Acordei de madrugada, alguém gritou meu nome. Foi bem pontual, um sonho auditivo. A voz era masculina, de um homem adulto talvez jovem. Depois de acordar tive uma taquicardia. Levei uns minutos pensando se talvez alguém tivesse realmente me chamado e quem poderia ter sido. Voltei a dormir logo em seguida. Acordei pela manhã e gravei o sonho no celular.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
A relação com a pandemia não foi imediata. Ao ler a proposta do projeto de vcs capturei algo que eu havia associado e quase estava me escapando. Alguém me chamar de madrugada no prédio que moro só se fosse uma emergência. Caso contrário, seria uma invasão. Um conhecido me chamar no meio da madrugada me remete à violência contra nós mulheres. Cheguei a ficar na dúvida se era sonho ou realidade, o tal chamado. É muito raro sonhar com uma voz me chamando. Ouvir uma voz e questionar se era realidade ou sonho me remeteu ao medo da loucura. Associei o confinamento com o ficar muito mais próxima de mim mesma do que já vivi até hoje. Moro sozinha há quase 10 anos. Nunca tive problemas quanto a isto. Gosto do silêncio e da possibilidade de refletir. O confinamento por ser coletivo, na verdade me acalma. Tenho amadurecido minha relação com minha casa e minha nova cozinha. Quem seria este homem que me chamou> Talvez a minha loucura seja pensar que um rapaz 19 anos mais jovem com quem me relacionei, antes da pandemia, estaria pensando em mim, tanto quanto eu penso nele. Uma loucura romântica da qual preciso me libertar. E digo isto porque entramos numa rota de colisão e ele se fechou. Meu desejo continua aceso, mas cansei de tentar fazer acontecer um simples encontro. Não consegui deixar de pensar no problema que se constituiu esta história de final aberto.