Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Arianna Nutt
Entrevistado por Lila Schnaider
São Paulo, 09/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB036_Arianna Nutt
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Você podia começar falando o teu nome, local de nascimento e data, por favor?
R – Tá. Data de nascimento? Ixi, isso daí é ruim! (risos) Eu sou Arianna Nutt e eu nasci em Maceió, no dia primeiro de junho de 79. Às vezes, eu minto a minha idade, eu falo que… né? Porque não parece… parece que eu tenho isso tudo? Trinta e oito? parece não, né? Eu acho que não, também (risos). vai passando o tempo, a gente vai ficando doida, né, a vai achando que tá mais nova, mesmo. Na verdade, eu nem nasci Arianna Nutt, eu sou Arianna Cavalcante Gomes. Mas eu queria muito ter um nome bonito, assim, sabe? Não que eu ache feio o meu nome, mas é que eu queria que fosse mais sonoro. E daí, eu fiz Nutrição, curso de nutrição e aí, o meu e-mail era ariannanutt por conta da Nutrição e aí, o pessoal… eu falava: “Nossa, mas eu queria ter um sobrenome bom” “Mas Nutt é ótimo” “Mas Nutt não é o meu sobrenome”, porque eu tinha um e-mail para Nutrição e outro para publicidade, que eu cursava os dois cursos e acabei abandonando a Nutrição, mas não o e-mail, aí continuei Arianna Nutt e é isso.
P/1 – É um ótimo nome artístico.
R – Eu também acho e quando eu tiver filho, vai pro meu filho também esse sobrenome, que eu achei bom.
P/1 – Seja ele nutricionista ou não.
R – Seja ele nutricionista ou médico, ele vai ser Nutt mesmo (risos).
P/1 – E você nasceu…
R – Nasci em Maceió.
P/1 – Maceió?
R – É e morei em Palmeira dos Índios que é no interior de Alagoas e morei lá… na minha cabeça, foi a vida toda, porque foi dos cinco aos 13 anos, então, foi um período muito de todas as fases, né, essa daí e depois, eu retornei para Maceió pra fazer o primeiro ano do colégio, que na época, chamava segundo grau.
P/1 – E por quê que você foi pra Palmeira dos Índios?
R – Porque o meu pai foi transferido pra lá e daí, a gente foi morar no interior. A minha vó morava no interior, já, mãe da minha mãe, que a minha mãe também é do interior de Alagoas, não de Palmeira, mas é de outro, mas era perto e a gente acabou indo morar lá, também. E foi maravilhoso, eu continuo com vários amigos lá.
P/1 – E como que era a tua infância lá?
R – Ah, foi bem incrível, viu! Porque eu morava numa rua de barro e era muito maravilhoso brincar em rua de barro, né? E eu sempre achei que eu fosse homem. na minha cabeça, eu… acho que se fosse hoje, se eu fosse criança hoje, com esse negócio do gênero e tudo, iam deixar eu ser homem e eu acho que eu não ia gostar muito depois, quando eu ficasse adulta, porque agora, eu gosto de ser mulher (risos). Mas eu achei que eu fosse homem até os sete anos. Quando o meu irmão nasceu, a minha mãe tava dando banho nele, eu falei: “O quê que é isso que ele tem aí?”, com o pinto dele, ela falou: “É o pinto do seu irmão”, eu falei: “Por quê que eu não tenho isso?”, ela falou: “Porque você é menina”. Nossa! Mas foi a primeira depressão da minha vida, foi quando eu descobri que eu era menina, que eu achava que eu era menino (risos), porque menino pra mim era o menino que brincava na rua , era o menino que se sujava na rua, era a vida que eu queria ter, era jogar bola, mas aí, depois eu virei menina (risos). E foi isso, foi uma infância incrível, assim, eu queria que… se eu tivesse filhos, eu queria muito que os meus filhos tivessem a infância que eu tive, porque morava em casa com árvore, sabe, é muito bom isso, vida de interior, não sei se aqui em São Paulo é assim, também não sei como É no Recife, mas eu acho que foi uma infância muito livre, diferente do que eu vejo aqui.
P/1 – E tinha muitos amigos?
R – Muitos, muitos amigos, inclusive, hoje, minhas amigas são todas avós, já, né, porque no nordeste, você sabe que a gente procria bem e elas tiveram filhos muito cedo e hoje, elas já são vós, elas… o papo delas não é nem mais de filhos só, é mais de neto, né? E eu não tive nada, ainda. Mas continuo a amizade com elas, elas… eu sempre falo, sempre que eu vou pra lá, eu vou na casa delas, eu não tenho muito assunto hoje, porque, fala mais dos netos (risos).
P/1 – Quais eram as brincadeiras assim, de infância?
R – Ah, eu gostava muito de brincar de… a gente chamava de chimbra que é bolinha de gude, até hoje, eu tenho um calo aqui no dedo que é de fazer o buraquinho assim da chimbra na rua de barro, sabe? Então, ferrou o meu dedo aqui, até hoje eu tenho essa lembrança aqui de infância, de jogar chimbra. E gostava de brincar de bola, jogar bola na rua… a minha mãe, ela foi muito pobre na infância dela e ela nunca teve boneca e aí, o sonho dela era que a filha dela tivesse boneca, só que ela teve um homem de filha. E eu tive uma infância muito boa assim, na questão de grana, o meu pai, ele teve muito dinheiro e aí, eu tive uma infância muito rica, assim, tanto de rica de brincadeira, de rica de dinheiro também (risos). Então, eu tive muita coisa muita boneca, quarto rosa, tudo que eu não gostava eu tive. Eu queria mesmo era brincar na rua, mas a minha me tinha o maior prazer de me dar as coisas e eu não gostava de nada, de Barbie, de chuquinha que eram umas bonecas que tinha e eu não queria nada disso, eu gostava de brincar os brinquedos do meu irmão, que era o Conan, o He-Man, o Gato Guerreiro, eram as coisas que eu brincava, gostava disso e de bola. Foi nesse nível.
P/1 – E quando você brincava com as amigas, assim, como que elas te viam?
R – Então, lá, é que assim, eu sempre fui muito grande, de alta. Então, as minhas amigas eram sempre mais velhas, então hoje, eu tenho 38 anos, a minha amiga mais nova fez 40 agora. Então, eu não tinha nenhuma amiga da minha idade, por conta do tamanho mesmo, porque todo mundo que… quando eu brincava com as meninas da minha idade, aí o pessoal falava: “Nossa, mas você é uma moça correndo desse jeito”, mas só porque eu era grande, de alta. E aí, minhas amigas eram todas mais velhas e elas não brincavam comigo, eu brincava com os meninos na rua, eu no brincava com elas, porque elas mais velhas, queriam tudo ser moça, já, e não era. Mas quando chegou na época de eu… que eu tinha uns 11, 12 anos, que elas já tinham 15, a maioria delas tinha 15, eu gostava de sair com elas para a rua que era a praça que tinha lá, no interior e daí, eu saia muito com elas assim, pra paquerar, pra essas coisas. Eu entrei muito cedo nessa fase de paquera, de tudo, porque eu acompanhava elas, né, e daí, elas tinham os namoradinhos delas e aí, eu acabei tendo também, mas o que eu gostava de brincar mesmo até uns sete, oito anos era de bola na rua, com lama, com sujeira, era o que eu queria, o que eu gostava mesmo.
P/1 – E teve alguma situação assim, com as crianças, né, nessa época de… você se achar que era menino e como que elas te viam? Teve uma situação específica que você lembra?
R – Teve. A minha melhor amiga hoje mora no Canadá. E é engraçado, porque até hoje a gente conversa, eu sou madrinha do filho dela e até hoje a gente é muito amiga. E a gente era pequena, eu acho que eu tinha uns seis anos, a gente foi almoçar num restaurante junto com a família dela e daí, eu vi pelo… que tinha um playground assim e tinham uns meninos jogando bola e daí, eu sai pra jogar e ela era muito menina essa minha amiga e eu sai pra jogar bola, eu tinha um cabelo curto e eu sai para jogar bola e os meninos começaram a perguntar: “Como é o seu nome?”, e eu falava: “Diego” (risos), pros meninos eu falava isso. E aí, ela chegou e falou: “Arianna, vamo embora, a gente já vai embora”, aí eu fiquei olhando assim pra ela: “Não me chama de Arianna,, não, para” e os meninos: “O quê que é? Você vai embora, Diego?”, aí a minha amiga falou: Ó nome dela não é Diego, não, ela é menina, para de chamar ela de menino”, eu sai chorando com vergonha (risos). É a história mais engraçada assim que eu acho que teve, porque eu sempre separava, tinha a brincadeira com as meninas que era mais brincadeira de escola, essas coisas e com os meninos era brincadeira de bola, mesmo.
P/1 – E o quê que te deixava muito feliz na infância?
R – Acho que comer, viu! Sempre foi isso. Eu era muito magrela e eu tinha que comer muito, sempre, eu engordei com 25 anos, só, então foi… eu nadava, eu era da equipe de natação de Alagoas e sempre fui, do infantil, depois do… chega até o sênior e eu era magrela, mas eu amava comer. Nossa, como eu amava comer doce, eu só gosto de doce, até hoje, meu paladar é super infantil, eu só como doce, só gosto de doce. Me deixava muito feliz, doce. Era basicamente isso.
P/1 – E na escola?
R – Na escola, eu sempre fui boa aluna, mas eu queria… deixa eu ver como foi, viu? Eu sempre fui muito boa aluna, mas eu também… eu não podia tirar nota vermelha, eu não podia tirar nota baixa, eu tirei uma nota baixa uma vez, a minha primeira nota vermelha, eu tirei três em Matemática, fazia terceira série, eu engolir o meu boletim. E aí, a partir daí, eu decidi que eu nunca mis ia ser ruim em Matemática e aí até hoje, eu sei tudo de Matemática. Eu fiz nutrição que é da saúde e fiz Publicidade que é de Humanas e eu odeio Humanas, mas eu nunca fui boa em nada de Humanas, mas em Matemática, em Calculo, eu sempre fui muito boa por conta disso, por conta do meu pai. Eu nunca mais tirei nota vermelha depois disso. Então, eu era muito maloqueira assim, de zoar com todo mundo e tudo, mas eu nunca fui uma má aluna, eu sempre fui aquela chatinha que queria assistir aula mesmo e nunca fui de estudar em casa, mas na escola, eu era uma boa aluna, de prestar atenção, de não conversar, sempre fui boa aluna.
P/1 – E você lembra de alguma história com professor?
R – Com professor? Então, os professores, eu lembro de todos que eu tenho hoje, inclusive, a gente reencontrou alguns professores desde o Jardim, então, encontrei essas pessoas e reuni todas no whatsapp. Então, todo mundo é crente hoje, todo mundo é crente, mas eu tenho todos eles e eu tenho um carinho absurdo, tem a tia Adriana que foi uma professora minha que marcou muito, assim, porque eu queria muito ser ela, ela parecia a Barbie, sabe? Ela parecia muito a Barbie e aí, quando ela começou a a dar aula pra mim que foi na segunda série, ela deu da segunda até a oitava série, que no interior tem muito isso, né, que um professora dá aula em todas as escolas, né? Aí, eu estudava no Mundo da Criança até a quarta série, depois eu fui para o Cristian, que era ela também a minha professora de Matemática e eu era apaixonada por ela assim, adora a tia Adriana, até hoje e fiquei muito emocionada quando reencontrei ala agora, foi muito bacana. Reencontrei pelo whatsapp, né, e é engraçado você ver isso, porque a gente era criança, mas quando você vê hoje, a diferença de idade nem é tão grande assim, a gente é adulto, tanto eu como elas todas, a tia Cristina também que era uma professora incrível e agente hoje conversa como se… de igual, né, não tem mais aquela: “Agora você é criança e eu sou professora”, não é. E eu vi que a diferença de idade era muito pouca, elas tinham 20 anos e a gente tinha dez, sabe, então, hoje elas têm 48 anos, elas são muito novas (risos).
P/1 – E você queria ser o que, quando crescesse?
R – Eu sempre quis ser dentista. E aí, eu tenho uma história engraçada disso, que o meu pai me deu de presente, eu nunca quis ser medica, que tem muita criança que quer ser médica, professora, alguma coisa, eu sempre quis ser dentista. Então, o meu planejamento era: no ano 2000, eu ser casada, ter dois filhos, um UNO brando e ser dentista (risos), era o que eu queria ser. Graças a Deus, nada eu fui. Eu só tive mesmo o casamento, eu me casei aos 20 anos. E só era casada mesmo no ano 2000. Mas então, meu pai me deu de presente esse… um kit de dentista, de criança, e aí, o meu irmão… eu sempre maltratei muito ele, que o meu irmão era menino, então, tinha muita inveja dele, né? E aí, eu ganhei esse kit que vinha um alicate, vinham aqueles negócios de dentista, tudo. E aí, o meu irmão falou: eu já tinha arrancado os dentes e eu falei pra ele: “Por que o seu dente não cai? O meu caiu e o seu não cai?” “Porque não tá mole, ainda” “Então, deixa eu amolecar aqui”, e peguei o alicate e comecei a amolecer o dente dele até arrancar. Aí, arranquei o dente dele e ele me obedecia muito, ele não chorava (risos), ele me achava a melhor irmã do mundo, eu acho. E aí, arranquei o dente dele. E aí, quando o meu pai chegou, nossa, aí eu levei outra surra e ele jogou o meu kit fora, acho que foi aí que acabou com a minha vontade de ser dentista e aí depois, lá em Maceió só tinha uma opção pra você fazer a faculdade…
PAUSA
R – Lá em Maceió, a gente só tinha uma opção para fazer a faculdade, assim, como u queria fazer Odonto, só tinha a Federal e se eu perdesse nesse vestibular, eu só ia fazer um ano depois. E eu terminei… o colégio eu terminei com 16 anos, então eu falei: “Ah não, com 16 anos, dá para eu perder um”, só dava para perder um, porque eu não queria entrar atrasada com 18 anos na faculdade, eu queria entrar ou com 16 ou com 17 e daí, eu fiz o primeiro vestibular de Odonto, perdi e aí, no outro ano, eu fui fazer… porque faculdade particular também não tinha, e aí, eu fui fazer no outro ano, aí eu falei: “Não vou fazer Odonto que eu não vou perder e entrar atrasadíssima na faculdade”, olha as ideia da pessoa, acha que é velha, eu já achava que era muito velha com 17 anos. E aí, eu falei: “Não, vou fazer Nutrição, que eu acho que a concorrência e menor”, e aí, quando eu fui olhar as concorrências, depois que eu fiz a inscrição, Odonto tava 22.1 e Nutrição tava 21.1, eu tive tanta raiva que eu fiz Nutrição só de raiva. Eu fiz, passei, aí cursei… quando eu cheguei no quinto anos de Nutrição, abriu Publicidade na Federal, lá também. Aí eu falei: “Nossa, eu vou fazer isso, eu vou fazer Publicidade”, que na minha cabeça era o que eu sempre quis fazer. E aí, fiz, consegui levar ainda uns três meses as duas faculdades, mas depois não dava mais porque Nutrição tava me sugando muito, porque eu tava no último ano, já estava em estágio, tudo. Aí, eu abandonei Nutrição e fui para Publicidade, porque assim, eu sempre tenho certeza do que eu quero, eu abandono, mesmo. A minha mãe quase morre com isso, nossa! E o meu pai sempre falou pra mim: “Você faça o que você quiser, contato que você seja a melhor”, aí eu fui louca, querendo fazer Publicidade achando que… mas eu me dei muito bem na Publicidade, foi a publicidade que me trouxe para São Paulo, eu sou da criação, eu era da criação, né, eu era Diretora de Arte e aí, depois que eu vim para São Paulo, aí em São Paulo, não sei quando você chegou aqui, mas tem um negócio com nordestino, não sou de levantar bandeira, causa, nada, acho também que: “Ah, você veio de outro lugar que é menos desenvolvido do que São Paulo, então vamos ver do que você é capaz aqui”, e aí, a gente sempre tem que mostrar que é mais capaz possível. E daí, eu comecei aqui como assistente, eu já tinha dez anos de profissão, da Publicidade, de Direção de Arte, aí comecei como assistente aqui e depois, eu virei Diretora de Arte, depois virei Diretora de Criação e foi incrível a minha época, amei ser publicitaria aqui em São Paulo, em agencia grande, tudo o que a gente vê de glamour, é tudo isso mesmo, achei incrível, mas aí, veio o humor. E veio por conta da Publicidade, veio porque eu sempre tive muita vergonha de falar em público por conta do sotaque, eu tinha muita vergonha do meu sotaque, porque as pessoas riam quando eu apresentava campanha, eu queria falar sério e ninguém me levava a sério por causa disso, aí eu tinha vergonha e falava assim: “Então, por que você não faz teatro?” “Não gosto de teatro, não quero” “Não, mas faz teatro empresarial, é bom”, aí eu fui fazer. Aí, quando eu fui fazer, falaram assim: “Eu acho que você é muito engraçada falando, mas não é por conta do sotaque, o jeito que você fala é engraçado, mas você devia colocar isso para o seu corpo, por que você não faz um curso de palhaço?”, eu era mega preconceituosa com essas coisas, falei: “Aí gente! Palhaço? nada a ver, nossa, daí o pessoal vai dizer que eu sou do Ceará” (risos), eu fiquei meio assim. Aí, eu fui procurar e vi que tinha da Bete Dorgam, só que tava esgotado. Aí, eu vi stand up, falei: “deve ser a mesma coisa, acho que eu vou fazer stand up”, eu nem sabia o que era, nunca tinha assistido nada, isso foi há cinco anos. Aí, eu fiz stand up, o curso de stand up com a Carol Zoccoli, foi a melhor coisa que eu fiz na vida, assim, foi incrível e aí, já sai de lá do curso, já fiz om meu primeiro open mic, que é quando você inicia na carreira de stand up, de fazer stand up, vai para o palco a primeira vez, e aí, depois eu comecei a fazer, comecei, comecei e aí, três anos depois, eu abandonei tudo, três anos depois que eu comecei a fazer stand up eu tive que conciliar com a publicidade, porque… por questão de grana e aí, no meu começo do stand up também era casada já há 11 anos, meu primeiro marido eu me separei, esqueci de falar. Casei com 20, separei com 22, porque fui traída e aí, a minha mãe falou assim: “Você vai se separar…”, eu morava lá: “Você vai se separar? Você não sabe que é ad natureza do homem trair e da natureza da mulher aceitar?”, achei errado, me separei mesmo. Aí, comecei a namorar outro que era paulista, graças a Deus, aí passei com ele casa 11 anos e foi incrível, a gente terminou, realmente, porque a Publicidade tomava a minha vida e nem foi briga, traição, nada, foi simplesmente porque acabou. Aí, comecei já a namorar um humorista, a gente foi crescendo junto no humor, que é o Guto, ele também faz stand up. E aí, tô aí, tô nessa já ha cinco anos no humor e tô amando fazer o que eu tô agora, assim, esse ano foi uma no muito bom pra mim no stand up, eu fiz Faustão, eu fiz Comedy Central, eu fiz “Drunk History”, que tá passando no SBT, então parece assim, que eu me formei, sabe, eu fiz quatro anos de faculdade para chegar aqui nesse quinto ano e tá formada e entrar, realmente, para o mercado de trabalho. Esse ano tá sendo muito incrível para mim.
P/2 – Teve algum momento na sua vida que foi um stand up comedy, mas em vez de ser uma pessoa apresentando, foi uma situação que realmente fez você chorar, chorar, chorar, chorar, chorar de rir?
R – Nossa! é tanta, menina, que tudo que eu conto no palco acontece, mesmo. Teve uma, eu conto no palco, mas eu não conto do jeito que aconteceu, claro, porque senão, ia dar uma história muito longa. Quando eu vim fazer estágio aqui em São Paulo, foi em 2003, eu acho, eu vim junto com um amigo e eu já era casada com o Mauricio, que é o paulista e daí, a gente veio pra cá, ele tinha alguns amigos aqui que indicou pra gente fazer estágio nessa agencia que era a Loi, fui fazer estágio lá. E o meu marido ficou lá em Maceió e eu vim junto com o meu amigo. E aí, tinha um amigo do Mauricio que era o Sato que ele levava a gente para todo lugar, monte de bar de rock e eu não suporto rock, eu sou muito do axé, sabe? Eu sou bem nordestina, mesmo, da raiz, então eu sou muito do axé, eu sou muito do carnaval em Salvador. E aí, ele levava a gente pra um monte de bar de rock e eu tinha vergonha de dizer… eu tinha acabado de casar com ele, a gente namorou muito pouco tempo pra ir morar juntos, então eu tinha muita vergonha, ele era mais velho do que eu, falava: “Não sou infantil, pra dizer que eu não vou. Vou”, e aí, ia pras coisas de rock, não sei o que e odiava, mas enfim. Aí, a gente tá hospedado em um flat em Moema, aí a gente passou por um bar, fomos fazer compras, eu e o Dudu, meu amigo, a gente foi fazer compra e a gente passou por um bar e eu falei: “Nossa, Dudu, aqui só tem gente bonita nesse bar, vamos ligar para o Sato e falar desse bar aqui”, liguei pra ele e falei: “Sato, tem um bar maravilhoso aqui em Moema e tem um monte de gente bacana entrando, bonita. Vamos nele, o quê que você acha?”, ele falou: “Qual que é o nome do bar?” “Marrakesh” “Nossa, Arianna, é um bar se swing”, eu falei: “Eu amo swing”, ele falou: “Sério?”, eu falei: “Sério”, ele: “E o Mauricio gosta?”, eu falei: “Não, ele odeia, mas eu sempre vou com o Dudu”, ele falou: “Nossa”, e desligou o telefone na minha cara. Aí, eu falei: “Jesus, que nada a ver, que mal educado”, aí depois, o Dudu falou: “O quê que ele falou?”, o Dudu é carioca. “Ele falou que era um bar de swing e eu falei que ainda bem, um lugar bom aqui em São Paulo pra gente ir”, mas é porque swing pra gente é axé e aí (risos), eu achei que fosse um lugar super divertido. Nossa, eu fiquei tão mal, aí eu liguei pra ele, falei: “Sato, desculpa, é que eu achei que swing fosse axé” “Nossa, eu já tava aqui nervoso, pra ligar pro Mauricio pra falar: “Nossa, mas que vaca que é a sua namorada’”. E vaca pra gente significa mulher do peitão. Eu falei: “Gente, eu tenho esse peito tão grande para me chamar de vaca assim?”, e foi isso. Isso eu conto no palco também, mas eu não conto desse jeito, mas isso aconteceu e foi terrível. Outras coisas também com esse negócio de palavras que a gente fala, uma vez o meu namorado, o atual, o Guto, ele falou assim: “Tô passando aí na sua casa” “Nossa, tô toda assanhada” “Então eu vou subir” “Vai subir pra onde?” ‘Vou subir que você tá assanhada” “Você quer me ver assanhada?”, ele: “Lógico que eu quero”, assanhada pra gente é cabelo bagunçado. Então (risos), tem essas coisas da linga, ainda. Até hoje tem, não tem jeito. A gente fala muito diferente, né? A gente fala diferente.
PAUSA
R – Eu conheci uma menina da Espanha ontem e ela falou assim que ela falou: “Eu sei falar espanhol e sei falar o catalão e as pessoas pensam que é espanhol, também, mas é muito diferente”, eu falei: “Aqui no Brasil, a gente super entende isso, porque o Brasil inteiro, parece que tem vários dialetos, não é só uma língua, a gente tem várias línguas aqui”, né, porque no nordeste, é uma coisa completamente diferente e dentro do próprio nordeste, cada região tem o seu vocabulário e eles são muitos diferentes também. na Bahia, apesar da gente ser muito conhecido como baiano aqui no sudeste, a gente não fala… não tem nada a ver com a Bahia, agente não fala nada que o baiano fala, a gente fala muito diferente do baiano, muito diferente. E no Rio, a gente é paraíba, também, né? Eu também não ligo não, pra isso. Eu falo muito assim para o meu namorado: “Vai, havia”, ele: “Havia o quê?” “Cuida”, que é vai, apressa, vai logo… tem tanta coisa, tem umas coisas também que é bem pornográfica também que eu só falo no show, não dá para falar aqui, que eu acho que vai ficar feio, até. Mas tem umas coisas muito engraçadas, cara, é muito… se eu for a fundo mesmo no vocabulário nordestino, é completamente diferente.
P/1 – Não, esse “havia” no Recife não tem não.
R – Não tem, né? Aqui, olha, aqui chama Playboy, lá chama biquete. “Nossa, maior biquete”, não sei o que. Tem um monte de coisa diferente.
P/3 – Como é que você se encontrou no humor? Se você puder contar um pouco dessa origem. Como É que você se descobriu humorista, as situações ou…
R – Então, é o que eu tenho falado, o pessoal sempre falou que eu falava engraçado, que eu tinha umas sacadas rápidas porque alguém falava alguma coisa, eu já ia e falava outra em cima. Mas eu acho que isso é muito… eu não sei, depois que eu fiz o curso, eu soube canalizar o que eu tava falando, depois que eu comecei a aprender a escrever piada, muita coisa, tipo, a história do swing, que eu falo, eu falo dela de uma outra forma, mas é a mesma história, só que é uma outra forma que eu faço. Eu posso até fazer aqui pra vocês verem a diferença como eu faço. Que eu falo assim: “Que quando a gente chega aqui, tem um monte de palavra que a gente fala que significa outra coisa, tem uma palavra que eu acho engraçada que é swing. Swing pra gente significa axé. Aí, uma amiga minha completou anos e fez o aniversario dela no bar de swing e eu fui e eu juro que fiquei Ivete começar a cantar. mas não é muito diferente, não, viu, swing de lá e o swing daqui, a única diferença é que aqui as pessoas fazem suruba sem o abadá”. Então, é uma história, só que ela é escrita como piada, com a estrutura da piada, então, por isso que eu fiz o curso, eu acho que é super interessante quem tem, quem sabe… não é nem quem sabe fazer piada, quem é o engraçadão da turma, porque às vezes, nem é, tem gente que faz stand up que nem é o engraçadão da turma, é o depressivo da turma, e sabe fazer piada com isso, sabe? A própria Carol Zoccoli, a minha… a que foi minha professora, ela hoje tá no Canadá, ela mora no Canadá hoje, ela é maravilhosa, só que as piadas dela… e ela falou que ela nunca foi… ela nunca foi engraçada, sempre foi depressiva desde criança, ela tem piadas sobre isso. Tem uma piada dela que eu acho maravilhosa que ela fala assim: “Eu sempre fui deprimida, eu sempre tive depressão, mas quando eu era criança, eu brincava, eu adorava brincar de esconde-esconde, eu me escondia sempre atrás de um sorriso” (risos). Eu acho demais isso. Tem o Daniel Duncan também que a linha dele é muito para esse lado da depressão, do suicídio, não sei o que e sempre o exagero, ele fica engraçado, sempre o não usual fica engraçado também. Aí vai do estilo de cada um.
P/3 – Qual o seu tipo de humor? porque a gente tem entrevistado vários humoristas esses dias e cada um tem um tipo: imita personagem de TV… você tem um tipo de…?
R – Eu sou muito o que eu sou na vida. Eu trabalho muito com… porque assim, tem gente que tem muita facilidade de criar histórias, sabe? Tem humorista que fala sobre a avó e ele nem tem vó. Ele fala: “Porque eu fui na casa da minha avó”, e ele passa muita verdade nisso, sabe? Na verdade, não é nem o jeito que você fala… o seu estilo, é o jeito que você faz a coisa, não parece mentiroso. Que o lance do stand up, acho que é isso, é sempre parecer que você está falando aquilo a primeira vez. As pessoas pensam que também é improviso. E não tem nada de improviso, qualquer reação da plateia, a gente tem que estar preparado para responder isso, claro que tem a experiência do palco, também. A experiência do palco é muito importante também, porque tem gente que começou há seis meses e quer mandar alguém tomar no cu na plateia, sabe? E se ferra, muitas vezes. Então, essa experiência do palco faz com que você consiga falar qualquer coisa com a pessoa sem a plateia ficar contra você, sem a própria pessoa ficar contra você. Sabe? Até o jeito de olhar, o jeito de falar. Mas o meu estilo é muito… eu sou muito exatamente eu, exatamente eu. Claro, e exagero muito no sotaque, eu vou pra cima, tanto que quando eu tô falando aqui, se a minha mãe tivesse aqui, ela ia dizer: “Pra que tá falando paulista?”, na cabeça dela, o meu sotaque hoje é de paulista, porque simplesmente, eu falo e respiro, ela só fala, ela não tem nenhuma respiração. e eu falava assim, também, mas aí quando a gente chega aqui pra ser entendido, a gente precisa respirar.
P/1 – Você já passou alguma saia justa assim, no palco?
R – Já. Uma vez, eu tava falando, eu tava fazendo show, logo no começo e eu tenho uma piada que eu faço até hoje, que eu falo assim: “Eu sou publicitaria, mas eu pedi demissão porque eu acho que combina mais com o nordestino estar desempregado aqui em São Paulo”, e gente, é o que acontece, só que tem gente que não aceita, que eu acho que às vezes, o nordestino é muito bairrista e eles ano querem que ninguém fale absolutamente nada mal do nordeste, só que eu não tô falando mal, eu tô falando de uma realidade que eu não gosto, mas eu tô no palco, eu preciso fazer piada, sabe? Então, eu não tô dizendo: “Você, sua desempregada”, eu não tô falando isso, eu tô falando que eu pedi demissão porque eu acho que… então, eu trago tudo para a primeira pessoa. Sou eu falando. Então, eu acho que tem essa, das pessoas não quererem respeitar a opinião dos outros e simplesmente, julgar. Então, eu passei esse negócio que a mulher pegou e falou assim: “Você nem devis afalar assim, você é um personagem, sua paulista maldita”, começou a me esculhambar no palco (risos) e eu continuei fazendo o show como se nada tivesse acontecido. isso foi na Virada Cultural, como se nada tivesse acontecendo, continuei fazendo, falei mais alto do que ela e aí a plateia ficou toda contra ela, porque aí eu entrei em outros assuntos que hoje, até, também não falo… a única piada que eu falo desse lance do nordeste é essa, que combina amis nordestino estar desempregado em São Paulo, mas antes eu falava muito mais. Eu falava muito mais mas eu sempre me colocava como paulista, sabe? Então, eu fazia uma coisa meio irônica, mas eu parei de fazer porque às vezes, dava problema e eu não queria que tivesse, eu queria zerar essa questão do problema. Outra vez, eu tava fazendo show e quando eu desci do palco, a mulher falou assim: “Nossa, você imita perfeito o sotaque de nordestino, nossa, é incrível! Eu nunca vi ninguém imitar tão bem”, eu falei: “Mulher, eu não tô imitando, não, eu falo assim mesmo”, ela falou: “Sério? Aí, tadinha!” (risos), eu fiquei com dó de mim mesma. Esse foi… mas não teve mais nada assim, por conta de… tem gente que interfere, você tá fazendo show, alguém fala alguma coisa no meio do show, você tem duas coisas: ou você responde, só que se você responder, você corre o risco de você perder a plateia, ou você não responde e fala mais alto que a pessoa, já aconteceu das duas coisas comigo. Eu já respondi e dessa resposta eu fiz piada, também você pode fazer, aí você faz piada com a pessoa, só que isso também vai muito da experiência do palco, também, se você não tem, é melhor você ficar calado e continuar seu show como se você não tivesse ouvindo. Às vezes, é melhor.
P/2 – E você era a palhaça da turma quando você era criança?
R – Eu era, sempre fui. Eu sempre gostei de zoar todo mundo, sabe? Meu pai gostava muito de ir no teatro ver Ary Toledo. Sempre a gente vinha para São Paulo para passar férias aqui, porque assim, a pessoa que é da praia vem passar férias em São Paulo. E o meu pai assistia muito Ary Toledo, então, ele comprava muita coisa, fita do Ary Toledo, fita cassete do Ary Toledo e eu amava, eu contava muito as piadas dele. Piada, piada feita, né? E eu sempre fui assim, eu sempre fui muito irônica com tudo, sempre fui muito da ironia, desde criança, eu era muito de imitar o professor, de imitar a tia Adriana que foi aquela professora que eu falei, a gente dava aula para as revistinhas, então tinha essa questão da… não sei se é criatividade, porque acho que toda criança tem a sua criatividade, mas eu queria mostrar pra todo mundo, sabe aparecida? Eu era muito aparecida. Se tinha dança, eu queria dançar na frente para todo mundo me ver, era… mas eu acho que era de criança normal, mesmo, isso, não teve nada: “Ah era… olha que diferente!”, não. Era…foi normal.
P/2 – E você pega situações da sua infância pra falar no stand up também?
R – Da infância? pego. Eu peguei já algumas da minha avó, que foram reais, mesmo. Minha vó, ela fazia muita mandinga, sabe assim? Sabe… deixa eu ver como explicar isso… tem umas crendices assim, sabe, tipo: quando você tá menstruada, não pode molhar o cabelo porque senão, o sangue engrossa. Sabe? tem isso daí, então, conto essa situação da menstruação com a minha avó, conto que ela rezava no povo, sabe assim? Aquelas velha que reza? não sei se aqui em São Paulo tem isso, mas lá tem muito de ter as senhorinhas que você vai lá, você tá com tosse, aí a senhorinha vai e reza, aí a planta que ela rezou murcha, aí ela fala: “Olha, é mal olhado”, só que não é, porque tava faltando água mesmo na planta, né? E eu falo essas coisas assim, da minha vó. Falo da minha mãe, também. Mas não sei… não de infância, mas eu falo da minha mãe, falo dos meus irmãos. Eu coloco tudo no palco, a minha vida no palco é tudo da minha vida, mesmo de noticias que eu vejo, também.
P/2 – Qual foi o dia mais marcante do stand up que você fez assim? Teve algum que foi muito, muito marcante? Foi uma tatuagem, não foi? Não tem essa história?
R – Teve e foi bem recente que foi o show que eu fiz para o Comedy Central, meu Deus do céu! Foi um show absurdo assim, que eu tava muito nervosa, eu tava doente, eu fiz uma sequência de shows muito grande, eu já tava doente, aí eu fui pra Foz e aí, eu tive quatro shows sequenciais, assim, no mesmo dia, então eu tava com a voz péssima, tossindo, mas uma gripe, febre e aí, no outro dia, o contratante tinha que levar a gente para as cataratas, tava um frio gigante e daí, o Comedy Central seria… a gente voltou na segunda de madrugada. Eu fui do aeroporto direto pra gravar. Eu tava um lixo, o cabelo um lixo, eu tava um lixo. E aí, cheguei lá, lavei o cabelo, fiz tudo que tinha que fazer, maquiagem, roupa, eu tava assim, péssima, péssima, nervosa, porque eu nunca tinha gravado Comedy Central e aí, quando eu entrei no palco, mas eu senti uma coisa assim, que parece que me levantou. Eu não tossi no palco, eu tava queimando de febre, a febre saiu não sei por onde, porque eu não suei também, porque a minha maquiagem ficou perfeita, o meu cabelo tava lindo (risos), eu tava ruiva natural, foi a coisa mais incrível da vida foi essa gravação do Comedy Central, era uma coisa que eu queria muito fazer e normalmente, quando eu quero muito fazer uma coisa, eu fico muito nervosa e acabo passando isso, mas assim, eu não fiquei nervosa, acho que tinha muita gente torcendo por mim, sabe? Essa questão de energia, eu meio que acredito nessas coisas, então, eu tava muito feliz, eu tava muito feliz. Eu falei: “O meu nervosismo não vai ultrapassar a minha felicidade”, eu vou fazer e eu vou ser a melhor no que eu faço”, e aí, eu fui e foi incrível, assim, foram 15, era para fazer 12, eu fiz 15, passei, mas foi o show mais incrível que eu fiz na vida, foi muito incrível esse show.
P/1 – Por quê? O quê que foi de especial?
R – Então, eu tava muito feliz porque eu ia fazer e como eu falei, esse ano, tá sendo muito bom pra mim de shows, eu tô fazendo muitos shows, eu atualmente, realizei um sonho que eu sempre tive que era de morar sozinha, eu sozinha. Porque eu sempre ou fui casada, a vida inteira eu fui casada, então ou eu morava com o marido, ou com os amigos, eu nunca morei sozinha. Então, eu queria muito morar sozinha e aí, agora, eu consegui morar sozinha. Com a Publicidade, eu conseguiria, mas agora, eu não tenho mais a Publicidade, então é só show. E vida de artista, Jesus do céu, né, é difícil. E eu já tenho 38 anos, então, é uma coisa por cima da outra, ali, uma camada por cima da outra que sempre vai dificultando a coisa. E agora, eu tô morando só e isso tá muito assim, eu tô muito feliz com isso e a viagem pra Foz foi muito boa também, assim, apesar de eu estar doente, foram shows incríveis lá também, eu não estava esperando de serem shows bons. Eu acho que é isso mesmo, eu tô com a energia boa, sabe, agora, e eu tô passando isso no palco. E eu acho que é isso, a minha felicidade tá indo para o palco também, tá bem bom, os últimos shows que eu fiz foram bem legais, mas esse do Comedy Central… parece que a plateia tava dentro de mim, assim, sabe? Tanto que eles aplaudiam, que riam, assim, me deu muito prazer fazer esse show, muito prazer! Eu sai de lá, assim, transbordando. Foi muito incrível. Até agora, ainda tô sentindo ele, sabe assim? Eu vou para o palco hoje, agora, às sete horas, mas eu vou com esse show dentro de mim, ainda. E já fiz alguns depois desse, e eu tô gostando muito.
P/1 – E como foi pra você entrar na Risadaria?
R – Risadaria, eu entrei o ano passado e também, foi um marco, porque foi quando começou tudo. A Tati, eu agradeço tanto a Tati, que ela me colocou dentro disso, a Tati, o Paulo Bonfá e a minha carreira começou a… eu comecei a aparecer muito daí. E a Tati me ajudou muito, porque eu fui para todas as mídias, eu sai nos jornais, as pessoas de agência ligando: “Você tá no jornal”, não sei o que, todo povo de mídia que eu conhecia, que eu fui muito presente quando eu… eu não só criava campanha, eu queria saber onde é que estavam as minhas peças, então eu andava em todos os setores de agencia. Então assim, acho que mais de 50 pessoas me ligaram falando que eu tava no jornal e eu tava dormindo e eu não tinha visto. E aí, quando eu fui olhar, eu tava em todas as mídias, liguei pra Tati desesperada, ela falou: “Tá vendo? cola comigo que é sucesso” (risos). E ela foi uma pessoa muito importante, assim, muito decisiva na minha vida, porque também foi logo quando eu comecei a planejar esse morar só. Passei um ano planejando isso. E foi muito legal. E eu fiz o ano passado esses shows e a partir desse show do Risadaria, dessa visibilidade, eu comecei a ser muito chamada para outros shows, porque tem muito pouca mulher no… sabe, é assim, 100 pra uma, é tipo isso, 100 homens para uma mulher. Já é bom pra gente, não teve dificuldade para entrar no meio, mas aí dizem assim: “Quem é ela?”, porque quando alguém vai assistir stand up de um homem que tem quatro homens no elenco, ele fala assim: “Nossa, o fulaninho, não gostei do stand up dele, mas gostei dos outros”. Beleza! Quando tem uma mulher, a pessoa fala assim: “Não, mulher no show de stand up não presta”. Então, a gente já vem com essa carga, sabe? Só que aí, as pessoas viam: “Tá no Risadaria, então se tá no Risadaria, é porque deve ter algum mérito”. E aí, as pessoas começaram a me ver, eu comecei a fazer muito festival depois disso e foi bom. fazer show em Curitiba, coisa que u não… eu já tinha feito alguns shows fora, mas agora eu tô fazendo muito, então eu me mudei, eu não passei uma semana direto na minha casa ainda, de tanto que eu viajo (risos).
P/1 – E você acha que tem a ver a tua infância… você fala que você queria ser menino, né?
R – Sim.
P/1 – E você acha que tem a ver misso, que é um meio masculino como você falou agora.
R – Não, não acho não. É um meio com muitos homens, mas não e um meio machista, sabe? É legal estar com os meninos no palco. Quando eu tô no palco com os meninos, como só tem homem no stand up, a maioria, então, você conversa junto com eles: “Porque eu comi fulana” “Foi?” “Nossa e aí? O quê que você fez?”, e não sei o que, sabe, não tem esse negócio de menininha de ficar… a maioria das meninas que fazem stand up é meio machão mesmo, todas elas, não tem essa de frescurinha, de ser: “Aí, estão falando isso, nossa!”, nem dá pra ficar assim também, porque senão, morre. Não dá, não, para ter porque é pesado, a linguagem de camarim (risos), mas é legal, eu gosto até disso, então os meninos meio que protegem a gente, sabe? Então, se chega algum engraçadinho, tem três homem lá pra defender você, sabe? É engraçado, eu me sinto até mais nova com eles.
P/1 – E quando você trabalhava na agência, você lembra de algum momento, assim, que você fez todo mundo rir?
R – Ah! Tinha algumas coisas, aqui em São Paulo eu trabalhei em imobiliária, na Eugenia que era uma agencia grande, incrível. E quando a gente ia fazer as peças, eu falava muito com o pessoal do sul e aí, tem o nome daqueles… as imagens dos lugares, dos prédios, que é a churrasqueira, o living, não sei o que e vem as fotos naquele material imobiliário e aí, chegou pra fazer um material para Porto Alegre e eu liguei para o atendimento de lá, eu falei: “Olha, não chegou”, ela me ligou e falou assim: “Olhe Arianna, eu quero que tu faças, né, coloque a imagem da churrasqueira erminiótica”, eu falei: “Tá”, eu tinha acabado de chegar na agência, eu falei: “Eu preciso encontrar essa imagem”, aí eu rodei atrás dessa imagem e não encontrei, churrasqueira erminiótica? Eu falei: “Gente o quê que é isso? Isso é coisa de São Paulo e fiquei procurando e perguntei para o meu amigo que também é de Maceió: “Nossa, Tiago, não tô encontrando essa imagem aqui”, ele falou: “Vamos procurar”, e a gente procurava e nada, eu liguei para ela e falei: “Olha, não dá pra você me mandar essa imagem? Porque eu não tô encontrando aqui”, ela falou: “Nossa, mas eu mandei hoje de manha” “Tá, eu vou olhar então”, olhei, olhei e olhei e não encontrava essa imagem, falei: “Jesus do céu, eu vou pedir para ela enviar e vou dizer que formatei o computador”, liguei pra ela: “Olha, eu tive que formatar o meu computador, você me manda de novo que eu perdi todas as imagens”, ela falou: “Ah, tá bom”. Aí me mandou, quando ela me mandou era churrasqueira e mini horta, uma mini horta eu tava entendendo erminiotica (risos), era coisa assim da fala, mas uma situação assim, engraçada? Não teve. Teve uma que tinha uma menina lá que era doida, era completamente preconceituosa, ela, ela era negra e ela tinha muito preconceito com nordestino e com negros. Ela era doida. E daí, tinha um cara da montagem que era bem negão assim, e ele ficou interessado nela, ela falava: “Aí, não quero, não quero esse negro”, aí alguém ouviu ela falando isso e os donos da agência são muito contra isso. Aí, colocou ela pra fora e daí, ela veio falar comigo: “Arianna, eles estão dizendo que eu sou preconceituosa. Eu falo com você, você é nordestina e lésbica”, eu falei: “Eu não sou lésbica” “Você é lésbica” ‘Eu não sou lésbica” “Mas eu não tenho preconceito com você, você pode me falar”, eu falei: “Mas eu tô falando, eu não sou lésbica” “Mas você é nordestina”, eu falei: “Tá. Nordestina eu sou” “Então, lésbica…” “Não sou lésbica”, mas foi uma discussão (risos), disso, dela falando que eu era lésbica, e eu falei: “Não, não sou” “Você tem alguma coisa contra? Tá vendo? Ela tem alguma coisa contra”, falei: “Não, não tenho. Eu só não sou” (risos). E foi essa discussão dessa doida aí. Mas nunca teve nada demais.
P/1 – E em que momento da tua vida que você lembra e te faz sorrir?
R – Aí… me faz sorrir?
P/1 – Que te deixou muito feliz ou alguma conquista ou algum… ou amorosa, ou no, ou profissional?
R – Ah, eu sou muito feliz… deixa eu ver, viu! É que eu tô muito feliz, sabe? Então, é meio que tudo…
P/1 – Agora é o momento, né?
R – Agora é o mento, então tudo tá me fazendo muito feliz. Eu tenho uma cachorra que quando eu penso nela também, eu fico muito feliz. O pessoal vai ficando velho, vai lendo essas coisas de autoajuda, “O Segredo”, “A Magia”, essas coisas, não sei o que e aí, eu assisti esse negócio de “O Segredo”, aí, ele fala assim que quando você tá triste, você pensa em alguma coisa que lhe deixa muito feliz pra você ficar feliz também, para você transformar essa energia ruim em energia boa e daí, toda vez que eu tô muito triste, eu penso nela e daí, eu fico muito feliz, sabe? E é isso, eu procuro sempre andar com isso, eu não… desde o lugar para parar o carro, sempre vai ter vaga, sabe? Sempre vai ter. Eu sou a pessoa menos negativa do mundo, menos negativa, não, eu não sou negativa. Não sou. Eu brigo com o meu namorado porque ele fala: “Vai parar ali, mas ali não sei o que…”, eu falo: “Vamos”, e a gente briga muito por conta disso, pelo negativismo dele e pelo meu positivismo.
P/1 – Nossa, tô me identificando.
R – (risos) É as loba, as loba se identificam (risos).
P/1 – Mulheres que correm com os lobos, né?
R – Não é? (risos).
P/3 – Você pode dar uma palhinha? Os humoristas que vieram aqui fizeram um pouquinho dos personagens… você pode…?
R – Do meu stand up?
P/3 – É, do seu stand up.
R – Tá. Deixa eu ver…
P/3 – Alguma coisa que se relaciona com as coisas que você contou…
R – Certo. Deixa eu ver uma coisa que pode pro horário.
P/1 – (risos)
R – Eu falo… deixa eu ver, viu! Ah, o meu irmão. O meu irmão, ele tem alma de pobre. É verdade o que eu vou contar, conto isso no show, mas o meu irmão tem alma de pobre, ele é gente… sabe aquela gente que tem… que a quantidade de filhos é inversamente proporcional ao salário que ganha? É desse tipo o meu irmão. Eu perguntei pra ele bem assim: “Tiago, se tu ganhasse na Mega-Sena, qual a primeira coisa que tu ia fazer?”, aí ele falou: “Ah, Arianna, acho que a primeira coisa é mandar um zap pros parça pra fazer um churras aqui em casa”, eu falei: “Zap?”, porque quando a gente fala “zap” a gente nunca vai conseguir sair da classe C, porque todo pobre fala “zap”, né? E todo velho fala “zap” também e quando o velho é pobre, ele fala “zapzap”. A gente viajou e o pobre é pobre em qualquer lugar onde ele chega, né, ele leva a alma com ele. Aí, a gente foi na Disney, aí chegamos na Disney, ele ficou encantado, olhando, o Tiago, meu irmão, ficou encantado olhando, falou: “Olha Arianna, o Mickey, o Pateta, mas cadê a Turma da Mônica?” ”Deixa de ser burro, a Turma da Mônica é brasileiro” “E aquele homem ali não é o Cebolinha?” “Não, aquele ali é o Peter Pan, respeita o americano”, não sabe das coisas. Ao, fomos pra Nova York depois, chegamos na Times Square, aquela rua acesa, assim, ele olhou e falou: “Arianna, e essas televisão aqui tudo ligada de dia, hein! A Eletropaulo deve lucrar aqui, né?”, eu digo: “Eletropaulo o que, Tiago, deixa de ser burro, nós estamos nos Estados Unidos”, ele falou: “Ah é mesmo, aqui é em inglês, aqui é Eletropaul, né?”
P/3 – Você foi mesmo com ele para os Estados Unidos?
R – Eu fui, e quando ele chegou na Times Square, ele falou isso, ele olhou e falou: Eita, essas televisão aqui, hein, que deve gastar uma energia da porra aqui, não é não, Arianna?”, essa foi a história (risos), o resto… como é que a pessoa chega em Nova York, vai se preocupar com a energia que tá gastando a Times Square? Ele tem alma de pobre, só uma pessoa que tem alma de pobre.
P/3 – Precisava de mais desses no mundo.
P/2 – Um ecológico, né?
R – (risos) É, mas ele não precisava falar isso lá, entendeu? (risos) Pra eu ouvir, não, que eu quero matar ele. Mas ele é desse tipo!
P/1 – Querem perguntar mais alguma coisa?
P/3 – A última então, que eu fiquei curiosa. Qual é a sensação de fazer as pessoas rirem? Porque essa sua profissão e essa sua atividade, o que você sente, a adrenalina depois do show, você podia contar um pouquinho?
R – Qual que é a sua profissão?
P/3 – Eu sou documentarista.
R – Documentarista. É que eu também não sei o quê que faz o documentarista, né, documentários. Mas assim, a sensação é assim, de um trabalho dar certo, sabe? Eu como publicitaria, a minha felicidade é ter uma campanha aprovada, sabe? Alguém falar: “meu Deus do céu, eu vou vender com isso, eu vou morrer de tanto vender”, isso dá um prazer muito grande. Agora o prazer que você tem de ver outra pessoa feliz, nossa, isso é fantástico! Quando você termina o show que as pessoas olham e falam: ‘Olha, eu estava doente e cheguei aqui, e parece que tudo sumiu. Isso é indescritível. Fazer as pessoas sorrirem é muito incrível! Você ver as pessoas rindo e rindo pra trás, ixi, é muito bom, é um sensação de só estando no palco pra saber, mesmo. É muito bom.
P/1 – Legal, muito obrigada.
P/3 – Obrigada.
R – Só isso, mesmo?
P/1 – Só, tudo isso, né?
FINAL DA ENTREVISTA
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