Projeto Memória Vale do Rio Doce
Depoimento de César Giocomin
Entrevistado por Cláudia Resende e Fabrício Teixeira
Rio de Janeiro, 10/06/2000
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: VRD_HV043
Transcrito por Rubens Martins e Nascimento
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1- Senhor César, por favor, o senhor diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R- Meu nome é César Giacomin, nasci no município do Iraçu, Distrito de Demétrio Ribeiro, no dia quatorze de 1916.
P/1- Quatorze de que mês?
R- De setembro.
P/1- E seus pais, o nome deles?
R- Papai chamava Giacomini Joseph e mamãe Tintória Antônia.
P/1- Eles são de lá também? De onde eles são?
R- São tudo do Espírito Santo e vieram tudo do município de Ibiraçu, pai e mãe também daí, meu bisavô que era estrangeiro, veio da Itália.
P/1- O senhor sabe um pouco da história dele?
R- Não, isso aí eu não sei nada disso, não lembro disso aí não, por que...
P/1- Nem do seus avós?
R- Nem dos avós.
P/1- E qual era a atividade deles?
R- Humm?
P/1- Pode dizer o que o senhor estava dizendo.
R- A cidade que eu moro não é um distritozinho, cidade mesmo que e eu morava é João Neiva, mas onde eu morava não é bem uma cidade não, morava fora um pouquinho, uns trinta minutos fora de João do Meio mais ou menos. A gente trabalhava na roça como lavrador, papai e mamãe também eram lavradores, e quando eu perdi meu pai é que a coisa mais apertou um pouquinho para gente, mas sempre deu para sair (risos). A casa da gente era uma mantinha.
P/1- Vocês moravam num Sítio?
R- Morava numa Colônia, num Sítio da mamãe mesmo, ela e o papai tinham comprado.
P/1- Na Colônia de italianos?
R- Na Roça.
P/1- O que vocês plantavam?
R- Plantava milho, plantava o feijão, cuidava do café e tudo que é da lavoura e de casa cuidava, plantava cana.
P/1- E a casa como era?
R- A casa era casa de madeira, de entulho, sabe o que é entulho?
P/1- Não.
R- Então não...
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Depoimento de César Giocomin
Entrevistado por Cláudia Resende e Fabrício Teixeira
Rio de Janeiro, 10/06/2000
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: VRD_HV043
Transcrito por Rubens Martins e Nascimento
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1- Senhor César, por favor, o senhor diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R- Meu nome é César Giacomin, nasci no município do Iraçu, Distrito de Demétrio Ribeiro, no dia quatorze de 1916.
P/1- Quatorze de que mês?
R- De setembro.
P/1- E seus pais, o nome deles?
R- Papai chamava Giacomini Joseph e mamãe Tintória Antônia.
P/1- Eles são de lá também? De onde eles são?
R- São tudo do Espírito Santo e vieram tudo do município de Ibiraçu, pai e mãe também daí, meu bisavô que era estrangeiro, veio da Itália.
P/1- O senhor sabe um pouco da história dele?
R- Não, isso aí eu não sei nada disso, não lembro disso aí não, por que...
P/1- Nem do seus avós?
R- Nem dos avós.
P/1- E qual era a atividade deles?
R- Humm?
P/1- Pode dizer o que o senhor estava dizendo.
R- A cidade que eu moro não é um distritozinho, cidade mesmo que e eu morava é João Neiva, mas onde eu morava não é bem uma cidade não, morava fora um pouquinho, uns trinta minutos fora de João do Meio mais ou menos. A gente trabalhava na roça como lavrador, papai e mamãe também eram lavradores, e quando eu perdi meu pai é que a coisa mais apertou um pouquinho para gente, mas sempre deu para sair (risos). A casa da gente era uma mantinha.
P/1- Vocês moravam num Sítio?
R- Morava numa Colônia, num Sítio da mamãe mesmo, ela e o papai tinham comprado.
P/1- Na Colônia de italianos?
R- Na Roça.
P/1- O que vocês plantavam?
R- Plantava milho, plantava o feijão, cuidava do café e tudo que é da lavoura e de casa cuidava, plantava cana.
P/1- E a casa como era?
R- A casa era casa de madeira, de entulho, sabe o que é entulho?
P/1- Não.
R- Então não adianta explicar, é a madeira, é a casa de entulho, passa uma ripa, e aí bate o barro e faz as paredes.
P/1- Ah, tá!
R- Entendeu? Depois reboca, já podia ficar como estava, e a parede estava pronta, e as portas de madeira, assoalho também pintava, tudo coisa simples.
P/2- O senhor nasceu nessa casa?
R- Não, eu morei nessa casa até fazer 21 anos, 25 anos.
P/2- Até os 25?
R- Até os 25. Depois eu saí, vim para a estrada, para a Vale do Rio Doce, e a mamãe vendeu duas partezinhas lá, um pedacinho de cada um depois quando ela... Minha mãe é falecida, tem acho que seis anos, e papai morreu em 1926, no dia 28 de julho.
P/1- São muitos filhos?
R- Deixou dez filhos, quer dizer nove, depois de quatro meses nasceu mais uma menina, eram dez filhos para tudo.
P/1- Em casa quem tinha mais autoridade era seu pai ou a sua mãe?
R- Mais ou menos, eu lembro bem, eu tinha oito anos, era mais, igual né? Tanto da parte dele, do papai quanto da parte da mamãe.
P/1- Além do trabalho na lavoura, como era o dia a dia de vocês? Tinha brincadeiras? Passeios?
R- Passeio dessa época era muito pouco.
P/1- E brincadeiras?
R- Brincadeiras sempre teve nas famílias, os meninos dos vizinhos faziam as brincadeiras, as rodinhas e tal, uma cançãozinha, cantava também né...
P/1- É, o senhor lembra de alguma?
R- Não, até esqueci tudo.
P/1- Já esqueceu.
R- Também, depois quando eu saí acabou, tem que sair para trabalhar e pronto, e a vida é assim, agora, eu estou muito satisfeito de estar contando um pouquinho da minha vida de pequeno, só o que eu senti muito que me faltou estudar, não tive Científico. A mamãe ganhou e botou a gente para trabalhar na lavoura, cria família que ela tinha arranjado, ela mesma falou: “Tem que tirar um que está na escola para criar o menino que nós arranjamos”, que era o finado Jacomo, meu irmão.
P/2- Como que é, eles estudavam né? O senhor falou...
R- Fez primário na roça, era um primário meio fraco mas estava estudando, né?
P/2- Estava estudando?
R- Estava, e as meninas também... Nenhuma das moças estudaram, só a Josfina que estudou um pouquinho, mais também, lá na roça você sabe que é fraco de educação e ensino.
P/1- E como era o convívio? Vocês se davam bem? Uma família tão grande.
R- Todo mundo se dava bem, sempre que possível respeitava o papai e a mamãe, chegou aqui deu uma olhada, já sabe logo o lugar certo (risos).
P/2- Não precisava nem brigar, né?
R- Não, que nada.
P/1- E religião? Vocês tiveram uma educação religiosa?
R- Eu fui batizado como católico e continuo na religião como, todo mundo lá em casa continua, como papai e mamãe deixou, como católico, não sei se estamos certo ou se estamos errado, só tem uma religião, só tenho um pai, só tenho um Deus, ele é muito bom, e a gente não sabe nem agradecer.
P/1- Vocês frequentavam missa aos domingos?
R- Ia à missa, a mamãe mais... Então na hora de ver uma missa tinha que ter todo o respeito, tanto mamãe, como finado papai, ia todo mundo.
P/1- E domingo tinha folga?
R- Domingo tinha folga, mas aquela folga que se tivesse no tempo apanhava café, na hora de juntar o café ou espalhar o café os domingo desaparecia, tinha que trabalhar (risos).
P/1- É?
R- É.
P/1- Mas na folga o que se fazia?
R- Ficava em casa mesmo, às vezes andava aí nas casas dos vizinhos, passeando aqui e ali, mas um tempo curto, muito apertado.
P/1- Vocês tinham rádio ou televisão?
R- Não tinha nem rádio nem televisão, não tinha nada disso naquela época, depois é que começou a aparecer aquele rádio aqui, começaram a comprar, a gente não tinha luz, hoje que tem, qualquer lugar que você chega tem rádio, tem televisão, tem tudo, tem comunicação, ajuda demais...
P/1- Tinha luz?
R- Não tinha não.
P/2- Ah, não tinha nem luz?
R- Na roça não tinha não, tinha luz só no comerciozinho, assim mesmo depois de muito tempo que botaram a luz lá, em João do Meio.
P/1- E a região é fria?
R- É um pouco fria porque o Espírito Santo dá muito vento Sul.
P/1 – Entendo.
R- Dá muito vento, então é frio, não frio de dizer que dá para ir de se esconder demais não, mas persegue um pouquinho.
P/1- E os banhos?
R- Os banhos era todo dia, não tinha perdão (risos).
P/1- Mas banho frio ou esquentado numa tina?
R- Frio, no rio.
P/1- No rio?
R- No rio, tinha um córrego, tinha umas poça grande então o banho era lá, de noite, às vezes, chegava tarde do serviço, e era lá que era o banho.
P/2- De noite tomava banho no riacho?
R- Tomava banho de noite no rio.
P/2- Nossa mãe!
R- Depende a hora que você chegasse, e como se diz: “Limpeza é saúde”, né?
P/2- É lógico.
R- Assim fala aí, hoje todo mundo está falando nisso aí.
P/1- Senhor César, como era a comida? Sua mãe que cozinhava?
R- Mamãe cozinhava, as meninas também já depois cozinhavam, comida simples, mas tinha de tudo.
P/1- O que vocês comiam assim? De um prato que o senhor se lembra, que o senhor gostasse muito.
R- (risos) O prato mais que dava lá em casa, sabe como que é? E sempre se comeu, nunca faltou a carne para completar o prato, mais era negócio de galinha e carne de porco, algumas vez carne de boi.
P/2- Hum hum...
R- Mas nunca faltou comida na mesa.
P/2- Vocês criavam galinhas, porcos?
R- Criava. Galinha, porco, criava umas vaquinha também. O leite nunca faltou lá em casa, quando eu estava em casa, nunca!
P/1- Comida italiana?
R- De vez em quando tinha italiana, mas era brasileira que era feita no Brasil (risos).
P/1- Mas tinha comida da Itália?
R- Tinha polenta.
P/1- Bom, o senhor disse que ficou na roça até....?
R- Eu fiquei na roça até...
P/1- Quantos anos?
R- Aí eu fui pro exército com 21 anos, e do exército vim para casa e trabalhei na roça em casa ainda com eles, depois eu vi que minha segunda família estava chegando, que a minha mãe casou a segunda vez, estou falando agora. E tinha dez, depois vieram mais quatro, e por parte de mãe eu tenho quatorze irmãos.
P/1- Ah! Então sua mãe casou novamente?
R- Casou novamente, e quem ia brigar com a mamãe que ela não podia casar? O que eu podia fazer? Eu acho que aí tem que ficar calado, então foi isso que aconteceu, mas é que como se diz, eu vi que estava chegando mais uma família, eu disse - mamãe até brigou comigo sabe? (risos). “Eu vou andar pelo mundo um pouco”, “Não, você não vai não, tem terra para você trabalhar”, bem assim me falou, sabe? Um dia, domingo de manhã cedo, eu tinha avisado eles que eu ia andar o mundo, eu levantei e apanhei a certidão de idade, peguei o certificado de registro, enfiei numa malinha que tinha lá, que eu levei quando dei baixa no exército e saí pelo mundo, dia 1º de abril de 1940.
P/1- Pelo mundo. Por onde o senhor começou?
R- Pela estrada (risos).
P/1- Em direção a que?
R- Aí eu cheguei em Vitória, vocês conhece Vitória?
P/1- Conheço.
P/2- Conheço não.
P/1- Um pouco.
R- Bom, eu vou te fazer uma pergunta, não sei se vocês vão entender, da estação do meio da Vale do Rio Doce?
P/1- Não.
R- Da Leopoldina?
P/1- Não conheci a estação.
R- Era ali pertinho, não importa, você não viu. Então eu subi lá para falar com o chefe, fui falar para eu trabalhar, que eu tinha trabalhado no movimento como guarda da freio, então quando eu cheguei lá tem uma placa dizendo assim: “Não tem vaga”. Está martelando? (risos). Aí o homem (Norbertino Palrêncio?), já é falecido, mandou me perguntar se eu trabalhava na oficina de João Neiva, então eu falei para um contínuo: “Fale para ele que não, meu assunto com ele é particular”, então esse senhor, esse chefe, mandou me falar para que eu voltasse às quatro horas da tarde que ele me atendia, e quando eu cheguei lá para conversar com ele, tinha outro contínuo, não era mais aquele que estava de manhã e mostrou logo a chapa, a placa, disse: “Olha, não tem vaga não”, e eu vi a placa de manhã, eu falei com ele assim: “Olha, eu vim aqui de manhã e o (Nobertino Parêncio?), que é o chefe, mandou falar que eu voltasse às quatro horas da tarde, então eu estou aqui para ver se ele vai me atender, aí ele foi lá falou mandou entrar, ele era um simples contador, tomava conta do movimento da Vale do Rio Doce de Vitória a Nova Era, aquele tempo de entroncamento de estrada, não sei se vocês sabem o que é isso.
P/1- Um entroncamento de estrada?
R- É! Que faz baldeação de mercadoria que vem em um e passa para outro. Ai ele me disse: “Olha, não tem vaga não, moço”. Quando eu ia saindo, que eu levantei e agradeci a ele, ele falou: “Espera, espera aí, um homem pediu a demissão aqui”, ele foi lá, olhou, era um guarda da chave que tinha saído. Eu conhecia ele até de vista porque eu servi o exército com ele, chamava Pedro Oliveira. Ai: “Você aceita a vaga”? ele falou, e eu: “aceito rapaz, eu preciso trabalhar”. Falei bem assim, não sei se está saindo certo o troço (risos).
P/1- Está.
P/2- Está ótimo (risos).
P/1- É isso.
R- Ai, me deu a autorização para fazer exame de saúde, eu passei em todos. 25 anos estava em folha, aí ele disse: “Você vai entrar como guarda chave substituto a linha toda”, era 512 quilômetros de estrada, de Vitória a Nova Era.
P/1- Ainda era a estrada de Ferro Vitória-Minas?
R- Era Vitória-Minas, ainda, e com 25 dias eu apanhei a malária em Drummond. Lá em Drummond, o guarda fazia todo tipo de serviço, dava lenha às máquinas, cambava lenha para medir no metrô para dar às máquinas, e trabalhava em um guindaste para bandear madeira em tora, não sei se vocês sabem o que é?
P/1- Pedaços de madeira.
R- Não, tora de madeira de toneladas,
P/2- Ah!
R- Tinha plataforma ali na Vale que trazia uma tora só de madeira, uma só.
P/1- E essa madeira...
R- Era Bandeada da Vale para as plataformas assentadas no Brasil.
P/1- E de lá seguiria para onde?
R- De lá ia para o destino dela, no trecho da Central do Brasil, ou para Belo Horizonte ou por ai a fora, tudo isso.
P/1- O que mais que transportava o trem?
R- Todos os tipos de cereais, madeira, carvão para Monlevade e Belga Mineira, saia trem de carvão direto para Belga Mineira e Monlevade.
P/1- Senhor César, o senhor disse que já saiu de casa indo para Vitória, porque o senhor queria ser guarda-freio...
R- Olha.
P/1- Porque o senhor já foi com essa ideia?
R- Porque o guarda-freio… Eu era um rapaz solteiro, e um rapaz solteiro como eu ganhava mais, sofria mais, entendeu? Mas tinha mais um ordenadozinho.
P/1- Mas o senhor já conhecia a estrada, já sabia como era?
R- A gente já conhecia a estrada porque a gente morava pertinho, de lá da casa na estrada podia ter acho uns quinhentos metros, você podia ver os trens passando.
P/1- Então o senhor sabia mais ou menos como funcionava?
R- É.
P/1- E no exército o senhor conheceu um pouco mais da estrada? Porque o senhor disse que serviu o exército como funcionário.
R- É.
P/1- E conversava com eles sobre isso também?
R- Não, no exército eu fui quando saí da roça.
P/1- Sim.
R- Quando de fato eu saia do exército, que eu ainda trabalhei em casa dois anos na roça.
P/1- Hum hum...
R- Aí eu resolvi andar o mundo.
P/1- Entendo.
R- Repetindo né?
P/2- Ham ham...
P/1- O senhor disse que o seu colega, que serviu o exército com o senhor era funcionário da Vitória-Minas.
R- Tinha, eu sei quem era.
P/1- Isso, então o senhor conversava com ele sobre a estrada, sobre o trabalho?
R- A gente conversava porque a gente via, porque… Naquela época, se tivesse um empregozinho para mim era melhor, né? Porque eu ficava em casa, a família grande e eu achei que deveria sair. Não que ele me disse: “Você tem que sair”, não, mamãe até foi contra, o padrasto também foi contra, inclusive falei com meu cunhado que perdeu um braço bom na roça (risos).
P/2 - Olha.
R- Mas eu resolvi e sai, sabe?
P/1- E acabei, quando pedi a transferência, porque me deram a transferência para o movimento, fui trabalhar como guarda-freio, então a gente daquela época ganhava... O ordenado é cem e quarenta centavos, cem merréis e quarenta centavos, eu não sei como é hoje. Só que vinha fazendo muitas horas extras lá porque os trem caiam muito, trem não andava no horário não, a linha era muito ruim, ruim mesmo, tinha lugar que só tinha o... Como que se diz, só tinha mesmo os trilho e a madeira, embaixo tudo perdido, tudo estragado, o trilho tem que ficar firme em cima da madeira, para a bitola certa passar. A bitola abria, o carro caia, e era um sofrimento para gente.
P/1- Tinha que pôr de novo nos trilhos?
R- Tudo nos trilhos.
P/1- No braço?
R- Não, a máquina puxava, botava umas cuia em baixo de acordo como tava as rodas no chão, em direção ao trilho e mandava puxar, e perdia duas ou três vezes, mas na vez que acertava aí estava na linha (risos).
P/1- Quantos homens para fazer isso?
R- Olha, quando era um trem C.L., eram quatro homens e quando era um trem cargueiro três homens, no movimento. Agora, tinha o maquinista e o foguista, mais dois que eu vencia, botava os caras na linha lá, e eles é que puxavam a máquina para botar na linha, para poder prosseguir a viagem.
P/2- Esses trens tinham quantos vagões, o senhor sabe?
R- Oh, esses trem, naquela época... Não, no trecho... Vocês conhece o Espírito Santo?
P/1- Um pouco.
R- De Colatina à Vitória tinha muita subida, muitas rampas sabe, lá é rampa né?
P/2- Hum hum.
R- Subida e descida, na subida um trem andando, você andando até acompanhava o trem. Eu vou chegar num ponto depois...
P/2- Devagarzinho.
R- Eu vou chegar, me lembra que eu sou muito esquecido mesmo.
P/1- Senhor César, logo que o senhor entra para Vitória-Minas, qual era o seu trabalho? Fala um pouco mais, o que o senhor fazia lá?
R- Logo que eu entrei na estrada?
P/1- É.
R- Só serviço pesado, capinar a linha de uma chave até a outra, buscar água para a senhora do agente, para o agente, né?
P/1- Ahm.
R- Cozinhar, dar banho nos menino, tudo isso, carregava para porco tomar banho.
P/1 - O senhor cuidava da casa do agente?
R- E o serviço da estrada, parece que eu estou contando mentira.
P/1- Não!
P/2- Não!
R- Capaz de vocês falar que é até mentira.
P/2- Que é isso (risos).
R- Eu vou falar, você viajou nos trens da Vale do Rio Doce? Algum de vocês viajou?
P/1- No trem? Ainda não.
P/2- Não.
R- Então, se caso um dia vocês viajarem, é que a estação acabou também, depois do C.T.C. e essa falta de cereais que tem, tiraram muitas estações da Vale, essa estação que eu estou falando aí, de Itueta, entre Aimorés e Resplendor dava muito cereais, muito café e madeira em tora, muita, e no dia da minha folga era domingo então todo dia da minha folga eu tinha que carregar doze latas de água do Rio Doce na estação, enchia uma cartola de dez latas e mais duas latas cheias para casa do agente que servia para cozinhar e [para] tomar banho os meninos e eu, porque não tinha água na estação. Naquela época tinha pouca estação que tinha água, todos os guarda-chaves tinham que carregar água.
P/1- E onde o senhor morava?
R- Lá em Itueta, morava na casa do guarda mesmo, o guardinha veio para outra estação e eu morava na casa do guarda. E em Drummond dormia na casa do dormitório dos guarda-freios, quando vim para Drummond, que ______ ia para lá com 25 dias, mas a vida foi uma vida penosa, mas estou bem que eu estou contando, é porque eu digo, meu jovem: “Trabalho não mata ninguém”. Desculpa, às vezes estou ofendendo até vocês.
P/1- Não (risos).
P/2- Não, imagina.
R- Trabalho não mata ninguém, passou muito saco de café nessa careca aqui, viu? 61 quilos.
P/2- O senhor carregava?
R- É, carregava um bocado e descarregava um bocado sozinho, teve um dia que em Itueta nós carregamos em três, três carros de café para queimar em Aimorés, que o governo mandava queimar.
P/2- Ah sim!
R- O pai de vocês deve saber disso, eu acho, vigiado pela polícia pra ninguém apanhar café.
P/2- Para eliminar estoque de café?
P/1- Em que época foi isso, senhor César?
R- Foi em quarenta, em Itueta. Eu saí de Itueta no fim de julho, trabalhei sete meses como guarda da linha toda, mas em Itueta trabalhei quatro meses.
P/1- Em quarenta, 1940?
R- É.
P/1- Isso logo que o senhor entrou, né?
R- Foi, eu também...
P/1- E depois o senhor foi promovido?
R- Não, eu não fui promovido, eu pedi a transferência de serviço.
P/1- É só transferência de local?
R- É, da repartição.
P/1- Entendo.
R- Passei do tráfego para o movimento.
P/1- E aí no movimento como era o trabalho?
R- Era o mesmo serviço, é que muitas vezes, comigo nunca aconteceu mas acontecia com muitos colegas meu, saia de Vitória em um trem com cinco homens, domingo de manhã às quatro horas da manhã sem limite de carga, para descarga, carregar e pernoitava em Conselheiro Pena, mas quando a gente encostava o trem já era mais de hora da madrugada, e às cinco horas tinha que sair, porque naquele tempo não tinha descanso de oito horas, quando dava cinco horas tinha que estar pronto para sair, aí vinha no trem de carga à Fabriciano, dormia ali, chegava às dez, onze horas da noite mas fazia uma boa viagem, e vinha de Fabriciano à Nova Era e voltava à Fabriciano no mesmo dia.
P/2- Em Fabriciano o senhor dormia em pousada? Ou era a própria...
R- Dormia na estação dentro dos carros coletores, não tinha dormitório. Mas sempre estava cheio de gente.
P/1- Nessa época que o senhor pegou a malária?
R- A malária eu apanhei antes de ser guarda-freio.
P/1- E como foi? O senhor ficou doente, quem cuidou?
R- É, eu fui pro médico, logo que adoece a Companhia mandava logo para o médico. Eu fui para o médico e ele me deu vinte dias de atestado, mas no tempo não tinha fibrina não, sabe? Tomava ____, injeção _____ azul nos músculos, e quando eu voltei, a segunda vez para tomar outra vez, teve um agente de João do Meio, senhor Aurélio, já morreu, falecido o coitado: “Você ainda tem coragem de ir”, “eu vou, sou mandado”. Trabalhei mais de 73 dias em Drummond e voltei para Itueta, a empresa fez quase quatro meses, depois pedi a transferência, depois fui para Aimorés, trabalhei em Aimorés como guarda-freio três meses e pouco, cheguei ali me levaram para Vitória, o chefe da escala me viu lá: “Você quer vir para aqui?”, e eu falei para os caras em Vitória: “Eu vou para onde me mandar”, quando eu cheguei em Aimorés já tinha um trem me transferindo para Pedro Nolasco, em Vitória, a estação lá era Pedro Nolasco. Trabalhei lá em baixo mais um pouco, depois vim para Valadares por quinze dias e estou até hoje. Quinze dias. Era para dar (férias?) no colégio.
P/1- (risos).
R- Mas cheguei ali, o chefe lá disse: “Você vai continuar aqui”, e eu fiquei em Valadares até agora, tô lá.
P/1- Senhor César, tinha muitos casos de malária?
R- Tinha.
P/1- Em toda a estrada, como era?
R- Em Valadares mesmo, como manobreiro, aliás manobreiro… Eu fui ser promovido a manobreiro. Essa carta de manobreiro está com a minha menina em Belo Horizonte, eu não sei como ela passou a mão na carta e levou, eu tinha as cartas todinhas. Eu tinha todas as cartas, todinhas. Tinha promoção, promoção por merecimento, por antiguidade, tinha tudo. Quando eu fui chefiar trem, mandaram eu chefiar trem. O que mais você me perguntou?
P/1- Se tinha muitos casos de malária?
R- Ah! Tinha sim. Aí pegamos um trem de Valadares para Drummond, tem um cargueiro e naquela época eu era manobreiro, tinha sido promovido a manobreiro, essa carta de manobreiro está até lá em casa, a patroa me tomou.
P/1 e P/2 - (risos).
R- A gente trabalhava tanto que juntava muita folga, O Doutor (Uchoa?) me deu sete dias de atestado, mas o escalador, o senhor João Honório de Cedra: “Eu não [vou] mandar esse atestado não, você tem quinze folgas para tirar”, eu tinha falado pro Doutor (Uchoa?) que eu tinha as folgas, se o Doutor (Uchoa?) mandar um bilhete para eu tirar as folgas eu vou levar o atestado. Aí o Doutor (Uchoa?) botou no rodapé do atestado: “Se tiver as folgas, dá as folgas ao César”, ai eu tirei as folgas e o atestado jogou fora, ai me apontou dez folgas, deixei cinco ainda pra tirar quando eu quisesse.
P/1- E pra onde o senhor foi?
R- Eu fui pra casa da mamãe.
P/1- Ah!
R- Vocês pensavam que eu ia pra onde?
P/1 e P/2 - (risos).
R- Olha gente, a mamãe é uma peça firme, não tem filho ruim pra mãe, hein? Parece que não tem, nunca ouvi falar. Ele pode ser ruim, mas pra mamãe não é não. A sua mãe também?
P/2- Claro.
P/1- É isso mesmo.
P/2- E a sua mãe ficou contente de ver o senhor empregado na Companhia?
R- Ficou contente merreca. Da primeira vez ela reclamou, da segunda não reclamou não.
P/2- Ah não?
R- Não.
P/2- Foi se acostumando.
R- Eu digo isso ai mesmo.
P/2- O senhor estava decidido, determinado à sair?
R- É, eu falei que eu ia andar o mundo, né?
P/1- (risos).
R- Eles não evitaram não, eu tenho até um tio, não sei se ia me lembrar depois, mas a senhora primeiro faz as suas perguntas.
P/1- Não, pode contar do seu tio.
R- Eu tinha um tio, que houve um acidente de trem, e eu estava em Desembargador Drummond, e já era manobreiro, e na minha frente saiu um trem de minério com carros de minério e tinha um trem de lenha subindo pra Drummond, de uma estação pra outra, foi de Antônio Dias Para Engenheiro Lima esse caso. Então houve uma batida lá no trem e morreram três, do trem de lenha, foram três colegas do trem de lenha, porque os carros desengataram, desceu e tombou. De acordo com a velocidade, voou para fora da linha então matou três, e eu fui... Cortaram a máquina de Engenheiro Lima, e o trem que eu ia atrás do outro que estava na hora que bateu, pra ir lá tirar os carros que tinham batido do F.N. que ia descendo, tem lá o prefixo F.N, eu não sei como que foi, contaram em João Neiva que meu tio tinha falecido, morto, morrido naquele acidente de trem.
P/2- Olha só.
R- Meu tio Luís Giacomin - Giacomin ele chamava - ele era da Itália, Luís era da Itália, titio. Eu cheguei, um dia… Que eu sempre tinha a preferência do escalador, graças a Deus, me chamava pra eu ir viajar, eu nunca neguei: “Não vou, não.” Eu ia. Quando eu queria ir pra casa da mamãe em Rio Negro e eles me chamavam pra reparo, se eu estivesse em Valadares ____ e a escala era minha ______ pra eu levar as máquina e tirar as folgas lá com mamãe. Daí eu cheguei, pois eu digo: “Eu vou na casa do meu tio hoje, Luís.” Era perto uns trinta minuto lá em Demétrio, um distritozinho que tem fora de João Neiva. Cheguei, eles falaram em italiano pra mim: “É, mandei dar uma missa pra você que tinha morrido mas você está vivo”, digo: “Mas valeu rapaz, titio, estou aqui”. Ele falou: “É mesmo”, ele falava em italiano.
P/1- O senhor sabe falar italiano?
R- Eu falo mais _______”, (risos). Eu tenho que ir lá fora para falar a língua. Mas disse: “Valeu meu tio, eu estou aqui perto do senhor”.
P/1- Senhor César, como era o convívio com os seus colegas de trabalho?
R- Ah minha filha, eu tenho muito nome no meio dos colegas, graças a Deus, aonde eu passo deixo o nome, deixo!
P/1- Era boa a turma?
R- Boa.
P/1- Todo mundo se relaciona bem?
R- Todo esses... Jóia, o que há de melhor.
P/1- Vocês tomavam umas e outras assim?
R- Coisa que eu nunca... Birita tomava mesmo, tomava ih!
P/1- É.
R- Agora isso aí... Bebida não está com nada, que a bebida faz coragem e faz sujeira. Tomava um gole, não vou mentir não, um dedo assim pra almoçar, uma vez por semana ou de quinze em quinze dias, lá em casa tem garrafa de cachaça de dez anos acho, os meninos ganharam quando ia pra escola, fazer curso fora. Mandei um litro pro Júlio, tinha mais de oito anos que estava lá em casa, ele ta em Porto Velho, o filho: “manda que eu tenho coragem de enfiar uma cachaça boa aqui”. O menino também não bebe não, graças, até agora, né? Porque amanhã não sei.
P/2- Mas tinham muitos casos de alcoolismo?
R- Tem.
P/2- Pessoas dependentes de álcool nas ferrovias?
R- Tem, ih! Quantas vezes a gente via os colega por causa de cachaça perder uma escala, perder dia de serviço, ser punido. Agora eu sempre viajei encontrando colega que não estava bom de ficar no meio dos passageiros. Minha especialidade era ficar com os passageiros, apanhava ele, levava pro bagageiro: “Ó, deita aqui, não vai lá pro meio dos passageiro não, o senhor tomou sua pinga, e tem uma coisa, quem vai contar ao escalador em Valadares não é você, não são os colega não, sou eu, quando chega lá ele vai sabe, tirei você do meio dos passageiro porque você estava bêbado, agora eu não posso provar que você está bêbado, estava irregular, porque quem aprova mesmo são os três médico, né?
P/1- É.
R- Dentro da lei, né?
P/1- É.
R- Que um não aprovo também não.
P/2- Ah é?!
R- É oh, legal que aconteceu isso, isso assim, venha contar __________.
P/2- E as punições eram o quê? Haviam demissões por causa disso ou eram só advertências? Ou...
R- Não dava nada, todo mundo parava...
P/2- Ou demissões?
R- Porque o chefe sempre dizia assim: “Os grande aqui eles também bebem, todo mundo gosta de beber, se ele se indisciplina tem que ser punido, se ele ficar quieto aponta o dia dele, só não pode viajar irregular”.
P/2- Ah tá!
R- Era essa a ordem que a gente tinha. Nunca comuniquei gente que andava comigo nos trens irregulares, nunca! Graças a Deus.
P/1- Mas aconteceram alguns acidentes, ou alguma coisa mais séria por causa de bebida?
R- Três, três acidentes, se eu me lembrar vou contar tudo. Se me lembrar!
P/1- Então conta, por favor.
R- Vou começar que tinha que... Olha, eu fiz uma entrevista aí com as meninas, não sei se vocês sabe, se vocês viram ai até a reportagem, eu esqueci de um trem, um trem vermelho que saia de Valadares, a gente chamava “Trem Vermelho”, só podia sair esse trem com dez carros, com as tonelada pra subir a serra, o máximo que tinha que ter era 310 toneladas, mais não podia ser porque a máquina não subia, ia deixar um carro em Sá Carvalho pra poder subir com 280 toneladas, e nesse trecho mesmo caiu um trem comigo entre Sá Carvalho e Antônio Dias, que eu estava subindo, quando botamos os carros na linha… Tem que cortar a posição, pra dar posição, se não a máquina não puxa o peso do carro, e a gente tinha, vocês não sabem o que é, tinha dois carros com para-choque comum, boca de lobo na cauda do trem, ainda lembro o número dele.
P/1- Quais?
R- Sessenta e trinta e A.T.D. 132.
P/2- Olha só!
R- Madeira em tora A.T.D. e o V.C. era carregado de cereais. Quando nós botamos o trem na linha, o carro que caiu, que engatou, que arrancou, partiu a manilha, os dois carros iam voltando, era umas duas horas da madrugada, uma lua bonita. Meti o molete, apertei os cabos, parei, veja como é que o trem corria meus irmãos, parei o trem, os dois carros, corri atrás do trem, parei o trem e eu disse: “O que aconteceu?”, daí eu falei: “São todos os dois mortos, o condutor era Joaquim Paixão morreu com quase noventa anos, e o maquinista era Atalicio Gonçalves”. Eu falei com o condutor que era o chefe do trem, chamava Joaquim Paixão, e eu falei: “Olha Paixão, eu não vou engatar o trem não”, os dois falaram: “Porque você não vai engatar o trem?” “Porque não vou, porque vai bater, eu perco o engate e os carros soltam a roldana que ta apertado o freio, desce e voa fora, como voou o trem de madeira uns ano atrás aí”, quatro plataformas de madeira desceram, voaram fora, voaram lá dentro do Rio Piracicaba na velocidade, voou fora lá. E lá teve um caso também: “Por isso que eu não vou engatar o trem”, falei pro Paixão. Ai o Batista falou: “Vocês é que estão certos, vamos embora Joaquim”, aí fomos pra António Dias. Chega em Antônio Dias, um trem descarrilado na ponta do Amorim, perto da ponte, né? No quilômetro 510. Ficamos o dia todo aqui, aí quando ele pediu a linha pra a gente passar, aí de manhã mandaram a outra máquina buscar os dois carros. A gente tava a noite em Sá Carvalho, no mesmo trecho que aconteceu isso disseram assim: “Ó, desvia trem que ta na primeira, que vai passar um trem de boi com preferência”. Botei o trem no desvio, em Sá Carvalho, e passou o trem de boi com duas máquinas, chamava tração. Dezoito carros de boi, o resto era madeira, e carro fechado. Quando chegou no 526 engancharam o trem lá curva do (Edir de Maneiro?), e que arrancaram o trem partiu o para-choque e desceu dezoito carros de boi, só não tombou porque os guardas-freio quando viram que estava descendo apertaram algum freio, mas quando eles viram que ali em baixo da plataforma deles quebrou, se atiraram no mato também, pularam do trem. De manhã fui buscar os carros lá na caixa d’água entra Itueta, não, entre (Ana de Matos?) e Sá Carvalho, tinha um carro descarrilado, trem de boi. Aí botei um carro na linha e peguei uns bocados de boi e fomos pra Drummond.
P/1- E os bois?
R- Os boi estavam dentro do carro.
P/1 e P/2 - (risos).
R- Quando se sai de boi... Dezoito carros eram 320 boi, é, quando ia à central buscar era especial, trazia os 640 boi, que era máquina a óleo. E a Maria Fumaça só podia leva os 320, podia leva mais, mas não pra subir a serra, então só levava os dezoito carros pra ir direto até Nova Era. Em Nova Era entregava à Central, que era onde tem o deslocamento.
P/2- E operava os dois tipos de máquina, a óleo e a...?
R- Opera sim, mas acontece que depois eles deixavam... Só botavam as duas Maria Fumaças ou se não duas à óleo.
P/2- Sei.
R- Porque à óleo tem mais força. E costumava quebrar carro.
P/2- Sei.
R- Quebram os para-choques inteirinhos.
P/2- Mas depois as Maria Fumaças foram substituídas...
R- Era mais fraca.
P/2- Mais depois foram substituídas, né?
R- Tudo, não tem...
P/2- Todos foram...
R- Não tem mais nenhuma das Maria Fumaças. Eu tenho inclusive um... Eu vou completar daqui a pouquinho uma batida de trem. Do trem vermelho já falei, né?
P/2- Já.
R- Não sei se eu falei certo, não sei.
P/1- Está ótimo (risos).
R- Eu acho que não falei não.
P/1- Não?
R- Não. Eu posso falar?
P/1- Pode.
R- Não vai estragar alguma coisa, não?
P/2- Nada, que é isso (risos).
R- Se estragar... Só que tem uma coisa, nesse trem vermelho, isso eu me esqueci, só podia sair de Valadares se tivesse um inspetor, da tração, do movimento ou do tráfego, se não o trem não saia, com três guardas-freio, um manobreiro e dois guardas-freio. Manobreiro é uma coisa e guarda-freio é outra, mas é a mesma classe, mesmo serviço.
P/1- Como funcionava o trem?
R- Só funcionava, a poder de água e fogo.
P/1- Então ficava uma pessoa lá colocando lenha...
R- Não, depois eles até tiraram o graxeiro, tinha trem que ia um graxeiro pra gamba a lenha e foguista pra queimar e lubrificar a máquina, se não lubrificar ela esquenta e não anda.
P/1- O tempo todo tinha que está lubrificando?
R- Não, lubrifica quando para. Vê na caixa d’água, __________ lenha, vai lá e bota óleo no lugar certo, pra não esquenta os bancal que eles falam, né? Os bronzes, e quando esquentava um bronze de uma máquina, na primeira estação na frente parava, parava lá o trem, o agente explica tudo pra gente, ia lá na chave no pátio dele, suspendia o carro que tinha, um V.D, e tirava o bronze pra colocar na máquina, e o bronze dá a mesma coisa, o bronze que eles colocam assim na roldana no eixo do carro que roda. E aí ficava o carro lá no outro dia ia roda, o bronze, o carro ficava no macaco, dentro da chave, pra poder prosseguir a viagem do trem, quando tinha boi.
P/1- E o guarda-freio, como era o trabalho?
R- O trabalho do guarda-freio era pesado igual a mim, como manobreiro, pesado mesmo, lenhas, mercadorias, sacos, tudo, _____ só na cabeça.
P/1- É, não cuidava do freio?
R- Não, o freio é só na serra que cuidava, na descida só que é pra apertar, subi não interessava, porque estava subindo, né? Se apertar subindo para o trem.
P/1- É claro (risos).
R- Ele puxa mesmo. Muitas vezes o trem estava... Um trem de carga ia você via uma que fazia assim ó, é pra soltar um freio porque trem estava muito seguro. Se ele fazia assim podia soltar dois freios, que tinha apertado a mão, entendeu?
P/1- Entendi.
R- Na descida da serra, porque estava atrasando o trem.
P/1 - E como que era esse freio, senhor César?
R- Não tem o volante do carro?
P/1- Hum hum.
R- Era um volante assim redondo, só que um trinco de ferro, chamava de roldana. Você media aquele trinco e fechava.
P/1- E era pesado? Só fechava, não tinha que fazer esse movimento?
R- Apertava até que você podia, botava um pau, que chamava um tal de molete, com um molete você dava mais dois ou três dentes na roldana, na mão não dá não que machuca, né? Ai...
P/1- Aí ajustava?
R- Quando descia, acabava de descer soltava os freio.
P/2- Uhum uhum.
R- E se aperta a trava atrasa o trem, e o trem tem um percurso, né? Atrasava o trem.
P/2- Olha só!
P/1- E o trem de boi tinha que chegar mais rápido?
R- É o que tinha preferência.
P/1- O senhor gostava?
R- Quem quer trabalhar não tem que olhar serviço, quem gosta de querer ganhar o pão, ainda mais eu que precisava, leitura não tinha pra eu chegar onde eu cheguei, depois me chamaram pra eu ir lá assumir, eu fui chefiar até, obrigado.
P/1- Por que?
R- Porque era uma época que ninguém queria, porque o ordenado era pouco, ordenado pouco ninguém queria, então resolveram aproveitar o pessoal que tinha um pouco de experiência no serviço, então pegou eu e o Ezequiel Oliveira, senhor Irineu Marques pra gente chefiar trem, começar a chefiar os trens de carga, depois foram os trem de passageiro.
P/1- E como que era a chefia?
R- O mesmo ordenado.
P/1- Ordenado, mas e o trabalho?
R- O trabalho é a escrita, né? Fazia o horário do trem, entregar o telegrama, quem alternava era o condutor, que era o chefe do trem.
P/2- A chefia não ganhava mais?
R- Não, era o mesmo... A gente tinha que aceitar com o mesmo ordenado.
P/2- Sei.
R- Entendeu? Então quem ia mandar…. Eu falei com ele, mas “é que a minha leitura é pouca”, falei pro doutor (Oniro?), com o baiano, ele me mandou até o escritório e eu falei com ele. Não serve mas a ordem não é minha, “mas Doutor...” eu falei: “Eu estou falando pro senhor que eu não estou querendo ir porque a minha leitura é pouca”. Sabe o que ele respondeu pra mim? “Olha, você não manda, é mandado, você tem que ir”. Eu sei e de fato eu vou mesmo, que eu não vou recusar também. Só que a minha leitura é pouca, “mas você tem muita experiência no serviço” ele falou, ai eu fui, eu Ezequiel e Irineu.
P/1- E nessa...
R- Ezequiel já morreu e Irineu já morreu também, só estou eu pra contar.
P/1- Que bom, graças a Deus!
R- Graças a Deus.
P/1- Senhor César, mas o senhor já tinha aprendido a ler e a escrever um pouquinho?
R- Não.
P/1- Como que era?
R- Olha, quando eu fui pro exército conhecia todas as letras, né? Aí lá no exército tinha uma escola regimental, quem quisesse ir ia, quem não quisesse não ia, então eu devo ter frequentado uns dois meses e colegas bom com a gente, dava uma explicaçãozinha, aí aprendi a fazer quatro operações de conta, fazia os nomes mas faltava letras, fazia os nomes aumentando as letras, entendeu? E quando eu vim pra Vale… Eu acho que caderno de caligrafia daquela época, vocês não lembram, seu pai deve ser vivo é capaz de lembrar, uma letra bonita, redonda.
P/1- É.
R- Aquilo acho que gastei mais de cem.
P/1- (risos).
R- Eu e Ezequiel morávamos numa casinha juntos, a mesma coisa era Ezequiel, ele não lia, aprendemos assim, com Deus e a gente.
P/1- Sozinho o senhor aprendeu?
R- Só. Agora quem me ensinou a soletrar foi o meu irmão que morreu que daqui foi pra escola, dois anos lá no mato, ele me ensinou a soletrar, então fazia o nome. Mas eu sofri, mas um sofrimento, como se diz, divertimento, é melhor pra mim fazer uma coisa como me serviu, né?
P/2- Claro.
R- Do que jogar o futebol, eu não podia chegar lá, se tivesse pelada lá também (risos).
P/2- Ah!
P/1- Na estação?
R- Não. Quando dava no Mato.
P/1- Ah! Tá bom.
R- Na estação você não podia, eles falavam: “Você tinha que estudar”. Como é que vai estudar? Cumprindo escala, sem saber a hora que você... Se sabia a hora que saia mas a hora que você chegava de volta você não sabia. Nós tivemos trem aí de gastar quatro dias de viagem num trem, eu peguei um trem de Valadares para Vitória gastei quatro dias, o trem só andava no chão, ainda pedimos dois socorro.
P/1- Por que? O que aconteceu?
R- Porque o trem caia, a linha era ruim, caia no chão, acabou. Pedimos socorro entre Conselheiro e (Vernaque?), a máquina descarrilou e o trem e tornou, ficou pendurado.
P/2- Ah, ela descarrilava na saída do...?
R- É descarrilava...
P/2- Olha só!
R- Quando cheguei em Aimorés, naquela mesma viagem, na mesma máquina que o senhor coisa botou na linha, entre Aimorés e Itueta, eram 22 quilômetros de trecho. Caiu um carro e a máquina estava sem água, não podia trabalhar, aí o que que o (Vanir?) falou: “Se nós começarmos a mexer aqui vamos fundir o bujão da máquina”, pelo menos o bujão da máquina não estragou, ferve a água todinha, que a força era da água que fervia. Aí foi a máquina até Aimorés, e aí o _______ levar o carro, botaram o carro na linha e levaram, foi até uma véspera de Natal, eu me lembro, eu tinha esses telegramas tudinho lá em casa, tudo, mas a minha patroa achou que devia limpar a gaveta coitada, quem vai brigar, né?
P/2- É.
R- Ninguém. Trem de passageiro... Entre...
P/1- Tem água aí se o senhor quiser.
R- Tem sim. Entre Crenaque não, entre Crenaque não. Entre Corrente, o Rio Corrente que era um posto e Pedra Corrida, nós entramos numa barreira caindo em cima da máquina, o trem, eram quase dez hora da noite, chovendo, isso tem 24 anos ou 25. Eu tinha esses telegramas tudinho. Tornou a máquina, tornou o carro que a gente estava dentro, encheu de terra e o carro de passageiro encostado em nós tombou de virar com a roda pra cima, dezoito metros de comprimento, e aquela gritaria menina...
P/1- Machucou alguém?
R- Não. Aí eu cheguei na costa, eu estava meio nervoso também: “Gente, pelo amor de Deus, o perigo passou, ficam quietos aí que nós vamos tirar vocês”. Botamos em outro carro, tiramos tudo e não tinha ninguém machucado, ninguém, nem cortada, ainda quando eu gritei eles ficaram quietinhos. Aí eu fui... Tem segurança no trem. Depois que tiramos todos eu falei: “Luis” - morreu já também (risos) coitado: “Luis, vamos correr o trem pra ver se tem alguém machucado”. Porque tinha o trem restaurante que levava sempre oito empregados, tinha o gerente e sete empregados. “Vamos lá no restaurante, vamos correr o trem todinho”. Corremos o trem todinho, não tinha ninguém machucado sabe, aí eu falei assim: “Quem vai dar esse aviso em Pedra Corrida vai ser eu, não vou mandar ninguém”, que eu podia mandar um, né? Ai eu fui em Pedra Corrida e daí o aviso. Quando cheguei em Pedra Corrida tinha três quilômetros da onde houve o tombamento pra estação de Pedra Corrida, três quilômetros tinha, mais ou menos, era mais de dez horas já quando terminou, eu tirei e coisa eram quase dez horas. Mas cheguei na estação, chega o agente, o Wilson Siqueira chama, Wilson Siqueira. E disse: “César, o que aconteceu que o seletivo não estava lá, no telefone hein?” Eu digo: "Ah! Aconteceu o seguinte: Teve um acidente aí, claro que eu estou meio nervoso”, ele falou: “Mas vamos devagar”, “Num está falando com ninguém, é porque o trem lá está tombado”, eu falei: “Houve um tombamento assim, assim, assim.”, “O que é isso, César?” “Mas não machucou ninguém, machucou ninguém”. Aí fomos dar um aviso numa máquina que estava parada aqui, tinha um seletivo, e a estação não falava com Pedro Nolasco nem com Valadares, porque os fios de telefone estava no chão, o trilho caiu também, o poste caiu na hora que a barreira caiu. É isso que aconteceu lá, agora não machucou ninguém graças a Deus, correndo o trem todinho mais o segurança. Quando eu voltei o trem chegou lá, os meninos tudo lá, disseram: “César, tem um abacaxi pra descascar”, digo: “O que aconteceu?” “Tem uma mulher machucada lá atrás”, “O que é, mulher machucada lá atrás, vamo lá?” chamei o investigador: “Vamos lá, Luis”. Chamava Luis. Fomos lá, vimos à mulher, estava reclamando e coisa e tal, a mala caiu do porta mala, mas não caiu, passageiro tirou a mala e escapuliu, quebrou a clavícula da mulher.
P/1- Ai!
R- A noite. Eu cheguei lá e disse: “bom”, achava, nem sabia, falei o nome dela sem saber, ela chamava Maria.
P/2- Foi na mosca (risos).
R- Chamava Maria, sabe? Ela estava reclamando. A gente tinha até uma caixinha de remédio, mas nem falei nisso. E tinha um senhor lá atrás fazendo assim e ela estava de costas pro passageiro. O senhor estava fazendo assim, “esse camarada quer falar comigo”, mas eu não falei nada com ela, falei: “Dona Maria, fica”, batendo no ombro dela: “fica ai Dona Maria que eu vou ali fora reza um pouquinho pra senhora ficar mais calma”. Cheguei lá fora e o moço me contou: “Olha, eu não quero aparecer não, mas o senhor está vendo aquele moço lá atrás de camisa listadinha?” “Estou”, “Ele puxou a mala, escapuliu e quebrou a clavícula da mulher, mas não quero aparecer”, “ó, não vou nem saber quem é ele, e não quero nem o seu nome, porque se eu for anotar eu tenho que anotar o seu endereço, tenho que exigir documento seu, que pode precisar para a testemunha amanhã ou depois, e ele eu quero... Não vou nem falar com ele, meu telegrama vai ser mentiroso - e como eu odeio mentiroso - e você vai _____________ aí acabou se não você lia ele (risos).
P/1 e P/2 - (risos).
R- Aí eu disse: “Bom”... Ah, chegou uma água aqui, estou muito difícil, né?
P/1- Não tem problema.
R- Essa mulher tem três meses que eu à vi, quando ela me vê: “Ah! O senhor é aquele do trem.” Aí eu digo: “Nós” (risos). “Nós somos do trem”. Ela mora perto da sogra na Rua (Caeté?), quando eu cheguei lá, semana depois do acidente, a mulher estava com o braço na tipóia, a mulher do trem, “Dona Júlia, aquela é Dona Maria?” “É”. “Essa que machucou no trem?” “Eu vou me esconder aqui atrás da porta, aqui na cozinha, e chama ela.” Quando ela entrou era umas nove horas da manhã. “Bom dia Dona Maria, a senhora me conhece?” Ela falou: “Não.” “A senhora conhece.” “Ah! É aquele moço do trem?” (risos).
P/1 e P/2 - (risos).
R- Tem três meses que eu à vi, quando encontro com ela eu sempre falo… Está velhinha já também.
P/1- (risos).
R- Essa mulher, sabe o que ela já fez? Ela foi pro hospital São Vicente, começou o tratamento com o médico, depois brigou com o médico e veio pro São Lucas, Hospital São Lucas, veio se tratar com o Doutor Raul, depois que ela ficou boa ela ainda recebeu três salários mínimos. O seguro pagou.
P/1- Acontecia assim, quando tinha um acidente, alguém reclamar e exigir alguma coisa da companhia?
R- Não, eles não podiam exigir isso, eles só poderia exigir se caso ele não quisesse o acidente, extrair acidente, ele tem que levar pra estação e extrair o acidente, as vezes machuca a unha na porta, às vezes a porta está aberta e as pessoas botam a mão, balançam a porta, vem, fecha e cortam os dedos. Tem tudo isso.
P/1- Já aconteceu...?
R- Já aconteceu, comigo mesmo aconteceu num trem que ia pra Itabira, o menino perdeu a ponta do dedo assim.
P/2- Nossa.
R- Tudo isso tem, a companhia de seguro paga, porque os passageiros não sabem, você comprou a passagem, agora eu não sei deve ser a mesma coisa, comprou a passagem eles já descontam o seguro no valor de dez mil reais, em caso de morte de acidente, e pra fazer tratamento assim, paga o tratamento.
P/2- Ah, sei.
P/1- Senhor César, nessas viagens no começo ai...
R- Hum.
P/1- Do seu trabalho, como que é, vocês comiam, levavam lanche, paravam na estação?
R- Olha, a gente passava fome com um dinheirozinho, trocadinho no bolso, teve viagem de trem cair... Um dia mesmo eu cheguei na cachoeira escura, a Dona Maria, dona da pensão lá. falei: “Olha Dona Maria” - já morreu também coitada, a senhora do Fracelino, morreu também o velho Francelino. “Nós queremos quatro pratos de marmita”, ai ela falou: “Não tem carne”, “Bom”, eu falei: “O meu a senhora pode botar o que tiver ai, e do outro bote também porque se ele não comer eu dou pros colegas dele lá.” Muitas vezes a gente cozinhava na máquina.
P/1- Ah é?
R- A gente metia uma carne seca com farinha, metia a carne seca e torava na brasa da máquina, na fornalha. Fornava com farinha e comia.
P/1- Olha, que bacana.
R- Você não encontrava pra comprar a comida, teve uma vez que um trem caiu, nós fomos apanhar a comida lá em cima do morro, eu cheguei lá o moço nem cobrou a comida, já morreu, foi até prefeito em Antônio Dias esse cara, chamava Anízio, Zé Anízio chamava. “César, vou cobrar a comida de vocês não, vocês sofrem demais e já me fizeram muito favor no embarque do carvão ali.” Ele tinha um depósito de carvão que embarcava, a gente dava uma posição pros carro dele na hora que ele deixava lá pra carregar e ele disse: “Não vou cobrar comida de vocês, vai, pode levar a comida.” A marmita, eu via, eram três merréis naquela época, três cruzeiros hoje.
P/1- O senhor pegou mais alguma malária, mais alguma doença?
R- Não, só peguei a malária, aquela de _____ e de PABA. A de PABA foi a que o moço me deu, em vez de mandar o atestado me apontou as folga.
P/1- É, (risos) mais alguma, não né?
R- Não, só... Foi a última, mas nessa da viagem ali, três apanharam a malária, foi eu, Mane Guilherme e Calisto Cardoso, tinha trabalhado duas noites num trem descarrilado no trecho, e o mosquito você sabe que ele trabalha (risos).
P/1- É!
R- Pegou a malária todos os três, também foi a última que eu passei, graças a Deus.
P/1- Senhor César.
R- Hum?
P/1- As máquinas de trem tinham algum apelido, vocês tratavam pelo número...?
R- É pelo número.
P/1- Pela cor?
R- Pelo número.
P/1- Não davam alguns apelidos, não?
R- Não, não, era pelo número da máquina, oitenta, olha, lá tinha a máquina vinte, tinha a dezessete, a dezenove, a dezoito, tinha até 29, tinha 120, 121, tinha a 153, três. O 151, 152 era só na ___, Maria Fumaça tudo, as itanagé e a chaminé balão, tudo Maria Fumaça, tudo de lenha. Tudo que fazia era queimando lenha.
P/1- O senhor percebeu assim, teve alguma mudança no trabalho ou no salário quando mudou dá... Que a Vitória-Minas passou pra Vale do Rio Doce?
R- Houve uma melhora bastante, teve uns tempos que o _____ era bom demais. Olha, eu não posso reclamar, porque eu só usava o dinheiro no que precisasse comprar, agora se o dinheiro vai pra farra, pra bebida ele vai fazer falta em algum lugar. Eu acho, eu não sei se eu estou certo, eu nunca usei. E a gente voltava de de noite e ainda fazia o negócio de cerveja.
P/1- É.
R- Não dá.
P/1- Mas então, quando mudou pra Vale do Rio Doce, em que ano que foi?
R- Olha, isso aí que eu não lembro, mas foi no ano quarenta e pouco.
P/1- Teve muitas mudanças, vocês notaram mudanças?
R- Não, a mudança só de nome.
P/1- Só de nome?
R- Só mudou aquela… Brasileira, não sei o que é, não sei bem. Passou pra Companhia Vale do Rio Doce, depois daí houve um contrato, que isso foi muito falado, com o Getúlio Vargas, de vender minério lá para os americanos, é...
P/2- Os americanos mesmo?
R- Americanos, e pro Japão também, mas pro Japão já não era a Vale que vendia não, não era o governo não, eles compravam da mão dos americanos, que houve até um jornalzinho... Eu sei porque eles contaram isso, eu estou falando o que eles contaram. O contrato foi de quarenta anos pra vender minério só pra americano, então negociava o minério lá fora com outro estrangeiro. Não sei se vocês tiveram conhecimento ou o pai de vocês, veio um jornalinho da Vale e ela manda todo mês, dizendo assim: “Foi tirado o contrato de minério do americano com o governo Jânio Quadros”, e tirou, ele falou quando ele era candidato a presidente da república que ele ia tirar o contrato, e tirou mesmo, mas teve que renunciar, né? Se não ele ia embora. “Agora”, disse o jornalzinho: “Agora que foi tirado o contrato de minério dos americanos, a Companhia Vale do Rio Doce está vendendo minério pra dezessete países estrangeiros”. Mas não era companhia não, que estava vendendo era o governo, mas digo que era, trabalhava na companhia, né? Porque ela lá só tinha o frete, o resto e com os homens grandes. Inclusive eu até perguntei à uns inspetores que mexiam com uns negócios de contadoria na estação, lá no meio da chefia de Vitória, uma pergunta lisa sabe, uma pergunta leve, eu disse: “Você sabe, eu só queria que me informasse: quanto é que dá de frete um trem de minério de Itapira à Tubarão?” É o que está funcionando hoje, ele falava: “Só lá na administração que sabe disso, nós não sabemos nada.” Foi a resposta que eles me deram, e eu falei: “Eu não estou fazendo bota, eu nem queria ver, você mexe com ______ da estrada, você é homem de confiança, eu não sei se eu tenho tanto à saber mas se o assunto é esse aí, acabou o assunto.”
P/2- Então quer dizer...?
R- Só o pessoal da administração que podia saber. E o Jânio renunciou aquela vez por causa daquele contrato, e eu vi o Jânio falando, desculpe porque eu já passei pra outra coisa.
P/1- Não tem problema.
R- Eu vi o Jânio falando na rádio, porque não tinha televisão na época lá em casa, que estava deixando de ser presidente da República do Brasil, porque morto ele não podia fazer nada pelo Brasil, então vou pro meu cartório que é de advocacia, vou ganhar meu pão pra tratar da minha família. Eu ouvi isso no rádio lá em casa, em bar de Lourdes, eu e a minha patroa, a Dirce, de noite. Sabe, o que se vai fazer? Essa é a vida.
P/1- Só um minutinho senhor César.
R- Tá. (Pausa) Vamos continuar?
P/1- Vamos (risos).
R- Vou falar do trem do padre, não falei não?
P/1- Não!
R- Vou falar do trem do padre, do padre____. Esse eu não falei? Outro dia eu acho que eu falei.
P/1- Mas...
R- Na turma de lá.
P/1- Mas fala de novo, por favor (risos).
R- Apanhei uma máquina que faz reparo em João Neiva, só podia levar quatro carros, porque não podia levar a lotação, ela que podia levar, né? E dava cento e poucas toneladas, 130 ou... Eu tinha isso tudo, tudo escrito (risos). A patroa guardou. E comigo ia um padre lá em Aimorés. Ele assinou um termo de responsabilidade pra viajar em um cargueiro, então isso tem mais de quarenta anos, sabe?
P/1- E ele assinou o termo?
R- Na estação com a gente, ou a gente ia morrer ou está enterrado em Valadares, chamava senhor Felecício Costa.
P/1- Porque não podia ir viajar?
R- Não podia viajar a não ser num trem de carga sem assinar o termo de responsabilidade, disse: “Olha César, o trem de passageiro - era o P1 - o P1 está chegando aí, vai dar seis horas, bem no horário, logo que ele chegar, você vai ali, apanha a licença do trem com o telegrafista que eu já assinei a licença lá, ele vai botar a partida, e chama um padre que está sentado lá, que ele vai com você pra Aimorés”, esse padre ia em Aimorés, naquela época, apanhar o curriculum que ele trabalhou, ele ia embora para África, que ele tinha que levar onde ele trabalhou, e quando nós saímos de lá, foi em 1948 isso, ainda lembro o mês. Pena que o telegrama queimou, né?
P/1 e P/2 - (risos).
R- Quando eu cheguei lá, entrei, Tumiritinga e São Tomé, o trem descarrilhou, o trem da máquina, e a gente encostado a máquina com carro de gusa, sabe o que é gusa? Aquela carguinha baixa, pesada, que cada carga tem…
P/2- Ah sei, hum hum.
R- Aquela espécie de ferro assim, gusa, a gente estava dentro... A porta do carro estava livre, eu botei uma caixa, uma caixinha pra eu sentar naquela caixa e botei uma lanterna, acesa, que já estava escurecendo, quando nós saímos de Tumiritinga pra São Tomé, fora da estação uns dois quilômetros, a máquina descarrilou o trem, o trem _______ no corte e o nosso carro também foi pra cima do corte, e o padre quis pular, falei: “Não padre, não pula não que nós já estamos no perigo aqui, aqui é Deus e nós, o senhor lá trás nunca que vai pular” (risos). Quando parou, falei: “Acho que agora pode descer”, ele parou o trem, pulou lá de cima, pendurou lá, desceu e foi lá e falou pro maquinista: “Eu nunca vi tanta carga que nem esse homem teve, não deixou eu pular… (risos) Eu ia pular”, aí diz o maquinista pra ele: “É, mas se o senhor pulasse do lado que o carro tombou o senhor não estava falando comigo aqui outra vez… (risos) o senhor estava com as perna quebrada ou morto… Tem tudo isso, que nós já estamos num perigo, procura outro”. A batida do trem passageiro comigo foi assim. Eu não pulei, a batida do C.L, eu não pulei também, porque seu ____ tava até doente coitado.
P/2- Se pular é pior, né?
R- É pior porque você não sabe o que pode arranjar, quebra uma perna ou duas, de acordo com a velocidade.
P/2- É. E qual é a velocidade máxima de um trem de passageiro senhor César?
R- Agora o trem de passageiro, na saída, quando ele chegou num trecho, depois que eu saí, ele é muito eficaz, tem trem que puxa até 65 por hora. Só quando eu estava lá o máximo que podia puxar era 61 por hora, se passasse isso ele parava sozinho, lá em baixo desligava.
P/2- Sei.
R- O centro de comunicação desliga o movimento.
P/2- O mais rapidinho era o quê? Era o de carga ou de passageiro?
R- De passageiro.
P/2- De passageiro mesmo.
R- De carga tem um...
P/2- De carga era lento, que o senhor falou, né?
R- Tinha mais lotação, então...
P/2- O pessoal ia acompanhando.
R- É, é mais devagar.
P/1- Senhor César, ao longo dos anos que o senhor trabalhou na estrada de ferro, várias modificações foram feitas?
R- Várias, foram.
P/1- O que foi assim, que o senhor guardou mais, que facilitou mais o trabalho de vocês, que foi mais importante pro senhor?
R- Eu acho que o serviço que foi mais importante pra gente, que modificou muito mesmo, ele todo faz parte do mais importante, qualquer serviço, vem da __________ dos trem e da estrada também. Eu queria... Foi bom pra tudo, passamos a ganhar um pouquinho mais também, não sei se vocês ouviram falar da gratificação que gastaram pra eu estudar.
P/1- Não, quando?
R- Você quer que eu conte um pouquinho?
P/1- Por favor.
R- Juracy Magalhães era o presidente da companhia, primeiro foi o Raul Pinheiro, era de Belo Horizonte.
P/2- Isso.
R- Depois veio o Juracy, depois de Juracy veio o Doutor Eliezer, que era o... Na época que a estrada foi muito divulgada, ele era chefe da linha, Doutor Eliezer. Eliezer entrou na Vale do Rio Doce como estagiário em 1948 na Morrison, a empreiteira que tinha, estava reformando um trecho de estrada aí, e hoje ele é agente vendedor de minério da Vale, pro governo, mas está velhinho também já. Mas vou falar a respeito do Juracy Magalhães, em pouquinho, se me lembrar. Juracy Magalhães, como presidente, era general, ele está vivo, ele está na Bahia, morreu ainda não, esse está vivo, mas deve estar maduro.
P/1 e P/2 - (risos).
R- Todo mês ele dava entrevista do que tinha sido feito na companhia, as compras de carro que ele comprou, comprou as gaiolas de boi, comprou plataforma, comprou carro fechado, compraram máquina que foi as micadas, as outras máquinas equipadas levavam mais no trecho do Espírito Santo. Todo tinha máquina que só levava dois carros, e as oitenta levavam três, e as micadas levavam quatro carros, muita subida então não podia botar mais, um homem a pé acompanhava o trem, e muitas vezes o areeiro da máquina, subindo a serra - se é pra falar eu vou falar. Então o que acontecia com a gente? Apanhava os guarda-freios, ia lá em cima onde botava areia, que estava entupido, em cima do bujão da máquina, assim… Perto de um meio metro de areia ou mais, tudo peneirada, né? Apanhava com as marmitas e botavam em cima dos trilhos pra firmar a máquina pra poder prosseguir a viagem e sair da rampa, com a marmita a gente botava.
P/2- Olha só!
R- Em cima dos trilhos, se tiver algum maquinista vivo ainda, você pode perguntar que eles contam, isso que eu estou falando aqui. Agora quando houve esse, que completou aquele serviço lá que melhorou tudo pôr tudo, a Vale, toda a repartição melhorou, toda! Inclusive até, vou completar a gratificação que o Juracy começou dar, começou quinze dias, na época, ele deu quinze dias. No fim do ano ele deu trinta dias, ele foi presidente uns quatro ou cinco anos acho, e ele é militar. Depois Jânio renunciou naquele ano. A Vale ia dar pra nós dois meses de gratificação. O Juracy já tinha falado isso no dia trinta, que ele dava sempre explicação no dia trinta do mês. “Esse fim de ano nós vamos dar sessenta dias de gratificação aos empregados”.
Mas quando o João Goulart chegou, porque ele estava na África quando o Jânio renunciou, assumiu o governo, nosso presidente, ele ficou no lugar do Jânio, assumiu o governo, o que ele fez? Não sei se vocês sabem disso, o pai de vocês deve saber disso, vocês já ouviram. Disse: “Ó, esse ano” - que ele queria ser reeleito, acho que a vontade dele era essa, porque ele foi um bom presidente, não desfazendo dos outros. “Esse ano eu vou dar um mês de gratificação a todo brasileiro que tem uma carteira profissional aberta”, era o ano que a gente ia receber quatro pagamentos, de um pra quatro, naquela época estava mais ou menos bom, não estava? Se alguém não souber aproveitar eu não fui o culpado, entendeu? Então quando o governo prometeu dar um mês, então Juracy tirou um mês, deu só um, não deu os dois, então nós recebemos três pagamentos, porque um o governo deu, um de gratificação e o que nós trabalhamos, recebemos três pagamentos aquele ano.
P/1- Aí o natal foi...?
R- Foi gordo. Então se alguém lutou fora é porque quis. Eu fiz minha casinha lá era um porão, mas eu fiz. Graças a Deus.
P/1- Onde o senhor fez a sua casa?
R- Em 71, 1971 e terminei em 75, deixei ela quatro vezes parada.
P/1- Em Governador Valadares?
R- Valadares, lá perto da polícia federal, lá no morro. Você conhece? Você não conhece não.
P/2- Não, não, não conheço Valadares.
R- É, ali na melhor área, lá em baixo na cidade, na melhor avenida que tem, na época que eu comprei lá era mato. Comprei o terreno lá, 750 metros quadrado, estava tudo cercado e a casinha lá no meio. E lá criamos quatro filhos, aliás tinha uma casinha de baixo de Lourdes. Até eu vendi, e a vida é essa daí, agora depois a gente tem que agradecer muito a Vale, porque eu consegui formar os meninos tudo com o meu ordenado lá, inclusive a mulher também formou em Pedagogia com o trocadinho do velho também, que o dela não cobria.
P/1- Ela fez faculdade?
R- Fez. Em Caratinga, foi cinco anos para Caratinga. Ia 28 alunos de Valadares pra Caratinga fazer o curso.
P/1- Bacana.
R- Então tinha o ônibus da firma, pagava a passagem pra ir e voltar, viu?
P/1- Pagava?
R- Pagava, oras! Tinha que pagar, quem é que vai de graça, não (risos).
P/1 e P/2 - (risos).
R- Chegava em... Ainda ontem vi a colega da Dirce lá na estação rodoviária de Valadares, a dona, o meu Deus, conheço igual a dinheiro, esqueci o nome, é até fácil o nome dessa mulher, era colega da Izita, muitas vezes ela ficava também em casa. Eu ia esperar a Dirce porque em Valadares tem uma igreja que parava o ônibus, era uma hora da madrugada que eles deixavam elas ali, e ia pra casa, morava na mesma rua nossa ali, na rua Santos Dumont, aí ela morava mais pra frente um pouquinho, como é que ela chama? Meu Deus! Santo Antônio!
O marido dela foi até vereador em Valadares, é advogado, João Gonçalves, não me lembro o nome dela, ainda ontem eu vi ela na estação que ia embarcar a filha dela que ia pro Rio, imagina você. Eu esqueço demais.
P/1- Não tem problema.
R- Fora de brincadeira. Não me lembro.
P/1- O senhor César, como o senhor conheceu a sua esposa?
R- A gente (risos), se encontra aqui, encontra ali (risos), sempre sai um papo, às vezes dá certo, dá errado, não sei. Mas o contexto é negócio de igreja, nas missas, nas ladainhas.
P/1- Em Valadares?
R- Em Valadares mesmo.
P/2- Ela frequentava a mesma igreja que o senhor?
R- É, ela morava perto da igreja também.
P/2- Ah, sei.
R- Mas eu morava um pouquinho mais longe.
P/2- Ah.
R- Mas é andando que a gente se encontra pra se embaraçar, se ajudar, não sei como é que é o negócio não, vocês vão ver.
P/2- O senhor falou que todos os seus filhos são formados, eles estão formados?
R- Os quatro meninos são formados, graças a Deus!
P/2- Formados em que? Em...
R- A mais velha é dentista e professora, ainda ontem ela veio fazer um curso em Belo Horizonte, chegou ontem de manhã em casa, às seis horas da manhã, terminar um curso que ela começou a dar, de Ciências, as vezes é um reforço, não sei o que é, ela terminou em dezembro.
P/2- Sei.
R- As vezes… Agora algum reforço no meio, tem que dar as aulas aí. Apanhar mais umas aulas em Belo Horizonte. Essa é dentista mas gosta mais... É igual a mãe, ela dá aula de noite, dá de dia no Colégio Imaculada e de noite ela dá na Prefeitura, no colégio do Estado, da Prefeitura não, do Estado e de dia ela é dentista na Prefeitura, só que o salário na Prefeitura não aumentou nada até hoje, sabe quanto que ela ganha? Ela ganha 350 cruzeiro.
P/2- Como dentista, né?
R- Essa é a situação.
P/1- O senhor César, mas o senhor falou que casou novo, né?
R- É, eu casei novo.
P/1- É, com quantos anos?
R- 41 anos.
P/1- (risos). Foi novo isso?
R- Que eu vou fazer? Era pro meu juízo estar formado, né?
P/2- (risos).
R- Agora tem uma coisa, minha irmã, eu vou falar pra vocês aqui, Deus e nós cinco aqui, se tem mais algum eu não sei, onde eu passei deixei nome, que a gente encontra muita coisa que pode complicar. Mas a gente com Deus, vai à frente, e a estrada fica limpa. Essa é a nossa situação. Agora, quanto a minha vida, depois que nós casamos, eu sempre fui dentro de casa, um marido que não está alegre, não tem uma discussãozinha ele está mentindo pra Deus e pra nós.
P/2- É.
R- Tem que ter porque estão vivos. Então quando faz, que protege mais um, que protege mais o outro, lá em casa não tem, os próprio parentes falam: “Ah, você protege”, não, protejo igual, igual, protejo igual. Porque eu vou fazer isso aqui melhor e ali pior? São todos filhos. Agora, eu agradeço muito que eu formei esses meninos com o ordenado que eu tinha na companhia, porque se não fosse isso... E outra coisa, meus quatro filhos, não é porque eles não estudaram não, todos os quatro gostaram de estudar. Tem a Carla, desde pequenininha assim ó, pequinininha assim, morava ________, perto da igreja, passavam os carros: “Aquele carro ali é carro tal, mas papai, não vou ser professora como a mamãe não, eu vou ser uma médica”, desse tamanho, ela tem 33 anos, agora em dezembro faz 34 e é médica à dez anos, agora o meu ordenado não dá, coitada. Não é mole não, sabe? Tem tudo isso.
P/1- É.
R- E o Júlio, ele está em Porto Velho ficou desempregado oito meses, casado, pai de dois filhos, mas o feijão não faltou, porque a gente ajuda, né? (risos).
P/2- (risos).
R- Sabe? E o Carlinho é solteiro até hoje, nem namorada tem, acabaram com namoro que tinha lá, isso é assunto deles, não me meto nisso, entendeu? Essa é que é situação. E a Carla está em Belo Horizonte, caso, vamos ver o que vão arranjar, até agora menino não tem, mas isso é assunto de quem?
P/1- Deles.
R- Dos dois.
P/1- (risos).
R- É ou não é?
P/1- É.
R- Essa é a situação.
P/2- O senhor tem quantos netos? Tem dois então?
R- Dois netos só.
P/1- O senhor se aposentou em que ano, senhor César?
R- Eu me aposentei no dia Primeiro de abril de 1976 e entrei na Vale dia doze de abril de 1940, eu esqueci que podia sair em cima do dia doze, saia com os 36 anos completo, né?
P/1- É.
R- Faltando doze dias pra 36 anos.
P/1- É mesmo (risos).
R- E tem um dia de punição injusto nesse tempo... E nunca perdi um trem, nunca perdi uma escala.
P/1- E a punição foi por quê?
R- A punição foi porque eu não comuniquei um colega que ganhou quatro minutos no pescoço num trem de passageiro, comigo. E o erro foi do agente. Eu errei também, não vou esconder não, que eu não li a licença, eu tinha até olhado, porque é sempre do costume você chegar, ler a partida na hora. O telegrafista viu e botou lá três minutos adiantado que o trem chegou, e o chefe lá me deu um dia de punição porque não condizia o fato com o do maquinista. E deu três dias pro maquinista, agora o maquinista também cumpriu a ordem irregular, recebeu ordem do meio de linha pra puxar um pouquinho o trem que ele queria ver os balanços pra mandar tirar os balanços da linha. Então me deram essa punição por causa disso. E eu ainda ia fazer um recurso, ai eu atendi um escalador, ele falou: “Olha César, não faz recurso não que você vai ganhar, eles vão desfazer da carta que deram de punição, mas você vai ficar, como se diz, na pinta desse chefe ai, qualquer coisa ele pode te castigar, tem coisa que eu nunca dei pra ninguém, esse dia de punição eu tenho, eu não vou esconder não, eu tenho essa carta pra mostrar a qualquer um.
P/2- O seu César, e em 53 chegou as locomotivas, né? As primeiras locomotivas a diesel, as elétricas, né?
R- É.
P/2- A estrada de fogo?
R- À óleo.
P/2- É. Quais são as modificações que tem no seu trabalho a partir de então? Tem...
R- A modificação do meu trabalho, o meu trabalho sempre foi...
P/2 - Mudou, não mudou nada assim?
R- Nada. Só o que aconteceu, depois que as máquinas entraram, melhorou os percursos, a estrada boa. A estrada foi toda reformada, tá toda britada...
P/2- É, ela foi pouco a pouco melhorando, né?
R- Melhorou tudo. Então ó, os trens de minério atrasavam muito naquela época, tinha mão e contramão. E esperava, ficava às vezes quinze, vinte minutos esperando pra poder prosseguir a viagem. Agora não, não para, é direto, subindo e descendo. Ó, saia de Vitória com… Fazia a divisória com com dez, vazias, e tinha outra coisa naquele tempo, era plataforma de fueiro, vocês não sabem o que é, tinha que botar as tábuas assim, como está aquela linha que está ali, aquela régua que está ali, pra carregar o minério com a pá, pro minério não cair, a tábua tinha trinta centímetros, carregava da altura da pá ai, plataforma de dez metros, doze metros, botava um palmo de minério de fora a fora, um palmo, um palmo e um pouquinho.
R- E descarregava e caia tudo da pá, tudo na pá. E vou dizer pra vocês, não era mole não pra aqueles menino que trabalhava lá...
P/2- Nossa Senhora.
R- … Aquele serviço lá. Em Vitória, quando estava chegando na estação, lá em Pedro Nolasco, depois tornava a carregar em plataforma de fueiro e levava no cais de minério, nas Docas. Ai carregava minério no navio, enchia aquelas cartolas de vinte litros. Cortava no meio, botava um arco e pegava com um guindaste e botava lá dentro, enchia com a pá, né? Lá no monte, aí jogava lá dentro do navio. Era como se diz... Melhorou, e agora é tudo minha filha, é tudo na esteira, vai direto pra dentro da plataforma.
P/2- Ah, sei.
R- Tudo! O minério, quando começou a descer ai, ele era carregado em cadeira com a pá nos caminhões, descarregava de Drummond, perto de Nova Era, e tornava a carregar com a pá nas plataforma.
P/2- Hum hum. Isso muda quando? Quando as máquinas passam a retirar o minério de dentro... Quando cai direto na esteira, né?
R- É, lá eles carregaram agora no guindaste.
P/2- Eu sei.
R- Eles carregam duas plataformas de cada vez. Acho que em uns vinte minutos descarrega 170 plataforma. O guindaste pega a Vieira e vai direto pro navio, na esteira.
P/2- Mas essa mudança foi quando? O senhor se recorda?
R- Não, não me recordo, essa mudança de Tubarão, eu não me lembro bem. Sabe, mas deve passar de uns... Está arranhando seus trinta anos, acho. Mais ou menos, ou perto. Eles descarregam lá e vai pra esteira, da esteira vai direto pro navio.
P/1- Depois que o senhor se aposenta o senhor começa a mexer com alguma outra coisa?
R- Não, aí eu... Me aposentei. Até fui convidado pra ir pra São Luiz do Maranhão, eu falei: “não, eu vou pra lá daí eu vou tirar o pão da boca de outra família, eu já estou aposentado com sessenta anos”, falei: “não vou não”, e acabou que não foi ninguém.
P/1- O senhor sentia falta?
R- Teve muita gente no começo... Esse que trabalhou com você trabalhou lá, né?
P/2- Oi?
R- Seu Luis, esse que veio ai, como ele chama? O Roberto.
P/2- O Roberto?
R- É.
P/2- Hum hum.
R- Ele trabalhou em São Luiz, né?
P/2- Não, São Luiz não.
P/1- Em Belém.
P/2- Em Belém.
R- Pois é a mesma coisa daqueles lado de lá.
P/1- É.
R- É a mesma estrada, é que nem o… Deve ter um depósito em Belém também, passa.
P/2- Sei.
R- Deve estar morando lá talvez, e lá tem dois lugares que eles tiram minério, tem Trombetas.
P/2- Isso.
R- E tem a Serra Pelada lá, de Belém,
P/1- Carajás.
R- A Serra do Carajá.
P/1- O senhor sentia muita falta da estrada? Depois que aposentou?
R- Não, eu estou satisfeito. Eu… Muitas coisa… Porque consegui estudar os meninos com o ordenado que eu tinha, só isso aí eu tenho que agradecer muito à Deus, viu? Agora eu podia ter o orgulho, levar a melhor, a gente podia ter, mas quem manda é a chefia, não somos nós, então pronto. Hoje a estrada está boa, eu estava lá em Jacaraípe, na praia, deve teve um quase dez anos, até tem um despachador da torre lá, eu perguntei à ele quantos trens de minério estavam correndo, que agora estou desligado, mas eu conheço desde que estava lá dentro, ele falou: “Saí correndo 25 trens vazio, subindo, com 165 carros cada e se der um trem vazio com 160 carros, 165 faz um F especial pra levar as plataformas vazias pra Minas Gerais, carregada de minério.
P/2- Nossa!
R- E é a mesma coisa em Minas, ele falou: “Se tiver um trem pronto lá pra descer fora dos 25 trens ele tem que descer como um F, porque lugar de minério é em Tubarão pra descarregar (risos), botar nos navios”, ele ainda falou bem assim, sabe?
P/1- O senhor conheceu o porto de Tubarão?
R- Conheço, eu fui lá, fui lá visitar. Especial. Fomos, eu acho, uns quinze de nós.
P/1- Quando inaugurou?
R- Não, já estava funcionando, é um serviço muito bonito, tiraram a turma lá pra ir e me botaram no meio, eu digo: “Então eu vou”.
P/1- A companhia que levou?
R- A companhia que levou, o ____ de Abreu, que era encarregado do povo, mexia com o movimento do povo todo, que era do tráfego, me apontou. Eu também fui, foram três dias, um dia lá, um dia pra ir, um dia pra voltar.
P/2- Olha só.
R- Mas um servição que fizeram lá, sabe? Tudo é poder do homem, daqueles analfabetos que levantaram, hoje tudo é maquinário, tudo, pega na máquina e vai, lá vai, sai melhor bem aposentado que nós, e Deus ajude à eles e a nós. Porque se não crescesse vocês não estavam lá também, muitas vez a gente não tinha continuado também, não é assim?
P/1- É.
R- Não sei se eu estou certo. Essa que é a vida. Agora trem caia muito, quando chegou esse carro não tem caído mais, e era uma luta que tinha trabalhado, depois que fizeram aquelas ladeira de ferro ai melhorou. Muito pesada, a gente botava em baixo por causa do ar, oh, o carro descarrilar e a roda ficava perto do trilho, com dez minutos você botava um trem na linha, mas tinha trecho que a gente já saia, naquele trecho tal vai cair carro, mas não passava mesmo. Era tamanduá (risos), era um posto Tamanduá e Baguari, entre Baguari e Ilha Brava, Baguari era a estação e Ilha Brava era um posto, tinha curva da ponte que não passava lá sem cair, era difícil passar um trem de... Tinha uns vagões vermelhos do trem vermelho que eu falei e não caia um dos dois na curva, porque as curvas, naquela época, assim falavam os mestre de linha que entende do serviço, eu não entendia, mas eles explicavam pra gente: “Os carros que a Vale tinha, os velhos carros, que compravam os novos, eram carros pra linha de dez metros”, então o que acontecia? Compraram os carro pra linha de doze metros, então com uma pequena elevação que tem numa curva ou num golpe o carro caí, a linha também tem muito _______ podre, abre, e caia.
P/1- E tinha que levantar no braço?
R- Poder de braço e empurrão.
P/2- Olha só.
R- A gente ajoelhava lá debaixo, enfia aquela… Sempre ajoelhava, mas hoje se eu ajoelhar eu caio.
P/1- (risos) Ajoelhava em baixo e...?
R- Tinha até um carro. Quando passa por perto você olha a altura, tinha que ajoelhar pra poder colocar a cunha debaixo da roda que estava descarrilada pra jogar em cima da linha, e tinha um inspetor lá com a gente, que viajava muito com a gente, chamava João Martins, o que o guarda-freio fazia ele fazia também como inspetor. Ajudava em tudo, não é desfazendo não, dos outros não, mas dizia: “Hoje tem mais um guarda-freio no trem”, quando estava o João Martins que acompanhava o trem como inspetor do movimento, era um senhor de idade, já morreu também tem mais de vinte anos. Mas gostava, e chegava nos trens: “Quem é que vai hoje nos trens? Vai Fulano, Fulano, Fulano, Fulano”, dizia: “Ah, hoje está bem”. A gente tinha uns meninos lá que trabalhavam, o pessoal achava até graça, eram uns meninos criados no meio da gente, pessoal de origem lá em Itaguassu e Afonso Cláudio, Norte de Colatina, tem muita gente que não gosta de trabalho, mas nunca se via gente pra trabalhar igual aqueles caras, falavam italiano, igual italiano da roça, era... Às vezes, o Camilo, Aginaldo Vitória, Frederico Rosa, de Afonso Cláudio. E o Aginaldo Vitória era de João Neiva, Norte de João Neiva, perto lá de _____, quase perto de ______. Foram criados no meio daqueles italianos, mas trabalhavam que só você vendo.. Agora eu sempre falo, e continuo falando pra qualquer um: “Trabalho não mata ninguém, o que mata o povo...”, - me desculpa - “é não querer trabalhar”, que tem muita gente que não quer não, quer ordenado. E lá tinha muito desses também, não vou esconder não, mas felizmente eu nunca prejudiquei ninguém, não gostava de fofocas e nunca gostei, mas a vida é assim.
P/1- Senhor César, e hoje em dia o que o senhor tem feito, como é o seu dia a dia?
R- Ah, meu dia a dia é ficar em casa, fazer as comprinhas pra casa, andar um pouquinho, encontrar os amigos pra conversar um pouquinho de baixo de uma sombra. Ando muito, eu tenho que andar, mas eu não gosto muito de passear também não.
P/1- Não?
R- Não, passear não, passear precisa de muito dinheiro, dinheiro eu não tenho.
R- O dinheiro está difícil, não está?
P/1- Tá.
R- A vida é assim, não tem jeito não.
P/1- Senhor César, o senhor tem sonhos, planos pro futuro?
R- A minha filha, eu vou dizer, a gente quer ajudar os meninos mas não tem jeito, porque o que você quer… Eu vou fazer mais o que hoje? Eles que tem que se virar agora porque estão jovens, mas é o que eu falei hoje, o emprego hoje está difícil, tá difícil mesmo, mas a vida continua. Enquanto eu estiver vivo eu estou mexendo.
P/1- Isso ai.
R- Não adianta fugir, só que eu não aguento, quando eu começo a trabalhar eu não escondo não, não sei, deve ser o janeiro. O corpo quente você trabalha, viu? Não muito, mas trabalha, mas se o corpo esfriar você desanima: “porque eu fui fazer aquilo ali?”
P/2- É.
R- E os meus meninos brigam comigo, então aquela que é médica cansa de brigar comigo: “É capaz que se o senhor quebrar uma perna e ter quebrado um osso, a idade que o senhor tem o senhor vai sofrer”.
P/1- Senhor César, eu queria saber então o que o senhor achou de ter participado desse projeto?
R- Eu acho muito bom porque o que eu falei aqui eu não inventei não, falei o que eu via, o que nós fizemos lá com os colegas. Agora, no dia em que eu me aposentei, eu vou falar uma coisa que eu até chorei, espera aí, deixa eu contar, depois eu vou contar o resto.
P/1- Tá.
R- Me ajude a lembrar, hein?
P/2- Claro.
R- Chegou uma turma de colega lá em casa e me levaram um relógio de parede, sabe? Eu tenho um irmão que é empregado também, aposentou também, chama João, ele que levou o pessoal sem me falar, chegou aquela turma lá: “Olha, trouxemos um relógio pra você aqui”, fizeram uma vaquinha besta, tá aí, tá lá na parede, mas fiquei até sem ele, porque fizeram um discursozinho em nome da minha família, em nome do meu trabalho, tinha até um que era chefe, está até doente, coitado, de vez em quando eu visito ele, chama Adelino Reis, eu visito ele lá de vez em quando.
P/1- Foi a despedida?
R- Tinha o Bastião, que era agente da estação também, ele dava uma floriadinha também (risos).
P/1- (risos) Foi a despedida?
R- É. Em 1976, é primeiro de maio de 1976, eu tinha um mês que estava aposentado. Eles me colocaram lá, em Valadares, na delegacia do sindicato como operário padrão, eu tenho até a medalha aqui, eu trouxe a medalha pra vocês verem.
P/1- Ah, que bom!
R- Pra vocês darem uma espiada. O que a Vale me deu, dado, foi essa medalha.
P/2- Olha, que bonito! Muito bonito!
P/1- Olha, bacana!
R- Foi operário padrão da delegacia do sindicato de Valadares.
P/2- Ferroviário padrão, né?
R- É.
P/2- Olha que bonito!
P/1- Mostra aí pra...
P/2- Pra câmera, é.
P/1- Pra câmera, por favor (risos).
P/1- Parabéns, né? Pela medalha.
R- Amém Jesus. Eu sei dizer minha filha, aquele tempo que eu tive na estrada aí, a gente chegava cansado, mas era divertido.
R- Era divertido mesmo, viu?
P/1- Então queria agradecer.
P/2- Sua participação. É a pergunta, a última que eu faria, se o senhor pudesse rever alguma coisa da sua vida, fazer alguma coisa diferente, o que o senhor faria?
R- Como eu falei já hoje, com a idade que eu tenho o que eu vou fazer?
P/2- Não, mas no passado, se o senhor pudesse ter feito alguma coisa diferente...
R- Ah, no passado se eu pudesse, eu sempre lembrei assim, eu teria comprado muita terra pra criar gado, sabe? Mas cadê? Com o que? Eu tenho um menino que ele é doido numa fazenda, o Carlinho, Nossa Senhora, não dá, eu falei: “Carlinho, o que é isso?”, é isso mesmo rapaz, tem que desejar, arrumou umas vaquinhas, colocou lá no terreno de Frei Gaspar, e tá lá, mas ele está trabalhando de empregado agora. E um caso que se você não tiver coragem de fazer o negócio da prestação, que tem coragem de fazer isto, né? E a situação que está atravessando, eu digo o mundo, não é o Brasil não, sabe? Tá difícil a vida, eu estive lá fora, tem cinco anos que eu cheguei da Itália, vai fazer agora em agosto, dia cinco, eu não queria nem ir, mas o menino disse: “Papai o senhor tem que ir”, aquele que está lá em Porto Velho, “O senhor vai que nós estamos pagando a passagem e a passagem é cara” (risos), aí eu resolvi e fui, mas vale a pena conhecer meus irmãos, se vocês não conhecem, vale a pena conhecer, tá?
P/1- O senhor foi visitar parentes lá? 1:33
R- Não, tem parente lá mas olha o tempo da gente, e tem parente, depois o que da Usiminas e levou o passaporte que está com o pai dele e está vivo, é um primo meu chama Guilherme Giacomin, ele tem, parece que é 94 anos, e está vivo e ______, uma saúde estrondosa também, então eles tem esse passaporte lá com ele, o passaporte do vovô, quando ele veio, morreu em Demétrio com 97 anos, 93 anos, morreu com 93 anos, limpando o pasto, meu avô, pai de papai, o passaporte era para São Paulo, a imigração, mas diz o Guilherme que o Cônsul da Itália mandou descarregar em Espírito Santo, em Vitória, até lá em Ibiraçu tem uma placa da data, mas não me lembro bem se é 1902 ou se é 1901, a placa está lá no município de Ibiraçu, então uns foram pro Norte de Colatina outros foram Santa Tereza, outros para Domingos Martins, em Vitória, vocês conhecem pôr ali?
P/1 e P/2 - Não.
R- Espalharam pôr aí, foram pra _________ outros pra Norte de Colatina, estão todos espalhados e tem muito Giacomin por aí, se nasce parentes meus, mas não sabe. Muitos Giacomin.
P/1- Senhor César, eu queria pedir para o senhor se despedir da gente com algumas palavras em Italiano (risos).
R- O meu italiano é atravessado.
P/1- Não tem problema.
P/2- A gente não se importa (risos).
R- Olha, eu vou falar uma palavra que eu fiz lá fora. Na Itália, em Roma, em Vaticano nós ficamos quatro dias, eu, o Júlio, meu menino que insistiu pra eu ir, a minha patroa, e a Carla que estava estudando na França, terminando um curso lá que nós ajudamos também, graças à Deus, e o marido da Carla. Nós ficamos dezoito dias lá fora. A gente ia fazer lanche nos país lá, na Alemanha, na Suíça, Paris, estivemos na Espanha, estivemos em Roma, então ia fazer lanche, eu digo: “Hoje...”, eu falei com a Carla: “Quando ficar pronto nós vamos fazer o lanche, eu vou soltar a minha matraca lá no meio daquele dois italianos” era Tony e Lino, chamavam os dois. Tinham trinta e poucos anos cada um, novo, rapaz novo, vermelhão, aí eles voltaram e se... Antes da gente apanhar lá pra depois a gente comer ______ ____ aí eu: “_______ malandro”. Eu falei: “Pra ir trabalhar malandro”, na primeira eu falei: _____ ___ ____, né? O certo é _______, né? Aqui, então ele disse que não entendeu a língua, então eu repeti: “Vai trabalhar malandro”. Também… Daí a minha menina transmitiu pros dois, danada foi aí.
R- É, oh, ia fazer lanche fora, tinha que levar pai que não tinha empregado pra ir buscar, é assim a situação, por isso digo, o mundo todo, não é só o Brasil não, que está nessa situação aí, e tem muita gente indo pra fora pra trabalhar.
P/2- É.
R- Muita gente, mas tem que ir com uma profissão, se não tiver profissão não dá.
P/1- É. Senhor César, então eu quero agradecer sua participação, muito obrigada por o senhor ter vindo.
R- Se não ficou bem feito vocês...
P/2- Ficou ótimo, senhor César (risos).
P/1- Imagina. Excelente. Obrigada.
R- Amém Jesus.
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