esse carro aqui, esse carro vai gastar tanto de pano, vai gastar de madeirite isso, vai gastar… porque tem algumas coisas que a gente colocava gesso, outros EVA, aí ia, vamos supor, essa lista a gente passava para a prefeitura, para prefeitura doar, para a gente começar a fazer. Aí cada carro aí, depende, uma semana, porque a gente pegava das 7 e não tinha hora de parar, você entendeu? Então, uma semana, no máximo uma semana.
31:39
P2 - Sandro, você aprendeu com alguém a fazer esses carros?
R - Nunca ninguém! Fui pegando prática e fazendo isso daí. Inclusive, Consola, eu ia esquecendo, a tartaruga também, nós fizemos uma tartaruga, que a princesa nas costas dela e ela balançava a cabeça, show de bola! Você precisa de ver! Tem vídeo, tem tudo isso daí! Tem registro, tem, tem.
32:09
P1 - Quando você fala, vê, lembra desses desfiles, do bloco, qual sentimento que você tem?
R - Então, o sentimento, eu vejo assim, eu sinto muito honrado de fazer isso aí, porque a gente vê, o gostoso é você ver a alegria na cara, no rosto do pessoal, você chega na praça você vê todo mundo pulando, todo mundo alegre, é o comentário, a riqueza é o comentário. Um chega perto de você, parabéns, aquilo ali para mim é a melhor coisa do mundo. E também assim, a gente fazendo alegria de outros, é gostoso.
32:44
P1 - Quando você pensava em criar, você que idealizou, você falou isso. Qual era o seu objetivo? O que você queria de retorno? Quando você saiu a primeira vez?
R - De retorno? Eu infelizmente, retorno eu não pensei em retorno nenhum! Porque o que eu faço, é porque eu gosto mesmo, você entendeu? Retorno, eu nunca pensei, nunca pensei assim fazer o carnaval e ter um retorno, nunca! Talvez, até vou falar assim, talvez depois de certo tempo para cá, que eu virei política, talvez a pessoa jogue “Sandro tá fazendo isso por causa de política”. Nunca! Se a política acabar para mim hoje eu vou continuar a mesma coisa, não faz falta nenhuma, sinceridade! Eu gosto é do meu carnaval! Eu falei, tem vez que isso atrapalha um bocado, que eu falei em largar a política para mim, mexer com o meu carnaval, que depois que eu entrei atrapalha um bocado, você entendeu. Só que eu não deixo atrapalhar, eu vou tocando a minha vida, quem tiver que falar, que fale! Bola para frente! Vou fazendo o nosso carnaval.
33:51
P1 - Mas assim, a sua expectativa quando você saiu a primeira vez, era qual?
R - A gente fica assim, naquela expectativa de juntar bastante gente, vamos sair, vamos ver como que vai ser. E para nós foi um estouro, foi um estouro, que juntou bastante gente mesmo. É muito bom! Você via aquele pessoal acompanhando, na hora que você olha para trás, quem está na bateria, ou igual a gente está de frente ali puxando as alegorias, organizando tudo, as alas, tudo, na hora que você olha para trás, que vê aquela multidão, aquilo ali que é o gostinho de você fazer mais ainda. Bom demais!
34:35
P1 - Durante esse tempo todo que o Gueto já tá aí com a gente aí na rua, qual foi a sua maior dificuldade que você encontrou num desfile?
R - A maior dificuldade? Num desfile? Dificuldade? Não vejo dificuldade, não, não vejo dificuldade nenhuma para desfilar, nada. Eu acho assim, que na hora que a gente procura o pessoal, “fulano, estamos precisando de 8 baianas”. O pessoal vem de coração, "tô precisando de fulano para…” Eu não vejo dificuldade nenhuma, assim, no momento não, no desfile não.
35:17
P1 - Tá sempre tranquilo?
R - Tranquilo! Sempre tranquilo.
P1 - Quando que o Gueto começou a ter seus próprios instrumentos?
R - Então Consola, na época, o prefeito, Carlos Soares, ele que doou os instrumentos para a gente, você entendeu? Chamou nós lá na prefeitura, viu que a gente mexia com carnaval, fazia o carnaval o tempo todo. E ele prometeu doar a bateria, os instrumentos para nós, você entendeu? Aí foi aí que nós adquirimos os primeiros instrumentos nossos, que nós fizemos uma lista, do que a gente precisava, de surdão, chocalho, tarol, tamborim, ele foi e doou para a gente isso aí tudo. Aí começamos. Aí daí para lá, depois, precisamos de mais instrumentos que a bateria foi crescendo, que a gente era 15 pessoas, depois passou para 30. Aí veio Silvério também, que continuou com o mesmo processo, doou também as bateria para a gente, mais bateria ainda. Aí hoje a gente tem a bateria toda aí, formada aí para 50, 60 integrantes.
36:20
P2 - E como vocês aprenderam a tocar cada instrumento?
R - Então, o que acontece, no começo era marchinha, a gente escutava, tá tá, batia aquele tempo todo e ia. Hoje, igual eu tô te falando, depois em 2013, que o Leandro veio para a nossa escola, passou a ensinar, ele que é o nosso ritmista, ensina a bater um tarol, a tocar um tamborim, o chocalho, o surdão, isso é com ele, ele ensina tudo direitinho, tudo dentro do pedido.
36:49
P2 - E você lembra a primeira vez que você tocou algum desses instrumentos?
R - Lembro! Lembro, tocava surdão, a gente fala aqui, nós brinca lá na bateria, que é o feijão com arroz, o surdão é uma coisa mais simples, então era uma coisa mais fácil. Hoje, já modificou, aí é um samba-enredo o modo de bater o surdão é diferente. Inclusive, eu trabalho, faço mais parte do chocalho, então aí já é outra coisa, o feijão com arroz ficou um pouquinho para trás.
37:24
P1 - Essa formação que o Leandro traz para o grupo, ele faz isso o ano todo o só na vespera do carnaval? Quanto tempo que ele gasta para estar atualizando isso com o pessoal, passando o samba enredo pro grupo a cada ano?
R - Então consola, é o que a gente fala entra o grupo nosso, que a pessoa, talvez nasce com aquele dom. Então a gente vê no Leandro, o dom, ele tem o dom de ser um ritmista, ele tem o dom de… ele brinca com os instrumentos, você entendeu? Então se eu falar com o Leandro assim,... não sei se você lembra, nós fizemos uma participação na escola. Você lembra, né? Eu não estou me lembrando muito bem, não sei se foi na consciência negra, eu não sei se foi na consciência negra, aí fizeram um convite para gente participar na escola, tinha uma semana, com uma semana Leandro já elaborou o samba enredo, nós ensaiamos uma semana e já jogamos, fomos para a escola, fizemos a apresentação e fechamos com chave de ouro, com uma semana, então é o que a gente fala, o cara, ele tem o dom, ele tem o dom. Se a gente fala, o Leandro, eu quero um samba-enredo assim, assado, ele pá, joga e é tranquilo. Então o cara é de confiança.
38:52
P1 - Então assim, a bateria do Gueto, ela é aberta, a cada ano ela recebe novos integrantes ou é aquele mesmo grupo o tempo todo?
R - Cada ano tem integrantes novos. Inclusive, a gente está com um projeto de levar essa bateria nossa para escola, para a gente resgatar essas crianças, esses jovens que estão vindo aí. Que a gente precisa, que os velhos que estão na nossa bateria, estão ficando velhos, aí talvez tem compromisso, não pode participar, você entendeu? Então a gente tá querendo buscar novos integrantes. Aí a gente tá fazendo um levantamento, a gente está querendo fazer um projeto aí, junto com o Semear, para a gente buscar isso nas escolas.
39:38
P2 - E essa participação na escola que você falou, como foi esse dia, essa semana?
R - Essa semana, nossa, foi excelente. A gente, como se diz, se sente muito grato na hora que a gente chega, faz a apresentação, que a gente fica com aquele frio na barriga, de dar errado, a gente fica pensando, se der errado como é que vai ser, então, foi excelente, gostoso. Inclusive, na véspera do carnaval, a bateria também participa dentro da escola, fazendo os Martinez, aí vamos supor, vai os integrantes, vão lá, vamos supor, 9 horas, vai na escola tal, vai no colégio, vai no Estadual, aí vai
40:21
P1 - Então, assim, o Gueto para você hoje seria o que? Como você definiria o papel do Gueto na sua vida hoje?
R - O Gueto? O Gueto hoje Consola, para mim hoje, igual a gente fala, é uma família, é uma família o Gueto para nós aqui dentro da cidade do Rio Doce é tudo, é tudo, como se diz, ele tem uma história muito boa para contar, igual a gente conta aí. Fazemos o carnaval porque gostamos mesmo, graças a Deus, está no sangue. E o Gueto para mim hoje em dia é tudo, é tudo, o que eu puder fazer para o Gueto não morrer, se for depender de mim, eu faço!
41:04
P2 - E aí voltando um pouco, mudando um pouco de assunto, você comentou que a sua companheira estudou com você na escola, vocês se conheceram lá?
R - A minha companheira? Sim! Conhecemos lá! Conhecemos, tudo, ela seguiu a vida dela, eu segui a minha, depois, como se diz, depois de velhos tempos, a gente se encontrou de novo e hoje nós estamos aí, 10 anos, graças a Deus!
41:32
P2 - Você lembra como vocês se reencontraram?
R - Foi no dia das mães, no dia das mães, que eu fui trabalhar em Belo Horizonte, igual eu falei aqui, que eu tive que sair um tempo, fui trabalhar em Belo Horizonte, quando eu voltei, eu já conhecia ela, aí a gente sentou, conversou, dali para cá começamos a namorar.
41:56
P1 - E quais os planos para o futuro, vocês vão ter filhos? Já tem planos aí para aumentar a família?
R - É Consola, igual a gente tem plano sim! Graças a Deus a gente tem uma vida estruturada, hoje, ela trabalha, eu trabalho, mora eu, ela e minha sogra. A gente tem plano sim, tem plano, porque com o decorrer do tempo a gente vai ficando velho. E eu quero passar isso para o meu filho, para minha filha, passar o que eu faço dentro da cidade, eu quero que eles continuem com meu trabalho, isso é lógico.
42:32
P2 - E aí voltando um pouco também, você falou que é vereador, como você chegou nesse lugar?
R - Então, o que que acontece, o meu pai foi vereador, na cidade, por um mandato. Nisso o pessoal me procurou, seu pai não vai vir mais Sandro? Você não vem, que não sei o quê, que é isso que aquilo, você mexe com carnaval. Falei, “ô gente, eu não mexo com isso não, não quero mexer com isso não, meu pai mexeu com isso eu vi que, né, ele não passou boa vida não”. E eles ficaram insistindo. Aí o matei, que é um dos fundadores do Gueto, ele foi chamado, ele filiou e tudo. E nisso ele fez eu filiar junto com ele, filiamos, filiamos só… E ele ia vim, no caso ele foi e não veio e me jogou, falou, “olha, Sandro, você vai você vai!” “Não vou!” Fui! A primeira candidatura minha, perdi por um voto, não fui eleito por um voto, aí daí acabou. Aí começou, começou aquele trem. Aí no outro ano eles já me atiçaram, aí começou. O outro ano eu fui o segundo mais votado, depois no terceiro, o segundo mandato meu, fui o primeiro mais votado. E nessa agora a gente deu uma recaída um pouquinho, porque veio eleitores meu de candidato também, então atrapalha um pouquinho, mas aí estamos aí na luta.
43:55
P2 - E como é para você ser vereador da cidade?
R - Não é ruim não! Não é ruim que a gente pode ajudar bastante a cidade, correr atrás, igual, principalmente aí, tem o carnaval, a gente corre atrás, tanto faz eu como Sandro, mas como Vereador também, o que eu puder ajudar na câmara, com requerimento, com projeto, a gente tá aí trabalhando, lutando. Não é ruim também não, você entendeu?
44:25
P2 - Teve algum projeto, alguma coisa assim que você lembra bastante?
R - Então, principalmente é um requerimento, um requerimento meu a respeito de um oficineiro, que o sonho nosso era modificar os bonecões nosso, que a gente fazia, a Maria Pereira e o Zé Pereira. Em um requerimento meu, que eu trouxe, que era para trazer um oficineiro para a gente ensinar o pessoal a como confeccionar as cabeças de bonecões. Eu levei para a cultura, a cultura foi acatou junto com a Semear e com a UNESCO, conseguiram trazer esse oficineiro, que onde a gente evoluiu esse ano. Eu gostei.
45:16
P2 - E como que são os bonecões agora?
R - Agora os Bonecões são… antigamente, igual eu falei, fazia com caixa de descarga, com essas cabaça de roça que planta, abóbora que vira cabaça, hoje é o isopor. O isopor, você vai esculpir nele bonitinho e faz o formato. Inclusive, esse ano a gente queria trazer as caricaturas de um pessoal que marcaram o carnaval, você entendeu? Mas como o oficineiro chegou assim, muito em cima da hora, não deu para fazer, mas nossa intenção era trazer, vamos supor, o Pelé que marcou muito o nosso carnaval, o Dedá, que marcou muito, o Milton Reis que participou como nós como o mestre sala do Gueto. Então, só que não deu tempo, mas a nossa intenção era essa, lançar essas caricaturas deles na rua.
46:19
P1 - Você falou do mestre salas do Gueto, queria te perguntar, gostaria que você falasse para a gente como que é feito o desfile? E só a bateria e o pessoal, você traz algum personagem?
R - Então, o desfile do Gueto é formado assim, mestre sala, porta-bandeira, aí a porta-bandeira vem o carro Abre Alas, desse carro Abre Alas, aí vem a princesa. A princesa, e a gente joga a princesa, mas o segundo carro, nesse segundo carro, vem a rainha da bateria, depois vem a bateria e para fechar vem outro carro Abre Alas. Esse foi o primeiro que a gente lançou da escola. E outras vezes a gente lançou assim, é o mesmo padrão, porém tinha as baianas, você entendeu? Que tem as senhoras lá, as mulheres lá em cima que vestia todo mundo, vamos supor, são 15 baianas, aí tinha a ala das baianas também. Aí vamos supor, cada carro alegórico tem os personagens que acompanham, mas todo mundo fantasiado também.
47:34
P1 - O Gueto alguma vez, em algum ano ele fez homenagem a alguém especial, ou sempre foi voltado só para o tema mesmo que vocês criaram?
R - Então, igual eu falei, o Gueto, ele homenageou a cidade Rio Doce, pelos 50 anos do Rio Doce, é o único que nós fizemos, agora para pessoas assim, não.
47:57
P1 - E como que o Gueto faz a escolha, por exemplo, a rainha da bateria, já tem nome específico?
R - Então, Então Consola, eu vou contar quando começou, a gente fazia igual eu falei, o feijão com arroz lá em cima, tocava a marchinha, o sambinha, e nisso Geraldo César, chegou perto de mim, e falou, “o Sandro, por que que você não faz rapaz, uma disputa aí para ver a rainha e a porta-bandeira do Gueto?” “Ô Geraldo, boa ideia! Vamos fazer isso mesmo!” Geraldo, vai, anunciou no alto-falante dele, "Ensaio do Gueto hoje, vai ter disputa da Rainha, porta-bandeira…” Aí beleza! Nisso nós pegamos um tapete emprestado com uma menina lá e forramos na rua, forramos na rua assim, e começou a aparecer as voluntárias, todo mundo fazendo as inscrição, as meninas. E ali começou, aí fizemos um corredor assim, cada uma sambava para a gente escolher. Aí nisso começou. Aí toda sexta-feira de carnaval, tem o grito de carnaval lá no morro, lá no alto, que chama na rua… mas é mais conhecido como a rua do Gueto, aí lá tem na sexta-feira, que é o grito de carnaval, aí tem a escolha da porta-bandeira, da Rainha, da princesa e do mestre sala.
49:20
P1 - Como que é feito isso? Tem alguma festa, alguma apresentação?
R - Então, lá é assim, a gente coloca, as meninas fazem a inscrição, e nisso tem a disputa, Aí vão lá, vai disputar duas ou três para rainha, vai disputar duas ou três para porta-bandeira, aí tem disputa do mestre sala, você entendeu? Inclusive, esse ano, esse ano que passou, dois anos antes da pandemia, a gente nomeou, você entendeu? Porque não estava tendo muitas pessoas, inscrição, aí a gente nomeou fulano, beltrano, ciclano, para ser rainha, porta-bandeira é mestre sala. E na sexta-feira também tem apresentação do Samba Enredo nosso, que a gente ensaia durante um tempo, para depois apresentar na sexta-feira também.
50:12
P2 - Sandro, você falou da pandemia, como foi esse período para você?
R - Então, esse período para nós foi amargoso, porque você viu aí tanta tragédia, aqui na nossa cidade também tivemos bastante, mas graças a Deus isso tudo passou. Mas ficamos dois anos sem fazer o carnaval aí, esse ano nós fizemos, graças a Deus, Deus deu essa oportunidade. E é isso aí.
50:45
P2 - E que você sentiu a retornar o carnaval depois desse tempo?
R - Eu senti, assim, foi bom, foi bom, graças a Deus, Deus deu essa oportunidade, apesar que muitas pessoas não podem está com a gente na rua desfilando aí, aí foi muito bom, muito bom! Apesar que a gente sente falta de alguns participantes, que participavam com a gente, não pôde, não pôde assim, não pode tá por causa da pandemia, que faleceu. Mas é isso aí, tem que pôr na mão de Deus!
51:27
P1 - Quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R - Então Consola, dentro de casa, tem horas, que até a esposa fala que eu penso muito nos outros, “você pensa demais nos outros, que não sei o quê”. Mas não sei, eu penso, eu penso, que assim, que a gente tem possibilidade de mudar muitas coisas, tem possibilidades de mudar muitas coisas, igual Rio Doce, é uma cidade pequena, uma cidade 2.800 e poucos habitantes, é uma cidade que a gente tem que mudar, porque os jovens hoje em dia em Rio Doce, está indo por outro caminho. E a gente tem que ver o mais rápido possível, de tirar eles desse caminho errado, a gente sentar, conversar, olhar alguma coisa que possa ocupar a mente deles, para não ir para o caminho errado, porque Rio Doce está ficando uma situação difícil.
52:39
P1 - O que você acha que poderia ajudar a chamar a atenção dos jovens para o positivo? Projetos, que tipo de ação você pensaria?
R - Eu acho projetos. Projetos para ocupar a mente, que eu acho que ocupando a mente você não pensa em coisas erradas, você tem a sua mente vazia, você não está fazendo nada, o cara vai pensar em coisas erradas, que a tentação está ali a todo momento, na hora que você descuida ela está ali do seu lado. Então, não sei, pensar, sentar, conversar, bolar algum projeto para trazer, hoje em dia… Você vê que Rio Doce tinha vários projetos, não está tendo mais, então eu acho que dava para retornar com esses projetos que tinha aqui dentro de Rio Doce, para recuperar, para ver se dar um basta nisso daí. porque está pesado.
53:28
P1 - E você acha, por exemplo, que a música seria uma opção boa para atrair os jovens?
R - Excelente! Excelente, a música é excelente, você vê aí que a gente tinha uma corporação musical aqui muito boa, hoje não tem mais, acabou, a gente não vê mais. Você vê que ocupava, ocupava, você vê aí, hoje em dia você vê os frutos aí, vou só citar rapidinho um fruto da corporação musical é o Leandro, que é o nosso ritmista hoje, ele participou lá, ele era de lá. Hoje ele é o ritmista que ele comanda nossa bateria tranquilo. Então quer dizer que você viu aí, o fruto que tá aí. Então, eu acho que não deveria acabar, tinha que lutar para isso aí! Tem que lutar! E não pode ficar de braços cruzados não, que o tempo tá passando.
54:21
P1 - E vocês têm planos para o futuro do Bloco do Gueto? Quais seriam esses planos? Poderia falar para a gente?
R - Então Consola, esse ano o nosso plano era fazer os carros alegóricos, mas como em reunião com a cultura, aquele tempo todo conversando, a gente decidiu trazer os bonecões, esse ano. Mas agora a gente já está sentando junto com a nossa comissão agora, estamos elaborando um projeto, para o ano que vem a gente trazer as alegorias, vamos ver com as alegorias a rainha, porta-bandeira, as baianas vão voltar de novo, já conversei até com algumas baianas, elas já estão até doidas para que chegue o ano que vem para descer. Então ano que vem a gente tá com projeto muito bom aí, se Deus quiser.
55:31
P2 - E os seus planos para o futuro?
R - Os meus planos? Então, os meus planos, o que que acontece? É igual eu tô te falando, os meus planos, que a minha esposa fala muito, que eu olho muito, que eu penso muito nos outros, a gente tem planos assim, a gente tem planos para trabalhar com esses jovens aí, para ver se… É claro que a gente não vai consertar o mundo não, mas um pouquinho que a gente fizer, eu tenho certeza que vai dar certo! A gente tá com os planos aí, para tentar trabalhar na cabeça dos jovens e tentar tirar isso aí que está acontecendo. Não é só na cidade, no mundo inteiro, os jovens hoje estão desviados bastante, então a gente tem que mexer com a cabeça deles.
56:05
P1 - Está sendo bom para você, está falando sobre a sua história, como está sendo isso? Você gostaria de falar para a gente alguma coisa que a gente não perguntou?
R - Então Consola, a gente fica até meio assim, que é a primeira vez, a gente contando a história assim, a primeira vez. O que que acontece, eu para mim, eu queria agradecer, agradecer por essa oportunidade. E queria assim, depois mostrar para vocês a primeira bateria nossa, o troféu que a gente ganhou também que eu até esqueci de falar para vocês, quando teve o primeiro concurso de bloco em Rio Doa, aí o Gueto Lançou o bloco do Jackson, aí nós ganhamos em primeiro lugar também. Fizemos o bloco do Jackson, ganhamos em primeiro lugar. A gente tem o troféu, tem tudo guardadinho, tudo para apresentar para vocês.
57:07
P1 - Você lembra qual ano que foi esse?
R - 2000 e… a minha cabeça fugiu, tá até ali no troféu, 2010, não é? 2010, acho que é isso mesmo! 2010, foi isso, é isso mesmo! Nós fizemos os blocos do Jacksons, fizemos um caixão, aí dentro do caixão, o Michael Jackson retornou, aí ele dançou em cima do caixão e tudo, ficou show de bola. Aí nós ganhamos, primeiro lugar! No segundo, perdemos, ficamos em segundo lugar.
57:39
P1 - Quem ficou em primeiro lugar no segundo?
R - Acho que foi o… como é que chama? A turma aqui da… se eu não me lembro, do Carramanchão. Aí nós perdemos, nós trouxemos o retorno das Mamonas Assassinas, fizemos um avião, os Mamonas Assassinas sair de dentro do avião, mas aí nós perdemos, não teve jeito não. Mas foi bom, foi bom, graças a Deus foi muito bom.
58:11
P2 - Tem mais alguma coisa que você queira contar?
R - Não, para mim isso aí, para mim é isso aí! Eu queria agradecer a todos vocês aí, e falar que o Gueto tá de portas abertas para quem quiser participar, é igual eu falei para vocês, a gente vai lançar, vamos fazer um projeto, levar para as escolas, para ver se a gente resgata essas crianças que estão vindo aí para o Gueto. E no mais aí muito obrigado!
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