Farma Brasil
Depoimento de Armando Macias (entrevista de vídeo)
Entrevistado por Cláudia Leonor Oliveira e Carmem Sílvia Natali
São Paulo, 19/10/1995
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista nº FR_HV011
Transcrito por Marina D’Andréa
Revisado por Genivaldo Cavalcanti Filho
P/1 - Para começar a entrevista, seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Armando Macias. Nasci em quatorze de março de 32, em São Paulo. Meu pai, Armando Macias, também de São Paulo; minha mãe, Giulia Santoro Macias, de São Paulo.
P/1 - Que recordações o senhor tem da sua infância?
R - Lembro das minhas brincadeiras. Tinha os amiguinhos, a gente brincava, jogava futebol - essa é a mania do brasileiro. Mas naquele tempo tinha outras brincadeiras, a gente jogava pião e... Hoje não se vê nada disso, hoje é bem diferente. Empinava-se quadrado - chamava-se antigamente, hoje é pipa.
Cada brincadeira tinha uma época. No mês de janeiro, era um tipo de brincadeira e assim por diante. Era o pião, o iô-iô, o bilboquê, a bolinha de gude; tinha boxe, tinha bola [de] futebol. Tudo o que um moleque tinha direito de fazer eu fiz.
P/1 - O senhor andava em turma?
R - Nós tínhamos uma turminha, mas eu brincava especificamente com um rapazinho que eu conheci, logo que ele veio do Interior. Eu morava em São Paulo eu tinha uns cinco anos, ele tinha uns seis ou sete, e até hoje somos amigos. Eu estou com 63, ele com 65, e nós travamos uma amizade assim, como irmãos.
Eu era filho único e com ele me adaptei, fazia as brincadeiras. Ele tinha muitos irmãos e eu andava com ele como se fosse um irmão dele. Eu era de família pequena, mas na realidade tinha uma família muito grande.
P/1 - O senhor morou em dois bairros, né?
R - Foi. Eu nasci no Cambuci, na Rua Independência, que ainda existe. E depois eu mudei pra Mooca, mudei daquele lugar e fui morar na Rua Clímaco Barbosa. Ali fiquei até meus… Treze, quatorze anos, depois fui pra Mooca,...
Continuar leituraFarma Brasil
Depoimento de Armando Macias (entrevista de vídeo)
Entrevistado por Cláudia Leonor Oliveira e Carmem Sílvia Natali
São Paulo, 19/10/1995
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista nº FR_HV011
Transcrito por Marina D’Andréa
Revisado por Genivaldo Cavalcanti Filho
P/1 - Para começar a entrevista, seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Armando Macias. Nasci em quatorze de março de 32, em São Paulo. Meu pai, Armando Macias, também de São Paulo; minha mãe, Giulia Santoro Macias, de São Paulo.
P/1 - Que recordações o senhor tem da sua infância?
R - Lembro das minhas brincadeiras. Tinha os amiguinhos, a gente brincava, jogava futebol - essa é a mania do brasileiro. Mas naquele tempo tinha outras brincadeiras, a gente jogava pião e... Hoje não se vê nada disso, hoje é bem diferente. Empinava-se quadrado - chamava-se antigamente, hoje é pipa.
Cada brincadeira tinha uma época. No mês de janeiro, era um tipo de brincadeira e assim por diante. Era o pião, o iô-iô, o bilboquê, a bolinha de gude; tinha boxe, tinha bola [de] futebol. Tudo o que um moleque tinha direito de fazer eu fiz.
P/1 - O senhor andava em turma?
R - Nós tínhamos uma turminha, mas eu brincava especificamente com um rapazinho que eu conheci, logo que ele veio do Interior. Eu morava em São Paulo eu tinha uns cinco anos, ele tinha uns seis ou sete, e até hoje somos amigos. Eu estou com 63, ele com 65, e nós travamos uma amizade assim, como irmãos.
Eu era filho único e com ele me adaptei, fazia as brincadeiras. Ele tinha muitos irmãos e eu andava com ele como se fosse um irmão dele. Eu era de família pequena, mas na realidade tinha uma família muito grande.
P/1 - O senhor morou em dois bairros, né?
R - Foi. Eu nasci no Cambuci, na Rua Independência, que ainda existe. E depois eu mudei pra Mooca, mudei daquele lugar e fui morar na Rua Clímaco Barbosa. Ali fiquei até meus… Treze, quatorze anos, depois fui pra Mooca, onde fiquei até os quarenta anos, quando fui morar em São José dos Campos, através da Johnson.
P/1 - Como era o bairro da Mooca?
R - Ah, era uma coisa gostosa, todos amigos. Acredito que hoje já não tem mais isso. Eu frequentava um colégio ali, o Colégio Dom Bosco, Colégio São Francisco de Assis, e lá fiz muitos amigos. Eram padres Salesianos, eles faziam teatro e... Acharam que eu tinha qualidades pra trabalhar em teatro e a gente começou a trabalhar, então formamos muitos amigos. Fiquei mocinho ali, ali fiquei até uma certa idade. Já trabalhando na Johnson, ainda frequentava o Colégio Dom Bosco.
P/1 - Como o senhor começou a trabalhar?
R - Bom, na Johnson… Eu tinha trabalhado na Antarctica, saí, e vi um anúncio no jornal. precisava-se de químico analítico. Eu sou químico, então fui fazer um teste lá. Eram muitos candidatos. Eles precisavam, na realidade, de farmacêuticos. Mas eles contrataram na ocasião duas farmacêuticas e eu como químico, e fiquei então trabalhando no laboratório. Era por volta de 54.
P/1 - Quais eram as suas funções no laboratório?
R - Primeiramente eu fazia análises químicas; os produtos farmacêuticos acabados, eu analisava o teor deles. E depois, com o decorrer do tempo, eu comecei a trabalhar, inclusive, [em] um pouquinho de pesquisa, com a dona Eva Totti. Dali fui convidado pra começar a trabalhar na fábrica, meio dia no laboratório, e outro meio na fábrica. Até que depois passei definitivamente pra fábrica, [para a] parte de acondicionamento e produção farmacêutica.
P/1 - O senhor participou bastante da pesquisa de um produto...
R - É, participei da feitura do Enterocin. Naquele tempo, nós fizemos… Ajudava muito também a dona Eva, que fazia também as pesquisas e ela me pedia pra fazer as misturas e a… Trabalhávamos juntos, nesse produto.
P/1 - Teve mais algum produto que o senhor participou, indo aos sábados?
R - Isso foi no início. Não é que eu fiz o produto em si, a fórmula já vinha dos Estados Unidos. O Enterocin era um produto nacional.
O Nidoxital tinha vindo dos Estados Unidos. O gerente de produção, na ocasião, pediu se alguém podia vir ajudá-lo a fazer esse produto num sábado e o pessoal todo tirou o corpo fora. Eu estava acostumado a trabalhar aos sábados, como em outras indústrias, me prontifiquei em vir e ajudei a fazer esse produto. Fazer as misturas, a secagem, o que tinha que fazer pra o produto ficar misturado e pronto. Depois na segunda-feira foi analisado, aprovado, mas fizemos um quilo desse produto. Um quilo já dava, era uma produção grande naquela ocasião.
Depois de uns dois ou três meses, esse mesmo gerente, doutor Bela Ianski - era o gerente geral de produção, naquele tempo, da área farmacêutica - perguntou: “Alguém me ajudou três ou quatro meses atrás a fazer esse produto. Quem foi? “Fui eu.” “Você não gostaria de vir aqui fazer de novo?” Eu me prontifiquei e fiz.
O produto depois foi feito - o que tinha que ser feito, foram seguidas as especificações, porque na Johnson tudo tem que seguir as especificações, como se segue até hoje. O produto foi aprovado e com aquilo talvez eu tenha chamado a atenção dele, porque me dediquei, me esforçava; não tinha horário, não tinha nada. Ele então pediu ao chefe do laboratório se eu não podia ficar meio dia no laboratório e meio dia com ele, como um ajudante, um assistente dele na ocasião.
Isso deve ter sido em 54, 55, e aí comecei a fazer essa vida. Depois ele achou que eu estava ajudando mais ou menos bem, porque me convidou pra ficar o dia todo com ele. E aí fiquei com ele na produção até... Ficar velho. (risos)
P/1 - Como era o dia a dia da fábrica?
R - Era uma luta, sabe? As coisas eram feitas muito artesanais. Hoje já é tudo automático, com computador, antigamente era tudo… Por exemplo, você fazia um vidro de comprimido: já era feito a mistura, a compressão; eles vinham e na área de acondicionamento tínhamos o que chamávamos um pianinho, que era uma peçazinha de madeira com um funilzinho de aço inoxidável. A operadora, funcionária, colocava uma pazinha de comprimidos nesse pianinho, e depois com aquele pauzinho ela separava, por exemplo, dez comprimidos, dois, três.... E dez. Passava esse vidro pra uma outra companheira do lado. Aquela colocava algodão, fechava; o algodão justamente era pra não deixar entrar umidade, pra no transporte, no sacolejar dos caminhões, não quebrar os comprimidos. Depois passava pra uma outra que rotulava, mas tudo manual.
Depois foi se modernizando, né? Esse foi o nosso início.
P/1 - Essa era uma das linhas de produção.
R - Uma. Tinha outras, tinha… A linha, por exemplo, de… Naquele tempo trabalhava o óleo. A seção de óleo era agregada à área farmacêutica, que eu tomava conta. Tinha um tanque, um tacho de mil litros; fabricava-se o óleo, misturava os materiais que tinham que entrar na sua formulação. Depois era analisado, tirava-se densidade etc do produto, bombeava-se pra esse tanque reservatório; de lá saía uma mangueira e ia pros bicos de enchimento. Ficava uma moça defronte à outra, com dois bicos cada uma, então ela enchia. Quando chegava naquele ponto ela já passava pra outro vidro, punha outro vidro vazio, e colocava numa maquininha onde ia começar a tampar os vidros de óleo. Em seguida ia sendo rotulado, depois sendo guardado em caixas de papelão. Mas era tudo nesse sistema manual, artesanal.
P/1 - E como era o seu relacionamento com os funcionários? O pessoal procurava muito o senhor ali no bairro, como era?
R - Ah, sim. Depois, quando a grande maioria do pessoal da Mooca e adjacências da Johnson… A Johnson era na Avenida do Estado, sabiam que eu trabalhava lá, que eu era encarregado, chefe de seção; muita gente vinha em casa pedir emprego. Às vezes eu até dizia: “Dirija-se dirigir ao Departamento de Pessoal”, porque tinha um departamento exclusivo pra isso, mas assim mesmo vinha muita gente lá. Arrumava emprego pra algumas, e algumas ficaram até hoje. Tinha uma das mais antigas que está na Johnson hoje, a Gleide Eloísa Armani, que foi praticamente eu que a coloquei. Ela está lá hoje como… Acho que supervisora de expedição, foi talvez um fruto que nós colhemos do passado.
P/1 - O que o senhor coloca como sendo o ponto mais importante da sua trajetória na empresa?
R - Talvez a dedicação, o trabalho, o esforço, a responsabilidade; modéstia à parte, eu tinha esses requisitos. Talvez tenha sido isso que permitiu que eu ficasse tantos anos - e alguma competência, acredito eu. Isso é muito desagradável, falar de si próprio, mas pra ter ficado trinta anos devo ter tido alguns desses atributos, né?
P/1 - Quando o senhor começou a trabalhar na Johnson imaginou que iria ficar tanto tempo assim?
R - Não, não. E eu vou dizer até pra você uma passagem interessante. Depois de um ou dois anos que eu estava na Johnson, o ex-presidente, o falecido André Roffing convocou os chefes de seção. Naquele tempo não tinha gerência, era chefe de seção. Convocou todos pra uma reunião. Nessa reunião, ele nos contou que havia comprado um terreno na [Rodovia] Presidente Dutra, onde iriam ser construídos os prédios da Johnson.
Sinceramente, vou te dizer: quando eu saí da reunião, eu disse “bom, já não vou ficar”, porque eu era gamado em São Paulo. Disse: “Eu não vou ficar no interior. Nascido, criado em São Paulo…” Pensei: ”Vou ficar mais um pouco de tempo e quando for pra São José, eu…” Mas realmente demorou muito pra construir os prédios.
De início, parece que foi fiação e tecelagem, foi demorando... E o último foi praticamente o da Farmacêutica, isso já foi em 72, aí eu já estava mais do que ambientado na Johnson. Recebi o convite - nem todos foram convidados - e eu tive esse privilégio. Muito ambientado com o trabalho, com o serviço e com o pessoal, eu aceitei o convite. Quem me convidou foi o meu chefe, naquele tempo o seu Fermino Yamashiro. Aceitei o convite, e fui pra São José.
Fui meio receoso, não sabia se ia me acostumar numa vida de interior. Eu estava acostumado sempre em São Paulo - esse movimento, essa agitação que não é de hoje, já era bem agitado em relação a São José. Mas eu acabei gostando de lá, já faz 23 anos que estou lá. Fui em 72, me adaptei bem lá.
P/1 - Como foram os primeiros dias na fábrica de São José?
R - Muito difícil porque, em primeiro lugar, mudar de um uma cidade pra outra... Todo o pessoal tem que ter um treinamento. Se bem que em São Paulo, quando nós já estávamos com a informação de que a gente ia pra lá e estava tudo pronto, começamos alguns meses antes a contratar funcionários de São José dos Campos e trazer pra São Paulo, pra linha de produção. A gente foi com as pessoas mais antigas, fomos treinando, inclusive esse pessoal.
Quando nós fomos pra São José, o pessoal não estava de todo verde. Já tinham uma certa orientação, já estavam mais ou menos orientados do que iriam fazer, mas mesmo assim foi muito difícil. Era muito grande... A gente estava acostumado num local bem menor, então a gente sentiu muito essa grandiosidade da firma, a gente achava mais difícil. Pra chamar um carpinteiro, por exemplo, a gente tinha que andar trezentos, quatrocentos metros, onde estava a carpintaria - estou dando um exemplo apenas de como era isso tudo. Mas também foi uma questão de se adaptar.
Não foi rápido. Levou um ano, um ano e meio, pra o pessoal todo se adaptar. Vieram algumas que também não se adaptaram ao serviço e foram embora. Nesse ínterim, fomos contratando novas pessoas até formar uma equipe bem treinada, e quando saímos de lá já estávamos com uma equipezinha muito boa, viu?
P/1 - Dentro da linha de produção, quais eram os cuidados com higiene, segurança do trabalho?
R - Ah, nós tomávamos todos os cuidados possíveis e imagináveis. Por exemplo, nas áreas de trabalho de acondicionamento; pra você ter uma ideia do que é uma indústria farmacêutica, a gente tem que tomar cuidado até com o mosquito que entra. Até nas portas que nos levavam pra dentro das áreas de produção tínhamos cortinas de ar, para evitar que moscas, mosquitos passassem lá pra dentro. Fora todo o aparato de protetores auriculares, gorros, roupas especiais, conforme a área... Por exemplo, de produção: totalmente assépticas as áreas, com roupas esterilizadas. Não se podia entrar, quem precisava sair por qualquer motivo no meio de uma produção saía e não entrava mais naquele dia. Em oito horas de serviço um grupo trabalhava quatro horas, porque quando entrava, por exemplo, numa aplicação de injetáveis, é tudo área asséptica; você não pode ficar entrando e saindo, porque contamina todo o produto. Então tomava-se todos os cuidados possíveis e imagináveis pra evitar qualquer tipo de contaminação no produto, desde a fabricação até o último ponto, que era o acondicionamento, e embalagem pra expedir.
P/1 - Em que época foi isso, mais ou menos?
R - Ah, isso… Sempre aconteceu isso, mas desde que eu fui pra São José, que foi a partir de 72, iniciamos com essa mentalidade, criamos esse tipo de ambiente. O próprio pessoal era treinado e conscientizado do tipo de trabalho que fazia.
Indústria farmacêutica é diferente de quase qualquer outro tipo de indústria, então todo o mundo era suficientemente bem treinado pra saber como se comportar nas áreas de trabalho. Até um simples operário que tinha que tirar uma caixa pra colocar num estrado pra ir pra expedição, ele sabia qual devia ser a postura dele pra tirar, pra levantar, pra não ter problemas de doenças profissionais.
P/1 - Eles tinham alguma orientação no sentido do produto que eles estavam produzindo, pra que serviam os remédios...
R - Todas as vezes que qualquer produto era feito, a gente procurava dar uma palestra sobre eles. Todos os funcionários da companhia, pelo menos da área farmacêutica, estavam cientes e eram orientados pra que servia.
Isso inclusive era pra ilustração, porque a gente… Muitas vezes fazia uma palestra e a gente notava que a pessoa estava com um pouco de má vontade, às vezes por uma noite mal dormida, então quando nós dávamos essa palestra a gente em geral enfocava alguns exemplos. Por exemplo, como era feliz quem estava ali - não indicávamos quem era -, apesar de às vezes não estar com muita vontade de assistir, mas quantas outras pessoas gostariam de estar naquele local e no entanto estavam desempregadas, ou numa cama de hospital. Você acredita que, como diria, sem forçar muito, a gente conseguia o máximo de aproveitamento do pessoal.
Nós tínhamos uma equipe espetacular! Acho que os registros de produção da Johnson, que devem estar lá na companhia, podem provar isso. As performances que o nosso pessoal tinha... Porque não é só você exigir; você tem que dar condições e a companhia dava. Nós, os responsáveis, também dávamos orientação, mostrávamos pra eles como era melhor produzir e ser útil. Essa mentalidade sempre pairou dentro da área farmacêutica, que foi a área que eu conheci.
P/1 - Como fica a ideia da família Johnson, que o pessoal morava todo o mundo ali, todo o mundo era muito amigo...
R - Bom, isso foi mais em São Paulo. Depois, quando viemos pra São José, a distância da própria fábrica com as moradias dos empregados já fica .... Mas em São Paulo, não. Era na Mooca e todo aquele pessoalzinho que morava no bairro, moços e moças, iam trabalhar na Johnson. Tinha outros laboratórios, outras fábricas por ali, e também acredito que trabalhassem por lá, mas na Johnson era a maioria da Mooca. Salvo raríssimas exceções - 54, 55, 56, 57, na área de produção -, as moças eram praticamente todas daquela redondeza, então todo o mundo se conhecia. Você trabalhava e no domingo ia à missa, encontrava as pessoas. Era uma verdadeira família.
P/1 - Como o senhor analisa a sua trajetória profissional na empresa?
R - Eu, dentro da empresa, me considero uma pessoa ... Praticamente realizada. Porque eu fui como químico e, naquele tempo, quem passava pra produção já era uma vitória. Passei pra produção, dali nunca mais saí, fiquei até praticamente até os últimos anos - no último ano é que eu passei pra área de treinamento gerencial. Mas durante esses outros anos fiquei sempre na fábrica. Comecei como encarregado, depois fui como supervisor e depois gerente da área de acondicionamento, de fabricação, [por] muito tempo. Foi uma trajetória razoavelmente boa.
P/1 - Para o senhor, qual foi o momento mais importante dentro da Johnson, da Farma?
R - Bom, tive muitos momentos importantes, né?
Enquanto eu trabalhei na Johnson… Vou fazer um depoimento muito sincero aqui; talvez ninguém tenha feito assim, mas vou fazer porque não estou falando nesta hora em meu nome. Estou falando em nome de todos, de grande parte daqueles que saíram da Johnson e que estão aposentados.
Você vê, eu sempre quis a Johnson. Eu trabalhei pra Johnson, fui chamado pra esta entrevista com todo o coração aberto, só posso falar bem da Jonhson. Ela foi tudo pra mim. Foi a minha vida, foi a minha casa, sei que foi minha casa, mas enquanto eu trabalhei.
Depois que eu saí tive uma infelicidade, de ter saído um ano antes de um Plano de Pensão, o Pension Plan, que nós chamamos; eu não entrei nesse plano. Então hoje, com as restrições, eu vivo de uma aposentadoria. Toda aquela vida que eu levava na Johnson enquanto eu trabalhava hoje já não posso ter mais, evidentemente, porque no nosso país a pessoa que é aposentada cai muito o padrão.
Eu não tive essa felicidade, tanto eu quanto outros aposentados que atravessam às vezes uma situação que não precisariam atravessar. Porque eu tenho a certeza que a Johnson & Johnson tem condições de estudar o caso dessas pessoas aposentadas, que exerceram cargos de responsabilidade, que deram a sua vida pela companhia - e que nada mais fizeram do que a obrigação, porque fomos pagos pra isso. Mas eu acho que faltou aquela complementação depois da aposentadoria, quando a gente deveria estar tranquilo. Eu sei também que muitas pessoas que passam sérias necessidades, porque não houve esse acompanhamento. Não estou falando mal da Johnson, estou falando o que acontece na realidade.
P/1 - Como o senhor leva a vida, o que o senhor pensa do seu modo de viver...
R - Eu procuro levar a vida, eu não quero que a vida me leve. Eu que quero levar a vida. Eu procuro fazer uma vida de felicidade porque encontro muita felicidade dentro da minha casa, com aqueles que me rodeiam: meus filhos, meus netos. Você faz da vida... É aquela história da Amélia, Amélia que era a mulher de verdade, né? Você leva até um certo ponto. Mas muitas vezes falta uma complementação material; eu talvez, não sei, tenha princípios extremamente religiosos, [que] me permitem levar a vida assim. Mas tem muita gente que não tem esse princípio, então sente dificuldade muito grande de levar a vida. Eu a levo bem, graças a Deus. Numa boa, como se costuma dizer.
P/1 - Como o senhor se autodefiniria? Um autorretrato seu.
R - Fui responsável, trabalhador, honesto e cumpridor das minhas obrigações. Eu me definiria assim. Trabalhador, que pra qualquer empresa, não ia fazer… Ia ter prazer de ter no quadro de empregados, modéstia à parte. Porque eu procurei dar tudo de mim para a companhia.
Pra mim existia em primeiro lugar a companhia, e depois a minha própria família. E tenho a impressão que todos esses que vocês vão entrevistar vão se sentir da mesma... Porque a Johnson era isso. Uma família. A família Johnson.
P/1 - Qual o sonho que o senhor gostaria de realizar?
R - Gostaria de ver meus netos crescidos, formados; acho que é um pouco de pretensão. Eles são pequenos, mas isso seria o meu prazer. Os filhos já tenho todos acomodados, graças a Deus. Tenho uma esposa muito boa, que me estima e quer bem, então sou um homem feliz. Você não precisa ter duas camisas pra ser feliz. Com uma camisa só você vive feliz, né?
Eu me sinto uma pessoa feliz, realizada na vida. Se não financeiramente, espiritualmente. Isso é muito importante na vida. Quando a gente atinge uma certa idade, a parte espiritual é muito importante.
R - Queria que o senhor falasse um pouco mais da sua família, o nome da sua esposa...
R - Minha esposa se chama Wilma Ana Vitalli Macias. Temos duas filhas: a mais velha fez agora 31 anos, a mais nova 29. A mais velha se chama Maria Angélica, casada, tem dois filhos, é advogada. A mais nova também é casada, tem dois filhos, se chama Mônica. E também é advogada, professora.
P/1 - O senhor quer acrescentar mais alguma coisa?
R - Não. Se é pra encerrar, eu fiquei muito feliz, muito contente de estar com vocês aqui; da atenção que deram pra nós, pelo menos pra mim. Fiquei muito contente com isso. Pra qualquer coisa que vocês precisarem, estou à inteira disposição, a qualquer momento, se assim Deus o permitir.
P/1 - Eu é que gostaria de agradecer a entrevista do senhor.
R - Não tem nada que agradecer.
Recolher