Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Simone Almeida da Silva
Entrevistada por Marina Galvanese
Mauá 14/11/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_29
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então olá, Simone, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Vou começar pedindo pra você falar de novo seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Simone Almeida da Silva, nasci no dia 6 de novembro de 1979, e moro em Mauá há 17 anos, e nasci em São Paulo.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai é Domingos Eleutério da Silva e a minha mãe é Edna Aparecida de Almeida da Silva.
P/1 – E o que eles faziam, ou fazem?
R – Meu pai é metalúrgico e a minha mãe sempre trabalhou em casa mesmo.
P/1 – E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Deixe-me ver. Ah, acho que são uns batalhadores, porque meu pai, ele perdeu o meu avô, o pai dele, que tinha nove anos quando ele perdeu o pai dele, depois ele ficou todo o tempo com a minha avó, que hoje é falecida. Minha avó criou dois filhos e eles conseguiram ser pessoas de bem, então isso é bem bacana. E a minha mãe, ela perdeu a minha mãe com 13 anos e também sempre foi uma pessoa de bem.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Somos sete meninas e um menino.
P/1 – Nossa!
R – É.
P/1 – E quem é o mais velho? Você está onde aí nessa...
R – A Suzana é a mais velha e eu sou a quinta filha.
P/1 – Tá. E qual o nome dos outros todos? Suzana...
R – Suzana, Silvana, Adriana, Selma, eu: Simone, Cibele, Elias e Cilene.
P/1 – Olha só. E você falou um pouquinho dos seus avós, que faleceram quando eram muito jovens, eles eram da onde? Nasceram onde?
R – O meu avô era baiano. Meu pai nasceu na Bahia, depois veio depois que meu avô morreu. Meu avô era garimpeiro e caiu barranco em cima. E minha avó por parte mãe era daqui de São Paulo mesmo. Minha mãe sempre foi de São Paulo, meu pai que era da Bahia.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Olha, na igreja, porque nós somos evangélicos e meu pai tocava na banda da igreja e minha mãe cantava no coral da igreja. Eles se conheceram na igreja.
P/1 – Quantos anos eles tinham, mais ou menos?
R – Minha mãe tinha 18... Não. Dezoito não. Quando ela casou, ela tinha 19, meu pai tinha uns 20, 20 e pouquinho, 27.
P/1 – Novinha a sua mãe. E você se lembra da casa onde você cresceu, onde você passou a sua infância? Onde era?
R – Lembro. Eu lembro bem de relance, porque antes a gente morava numa casa de aluguel que ficava lá em São Paulo, ali em Pirituba, quando eu era bem pequenininha, acho que eu tinha uns dois, três anos, porque eu tenho foto, mas eu tenho relance de algumas coisas. Que como eu fui a quinta filha, a que teve mais distância, de cinco anos. Porque nós somos tudo carreirinha. E eu, como tive cinco anos de diferença, então quando eu cheguei a casa era uma festa, então eu tenho muita foto de quando eu era pequenininha. Depois nós mudamos pra ser zelador de uma igreja na Vila Iório. E eu cresci, saí de lá eu tinha 18... Não, tinha 15 anos quando eu saí de lá.
P/1 – Até lá você ficou...
R – Eu fui com dois, três anos. E lá foi a minha infância inteira. Depois só saí de lá pra outra casa, depois vim pra Mauá.
P/1 – E como era esse bairro, esse lugar onde vocês foram morar?
R – Olha, era um bairro muito bacana. Hoje em dia quando eu volto lá, eu falo: “Meu Deus do céu, essa rua não era essa rua”. Mas eram pessoas muito bacanas, a gente brincava bastante na rua, porque tinha muita criança na rua, então a gente brincava bastante. E como o pátio da igreja era muito grande, a gente levava todo mundo pra igreja. Porque a minha mãe não deixava a gente ficar na rua, então a gente brincava no pátio da igreja. E foi muito bacana.
P/1 – E como era o relacionamento com esses irmãos todos? Vocês se davam bem?
R – Sim. Nós nunca fomos muito de briga. Nunca fomos. A gente se dá bem até hoje e somos uma família muito unida. E nunca tivemos problemas sérios. Briguinha de criança, de um bater, a mãe vai, bate em um porque bateu, essas coisinhas só.
P/1 – E do que vocês brincavam? Você lembra?
R – Olha, nas escadas, nas escadas antigas, antes tinha as escadas e tinha uns corrimãozinhos. Eu lembro que tinha os pisos e a gente descia escorregando as escadas da igreja. Descia todo mundo, um atrás do outro, parecendo uma fileirinha. Ou senão, a gente pegava uns caixotes grandes, entrava todo mundo dentro e descia nas escadas pulando. Até no dia que aconteceu um acidente com o meu irmão, que tinha um pedaço de ferro na ponta, na hora que a gente desceu, eu desci com meus irmãozinhos, que eu era a mais velha dos quatro menores, então eu coloquei todo mundo dentro da caixa, e ele era o menor, então ele ficou primeiro, e nós atrás dele. Quando descemos, a ponta do ferro entrou na boca dele, varou do outro lado. Minha mãe bateu em todo mundo (risos). Eu porque era mais velha, mas porque deixei, incentivei. Aí minha mãe bateu em todo mundo e a nossa brincadeira nunca mais... Não pudemos mais fazer, porque minha mãe proibiu de fazer, porque senão ia matar alguém, diz ela (risos).
P/1 – E como era esse convívio na igreja? Vocês iam para o culto?
R – Sim.
P/1 – Como era isso?
R – O convívio na igreja também bacana, porque tudo criança, todos os amigos da minha idade. E a gente ia todo domingo, porque de sábado não tinha. Tinha no domingo, terça... Segunda e quarta, o culto.
P/1 – E aí vocês iam todos os filhos?
R – As minhas irmãs que estudavam à noite, trabalhavam, que eu tenho irmãs mais velhas do que eu, então elas trabalhavam de dia e estudavam à noite, então de vez em quando nós menores íamos pra igreja de semana, mas de domingo, todos na igreja.
P/1 – E essas suas irmãs trabalhavam com quê?
R – A minha irmã mais velha trabalhava com... Mais velha não, acho que todas, trabalhavam com costura. E tinha uma delas que trabalhava numa editora, Multi Editora, que fazia figurinhas e álbuns de colar figurinhas das crianças.
P/1 – E você gostava desses álbuns quando era criança?
R – Ela trazia um monte, porque como era muito repetido, então eles davam. Então ela trazia um monte de álbum desses cantores que tinha nos Estados Unidos, então a gente sempre tinha um monte de álbuns lá em casa.
P/1 – E nessa época quando você era criança, você queria ser o quê quando você crescesse?
R – Eu sempre pensei que eu ia ser bióloga.
P/1 – Olha! Por quê?
R – Ah, não sei, eu gosto de biologia, porque eu gosto de lidar com bicho. Mas depois que eu soube que tinha que ficar mexendo em sapo, mexendo em rato, eu tenho pavor de bicho, não dá. Não dá. Quando eu cresci, eu até fiz o teste vocacional que tem na escola, eu fiz, um deu Música e o outro deu Biologia mesmo. Eu falei: “Ah, eu vou fazer Biologia”. Mas aí veio uma amiga minha, falou: “Ah, faz Patologia”. Daí eu fiz Patologia, sou formada, sou técnica em patologia. Trabalhei na área já, mas também não gosto, porque morre muita gente, eu não gosto de laboratório, ficar vendo aquelas crianças na UTI tirando sangue.
P/1 – Ok.
R – Não. Não dá. Sou fraca.
P/1 – Mas voltando um pouquinho então. E na escola, qual a sua primeira lembrança? Onde era essa primeira escola que você frequentou.
R – A escola também ficava tudo ali perto do... Pirituba mesmo, porque era a Escola Liberato Bittencourt. No 15. A gente a chamava de 15. E eu estudei lá o prezinho, porque tinha pré na época, eu fiz o prezinho e fiz a primeira série. Mas eu tinha muita dificuldade pra entender. Eu tinha problema pra entender. Eu não entendia nada. Eu lembro que a minha mãe ficava no meu pé: “Não, filha...”. Eu tinha dificuldade pra ler. E o ensino lá era mais forte. O ensino era mais forte, não é igual agora. Se você não soubesse ler naquela época, você não passava de ano e esquece. Então eu lembro que eu reprovei a primeira série e fiquei com muita vergonha, porque todo mundo na igreja tinha a mesma idade que eu, todo mundo ia pra segunda série e eu reprovei a primeira. Aí falei pra minha mãe, não queria ir pra escola, minha mãe me forçava ir pra escola. Daí ela me trocou de escola. Daí eu fui para o Joaquim Silvado... Não para o Tamandaré. Eu fui para o Tamandaré, mas lá tinha outro problema, tinha um pedaço de uma estátua, só de corpo pra cima aqui, e eu assistia a Família Addams, e tinha um episódio que o raio batia na estátua e ela saía andando. E eu não passava ali de jeito nenhum: “Mãe, não aguento”. Não conseguia passar. Minha mãe me levava até a porta da escola, eu passava com o olho fechado, que eu não podia ver aquela estátua. Se tivesse chovendo, eu dava meia-volta, eu ia embora. Eu não passava. Eu falei pra minha mãe: “Mãe, não dá pra eu ir pra aquela escola, eu tenho muito medo daquela coisa que fica pendurada lá na frente” “Mas ela não vai fazer nada, Simone”. Eu: “Mãe, não entro”. E quando minha mãe não me levava, eu voltava pra casa, falava: “Mãe, não tem aula”. Toda vez. Minha mãe subiu na escola, eu reprovei por causa de falta, porque eu ia embora, falava que não tinha aula. E minha mãe sempre envolvida na igreja, e meu pai trabalhando. Minhas irmãs não ligavam. Eu chegava a casa, dormia, ficava lá dormindo. Daí reprovei de novo a primeira série. Daí minha mãe me trocou de escola de novo, voltei para o 15. Depois que eu reprovei a segunda vez, eu consegui entender a matéria e consegui passar de ano. Depois disso nunca mais eu reprovei.
P/1 – E tem algum professor que você lembre mais marcante dessas épocas da escola primária?
R – Então, eu me lembro de uma, que foi a que eu consegui entender o que ela falava pra mim, era a professora Mara, do 15. Eu entendia tudo que ela me falava. Parecia que ela abria a minha cabeça e jogava tudo lá dentro. Eu entendia tudo, até Matemática, que agora eu sou apaixonada por Matemática, eu entendia com ela, a professora Mara.
P/1 – E mais alguma... O que vocês faziam na escola? Tinha amigos? Como foram essas mudanças todas com os colegas?
R – Então, eu tinha... No Tamandaré eu tinha...
P/1 – Então, como foi? O que vocês faziam na escola com os amigos, essas mudanças todas?
R – No Tamandaré, eu tinha muito medo, então eu sempre ficava longe daquela estátua porque eu tinha muito medo, não sei. Até eu lembro hoje, eu fico rindo de mim mesma, porque não é possível. Mas no 15, eu tinha muitos amigos, porque como eu já tinha estudado o prezinho, quando eu voltei pra lá, então eu revi meus amigos do pré, eles estavam duas séries acima de mim, porque eu reprovei duas vezes. Mas eu tinha meus amigos lá e lá tinha parquinho. Antigamente, as escolas tinham os parquinhos, e a gente brincava todo o intervalo, recreio, a gente brincava lá no parquinho. Com gira-gira, escorregadores, tudo mais.
P/1 – E você ia pra escola normalmente... Sua mãe te levava, ou então se você ia sozinha, você voltava pra casa (risos).
R – É. No Tamandaré era assim, eu não conseguia entrar. Agora, no 15, depois que eu voltei para o 15, daí eu já ia sozinha, não tinha problema, porque lá não tinha nenhuma estátua.
P/1 – Ia sozinha. E seus irmãos mais novos iam com você?
R – Como as minhas irmãs maiores trabalhavam, então eu levava as crianças de manhã e minha mãe as pegava à tarde enquanto eu estava indo pra escola.
P/1 –E o que você gostava mais na escola? Alguma matéria depois que você...
R – Que eu consegui. Eu gostava de Matemática, porque Português até hoje é meu fraco. Gosto de Matemática. Tudo que é Exatas, eu gosto.
P/1 – E teve algum professor, alguma professora de Exatas, de Matemática que...
R – Ah, teve o professor Giovane, muito bom, meu professor da sexta série. Da sexta e da sétima. Muito bom. Muito bom. Eu entendia tudo que eles me falavam. Tudo. Agora, Português, eu não consigo.
P/1 – E aí você ficou nessa escola até o fim? Como foi?
R – Não, daí eu mudei da Vila Iório e fui morar um pouquinho mais pra frente, então tive que mudar de escola. É, eu mudei de escola, sim. Porque daí eu comecei a trabalhar, porque como eu já tinha dois anos perdidos, eu comecei a trabalhar com 14 anos. Então eu mudei para o Joaquim Silvado, onde eu fiz a oitava, primeiro, segundo, e o terceiro eu fiz aqui em Mauá.
P/1 – E você trabalhava com quê?
R – Eu fazia bijuteria: anelzinho, pulseira, colar.
P/1 – Mas em alguma fábrica, algum lugar?
R – Era uma fábrica pequenininha que tinha lá perto da minha casa mesmo.
P/1 – E como você conseguiu esse trabalho? Você lembra?
R – Uma amiga da minha mãe que morava de frente, ela disse que tinha essa empresa pequenininha que estava pegando menor, aí fomos eu e minha irmã. Eu tinha 15 e a Cibele tinha 14, daí nós fomos trabalhar.
P/1 – E você lembra o que você fez quando você recebeu o primeiro salário?
R – Lembro. Meu pai tava endividado, eu dei meu salário para meu pai pagar o moço. Eu dei tudo pra ele, daí ele pagou o moço lá.
P/1 – E quando você começou a sair mais com amigos? Seus pais deixavam você sair?
R – Eu sou muito caseira, não gosto muito de ficar zanzando, não. E quando eu era menor, acho que eu sofria de depressão. Não sei se era depressão, mas eu não gostava de sair, tinha pavor da noite. Quando chegava a noite, pra mim era um suplício, parecia que ia morrer. Não gostava da noite. Mas eu saía de vez em quando, ia para os parques. Sempre de dia, que eu não gostava muito da noite, não. Depois que eu comecei a fazer faculdade que eu não tenho problema com a noite agora.
P/1 – Mas você tinha um grupo de amigos na juventude?
R – Sim. Tinha.
P/1 – Os mesmos da infância, ou não?
R – Tudo da infância. Tudo da infância. Que está hoje eu tenho contato com eles.
P/1 – E depois desse primeiro trabalho nessa fábrica de bijuteria, você tava ainda estudando. E depois como que...
R – Depois eu saí e fui trabalhar numa empresa que era terceirizada com a Melhoramentos. Eu fazia dicionário, índice de Bíblia, fazia Bíblia, tudo nessa minieditora que a gente trabalhou. Eu trabalhei registrado, acho que eu tinha uns 16... Dezesseis, 17 anos eu tinha.
P/1 – Tava na escola ainda. Tudo isso trabalhando e estudando.
R – Na escola. Sempre.
P/1 – E quando você resolveu fazer faculdade? Você falou que fez Patologia, como foi isso?
R – É. Patologia, eu gosto muito de lidar com gente, mas pessoas que eu não vejo sofrer, que eu choro. A primeira vez que eu fui tirar sangue de uma pessoa lá na UTI, era um senhorzinho, ele tava com soro, na hora que eu o furei, começou a sair um monte de água. Porque quando a pessoa fica no soro, ela incha. Mas aí me deu um surto lá, eu fazia: “Não quero, não quero, não vou tirar, não vou tirar”. O meu amigo que estava do lado, ele só faltou me dar uns petelecos na cara pra eu voltar em mim. Eu tremia, falava: “Não, consigo, meu. Não consigo”. Ele me tirou de dentro da UTI, e eu passando mal, quase desmaiei, tive que sentar no chão, porque eu estava muito mal. Não consigo ver o sofrimento dos outros, eu fico muito ruim. Eu trabalhei, depois fui fazer estágio em outro laboratório, mas aí eu não via os pacientes, mas eu descobria que eles estavam doentes, isso também pra mim não era bom. Como eu já fazia violino, eu tocava violino na igreja, eu fui estudar na Fundação das Artes. Eu fui fazer violino. Eu fiquei lá três semestres e depois saí de lá pra fazer faculdade.
P/1 – Só voltar um pouquinho então. Quando você vem pra Mauá? Em quê momento?
R – Eu vim em 97 pra Mauá. Porque meu pai é pastor e meu pai dirigia uma igreja lá em São Paulo, aí ele foi transferido pra cá. Aí em 97 nós mudamos pra cá.
P/1 – E você tinha quantos anos?
R – Eu tinha 18.
P/1 – Estava terminando a escola então.
R – É. Daí eu fiz o meu terceiro aqui em Mauá.
P/1 – E como foi essa mudança, sair de São Paulo?
R – Complicada. Muito complicada. Por causa da adaptação mesmo, deixar os amigos. E eu tinha que levantar muito cedo. Lá eu entrava às oito, eu acordava às sete. Mas como a gente mudou pra cá, eu levantava quatro e 45.
P/1 – Mas porque você continuou estudando em São Paulo?
R – Não, continuei trabalhando em São Paulo.
P/1 – Ah!
R – E o trabalho era em Pirituba. Então pra gente chegar lá no horário certo, a gente tinha que pegar o trem dez para as seis. Então a gente levantava... Eu chegava da escola 11 e meia, 11 e 20, até arrumar tudo, comer, eu ia dormir meia-noite e pouco. E quatro e 45, eu e minhas duas irmãs que trabalhavam lá, a gente em pé pra ir trabalhar. Então isso era muito ruim, porque como eu nunca tinha pegado tão cedo num trabalho, todo dia eu tinha dor de cabeça de levantar cedo e dormir tarde. Todo dia dor de cabeça. Então pegar o trem lotado, isso era muito ruim. Aí a empresa faliu, nós paramos de trabalhar, veio todo mundo pra cá, aí eu entrei na Fundação das Artes pra estudar violino, fiquei lá três semestres, depois saí pra faculdade. Isso eu já dava aula de violino.
P/1 – Então espere aí. E o violino entrou... Você tocava na igreja, como foi o primeiro contato com o violino?
R – Porque meu pai é musicista, ele tocava na banda quando ele era solteiro. Então em todas as igrejas que meu pai passava, ele queria ter uma banda, ele queria ter uma orquestra na igreja, porque ele gosta. Aí quando nós viemos pra cá, meu pai falou: “A gente vai montar uma orquestra”. E como tem bastantes filhos, né? “Vocês vão tocar. Vocês precisam tocar alguma coisa.” Então eu fiquei com o violino, a minha irmã Cilene toca sax, o Elias toca trompete, toca bateria, a Adriana toca clarinete, a Silvana toca sax, a Selma canta e a Suzana toca violão. Então todo mundo na minha casa toca.
P/1 – Olha só!
R – Daí veio um maestro e falou: “Olha, a gente precisa de tantos violinos”. Meu pai falou: “Então você vai ficar com o violino”. E eu queria tocar flauta. Eu falei: “Não, pai, eu não quero violino”. Porque eu tinha um trauma de infância com violino. Porque com os irmãos maiores, na minha igreja lá em São Paulo tinha um irmãozinho velhinho, que ele tocava violino muito mal, muito mal, muito mal. E quando ele morreu, as minhas irmãs falavam pra mim: “Ele morreu de tanto tocar aquele violino mal. Quem toca violino ruim, morre”. E eu fiquei com aquilo na cabeça, não podia ouvir violino. Eu não podia ouvir violino. Quando meu pai falou que era pra eu tocar violino, quase tive um infarto do miocárdio. Eu falei: “Não, pai, pelo amor de Deus, isso não. Eu quero flauta. Eu quero flauta”. Meu pai chegou com um violino, falou: “Olha, esse daqui é seu”. Eu falei: “Pai, mas eu não pedi isso”. E minha irmã caçula tinha pedido o violino, daí ela ficou: “Não, o pai só ouve você, porque ele deu o violino pra você, agora eu fiquei sem instrumento”. Eu falei: “Menina, pega o violino”. Mas ela tinha as unhas grandes. E como eu já trabalhava com patologia, eu não tinha unha grande, porque não pode ter. E ela falou: “Eu não vou cortar minhas unhas”. Eu falei: “Mas vai ficar com o violino?”. Dei um prazo pra ela, falei: “Dentro de uma semana se você não pegar esse violino, eu vou pegar e nunca mais largo, e não te dou”. Ela deixou o violino lá, então peguei o violino e falei: “Então vou estudar”. Foi na hora que eu comecei a estudar, que eu fui pra Fundação das Artes e estudei lá.
P/1 – E aí você gostou do violino quando começou, foi...
R – Ah, gostei do violino. Foi um sofrimento, que eu pensei que nunca ia aprender. Porque é muito difícil quando você está no começo, você conciliar... Como o violino não tem... Ele não tem tracinhos, ele não tem nada, ele é liso. Então você memorizar na sua mente os espaços do dedo é muito complicado. Depois você ler na partitura e não olhar no violino, aí é pior ainda. Então eu lembro que eu ficava o dia todo sentada, depois que eu parei de fazer os estágios, eu ficava o tempo todo sentada tocando, tocando, tocando, tocando, tocando, até na hora que... Meu pai sempre me apoiava, ele vinha e falava: “Nossa, filha, está lindo. Tá lindo”. Mas depois de um ano, depois de dois anos que eu comecei a tocar, meu pai: “Filha, dá pra entender o que você toca”. Eu: “Nossa, pai, então das outras vezes não dava pra entender”. Ele: “Não, era pra te incentivar, mas agora dá pra entender o que você toca. A gente consegue saber o que você está tocando”. Eu: “Ah, então tá”.
P/1 – E que músicas você tocava no início?
R – Eu tocava as músicas da igreja mesmo, porque a pessoa que foi me ensinar era da igreja. Ele me ensinou muita coisa errada também, foi daí que eu descobri que tinha uma escola... Sempre morei em São Paulo, mas eu nunca pensei que eu ia estudar e nunca soube também. Daí foi quando eu descobri da Fundação das Artes, que tinha curso pra violino, daí eu fui lá fazer o teste.
P/1 – E como você descobriu?
R – Olha, um amigo meu, que hoje é meu professor de violino, ele já tocava também... Nós começamos muito junto, mas como ele começou na antiga ULM, então ele sabia mais do que eu. Ele falou: “Não, Si, tem na Fundação das Artes, que tem também aulas de violino, que tem cursos pra violino lá”. Eu falei: “Ah, é? Mas é difícil?”. Daí eu estudei, passei lá no teste, aí eu estudei lá.
P/1 – E como foi esse teste? Você lembra? Você estava nervosa?
R – Lembro. Lembro sim. Eu estava apavorada, porque eu sou meio medrosa. Eu toquei um Minueto de Bach, e tinha... Acho que tinha 30 vagas, eu passei em sexto. Fiquei meio descontente, porque eu poderia ser mais pra cima (risos). Fiquei meio descontente, mas daí eu passei. Estudei lá, mas meu professor era muito ruim, não sei, ele me travava. Eu não conseguia desenvolver com ele. Não conseguia. Desmaiava dentro da sala dele de pavor dele. Até na hora que eu surtei, falei: “Não consigo entrar mais nesse lugar”. Saí de lá. Meu professor me massacrava demais, eu falei: “Não vou mais tocar violino. Chega!”. Fiquei um mês com ele lá, só dava uma olhada nele, falava: “Ah, não quero nem saber desse instrumento”. Fiquei um mês lá. Daí meu pai veio, falou comigo, que eu não podia ser assim, que a vida não era desse jeito, eu teria que aprender muito. Eu peguei o violino de novo, daí minha irmã ficava no meu pé, a Cibele: “Simone, vai fazer faculdade de Música. Vai fazer”. Eu falei: “Não, Cibele. Que eu não vou passar tudo que eu passei na fundação, não. Não aguento”. Mas ela falou: “Não, eu pago pra você tudo. Você só vai lá e faz o vestibular”. Ela pagou tudo, só falou: “Olha, esse é o dia pra você ir lá”. Ela fez minha inscrição, ela fez tudo. Eu fui lá fazer a prova e passei, daí já fiquei morrendo de medo. Mas quando você entra na faculdade é totalmente diferente.
P/1 – Que faculdade era?
R – Eu fiz Faculdade Paulista de Artes, que fica na Brigadeiro. Eu fiz licenciatura. E é totalmente diferente. É totalmente diferente. Não tem nada a ver com o curso técnico, que o povo te massacra. Nada a ver. É muito bom lá. Não que a fundação não me ajudou, a Fundação me ajudou muito, porque o ensino lá é muito forte, é muito pesado mesmo. Porque é nível técnico, então é muito pesado mesmo. Se você não estuda, você não fica lá. Daí eu fui fazer faculdade.
P/1 – E como foi esse período da faculdade? O que você lembra mais?
R – Ah, muito bom. A parte do coral, porque eu canto também, então a parte do coral é mais encantadora. Eu gosto mais de cantar do que tocar. Tocar me dá umas travadas, mas cantar... Porque como eu sempre cantei desde pequenininha na igreja, então eu sou mais desenvolta pra cantar.
P/1 – E tinha aulas teóricas de música? Teoria da música, essas coisas?
R – Na faculdade? Tinha.
P/1 – Você gostava?
R – Sim. Eu fiz uma faculdade de Artes, de Educação Artística, que ainda colocam lá, mas não tive nada de Educação Artística. Nada. Só foi música mesmo. Só tive aulas teóricas mesmo de música. Não aprendi outra coisa a não ser música.
P/1 – E como era? Você continuou morando em Mauá, ia pra lá até a Brigadeiro.
R – Ia. Ia.
P/1 – Meu Deus.
R – Ia pra lá. E pior que não tinha o Tamanduateí.
P/1 – É. Agora seria fácil.
R – A gente tinha que ir até a Luz, pegar o metrô sentido Jabaquara, descer na São Joaquim, que daí eu ia a pé da São Joaquim.
P/1 – E aí você trabalhava nessa época, ou só fazia faculdade?
R – Trabalhava. Eu já dava aula na escola de música dando violino. Na igreja eu também dava aula. Mas em 2010, eu comecei a trabalhar aqui na Casa Mateus.
P/1 – E como você conseguiu esse trabalho pra dar aula? Onde era? Em que escola era?
R – As minhas irmãs faziam aula de canto no Educandário, três delas. Elas faziam aula no Educandário e elas chegaram a casa falando: “Nossa, Simone, a gente conheceu uma professora que tem uma filha que toca violino” “Ah, é? Que legal”. E elas comentavam sempre dessa professora comigo. Aí eu fui a uma loja, que eu sempre arrumo meu violino lá, e eu entrei na loja e as características que a minha irmã falava, eu bati o olho na professora, falei: “Ah, deve ser essa professora”. Eu fiz o que eu tinha que fazer na loja, daí o moço pega meu telefone, porque ele falava: “Vem muita gente precisando de aula de violino, então, Simone, você deixa seu telefone aqui, que eu indico você”. Eu falei: “Tá bom”. Na hora que eu saí, um dos meninos falou, da loja: “É, Simone, cuidado com as aulas de violino, viu?”. Na hora que ela ouviu, ela veio atrás de mim. Ela veio e falou: “Oi, eu tenho uma escola de música”. Aí eu perguntei pra ela: “Você é a Marlene?”. Ela: “Eu sou”. Eu falei: “As minhas irmãs fazem aula com você”. Ela: “Ah, que legal”. Ela falou: “Você não gostaria de dar aula lá na minha escola?”. Eu falei: “Ah, vamos ver”. Daí ela me deu o endereço, marcou o dia, eu fui lá. Ela estava começando ainda, tinha uma sala no prédio. Eu fui lá dar aula pra menina dela, que era até uma menininha pequenininha e ela parecia um menino. Quando eu entrei dentro da sala, ela falou: “É minha filha”. Eu falei: “Nossa! É sua filha? É menina?”. Que ela usava tigelinha e os uniformes da escola tudo largo, não parecia uma menina, ela parecia um menino (risos). Eu comecei a dar aula pra ela lá na escola, aí foi crescendo. Hoje a escola é um prédio inteiro. Agora ela alugou todas as salas e eu continuo dando aula lá.
P/1 – Onde é?
R – No Zaíra. Eu dei aula pra filha dela dos dez aos 15, dei aula pra ela, nós nos tornamos amigas. Por isso que eu falei da mãe dela: “Não dá, ela vai ter que procurar outro professor, porque ela me enrola. Ela consegue me enrolar e não está fluindo mais”. Aí eu arrumei outro professor pra ela, outra escola, pra ela continuar tocando violino. Mas comigo já não dava, porque a gente já é amiga, além de empregada e patrão. E eu trabalho lá com ela até hoje.
P/1 – E nesse tempo todo ainda morando em Mauá?
R – Sempre morando.
P/1 – Casas dos seus pais?
R – Casa dos meus pais. Moro com meus pais até hoje.
P/1 – E então quando você veio pra cá? Como você chegou aqui à Casa Mateus?
R – Então, aí a Marlene começou a trabalhar aqui, ela é professora de canto e coral. Ela falou: “Simoninha, lá na ONG, nós vamos escrever um projeto pra ter aula de violino lá”. Eu falei: “Nossa, que bacana” “E você topa dar aula lá?”. Eu falei: “Ah, Marlene, será que, sei lá, eu sou capaz de dar aula pra muitas crianças?”. Porque é diferente você dar aula pra um aluno e você dar aula coletiva. E falei: “Então está bom, eu vou ver. Se eu não conseguir, eu peço as contas” – eu falei pra ela. Ela: “Não, você vai conseguir, menina”. Eu vim aqui, conversei com a Luciana, aí ela falou do projeto que estava apoiando a gente. Daí eu comecei aqui, o projeto era registrado, tinha que ser registrado, porque senão o projeto não ia pagar as pessoas que não fossem registradas, tinha que ser registrado. Eu entrei aqui dia 16 de novembro de 2010.
P/1 – E você já tinha ouvido falar da instituição, da Casa Mateus? Nada?
R – Nunca tinha ouvido falar. Porque como eu morava há pouco tempo aqui... Eu conhecia o Itapark, e o Zaíra, que a Marlene... A escola dela lá. Eu conhecia o bairro, mas nunca tinha ouvido falar da Casa Mateus. Nunca tinha ouvido falar. Eu vim aqui, conversei com a Luciana e comecei e trabalhar aqui.
P/1 – E quais foram suas primeiras impressões quando você chegou? O que você achou da casa?
R – Eu fiquei meio assustada, porque, sei lá, a história de vida de muitas crianças aqui é meio difícil. E eu nunca tinha entrado numa favela antes. Nunca. Nunca. Nunca entrei, foi a primeira vez aqui quando me levaram ali na pedreirinha ali embaixo, que eu entrei, fiquei meio assim de cortar meu coração. Algumas casas são de cortar o coração com muita criança. Fiquei meio assustada, mas depois logo eu falei: “Não, eu vou fazer meu trabalho, vou tentar mudar a história dessas crianças”. Que eu com toda a minha idade, eu nunca passei um terço que muita criança passa. Entende? Então fiquei meio assustada, mas depois passou.
P/1 – E como foi no início, a adaptação aqui?
R – Então, graças a Deus que vieram crianças sem problema na música. Nenhuma assim. Eu consegui introduzir a música com elas e elas conseguiram desenvolver bem. E eles gostavam do curso. O curso de violino aqui na casa não tem faltas. Não tem faltas. Ou as crianças não entram, ou quando entram não tem faltas.
P/1 – E quantas crianças, mais ou menos, você dá aula?
R – Eu comecei com quatro crianças. Eu tinha quatro turmas. Eu trabalho dois dias aqui e tinha quatro crianças em sala. Porque eu falei pra Luciana: “Eu não sei se eu dou conta. Porque um aluno é totalmente diferente de um monte”. Hoje em dia, na minha sala pode ter dez, eu dou conta dos dez. Mas no começo eram só quatro, algumas eu tinha duas, e tinha dia que eu não tinha aluno, porque as crianças não conheciam o que era um violino, muita gente não sabia o que era um violino, então a gente fazia apresentação, a gente fez bastante apresentação aqui na casa para o povo conhecer o que era o instrumento. E como tinha muita criança de capoeira, de teatro, eles foram vendo, aí eles falaram: “Não, no próximo ano a gente vai fazer violino”. E foi assim.
P/1 – E tinha outros instrumentos já nessa época, ou começou mesmo só com o violino?
R – Não. Quando eu comecei aqui, só tinha o canto coral, a capoeira e o teatro, e dança. Depois que veio eu, de violino, e o professor Jessé com o violão.
P/1 – E como foi esse primeiro contato das crianças com a música e com o violino?
R – Nossa, com o violino foi... Eles achavam que iam quebrar tudo, eles não queriam pegar no violino. Eu falava: “Não, pode pegar. Só vai quebrar se cair. Se não cair, não quebra”. E eles ficavam todos encantadinhos, os olhinhos brilhando que nunca tinham visto. Eu trazia vídeos pra eles verem orquestra, aí eles reconheciam: “Olha o violino. O violino tá ali”. Foi muito bacana essa parte. Bacana.
P/1 – E tem algum aluno que você lembre? Alguma história que tenha te tocado mais?
R – Acho que a minha aluna Cássia. Ela queria tanto um violino, mas tanto, tanto, ela falava que queria muito um violino, muito. Como na igreja a gente tem violino, e as pessoas vão trocando de instrumento, aí eu fiz um apelo lá na igreja: “Se alguém tiver um violino pra me doar, por favor, que eu trabalho numa ONG”. Eu peguei o violino, me doaram o violino, foi até minha sobrinha que falou: “Toma, tia, toma o violino”. Que elas também tocam. Minhas sobrinhas tocam. “Toma o violino, porque meu pai vai me dar outro.” Eu cheguei aqui e falei pra Cássia: “Cássia, você quer um violino mesmo”. Ela: “Eu quero. Eu quero”. Ah, o olhinho dela encheu de lágrima, me abraçou, me abraçou, pulou, pulou, pulou. Mas daí ela teve que sair, porque vai fazendo 18 anos, precisa trabalhar. Ela saiu, as irmãs dela estão fazendo aula comigo. Mas ela ficou muito contente quando eu dei o violino pra ela.
P/1 – E como foram as apresentações que daí você foi montando com eles?
R – Como desse projeto que nós fizemos, eu entrei em novembro, em março eu tinha que fazer uma apresentação para as pessoas que apoiaram. Então foi uma correria, a gente não parou em janeiro. Então eles vinham ensaiar. Mas eu marcava qualquer hora, de sábado, nós marcamos ensaio, estavam todas as crianças aqui. Todas.
P/1 – E esse projeto então foi financiado...
R – Pela Volks.
P/1 – Como foi? Você sabe como foi esse processo de financiamento?
R – Eu não sei. Eu só sei que ela falou que foi aprovado e foi por isso que eu vim trabalhar aqui. Que ela escreve o projeto e tem que esperar se aprovado.
P/1 – E quando surgiu o Criança Esperança aqui na...
R – Ah, sim, foi o ano passado. Foi o ano passado.
P/1 – E como foi o processo?
R – Ela falou pra gente que a casa tava passando por uma situação meio ruim financeira aqui, aí ela tinha comentado que se não tivesse o apoio de outro convênio, teria que... Não teria mais as oficinas, as de instrumentos. Ela falou: “Não, eu vou escrever...”. A cozinheira até falou: “Ah, escreve para o Criança Esperança” – a cozinheira falou. Ela falou: “Não, eu vou escrever um projeto para o Criança Esperança”. Ela falou: “Gente, fica na torcida, que nós vamos escrever um projeto, e se for aprovado, a gente vai estar salvo”. Ela fez todo o processo lá, aí ela falou que a gente tinha sido contemplado. Nós ficamos muito felizes e as crianças mais ainda, porque eles já sabiam que tinha probabilidade de não ter mais a oficina. Então estava todo mundo na torcida e todo mundo ficou muito feliz quando foi aprovado, ainda mais as crianças. Ficou todo mundo muito contente aqui.
P/1 – E você ajudou a escrever esse projeto? Como foi?
R – Não. Não. Não.
P/1 – Você nem viu? Não sabe o que...
R – Nem vi. Nem vi.
P/1 – Mas ele foi aprovado só para as oficinas de música, ou... Como é? O dinheiro é aplicado aqui? Você sabe disso?
R – Olha, eu não sei, mas eu acho que foi só pra oficina de música. Eu não sei te dizer.
P/1 – E o que mudou quando veio...
R – Mudou muita coisa aqui, porque o projeto, ele ajuda muito. E tudo na parte cultural. As crianças tiveram muito passeio, eles foram para o Parque da Xuxa, muitas crianças aqui que nem sonhavam com isso, tiraram foto com ela. E eles todos contentes. E também pra apresentação tivemos o dia da esperança aqui também.
P/1 – Foi quando?
R – O ano... Ah, não lembro, sei que foi em...
P/1 – Mas foi pouco depois assim do...
R – É. Foi em agosto. Que tivemos o Dia da Esperança, então nós mobilizamos todo mundo, ensaiamos. E tinha oficina de teclado aqui também, que foi apoiado pelo Criança Esperança. Então todo mundo se mobilizou pra gente fazer o Dia da Esperança. Enchemos isso daqui de pais, um monte de gente veio pra ver. Porque o nome da instituição, a gente não acreditava que acontecia. Porque as pessoas inventam tanta coisa, que quando a coisa é pra acontecer mesmo, a gente fica meio descrente. Então quando nós falamos para as crianças, para os pais, que nós íamos ser apoiados pelo Criança Esperança, aí o povo falava: “Meu, então é verdade. Que a gente pensava que era mentira isso, que o dinheiro ia não sei pra quem, ia pra Globo, sei lá”. Mas ninguém acreditava mesmo. Nem o pessoal da minha casa. Quando eu falei pra minha mãe: “Mãe, nós fomos contemplados, o Criança Esperança vai ajudar a Casa Mateus”. Ela: “Mas isso é verdade mesmo?”. Eu falei: “É verdade, mãe”. Nem eu acreditava, sinceramente. Não acreditava mesmo. Mas aí todo mundo ficou feliz, porque era uma coisa que a gente pensava que era mentira, e era realidade, porque a gente tava vivendo aquilo. Quando falamos isso aqui, então todo mundo falou: “Meu, é verdade. É verdade”. E quando eles vieram gravar aqui, todo mundo: “Meu Deus, nós vamos aparecer na televisão”. As meninas todas apavoradas, e todo aquele ânimo de criança. Foi muito bacana.
P/1 – E como foi anunciado quando conseguiu? Todo mundo soube ao mesmo tempo? Você lembra quando você soube?
R – A Luciana chegou e falou: “Gente, tenho uma surpresa pra vocês”. Ela falou duas surpresas, que ela tava na reunião pedagógica. Daí ela falou que eu ia fazer um curso pela Sala São Paulo, ia fazer porque eu sempre pedi, pra levar as crianças pra ter vivência em orquestra, como eles nunca tinham visto. Ela falou que eu fui aprovada pra fazer o curso lá, porque eu tinha que ir pela ONG, que a ONG que tinha que encaminhar, daí eu fui aprovada. Aí ela falou: “E tem outra, nós vamos ser apoiados pelo Criança Esperança”. Nossa, a reunião que foi muito boa, bacana mesmo.
P/1 – E rapidinho, só um parêntese, conta um pouquinho dessa experiência com a Sala São Paulo. Como foi? A gente já volta para o Criança Esperança. Fiquei curiosa.
R – Eu fiz um projeto... A Lu disse que tinha um projeto de... Ai, esqueci o nome. Alguma coisa com... Não lembro o que era. Eu falei pra ela: “Pode me inscrever. Pode me inscrever que eu vou”. Era um curso de seis sábados. Eu falei: “Pode me inscrever que eu vou”. A gente precisava também... Tinha uma seleção e se eu fosse aprovada, eu ia fazer o curso. Aí eu fui aprovada, fui fazer o curso lá pra conseguir lidar mais com as crianças, porque eu não tinha convívio com muita criança. Aí fui fazer o curso de seis sábados lá pra ajudar aqui. Fui fazer na Unesp também curso pra capacitação pra professores de cordas friccionadas, que são os violinos, com a professora Liu, eu fiz lá também. E lá era pra dar aula em grupo. Então tem métodos pra dar aula em grupos pra todos os instrumentos. Se eu tivesse com todos os instrumentos de cordas aqui, eu conseguiria trabalhar com esse método com todas as crianças. Eu fiz lá também na Unesp.
P/1 – E como você... Você conseguiu levar as crianças pra Sala São Paulo? Como foi?
R – Consegui. Consegui levar as crianças. A primeira vez que eu levei, eu levei um ônibus. E as crianças estavam todas eufóricas, porque nunca tinham ido pra Sala São Paulo. E eles estavam muito animados pra ver uma orquestra. E foi naquele que eles explicam tudo que tem na sala, que era uma estação de trem, Descobrindo a Orquestra. Eu levei, eles ficaram muito animados, você via os olhinhos deles brilhando. É a melhor coisa da minha área, é vê-los contentes. Eu gosto de ver isso.
P/1 – E quantas crianças mais ou menos foram beneficiadas com esse financiamento do Criança Esperança? Tem uma ideia de quanto?
R – Nossa, muita criança. Eu não tenho ideia, mas foi muita criança. Que hoje aqui na casa, a gente não tá... Acho que a gente não tem 300 crianças, mas antigamente a gente tinha quase 400 crianças dentro da casa. Por causa das oficinas, tinha umas oficinas muito grandes aqui, tipo teatro e a capoeira. Muito grande. Muito aluno. Hoje tem menos, porque não tem mais essas oficinas aqui na casa.
P/1 – Agora está mais focada nas de música? Como é?
R – Não, é porque... Eu acho que é porque não tinha quem apoiasse as outras oficinas.
P/1 – Porque só foram apoiadas as de música?
R – É. Porque só foram apoiadas as de música. Então as outras que não têm apoio ficam sem.
P/1 – E o que você acha que mudou na vida dessas crianças, a possibilidade desse contato com a música, com esse projeto apoiado pelo Criança Esperança?
R – Eu acho que elas conseguem ter um olhar diferente para o futuro. Tem muita criança que quer: “Não, eu quero ser musicista. Eu quero ser”. Então você vê... Mas a situação barra. Porque nenhum... Ainda mais por aqui, nenhum pai com uma menina de 18...
P/1 – Então continuando. Tava falando que as crianças... As transformações na vida dessas crianças.
R – Então, que eles têm outro olhar para o futuro, mas a situação deles não coopera muito, porque quando as crianças fazem... A casa só tem crianças até 15 anos. Tem exceção, tem alunos que têm 18, mas aí tem uma cobrança do pai, da mãe: “Você não vai trabalhar? Você precisa ajudar”. E na música, você precisa ter tempo pra estudar. Você precisa ter tempo pra estudar. Porque qualquer coisa da arte você tem que estudar. Tem que estudar, porque não é fácil viver de arte aqui no Brasil. Sei lá se em outro país é fácil. Mas aqui mesmo você não é nem reconhecido. Eu falo que dou aula de música: “Ah, mas você não trabalha?” “Mas esse é o meu trabalho” “Ah, você só dá aula?” “’Só?’ Caramba! Eu dou aula de segunda a sábado, e ‘só’ aula?”. Então não é reconhecido. Então se você fala: “Sou professora” “Ah, do quê?” “De música” “Só isso? Mas você não trabalha?” “Como não trabalho. Eu trabalho. É isso que eu faço, e com muito prazer. Adoro minha profissão”. Então aí as crianças não têm como, eles não têm chance pra estudar como eu fiz, ter meu pai dentro de casa pra me bancar, pra eu ficar em casa estudando, estudando, estudando. Eles não podem ter isso. Então eles vão ter os sonhos frustrados, sei lá. Mas o que eu puder ajudá-los, estou aqui. Eu falo sempre pra eles. E quero que eles tenham um futuro brilhante. Eu falo pra todos eles.
P/1 – E teve algum que saiu daqui e consegui continuar com a música? Você sabe?
R – Não. Não tem. Que eu saiba, não tem, não. Tem até uns projetos que eu trabalho, eu trabalho com um projeto de uma orquestra lá em São Paulo, que é projeto pra crianças mesmo que estão aprendendo, porque ele não consegue nem entrar numa escola de música mesmo com teste, porque as escolas de músicas são todas com teste. Então eu estou levando umas alunas minhas que tocam melhor pra ir nesse Projeto Escola, que é o nome do projeto. A gente vai desenvolvê-los pra conseguir tocar, pra conseguir de repente passar num teste de uma escola.
P/1 – E você leva alunas daqui.
R – Eu vou começar a levar. No sábado eu conversei com elas. Porque primeiro eu tenho que dar condição. Como eu falei para o meu maestro: “Eu até tenho meninas pra virem, mas elas precisam de dinheiro de condução”.
P/1 – Claro.
R – Porque nenhum pai, nenhuma mãe, vai tirar da boca o alimento pra dar dinheiro de condução pra tocar em orquestra. E ele vai arrumar esse dinheiro pra pagar a condução das meninas. Então eu vou levar seis meninas daqui pra lá. E lá é um projeto que ele está criando, que ele tem a orquestra, ele quer formar uma orquestra iniciante pra crianças que não sabem nada, pra ele criar o hábito da criança, ensinar tudo. Aí tem essa segunda orquestra, que é um pouquinho mais avançada, e tem uma terceira orquestra lá, que eles estão tentando pagar uma bolsa para as crianças estudarem, eles são pagos pra estudarem lá. E isso daqui seria uma boa para as meninas daqui. Porque é melhor a gota do que a seca. Então eu falei com elas, falei com ele, ele disse que vai arrumar o dinheiro de condução para as meninas, pra eu consegui levá-las pra lá.
P/1 – É um primeiro passo.
R – Porque o violino é um instrumento bom pra dar aula, porque toda igreja que tem orquestra precisa de violino. E é complicado ter professor bom, tem muito professor que engana. Como eu falo sempre pra minha coordenadora: “Você pode pegar meus alunos particulares, que eu dou aula em escola particular, e por meus alunos da ONG, eles dois vão saber a mesma coisa”. O da ONG pode saber menos porque eu sou limitada aqui, eu não posso formar um musicista, eu tenho que formar um cidadão. E lá fora quando as pessoas vêm me procurar, eu vou formar um musicista, ele vai ser um músico, eu vou prepará-lo pra ele conseguir fazer um teste e passar no teste, pra uma escola que dê o técnico pra ele.
P/1 – Fala um pouquinho mais disso de formar um cidadão aqui na ONG.
R – Então, a gente tem que mostrar pra eles os valores, os valores do ser humano mesmo. De repente tem muita criança que perde porque não tem o exemplo dentro de casa. E a gente vê muito aqui as crianças que são meio violentas, que precisam de um abraço, que precisam de carinho mesmo, principalmente os adolescentes, que não são entendidos. Eu não sei o que acontece, eles não são entendidos. Nós até fizemos uma capacitação pra professores aqui quarta-feira passada e ela estava falando a dificuldade de lidar com adolescente. Eu não tenho dificuldade pra lidar com adolescente. Eu trabalho com os adolescentes aqui e amo trabalhar com eles, prefiro eles às crianças. Gosto de trabalhar com eles e faço de tudo pra eu conseguir suprir o que eles precisam. Se eu não conseguir, eu vou lá à Luciana, falo: “Luciana, preciso de ajuda”. Mas eu faço o máximo, porque eu não passei por isso. Não sei, não tive dificuldade nem com a minha mãe, nem com o meu pai, eu não sei o que é isso. Eles me falam, eu falo: “Meu Deus, o que é isso? Que mundo a gente está?”. E eu não consigo dar mais apoio pra eles porque eu nunca passei. Porque quando você passa por aquilo, você fala: “Ah, você faz assim que vai resolver”. Mas eu nunca passei. Então eu tento suprir, sei lá, eu sou muito amiga deles. A gente sai, vamos pra Paulista: “Não, vamos pra Paulista. Quer ir para o parque?” “Quero ir para o parque” “Vamos para o parque. Fala com a sua mãe, a gente se encontra tudo lá no centro de Mauá, a gente vai para o parque”. Mesmo assim tem mãe que barra. O ano passado a gente falou: “Todo mundo vai pra Paulista? Querem ver lá? Eu levo. Eu levo”. Só foram duas. E eu tenho quase... Adolescentes, eu tenho umas dez, 12 adolescentes. Esse ano de novo: “Nós vamos pra Paulista, professora?” “Só vocês falarem. Eu vou”. Porque eles não levam. Os pais não levam e nem deixam ninguém levar, sei lá. Eles ficam na rua o dia todo, mas pra sair os pais ainda têm essa barreira, não deixam.
P/1 – E que valores você acha que a música contribui pra esses adolescentes, pra essas crianças? Que valor a música passa?
R – Vamos ver. Eu acho que você pode mudar seu futuro com a música. Sei lá. Porque você não ver hoje, mas o amanhã você consegue. É passinho de formiguinha, né? Você vai fazendo, você fazendo e vai conseguindo crescer. Mas ninguém tem paciência pra ver crescer. Ninguém. Ninguém tem paciência. Ou tem que ser agora, ou tem que ser agora. Mas a música pode transformar muita gente. Pode transformar. Porque a música traz uma paz, traz um sonho, tem muita coisa que você pensa que não vai pra frente, mas com a música você consegue ir pra frente. Porque ela te traz um... Eu não sei, ela te traz um retorno tão natural, eu não sei explicar.
P/1 – E o que mudou pra você trabalhar aqui? O que mudou na sua vida?
R – Eu acho que sou mais humana. Mais humana. Totalmente. Eu já tinha problema de ver sofrimento dos outros, dobrou. Dobrou. Eu sou mais humana e eu me preocupo de não poder ajudar mais. Teve uma aluna minha que a gente ia fazer uma apresentação e a gente ia fazer com calça preta. A menina chegou a mim, falou: “Pro, eu não tenho. Não tenho condições. Minha mãe não tem dinheiro pra me comprar uma calça preta e uma blusa preta”. Eu fui lá e comprei e dei pra ela. Falei: “Toma. Você vai se apresentar”. Ela veio toda contente, toda de preto se apresentar.
P/1 – E você teve algum contato com algum outro projeto que tenha sido apoiado pelo Criança Esperança? É o único que você conhece?
R – Não tive. O único. O único. E até na faculdade quando eu falei para os meus professores, eles falaram: “Ah, isso é verdade mesmo?”. Eu falei: “É verdade, gente. Meu Deus do céu”. Ninguém acredita. Ninguém acredita. Eu até falei pra minha professora, ela: “Sério mesmo, Simone?”. Eu falei: “É sério, professora. Eu estou falando”. Até quando eles vieram aqui e passou todo mundo na televisão. Aí minha professora mandou: “Ah, é verdade mesmo. Eu vi você na televisão”. Mas o povo não acredita. Não acredita. Não adianta.
P/1 – E agora que você viu que acontece, de que maneira você acha que esses recursos do Projeto Criança Esperança ajudam a contribuir?
R – Nossa, meu Deus do céu, eles ajudam muita gente, muitas crianças. Eles ajudam muita criança e eles conseguem... E tem algumas ONGs que a gente vê na televisão que eles dão alimento para as crianças, que as crianças precisam, as crianças chegam com fome. Então isso muda a história das crianças mesmo. E eles criam um vínculo com a instituição, não importa se é pela comida, se é pelo curso, o importante é que eles criem vínculo e eles consigam tirar o melhor que a gente está querendo dar daqui de dentro pra eles, que é ser uma pessoa boa, que é saber compartilhar. Apesar de que a criança de comunidade, eles sabem compartilhar mais do que uma pessoa com poder aquisitivo. Eu trabalhei com crianças com poder aquisitivo muito alto e eu não gosto, eu prefiro lidar com as crianças aqui, que são mais parecidas comigo, são mais humanas. As outras crianças não parecem que são crianças.
P/1 – E você lembra a primeira vez que você ouviu falar do Criança Esperança na televisão, como foi?
R – Nossa! Sabe, que como eu não acreditava, eu não dava muita credibilidade, não. Eu ouvia assim, falava: “Meu Deus, onde esse povo põe tanto dinheiro?”. Que, sei lá, porque como a gente vê... Você não ouve muita... Sei lá, pelo menos aqui em Mauá, acho que a única instituição que foi apoiada pelo Criança Esperança foi aqui. Então a gente... Nem em São Paulo. Tem muita ONG lá que deve ser apoiada pelo Criança Esperança, a gente não sabe, ninguém fala. Eu fui fazer um curso no Itaú Cultural, que teve da Unicef, o ano retrasado, aí sim você vê as professoras de Pernambuco, do Ceará, elas falando. A gente falou: “Meu...”. Quando elas falam, a gente acredita meio desacreditado ainda. Mas elas mostram fotos, que antes elas estavam naquelas casinhas de barro que elas fazem, eu não sei o nome, das salas de aula. Depois elas mostram que estão todas umas salas bonitas, que derrubaram, fizeram, que o Criança Esperança estava apoiando. As crianças lá do Nordeste, a gente vê muito nesses cursos que a gente faz pelo Unicef. A gente vê muito mesmo. Mas aqui mesmo a gente não vê. Não sei se as pessoas não falam. Porque depois que o Criança Esperança apoiou aqui, eu falo pra todo mundo: “É verdade, gente. Pode doar, porque é verdade, eles apoiam mesmo”.
P/1 – E o que são as coisas mais importantes pra você hoje?
R – Mais importante? O meu trabalho, que eu tenho certeza que eu planto sementinha no coração de muita criança aqui dentro, e eu sei que um dia eu vou saber que ele está bem, que fez faculdade, que saiu do jeito que ele era, que não é mais essa pessoa que eu conheci desde pequenininho, mas que estudou e que venceu na vida. Então acho que isso é o mais importante pra mim. É isso, vê-los felizes e o meu trabalho tendo semente, sendo semente que eu semeei... Não, que eu plantei, e que eles vão colher com tudo que eu falei e com tudo que eu os incentivo. Que eu quero que eles estudem. A gente tem que estudar, porque o que transforma mesmo é o estudo, é a educação. Mas ainda é complicado, porque eles não gostam de escola (risos).
P/1 – E quais são seus sonhos?
R – Ah, meu sonho. Vamos ver. Ai, sonhos. Eu não tenho sonhos muito grandiosos, não. Eu quero fazer uma pós em Libras, que eu quero dar aula pra crianças deficientes auditivas, sei lá se eu posso falar assim, que agora não pode mais. E eu quero trabalhar com eles agora. Que eles trabalham tudo por meio da vibração, então pra mim... Eu tenho esse projeto. Eu comecei fazer uma pós, mas não foi o que eu esperava, parei a pós. Então eu vou fazer Libras, que eu quero trabalhar com eles, diretamente com essas crianças. Eu quero ensinar violino pra eles.
P/1 – Você gostaria de acrescentar alguma coisa mais que eu não tenha perguntado?
R – Não. Não.
P/1 – E como foi contar a sua história aqui?
R – Ah, meu Deus. Sei lá, eu sou meio travada pra falar, eu não gosto de falar. Pra você ter noção, para o Brooklin Fest que nós fomos participar, da festa alemã, o moço chegou ao palco falou: “Pro, você se esqueceu de falar o nome das músicas”. Eu: “Ai, eu não vou falar”. Chamei a minha coordenadora, ela: “Não. Não vou subir aí, não”. Aí chamei a professora de canto e coral: “Marlene, fala o nome das músicas pra mim”. Ela pega o microfone e vira: “Nossa, gente, a Simone está com medo de falar”. Eu: “Ai, Jesus” “Mas ela tem que falar, que o mérito é dela, então ela tem que falar”. E o povo tudo... Ah, meu Deus do céu, eu quase morro do coração. Eu travo pra falar, não gosto, prefiro sentar e tocar (risos).
P/1 – Tá bom então. Obrigada, Simone.
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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