P/1 – Bom dia, Evelin. Tudo bem?
R – Bom dia, tudo bem.
P/1 - Vamos começar com a primeira pergunta: vou pedir para você nos dizer seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R – Meu nome é Evelin Mello da Costa. Nasci [no] dia dez de janeiro de 1994 em Glória de Dourados, que é a cidade onde eu nasci.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai é Raul Costa Borges e o nome da minha mãe é Ivonete Mello.
P/1 – Você tem irmãos, Evelin?
R – Sim, eu tenho, tenho uma.
P/1 – E ela é mais nova ou mais velha que você?
R – É mais nova, caçula; [tem] dez anos de diferença.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Emanuele.
P/1 – E qual é a atividade dos seus pais, Evelin?
R – Atualmente, tanto meu pai quanto a minha mãe são empreendedores. Eles têm um restaurante, uma lanchonete de hambúrgueres.
P/1 – Certo. Então, vamos começar com a infância, Evelin. Você se lembra do local onde você passou a sua infância, da casa?
R – Eu me lembro, sim. Meus pais tiveram uma única casa, [na qual] até hoje eles moram. Eu só saí de lá quando casei. É na periferia aqui de Campo Grande, mesmo. Foi uma infância sem luxo nenhum, mas com muito amor envolvido.
P/1 – E do que você gostava mais de brincar, quando você era criança, Evelin?
R – Eu gostava muito de brincar na rua. Eu era uma menina menino: soltar pipa, brincar de bete, de bola, esconde-esconde. Reunia toda a criançada do bairro, a gente ia brincar. Foi uma infância onde eu brinquei muito, me diverti muito. Sinto saudades. (risos)
P/1 – Você tinha algum sonho de infância, Evelin?
R – Tinha. Eu sou bem pequenininha, sou baixinha, tenho um metro e sessenta, porém queria ser jogadora de vôlei profissional. (risos) [O sonho] não foi realizado, por motivos bem óbvios. (risos). Esse era um dos meus sonhos, mas eu sonhava em fazer uma...
Continuar leituraP/1 – Bom dia, Evelin. Tudo bem?
R – Bom dia, tudo bem.
P/1 - Vamos começar com a primeira pergunta: vou pedir para você nos dizer seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R – Meu nome é Evelin Mello da Costa. Nasci [no] dia dez de janeiro de 1994 em Glória de Dourados, que é a cidade onde eu nasci.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai é Raul Costa Borges e o nome da minha mãe é Ivonete Mello.
P/1 – Você tem irmãos, Evelin?
R – Sim, eu tenho, tenho uma.
P/1 – E ela é mais nova ou mais velha que você?
R – É mais nova, caçula; [tem] dez anos de diferença.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Emanuele.
P/1 – E qual é a atividade dos seus pais, Evelin?
R – Atualmente, tanto meu pai quanto a minha mãe são empreendedores. Eles têm um restaurante, uma lanchonete de hambúrgueres.
P/1 – Certo. Então, vamos começar com a infância, Evelin. Você se lembra do local onde você passou a sua infância, da casa?
R – Eu me lembro, sim. Meus pais tiveram uma única casa, [na qual] até hoje eles moram. Eu só saí de lá quando casei. É na periferia aqui de Campo Grande, mesmo. Foi uma infância sem luxo nenhum, mas com muito amor envolvido.
P/1 – E do que você gostava mais de brincar, quando você era criança, Evelin?
R – Eu gostava muito de brincar na rua. Eu era uma menina menino: soltar pipa, brincar de bete, de bola, esconde-esconde. Reunia toda a criançada do bairro, a gente ia brincar. Foi uma infância onde eu brinquei muito, me diverti muito. Sinto saudades. (risos)
P/1 – Você tinha algum sonho de infância, Evelin?
R – Tinha. Eu sou bem pequenininha, sou baixinha, tenho um metro e sessenta, porém queria ser jogadora de vôlei profissional. (risos) [O sonho] não foi realizado, por motivos bem óbvios. (risos). Esse era um dos meus sonhos, mas eu sonhava em fazer uma faculdade, sonhava em ter uma casa, em ter uma família… Eu lembro desses sonhos que tinha.
P/1 – Seus pais nasceram no Mato Grosso mesmo, ou eles vieram de algum outro estado, de alguma outra região?
R – O meu pai é de Glória de Dourados mesmo; já minha mãe é do Paraná, [na] região sul. Ela veio jovem para o estado, para trabalhar. Conheceu meu pai e eles se casaram.
P/1 – Você disse que brincava bastante na rua. Como era seu bairro, a sua rua? Você tem essas lembranças?
R – Tenho sim porque desde essa época meus pais já tinham a lanchonete. Antes era um carrinho de cachorro-quente, então eu era... Como não tinha asfalto e era muito movimentada a rua de carro, eu tinha que aguar com mangueira três vezes no dia a rua inteira da frente de casa, para poder não ficar tanta poeira na hora que abrisse a lanchonete. Lembro de uma escola estadual na frente da casa dos meus pais, onde eu estudei na minha infância, que é bem de frente. Lembro muito bem da rua, sim.
P/1 – E você aproveitava para comer bastante cachorro-quente, também? (risos)
R – Muito. Eu sou acho que uma das únicas pessoas do mundo que não enjoou de comer lanche. Se eu puder comer lanche todos os dias, jantar lanche... Eu falo que eu nasci para comer um x-bacon. (risos)
P/1 – Vamos conversar um pouquinho sobre a sua vida escolar. Você já disse que a escola ficava na frente da sua casa, então era fácil, só atravessar a rua. Conte um pouco as primeiras lembranças que você teve, de quando você começou a estudar, quando você começou a frequentar a escola.
R – Normalmente, um acadêmico começa a estudar por volta de seis anos de idade. Como eu morava na frente da escola, eu ficava chorando, quando eu tinha cinco. Aí o pessoal da escola… O diretor conhecia meus pais [e disse]: “Ah, traz, vamos deixar ela no prezinho. Ela vai ter que fazer duas vezes”. Só que quando terminou o ano letivo, eles pegaram o meu caderno, fizeram uma reunião e viram que eu estava até mais apta do que as pessoas que tinham a idade, então foi onde eu comecei e não fiz o pré duas vezes; já fui para o primeiro ano.
Conheço as pessoas que trabalham na escola desde quando era uma criança de cinco anos de idade - diretor, os professores. Então [são] amigos do bairro, que até hoje, às vezes, eu passo e vejo. É aquela infância que eu comecei na escola da frente e levei, até hoje, as pessoas junto comigo, sabe?
P/1 – Avançando um pouquinho mais no ensino fundamental, você se lembra se tinha alguma matéria que você gostasse mais, ou algum professor que marcou, que você lembra até hoje?
R – Eu sempre gostei muito de Matemática, fora Educação Física, que eu acho que todas as crianças gostam. Matemática foi algo que eu sempre gostei muito, porque [tinha] facilidade. Eu falava: “Nossa, vou ter que ir para área que mexa com números, porque é algo que gosto, né?”
Uma professora que mexeu muito comigo foi a professora Sandra. Eu não me lembro muito da matéria, acredito que seja Português, só que ela… É algo que eu gravei: [ela] teve um câncer no braço e teve que amputar o braço. Ficou um tempo afastada, só que até hoje... Ela voltou a dar aula, então eu falei: “Nossa, como ela é forte! Por mais que venha uma doença, uma enfermidade...” Ela é uma professora que eu acredito que nem saiba, mas [que] eu guardei no coração, por momentos de adversidades, da gente ser forte.
P/1 – E sobre as festas, as outras atividades da escola: o que você se recorda que foi legal e que você gostou de participar?
R – Ah, eu sempre gostei de participar de festa de quadrilha. Nossa, era um... Chegava essa época… Eu acho que era a época que eu mais amava. Tenho fotos, ganhei como rainha da quadrilha, me diverti bastante. Até quando eu estava no ensino médio, aquela parte de brincadeira, de todo mundo voltar a dançar, é algo que mexia bastante com as emoções de todo mundo e é algo que marcou muito minha vida. [Quando] penso em quadrilha, eu penso em diversão.
P/1 – Avançando para o seu ensino médio, já que você falou dele, você continuou na mesma escola, ou mudou de escola e foi estudar mais longe? Conte um pouquinho como foi esse período.
R – Esse período foi um divisor de águas na minha vida. Antes do ensino médio, eu sempre quis estudar em colégio particular, porque eu falava assim: “O ensino é melhor”. Só que os meus pais não tinham condições, então comecei a pesquisar escolas onde forneciam bolsa de estudos.
Eu sempre fui uma criança assim, eu chegava e falava: “Mãe, eu quero fazer isso, mas olha, eu já paguei, já resolvi, já está pronto.” Eu nunca ficava esperando que eles fizessem as coisas por mim, porque eu sabia das condições.
Fui em uma escola, fiz a matrícula da prova de bolsa, fiz a prova e consegui 100% de bolsa em uma escola particular muito boa aqui de Campo Grande, então [me] mudei. Essa escola se chama Latino Americano, mas chegou um período também que eles... [A bolsa] não é [por] todo o ensino médio, né? Foi onde eu falei: “Meu Deus, agora vou ter que voltar para a escola pública de novo.” Aquela preocupação de cursinho, vestibular… Consegui uma outra bolsa de estudos. Fui bolsista no Sealp. Eu jogava vôlei no time, então eu trabalhava de manhã como Menor Aprendiz... Perdão, eu estudava de manhã, trabalhava à tarde e à noite treinava vôlei.
Foi um período muito cansativo, mas de extrema importância na minha vida. Eu falo que o esporte me tirou de coisas ruins que poderiam ter acontecido. Foi uma época que eu tive que amadurecer.
P/1 – Então o vôlei ficou na sua cabeça desde a infância e no ensino médio você foi jogar, foi praticar. Conte um pouco como isso começou, onde você praticava.
R – Comecei praticando na rua. Eu tinha um casal de amigos, casados; eu sempre fui de ter amigos mais velhos. Com oito anos de idade eu tinha amizade com pessoas de trinta. Eles [disseram]: “Ah, Evelin” – foram conversar com meus pais - “vou pagar lotação para você”. Era um casal que me ajudou muito. Ele é físico e ela é artista plástica. Eles não podem ter filhos e eu falo que me adotaram; eles falam que a vida me deu de presente para eles, mas que quem ganhou o presente foi eu.
Eles sempre me levavam para jogar vôlei em clubes onde eram conveniados e, numa dessas, tinha uma pessoa lá que falou: “Nossa, você joga muito bem pela sua idade. Você joga em alguma escolinha?” Eu falei: “Não.” [Ele] falou assim: “Meu irmão dá aula de voleibol em uma escola. Eu vou falar para ele te chamar, para fazer um teste.” Fui fazer, acabou que ele falou: “Olha, você tem talento, você sabe jogar muito bem. Você quer jogar no meu time?”
Eu comecei jogando só no vôlei mesmo, só que depois ele falou: “Evelin, olha, eu consegui uma bolsa de estudos para você. Você acha que seus pais vão deixar?” Conversei com os meus pais, eles ficaram superfelizes. “Vamos sim.”
Foi assim. Eu falo que o esporte me tirou de coisas tão ruins que, na adolescência, são apresentadas pra gente. Eu falo que fez e mudou meu caráter.
Eu saía de casa às cinco horas da manhã, pegava o ônibus, ia para escola, estudava e da escola já ia direto para o serviço, sabe? Do serviço, às vezes dava tempo de vir para casa ou às vezes ia direto para escola novamente, onde era o treino. Eu não tinha tempo, mas era algo que eu gostava muito de fazer.
P/1 – E como foi essa sua primeira experiência profissional, Evelin?
R – Na verdade, era minha segunda. Como meus pais tinham o carrinho de cachorro-quente, então sempre ajudei como garçonete. Cortava tomate, ajudava ali e era um carrinho de cachorro-quente que se transformou em uma lanchonete, foi crescendo. Mas eu queria ter um emprego formal, carteira registrada, então com uns quinze anos… Meu pai trabalhava nas Casas Bahia também, aí ele falou: “Olha, Evelin, vai abrir vaga para Menor Aprendiz. Faz seu currículo e eu vou entregar lá para a gerente.” Acabou que deu certo.
Foi muito importante, porque ter o seu salário, valorizar o quanto que é para comprar um calçado, para comprar uma roupa… Até mesmo para eu poder ajudar meus pais, porque eu pagava apostila também das escolas, não é barato. Eu falava que estava em um ambiente de escola particular onde não era para estar, porque meus amigos tinham uma condição social diferente, só que eu tinha... Eu ficava assim: “Ah, não tem problema, porque o importante é que eu estou tendo o mesmo ensino que eles, né?” Às vezes era regrado na hora de comprar um lanche, na hora do intervalo, só que mesmo assim eu falo que... Eu sempre fui muito grata por tudo - pela oportunidade, o emprego também. Eu ganhava pouco, mas fazia milagre com esse dinheiro.
Foi muito importante, porque eu sempre quis trabalhar e quando me deram essa oportunidade, foi um ano de aprendizado incrível.
P/1 – Você se lembra do que fez com seu primeiro salário? A primeira coisa, que você pensou: “Ah, é uma coisa que eu queria muito comprar. Agora eu tenho o meu dinheiro e vou comprar para mim”.
R – Eu comprei um notebook. (risos) Eu queria muito comprar um notebook, mas meu primeiro... Era 150 reais na época. Eu falei: “Gente, como que...”. 150 reais é muito pouquinho, né? Só que o meu pai ficou com dó e falou: “Olha, eu vou comprar no cartão de crédito parcelado, só que você vai pagar todo mês o notebook.”
Foi isso que deu, porque... Todo mês eu tinha a parcela para poder pagar. Eu acredito que eu comecei trabalhando e, quando eu terminei, foi quando eu terminei de pagar o notebook também.
P/1 – E quando você estava no ensino médio, Evelin, você já chegava a pensar em fazer faculdade? Você já tinha alguma ideia do que você queria fazer?
R – Eu já pensava. Sabia que iria ser na área de Exatas, só que não sabia o quê.
Um dia, quando fui abrir a minha conta no banco para poderem depositar o salário, conversando com o atendente do banco, ele falou assim: “Já está trabalhando. Tão nova!” Eu toda empolgada, contando, e ele falou: “E faculdade, você pensa em fazer?” Eu falei: “Ah, eu penso. Estou pensando em fazer, sei lá, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecatrônica.” Aí ele falou assim: “Você já pensou na [Engenharia] Civil?” Eu: “Não.” E ele falou: “Eu sou engenheiro civil”. E começou a falar: “Mexe com construção de casas, mexe bastante com cálculo”, e aquilo me encantou.
Quando eu saí de lá, a primeira coisa que eu fiz foi pesquisar sobre a profissão. Depois daquilo, eu falei: “Eu vou fazer faculdade de Engenharia Civil, ponto final.” Acredito que foi no oitavo, nono para o primeiro ano; eu já tinha essa noção, que queria fazer Engenharia Civil.
P/1 – Então você manteve isso até o final do seu ensino médio, essa ideia já definida. E como foi o processo de fazer vestibular e conseguir entrar? Conte como foi esse período.
R – Eu comecei um cursinho antes de entrar na faculdade. Terminei o terceiro ano e fiz um ano de cursinho; terminei com dezessete [anos] e aos dezoito estava prestando vestibular.
Eu falo que foi um pouco frustrante, porque me dediquei muito, estudei bastante, porém eu não passei na universidade pública. Falei: “Meu Deus, e agora, como? Eu não tenho condição de pagar uma faculdade particular.”
Eu passei na UFMS [Universidade Federal do Mato Grosso do Sul] em Zootecnia e Eletrotécnico Industrial, eram outras faculdades, só que eu falei: “Eu não posso fazer algo porque os meus pais, as pessoas [vão dizer]: ‘Ah, você passou’. Eu tenho que fazer algo que eu amo, senão eu vou ficar uma pessoa frustrada.” Eu sempre tive isso, de fazer o que amo, então falei: “E agora?”
Foi quando eu consegui o Fies, uma linha de financiamento do governo, para quem não conseguisse o Prouni, porque o Prouni eu não pude [fazer]. Como estudei em colégio particular, por mais que tenha sido bolsista, perdi o direito de conseguir, então eu falava: “E agora?” Acabei conseguindo o Fies, fiz 100% de financiamento da minha faculdade, foi assim. Foi uma oportunidade, eu abracei com as minhas duas mãos, pernas, tudo certinho, porque eu não podia perder, eu sou de família pobre.
“Evelin, você vai pagar duas faculdades?” “Vou, porque é a oportunidade que eu estou tendo”. Eu queria não pagar com juros e tudo mais, só que era isso que a vida estava me proporcionando; é o que eu vou agarrar e, graças a Deus, deu tudo certo.
P/1 – E onde você foi fazer a faculdade?
R – Eu fiz a faculdade na Uniderp, que fica aqui na [Avenida] Ceará. Uma faculdade muito conceituada, que já estava há mais de dez anos tendo o curso de Engenharia Civil. [É] localizada na região do Centro, área nobre, onde mais uma vez tinha muita gente de classe média alta, porque pagar três mil, quatro mil reais em uma mensalidade, há cinco anos, já... Hoje já é muito dinheiro, imagina há cinco anos! Mas também tinha muitas pessoas batalhadoras, que também, assim como eu, pegaram a oportunidade do Fies e falaram: “É a única oportunidade que eu estou tendo, né?” E a gente estava lá, fazendo a diferença e dando nosso máximo.
P/1 – E como foi essa mudança? De repente, você está na faculdade e pensa: “Bom, é isso!” Como foi a sua adaptação no curso, a sua adaptação em um outro espaço; um curso diferente, já que você já tinha saído do ensino médio. Conte como foi esse período da faculdade para você, o que você sentiu entrando na faculdade.
R – É uma mistura de felicidade com medo, porque você fala assim: “Meu Deus, eu me tornei adulta. Será que fiz a escolha certa, mesmo? Porque esses dias eu era uma adolescente e escolhi a minha profissão, vou ser isso para o resto da minha vida. E agora?” Você escolheu um curso em que as matérias não são nem um pouco fáceis; é complexo, você fala assim: “Meu Deus!” Aquelas pessoas, os ‘CDFs’ da minha sala, é como se todos eles tivessem que estar aqui e eu não sou ‘CDF’.
Foi uma mistura de felicidade, de ter conseguido. “Nossa, olha onde eu estou!” De olhar para os seus pais e ver os olhos brilhando de felicidade: “Meu Deus, minha filha está na faculdade!” A família inteira, na verdade. Só que [tinha] aquele medo de frustração, de frustrar não só a mim, mas a minha família. Foi essa mistura, mas eu falava para mim: “Evelin, você tem que ter coragem. Você não precisa ser a melhor, mas tem que se esforçar.”
P/1 – E nessa época você estava trabalhando também? Você estudava em qual período?
R – Sempre trabalhando. (risos) Eu trabalhava [em] dois períodos. Eu trabalhava em clínica médica como recepcionista. Trabalhava de manhã, à tarde e à noite eu ia para faculdade, então era extremamente corrido, do mesmo jeito - saindo [às] cinco horas da manhã de casa, almoçando no serviço e indo direto para a faculdade; chegando em torno de onze e meia, meia-noite em casa.
P/1 – E no seu tempo livre - imagino que devia ser pouquinho nessa correria -, você gostava de fazer o que, nessa época?
R – No meu tempo livre era mais descansar (risos) um pouquinho, só que eu sempre gostei muito de estar em volta de amigos, então era sentar para tomar um tereré, ir na casa de alguma amiga, dar uma volta. Aqui tem um parque, chamado Parque Nações Indígenas, bem divertido, bem gostoso. Ir em festa no final de semana, churrasco. Era mais estar com os amigos, passar um tempo a mais com a família. Era o tempinho que eu tinha nos finais de semana, quando eu não estava em campeonato de jogo também, que às vezes era sábado e domingo, ou tinha que ir viajar, era... Sempre foi correria. (risos)
P/1 – Você continuava no vôlei, nessa época?
R – Continuei sim, só que chegou um momento da faculdade, da metade em diante, que foi bem complicado. Eu falei: “Não, gente, eu vou ter que dar uma pausa”. Detalhe: com o time de início, com o mesmo treinador desde a infância, todas as meninas continuaram. Era bem legal, era criança que se tornou adolescente e já estava falando com mulheres ali; umas já estavam noivas, casadas, com filhos, enfim. Chegou um período da metade da faculdade em diante, que eu tive que dar uma pausa, porque ficou muito corrido.
P/1 – E me conta um pouco sobre essas viagens, sobre esses campeonatos que você fazia.
R – Era muito bom. A gente foi para Maracaju, Ponta Porã, Ribas do Rio Pardo… São cidades aqui do interior do Estado, onde [se] reuniam campeonatos de todo estado, de meninas e até de meninos também, de voleibol.
Nosso treinador alugava van, tudo aquilo… Não tinha, não era hotel. A gente dormia nas escolas, com colchão no chão, aquela coisa bem divertida. Só que, para você ter noção, ele morria de medo de menina, adolescente; trancava às vezes a gente dentro do quarto, para não ter perigo de nenhuma menina sair à noite, para alguma festa. Só que era muito divertido, eu só lembro de momentos felizes. Eu falo que esses momentos eram de extrema importância, para trabalhar nosso psicológico, saber perder, saber ganhar, trabalhar em comunidade, juntos - ainda mais que voleibol não dá para você jogar sozinho, você precisa de pessoas. São lembranças maravilhosas que eu tenho dessas viagens.
P/1 – Voltando para o seu curso, existiam várias mulheres na sua sala ou a predominância era de homens?
R – A predominância era de homens. Vamos colocar aí: de cem alunos, vamos colocar vinte mulheres, no máximo. Quando chegou ao final, para se formar, se tivessem dez, eram muito. A área da infraestrutura, da engenharia é, majoritariamente, de homens.
P/1 – Isso, em algum momento, pesou para você? Em algum momento você se sentiu desconfortável nisso? De, talvez, por ser mulher, “alguma coisa está me impedindo”? Você sentiu alguma coisa, nesse sentido?
R – No período acadêmico [havia] comentários de alguns amigos, colegas da faculdade, que às vezes me deixavam pensativa. “Quero ver as meninas que querem ter direitos na hora da obra. Como vão subir com o pedreiro? Se precisar carregar um saco de cimento, vão dar conta?” Uns comentários assim, machistas, só que [isso] nunca me abalou, porque eu pensava assim: “Se não existir ou se é difícil, eu estou aqui para quebrar tabu.” É algo que, no meu gênero, não pode... Alguém pode falar: ‘Porque você é mulher, você não pode.”
Tudo o que eu quis fazer, desde criança, eu sempre corri atrás e dei muito duro para conseguir, então não vai ser alguém que vai apontar para mim e falar: “Ah, não. Você é mulher e não vai dar conta.” Sabendo que o mercado de trabalho tem preconceito, é complicado, só que nesse período não me atingiu muito, não. Eu ficava um pouco pensativa, mas falava: “Você vai conseguir, vai dar tudo certo.”
P/1 – Como foi a sua formatura? Quando você se formou, o que você estava pensando em fazer?
R – Nossa, quando eu me formei, foi um alívio porque, normalmente, um curso de Engenharia dura cinco anos. Eu fiz em seis anos e meio, por quê? Eu fiquei grávida no meio da faculdade. Eu não tranquei, mas mesmo assim eu reprovei muitas matérias. Só que eu falava: “Eu não posso desistir, porque essa é a única oportunidade que eu tenho. Ou eu viro mais uma mulher que ficou grávida e vira estatística que parou o estudo, ou vou ser um ponto fora da curva, onde sim, fui pelo caminho mais difícil, mas foi possível sair do labirinto.”
Quando eu me formei, que olhei para minha filha, olhei para minha família, eu falei: “Nossa, eu consegui!” Foi um momento de muita superação. Eu quis desistir muitas vezes porque foi muito difícil; eu reprovava e fazia de novo, reprovava, então era muito frustrante. O seu próprio eu diz para você: “Você não é capaz”, sabe? Só que é capaz sim, é só um dia ruim; você bate a poeira, levanta, faz de novo até conseguir, você tem que ser forte.
Na formatura foi mais uma barreira. Não tinha condições de fazer a festa de formatura porque estava caríssimo na época. O pessoal da minha turma queria até que tivesse robô dançando, então ficou muito caro por pessoa. Fiquei um pouco triste com isso, só que alguns grupos de amigos me chamaram e falaram: “Evelin, vai ter uma formatura dos pobres.” Eu [falei]: “Como assim, formatura dos pobres?” “A gente se reuniu, ninguém tem dinheiro, só que a gente quer fazer uma festa porque a gente merece. A gente vai pagar cento e cinquenta reais por pessoa e vai fazer três dias de festa.” Aí, eu: “Como assim?” “Vai ter três dias de festa. Vai ter foto, vai ter beca, vai ter baile.”
Entrei nessa festa de formatura dos pobres e foi incrível. Minha família inteira veio, foi lindo. Era um lugar simples, mas muito bem decorado, com uma comida gostosa. Teve um dia de colação de grau, o outro dia foi o baile e o terceiro dia foi o churrasco em uma chácara, que foi incrível. Olho para as fotos e me emociono bastante porque eu falo: “A lembrança que foi, que nos momentos difíceis a família está junto, mas nas de vitórias também, é muito bom comemorar.”
P/1 – Falando sobre a sua experiência profissional, no momento que você saiu da faculdade... Conte um pouco como foi sua entrada no mercado de trabalho de engenharia.
R – Essa parte do mercado é complicada. Eu não sei como funciona em outras regiões, mas aqui no Estado, infelizmente, tem aquilo de ‘indicação’, né? “Ah, é filho do ciclano, é da família do fulano”, e eu, Evelin, não tenho ninguém, nada próximo da minha família, não conheço ninguém. Eu fui em uma área totalmente… Eu estou sendo a primeira a desbravar. Então, assim, quando eu fui estagiária da CCR, eu achei que eu ia criar carreira lá dentro, eu falei: “Meu Deus, vai ser o momento... eu vou ficar aqui para sempre, vou criar carreira”. Só que eu vi que eu não sou do perfil corporativo, eu sou do perfil de empreender, de ter o meu próprio negócio. E eu fui encorajada pelo Vitor, que era meu chefe na época, de falar: “Evelin, não é isso, isso não é para você, você vai se frustrar lá na frente”. E quando eu saí da faculdade, eu resolvi empreender. Eu nem mandei currículo, eu nem fui fazer nenhuma entrevista, eu não fui atrás disso. Eu falei: “Vou abrir o meu próprio negócio, por mais que deva ser extremamente difícil, porque quando a gente sai faculdade, a gente sai muito cru, porque a faculdade não te ensina o dia a dia, experiência. Ensina teoria, né? Não ensina prática. Então, foi onde eu resolvi, falei: “Por mais que seja perigoso, eu tenho que arriscar”. Então, não tem como a gente ter sucesso, sem arriscar algum dia, na vida, né? E foi onde eu resolvi já empreender, eu saí da faculdade já empreendendo.
P/1 – Foi aí, então, que surgiu a Digna?
R – Sim, foi aí que surgia a Digna. A Digna surgiu do meu TCC, em que eu falei sobre alternativas e de técnicas para comunidades de baixa renda. O que eu falava no meu TCC [é] que o engenheiro, a engenharia é para todos. Uma vez que a gente é contratado, se o nosso público é de baixa renda, cabe a nós, como profissionais, criar alternativas de executar aquela obra, mas de acordo com a condição financeira do nosso cliente.
(PAUSA)
P/1 – Então, a preocupação com a Engenharia Social já veio da época do seu TCC, já era uma ideia que você tinha?
R – Sim. Eu conversei com esse meu amigo Vitor, da CCR, falando do projeto; que eu queria abrir uma empresa, porque identifiquei que a Engenharia não entrava para a periferia, para os bairros, Ela é uma profissão muito elitizada. Foi quando ele falou: “Mas isso é terceiro setor, setor 2.5, Empreendedorismo Social.” Começou a me dar bibliografias para estudar, fui me aprofundando cada vez mais e, quando chegou a hora de sair da faculdade, eu falei: “Agora é a hora de executar a ideia”.
P/1 – Conte como começou a Digna. Como vocês começaram, aos poucos, quais os primeiros projetos.
R – A Digna começou assim… Eu ficava me preocupando, me perguntando: “[De] onde eu vou tirar dinheiro? Eu não tenho escritório, não tenho experiência”. E eu sempre ia conversar com o Vitor, como um mentor meu, eu falo que ele foi. E ele falava: “Você está me dando desculpas. Para de querer ficar pensando em escritório. Não precisa de escritório agora, o escritório vai ser o canteiro de obra. Vai assinar o contrato na casa do cliente, você precisa de uma pessoa que acredite na sua ideia, um cliente”.
Eu estava lavando o banheiro da igreja, conversando com uma colega minha. Ela falou: "Minha mãe quer construir uma varanda e eu vou falar para ela, para ela ser a sua primeira cliente.” Acabou que foi a Regiane a minha primeira cliente, uma varanda. Deu tudo errado, tudo o que eu planejei e orcei deu errado, mas foi uma experiência incrível. Falei: “Eu tenho uma primeira obra!”
Corrigi os erros e fui para o segundo, que foi um banheiro, e nunca mais paramos. Dali em diante a gente começou. Foi de varanda, cozinha, banheiro e a Digna foi embora.
P/1 – A Digna começou em qual ano, Evelin?
R – A Digna começou no ano de 2018.
P/1 – E, para você estar envolvida, esse é o nicho da Digna… Qual a importância de uma moradia salubre para a população?
R – Eu falo que a dignidade é um direito de todos. Qualquer ser humano que nasce precisa, ele tem esse direito.
É horrível - pelo menos [para] os clientes que eu atendo - você chegar e a pessoa não ter um banheiro, sabe? Quando começa uma chuva, eles estão preocupados, porque molha toda a casa, alaga. Não tem uma cozinha, eles querem fazer um brigadeiro para vender, um bolo, são limpinhos, mas a casa não tem condição nenhuma - não tem rede de esgoto, não tem... É muito quente.
Você vê um bebê, uma mulher com recém-nascido, em uma casa onde não tem reboco, é muito quente, tem goteira, tem mofo.
Eu falo que, por mais que tenha sido muito difícil conseguir as coisas, eu me sinto privilegiada, nós somos, então a gente tem que... É como se a gente estivesse... Eu estou na frente, seguindo o meu caminho, mas tem muita gente para trás, então cabe a gente resolver e voltar. Amar as pessoas como se fôssemos nós mesmos. Todo mundo merece. Independente da sua profissão, eu sempre falo: “A gente pode fazer, sim, a diferença na vida das pessoas.” Como engenheira, falei: “Eu vou fazer da minha profissão um propósito de vida, onde eu possa impactar [a vida das pessoas]”. Não tem a ver com “reforma”, eu falo que tem a ver com “transformação”. Uma vez que a gente faz essa reforma na casa das pessoas, elas se transformam, saem daquela situação insalubre e falam: “Eu mereço mais que isso”, né?
P/1 – Como você avalia esse mercado de empreendedorismo social no qual você está inserida? Você acredita que haja uma tendência de crescimento, nos próximos anos? Porque oportunidade tem bastante, né? A gente imagina que tem muita coisa ainda para ser feita. Como você avalia o crescimento desse mercado?
R – Eu avalio esse crescimento de forma extraordinária, vai crescer muito. Até o número de negócios sociais que estão surgindo a cada mês, a cada ano, é incrível e eu não vejo isso como concorrência; eu vejo [que] eu, Evelin, não consigo atender os mais de 17 milhões de pessoas que vivem em situação insalubre no Brasil. Então, a gente precisa sim, cada vez mais, abrir uma empresa [que] veja esse lado social, ambiental também, para a gente conseguir ajudar o Brasil e o mundo.
Às vezes a gente fala assim: “Mas a gente é tão pequenininho! Não jogar o papel na rua vai fazer diferença, se todo mundo joga?” Falo que a mudança começa na gente e depois a gente faz uma mudança na vida das outras pessoas, só de... Como eu posso te dizer? Como se fosse assim: as pessoas se inspirassem em você.
Nossa, o que vem de jovens que estão se formando agora falar comigo: “Evelin, eu me inspiro na Digna. Quero abrir algo aqui na minha região.” Eu falo: “Vamos marcar uma conversa. Abre sim, eu estou aqui para te ajudar”. Enfim, eu acredito que tem que ser crescimento, mas um crescimento positivo; quanto mais empresas, mais pessoas impactadas.
P/1 – E quando começou a parceria da Digna com a Vedacit?
R – Começou em 2018. Começando a Digna, a Artemisia lançou um edital onde ela estava buscando por ideias e projetos na área da habitação. Falei: “Ah, vou me inscrever”, mas sem expectativa nenhuma. “Eu estou começando, não tenho nenhuma movimentação bancária, não tenho nem caixa, né?” Acabou que foram mais de 380 projetos inscritos no Brasil. Eles escolheram quinze e a Digna ficou entre eles.
Foi um desafio muito grande, porque eu não tinha situação e nem dinheiro para ir para São Paulo, para a aceleração. Fiquei com vergonha de falar, cheguei na minha mãe e no meu pai e falei: “Olha, gente, eu não vou. Eu tenho que colocar o pé no chão, eu tenho que ver... Eu tenho que parar de ser sonhadora. Desde criança eu fico sonhando muito. A minha realidade é outra, não tem como ir.” Minha mãe falou: “Não. Vamos fazer a noite do lanche, vamos vender o x-salada por dez reais, vamos avisar seus amigos, todo mundo que sabe da sua trajetória e vamos vender. E o dinheiro que você conseguir você leva para pagar um hotel.”
Eu nunca tinha ido para São Paulo, a grande metrópole. Falei: “Meu Deus do céu!” E acabou que, no dia - não me lembro a data certa - antes das nove horas da noite, a gente vendeu mais de 120 pães. As pessoas vinham para comprar lanche e eu não tinha acabado. As pessoas continuaram dando dinheiro, transferindo dinheiro pra minha conta.
Foi incrível. Eu me senti muito amada, muito apoiada por todas as pessoas que conhecem minha vida. Toda vez que eu falo eu até me emociono, porque foi muito incrível, gente. Incrível, mesmo. (choro) Desculpa, eu sou chorona. (risos)
P/1 – Imagina! Foi um momento importante para você.
R – Foi.
P/1 - Quando você chegou em São Paulo para fazer [a aceleração], como foi essa experiência?
R – Foi divertido demais, porque eu fui com ônibus de sacoleira. Fui fazendo amizade daqui de Campo Grande, até São Paulo, conversando com elas. Cheguei lá na feira da madrugada, (risos) então eu já fui comprar coisas, bugigangas. De lá, eu fui... Eu aluguei um hostel, pertinho, ia a pé para o evento.
Chegando lá, fiquei encantada porque eram quinze empresas do Brasil, espalhadas, cada uma com um objetivo, com uma empresa incrível. O acesso às pessoas que a gente teve, para ter mentoria... Assim [que] eu vi, falei: “Nossa, eu não vou mais ser só uma ideia, eu vou sair daqui uma empresa.” Foi muito importante para maturidade da Digna.
P/1 – Quando você voltou dessa mentoria, como você foi desenvolvendo o projeto, como você foi crescendo?
R – Na verdade, a mentoria foi dividida em duas partes. A gente teve essa mentoria, voltei para Campo Grande e tinha um desafio a ser batido. Fiz todos os objetivos, de números de obras, de movimentação bancária que a gente traçou na primeira mentoria.
Voltei para São Paulo para apresentar os objetivos, todo mundo apresentou [os resultados]. Entre os quinze, eles escolheram três destaques e a Digna ficou entre elas. A gente recebeu um capital semente.
Peguei esse dinheiro, paguei as contas, arrumei a parte contábil da Digna, porque a gente era um MEI [microempreendedor individual] e a gente tinha que se tornar um ME [microempresa]. Foi muito importante.
Quando a gente voltou, a gente falou: “Não, agora a gente é uma empresa, em relação a como precificar, como se comportar, as estratégias que nos foram dadas.” Foi muito importante, nos tornou empresa de verdade. Saímos do amador para ser algo de verdade mesmo, sólido.
(PAUSA)
P/1 – Conte como foi a experiência de ser mãe.
R – Ah, a experiência de ser mãe é indescritível, por mais que eu tenha sidoi mãe com vinte anos de idade. Você fala: “Meu Deus!” É uma mistura de felicidade, mas de princípio de medo, de: “Eu acabei com a minha vida.” Só que não.
Foi, eu falo, o combustível para conseguir conquistar os meus objetivos. Eu sempre falo para ela, pra minha filha que, se eu não a tivesse, eu acredito que eu não teria conseguido terminar a faculdade, então é incrível.
A gente, quando nasce, já é mãe. Por mais que a gente não saiba como vai ser, a gente já sabe o que fazer, vai errar e vai acertar. É para a vida inteira, é um amor que não tem como contabilizar.
P/1 – Qual o nome da sua filha e quanto anos ela tem, Evelin?
R – O nome dela é Maria Luiza e atualmente ela tem sete anos de idade.
P/1 – Você se lembra do seu casamento, como foi?
R – O meu casamento foi... Não teve festa, foi no... Para você ter noção, a gente não tinha dinheiro nem para pagar o cartório, então a gente foi naquele ônibus itinerante - o governo faz uma iniciativa para poder fazer a certidão de casamento e tudo mais.
Quando eu descobri que estava grávida, fui morar na casa dos meus pais; meu esposo veio morar junto comigo, ele falou assim: “A partir de agora nós somos uma família, então eu não saio mais de perto de você.” Casamos, moramos por um ano na casa dos meus pais; depois a gente alugou um apartamento e depois a gente conseguiu adquirir a nossa própria casa.
P/1 – E como vocês se conheceram, Evelin?
R – Nós nos conhecemos na igreja. (risos) Eu estava em um momento meio de rebeldia, não sabia... Estava querendo saber de festa, faculdade, só que ao mesmo tempo com uma tristeza, eu falo, do meu próprio eu… Foi quando fui para a igreja e acabei o conhecendo de uma forma superlegal. Primeiramente fomos amigos, depois foi virando amizade colorida e, por fim, viramos namorados e casamos. Eu estou com um pouco de vergonha, porque ele está aqui agora, ele chegou. (risos)
P/1 – Ah. (risos) Bom, então a gente vai para o último bloco de perguntas.
R – Ok.
P/1 – Primeiramente, quais são as coisas mais importantes para você, hoje em dia, Evelin?
R – As coisas mais importantes para mim, hoje em dia, são minha família, em primeiro lugar, porque sem eles eu não sou nada. E fazer o bem para as pessoas, dia após dia, sabe? Todo dia tentar ser uma pessoa melhor.
Eu falo assim: “Não é à toa, a gente não veio nessa vida só para existir. A gente veio para viver e transformar a vida das pessoas.” Então é amar, ser uma pessoa boa, transmitir amor, alegria, ajuda e é isso.
O mais importante para mim, atualmente, é ter minha família perto de mim e fazer o bem, sabe? Todos os dias, até que chegue ao fim de tudo.
P/1 – Quais são seus sonhos para o futuro, Evelin?
R – Eita, quais são meus sonhos? Esses dias eu falei: “Gente, cadê os meus sonhos?” Parece que tudo o que eu fiz, o sonho que eu projetei quando era criança, tive a honra de ter conquistado - uma família, uma faculdade, uma casa. Só que os meus sonhos agora são bem mais... Não é tanto material, não tem como... É mais de sentimento. É de ser feliz, fazer as pessoas felizes, amar, que as pessoas perto de mim se sintam amadas.
Eu falo também de ter sucesso e sucesso não tem a ver com dinheiro, cargo, profissão; é de ser realizado, assim: “Nossa, pelo que tenho eu sou grata, ter as pessoas próximas de mim, eu pratico o bem.” Isso é ser sucesso, é ter sucesso, alcançar. Viajar, conhecer outros locais, proporcionar momentos felizes para a minha família e meus amigos e, cada vez mais, impactar a vida de mais pessoas, nesse mundão aí.
P/1 – Então, vamos para a última pergunta, Evelin: como foi contar a sua história de vida para gente, hoje?
R – Contar a minha história foi uma mistura de sentimentos, como eu estou dizendo, por que... Uma honra, primeiramente. E faz você voltar lá. Eu não imaginei que voltaria lá na minha infância e... Faz tempo. Acho que eu nunca fiz isso, de vir caminhando e falar: “Meu Deus, olha tudo o que já passou, olha onde a gente conseguiu chegar”.
Foi incrível, me fez ressuscitar memórias, sentimentos. Que eu possa, daqui a uns anos, olhar esse depoimento e falar: “Nossa, olha que situação, que legal. Olha onde eu estava e olha o que a gente conseguiu mudar.” É incrível, eu me sinto muito honrada e grata por poder contar a minha história.
P/1 – A gente que agradece! O Museu da Pessoa agradece muito o seu depoimento, muito obrigado.
R – Obrigada, eu que agradeço.
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