IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Nilson Ramos Almada, nasci na cidade de Bananal, estado de São Paulo, ao dia 12 de março de 1948. FAMÍLIA Meus pais: Nilton Coelho Almada e, minha mãe, Geralda Ramos Almada. Meu pai era funcionário público dos Correios e Telégrafos. Trabalhava em Bananal. Minha mãe era dona de casa. Meus avós trabalhavam com fazenda, eram fazendeiros na época. Em Bananal, mesmo. O que eu tenho notícia é que eles são brasileiros mesmo, mas de descendência espanhola, algum português - é uma mistura. E minha mãe mais brasileira mesmo, nascida aqui mesmo, alguns traços de índio. Somos quatro irmãos, dois casais. Nascido em Bananal só eu, o mais velho; depois a minha irmã e o terceiro nasceram em Taubaté; e a mais nova nasceu em Lorena. Meu pai pediu a transferência do Correio e veio trabalhar em Taubaté, onde nós ficamos um ano e um pouquinho talvez. Aí meu pai pediu novamente uma transferência para Lorena. INFÂNCIA Eu acredito que saí de Bananal com quatro pra cinco anos, e quando nós mudamos daqui eu fui fazer seis anos em Lorena, já. De Bananal eu tenho um pouco de lembrança porque o meu pai tinha um sítio, e nesse sítio eu ia com o empregado buscar leite numa charrete. Então eu tenho uma certa lembrança dessa época. O que me marcou muito em Taubaté é que meu tio tinha uma fábrica de doces, e isso marca muito, aqueles tachos enormes com doce de abóbora, doce de banana. E tinha um cachorrinho que chamava Coimbra, em homenagem àquela música da época. Então são coisas que apesar da pouca idade me marcaram muito. MIGRAÇÃO Mudamos pra Lorena. Nós chegamos em Lorena e foi uma coisa diferente pra nós, porque nós não tínhamos casa logo que nós chegamos lá. Então ficamos alguns dias numa casa muito ruim, até meu pai conseguir uma outra casa melhor. Era num bairro retirado. Ficamos algum tempo e depois viemos pro centro. Quando nós viemos para o centro, o meu pai...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Nilson Ramos Almada, nasci na cidade de Bananal, estado de São Paulo, ao dia 12 de março de 1948. FAMÍLIA Meus pais: Nilton Coelho Almada e, minha mãe, Geralda Ramos Almada. Meu pai era funcionário público dos Correios e Telégrafos. Trabalhava em Bananal. Minha mãe era dona de casa. Meus avós trabalhavam com fazenda, eram fazendeiros na época. Em Bananal, mesmo. O que eu tenho notícia é que eles são brasileiros mesmo, mas de descendência espanhola, algum português - é uma mistura. E minha mãe mais brasileira mesmo, nascida aqui mesmo, alguns traços de índio. Somos quatro irmãos, dois casais. Nascido em Bananal só eu, o mais velho; depois a minha irmã e o terceiro nasceram em Taubaté; e a mais nova nasceu em Lorena. Meu pai pediu a transferência do Correio e veio trabalhar em Taubaté, onde nós ficamos um ano e um pouquinho talvez. Aí meu pai pediu novamente uma transferência para Lorena. INFÂNCIA Eu acredito que saí de Bananal com quatro pra cinco anos, e quando nós mudamos daqui eu fui fazer seis anos em Lorena, já. De Bananal eu tenho um pouco de lembrança porque o meu pai tinha um sítio, e nesse sítio eu ia com o empregado buscar leite numa charrete. Então eu tenho uma certa lembrança dessa época. O que me marcou muito em Taubaté é que meu tio tinha uma fábrica de doces, e isso marca muito, aqueles tachos enormes com doce de abóbora, doce de banana. E tinha um cachorrinho que chamava Coimbra, em homenagem àquela música da época. Então são coisas que apesar da pouca idade me marcaram muito. MIGRAÇÃO Mudamos pra Lorena. Nós chegamos em Lorena e foi uma coisa diferente pra nós, porque nós não tínhamos casa logo que nós chegamos lá. Então ficamos alguns dias numa casa muito ruim, até meu pai conseguir uma outra casa melhor. Era num bairro retirado. Ficamos algum tempo e depois viemos pro centro. Quando nós viemos para o centro, o meu pai resolveu montar uma bicicletaria. Ele trouxe de Bananal um tio pra trabalhar com a gente, e daí praticamente começou a minha vida no comércio. Eu tinha sete anos. Eu já ajudava. Eu não agüentava virar uma bicicleta pra poder consertar, e alguém virava para mim. Eu já lixava uma câmara de ar, e começou ali. Lorena, a bicicleta lá... Talvez seja uma das cidades que mais tem bicicleta per capita no Brasil, por ter uma topografia plana. No trânsito, lá se respeita a bicicleta, e não o automóvel. EDUCAÇÃO Eu comecei no Grupo Gabriel Prestes, que era perto da minha casa, depois passei pro ginásio, pra Escola Irmã Zoraide, a Escola Patrocínio São José, aí passei para o ginásio do estado. A escola era normal, como qualquer outra na época - pelo menos o que eu passei, nunca tive nenhum problema. Não era o primeiro aluno da sala, mas estava ali no meio, mais ou menos. INFÂNCIA Nós brincávamos... Eu adoro jogar futebol; acho que jogo futebol desde quando aprendi a andar. Então eu jogava futebol e à noite era brinquedo na rua, de mãe da rua, de polícia-e-ladrão, como toda criança dessa época. Eu estudava de manhã e trabalhava à tarde. Depois ainda tinha aquela admissão que fazia à noite, então era muito corrido, porque meu pai era muito exigente nessa parte de trabalhar. Em casa era tudo normal, dava as fugidas pra jogar futebol, como todo garoto. JUVENTUDE Nós íamos nadar - tinha o rio - , nadar, jogar futebol, às vezes pescar - ia muito pescar com o meu pai, com meu tio - , e as brincadeiras normais. Passava o tempo assim. Isso já com uns catorze, quinze anos. Freqüentava bailes... As festinhas, naquela época, eram muito tradicionais as festinhas nas casas, e nós não éramos assim, bom de dinheiro, então o clube que freqüentava, era praticamente as brincadeiras que nós fazíamos. Na época existia um ou dois clubes, mais para adultos, não é como hoje. O clube principal da cidade a gente já tinha dificuldade pra ser sócio, mas era legal. TRANSPORTE Às vezes queria comprar alguma coisa diferente, tinha que vir a São Paulo. Ia de ônibus, viação Cometa. Ainda, naquela época, vinha com o meu pai. Às vezes era comprar um presente ou comprar um sapato: meu pai vinha a São Paulo. Ia pela estrada velha, a Dutra antiga ainda, que era uma pista só. São Paulo me marcou muito - porque eu tinha um tio e nós ficávamos na casa dele - , então, eu lembro que era caminho da Penha, avenida Celso Garcia, então ia comprar numa loja muito grande na Celso Garcia, onde meu pai, até na época, comprou um gravador. Meu pai sempre adorou música, sabe, então aquilo me marcou muito. Era um gravador italiano, eu lembro até o nome, Gelozo - na época, aquilo pra nós era uma febre, porque poucos tinham um gravador, ainda mais importado. Então aquilo me marcou muito. E o tempo que às vezes eu passava um pouco das férias lá na casa da minha tia. JUVENTUDE A gente ia no rio, não é o Rio Paraíba, não, era um rio mais distante, um riozinho pequeno que toda garotada da época ia. E freqüentava muito o oratório, participava muito do oratório, oratório lá do Salseiro. Todo dia à tarde ia pro oratório, e lá ia rezar, ia brincar, ia fazer tudo. Participava, depois das sete horas eu ia embora pra casa. A maior parte dos nossos amigos era lá do oratório, você convivia praticamente todos os dias. Ali você aprendia religião, e a gente aproveitava pra se divertir. Com dezoito anos servi na Escola Especialista de Aeronáutica de Guaratinguetá. Era uma escola grande, até hoje, uma escola grande onde se formam, praticamente, acho que quase mil alunos por ano. É uma escola muito boa, muito bem organizada, e eu servi... Quatro meses depois, do chamado recrutamento, eu passei a soldado de primeira classe, então já tinha o meu vencimento - era um vencimento maior do que o funcionário comum, eu trabalhava lá dentro, com o material bélico, trabalhava com arma, limpeza, conservação, com armamento, e ali fiquei até dar baixa. Fiquei um ano só, não quis ficar, até recebi proposta do capitão da época - ficou muito amigo - mas eu não quis ficar. Em Lorena, antigamente era o 5º RI, 5º Regimento de Infantaria. Só que a Aeronáutica era considerada mais elite, e dava aquela esperança: “Vou ser sargento da Aeronáutica”. Naquela época, como era pertinho, e tal: “Eu vou servir Aeronáutica”. E o soldado da Aeronáutica era um soldado que tinha mais alguns privilégios do que o soldado do Exército, e aí eu fiquei durante um ano, um ano e pouquinho, só. TRABALHO Mexia com armamento. Praticamente foi por ter uma experiência que eu fui admitido nessa fábrica de explosivos, mais tarde. Essa fábrica era em Lorena, a Val Paraíba de Lorena. Era uma divisão da Mantiqueira, que chamava, da fábrica maior. Eles fabricavam esses tipos de foguetes, foguetes pequenos, que colocavam em bazuca, uns foguetes lançados de avião, mas pequenos. Então eu trabalhava com aqueles tubos: tinha que lixar, tinha que colocar numa solução pra tirar ferrugem, tal. Mas era um serviço meio pesado. Eu não cheguei a mexer com explosivo, mas se explodisse alguma coisa era óbvio que afetaria todo mundo dentro da fábrica. A cidade tinha receio da fábrica, tinha. Morreram muitas... Perdi até um amigo, na época, acho que com vinte anos, mais ou menos. Esse já mexia na fábrica de Piquete, que também era perto, mexia com explosivos. Lá sim fazia pólvora, fazia nitro. VALE DO PARAÍBA Em Piquete era uma fábrica do Exército e em Lorena era fábrica particular. Usava muito explosivo pra pedreira, pra essas coisas, e tinha esses foguetes também que era nessa divisão da Mantiqueira. Fornecia pro Exército. Convivi com pessoas de todos os lugares do Brasil, tinha gente do Brasil todo. E os soldados, que éramos nós, tinha gente de Lorena, de Aparecida, de Guará, de todo o Vale aqui. Eu não ficava muito em Guará. O tempo que tinha, eu já vinha direto pra Lorena. Às vezes ia, como todo jovem, passear em Guaratinguetá, mas vivia mais em Lorena. Tinha o ciúme do pessoal de Lorena que vinha namorar as meninas de Guará e vice-versa. É, isso tinha. Naquela época, para você ir num bairro à noite, você tinha que ser bem conhecido, senão saía correndo. Mas isso não com o pessoal da Aeronáutica, não, da Aeronáutica era respeitado. Vinha soldado do Brasil inteiro, quer dizer, vinha aluno pra fazer curso aqui do Brasil inteiro. Tanto que Guará, hoje, é uma mistura: tem aqueles que ficavam, faziam o curso, se formavam, se espalhavam pelo Brasil todo, e muitos ficavam em Guaratinguetá. Tinha paquera na praça em Guará, e tinha também em Lorena, lógico. Em Lorena, a praça principal - talvez uma das mais bonitas aqui do Vale do Paraíba - tinha um aspecto interessante: a praça é redonda, então se dava volta na praça, os homens andavam de um lado e as mulheres do outro, se encontravam e arrumava as paqueras. Você só ia ver a paquera na outra volta. Isso ficou muitos e muitos anos. Dividia também a classe social: aqueles com menos poder aquisitivo ficavam mais pra fora, do lado de fora da praça; aqueles classe média, ficavam dentro da praça rodando; e a elite, tinha o pontinho que ficava meio separado, meio retirado do pessoal. Era bem interessante, bem divertido. CIDADES Lorena Lorena tinha a tradição da festa de 15 de Agosto, tem até hoje. Naquele tempo, as moças esperavam o ano inteiro pra festa do 15 de Agosto. É a festa da padroeira da cidade, padroeira Nossa Senhora da Piedade. Então é tradição, tinha a corrida de bicicletas - a festa durava uma semana, até hoje ainda dura uma semana. Já chegou até a durar mais do que uma semana, mas agora já soube que vão voltar pra uma semana. É muito difícil, hoje em dia. Então as moças se arrumavam... e muito bem, tinha que ter vestido pra semana inteira. Bailes maravilhosos, isso já pra classe..., já mais elite, a classe do Comercial, que era justamente o Clube Comercial de Lorena, fundado por comerciantes de Lorena - se uniram pra formar o Clube Comercial de Lorena. Essa mudança de comércio em Lorena tem mais ou menos uns seis, sete anos que começou. Quando chegaram em Lorena essas lojas de departamentos, Pernambucanas..., então começou a ter em Lorena tudo o que se procurava fora, se encontrava em Lorena. Então o comércio hoje de Lorena é muito forte. Por ter poucas indústrias, o comércio hoje representa 70% dos empregos na cidade. O comércio de Lorena é um comércio bem forte. COMÉRCIO Quando eu saí da fábrica de explosivos, eu começo entrar, praticamente, no comércio, a ser proprietário. Meu pai tinha um ponto comercial, que antes era da bicicletaria. Dividiu o salão no meio e eu coloquei uma quitanda e meu tio uma bicicletaria. Com o tempo, o meu tio mudou, eu fui ampliando a quitanda, fiz uma mercearia, da mercearia... Naquele tempo se usava muito óleo comestível a granel, então você ia com a garrafa e enchia a garrafa de óleo comestível. Tinha do lado uma casa de óleo, de óleo a granel - tambores - e ovos, aí eu comprei a casa dele e passei pra minha mercearia. Depois comprei uma Kombi, passei a ir buscar o óleo, e fiquei um bom tempo com a mercearia. Isso foi mais ou menos em 70, por aí. Em 60, eu dei baixa, logo que eu dei baixa da Aeronáutica... Foi 68. Eu fiquei, mais ou menos em 69... Acho que 74, mais ou menos, 73 a 74. CIDADES Lorena Nessa época não tinha supermercados, era só armazém, só tinha armazém nessa época, eram poucos, quer dizer. Relativamente, hoje não existe mais, o supermercado já dominou. No centro da cidade em Lorena, pra você [ver] nós temos um armazém daquele modelo antigo - não tem mais armazém no centro da cidade, nos bairros ainda tem alguma coisa, mercearia e tal, mas armazém, como chamávamos antigamente, não tem. Nos anos 70, então as compras ainda eram feitas... Era feito no balcão, com listinha, que você ia na lista. O primeiro supermercado em Lorena deve ter surgido em 75, 76, e ficou durante um bom tempo. O supermercado - que, até por sinal, um dos filhos dele ainda toca o supermercado em Lorena - era na praça principal, e ali começou o primeiro supermercado. Mas o forte lá era o armazém, mesmo com o supermercado, o forte ainda era o armazém, porque os mercados não tinham tradição. Havia até aquele medo de entrar no supermercado, era tudo aberto se pegava as coisas..., então tinha aquele receio de alguém estar pegando aquela coisa... Esse armazém, que era o mais forte de Lorena, transformou em supermercado justamente na época que eu comecei a trabalhar como vendedor. COMÉRCIO Fechei a mercearia. Fechei, passou um tempo, eu fechei a mercearia. E fechei porque enjoei daquilo. Na época não foi por motivo nenhum. Fechei a porta, graças a Deus, não tinha nada pra... Aí fui trabalhar como vendedor, aí entrei na Piraquê. Os produtos da mercearia, comprava, a parte de frutas e verduras, eu vinha comprar a maior parte em Guaratinguetá, que tinha um mercado muito bom, um atacado muito bom na região do Piaguí, aqui em Guaratinguetá. Então se encontrava ali, às terças e sextas. Eu ia de carona e trazia aquela mercadoria pra mercearia. E a parte de lataria comprava por lá mesmo, de vendedor. Geralmente, eles eram da cidade mesmo. Perto do Vale eles tinham representação. Um vendia macarrão, outro a parte de lataria, outro a parte de farinha, essas coisas. Isso já era 73, mais ou menos, 74, e as entregas vinham de caminhão, pela Dutra. Eu vendia também com caderneta. Lorena, na época, tinha grandes fazendeiros. Produzia-se muito arroz em Lorena, por ser topografia plana, muitos alagados. Então Lorena era tradicional em arroz, muito mesmo - plantação boa de arroz em Lorena. Tinha clientes da área rural, fregueses que vinham comprar na mercearia. Não entregava em casa, naquela época, não tinha ainda esse tipo de... Naquele tempo ainda se usava aquela - eu acho até interessante, acho até que merece frisar isso - a pessoa vinha com uma lista, tinha um vendedor pra atendê-lo e essa pessoa ditava um produto de cada vez: “Eu quero duas latas de extrato de tomate”, ele ia lá na prateleira, pegava duas latas de extrato de tomate e trazia. “Agora quero um quilo de sal”, ele ia lá. E se não fizesse aquilo, aquele freguês, aquele cliente ia embora, não gostava mais, ele queria aquilo que estava ali. Tinha que ser devagar. Tinha que ser de produto... Chegava lá: “Oh, vou deixar a listinha lá e depois venho buscar a compra”. Isso passou bem depois, mas antigamente era assim, era produto por produto que era colocado, aí tinha alguns garotos que entregavam, eu mesmo trabalhei entregando compra naqueles carrinhos de madeira. Marcava na caderneta só para o pessoal da vizinhança, era uma mercearia pequena, não tinha jeito de concorrer com os armazéns, então mais era frutas e verduras. Tinha muito armazém então em Lorena, nessa época tinha. A tradição daquela época era ter armazém, naquela época não se falava em supermercado, só veio bem depois. Só ali perto de casa... Praticamente, tudo se direcionava ao centro. Não é como hoje, que você chega no bairro, tem um, dois, três supermercados. Mesmo sendo uma cidade pequena, tem. Antigamente, todo mundo se direcionava para o centro da cidade. O mercado, o antigo Mercadão, que chamava lá em Lorena... E feira que tinha... Chegava sábado, vinha pra cidade: vinha gente da roça, vinha todo mundo. Então naquele tempo era armazém. VALE DO PARAÍBA São José é pioneira, aqui no Vale do Paraíba, São José é pioneira em tudo. O shopping começou primeiro em São José. E até o shopping é interessante: o shopping não é mais pra consumir, o shopping é pra passear. Então ainda é batalha nossa no sindicato segurar os nossos consumidores na cidade. E hoje está ajudando muito o custo de sair de Lorena pra se dirigir a São José, as pessoas estão pensando bem. Mas se tornou mais um lazer, ir ao shopping, hoje, principalmente aqui na cidade de Lorena, e acredito que em Guaratinguetá. Taubaté não, já tem o seu shopping. CIDADES Lorena O comércio já tinha melhorado bem. Surgiram aquelas casas de retalhos, de panos, já começou móveis - que na época não tinha. Já se comprava muita coisa em Lorena naquela época - material de construção. A cidade estava se expandindo. Era ainda um comércio fraco. Como Lorena sempre teve poucas indústrias... - agora que está deslanchando - , mas Lorena até hoje ainda tem tradição em calçados, pra você comprar calçados e material de construção. Lorena é muito bom pra se comprar calçado porque tem muita butique, e fora outros pólos que estão surgindo em Lorena, mais na parte industrial. TRABALHO Fui vender biscoitos de massa da Piraquê. Minha praça era Lorena, Cachoeira e Piquete. Era pouco, mas para o vendedor era suficiente. Você não tinha um campo grande, então o que você fazia? Você, de vez em quando, até juntava: “Você quer duas caixas de biscoito, você quer três?”, então fazia um pedido. E dava pra trabalhar, não posso reclamar do tempo que eu fiquei na Piraquê. Ia a Piquete, por exemplo, às vezes quase duas vezes por semana. VALE DO PARAÍBA Piquete vivia em função da fábrica Presidente Vargas. Só tinha uma indústria, e o Exército que tomava conta da fábrica, da segurança da fábrica, porque se tratava de uma fábrica de explosivos, então o Exército ficava ali tomando conta. Piquete era aquela vidinha pacata, dentro daquilo ali, os funcionários trabalhavam, de casa pro trabalho e... Todo mundo trabalhava na fábrica. Tinha a zona militar e dali pra frente era o Exército que determinava o que deveria ser feito, horário. Tudo que fosse naquela parte do Exército ali, ele que administrava tudo. Para trabalhar lá não precisava ser militar. Pelo contrário, militar só tomava conta da segurança e da chefia. TRANSPORTE E outra coisa, eu acredito que a metade, mais ou menos, dos funcionários da fábrica, morava em Lorena, tanto que tinha um trem que fazia o trajeto de Lorena a Piquete. Eu me lembro, porque meu pai fez durante sei lá quantos anos esse trajeto. Ele era condutor de malas - era o nome do cargo dele - , essa mala era chamada mala postal, então todo dia ele levava essa correspondência - que eram várias malas - , levava pra Piquete e ia no trenzinho. E eu fui, sei lá, milhares de vezes, junto com ele levar essas malas em Piquete. Esse trenzinho ia todo dia, uma vez por dia ele ia a Piquete e voltava. Ele saía daqui mais ou menos entre uma, uma e meia, e voltava às seis horas da tarde, seis, seis e pouquinho. Ah, se eu não me engano, demorava parece que era uma hora de Lorena a Piquete. Só fazia esse trajeto. O trem era da Central do Brasil. Na época não tinha nada vinculado ao Exército, apenas ele parava na estação dentro da fábrica. Ele parava primeiro na estação, no começo da cidade, depois parava na estação antes de entrar na zona militar, e depois ele ia até a fábrica buscar funcionário, e depois voltava. CIDADES Lorena O que movimentava o comércio de Lorena, na época eram justamente os funcionários da fábrica Presidente Vargas. Entrava aquele dinheiro todo, se comprava tudo em Lorena - até hoje Lorena recebe muita gente de Piquete, que o comércio de Piquete é bem fraquinho. O pessoal ganhava bem, pela época. Você via um Natal daqueles, a gente passear com bicicleta nas costas, com carrinho. Você ganhava bem na época. Esse pessoal trabalhava na fábrica de Piquete, que era chamada fábrica de Pólvora Sem Fumaça. Não sei por quê. Está escrito até hoje num arco que tem lá. A fábrica existe até hoje, só que com um pequeno número de funcionários. Usam tecnologia bem mais avançada, produzem outras coisas. Tem até hoje. TRABALHO Eu ia lá vender biscoitos Piraquê. Como a praça era pequena, eu tinha que vender em todo lugar. Em Lorena eu vendia até em farmácia - na época que era difícil alguém vender biscoito em farmácias - , vendia nas mercearias, bares, no armazém, lanchonete, tudo. Na época a gente procurava todo lugar. Praça pequena, você tinha que correr atrás. Cachoeira Paulista também era pequena. Maior que Piquete, mas pequena. Nessa época já tinha carro, quando trabalhava na Piraquê, já tinha carro próprio. Tanto em Piquete como isso, era em 70. Na Piraquê eu entrei em 75 - o meu filho nasceu, mais ou menos, em 75 - eu entrei na Piraquê e saí em 86, 87, por aí. Até entrei, já saí, depois me chamaram, depois de algum tempo fiquei mais uns dois anos pelo Rio de Janeiro, pela matriz do Rio, e foi todo esse tempo. Então eu fazia Cachoeira também, cheguei a fazer algumas vezes pra cobrir algum amigo, tudo, Guaratinguetá. Mas o forte era Lorena, mesmo. VALE DO PARAÍBA Tinha o biscoito de Jacareí, na época. Era um nome, Jacareí era um nome, só que Piraquê, na época, já tinha propaganda em televisão, muitos lembram até, acho que do Costinha, fazia uma propaganda da Piraquê na TV, até hoje ainda se fala nisso. Então a televisão... Na época, em Lorena pegava o sinal da TV do Rio de Janeiro, quer dizer, era um sucesso, então levava essa vantagem, esse de Jacareí, por ser também um bom biscoito, mas não tinha a publicidade que tinha o biscoito da Piraquê. CIDADES Lorena Tinha, a Notre Dame era muito famosa em Lorena, a Notre Dame, tinha também a... Notre Dame era de tecidos. Tinha a Cobianque, a loja de tecidos que se destacou muito bem em Lorena, de tecidos e roupas; tinha a loja de móveis, tinha a Carioca, Casa Carioca de Móveis - deixa eu ver se eu lembro bem de mais alguma assim, tem a... Essas lojas de tecidos vendiam tudo quanto era tipo de tecido. Só vendia tecido, a roupa feita já estava iniciando quase... Aí depois já vinha a Pernambucanas, essa ficou famosa... A Caltabiano, também vendia bem lá, essa Cobianque - são várias lojas. A loja do Salomão - que geralmente os libaneses mexiam bem com isso daí - , tinha a loja do Badih - a gente tratava mais assim por nome da pessoa, do dono, então você não tratava muito com o nome fantasia, que hoje a mídia faz com que você não vai colocar o nome do dono, você vai colocar o nome fantasia. Então naquela época, não: “Eu vou no armazém do seu Jorge Vieira”, ou: “Vou no armazém do seu Zé Vieira”, que era irmão, ou: “Vou no armazém do Povo”, esse já tinha um nome. E as lojas eram tratadas pelo nome do dono. Lorena, por ser muito pertinho de Minas Gerais, tem muito mineiro. É uma cidade... É um pessoal muito bom, são pessoas muito boas, você lidava. Justamente por ser mineiro, o pessoal, vem muita gente de Minas pra Lorena, então Lorena tem muito mineiro, pessoas calmas, pessoas boas de você lidar. Mas assim, do Norte, Nordeste não houve isso aí. E de fora, alguns libaneses, turcos - que antigamente não se sabe se eram libaneses, se era árabe, se era judeu: era turco, o lado turco, então era assim que era tratado antigamente. Veio pra Lorena, uma época, uma colônia de chineses pra plantar arroz, com nova tecnologia pra plantar arroz, mas ficaram alguns anos só, e depois foram embora. As ruas de comércio tradicionais continuam as mesmas: rua Principal, a Rua Duque de Caxias, que hoje é o calçadão, e era isso, na época, era bem centralizado. Fora os armazéns que eram nos bairros. TRABALHO Aí eu fui montar, a convite de um amigo, uma distribuidora de ferro, chapa, ferro pra serralheria. Fiquei com ele - uma pequena sociedade - fiquei com ele algum tempo. Aí, como a minha parte era muito pequena e estava difícil pra mim, acertamos tudo. É meu amigo até hoje, uma pessoa espetacular. Depois montei uma representação. Eu tinha um prédio com três cômodos comerciais e tinha vaga. Montei uma representação, comecei a trabalhar com seguro, com xerox, com copiadora, e fiquei um tempo. Aí surgiu uma vaga no Benjamim São Paulo. O Benjamim era muito famoso em São Paulo, um dos maiores atacadistas do Brasil, na época, e fui trabalhar lá. Lá eu fiquei um ano, trabalhando no Benjamim, com praticamente tudo aquilo que eu já trabalhava e mais alguma coisa: era papelaria, brinquedos, utilidades, plásticos, uma infinidade de produtos. Eu trabalhava de Taubaté até Cruzeiro. Viajava essas cidades todas, todos os dias. Taubaté se destacava mais entre elas, em relação ao comércio. Aí já era anos 90, quase... Pelo parque industrial - sempre teve muitas indústrias em Taubaté, então o poder aquisitivo... Logicamente, que você consuma mais. Taubaté sempre se destacou, e depois a minha melhor praça era Lorena, não pelo comércio, mas pela amizade, aquela amizade antiga. Eu tinha certos privilégios, e tinha um grande supermercado em Lorena - era o segundo da região, só perdia pra um supermercado de São José dos Campos - , justamente foi o primeiro supermercado que Lorena teve, então eu tinha essa facilidade de poder vender bem em Lorena. Porque depois de Taubaté, praticamente seria Guaratinguetá, mas Lorena... Nessa época, Pinda era bem pequena até, Pinda não se destacava como hoje se destaca. Pelo Benjamim, vendia de tudo. Eu tinha perto de 5 mil itens. Eu tinha que atender dois fregueses por dia, quer dizer, eu fazia muito mais, porque o tempo em cada supermercado era de três horas pra tirar um pedido, porque eu tinha o supermercado inteiro. Não tinha só carne, pão, essas coisas, mas tinha... O Benjamim era um atacado espetacular. Eram talões... E o duro é que você ficava em pé, em cima de um carrinho daqueles de compra, a pasta aberta e tudo. Pra você ter uma idéia, a lista de preços de produtos tinha duzentas folhas e tinha que ser trocada todos os dias, porque todo dia, naquela época de inflação alta, tinha remarcação. Saía de casa em torno de seis e meia, por aí, pegava o malote aqui em Taubaté - todos os dias - , e ali sentava no banco, e quando ia começar a trabalhar, já eram dez horas da manhã. Se você ligasse pra lá, às vezes, nesse horário, tinha mesmo alguma alteração. Passava o pedido via malote, no dia seguinte, no mesmo malote que eu recebia a mercadoria, no dia seguinte ele levava a mercadoria. Eu morava em Lorena e esse malote era de Taubaté, então todo dia eu tinha que vir em Taubaté. Fora as reuniões, que tinham quase uma vez por semana em São Paulo. Então era difícil. Atendi de Taubaté até Cruzeiro. Cruzeiro eu tinha poucos clientes porque não dava tempo, não tinha condição. CIDADES Lorena Lorena, infelizmente, ela teve, vamos dizer assim, uma parada no tempo. Uma certa fase de Lorena ficou, pelos seus governantes... Lorena não tinha um poder político, começou a desenvolver de cinco, seis anos pra cá, e mais ainda com o novo prefeito. Lorena ficou bem parada no tempo. Eu acredito que dentro de cinco anos Lorena terá um salto muito grande, porque não tem... São José já está saturada, aqui em Taubaté... Então Lorena é bem estratégica, Lorena está praticamente no centro do nosso país, pelo menos o centro industrial, financeiro, porque Lorena está o quê? Acho que cinqüenta quilômetros de Minas, a menos talvez de cinqüenta também da divisa do Rio de Janeiro e perto também aqui de Ubatuba, ao lado do mar. Quer dizer: Lorena é bem estratégica. Então, acredito que Lorena... Tem que vir as coisas pra Lorena; estão vindo e virão bem mais, ainda. A prefeitura está desenvolvendo um trabalho pra incubadora de indústrias, está trazendo muitas indústrias. Chegou aí a Yakult - tem muitas indústrias pra vir, ainda. Está construindo um pólo industrial. Tem áreas que são ocupáveis, uma topografia plana, água das melhores que tem na região - já foi testado, e tudo. Então, Lorena tem tudo pra crescer, falta sorte e política, mas política está tendo. Agora vamos aguardar. A cidade está oferecendo muitos incentivos, a prefeitura... Eu tenho, por ser presidente do sindicato, eu tenho muita participação junto com a prefeitura, com os secretários todos, então eu tenho muito conhecimento de tudo o que se passa na prefeitura. Me dou muito com o secretário de Indústria e Comércio. Tudo o que tem, ele passa pra mim, eu fico sabendo... Se pensa na infra-estrutura: a escola profissionalizante - o prefeito tem lá, acho que hoje, capacidade para mais de 1500 alunos, então está sendo feito um trabalho... O comércio ajuda, se prepara também. O comércio de Lorena é muito bom, você acha praticamente de tudo em Lorena. Lorena está se tornando também um pólo plástico: tem duas ou três fábricas grandes, fora as pequenas indústrias de plástico. Então Lorena se destaca muito pelo plástico. COMÉRCIO Sou um dos fundadores do sindicato, a convite de um amigo que já tinha um relacionamento. Propôs: “Vamos fundar um sindicato do comércio em Lorena”. Era a base de Guaratinguetá, nós conseguimos que Guaratinguetá cedesse, e fundamos o sindicato. Ele foi o primeiro presidente e eu era o tesoureiro. Continuamos trabalhando até... Aí ele ficou na administração durante seis anos e depois ele não quis mais: “Não, quero que você assuma”. Fui escolhido e estou perto de cinco anos no sindicato. Compramos uma sede, hoje o sindicato tem a sua sede própria, graças a Deus o sindicato se desenvolveu bem. Nós trouxemos a JUCESP pra Lorena, que é justamente a Junta Comercial [do Estado de São Paulo] que não tinha em Lorena, que tinha que se deslocar a São José ou a São Paulo pra abrir uma firma, quer dizer, isso facilitou muito o comércio de Lorena. A gente está fazendo um trabalho, trazendo também, em parceria com o prefeito, o Procon, pra Lorena. Já está tudo prontinho pra gente instalar o Procon em Lorena. Eu tenho uma parceria muito forte com o prefeito e uma parceria muito forte com o SESC e Senac. Nós fazemos um trabalho diferente lá. Nós temos também a parte de formação do funcionário, com o curso de qualificação, atendimento ao cliente, telemarketing. Fazemos a parte cultural junto com o SESC, eventos - trago muitos eventos pra Lorena também, através do SESC - , alguns cursos através do Senac e cursos feitos lá mesmo. Atendemos muita... Cursos de artesanato, curso de bijuteria, de sandálias, de fuxico, pra atender senhoras, principalmente senhoras de comerciantes, o que nos trouxe muitos resultados. No ano retrasado, colocamos mais de 1400 alunos fazendo curso dentro do sindicato. Esse ano está mais difícil, mas pelo menos mil e pouquinho nós temos dentro do sindicato. Tudo isso visando o comércio de Lorena, trabalhando pro comércio de Lorena. A nossa função é essa, de fortalecer o comércio de Lorena. A sede tem dois andares: o térreo e o primeiro andar. Tem um terreno, mais ou menos, de quatrocentos metros quadrados. Na parte de baixo tem o atendimento, a recepção, uma sala pra gerente, uma outra sala pra JUCESP [Junta Comercial do Estado de São Paulo], a parte toda de informática, a parte de contribuição, uma cozinha, e mais uma área boa, grande, mais uma sala pra curso, pra mais ou menos 45 pessoas, um quintal todo frutífero, bem plantado, cuidado muito bem pela minha gerente. Na parte de cima, tenho mais uma sala pra uns 25 alunos, a sala do presidente, a sala da diretoria. O SPC [Serviço de Proteção ao Crédito] pertence à Associação Comercial. Isso porque, na época, era o que se destacava mais. Em São José dos Campos, o SPC é do sindicato; já Taubaté, não; Pinda, também não; Guará, também não; Cruzeiro, não. Essa é mais ou menos a nossa regional aqui. São poucos os sindicatos que têm o SPC, depende muito da época, do destaque de cada entidade. Às vezes tinha cidade que não tinha sindicato, primeiro veio a Associação Comercial. É quase a mesma área de atuação. A parte da Associação Comercial é mais trabalho no SPC, na proteção ao crédito, e o sindicato é mais pra... vamos dizer assim, ele tem mais poder jurídico, ajuda na conciliação trabalhista, ele dá toda assistência ao patrão, na parte jurídica. Tem os acordos coletivos, os reajustes, os horários do comércio, então aí presta seus serviços, procura ajudar todo possível na parte do comércio, também qualificando os empregados e funcionários do comércio. Não tenha dúvida que a parceria com o SESC é importante. Só pra ter uma idéia: nós estamos numa campanha agora de Natal - o sindicato que está proporcionando essa campanha. Com o SESC consegui dois eventos pra praça principal da cidade: uma apresentação da cantora Cecília Militão - vamos levar na praça, à noite, na hora do comércio e aí vai atrair as pessoas ao centro da cidade... Nós atuamos muito na parte cultural com o SESC, então essa parceria: nós ajudamos o SESC, e o SESC nos ajuda - na organização, na divulgação, muito na parte cultural. Nós fizemos uma programação, o SESC nos trouxe um conjunto da Dinamarca, de ginastas da Dinamarca, e em Lorena tem também um muito bom que é o GRD, também de ginastas. Nós conseguimos colocar nesse clube lá de Lorena mais de 4 mil pessoas e tinha gente lá fora querendo entrar. Até artistas famosos como Chitãozinho e Xororó não conseguiu lotação total do clube. Nós conseguimos... Quer dizer: tudo isso você divulga o sindicato, você divulga o SESC e mostra pro comerciante que você está atuante. Tudo isso ajuda a desenvolver a cidade e vários eventos que nós já... O Dia do Desafio, nós conseguimos - não tinha em Lorena. Então através do SESC eu trouxe o Dia do Desafio, e o que fez? Movimentou a cidade inteirinha. Então tudo isso ajuda o sindicato e ajuda o comércio. Você movimenta a cidade, você traz as pessoas pra rua, pra consumir. E não se cobra nada, é tudo gratuito. Até se você, hoje, chegar no sindicato e quiser uma sala nossa, de curso lá, e quiser fazer curso pra teus funcionários, você vai chegar lá e é gratuito para os associados. Isso é normal. Nós temos lá cursos de calçados, que querem fazer palestras pros seus funcionários... Dar curso mesmo. Vamos supor, essas empresas de perfume e coisas: querem fazer uma divulgação. Isso é normal. O comerciário de Lorena tem oportunidades, porque tem a Associação Comercial que também faz cursos. Os sindicatos também, dos empregados e do comércio fazem, e fora aquelas outras empresas. Quer dizer: todo mundo trabalha na mesma direção. 70%, isso é estatística, 70% dos empregos em Lorena estão no comércio. O relacionamento é ótimo. Eu tenho lá o presidente do sindicato dos Empregados no Comércio: não é um inimigo, pelo contrário, um amigo, por sinal. O sindicato é na calçada da minha casa e do meu estabelecimento. Então nós nos reunimos pra bater papo na porta do meu estabelecimento. Eu acredito que não tem dois que se dão tão bem como nós. Tudo nós resolvemos, nunca tive problemas. O rapaz sério, um presidente sério e dedicado, entende os problemas da cidade. Nos damos muito bem. TRABALHO Depois do atacadista, do Benjamim... Foi muito bom, foi muito bom, graças a Deus eu me dei muito bem... Foi uma escola, o comércio é uma escola, o comércio é interessante: ou venda atrás do balcão ou na rua é a mesma coisa, o cliente é o mesmo, às vezes, com o nível diferente, mas o cliente é o mesmo, só que em todo lugar você tem cota a cumprir, então o comércio é sempre assim. É desgastante. Recebia prêmios, essas coisas. Às vezes vinha... Eu fazia o merchandising, eu fazia sim, não tem nem dúvida. Você mostrava, levava o biscoito... Naquela época - é interessante o seguinte - , eu aprendi muito com o supervisor, ele tinha - lógico, se eu fosse seguir eu não seria um vendedor, mas muita coisa eu aprendi com ele - , ele levava um pacotinho de biscoito, ainda chegava pra pessoa naqueles armazenzinhos, que às vezes andava até pedaço de terra, estrada de terra: “Ah, o senhor já experimentou um biscoitinho?”. Tinha até aquela coisa do antigo, que hoje não se faz mais - ainda mais a televisão, que vende tudo. Praticamente o vendedor hoje é tirador de pedido... Isso de oferecer o produto é no pequeno comércio; pra chegar num supermercado e fazer isso, o dono te bota pra fora. COMÉRCIO Fiquei um ano e pouco, não quis ficar mais, até queriam que eu ficasse, graças a Deus queriam me promover, eu falei: “Não, é muita loucura, essa estrada não dá”. Aí a casa... Eu tinha três pequenos pontos de comércio que eu alugava. Um deles que tinha uma sapataria - era justamente o da esquina - , tinha a sapataria e além de consertar sapato, ele vendia umas sandálias, umas bolsas. Aí falou que queria vender, até estranhei, falei: “Você quer vender seu comércio, não faça isso, pensa aí”. “Não, quero vender, quero vender pra você”. Eu falei: “Não, pensa, te dou mais uma semana pra pensar, não faça isso”. Porque ele vivia daquilo. “Não, porque eu vou arrumar um ponto menor, não sei o quê, tá, tá, tá”. Mas não foi problema de aluguel nem nada. Dei mais uma semana pra ele: “Você tem certeza?”. “Tenho.” Eu poderia até pedir o ponto, porque era meu: “Eu te dou um prazo de um ano pra você ficar, mas depois você me entrega”, mas eu resolvi: “Não, quanto você quer?”, “Tanto, X, tal”, “Não posso pagar de uma vez, posso te dar tanto, tal”. Até vendi um carro que tinha na época pra inteirar o dinheiro e comprei aquela sapataria dele, só que não ia consertar sapato - que eu não entendo de consertar sapato. Aí resolvi mudar, aí eu fui pra São Paulo, fui buscar uma mercadoria, resolvi pôr bolsas, chinelos, bijuteria e fui mudando. Fui, com o tempo, aumentando a loja. Aí, eu já entendia bem de brinquedo - porque no Benjamim eu vendia muito brinquedo, quase todas as marcas de brinquedo do mercado - resolvi colocar brinquedo devagarzinho. Fui colocando brinquedo, vi que Lorena era carente nessa parte, principalmente de brinquedos populares... Existiam algumas lojas de brinquedo, mas era brinquedo mais sofisticado pra época, estava entrando na época alguma coisa de importado, já naquela época, e resolvi investir nisso aí. E graças a Deus deu certo: fiquei bem uns dez anos com o nome de Carinhosa Presentes, porque era direcionado à ala feminina, às mulheres - que era bolsa etc. Mas vi que: “Puxa vida, estou com brinquedo e estou com Carinhosa Presentes...”, aí resolvi mudar de nome, passou a ser Juju Brinquedos, e graças a Deus a gente toca. Trabalhamos eu, minha esposa e mais uma funcionária, é uma loja pequena. Brinquedo, a criança pede e os pais que decidem. Tem aquele que vem determinado: “Eu quero tal brinquedo”, às vezes, que quer aquele brinquedo. Chega - por ver uma variedade muito grande - ele se perde, ele fica... Aí a mãe: “Não é esse aqui que você quer?”, “Não”, ele já está olhando aquele outro, ele está olhando, ele já deu volta na loja. Entra o pai e a mãe, ele escolhe um: “Ah não, esse aí não, esse é grande demais pra você, isso aí vai quebrar fácil, isso aí vai fazer não sei o quê”. Aí a decisão passa para os pais. E isso é interessante: tem gente que fica na loja, já ficou na loja quase uma hora, desse jeito, brigando quase com o filho, impondo o desejo dela. É interessante... Vender brinquedo é uma coisa mais complicada, mesmo. É sempre complicada, a não ser quando a criança vem muito determinada. E o adulto, mesmo ele escolhendo pra uma criança, ele escolhe aquilo que ele gosta, não aquilo que a criança gosta. É interessante. Quando eu tenho intimidade com a pessoa, que é amigo e tal, eu falo assim: “Escuta, é pra você o brinquedo ou pra criança?”. O que você está dando pra criança, ela não está vendo, se você levar aquele ou levar esse, ela não está vendo. Às vezes, quer dar com... Atendendo ao perfil da criança, então fica uma hora escolhendo. Vendo até a faixa, mais ou menos, de 15 anos. A não ser que não seja brinquedo, mas é boné, e também os jogos, alguns jogos mais adultos. Tem também pra adulto. E também se vende pra senhoras, até de sessenta anos, a boneca. Tem senhoras que: “Vim comprar essa boneca pra mim”. É interessante, tem sim. Ela, às vezes, não quer aquela boneca que está na mídia, ela olha aquele rostinho bonitinho, um pouco ainda mais..., aquelas bonecas antigas, que trazem um semblante ainda daquele... Então ela vê muito por isso, e tem senhoras de sessenta anos: “Ah, quero aquela boneca pra mim”, vai e compra pra ela. Eu trabalho hoje, praticamente, todas as marcas; o que está na mídia, todas as marcas. A Estrela é a Estrela. Hoje se destaca a Estrela, na linha de bonecas, a Cotiplás, na linha de personagens e essas coisas, a Matel, que vem com a Barbie, Hulk, Max Steel - ela se destaca muito nisso - , outras destacam em jogos, a Gemini, em jogos eletrônicos, outras se destacam na linha de plástico, caminhãozinho. Então tem vários segmentos. Optei, na época sim, uma linha mais popular de brinquedos. Esse popular fez sucesso durante um bom tempo, até que surgiu o um e 99. Aí eu tive que mudar de estratégia, aí eu tive que deixar de trabalhar com produtos de preço baixo, para passar pra uma linha maior, justamente por isso. Hoje eu trabalho com todas as fábricas, só não trabalho com brinquedo grande, muito grande - porque eu não tenho espaço - que são parquinhos, essas coisas. Mas eu tenho praticamente tudo que está na mídia. No geral, a boneca ainda se vende mais, depois você passa por super-heróis. Hoje, a febre na cidade, em São Paulo, é o pião, que tem em todo lugar. Então isso vai indo, sei até... Porque o Max Steel, um super-herói... Primeiro vem a boneca, porque parece que se gosta de dar mais brinquedo pras meninas, isso é indiscutível... Menino: alguns jogos, uma flecha, um qualquer coisa, um arco-e-flecha, qualquer coisa que você dê pra um menino, uma trave, uma coisa de basquete, boné, essas coisas, eles adoram. Estou no ramo de brinquedos há doze anos. Desde 91. Em relação à segurança do brinquedo, nesse tempo, mudou muito. Nossa, muito. O Inmetro hoje se destaca e nos ensinou também muita coisa. Hoje, se uma pessoa vem comprar um brinquedo pra uma criança menor que três anos, a gente já tem que fazer um trabalho: “Olha, não leva esse, esse tem ponta, esse é tóxico, solta tinta, esse quebra fácil, pode engolir, peça pequena”. Então tem um trabalho muito sério, a gente faz. Tem muita gente que não está consciente, você tem que estar explicando, quer levar um brinquedo: “Olha, vou explicar, a senhora quer levar...”. Eu, principalmente, trato assim, eu quero tirar minha responsabilidade, que amanhã ou depois pode chegar: “Ah, o senhor vendeu um brinquedo, o brinquedo quebrou, a criança pôs uma peça na boca”. Eu explico direitinho, antes: “Olha a faixa etária disso aí”. E você passa outra situação também, porque, às vezes, tem o pai que quer dar um controle remoto pra uma criança de um ano, aí você fala: “O senhor quer levar, pode levar, só que eu não posso te dar garantia nenhuma. Primeiro que não vai saber nem mexer, e segundo, ele vai quebrar em dez minutos”, aí depois: “Oh, o brinquedo não está funcionando”. A linha de brinquedos, é difícil trabalhar, não é fácil, não: você tem que ter um certo tato, porque você não pode só vender, não, pegar na prateleira e estar vendendo. O nome da minha loja vem do nome da minha filha, da Juliana. A mãe compra mais brinquedos para os filhos. O pai é pouco. Porque a mãe é quem decide, ela que vem com o filho, ela que mais escolhe do que o filho, a não ser quando já vem muito mesmo: “Quero tal jogo”. Ah, tem muita discussão: muitas vezes o pai saiu brigando com a mãe porque queria... O filho nem se fala: sai chorando, batendo o pé, e não tem jeito. E tem pai que... A mãe quer dar um patinete pro filho, o filho tem três, quatro anos, quer andar de patinete, o pai não quer, é perigoso, e não sei o quê. Então sempre tem algumas discussões, mas a gente entra no meio, consegue controlar a coisa. Abro em torno de oito e meia, a funcionária chega às nove, e fecho em torno de seis e vinte, seis e meia da tarde. Às dezoito e vinte, dezoito e trinta, de segunda à sexta. Sábado eu fico até uma e meia, duas horas, depende. O comércio de Lorena não abre aos domingos. Só os supermercados só, só os supermercados abrem de domingo. E os bairros abrem também, muitas lojinhas no bairro - hoje os bairros são muito fortes em comércio. Todo brinquedo meu é exposto. O cliente tem acesso a todos. Eu mudei: antigamente eu tinha balcões, ficava atrás do balcão, a prateleira atrás do balcão. Hoje não, hoje eu tenho... Praticamente é um supermercado, que a pessoa chega, olha, escolhe, vem, embrulha, faz o pacote. Tudo tem acesso, pega, examina, lê, não tem problema. Brinquedo é muito de forma... Ele é difícil, tem aquela caixa, uma caixa é um tamanho, é impossível. A não ser determinado produto, por exemplo: você quer um boné, que é difícil embrulhar. Você pode fazer um pacote e deixar lá, chega e coloca naquele boné uma cartela - que se vende muita cartela de super-heróis - , então você pode fazer mais ou menos de um tamanho. Quase todas [as embalagens] os tamanhos são iguais. Mas o resto, embrulhar é essencial, o embrulho é essencial. Só tenho papel de presente. Sempre no papel de presente, a não ser quando: “Ah, isso eu não quero que embrulhe, põe na sacolinha”. Ou às vezes você embrulha, vai pôr na...: “Não, eu estou com o carro aqui”. Quer dizer, é de acordo com o gosto do freguês. Eu trabalho, o normal, sempre em dois pagamentos. Tenho dois preços: preço a vista e dois pagamentos. Quando é uma compra em maior valor, eu parcelo até em três vezes, tudo com cheque. Cartão de crédito eu comecei há pouco tempo porque eu tenho já uma freguesia selecionada. Do jeito que trabalho em minha loja, o cartão de crédito me dá prejuízo, o custo do cartão de crédito eu poderia estar dando pro cliente. 90% das minhas compras são a vista, pra ganhar um desconto e dar pro freguês esse desconto. Então é uma forma de eu atrair meus clientes, pelo preço, porque a qualidade do brinquedo é toda igual. Por não ser na rua principal, ser numa travessa, alguns quarteirões do centro mesmo, comercial, você tem que ter algum atrativo, e também o meu custo é menor, por ser em prédio próprio. Trabalho eu, a esposa e um funcionário, então a gente tem condição de ter uma margem, e o cartão de crédito rouba bem essa margem da gente. O valor dos juros hoje é muito alto, você vê: hoje o cartão de crédito, ele está na faixa, mais ou menos, de 4% ao mês, mais o custo da máquina, quer dizer, se você der aí 4%, vamos supor, com o custo do aparelho, ele vai pra 5%. Está bom: você dá 5% de desconto, é um descontão hoje, numa inflação pequena que nós temos... Você comprar uma mercadoria por cem reais, você paga 95, você anda um bom pedaço a pé pra ganhar cinco reais, porque cinco reais é dinheiro. Eu não tenho débito automático, não. Agora eles vieram com uma proposta, até essa semana eu estou aguardando... Eles passaram pra minha esposa, estou aguardando já, com um custo bem menor da máquina, com o cartão de crédito e débito automático, acoplados. Estão diminuindo o custo - mas o custo deles. É em torno de 5%, que é de desconto, e você só recebe com trinta dias. Se você analisar hoje, esse dinheiro, o custo desse dinheiro no mercado, você esperar com trinta dias pra receber fica mais alto do que os 5%. Eu faço promoções da mercadoria. Divulgação, em mídia muito pouco. Promoção na loja, sempre eu tenho. A promoção do sindicato é um pouco diferente. Sempre existia uma parceria entre a Associação Comercial e o sindicato nessas datas festivas: Dia das Crianças, Dia dos Pais, Dia das Mães e Natal. Então, nós tínhamos uma parceria. Aí eu cheguei à conclusão de que não é essa a finalidade do sindicato. Eles faziam a promoção de sortear carro, motos e vários prêmios, aí eu falei: “Não é essa a função, a função do sindicato é atender ao comércio no geral, o comércio varejista e o comerciante”. Então eu falei: “Olha, eu acho melhor vocês ficarem com essa parte, e eu vou trabalhar diferente, vou trabalhar em cursos, vou trabalhar...”. Porque o dinheiro que eu vou gastar nessa promoção, eu vou direcionar, que é o lado certo que o sindicato tem que prestar serviço. E assim foi. Isso já faz uns dois anos. Agora este ano, a Associação não vai fazer campanha nenhuma de Natal, porque ela mudou pro prédio novo... A despesa... Então eu bolei uma campanha diferente, trabalhando para o comércio de Lorena: estou fazendo uma campanha de divulgação do comércio de Lorena, somente do comércio de Lorena, sem distribuir prêmio nenhum, mas colocando na televisão, rádio, jornal, carro de som, panfleto, faixas, eventos... Que é justamente isso que eu falei do SESC: estamos fazendo uma campanha diferente e toda bancada pelo sindicato, todo custo bancado pelo sindicato. Quer dizer, até uma coisa inovadora, pelo menos pra nossa cidade. Tem um apoio da prefeitura, com apoio da prefeitura municipal, mas somente na parte de colocar as faixas, de ceder o espaço da praça principal, que é o anfiteatro. Então é só isso, e o sindicato está fazendo esse tipo. E foi muito bem aceito, pelo menos por toda minha diretoria, e já conversei com alguns comerciantes. Vamos começar a partir de segunda feira... A televisão deve começar a partir do dia 13 ou dia 15, e vai estar na TV Vanguarda, em horário bom, a gente vai estar divulgando bem. Vai ter carro de som pela cidade, panfleto, vai ser bem... Todos os jornais já foram contratados pra divulgar. Quer dizer, nós esperamos que tenha um bom resultado, pelo menos acho que reclamar ninguém vai, porque não teve custo pra ninguém, só pro sindicato. É importante o poder público ter essa percepção da importância do comércio, e ajudar nesse sentido. Praticamente toda prefeitura ajuda o sindicato, a Associação Comercial nesse ponto. Nos outros anos, quando a Associação Comercial fez lá, nós fizemos também, junto, a prefeitura ajudou muito nisso aí: pagava a energia elétrica, dava um certo dinheiro pras despesas de combustível, pro carrinho, o trator que andava pela cidade. Então a parceria é necessária com a prefeitura e, geralmente, todo prefeito ajuda, porque a finalidade do sindicato, da Associação é só incentivar o comércio de Lorena, pra vir mais o quê? Mais impostos. Tenho também tem um cargo na Associação Comercial. Eu sou segundo Tesoureiro, na Associação Comercial. Não há conflito, de jeito nenhum. O ex-presidente do sindicato também foi vice-presidente na Associação Comercial, quer dizer, nós nos damos muito bem. Geralmente, tem aí um ciúme, um ciúme, que uma parte quer fazer mais do que a outra. Então, por isso até... Quando eu defini isso, pra justamente não haver esse encontro... Se a Associação fosse fazer uma campanha eu não iria nem pensar - apesar de que a minha é completamente diferente da deles, mas eu não ia fazer campanha, eu achei. Só que é uma coisa diferente, tanto que o slogan, o texto, é direcionado ao comércio de Lorena, você consumir no comércio de Lorena. A primeira parte é assim: “Neste natal é bom ter você aqui”. Quer dizer, ele está te atraindo: “O comércio de Lorena realizando os teus desejos”. Esse “É bom ter você aqui” é justamente pra chamar - pra dizer - a atenção do comerciante. Quando ele entra na loja, o consumidor entra na loja ele já: “É bom ter você aqui”, quer dizer: vamos conscientizar. Então os comerciantes e empresários de Lorena têm que participar também, porque o comerciante, é difícil você lidar com ele, porque ele já trabalha o dia todo, tem os funcionários, a preocupação, chega à noite, quando ele fecha o estabelecimento, ele está louco pra ir embora pra casa, ele vai participar de reunião, de confraternização? Ele é difícil participar, então o comerciante é difícil pra essas coisas, ele quer ir embora pra casa, ficar com a família, deitar, ver televisão, é bem difícil você encontrar pessoas que se dediquem nessa parte, falam no sindicato. A dificuldade é grande. Às vezes, na hora em que você precisa, um diretor não pode porque tem isso, tem aquilo, e tem o compromisso dele, mas vai tocando. Graças a Deus, o sindicato de Lorena..., o sindicato é bem forte. Enfeitam muito pouco as vitrines. Nós já demos até cursos... Eles colocam coisas simples, esses cordões de lâmpadas, mas muito pouco, mas sempre colocam alguma coisa. Mas dizer... “Dia da Independência, vamos enfeitar aqui com coisas do país”, então é muito pouco. Eu acho que pro comércio tudo é importante, eu acho que o que você passa para divulgar, mostrar, eu acho até... Tudo que você fizer diferente... Eu tinha um amigo, antes de ter comércio, ele era despachante da... E justamente ele estava nessa - onde é a minha loja hoje - , ele chegou pra mim e falou assim: “Poxa, eu estou querendo pintar a frente da minha loja”. Eu falei: “Acho uma boa”. “O que você acha, que cor você acha?” Eu falei: “Eu acho que você deve pintar uma faixa preta, uma vermelha e uma branca”. “O que é isso?” Eu falei: “Não, eu acho que você deve pintar, porque se alguém lá no centro perguntar onde é o despachante Pacaré... “Olha, desce aqui, na hora que você encontrar uma casa pintada de preto, uma de faixa preto, uma de branco e de vermelho, é ali””. Você sabe que ele pintou e chama atenção. Se você pegar tal rua: “Está vendo aquele comércio lá, está pintado de amarelo, naquela esquina você vira”. Então tudo que você faz, você chama atenção. O meu comércio, por ser um comércio pequeno, eu já exponho toda a minha mercadoria, mas na minha porta você vai ver esse verde, um verde abacate diferente, pintada a parede, ele tem vários brinquedos pintados na parede. Tem tipo de um quadro, vamos dizer assim, uma menininha brincando com uma bola, puxando um triciclo. É uma loja diferente... Se você bater o olho, ele é diferente, ele tem um verde diferente, e os brinquedos todos, as marcas dos brinquedos, então eu acho que tudo tem que ser diferente. CASAMENTO Conheci minha esposa em Lorena, num baile de Carnaval. Eu já a conhecia, mas como esses... Ah, sim, sempre foi, era muito bom o Carnaval de Lorena, era num clube. Nós nos conhecemos, quer dizer, começamos a namorar... Eu a conhecia de vista, mas não tinha amizade... Nós namoramos dois anos, aí nos casamos... Casamos em Lorena, mesmo. Ela era professora, na época, ficou algum tempo como professora, depois eu abri o comércio, ela foi me ajudar no comércio. O casamento foi bonito. Um casamento simples, porque eu estava sem dinheiro na época... Até o álbum é preto e branco, uma coisa bem simples. Nós casamos em 72. Nós tínhamos... O tio dela tinha uma chácara a caminho de Canas, de Cachoeira, e nos cedeu a chácara, nós passamos a lua-de-mel ali. FAMÍLIA Tenho um filho, ele vai fazer 29 anos agora, é o mais velho, chama Nilson também, ele está na Alemanha, ele trabalha pra Aston, antiga Aston aqui de Taubaté, hoje a Siemmens comprou, e ele está só, na Alemanha, um ano, torcendo pra que venha dia 13, agora - que ele vem dia 13 de dezembro. E a Juliana tem 22 anos, tem síndrome de Down, mas é uma coisinha. Nossa Senhora, ela ajuda na loja, trabalha na loja. Então hoje, como eu fui pra São Paulo, ela fica o dia inteiro com a mãe na loja, tem responsabilidade. Apesar de ter o problema dela, ela ajuda muito, inteligente, estuda até na escolinha. É o xodó da família, companheira. COSTUMES O meu sotaque é por causa do meu pai, porque Bananal... A população de Bananal é quase toda do Rio de Janeiro, então isso vem de criança. Meu pai era muito exigente, falava - não tinha falar “porrta”, essas coisas, então a gente pra poder assimilar... Em casa, praticamente, misturamos um pouco de carioca com... O sotaque de Lorena não é tanto como o de Taubaté. Um sotaque mais carregado. Lorena não é tanto assim, tanto “porrta” ou esse tipo de coisa. Lorena não é tanto. Aí vem subindo, Guará mais um pouquinho, Taubaté ainda... Quando vai se aproximando mais do estado do Rio, vai se mudando o sotaque. CIDADES Lorena Acho que em cinco anos... Porque começou bem, o desenvolvimento de Lorena, e todo mundo está se empenhado, o sindicato participa, Associação Comercial, todo mundo empenhado em ajudar pra que isso aconteça. AVALIAÇÃO Comércio O comércio foi a minha vida. O comércio, praticamente, foi a minha vida, e aprendi muita coisa com o comércio, o comércio me deu muitos amigos, muitos mesmo. O comércio me deu tudo, me deu muitos amigos, e com esses amigos a gente vai se engrandecendo cada vez mais. Então o comércio é tudo pra mim, eu gosto, eu gosto de estar no comércio, eu gosto de comprar, gosto de vender. Para ser um bom comerciante, não, tem que ter o dom. Eu acho que quem nasceu comerciante, é comerciante. A não ser se você tiver muito dinheiro e colocar alguém pra fazer lá, e a máquina pra fazer. O verdadeiro comerciante tem que estar com o umbigo no balcão. Lição do comércio é a honestidade de vender aquilo que é pra se vender, com preço justo e não enganar, porque eu acho que comerciante que engana nunca vai pra frente. Ele não perde às vezes um cliente, um freguês só: ele perde vários, porque aí um passa pro outro, então você tem que manter uma linha, um respeito, uma honestidade, pra você conseguir alguma coisa. É como você ser um bom pagador e mal pagador: pra ser bom pagador, pra andar direito leva, um tempão, mas pra perder tudo isso, pouco tempo você perdeu a credibilidade. O comércio é assim, você perdeu a credibilidade...
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