P/1 – Cátia, bom dia! R – Bom dia. P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você me diga o seu nome completo, local e data de nascimento. R – Cátia da Costa Pinto, nasci no Rio de Janeiro, em 7 de março de 1972. P/1 – Nome dos seus pais? R – Mário da Costa Pinto e Nilda Rodrigues Pinto. P/1 – Você tem irmãos? R – Somos em dez irmãos, sete meninas e três meninos. P/1 – E na escala você é qual? R – Sou a sétima. P/1 – E me conta um pouco como foi a sua infância com tantos irmãos. R – Foi uma infância difícil (choro). Nós morávamos em uma comunidade pobre, meus pais não tinham condições para dar uma qualidade de vida melhor pra gente. Minha mãe trabalhou muitos anos como empregada doméstica, nós passamos por todo tipo de dificuldade que pessoas em comunidades carentes passam. E até hoje algumas pessoas da família continuam passando. Foi uma infância difícil, mas minha mãe sempre ensinou os valores pra gente, mesmo morando onde nós morávamos, um lugar que a gente tinha que conviver com todo tipo de gente. Era no morro, então, você convivia com bandido, com todo tipo de pessoas. Claro que a maioria é formada de boas pessoas, e mesmo estando naquele ambiente minha mãe procurou ensinar bons valores pra gente. Minha mãe era muito rígida, não permitia muitas coisas, nós crescemos naquele ambiente e eu morei naquele local até os 22 anos. P/1 – E com dez irmãos, um ajudava o outro, como é que era? R – Minha mãe trabalhava, e a gente saiu pra trabalhar muito cedo pra poder ajudar em casa. Então, quem não trabalhava e era um pouquinho mais velho tomava conta dos menores e assim foi. Era uma família grande, mas não era uma família unida, tinha muitas brigas dentro de casa, muitas discussões e tal. Mas mesmo assim a gente era obrigado a aceitar as coisas como iam. Quando minha mãe saía pra trabalhar, nós, as...
Continuar leituraP/1 – Cátia, bom dia! R – Bom dia. P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que você me diga o seu nome completo, local e data de nascimento. R – Cátia da Costa Pinto, nasci no Rio de Janeiro, em 7 de março de 1972. P/1 – Nome dos seus pais? R – Mário da Costa Pinto e Nilda Rodrigues Pinto. P/1 – Você tem irmãos? R – Somos em dez irmãos, sete meninas e três meninos. P/1 – E na escala você é qual? R – Sou a sétima. P/1 – E me conta um pouco como foi a sua infância com tantos irmãos. R – Foi uma infância difícil (choro). Nós morávamos em uma comunidade pobre, meus pais não tinham condições para dar uma qualidade de vida melhor pra gente. Minha mãe trabalhou muitos anos como empregada doméstica, nós passamos por todo tipo de dificuldade que pessoas em comunidades carentes passam. E até hoje algumas pessoas da família continuam passando. Foi uma infância difícil, mas minha mãe sempre ensinou os valores pra gente, mesmo morando onde nós morávamos, um lugar que a gente tinha que conviver com todo tipo de gente. Era no morro, então, você convivia com bandido, com todo tipo de pessoas. Claro que a maioria é formada de boas pessoas, e mesmo estando naquele ambiente minha mãe procurou ensinar bons valores pra gente. Minha mãe era muito rígida, não permitia muitas coisas, nós crescemos naquele ambiente e eu morei naquele local até os 22 anos. P/1 – E com dez irmãos, um ajudava o outro, como é que era? R – Minha mãe trabalhava, e a gente saiu pra trabalhar muito cedo pra poder ajudar em casa. Então, quem não trabalhava e era um pouquinho mais velho tomava conta dos menores e assim foi. Era uma família grande, mas não era uma família unida, tinha muitas brigas dentro de casa, muitas discussões e tal. Mas mesmo assim a gente era obrigado a aceitar as coisas como iam. Quando minha mãe saía pra trabalhar, nós, as meninas mais novas, tínhamos que cuidar de casa, fazer todo o serviço de casa e cuidar dos menores. E assim foi ao longo dos anos, até que cada um tomava seu rumo, arrumava emprego e saía pra vida pra trabalhar, pra poder ajudar em casa. P/1 – A sua mãe criou vocês sozinha? R – Meu pai... Eu não me lembro bem o tempo, mas eles são separados desde quando eu era pequena. Meu pai tinha outra família, então, não colabora muito em casa e minha mãe que era mesmo o esteio, a fortaleza. Ela trabalhava para manter os filhos, os meus irmãos mais velhos que trabalhavam também ajudavam. Mas era muita gente, a casa pequena, então, a gente passava muita dificuldade. P/1 – Mas escola, como é que funcionava? R – Todos nós estudamos, mas naquela dificuldade também. Como minha mãe trabalhava e a gente tinha que tomar conta dos menores, a gente ia pra escola com aquela apreensão porque tinha que voltar correndo pra casa pra fazer as coisas, lavar a roupa, passar, mil coisas. E não tinha tanto tempo pra estudar e se dedicar aos estudos. E também não tinha uma pessoa que incentivava, ‘você tem que estudar’, a gente ia por livre e espontânea vontade. Minha mãe ia lá, fazia a nossa inscrição e a gente ia pra escola. Mas era difícil, pra estudar também era difícil. P/1 – E tinha uma matéria que você gostava mais? R – Eu gostava de História. Mas não sei, naquela época eu não via a Educação como uma coisa muito importante, nem tinha incentivo porque eu estava estudando. Porque ninguém em casa incentiva aquilo, que eu tinha que aprender porque ia ser bom pro meu futuro, como eu faço hoje com o meu filho. A gente ia pra escola meio como uma obrigação mesmo, porque os pais obrigavam a ir. Mas a gente não tinha muita vontade de querer ir porque tinha aquela obrigação em casa, que a gente ficava preocupado, tinha que cumprir aqueles compromissos em casa, se não cumprisse tinha aquelas correções de mãe, ‘por que não fez isso, por que não fez aquilo’. A escola não era prioridade, a prioridade era estar em casa, fazer as coisas de casa e tudo o que ela determinava. P/1 – E sua mãe era a autoridade mesmo. R – Era a autoridade mesmo. P/1 – Você se lembrando que o mais importante era trabalhar em casa do que ir pra escola... R – De ajudar, ela não via a escola como uma coisa importante para o futuro. Acho que ela não tinha essa noção. Acho que também pelo que ela passou no passado dela, acho que ela não tinha noção. P/1 – E dos seus irmãos, quem era mais próximo a você, quem mais te ajudava? R – Eu ficava com a irmã um pouco depois de mim. Os intervalos não são muito grandes entre um e outro, né? Então, ficava um pouquinho depois de mim e tinha mais três mais novos. Eu e essa outra irmã dividia um pouco as tarefas, cuidando dos menores, enquanto os outros saíam pra trabalhar. E daí depois os dois mais velhos casaram e a gente também começou a trabalhar. Eu fui trabalhar com 14 anos pra poder ajudar em casa. P/1 – Mesmo com toda essa dureza, ter de trabalhar em casa e ajudar a sua mãe, sobrava tempo pra vocês brincarem? Do que vocês brincavam? R – Como era uma comunidade carente a gente não tinha brinquedo. Em casa não tínhamos dinheiro pra boneca, pra nada, então, a gente brincava na rua, no que dava. Aquelas brincadeiras de jogar bola, inventava bola com papel jornal, coisas que não precisasse ir lá comprar. Com lata, eu brincava muito com aquelas latas de óleo, de coisas que a gente inventava pra brincar, de pique-esconde, aqueles piques que tinham antigamente, mas brinquedo a gente não tinha. P/1 – Amarelinha... R – Isso, amarelinha, corda, elástico, aquelas brincadeiras que tinham. Mas brinquedo, nem eu, nem meus irmãos, tivemos com facilidade, só quando ganhamos algo mesmo. Mas não tinha ninguém com prioridade, era igual pra todo mundo. P/1 – Você sentia isso por parte da sua mãe? R – É, às vezes a gente percebe isso, uma mãe que tem preferência por um filho, mas lá em casa era todo mundo tratado da mesma maneira. P/1 – Me diga o nome dos seus irmãos. R – Júlio, Tânia, Isabel, Ana Cláudia, Maria de Lurdes, eu, Fabiana, Alessandra, Luiz Alberto e Luiz Henrique. Acho que falei todos. P/1 – Com quantos anos você começou a trabalhar? R – Com 14. P/1 – Como é que foi? Você escolheu, sua mãe escolheu? R – Não. Era meio assim, era uma decisão meio lógica, todos passaram pelo mesmo processo, chegava uma tal idade, já saía pra trabalhar. Eu via necessidade em casa, e se eu trabalhasse teria mais um apoio, eu mesma decidi. Aí, fui procurar saber como tirar os documentos. Como eu era menor, um responsável tinha que me acompanhar, meu pai foi comigo pra tirar os documentos e eu mesma comecei a andar pra procurar emprego, sozinha, perguntando a pessoas, amigos. Aí, eu achei um trabalho em uma fábrica de roupas, meu primeiro trabalho, em Jacarepaguá. P/1 – Era perto de onde você morava? R – Era mais ou menos uns 40 minutos de onde eu morava. P/1 – E você ia fazer o que na fábrica? R – Era uma fábrica de jeans, eu trabalhava no cargo de Expedição, onde conferia detalhes da roupa, via passador, botava botão, botava etiqueta na roupa. Era uma pré-finalização. Via se tinha alguma linha pendurava e cortava, fazia o acabamento. Na verdade era Acabamento o nome da seção. Trabalhei ali por um bom período. P/1 – E era integral? R – Era um horário puxado, pegava às sete horas da manhã e só saía às seis. Eu era menor e mesmo assim era bem puxado o horário. P/1 – Aí, você parou o estudo... R – Aí, eu não estudava mais. Depois de um tempo que eu me inscrevi pra estudar de noite e comecei a fazer supletivo à noite. P/1 – Vamos com calma. Você ainda tava na fábrica... R – Ainda trabalhando, aí, eu chegava, vinha correndo pra casa pra poder ir pra escola, que a escola era bem perto da minha casa. Saía, chegava em casa rapidinho, tomava um banho e ia pra escola. P/1 – Ainda era a mesma escola? R – Ainda era a mesma. P/1 – Como era o nome da sua escola? R – Escola Municipal Paraná. E de noite ela virava escola estadual, a mesma escola. E ficava ali no mesmo bairro que eu moro até hoje, chama Campinho. Era bem pertinho de casa, então, vinha correndo e ia pra escola. E era uma escola primária. Aí, eu terminei o primário e o ginásio estudando de noite. P/1 – Você que decidiu? R – Eu que decidi, era vontade própria. P/1 – E o trabalho era muito puxado? R – Era bem puxado, era tipo de regime militar, não podia nada, nem olhar pro lado. Não podia falar, não podia namorar. Horário de almoço era super rígido, não tinha moleza. P/1 – Tinha outros jovens como você, da mesma idade? R – Muitos. Quase todo mundo da mesma idade. Eu acho que aquela fábrica devia ter alguma política de contratar jovens, aprendizes. Eles chamavam até de aprendizes na época, mas pra acho que era bastante exploração, pensando nos dias de hoje, que os jovens têm tantas oportunidades e trabalham com horário determinado e tal, eu não, era o dia inteiro. P/1 – E tinha algum benefício além do salário? R – Não, era um salário péssimo, e nem tinha transporte, porque só tinha transporte para ir, na hora de voltar eles tinham um ônibus que trazia as pessoas pra casa, e me deixava perto de casa. Almoço não tinha, a gente tinha que levar de casa, e assim foi. Eu me lembro que na hora do almoço não podia juntar os meninos com as meninas, se eles soubessem que um estava namorando outro os dois eram demitidos, tinha umas políticas complicadas dentro da fábrica. Mas pra mim na época era normal, não aceitava, mas na época tinha que trabalhar, então, ia levando. P/1 – Cátia, você jovem, 14 anos, começando a descobrir o mundo, a querer namorar, bem na idade que começa o primeiro namoro. Como é que foi? Você tinha alguma paquera, sobrava tempo pra dar uma paquerada, sua mãe deixava? R – Minha mãe era rigorosa com tudo, ela queria mandar em tudo, a gente não podia fazer nada. Ela não deixava namorar, mas depois de uma certa idade ela começou a deixar, mas aquela rigidez de horário: “Você vai sair, mas tal hora você tem que voltar”. E se não voltasse, tudo pra ela era na base de castigo. P/1 – E você obedecia ou dava pra dar umas escapadas? R – Eu obedecia legal. Alguns dos meus irmãos não obedeciam, mas até que eu andava bem. P/1 – Quando foi o seu primeiro namorado? Foi mais tarde? R – Eu tinha 17 anos. P/1 – Foi bem mais tarde. R – É. P/1 – E alguma outra irmã trabalhava com você na fábrica? R – Não, nesse local era só eu mesmo. E eu andava muito com uma amiga nessa época e ela foi trabalhar na mesa fábrica comigo, a gente começou a procurar emprego juntas. Trabalhava, estudava na mesma escola, a gente era bem unida. Eu não era muito unida com meus irmãos, essa amiga minha era como se fosse uma irmã. P/1 – E você dava seu salário todo em casa, como você fazia? R – Dava quase todo em casa, ficava com uma pequena parte, pra comprar um calçado, algo de uso pessoal, mas uma boa parte era praticamente obrigada a dar em casa. P/1 – E os seus irmãos também faziam. R – Todo mundo igual. P/1 – E o que mais você lembra desse período? Dava pra dar uma saída no fim de semana, ir ao cinema? Como você se divertia? R – Quando tinha dinheiro ia no cinema. Tinha um baile lá perto de casa que a gente gostava de ir, ia uma galera lá do bairro onde eu morava. Em geral no domingo. P/1 – O que você gostava de ouvir e dançar nessa época? Era anos 80... R – Era anos 90. Eu lembro que nessa época eu gostava muito de RPM, Paralamas do Sucesso. Tinha uma época que tinha muito funk melody, que tem ainda hoje, mas começou naquela época. A gente adorava, dançava a beça no baile. Mas ao mesmo tempo tinha essa parte do pop, dos anos 80, 90. E vem Paralamas, RPM, Titãs, Capital Inicial. Então, lá na minha casa tinha muita mistura de música, cada um gostava de um estilo diferente, ouvia-se de tudo lá. Minha mãe gostava de forró, samba; meu irmão mais velho já gostava de MPB, uma outra amava o Roberto Carlos, tinha dias que tinha que passar o dia inteiro ouvindo Roberto Carlos (risos). Então, passamos a gostar de estilos diferentes e é assim até hoje. P/1 – E você também gostava de dançar. R – Gostava. P/1 – Como era esse baile que você ia? R – Era perto também, o clube continua lá até hoje. P/1 – Qual é o nome? R – Clube dos Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica. E por acaso ainda hoje eu vou lá, agora negócio de samba, continuo indo lá no mesmo clube, mas voltei há pouco tempo. Mas continua funcionando lá no mesmo local. P/1 – Você ainda mora perto de onde você cresceu? R – É, continuo morando ali na mesma localidade. Só que quando eu era pequena, era ali atrás, hoje em dia chama favela, mas na época a gente dizia que era no morro. Então, morava no morro, lá em cima, e agora eu moro embaixo, é uma rua atrás de onde eu morava, mas é na subida dessa comunidade onde eu morava quando pequena. P/1 – E você ainda tem contato com as pessoas da vizinhança? R – Ainda continuo vendo as pessoas, mas eu não tenho muito contato. Tenho amigos que continuam morando lá e me convidam, às vezes, tem o aniversário do filho, ou da pessoa, me chama e eu vou, continuar visitando as pessoas lá, meus amigos e tal. Encontro as pessoas na rua que eu penso não vão nem lembrar do meu nome, meu apelido quando criança era Caca, e as pessoas passam e dizem: “Ô, Caca!”. Nossa, como é que essa pessoa se lembra de mim? Volta e meia ainda encontro com um ou outro, mesmo convívio de antes. P/1 – E por quanto tempo você ficou nessa fábrica de jeans? R – Acho que um ano e dois meses, mais ou menos. P/1 – E por que você saiu? R – Saí porque comecei a ver que não era legal, era muita exploração e ganhava pouco, aí, eu comecei a buscar um outro trabalho que pudesse ganhar um pouco mais. P/1 – E o que você achou? Foi pra onde? R – Não sei, eu acho que fui trabalhar como balconista numa loja que vendia pratas. Ela nos conhecia da minha mãe e me chamaram pra trabalhar com eles no Méier. E também fiquei lá um bom tempo trabalhando com esse pessoal, mas não tinha carteira assinada, não tinha nada. P/1 – Mas o salário era um pouco melhor? R – Era um pouco melhor, tinha o horário, mas não tinha aquela rigidez da fábrica. Dali, quando eu fui trabalhar lá como balconista, a gente começa a conhecer outras pessoas, observar e ver outras situações que você queria conquistar e começava a pensar. Eu pensava muito, desde pequena eu morava ali naquela situação, tal, mas não me conformava muito com aquilo, não. Não achava justo. Aí, eu comecei a pensar e ver coisas que eu poderia fazer pra melhorar. Inventava, fazia um artesanato, alguma coisa pra poder melhorar a renda, sempre estava pensando em alguma coisa que eu tinha que fazer para melhorar, melhorar de vida, melhorar de renda. P/1 – Que tipo de artesanato você fazia? Bijouteria? R – Era uns cordoezinhos, achava que ia ganhar alguma coisa, mas na verdade... Fazia arranjos de flores de tecidos também, fiz bastante, vendia. P/1 – E você vendia onde? R – Vendia pras pessoas, conhecidos, amigos. Não tinha tanta gente assim pra mostrar, era só no círculo de amizade nosso. Era tudo muito barato, mesmo porque não podia vender nada caro, ninguém tinha dinheiro. Mas foi assim, levando. P/1 – Dava um dinheirinho a mais. R – É. P/1 – Cátia, é difícil trabalhar com vendas? Como é essa relação do balcão... R – Eu acho que continua assim até hoje, se você trata o cliente bem ele volta, e te trata bem também. Você tem que ser educado, tratar a pessoa com respeito, tem que ser assim. Os clientes gostavam de mim, tinha cliente que ia naquela loja porque eu trabalhava lá, porque eu atendia bem, porque dava uma atenção especial pra pessoa. Perguntava ‘como vai a senhora hoje’, procurava sempre manter um diálogo com as pessoas, e assim eu fiquei ali um bom tempo, nunca tive problema de relacionamento com ninguém, todo mundo gostava de mim e assim foi. P/1 - E você gostava de trabalhar lá? R – Gostava. Gostava mas também, sabe quando a gente começa a perceber que não é bem aquilo que você quer ainda? Eu fiquei durante um tempo, gostava, e comecei a perceber que não era bem assim. Eu saí de lá dessa vez porque eles me mandaram embora, a justificativa que o dono deu é que não tinha mais dinheiro pra pagar salário. Dali, eu fui demitida, não saí porque quis, não. E fiquei desempregada um bom tempo, foi um momento difícil, que os jovens passam procurando emprego. Pra mim era como se fosse o primeiro emprego porque eu não queria mais trabalhar como balconista, não queria mais trabalhar em fábrica, eu queria trabalhar em um escritório. P/1 – Pois é, eu queria explorar um pouco mais esse lado, você sempre pensou como poderia melhorar. O que passava pela tua cabeça, o que você queria fazer mesmo quando você pensava “eu não quero continuar aqui”? R – Eu não tinha bem uma noção do que eu queria fazer, eu sabia que eu tinha que fazer alguma coisa pra melhorar, mas eu não sabia o que eu tinha que fazer. Alguma coisa me batia assim, ‘esse negócio não tá legal, vou procurar alguma coisa pra melhorar’. Aí, um tio meu pagou um curso de datilografia para eu fazer, aquelas máquinas antigas, manuais. E aquilo foi importante pra mim, porque dali foi que eu consegui um emprego como datilógrafa aqui no centro e comecei o convívio com a parte de escritório. P/1 – Quantos anos você tinha? R – Eu ia fazer 17. Eu vim trabalhar como datilógrafa na Secretaria Estadual de Cultura, era um contrato com aquelas empresas terceirizadas. E eu trabalhava no gabinete da Secretária de Cultura, na época era a Aspásia Camargo. Ela era bem legal. Mas a gente era terceirizado, então, não tinha muito direito. Também era uma exploração danada, passava meses sem receber. P/1 – É mesmo? R – É. P/1 – Mesmo pela firma. R – Mesmo pela firma. Ficava meses sem receber porque a Secretaria não repassava pra empresa, a empresa não repassa pra gente. Ali eu comecei a conhecer (choro) uma secretária, ela foi importante pra mim, porque ela me incentivou a estudar de novo. Eu tinha parado de estudar e ela sempre me falava, começou a colocar na minha cabeça que estudar era importante, que eu tinha que buscar mais conhecimento. Tudo o que ela podia me ensinar, ela me ensinava. Eu não tinha nem 17 anos ainda. Aí, ela me incentivou. Eu não tinha segundo grau ainda e ela falou: “Vai fazer a inscrição que você vai fazer o segundo grau”. Ela mesmo buscou. P/1 – Qual era o nome dela? R – Dona Zilda, era secretária do Assessor Especial da Secretária. Como era secretária estadual, ela tinha contato com o pessoal da Educação também, fez minha inscrição em um colégio na Vila Isabel. E eu fui lá, trabalhando, saía direto da Secretaria, fui fazer o segundo grau. Chegava em casa quase meia-noite já, saía do colégio, mas fiz o segundo grau ali até o fim. E trabalhando com ela, fiquei lá sendo assistente da secretária. P/1 – Você trabalhava direto com essa dona Zilda? R – É, ela era secretária do subsecretário, e eu era assistente dela. Quando ela ficou doente, teve que sair e ficou sem secretária, eu acabei ficando no lugar dela (choro). Por alguns anos eu mantive contato com ela, mas hoje não sei mais dela. Mas o sub-secretário, na época ele não queria que eu ficasse porque eu era muito nova, ele falava: “Não vai dar conta do trabalho, é muito nova. Ela não sabe as coisas” “Mas ela estava me ensinando tudo”. Ela praticamente me ensinou o serviço dela todo. Então, quando ela saiu, eu fiquei no lugar dela sem problema nenhum. P/1 – Dando conta de tudo. R – Dando conta de tudo. Então, eles ficaram muito impressionados comigo porque eu dava conta de tudo, fazia tudo, mas não ganhava praquilo. Assumi um posto que eu não tinha idade, não recebia praquilo. Também não tinha noção. P/1 – Você continuava pela firma terceirizada... R – Continuava pela firma terceirizada. E quando mudou o governo, acaba com esse negócio de contrato, todo mundo sai. A empresa saiu, esse subsecretário foi trabalhar em um lugar em Laranjeiras, e ele me levou para eu ser secretária dele. Mas não tinha registro, não tinha nada. Tinha um salário um pouco melhor, mas sem registro. Aí, fiquei trabalhando lá um bom tempo com ele. O nome dele é Rangel Bandeira, ele tá hoje no Viva Rio, é o coordenador do desarmamento. Quando tem esses eventos da Brazilfoundation eu até encontro com ele. Eu fiquei lá trabalhando um tempo com ele. Diz ele que pagava o meu salário do bolso dele, que não tinha um contrato com a secretaria, que era ele que me pagava. Fiquei um bom tempo com ele. Teve uma outra virada de governo e ele me indicou pra trabalhar com a esposa dele, que foi quando eu entrei nessa área social. Tinha um centro que apoiava meninos de rua. Eu fui trabalhar com a esposa dele, ainda fiquei trabalhando um pouco com ele, nos dois empregos. P/1 – Era uma ONG? R – Era uma ONG. Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Cuidava de menino de rua, não tinha atendimento direto, mas tinha alguns programas que levavam até eles, para atender os meninos na rua, com psicóloga, assistente social, encaminha para abrigos, tal. P/1 – E lá você fazia o quê? R – Acabei sempre trabalhando na parte administrativa, desde nova, acabei sempre nesse caminho. P/1 – Mas você acompanhava o trabalho da ONG? R – Eu acompanhava porque acaba que essa parte administrativa tem sempre uma ligação com todas as áreas. Começa ou acaba terminando ali, tem sempre uma participação. O pessoal precisa de dinheiro, tem que falar comigo, tem que pedir alguma coisa, tem que comprar alguma coisa. Eu não gostava de ir pra rua, de participar das atividades na rua porque eu achava perigoso, tinha medo. Mas eu achava um trabalho bonito e me esforçava pra poder ajudar a instituição em tudo o que eu podia. P/1 – E nisso você estava fazendo o segundo grau? R – Não, eu já tinha terminado. Eu terminei o segundo grau enquanto eu estava na Secretaria, quando eu fui pra Laranjeiras junto com o Rangel eu já tinha terminado o segundo grau. Eu não estudei mais, parei ali. Fiz alguns cursos até, mas de graduação eu parei ali. P/1 – E Cátia, quanto tempo você ficou na Secretaria? R – Eu acho que uns quatro anos. P/1 – E esse seu tio que pagou o seu curso de datilografia, ele era irmão da sua mãe? R – Na verdade ele não era nosso tio de sangue, não. Ele era padrinho de uma das minhas irmãs. E foi uma pessoa super importante pra gente porque ele apoiava a gente em tudo que podia. Ele fazia compras, ele comprava roupa pra gente, ele era como se fosse o nosso pai. O que o pai não fazia, ele procurava fazer pra ajudar. P/1 – Retomando, você tava contando do seu tio que ajudava vocês. R – Ele é padrinho da minha irmã Maria de Lurdes, ele era como se fosse um pai pra gente, toda necessidade que ele podia suprir, ele fazia de tudo pra suprir. Eu disse pra ele que eu queria fazer curso, e ele disse: “Então, você procura um curso pra você fazer”, foi quando ele pagou esse curso de datilografia para eu fazer, que me permitiu ir pra um outro tipo de trabalho, escritório, como eu queria. E assim ele continuou ajudando a gente por um bom tempo ainda. Pensando agora, eu não sei como encontrá-lo, a gente se perdeu no meio da história e hoje em dia eu estou sem contato com ele. Mas ele foi uma pessoa importante demais pra nossa família. P/1 – O que você acha que foi decisivo para sua formação? O curso de datilografia, foi você ter continuado a estudar. O que você acha? R – Acho que foi mais o apoio. Depois de ter encontrado a dona Zilda na secretaria, o apoio que ela deu e mostrar que eu tinha que estudar mais, que eu tinha que buscar mais informação, que eu tinha que ler. Sabe, começou a colocar outras coisas na minha cabeça, mostrar um mundo diferente, de coisas que eu poderia conquistar. Dali que eu comecei a perceber mais o mundo e onde eu gostaria de chegar. Mas aí, eu comecei a namorar um rapaz, e sei lá, meus objetivos acabaram mudando. Eu também fiz um curso de inglês no meio desse processo, pago já pela ONG, porque ela tinha muito contato com o pessoal da Inglaterra, então, tinha necessidade de entender um pouco de inglês. Nesse período eu já tinha 21 anos, mais ou menos, trabalhando lá nessa ONG, aí eu conheci o pai do meu filho, casei, tive filho, e aí os objetivos começam a mudar. P/1 –Você disse que teve o seu primeiro namorado aos 17 anos. Você foi muito namoradeira? R – Não. Eu tive esse namorado que eu comecei a namorar quando eu estava pra fazer 17 anos e fiquei namorando com ele até os 21 anos. P/1 – Mas foi o mesmo? R – O mesmo namorado. Até eu conhecer o pai do meu filho. P/1 – E o pai do seu filho foi paixão? R – Depois que eu me separei desse, de anos, eu passei um tempo só. Mas eu já conhecia o pai do meu filho porque ele era amigo nosso. P/1 – Como é o nome dele? R – Ronaldo. Ele já era nosso amigo de sair, de conversar, de se encontrar no final de semana, não era estranho pra mim. Depois que eu me separei, passei um tempo só e depois começamos a namorar. P/1 – E seu filho nasceu quando você tinha quantos anos? R – Eu ia fazer 24. Eu casei, fiquei uns dois anos sem ter filho, trabalhava, e engravidei depois. Mas eu engravidei porque eu quis mesmo. P/1 – Foi programado, você estava querendo? R – Eu não tinha condições, mas foi programado, sim. Eu tive filho porque nós dois queremos. P/1 – E o seu filho nasceu, qual é o nome dele? R – Luiz Gustavo. Nasceu em 1996, hoje está com 14 anos. P/1 – E você só tem ele? R – Só tenho ele. E não pretendo ter mais filho, não, só esse mesmo. P/1 – E você continua casada? R – Não, eu me separei. P/1 – Mas como é que foi a sua vida de casada? Você mudou, continuou morando perto? R – No início, quando eu casei eu me mudei daquele bairro, fui morar em um bairro próximo, já não morava ali naquela comunidade. Mudei pra um outro local, fiquei morando nesse bairro uns quatro anos. Depois de um tempo, como era um local próximo mas eu não tinha uma pessoa de apoio, que me desse uma infraestrutura, aí, decidi voltar pro bairro onde eu nasci porque ali estavam minha mãe e minhas irmãs que poderiam me dar um apoio com o Gustavo, que era pequeno. Minha mãe que ia lá em casa pra me ajudar com ele, para eu trabalhar. E eu decidi voltar pro bairro porque ali tinha uma creche próxima, também tinha minha família que poderia me dar apoio para levar ou pegar ele na creche. Então,voltamos pra esse bairro. Fiquei casada com o Ronaldo por 11 anos. Nossa vida inicial de casado foi boa, no meio deu bastante dificuldade. Mas foi boa. Depois começamos com alguns problemas, ele era muito ciumento, tinha muito problema com isso, ele não entendia porque eu fazia curso, que eu queria estudar, ele não entendia nada. Tudo o que ele podia me segurar pra não fazer, ele fazia. P/1 – Ele não te acompanhava. R – Ele não me acompanhava, ele achava que eu queria ir pro mundo sei lá pra quê, ele pensava. Tudo o que ele podia fazer pra me segurar, ele segurava. Ele começou a querer me proibir de falar com minha própria família. No casamento a gente vai fazendo as coisas meio sem perceber, você diz “não vou fazer isso, não vou fazer aquilo”, mas as circunstâncias acabam levando você a aceitar, você fica naquele comodismo, vai levando a vida, os anos vão passando. Mas eu continuava achando que aquilo não era pra mim, eu não queria aquela vida, queria mudar, eu queria ser diferente, eu queria mil coisas. Aí, chegou um tempo que eu falei pra ele que eu queria me separar dele. Quando eu falei que queria me separar, aí, começaram os problemas mais sérios. E tive problema com violência (choro), foi muito difícil a minha separação, mas eu não desisti. Mesmo com todas as ameaças, ele começou a fazer uma porção de ameaças, que ia fazer isso, ia fazer aquilo, não só comigo, mas com outras pessoas da minha família também, ameaçava todo mundo. Mas mesmo assim eu decidi enfrentar, me separei dele. Nessa época que eu me separei eu já estava trabalhando com a Susane. Foi difícil, foi uma separação difícil, mas foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, nunca me arrependi de ter me separado dele. P/1 – Cátia, você diz que desde pequena você tem essa coisa de “eu quero mudar, eu quero fazer outra coisa”, a decisão de separar, tava difícil, mas você vai, enfrenta. Você tinha noção disso? Como é que você processa isso? R – Eu não tinha noção de porque eu tava fazendo aquilo, eu só não queria passar dificuldades, não queria aceitar que as pessoas ficassem me mandando, queria ter uma qualidade de vida melhor, queria poder ter uma casa bonita e algumas coisas que eu via as pessoas tendo, por que eu não tinha aquilo? Eu comecei a pensar que meios que eu tinha que buscar pra ir conquistando as coisas. Mas tudo foi acontecendo de maneira natural, não tinha tanta consciência aqui. Você vê que isso é diferente porque eu não vejo isso nos meus outros irmãos. Todo mundo ficou meio parado ali, não tem esse, “eu vou buscar, vou isso, vou aquilo”, ficou todo mundo meio parado ali no tempo, e eu fui indo, fui indo, fui evoluindo. Claro que com a ajuda de várias pessoas e tal, que me deram oportunidade, mas eu também fiz por onde, segurei a oportunidade, busquei mais informações, mas o restante parece que ficou parado ali no tempo. P/1 – Ele também, porque ele sabia que você queria evoluir. R – É. Ele até que evoluiu um pouco, eu continuo com contato. P/1 – O que ele faz? R – Meu ex-marido? P/1 – É. R – Ele é policial militar. Ele evoluiu do jeito dele. A gente continua em contato, a gente conversa e tal, ele nunca se conformou da gente ter se separado, até hoje não se conforma. Mas hoje a gente consegue conversar bem, até ter uma certa amizade. Mas eu sempre mantenho ele um pouco à distância porque eu já sei das intenções dele. E hoje ele percebe. Porque eu falava pra ele: “Ronaldo, a gente tem que buscar, a gente tem que estudar, a gente tem que se informar. Eu conheço pessoas, eu tenho amigos, as pessoas me ajudam, não sei porque você tem essa cisma com todo mundo, que você quer me afastar das pessoas, você não quer que eu estude, que eu fale com as pessoas”. Ele queria me isolar das pessoas, daí, quando eu me separei, eu me lembro que eu não tinha ninguém, não tinha amigos. Minha família estava ali, mas como não é uma família unida e tal, a família não sabia absolutamente nada do que se passava comigo, sabia muito pouca coisa. P/1 – Você pode repetir quantos anos você ficou casada? R – Onze. Eles não sabiam muito das coisas que aconteciam no meu casamento. No final, na separação, eles ainda ficaram sabendo uma coisa ou outra, mas não sabem muita coisa a fundo do que acontecia. Eu tinha medo de falar pra eles, e eles denunciarem alguma coisa. Mesmo assim eu nunca denunciei o Ronaldo, nem nada. E assim foi passando. P/1 – E desses cursos que você falou que ele começou a sentir ciúmes, o que você foi... R – Eu tava até te falando, quando eu me separei eu me senti sem chão, sem amigos, sem ninguém, aí, eu voltei a ter contato com duas amigas minhas antigas, elas me ajudaram a seguir um pouco mais, ter coragem pra enfrentar a situação, tal. E assim fiquei. P/1 – Da ONG dos meninos você foi pra onde? R – Eu trabalhei nessa ONG por bastante tempo, porque eu trabalhava com esse Rangel, ao mesmo tempo trabalhava com a esposa dele, então, trabalhava com os dois. Depois que eu saí dessa ONG eu comecei a trabalhar com outra moça em Ipanema, o nome dela é (Débora Cavalcante, ela é ?). Eu trabalhava nessa ONG e também trabalhava com ela nas horas que eu tinha disponíveis, fazia uns serviços com ela. Então, tava sempre em um lugar, no outro, pra chegar bem tarde em casa e não ter muita coisa pra pensar. Essa ONG que trabalhava com meninos de rua, essa chefe que eu tinha era portuguesa, ela trabalhava pra Organização Nacional de Saúde e ela era muito conhecida internacionalmente nesse meio de ONGs. P/1 – Qual é o nome dela? R – Ana Filgueiras. Ela ficou muito tempo em Angola trabalhando pela Organização Mundial de Saúde, e ela decidiu que ela ia embora pra Portugal. Até pensou em me levar, mas porque eu tinha conhecido a criatura eu resolvi que eu não queria ir pra Portugal, queria ficar com ele e fiquei. Ela resolveu ir embora e entregou a direção dessa ONG pra uma outra pessoa, e ela resolveu mudar. Ela continuou trabalhando com meninos de rua por um tempo, mas resolveu mudar o objetivo para apoio a criança desaparecida. E essa pessoa que passou à direção era advogada e começou a aparecer nos casos de todo tipo de violência com crianças. Por exemplo, no assassinato da Candelária ela tava lá, naquele pessoal do Vigário Geral ela tava lá. Em casos que ninguém mais queria trabalhar, ninguém queria pegar, tava lá a Cristina Leonardo. Ela mudou completamente o foco de atuação de meninos de rua pra essa história de criança desaparecida e defesa dos direitos também. E aí, fiquei trabalhando com ela por um bom tempo. P/1 – Na parte de administração. R – Também na parte administrativa, secretariado. E aí, a Nádia começou a trabalhar com ela. Foi lá que eu conheci Nádia, a Nádia que tá aqui agora. Continuei trabalhando lá na área de administração com ela e tal, não participava muito das atividades externas, ficava mais dentro do escritório mesmo. Mas ali comecei a ter muito contato com as mães de crianças desaparecidas, fazia cartazes pra ela, aquelas manifestações que faziam na Cinelândia. Só que ali era muito difícil conseguir recurso, a gente passava meses sem receber um centavo. Lembro que nós passamos oito meses sem receber, eu já tava casada, com filho pequeno, foi muito difícil. Acho que foi um dos momentos mais difíceis porque quando a gente tá sozinho a gente vai se virando, mas depois quando entra filho no meio a coisa muda de figura. Então, depois eu fui pensando que eu não podia mais continuar naquela situação, tinha que buscar outra coisa. E fui trabalhando com essa pessoa aqui de Ipanema, a Débora, também trabalhando com ela como uma espécie de secretária particular. Ela é , então, ela fazia um serviço para uma empresa de São Paulo fazendo aplicação de cores em ambientes, carpetes, pisos e não sei o quê. Mudou completamente o foco de atividade. E ela também era uma pessoa muito detalhista com as coisas, gostava de tudo muito bem organizado, era uma pessoa que tinha a visão artística, ela gostava de tudo organizado, mas não sabia como organizar. Então, nós juntamos um pouco as idéias porque ela viajava nas idéias porque artista, e eu ajudava ela a organizar os trabalhos dela. Passei um bom tempo lá trabalhando com ela. E ela também era uma pessoa excelente, que me dava apoio, e me mostrava que eu tinha mesmo que melhorar de vida, e não podia continuar naquele lugar. Tudo o que ela podia fazer pra me ajudar ela fez. Também chegou uma época em que ela não tinha mais dinheiro pra me pagar. Ela teve uma crise e não pode mais. Foi quando ela me indicou pra trabalhar com a Susane. Ela morava em Ipanema, conhecia a Susane, acho que não era uma amiga tão próxima, mas tinha uma outra amiga que unia as duas, e ela me indicou pra trabalhar com a Susane. Eu comecei a trabalhar com a Susane lá na Associação Cultural. P/1 – Antes da gente entrar na parte da Susane, o que a maternidade mudou pra você, na sua cabeça, na sua vida? R – Acho que me deixou mais forte pra poder enfrentar as coisas, porque eu não tinha que buscar só pra mim, eu tinha que buscar pra família. No início eu comecei a buscar para a família, mas depois, quando eu comecei a ver todos aqueles problemas que eu tive no casamento, eu comecei a pensar em mim e no meu filho. E quando eu me separei ele tinha sete anos. Ele via tudo o que acontecia, era muito inteligente, não precisou falar muita coisa. Só falei pra ele: “Filho, vou me separar do teu pai e vou procurar outra casa pra gente morar”. E ele: “Vou te ajudar a procurar”. Ele sempre esteve do meu lado, desde pequeno ele foi muito companheiro, acho que ele foi uma força para eu poder seguir pra frente. P/1 – E você chega na Susane. O que foi passado pra você fazer, você foi lá pra trabalhar com ela... R – Eu fui pra trabalhar com ela na Associação Cultural. Eu me lembro que ela tinha uma outra moça que tava trabalhando com ela que tava gravida, parece que ia entrar de licença e não ia voltar mais. Foi quando eu comecei a trabalhar dois dias por semana com ela lá. Também na mesma coisa, na área administrativa, pra ajudar a organizar os documentos, nos contatos que ela ia fazer da associação. P/1 – E era associação o quê? R – Associação Cultural de Estudos Contemporâneos. Comecei a ajudar a Susane nos projetos culturais que ela fazia, exposição, uma série de projetos na área cultural. Foi quando começaram os contatos com a Brazilfoundation lá em Nova Iorque. P/1 – E como é que foi esse início? E você tava indo só duas vezes na casa da Susane. R – Na casa da Susane, lá no Leblon. Eu me lembro que elas começaram a conversar, Susane e Leona, pra passar as idéias iniciais, mas eu não tinha noção do que era aquilo. E me lembro que lá na casa da Susane ainda, foi feita uma reunião do que a Leona chamava de “Amigos da Brazilfoundation”. Eram umas 20 pessoas, pessoas influentes da área intelectual, que ela reuniu lá na casa da Susane para apresentar a Brazilfoundation, pra discutir o que cada um podia fazer pela Brazilfoundation. E aquele foi o primeiro contato que eu tive com a Brazilfoundation. P/1 – Você acompanhou a reunião? R – Acompanhei, ajudei a montar a sala pra poder receber as pessoas, tal. Mas naquela época eu não tinha noção do que era aquele trabalho, porque eles estavam fazendo aquilo. Eu trabalhava porque eu precisava, acho que qualquer coisa que me dessem, que me oferecessem um salário razoável para eu sustentar minha família, eu iria trabalhar. Não sabia o que era a Brazilfoundation, o que aquilo iria impactar a vida das pessoas, o objetivo, onde eles queriam chegar, não sabia nada. Só fui trabalhando porque foi preciso, a Susane perguntou se eu podia, “Você pode trabalhar mais um dia?” “Posso”. Quando eu pensava, vou ter mais um dinheiro. Aí, fui trabalhar mais um dia pra fazer as ____ da Brazil Foundation que começaram a surgir. E ficamos ali, e a Brazilfoundation foi tomando mais espaço que a Associação Cultural e ficamos ali na casa da Susane uns sete ou oito meses. P/1 – Um bom tempo. R – É, foi bastante tempo. P/1 – E você já ia mais do que dois dias. R – Já, já ia mais do que dois dias. Eu acho que já passei a ir três dias, depois comecei a ir todos os dias, conforme foi aumentando o volume do trabalho, e passei a ir todos os dias. Nesse processo nós começamos a pensar na estrutura, na criação da Brazil Foundation, instituição da Brazilfoundation aqui no Brasil. Mas esse contato não era feito por mim, da Leona e do Marcelo, que era o Diretor Jurídico, com o pessoal da Tozzini e Freire, da Assessoria Jurídica aqui no Brasil pra fazer a criação da Brazil Foundation aqui, nos trâmites de documento e tal. Então, eu só ajudava, precisava de uma certidão, não sei o quê, buscando os documentos que ajudassem na implantação da Brazil Foundation. Esse período em que estivemos na Susane foi preparando toda a documentação necessária pra poder arrumar o escritório e vir pra cá. O documento da Brazilfoundation foi registrado no final de dezembro de 2001, tem data de 18 de dezembro 2001. Os documentos da Brazil Foundation Rio, mas a Brazil Foundation Nova Iorque já existia desde 2000, os trabalhos começaram lá. P/1 – Ela já estava como pessoa jurídica em Nova Iorque. R – É. Ela foi constituída, se não me engano, em junho de 2000. P/1 – E são constituições diferentes? R – São diferentes. Eu não sei explicar porque teve essa característica diferente, mas lá foi constituída em 2000 e lá eles chamam Brazilfoundation mesmo. Aqui teve algum entrave na hora de fazer a documentação e teve que botar o nome Associação na frente. Tentamos registrar como Brazilfoundation, mas aí cai naquela história de ser fundação, e fundação tem uma característica diferente para registro de associações. Então, por isso teve que botar um nome, Associação, na frente, ficou Associação Brazil Foundation. P/1 – E no próprio documento de criação tem algum vínculo com... R – Não, na época foi só o registro daqui mesmo. Tinha o nome das pessoas envolvidas, tinha a Leona, o Marcello Hallake que era Diretor Jurídico, a Roberta Mazzariol, mas não tinha ligação nenhuma com o escritório de Nova Iorque, nada no documento que dissesse que a Brazilfoundation de Nova Iorque era uma afiliada, alguma coisa assim. Depois de um tempo que isso entrou, mas na época do registro não teve, não. P/1 – Você falou Roberta... R – Roberta Mazzariol, era a Tesoureira; e o Marcelo, o Diretor Jurídico. Diretora Financeira, né? Os dois continuam até hoje. P/1 - Qual foi a primeira instalação da Brazilfoundation? R – Antes do registro dos documentos a gente já começava as movimentações, a Susane recebia algumas pessoas, as pessoas da Avina, e começou a fazer uns contatos pra poder seguir com montagem do escritório e tal. Aí, começou também a fazer contatos pra ver parcerias, que tipo de parceria poderia ser feito pra conseguir o escritório, porque a gente não tinha dinheiro pra pagar aluguel, ainda não tinha nenhum recurso, então, tinha que arrumar um parceiro que oferecesse o espaço de graça. E assim ela conseguiu, acho que através da Heloísa Coelho, que é Diretora do Riovoluntário, que conseguiu que dividíssemos o espaço com o Riovoluntário aqui na Santa Luzia. Então, ficamos um tempo ali, fomos pra lá no final de 2001, depois que estávamos com o registro na mão. Se não me engano é Rua Santa Luzia, número 1085, pra dividir uma sala com o Riovoluntário P/1 – Então, retomando. Você já estava lá na Brazilfoundation, já estavam na Rua Santa Luzia. Vocês já tinham alguma renda? R – A Fundação Avina doou um recurso pra fazer a montagem do escritório. E com aquele dinheiro nós compramos uns móveis. Eram três salas, a gente ocupava uma sala maior e o Riovoluntário umas duas outras salas, as outras dependências eram divididas. Ali nós compramos os móveis, uma mesa de reunião, uma mesa pra Susane, uma pra mim, computador pra ela e outro pra mim. Na época éramos só nós duas e era mais do que suficiente pra gente conseguir andar, começar a receber os projetos da seleção anual. P/1 – Mas seu salário era pago pela Susane. R – Nessa época o salário estava sendo pago com recurso da Brazil Foundation de Nova Iorque, ela mandava o dinheiro pra Susane e com aquele dinheiro ela pagava o meu salário, a despesa do escritório que começou a aparecer. Na casa dela a gente já tinha algumas despesas porque ia receber uma visita, as coisas de escritório também, o computador que a gente usava era o computador que a Suzane já tinha em casa. Mas sempre gera uma outra despesa e o escritório de Nova Iorque mandava dinheiro pra suprir essas necessidades. Porque como eles já tinham começado antes, eles já tinham conseguido um ou outro apoio, parece que também tinham conseguido apoio da Fundação Ford, então, eles tinham um recurso em caixa pra poder suprir essas necessidades. E o recurso da Avina, essa doação, foi um suporte pra gente conseguir a montagem do escritório aqui, compramos os móveis, as necessidades iniciais. Mas antes da gente passar pra lá a gente já recebia muito contato de pessoas e instituições interessadas em mandar projeto. E como a gente ainda não tinha uma estrutura, a gente não sabia como seria o processo de seleção, a gente já recebia projetos. Se você ver naqueles documentos lá, eu tenho registro das cartas que a gente recebia, os telefonemas, de gente já interessada em mandar projeto. Eu não me lembro disso, mas eu acho que a Brazil Foundation de Nova Iorque já tinha um site antes que tinha informações daqui, acho que eles já divulgavam informações através do site. Já existia um site antes, era um sitezinho simples, mas já tinha um site. Como eu não tinha muito envolvimento eu não me lembro como era essa divulgação do site. Mas a gente recebia contatos e telefonemas, então, provavelmente deve ter sido divulgado neste site na época. P/1 – E você também ficava fazendo essa parte de responder os contatos... R – Eu fazia todo tipo de coisa que era necessária, não tinha mais ninguém, era eu e Susane. A Susane fazia os contatos institucionais, ia nas reuniões que começavam a aparecer, recebia pessoas interessadas em fazer parceria na casa dela, tal. E eu tentava suprir as outras necessidades do escritório, da parte financeira, administrativa, comecei a andar pra ver os documentos pra fazer o registro, sendo como um suporte pra poder andar. Aí, conseguimos comprar os móveis e fazer a mudança aqui pra Santa Luzia. E ali continuei da mesma maneira, fazendo todo tipo de coisinhas de escritório, de financeiro, de ir na rua. Aí, era tudo, tudo que precisasse fazer pro escritório andar eu tinha que fazer. A Susane fazia a parte dela e o resto eu tinha que fazer. P/1 – E aparecia mais alguém lá? R – Quando viemos pro escritório na Santa Luzia começou a aparecer mais gente interessada. Como a Suzane começou a ir às reuniões e começou a apresentar a Brazilfoundation e tal, começaram a aparecer outras pessoas interessadas. E começamos a desenvolver a seleção anual. Como na época não tínhamos ainda , não sabíamos como seria o processo, teve uma indicação pra gente procurar o pessoal do Riovoluntário. Eu não sei como se deu esse processo, sei que a Suzane contratou uma equipe que elas eram ligadas ao Riovoluntário na época, mas tinha uma firma particular de consultoria. E elas foram contratadas para desenvolver a primeira seleção de projetos da Brazil Foundation. P/1 – Desses primeiros contatos que as pessoas mandavam e-mail perguntando, ligavam, eles já começaram a mandar projetos também? R – Sim, tanto que tem alguns projetos que fizeram parte da primeira seleção que eram coisas que a gente já tinha recebido antes de começar o processo de seleção e resolvemos incluir também nessa parcela dos projetos. Depois que começou a divulgação da seleção anual, não me lembro como foi feita aquela seleção, mas você viu que eram coisas muito simples, um formulário simples, os critérios eram muito simples. E essa parceria, aí começamos a receber os projetos e junto com esse pessoal dessa consultoria contratada... P/1 – Você se lembra o nome? R – É (Chair?) Consultoria de Projetos. Uma outra pessoa que dava muito apoio na época era a Mônica de Roure. Ela também trabalhava junto com essa consultoria e ajudou também na elaboração dos documentos iniciais da seleção anual. Nessa época nós recebemos 73 projetos, já na época achamos que era muita coisa, só pra nós duas. Mas esse pessoal ajudou na leitura dos projetos, tentamos fazer alguma coisa com o (Iedes?) também, mas não deu certo. Então, ficou só ali mesmo e a Susane fez as visitas. Já naquela época a Susane fez as 20 visitas dos projetos que foram finalistas na época. Então, sempre andou assim. P/1 – Nesse primeiro ano foram 20? R – Foram 20 finalistas, mas só quatro projetos foram selecionados. Recebemos 73 projetos, foram 20 finalistas e quatro apoiados. P/1 – E você já estava nessa parte administrativa. R – Eu tava na parte administrativa e ajudava a catalogar os projetos. Aí, tive que arrumar uma maneira de arquivar os projetos porque a gente não sabia nada, nem quantos projetos a gente receberia, de onde viriam os projetos, era tudo novidade, né? P/1 – E uma surpresa. R – É, conforme os projetos foram chegando, fomos pensando na necessidade de arquivar, como arquivar e organizar essas informações. Então, eu fui abrindo pastas, tinha 73 pastinhas (risos) dessas de pasta suspensa, colocamos os projetos ali em ordem alfabética conforme eles iam chegando. E pensei num arquivo com cores para diferenciar o que era Educação, o que era Saúde, o que era Direitos Humanos, e conforme os projetos iam chegando, eu e Susane já fazíamos a separação por área. Tinha uma cor para cada área e já fomos separando no arquivo por cores. Eu fazia toda essa parte também, já trabalhava um pouco no apoio e seleção, tinha a parte administrativa, tinha o financeiro, e assim nós seguimos. P/1 – Cátia, e Nova Iorque já tinha avisado, “vocês vão ter tanto pra...”, era assim que funcionava? R – Isso. Quando nós começamos a seleção anual, a gente já tinha definido, teria 30 mil dólares para apoiar os projetos. A gente não sabia ainda quantos projetos seriam, mas tinha 30 mil dólares para dar de doação naquele ano. Então, foi trabalhado em cima daquilo. Depois eles definiram que seriam três projetos, foram quatro porque teve aquela influência do dólar que na época estava bem alto, então, quando foram convertidos os 30 mil dólares, deu pra fazer os três... Porque ainda não tinha uma definição de quanto o projeto poderia ser. Então, eles mandavam projetos de valores diferentes e a gente se baseava no valor que o projeto tinha pedido. O dinheiro deu pra pagar os três projetos e ainda sobrou um pouco de recursos e decidimos fazer já aquele Prêmio Incentivo, que recebeu a metade do recurso que eles tinham pedido. Foi assim, três receberam e mais um Prêmio Incentivo. P/1 – Esse foi o primeiro ano. R – Isso. P/1 – Vocês passaram quanto tempo lá na Santa Luzia? R – Nós nos mudamos pra cá no final de 2003, então, ficamos quase dois anos lá. Quando começou a seleção de 2003 nós ainda estávamos lá. Aí, mudou o edital e a Brazil Foundation começou a fazer uma divulgação maior no site da seleção. Começamos a pensar já na contratação de uma outra pessoa, um analista, em torno dessa mudança que houve. E quando nós começamos a receber projetos aí começamos a receber muitas coisas, foi uma enxurrada de projetos, a gente ficava espantado: “O que a gente vai fazer?” “E agora?”. P/1 – Você tinha falado em 73, era uma diferença muito grande, né? R – Muito grande. Foram 895 projetos que nós recebemos naquele ano. Nesse período começamos a ver chegar muitos projetos e não daríamos conta sozinhas, então, pensamos na contratação do analista e foi onde entrou a Sheila. A Sheila ainda participou da recepção dos projetos. P/1 – Qual o sobrenome dela? R – Sheila Nogueira. P/1 – E vocês contrataram ela da onde? R – A Sheila também trabalhou com a gente nessa outra instituição de meninos de rua. Eu, Nádia e Sheila trabalhávamos lá. A Sheila era Assistente Social nessa outra instituição. Eu me lembro que a Sheila procurou a gente, a Brazilfoundation. Ela tava desempregada e queria uma oportunidade. Eu falei: “Sheila, eu não tenho poderes para contratar ninguém, a gente precisa. Você vem aqui, vou marcar uma reunião pra você conversar com a Susane. Já vou te avisando, não posso fazer nada, você vai sentar lá e conversar com ela, e vê se ela vai te contratar”. Ela veio na reunião que eu marquei e a Susane gostou dela e ela foi contratada como analista de projetos. P/1 – E lá na outra ONG ela era Assistente Social. R – Ela era Assistente Social e fazia o trabalho de rua, ela fazia o trabalho de campo, que eles chamavam, nos locais em que os meninos de rua se concentravam, que era Candelária, aqui na Cinelândia, vários lugares que já eram determinados. E os meninos já sabiam que a equipe estaria ali naquele dia pra oferecer o apoio. Então, lá ela era Assistente Social mesmo e trabalhava no campo. P/1 – E para Brazilfoundation ela chegou a fazer... R – Ela chegou como Analista de Projetos. Nesse período, ela fez outros trabalhos já como consultora, tal, depois que ela saiu da ONG de menino de rua. Então, ela apresentou dessa área social que ela pode atender as expectativas que a Suzane queria contratar na época. P/1 – E até pra ajudar vocês que... R – Tinha que ser alguém que realmente tivesse um conhecimento de projetos. Não me lembro do currículo dela agora, mas ela deve ter trabalhado em outras coisas que deram possibilidade dela segurar essa barra também. P/1 – Vocês contrataram mais gente ler esses projetos? Como é que foi o processamento desses 800 projetos da seleção? R – Na época que entrou a Sheila, a Mônica de Roure continuou dando apoio na seleção anual. Quando a Sheila entrou, ela trouxe com ela dois estagiários, uma foi a Carla, que também tá ainda aqui, Carla Lima, e veio o Gláucio Gomes. Eles eram estagiários do marido dela, que era professor e pesquisador na Uerj. E aí, vieram os dois e todo mundo trabalhou junto nessa seleção. Também tinha os voluntários que já tinham entrado no escritório, os primeiros voluntários, Carla Neto e Raquel Diniz. P/1 – Entraram desde o primeiro ano? R – Em 2003. Na verdade, os primeiros voluntários eram Davi Moura e Alessandra Drabik, que foram os dois primeiros voluntários que ajudaram bastante ainda na seleção de 2002. Esqueci de falar deles. Depois essas pessoas também continuaram apoiando na seleção de 2003. P/1 – Apoiando lendo projetos? R – Lendo, catalogando, porque começou a chegar muita coisa e aquele sistema meu de pastinha era impossível para arquivar 895 projetos. Imagina... P/1 – E como vocês arquivaram? R – A Sheila começou a pensar em um outro sistema. Ela começou a botar dentro dessas pastas azuis, em saquinhos separados. Começou a criar numeração nos projetos, e eles começaram a ficar arrumados em pastinhas com numeração. Porque não tinha mais como colocar em pasta suspensa com cores, era impossível. A Sheila criou esse novo sistema de arquivo dos projetos que chegavam. A Sheila coordenou a leitura dos projetos junto com a Suzane, e teve a participação da Carla Neto, Raquel Diniz, com a supervisão da Mônica de Roure. P/1 – A Mônica era de algum lugar? R – Acho que a Mônica era consultora particular, tinha empresa de consultoria dela, mas não estava ligada a nenhuma grande instituição, não. A Mônica já tinha trabalhado em várias instituições grandes no Terceiro Setor, era uma pessoa muito experiente no Terceiro Setor. Não me lembro dela estar ligada a nenhuma grande instituição nessa época. Ela trabalhava em várias instituições grandes do Terceiro Setor, mas como consultora particular. P/1 – O que foi muito marcante pra você nesses primeiros tempos? R – O momento marcante foi essa entrada de projetos, a diferença de 73 pra 895 porque isso demandou muito mais trabalho, deu um susto assim: “E agora como será?” de novo. Porque quando teve 73 nós já ficamos assim, “como é que nós duas vamos dar conta disso?”. E esse 895, então... P/1 – E eles chegavam pelo correio? R – Sempre pelo correio, a gente até recebia lá em mãos, eu dava um comprovante, mas no edital vinha dizendo que tinha que entregar por correio. Sempre foi assim. Chegavam aquelas caixinhas de correio direto, foi muita coisa. Então, foi um choque na época, como a gente vai dar conta disso tudo, a demanda de trabalho aumentou muito, era muita procura, muito telefonema. Eram pessoas querendo ir lá pra apresentar projetos o tempo inteiro, toda hora reunião. Só a gente pra dar conta, a gente tinha que seguir de qualquer maneira. Mas não tinha recurso pra contratar mais gente, a gente tinha que ficar limitado porque tinha um recurso limitado, mas, ao mesmo tempo, tinha que seguir. P/1 – E nesse ano a Susane também fez as visitas? R – A Susane e a Sheila. Ah sim, entraram mais dois consultores. Precisou contratar mais duas pessoas, e entrou o Ciano Norões e Claire, foram mais dois consultores e essas pessoas fizeram visitas. Fizeram visitas, Susane, Sheila, Ciano e Claire. Ciano e Claire eu não me lembro qual era a instituição deles, mas eles estavam trabalhando lá também como consultores particulares. P/1 – Ajudando a processar esse... R – Fizeram leitura dos projetos, ajudaram na organização da catalogação dos projetos, fizeram visitas. Acompanharam todo o processo de seleção também. P/1 – Esse enorme número de projetos que vocês não estavam esperando foi o que impulsionou vocês a procurarem outro lugar? R – Pois é. Com essa quantidade de projetos também aumentou a equipe. Acho que o aumento da equipe foi o que impulsionou a procurar um espaço maior. Porque não dava mais, estávamos a Susane e eu; Sheila já entrou e trouxe Carlinha e Gláucio. Aí começaram os voluntários, tinha Carla, tinha Raquel e aí já vieram os consultores, a Claire, o Ciano. Na hora de se reunir ninguém se entendia porque era uma sala comprida, mas todo mundo ali no mesmo espaço, e a gente não conseguia se concentrar direito pra cada um desenvolver suas atividades. E aí, começamos a buscar. A Susane foi de novo à Firjan pra tentar conseguir um novo espaço, e foi onde ela conseguiu essa sala aqui que antes era ocupada pelo , e o se mudou, foi pra praia do Flamengo. O já era parceiro da Brazil Foundation, tentamos fazer alguma coisa com eles no início, em 2002, mas não rolou. E aí, o se mudou pro Flamengo, essa sala ficou vaga. P/1 – Só fala pra quem não conhece até o tema do terceiro setor, o que é (Iedes?). R – Eu não me lembro o que quer dizer a sigla deles, não. Eles saíram, essa sala ficou vaga e a Susane conseguiu que eles cedessem esse espaço pra gente, em parceria com o Sistema Firjan. Aí, a contrapartida nossa era pagar o condomínio. A gente não pagava aluguel na época, então passavamos a pagar só o condomínio e as despesas da sala, conta de luz e tudo o mais que gerasse daqui era nossa responsabilidade. P/1 – Qual é o endereço aqui? R – É Avenida Calógeras, número 15, décimo terceiro andar. Na época que viemos pra cá precisou fazer algumas obras aqui na sala, pintura. Aqui era tudo esse carpete, mas a Susane quis mudar da sala dela e da Nádia, tiramos o carpete. Foi preciso fazer algumas obras aqui. Ali na frente eram dois banheiros, foi preciso fazer uma adaptação para mudar e fazer uma copa e ter um banheiro só. Quando viemos pra cá parecia que o espaço era grande pra gente, tanto que tinha espaço lá na frente e as salas ficavam praticamente vazias. Não tinha nem móveis para tudo isso. A Firjan cedeu alguns móveis pra gente. Ficaram aqui na sala alguns móveis e eles deixaram que os móveis ficassem, o ar condicionado também eles. Mas foi preciso comprar mais algumas coisas, alguns móveis. P/1 – Esse apoio que vocês tiveram no início, você falou da Firjan, tem algum outro que você lembre? R – Os parceiros mais próximos eram a Firjan, teve a Tozzini, Freire, Teixeira e Silva que era consultoria jurídica que continua até hoje. A Avina, a Ford, são esses que eu me lembro. O pessoal da equipe de Nova Iorque tentava introduzir alguma outra parceria, mas não dava muito certo. Tentaram algumas vezes com uma equipe de marketing de São Paulo, aparecia uma coisa ou outra, mas não desenvolvia, essas são as parcerias que ficaram, que na época foram determinantes pra gente. P/1 – E como foi se desenvolvendo a relação com Nova Iorque? Ela mudou, permaneceu a mesma coisa? R – Lá em Nova Iorque eles trabalhavam muito com voluntários. Enquanto aqui a gente tava tentando se profissionalizar, lá em Nova Iorque ainda era na casa da Leona. A gente já tinha vindo pro escritório, viemos aqui pra Calógeras e a Leona continuava na casa dela. E trabalhando com voluntários. Era uma relação um pouco complicada porque a gente tava começando a fazer uma coisa e daqui a pouco a pessoa ia embora. Aí, entrava outra pessoa que começava tudo de novo. Sempre tivemos uma dificuldade de comunicação por conta dessa entrada e saída de pessoas o tempo inteiro lá. P/1 – Dos voluntários de lá. R – Dos voluntários de lá. E depois de um tempo, um bom tempo, que começou a se estruturar para sair. A Leona conseguiu um apoio, eu não lembro em que ano foi, pra poder começar a pagar o aluguel e sair da casa dela com o escritório. Isso deve ter, sei lá, uns seis anos, que conseguiram sair da casa da Leona, mas ficaram bastante tempo na casa dela. No meu entender era pro escritório de Nova Iorque estar muito mais desenvolvido do que a gente, e nós acabamos sempre andando na frente deles. P/1 – O contato era diário, tudo o que vocês fazem vocês passavam pra lá? E eles passavam de lá pra cá? R – A gente se falava por telefone, falava muito com a Leona, e com outras pessoas também porque eles precisavam das nossas informações aqui. Tinha que ter um diálogo sempre, até porque, além da seleção anual tem a parte de doações recomendadas. P/1 – O que é uma doação recomendada? R – Doação recomendada é quando o doador quer doar pra alguma instituição, ele vai e fala, “quero doar x pra uma instituição no Brasil”. Aí, ele recomenda, ele doa o dinheiro já dizendo: “Eu vou doar esse dinheiro, mas é pra instituição tal”. P/1 – E vocês tem um volume grande de doações recomendadas, como é que é? R – Tem. No início lá era pequeno. A primeira doação, aliás, antes da seleção anual, nós tivemos uma primeira doação recomendada em 2001, foi uma ou duas, antes da seleção anual. Eu acho que o objetivo na época baseou-se muito nisso, porque desde o início se pensou nessa história de se oferecer a lei de incentivo fiscal americana para doações. Então, o doador lá doa pra Brazil Foundation, tem o incentivo fiscal, mas a instituição tem que ser no Brasil, tem esse link. Então, nós combinamos que eles lá fariam esse trâmite com o doador e aqui nós faríamos o trâmite com a instituição que receberia os recursos. Desde o início aqui eu recebo, faço contato com a instituição que vai receber a doação aqui, recebo o documento. Inicialmente não existia um formulário, a gente não sabia o que a instituição ia fazer, a gente só recebia documento, repassava o recurso e não sabia nem o que eles iriam fazer com o recurso. Depois de um tempo a gente começou a sentir necessidade de que precisava saber o que seria feito com aquela doação, com o dinheiro da doação. E elaboramos esse formulário de doação recomendada. E assim é até hoje, eles fazem o trâmite lá com o doador e aqui eu continuo fazendo os trâmites com a instituição recebendo documento das doações recomendadas. Sempre foi preciso fazer esse contato com a equipe lá de Nova Iorque porque as doações iam entrando, tinha que falar com eles, mandar e-mails avisando, receber os documentos. Eu acho que tinha um contato com a pessoa lá do escritório, quem quer que estivesse porque nunca sabia quem era, só depois que mudou pro escritório mesmo que começou a ser uma pessoa mais próxima, e mesmo assim demorou a ficar uma pessoa lá efetiva. Mesmo tendo uma pessoa no escritório, eles ainda ficavam cercados por vários voluntários, e isso dificultava bastante a relação porque é aquele entra e sai que a coisa não andava. E aí, foi assim. E continua assim até hoje esse contato bem direto, mas eu fico em contato muito diretamente com a Juliana, que é gerente do escritório lá de Nova Iorque hoje, com o Tiago, e vai andando assim, até hoje é assim. P/1 – E na hora do repasse das verbas pra cá, é você também que vai organizando? R – O repasse pra cá pros projetos é feito em cima do que é arrecadado no Gala. Tem o evento, o Gala, no ano anterior e até 2009, todo recurso que era arrecadado no Gala era transferido pra cá para projetos, era específico para a seleção anual. Então, tinha o Gala, foi arrecadado a quantia que fosse... P/1 – Tem Gala desde o início? R – Começou em 2003. Então, desde o início até 2009, o recurso do Gala era exclusivo para apoio a projetos, a única coisa que se tirava era pra pagar as despesas que tiveram com o próprio evento. A gente não podia tirar um centavo para despesas operacionais. O escritório era sustentado por fundações, por outros apoios, parceiros, doações, essas doações recomendadas, que a Brazil Foundation recebe um percentual em cima dessas doações recomendadas até 50 mil, 8% e acima de 50 mil, 5%. Esses percentuais ajudam na manutenção das despesas operacionais, do escritório de Nova Iorque, e do Rio. P/1 – Vocês tiveram muita dificuldade no início, até financeira? R – A dificuldade maior nossa é financeira mesmo, sempre tinha limitação. Continuamos tendo, do ano passado pra cá a gente conseguiu respirar um pouco porque houve uma mudança na direção do Gala, passou por Nizan Guanaes e ele trouxe uma quantidade de novas empresas, novos doadores pro Gala e isso fez a arrecadação do Gala quase triplicar. Então, começou-se a se pensar, esse dinheiro não vai ser só pra projetos, ele vai também para despesas operacionais. Além disso, também foi quando começou a se pensar na criação do fundo patrimonial, e uma parte do dinheiro de 2010 foi para projetos, outra parte pra operacional e outra parte para o Fundo Patrimonial. P/1 – Explica direitinho qual é a idéia do Fundo Patrimonial. R – O Fundo Patrimonial é uma idéia que eles chamam de , que é pra usar no futuro pra contingências futuras. Foi criado em 2010, a gente não mexe nada agora, ele fica aplicado e só vai ser usado talvez em 2012. A idéia é começar a usar o rendimento do Fundo Patrimonial pra despesas nas operações dos escritórios. P/1 – Ter sempre um caixa reserva. R – Isso, é uma espécie de reserva para o futuro. P/1 – E isso começou... R – Isso começou em 2010, depois do Gala viu-se o que foi arrecadado, pagou-se as despesas referentes ao evento. Do que sobrou, uma parte foi pra projetos, uma parte para operações desse ano de 2011 e outra parte pra 2012. O orçamento de 2011 não ficou totalmente fechado, a gente não tinha receita suficiente pra fechar o ano, então, a gente ainda tem uma demanda de recursos para conseguir fechar o ano de 2011 sem problemas. P/1 – Isso tem sido assim ao longo desses anos? R – O tempo todo, sempre foi assim, com muita dificuldade, muita ginástica. Sempre foi muita ginástica conseguir um recurso aqui, um recurso ali. A gente não sabia se teria dinheiro no mês que vem. Houve bastante discussão em torno disso e muita preocupação. Nesse ano de 2011 é o ano que a gente tá mais tranquilo em relação a isso, porque a gente sabe que o dinheiro é 80% suficiente, e 20% a gente tem que arrecadar para fechar o ano. Isso já deu uma tranquilidade pra gente, porque até 2010... P/1 – A margem era maior? R – Muito maior. A gente começava o ano já com uma defasagem bem grande. E tendo que andar com as atividades, o escritório. A gente não podia demitir pessoal porque precisava pra seleção anual. E toda parte de infraestrutura também, mas fomos conseguindo. Aqui acontecendo essas atividades em parceria com o Instituto HSBC, que ajudou bastante na manutenção do escritório, das atividades. P/1 – Pera aí, você vai me explicar isso direitinho. R – Aqui no Brasil nós começamos a conseguir fazer parceria, uma espécie de captação de recursos. A gente não sai a campo pra fazer captação direta ainda, mas os parceiros vem procurar a Brazil Foundation, e o HSBC foi um deles. Então, quando começou a parceria com o HSBC nós começamos a ter uma receita aqui no Brasil também, e ajudou na manutenção do escritório. P/1 – Vocês fazem uma prestação de serviços? R – Na realidade, é meio que uma relação de prestação de serviços, mas... Não sei qual palavra usar pra isso, tem a parceria com o HSBC e eles tem uma receita no Banco Internacional que eles chamam Fundo Brazil Equity Fund. E desse recurso que eles tem, eles têm que repassar um percentual pra área social, então, eles têm várias instituições aqui no Brasil que eles repassam esse recurso. E a parceria que nós fizemos na época foi que eles iriam repassar um percentual pra Brazil Foundation, desse percentual eles iam indicar alguns projetos pra serem apoiados, escolher em parceria projetos que poderiam ser da nossa seleção. Aí, depois que terminou essa parceria, esse dinheiro do fundo Gife, passou a ser usado nas capacitações em parceria com o Instituto HSBC Solidariedade. P/1 – Vocês capacitam pessoas do HSBC? R – São projetos do HSBC, que eles apoiam diretamente com recursos e a capacitação é feita pela Brazil Foundation. P/1 – E essa prestação de serviços nessa área gerou uma fonte de receitas exclusiva do Rio. R – Isso, fica aqui. Essa parceria com o HSBC começou em 2005. Eu esqueci um parceiro importante que nós tivemos desde... O contrato com eles está desde 2005, mas creio que já é de antes disso, 2003 ou 2004, que é a TAM, que foi fundamental nesse processo, eles doam as passagens pra fazer as visitas aos projetos. Acho que sem isso seria praticamente impossível. P/1 – Qual é a média de visitas? R – Depende. Naquela primeira seleção foram 20 projetos, mas depois ficou entre 40 e 50 projetos visitados nesses últimos anos. Esse ano foi uma seleção diferente, então, não teve. Em 2009 foram as últimas visitas, em 2010 na verdade que eles começaram a receber, foram 34 visitas. Mas ficou entre 40 e 50 projetos visitados em cada seleção anual, no Brasil todo. Então, essa parceria com a TAM foi super importante pra gente, pra doar as passagens tanto para os analistas visitarem os projetos quanto pra trazê-los pra cá no evento. Todo ano nós fazemos um evento aqui de apresentação dos projetos, então, pra trazê-los pra cá tem bastante custo e esse custo das passagens é feita Brazil Foundation. P/1 – Desses eventos, me conte um, descreve um pouquinho pra gente deixar registrado como é que são esses eventos de apresentação dos selecionados, e me conta um que tenha te marcado, que você tenha gostado mais. R – Após a seleção da escolha dos projetos e divulgação do resultado pelo site, a gente traz os coordenadores aqui pro Rio pra fazer uma espécie de capacitação. Inicialmente não tinha ainda essa idéia de fazer a capacitação dos projetos, eles vinham pra cá, vinham aqui no escritório, assinavam o contrato, a gente fazia um evento público na Firjan, em parceria com a Firjan, convidamos os amigos da Brazil Foundation, fazia um coquetel e pronto, levava todo mundo embora. Em determinado momento começou a perceber a necessidade de uma capacitação. Hoje em dia é assim, eles vem pro Rio e fazem a capacitação em Gestão e Comunicação, tem a parte de monitoramento, onde são apresentadas todas as ferramentas do monitoramento pros coordenadores. Então, vem dois coordenadores de cada projeto aqui pro Rio pra fazer essa capacitação durante três dias. O evento que eu achei mais importante, que foi mais marcante pra mim, acho que pra equipe toda pelo que eu percebi foi esse último, em março deste ano em Itatiaia, que houve uma integração, não só da equipe com os coordenadores dos projetos, mas da equipe do Rio com a equipe de Nova Iorque. Foi um trabalho feito em conjunto, eles vieram pra cá antes, ajudaram na organização do evento e tudo, vieram antes, trabalharam bastante, o Thiago e a Mariana que vieram pro escritório. E lá estavam Thiago, Mariana e mais a Diretora Executiva, Patrícia Lobaccaro. Foi um momento bem bonito de participação das duas equipes, de integração de todo mundo. P/1 – Você se envolve com os projetos, você acompanha, você torce, você olha, tem um lado assim, além do seu trabalho administrativo? Eu sei que você acaba também ajudando. R – Não tem jeito, a gente sempre tem um contato mais próximo com um ou outro projeto, não com todos, mas tem alguns projetos que a gente já conhece os coordenadores, tem alguma intimidade, brinca e torce por eles, porque vê que são pessoas que vem batalhando, que tem um trabalho bonito e estão conseguindo transformar a realidade da comunidade em que eles vivem, então, tem alguns projetos que a gente tem um carinho maior por eles, alguns coordenadores até. Acho que não tem como não se envolver, a gente acaba se envolvendo e torcendo até por um ou outro projeto. Eu ainda não tive oportunidade de visitar projetos, continuo naquela coisa de trabalhar no escritório, de está aqui dentro. Mas visita de campo, que eu me lembre, eu só fui uma vez, um projeto que fomos visitar em Angra dos Reis. Acho que a visão que eles têm, quando os analistas vão ao projeto é completamente diferente daquilo que a gente vê à distância. Então acho que é importante pra todo mundo, em algum momento, ir a alguma visita pra ter noção exatamente do que acontece com os projetos no local. P/2 – Você poderia contar pra gente como começou a relação da Brazilfoundation com a IAF? R – O projeto grande que começou em 2006 era um projeto pra três anos, tinha o recurso da IAF, tinha a contrapartida da Brazilfoundation e de outros parceiros. Cada um com uma responsabilidade dentro do projeto e uma boa parte do recurso, aliás a maior parte do recurso, era pra apoiar projetos. Então, a Brazil Foundation dava metade e a IAF a outra metade. Na época, com aquele recurso que eles doaram, tinha uma meta de apoiar 40 projetos. Não deu para apoiar os 40, mas chegamos perto, conseguimos fazer 33 projetos com aquele apoio da IAF, e é uma parceria que continua até hoje. Era pra ter sido encerrada em 2009, depois eles renovaram a parceria até 2010, agora conseguimos renovar até 2012. Esse ano, inclusive, tem sete projetos da “Seleção 10 anos” que são apoiados em parceria IAF-Brazil Foundation. P/1 – Deixa eu ver se eu entendi. Esse dinheiro da parceria da IAF deu pra aumentar o número de projetos apoiados? R – Deu pra aumentar o número de projetos apoiados. E cada ano tinha uma quantidade de projetos escolhidos em parceria com a equipe da IAF porque eles tem um foco determinado, eles não apoiam qualquer tipo de projeto. Então, dentro da área de atuação deles, a Brazilfoundation apresentava os projetos que achava que tinha a cara da IAF e eles definiam quais projetos eles queriam que fossem selecionados aquele ano. A cada ano foram desenvolvidos alguns projetos em parceria com a Inter-American. Dentro da seleção anual também tiveram outros parceiros, não foi só a IAF, teve a Embraer, o próprio HSBC que apoiou através da seleção, teve a Vale do Rio Doce. Dentro da seleção anual sempre tinha um parceiro que escolhia algum projeto para apoiar, com o total de recursos ou em parceria Brazil Foundation dando a metade e o parceiro dando a outra metade. P/2 – E são só instituições ou pessoas físicas também... R – Também pode ser pessoa física. Algumas vezes acontece que lá em Nova Iorque os voluntários se mobilizam bastante para apoiar projetos, fazem uma festa e decidem que com aquele recurso eles vão apoiar um projeto. Dentro da seleção anual, volta e meia aparece um projeto que é selecionado com recursos de doações de voluntários, são pessoas físicas. P/1 – Esses são os amigos... Tem o amigo, tem o doador, como que é? R – Eles são voluntários da Brazil Foundation lá, e amigos também. Eles escolhem, é como se fosse uma doação recomendada, mas dentro da seleção anual. Depois eles escolhem qual projeto eles vão apoiar com aquele recurso. Mas tem lá as categorias de doadores de fundações. Pro Gala tem muita separação porque tem as doações de pessoa física, tem de empresas, de fundações. E patrocínio também, que é feito muito na época do Gala. P/1 – E isso cresceu ou se mantém estável? R – Em 2010 teve essa mudança com a entrada de novas empresas, novos parceiros por causa do Gala. Depois da entrada do Nizan Guanaes, aqui também houve muita demanda de recebimento, começamos a receber recursos aqui no Brasil. Porque a gente não recebia doações aqui, a gente recebia doações com aquelas parcerias IAF, Instituto HSBC, mas nunca saímos a campo pra buscar doações. Com a entrada do Nizan Guanaes, muitos dos doadores, empresas ou pessoas físicas, passaram a querer fazer doações aqui no Brasil. P/1 – De pessoa física também? R – Pessoa física e jurídica, mesmo sendo a Vale do Rio Doce, eles não fazem através do instituto deles, mas através da empresa Vale, um patrocínio pro Gala. Acho que 50% das doações foram feitas em 2010 aqui no Brasil. P/1 – Cinquenta por cento? R – Acho que 50%. Então, foi um recurso grande que foi recebido aqui. E isso tudo demanda trabalho, tempo, que a gente não tava também acostumado a receber doações aqui, tivemos que nos organizar pra isso. Mas também foi um momento importante esse. P/1 – Isso também muda a configuração da própria... R – Depois que passou o Gala e nós fizemos o levantamento dos recursos e assim ficou definido, uma parte seria pra Projetos, outra pro Fundo Patrimonial e outra pro Gala. Uma parte do Fundo Patrimonial tá em Nova Iorque, e outra parte está aqui no Brasil. P/1 – Foi decidido dessa forma. R – Foi decidido assim. P/1 – Teve uma viagem sua à Nova Iorque. Gostaria de saber como é que foi, quando foi? R – Foi em 2007, me convidaram pra ir ao Gala, foi um convite mesmo, uma espécie de premiação, para conhecer o escritório e participar do Gala. Eu fui com a Suzane, fiquei lá dez dias, fomos juntas com o pessoal do Vidança, que é um dos projetos que a Brazilfoundation apóia, aliás, é um dos projetos que a gente gosta bastante, é de Fortaleza. E o Vidança foi convidado pra fazer uma apresentação no Gala. Todo ano a Brazilfoundation chama um dos projetos, leva algumas pessoas de projetos pra se apresentarem lá no Gala. E esse ano foi o pessoal do Vidança. Mais uma vez com a parceria da TAM, que permitiu levar umas meninas, acho que eram sete crianças e mais a Anália que é a coordenadora, e fomos eu e Susane também. Foi um momento importante, eu me lembro, foi uma espécie de sonho chegar em Nova Iorque. Pra mim era um sonho, eu já sonhava com Nova Iorque muito antes do Brazil Foundation. Nem foi pela Brazilfoundation, mas por causa daquele pessoa para quem eu trabalhava em Ipanema, a Débora, que ela amava Nova Iorque, todo ano ela fazia uma viagem pra Nova Iorque. E quando ela voltava, ela me contava as histórias de Nova Iorque, a gente passava ali algumas horas, ela contando como foi a viagem. Ela tinha uma visão toda especial sobre Nova Iorque, ela amava tudo o que ela via, contava detalhes sobre a viagem, então, eu pensava: “Nossa, quero ir pra Nova Iorque!”. Ela falava: “Um dia nós vamos juntas pra Nova Iorque, eu vou te levar”. P/1 – E a cidade correspondeu aos seus sonhos? R – Ah, eu adorei! Foi muito bonito, uma viagem bonita, foi emocionante pra mim. Eu me senti como aquelas meninas que foram do Vidança, que era a primeira vez que viajavam de avião, aquela emoção toda, eu tava como elas, igualzinho. Quando eu vi Nova Iorque assim, chegando lá, nossa, foi a maior felicidade, muito bonito. P/1 – E você foi ao Gala lá... R – Eu fui, passei uns dias no escritório trabalhando junto com a Simone, que era a gerente do escritório na época. No dia do baile foi bonito e tal, mas o aproveitamento, em termos de trabalho, praticamente zero. Porque na época do Gala só se fala em Gala, antes e depois, só Gala, Gala, Gala. É um evento que demanda muito trabalho, muito tempo, estando lá que eu vi, é um estresse do pessoal da equipe, do escritório, os outros diretores, todo mundo se envolve. Mas é uma coisa muito puxada, e estando lá eu vi que realmente, não tinha condições de se falar nada. Até tentamos fazer algum tipo de reunião, mas não deu pra andar, nada de integração no escritório, mas foi muito bonita a ida ao escritório. P/1 – E rola aí, pelo rádio corredor, que você deixou um apaixonado lá em Nova Iorque. R – Eu!? Que é isso, não sei nada disso, não! (risos). Não to sabendo disso, não (risos). P/1 – Ahhh, correu na rádio corredor aí. R – To sabendo disso, não. Novidade pra mim também. P/1 – Um doador apaixonado lá por você... R – Não sabia disso, não, se soubesse acho que teria ficado lá (risos). Um dia no Gala teve um cara, um fotógrafo, não sei se é a mesma pessoa. Se tem outra não sei, novidade pra mim também. Ele ficou o tempo inteiro, não foi só comigo, também a nossa amiga lá do escritório, ele sei lá, gostou da gente e cismou de ficar colado, onde quer que a gente ia, ele ia atrás. E dançava com a gente todo feliz. Um fotógrafo, acho que ele era alemão, não sei, estava fazendo a cobertura do Gala. E ele ficou com a gente até o final, mas foi só ali, eu nunca mais vi o homem. Ah, depois ele pegou o meu endereço e me mandou um catálogo sobre Nova Iorque, bonito a beça, estou guardando lá em casa pra fazer umas molduras e botar na minha casa. Depois nunca mais falei com ele. Então, não sei quem é esse doador, não (risos). P/1 – E ele não apareceu aqui não? R – Não sei se essa é a mesma história, mas uma vez um cara veio aqui, não sei se é essa história que estão falando... Ele veio aqui pra fazer uma visita, ele era um fotógrafo também, queria visitar comunidades carentes e perguntou se tinha alguém da Brazil Foundation que poderia ajudá-lo. Ele veio aqui, conheceu o escritório, tal. E o homem cismou comigo, eu não sabia. P/1 – Ih Cátia, então, acho que você tem mais de um apaixonado. R – Eu recebi o cara ali na porta, o nome do cara é até engraçado, Muhammad Bilal (risos). Foi uma encarnação porque o nome do homem é Bilau (risos), eu recebi o Bilau lá na porta (risos), deixei o Bilau com a Suzane (risos), e fui pro curso, naquele dia eu tinha curso, me despedi de Bilau (risos) e fui. E esse negócio de Bilau foi muito engraçado porque o cara não tinha a menor noção porque era tão engraçado. Todo mundo tinha curiosidade em conhecer quem era o Bilau (risos). Fui embora, deixei Bilau aí (risos) e ele ficou apaixonado por mim. Aí, ficou o Thiago que trabalhava aqui e ele deixou um cartãozinho pra mim porque ele queria me conhecer melhor. E acho que a Suzane ficou preocupada de quando eu receber o cartão, de eu ficar interessada e querer ir embora com o Bilau, né? No dia seguinte ela ficou meio assim quando eu cheguei no escritório, estava aquele alvoroço, todo mundo achando que eu ia me interessar pela história, ia atrás do Bilau, não sei o quê (risos). Eu fiquei assustada com a história, se você quer saber. Passou o dia, aquele alvoroço, o Thiago me contou a história, eu fiquei assim meio assustada com esse acontecimento. Quando a Suzane chegou o Thiago só me falou: “Ó, o cartão ficou com a Suzane, ele deixou um cartão com ela pra te entregar, mandou entregar na sua mão e falou alguma coisa pra ela, mas ela tá preocupada”. P/1 – Ela confiscou o cartão? R – Ela segurou o cartão, mas no dia depois, quando eu cheguei de tarde, ela entregou o cartão: “Seu Bilau deixou pra você” (risos). Aí, atrás tava escrito: “Cinema, jantar”. Eu não respondi nada, fui até mal educada. Na semana seguinte o Bilau veio aqui, eu me escondi de Bilau, pra ele não me ver, assustada com a história. Sério. Não falei mais com ele. Bastante tempo depois que eu peguei o email dele, disse que tinha recebido o cartão, agradeci, mas que eu tava namorando uma pessoa, que eu não podia ter nenhum tipo de relacionamento. Pronto. Aí, acabou a história ali. Mas foi uma história tão engraçada, essa história do Bilau. Aí, começaram a pensar no meu nome, se eu fosse casar com Bilau, como seria o meu nome: Cátia da Costa Pinto Bilau (risos). Foi muito engraçada essa história do Bilau, até hoje as pessoas falam disso aqui. Agora essa história do doador não sei. P/1 – Com esse nome também é inesquecível, né? R – (risos) Essa história do seu Bilau é inesquecível. P/1 – Cátia, você falou um pouco das doações. Queria perguntar o que mudou nesses anos, desde o início lááá da casa da Susane, pra hoje. O que você acha que foi uma mudança marcante? R – Eu acho que toda a estrutura da Brazil Foundation mudou bastante desde quando nós começamos pra cá. Por necessidade mesmo foi preciso se desenvolver, melhorar os processos de gestão, de organização. Mudaram bastante tudo. P/1 – O que você acha que mudou na parte de gestão? R – Eu acho que essa parte mesmo de controle de processos mudou bastante e ainda precisa mudar muita coisa. Inicialmente, eu ficava muito assustada de estar mexendo com todo esse dinheiro da Brazilfoundation, como se eu não tivesse capacidade daquilo. Nossa, um medo mesmo de que alguma coisa acontecesse. Eu tinha muita preocupação com isso e não me achava capaz de segurar aquela onda, de levar isso e tal, falava sempre com a Susane. Mas foi preciso ser assim de lá pra cá. Eu vejo que a gente ainda precisa andar bastante. Voltando um pouquinho lá no passado, agora que eu compreendo, que o que faltou pra gente lá no passado? Faltou planejamento, a Brazilfoundation começou sem planejamento. E isso dificultou bastante as nossas atividades porque a gente sabia mais ou menos o que era a Brazilfoundation, mas não sabia efetivamente o que é a Brazilfoundation, onde queremos chegar, quais são nossas metas, o que a gente quer atingir no futuro. Nós começamos sem ter essa idéia. A parte de gestão mesmo, de ferramentas de controle, a gente não tinha nada. Tudo o que foi acontecendo dentro do escritório, e até hoje é assim, é de acordo com as demandas que vão surgindo. A gente precisa de um programa, de uma atividade nova, e assim a gente vai fazendo. Mas se a gente olhar efetivamente, vê que dentro dos processos de gestão a gente ainda precisa andar bastante. Eu vejo a Brazilfoundation com esses dez anos como se fosse uma adolescente mesmo, que a gente ainda tem bastante coisa pra caminhar em termos de organização e gestão para poder melhorar ainda um pouco. P/1 – Cátia, retomando. Você estava falando dessa parte da gestão que você acha que ainda tem um caminho pra andar. R – Isso. Acho que nós já caminhamos bastante, se comparado a várias instituições que a gente vê, a gente tem uma estrutura legal, mas ainda sinto que temos um caminho a andar. Nós fomos levando as atividades de acordo com as demandas que foram aparecendo. Como não houve esse planejamento inicial, a gente não tinha uma ferramenta para acompanhar um programa específico pra isso ou pra aquilo. Tudo foi tendo que ser feito ali na marra. Uma planilha que eu tinha que preparar, fazer um documento, montar, tudo era preparado pra gente mesmo. E é assim até hoje praticamente. Quando a gente sai pra rua e vê outras instituições trabalhando, a gente vê e pensa: “Nossa, a gente tem que caminhar bastante ainda”. Esse choque eu tive em 2005 quando eu fui fazer um curso na Avina, eles fizeram um curso de Rede de Administradores pra instituições que a Avina apoiava, porque o foco da Avina são os líderes, a Leona, a Susane. E através do apoio deles, eles começaram a ver que a parte de gestão nas instituições estava descoberta. As pessoas estavam tendo muitos problemas na prestação de contas, organização, tudo, então, eles montaram esse curso de Rede de Administradores da Avina, voltada para os gestores das instituições que eles apoiavam. Aí, me convidaram pra participar representando a Brazilfoundation, fui, foram quase três anos, cada ano fazia um módulo, lá em Curitiba. Então, a primeira vez, aquele impacto de saber das coisas, foi muita novidade, meio assustador até. “Nossa, a gente não tem nada disso. Como eu vou fazer pra implantar tudo isso?”. Algumas coisas eu consegui implantar, outras não. Depois disso eu nunca mais participei de curso nenhum, e semana passada eu fui participar de um curso do Gife, Ferramenta de Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Foi um outro momento de choque pra mim, de novo, de falar: “Nossa, não temos nada disso”. Quer dizer, não temos nada disso. O que fazer para atingir, foram apresentadas várias ferramentas de gestão, falou-se da parte de planejamento, da integração entre a parte de gestão com as outras áreas da instituição. Tem muitas coisas ali que eu vi que a Brazilfoundation não conseguiu atingir ainda, e ainda falta bastante para atingir. Embora nós consigamos caminhar com tudo que nós conseguimos criar aqui dentro, nós conseguimos caminhar bem, mas, se tivéssemos aquelas ferramentas, aquele planejamento acompanhado sistematicamente e tal, com certeza estaríamos bem melhores. Agora o momento é de digerir todas as ferramentas, o novo conhecimento, como eu vou poder aplicar tudo aquilo aquilo dentro? Com certeza vou precisar do apoio de pessoas das outras áreas. Porque o que eu vi ali naquele curso era que a parte de gestão, o administrador precisa ser um profissional que integra não só a área dele, de finanças, mas ele integra todas as demais áreas da instituição, é uma coisa só. Eu não me vejo assim. Apesar de participar um pouquinho de cada área aqui porque não tem como o financeiro fazer also sozinho, tem que passar por mim no início ou fim. Mas eu não me sinto participativa efetivamente do que acontece no dia a dia das outras áreas. Eu vi que eu ainda tenho que buscar muito conhecimento, tenho que aprender mais. Talvez, tenha que tentar ver novas ferramentas que possam ajudar não só a mim, mas também às outras áreas, principalmente aqui no monitoramento, que eu vejo que o acompanhamento dos projetos é um negócio bem complicado. Vejo que a gente precisa de uma ferramenta de acompanhamento desses projetos, que fica meio difícil o acompanhamento. P/1 – E nesse meio tempo você foi fazer faculdade. Queria que você contasse um pouco isso, você sentiu a necessidade? R – Eu senti essa necessidade de ter mais conhecimento, de perceber que aquilo que eu sabia não era suficiente para ajudar a instituição. Eu não pensei só em mim, no pessoal, de ter uma graduação. Eu penso na minha graduação de maneira que eu possa ajudar a instituição. Por isso que eu escolhi fazer Administração, fiquei em dúvida entre fazer Administração ou Contabilidade, mas eu queria fazer algo que com aquilo que eu aprendesse eu pudesse ajudar a instituição a crescer, a melhorar os processos e tudo o mais. Fui buscar essa graduação, eu estou fazendo esse curso agora na Universidade Estácio de Sá. E também acho que foi um momento importante pra mim, acho que a nossa cabeça muda quando você vai buscar um conhecimento, uma coisa que tá te trazendo outros horizontes. Depois que eu comecei a fazer essa graduação que eu comecei a ver, perceber e sentir onde que a gente precisa chegar, o que a gente precisa pra melhorar. Ainda não sei como fazer isso, como fazer o que é preciso fazer, mas sei que a gente precisa fazer. Então, por isso eu vou buscar essa graduação, não só para o meu pessoal, falar “eu tenho uma graduação”. E também ficava chato ter uma função importante aqui dentro e eu não tenho uma graduação, pra mim também era desagradável no lado pessoal. P/1 – E você está como Gerente Administrativa desde quando? Queria que você me dissesse qual é o seu cargo. R – Eu sou Gerente Administrativa e Financeira. Na verdade eu ocupo este cargo desde sempre porque esse cargo foi só o nome que depois de uns anos pra cá começou a ocupar, mas eu faço isso desde o início. P/1 – Cátia, tem o Pedro. Qual é a colaboração do Pedro? R – O Pedro Toledo começou a trabalhar com a Brazilfoundation em 2003 como voluntário. Ele se aposentou em Furnas, acho que depois de trabalhar na empresa por uns 30 anos, e procurou a Brazilfoundation para trabalhar como voluntário. O Pedro foi super importante pra gente também, porque vai surgindo alguma demanda na área de gestão, ele é uma espécie de consultor financeiro na Brazilfoundation. Todo tipo de probleminha de gestão o Pedro me ajuda, se tenho algum problema: “Pedro, estou com essa dificuldade”, e ele vai, me ajuda. Coisa que a gente não sabe ele pesquisa, a gente vai e consegue aplicar. Ele acompanha as aplicações da Brazil Foundation, apoia no monitoramento com essa parte de prestação de contas, ele monta as planilhas e faz o acompanhamento da prestação de contas também. É uma pessoa que se tornou uma pessoa chave aqui pra gente, super importante. P/1 – Ele participa com uma frequência bem regular... R – E ele também é Conselheiro Fiscal da Brazil Foundation. Acho que desde 2008, 2009 ele é Conselheiro Fiscal da Brazilfoundation. Apesar do pouco tempo que ele passa aqui, o trabalho dele é super importante pra nós, não só pra mim, porque ele me dá apoio sempre que eu preciso, mas eu acho que agora mais pra área de monitoramento dos projetos. P/1 – E pra essa sua área é uma interlocução que você tem, né? R – Isso. Sempre que eu tenho uma dificuldade, alguma coisa, eu falo com ele e a gente junto tenta dar uma resolvida na história da melhor maneira possível. Também quando eu tenho alguma dificuldade pra poder acompanhar algum processo, alguma coisa, eu busco contador, até falo com auditoria, com o pessoal da assessoria jurídica também, da Tozzini, quando tem algo necessário. Então, eu vou levando, mas sempre tenho o apoio de alguém pra buscar ajuda pra determinado problema que eu tiver. P/1 – Cátia, nesses anos todos, o que foi um grande aprendizado pra você? De qualquer área, de uma maneira mais aberta, o que a sua memória, o seu coração... R – Não sei, acho que conhecer as pessoas, a importância do trabalho da Brazilfoundation, porque eu não tinha isso lá no início, de entender o que era a Brazilfoundation. Eu trabalhava por necessidade, mas eu acho que é um trabalho super importante de apoiar as instituições que buscam o desenvolvimento de suas comunidades, do entorno onde eles vivem. Então, eu acho que é um trabalho tão importante, acho que a coisa mais importante pra mim foi ter percebido isso, o quanto é importante o trabalho que a gente desenvolve aqui. E tudo o que eu puder fazer pra melhorar e colaborar pra que isso seja cada vez melhor eu vou fazer. P/1 – Tem algum dos projetos que tenha mexido mais com você, que tenha te impactado mais? R – Como eu não tenho um acompanhamento muito direto com os projetos, eu nunca fui visitar e tal, à distância eu gosto muito do Vidança. Porque eu acho que a Anália, que é a coordenadora do projeto, ela batalha bastante pra dar uma qualidade de vida melhor pras crianças, as famílias delas e tal. Acho que o trabalho que eu mais tenho proximidade e gosto é o Vidança. Tem outros também, a dona Euni lá de Seabra, na Bahia, lá também é um trabalho que mexe bastante com as pessoas daqui porque ela também é uma batalhadora. A história de vida dela é super interessante, ela até emociona todo mundo com a disposição dela em poder apoiar a comunidade. Esses dois trabalhos são os que eu mais me identifico e gosto. P/1 – E da equipe? Você acompanhou as mudanças aqui. Teve algum momento mais complicado, teve muita mudança? Agora eu sei que está com uma equipe mais nova. R – Apesar de perceber as necessidades, as dificuldades que nós vivemos, financeiras e tudo, eu acho que o momento mais difícil que nós tivemos em relação com a equipe, de comunicação, de integração, de relacionamento com a equipe foi o ano 2010. O ano 2010 foi um ano bom pra gente em relação à arrecadação, mudança de cenário em relação à captação de recursos, mas foi um ano muito difícil em relação à equipe. Tivemos muitos problemas aqui com a equipe, divergências, problemas de relacionamento, muitas discussões. Aliás, isso tudo começou no final de 2009 e se arrastou pelo ano de 2010 quase todo. O ano de 2010 terminou e a coisa tinha mudado, deu uma acalmada no final do ano, e pudemos respirar. Nossa, que ano difícil esse. Pra mim o ano mais difícil, apesar de todas as dificuldades que já passamos, foi 2010. P/1 – Por causa dessa mudança de equipe? R – Por causa da mudança de equipe, de dificuldade de relacionamento com a equipe. Porque é difícil, quando uma equipe não se dá bem, quando um não se dá bem com outro, aquela pessoa, ou aquelas pessoas, acabam passando um clima desagradável para as demais pessoas da equipe. Acho que foi difícil não só pra mim, mas pra Susane também. Particularmente pra ela, acho que foi muito difícil, porque ela segurou as barras mais pesadas em relação a isso. Mas o clima na instituição estava muito pesado, até pra mim estava difícil de trabalhar, não tinha aquela vontade ‘eu vou trabalhar, hoje eu vou pro meu trabalho que eu gosto tanto’. Naquele momento, nossa, tem que ir pra aturar aquele pessoal. P/1 – E a sua relação com a Suzane nesses dez anos, que você falou, que pra ela também tava ruim, você se refere a ela... Mudou, continuou no mesmo... R – Eu acho que nós ficamos mais próximas, porque tudo o que acontece eu tenho que falar com ela, nós temos que discutir juntas as soluções, os passos que nós vamos dar. Tinha um certo distanciamento, mas acho que cada vez a gente vai ficando mais próxima, ao longo dos anos. P/1 – Imagina, ela não queria nem te perder pro senhor Bilau (risos), até confiscou o cartão dele. R – Ela é uma pessoa muito generosa, uma pessoa que se preocupa com o que está acontecendo com as pessoas da equipe. Pelo menos comigo ela sempre se preocupou bastante, quando eu me separei, eu me lembro que ela me ajudou, me apoiou, é uma pessoa muito importante na minha vida. P/1 – Cátia, vou encaminhando a entrevista pro final, a gente ainda podia ficar mais um pouco, mas acho que você também já tá cansada. O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer? R – Ir pro samba. Samba pra extravasar a semana. Isso é uma novidade pra mim, ir pro samba (risos), mas é o momento de encontrar com os amigos, tomar uma cerveja, me divirto lá. Geralmente no sábado. E uma vez por mês tem uma feijoada também, roda de samba mais uma vez. Esse tem sido o meu momento de diversão. Quando às vezes eu saio com o meu filho, a gente vai no cinema, vou no shopping com ele. Meus momentos tem sido com ele, porque depois que eu me separei eu não casei de novo, tive outros namorados, mas não casei. P/1 – E você tá namorando agora? R – Mais ou menos, não é nada sério. Então, no momento de ir lá no samba, de distração, de esquecer tudo o que aconteceu durante a semana, pra extravasar. E fora que esse negócio de estudar também demanda muito tempo, então, não tenho muito tempo para lazer, não. Vou no momento que dá, na hora que dá, se no dia não dá eu fico em casa, pronto. P/1 – E o Gustavo tem um pouco do seu temperamento R – O Gustavo tem um pouco do meu temperamento. Por causa de tudo o que ele vê acontecendo e passando, acho que tem sido um pouco de exemplo pra ele. Eu sempre falo pra ele: “Olha, você tá vendo, ninguém tá te falando. As coisas que estão acontecendo, a dificuldade que a gente passa, tudo isso. Por aí, você já tem o que você pode querer para você”. Eu incentivo muito ele a estudar, coloquei ele no curso, estou sempre buscando uma novidade pra ele fazer. E ele é muito ligado nisso, ele quer melhorar, quer estudar, é bastante interessado. Ele é calmo, tranquilo. P/1 – Quantos anos ele tem mesmo? R – Catorze. Mas ele também tem um pouco da personalidade do pai dele, um temperamento um pouco difícil às vezes. Mas eu vou contornando da melhor maneira possível e assim a gente vai levando. P/1 – Cátia, tem alguma coisa que a gente não pensou aqui e que você gostaria de deixar registrado? Algo que a gente esqueceu? R – Eu acho que é bom ficar registrado a importância do escritório da equipe de Nova Iorque. A gente fala o tempo inteiro aqui do Brasil, mas sem o trabalho que eles desenvolvem lá, acho que pra gente também seria difícil. Os dois trabalhos são importantes e acho que os dois tem que se ligar cada vez mais para o bem da instituição, pra que a gente possa caminhar. Então, tudo o que eles fizeram lá, mesmo com voluntários, com a Leona, a Patrícia, todos eles da equipe de Nova Iorque, também acho que é um trabalho que tem que ser destacado porque eles são muito importantes também, os dois são. Cada lado com a sua importância, mas sem um ou outro, não existiria a Brazil Foundation. A Leona também, é uma pessoa super respeitada que a gente tem a maior admiração pelo trabalho dela, por tudo que ela representou. Muitas das pessoas, das empresas, os apoios que nós tivemos foi por intermédio e conhecimento dela. Acho que tem que ser dada a importância pra tudo isso. Então, acho que não tem como um sem o outro, os dois tem que dar as mãos pra poder levar a instituição pra frente. P/1 – Queria terminar perguntando se você gostou de ter participado do Projeto Memória, o que você pensa do Projeto dez anos, e se você gostou de ter dado essa entrevista. R – Eu gostei, fiquei assustada por uns dias porque tem que falar coisa do passado, e eu nunca gostei de ficar falando das coisas que passaram porque agora pensando bem foi uma escadinha que vai subindo, a gente vai melhorando aos poucos. Mas nunca gostei de dar entrevista, de falar em público, morro de medo de falar em público, toda vez que eu tenho que falar é um sofrimento danado. Então, sei lá, hoje é um pouco, acho que quebrando um pouco desse medo meu de falar, dar entrevista, não sei o quê. Eu sempre fujo, fujo o máximo. Mas acho que o meu medo maior era falar sobre tudo o que aconteceu no passado, mas acho que foi importante fazer esse resgate. E também a parte da família eu fico sempre pensando o que fazer para integrar mais a família, a minha família. Porque somos uma família enorme, os dez irmãos, mais os sobrinhos, umas 50 pessoas, mas é todo mundo muito desligado, um não dá muita importância pro outro, a gente não sabe muito bem o que o outro faz. Sabe muito superficialmente, e é muito difícil, então, gostaria de arrumar uma maneira de poder integrar mais as pessoas. Ainda não consegui, mas é uma esperança que eu tenho de poder ter as pessoas mais unidas na família. P/1 – Com a sua disposição, certamente você vai conseguir, sim. R – Eu vou tentando, é difícil. Acho que é mais difícil que fazer as coisas aqui da Brazilfoundation, mas vamos tentando. P/1 – Cátia, e esse balanço dos dez anos que você faz. Foram bons, passaram rápido? R – Nossa, passaram muito rápido. Acho que foi bastante positivo o balanço que eu posso fazer do desenvolvimento do nosso trabalho. Apesar de todas as dificuldades, aos trancos e barrancos, a gente vem levando esse trabalho bem. Se a gente pensar na quantidade de pessoas, projetos, instituições que já conseguimos atingir com nosso trabalho, mesmo com os problemas existentes, é uma coisa maravilhosa a gente pensar em tudo isso. E a visão que o público externo tem da Brazil Foundation é um negócio pra gente sentir orgulho mesmo. Quando eu ouço as pessoas falarem sobre a Brazilfoundation, as pessoas olham pra gente com o maior respeito. Então, acho que isso é em função de tudo o que nós fizemos nesses anos todos. E semana passada eu tive uma prova disso quando falam da Brazilfoundation. Eu estava no meio de várias instituições importantes, “Nossa, você é da Brazil Foundation?”. Via na fala das pessoas o quanto eles achavam que o nosso trabalho era importante. Então, é o maior orgulho fazer parte dessa equipe, e o que eu puder fazer pra melhorar ainda mais, farei. E espero poder fazer e participar de mais sei lá quantos anos, da Brazil Foundation. P/1 – Cátia, queria agradecer por você ter dado essas horas do seu trabalho, porque sei que é complicado. R – Eu que agradeço a oportunidade, pra mim também foi muito importante. Acho que fazer e depois pensar nisso tudo que aconteceu aqui hoje, de ter falado, também vai ser importante pra mim pessoalmente. Também agradeço. P/1 – Que bom. Obrigada. (Mário?) – Página 1. Depois que eu saí de lá dessa ONG eu comecei a trabalhar com outra moça em Ipanema, o nome dela é (Débora Cavalcante, ela é color design) – Página 14. Aí, fui trabalhar mais um dia pra fazer as ____ da Brazil Foundation que começaram a surgir. – Página 16. (Chair?) – Página 19. (Iedes?) – Páginas 20, 23, 24
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