Projeto: Memória Avon
Entrevistado por Luani Guarnieri e Clarissa Batalha
Depoimento de Wanderley Riccomi
Local: São Paulo - SP
Data: 16/06/2008
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: AV_HV015
Transcrito por Denise Yonamine
Revisado por Grazielle Pellicel
P/1 - Luani Guarnieri
P/2 -...Continuar leitura
Projeto: Memória Avon
Entrevistado por Luani Guarnieri e Clarissa Batalha
Depoimento de Wanderley Riccomi
Local: São Paulo - SP
Data: 16/06/2008
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: AV_HV015
Transcrito por Denise Yonamine
Revisado por Grazielle Pellicel
P/1 - Luani Guarnieri
P/2 - Clarissa Batalha
R - Wanderley Riccomi
P/1 – Gostaria que você começasse me dizendo o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Wanderley Riccomi, eu nasci em São Paulo, no dia 4 de agosto [de 1960].
P/1 – E qual a sua atividade atual?
R – Hoje eu sou microbiologista júnior, né, exerço atividades na área do laboratório químico, atendendo o pessoal do SAC e dando suporte ao laboratório químico - algumas áreas pertinentes ao nosso trabalho mesmo.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama-se (Sester?) Riccomi e minha mãe Helena (Vitones?) Riccomi.
P/1 – E qual era a atividade profissional deles?
R – O meu pai, hoje, é aposentado, né, mas na época que ele trabalhava, se aposentou como gerente de RH. Era uma empresa de empilhadeiras, na Hyster. E minha mãe é dona de casa, né?
P/1 – E qual a origem da sua família?
P/1 – A minha descendência é meio assim, tem bastante coisa, né? Tem um pouco do italiano, da parte do meu pai, e da parte da minha mãe eu tenho polonês e lituano.
P/1 – E os seus pais?
R – São brasileiros, os dois são brasileiros.
P/1 – E tem irmãos?
R – Eu tenho um irmão casado, né? Tenho um sobrinho já que tem um filhinho de três meses, casou faz pouco tempo o meu sobrinho. O nenenzinho ta com três meses já.
P/1 – Então você só tem um irmão?
R – Só um irmão.
P/1 – E vamos conversar um pouquinho sobre a sua infância. Aonde você morava?
R – Bom, que eu me lembre, né, da época de criança, assim, morei, na época, na casa dos meus avós, né? Meu pai tinha construído uma casa no fundo e a gente morou lá muitos anos. Aí meu pai comprou uma casa e a gente se mudou; moramos, praticamente, quase 20 anos nessa casa. Aí a gente foi crescendo, eu e o meu irmão, e a casa começou a ficar pequena. A gente comprou uma outra casa, onde a gente mora até hoje, né? Mas, principalmente, sempre no mesmo bairro.
P/1 – Qual o bairro?
R – Na época de infância, a gente morava na Vila Prudente, depois a gente mudou pra Vila Arapuã, né, que pertence ao Ipiranga. E hoje a gente mora na Vila Liviero, que também pertence ao Ipiranga.
P/1 – E como era a casa e o cotidiano na sua infância?
R – Bom, na casa que meu pai construiu no fundo da casa dos meus avós - era uma casa pequena, né, tinha um cômodo, uma sala, uma cozinha; e como a gente era pequenininho, né, eu e o meu irmão, tava adequada. A gente começou a crescer e aí houve a necessidade de uma troca, né, então meu pai comprou um sobrado [que] tinha dois quartos, com sala, cozinha, um quintal e a gente viveu naquela casa bastante tempo, conhecemos vários vizinhos, fizemos amizade com muita gente. E aí começou a crescer de novo, né, a gente não para, então a casa começou a ficar pequena. A gente resolveu comprar uma casa maior, né, e essa casa hoje é bem maior, ela tem quatro quartos, tem, são duas suítes, uma sala grande, uma cozinha grande, um quintal grande. Aí meu irmão acabou casando [e] casa ficou muito grande agora, né, pra três pessoas, mas a gente já abasteceu a casa com dois animaizinhos, né, uma cachorra e uma gatinha.
P/1 – E quais eram as brincadeiras prediletas?
R – Ah, aquelas brincadeiras de criança, né, era pular corda, esconde-esconde, pega pega, aquelas coisas, assim, bem basiquinhas. Isso na época que a gente morava com a minha avó. Depois, quando a gente mudou, aí a coisa começa a mudar, né? Em frente onde a gente morava, tinha um terreno muito grande, tinham várias árvores, né, então a gente continuava brincando de esconde-esconde, ia pro meio das árvores, ficava sentado ali conversando com os amigos, né? Então a gente acaba mudando o cotidiano da sua vida. As brincadeiras acabam, vamos dizer assim, né?
P/1 – E como era a cidade nessa época?
R – A cidade era bem tranquila, né, tanto que na minha adolescência, eu não tinha carro na época, então a gente tinha aquela vontade de sair à noite, de você ir numa balada, né? E eu andava pelo centro da cidade tranquilamente, cruzava o centro da cidade de madrugada e não tinha nenhum problema, né? Hoje você já não pode fazer isso, corre o risco de não conseguir colocar o pé no meio de uma rua sem ser assaltado. Mas era muito tranquilo.
P/1 – E quais as lembranças mais marcantes que você tem dessa época?
R – Da época de infância? Agora você me pegou, pra lembrar... Ah, acho que foi da época que a gente mudou, né, porque meu pai comprou essa primeira casa e eu não pude ir com eles, né, eu estava na escola e não tinha como transferir a escola, então eu fiquei morando com a minha avó, né, e foi ótimo! Não que eu achei ruim, achei legal, mas, assim, eu sentia falta dos meus pais, porque eu ficava sem eles a semana toda. Só podia ir pra casa quando chegava o sábado e o domingo, né? Então isso marcou bastante pra mim também, a convivência com os meus avós, né, que eu adoro os meus avós hoje. Eu só tenho as duas, né, não tenho mais os meus avôs - eles são falecidos. Então eu curto bastante, né? Foi essa convivência. Eu achei legal.
P/1 – Você citou a escola, quando iniciou os seus estudos?
R – Eu tinha 6 anos de idade quando eu entrei no primeiro ano primário, né? Na época, era diferente do que é hoje, né, então a gente chamava de primário. Então, eu tinha 6 anos de idade, eu fiquei, fiz o primário todinho nessa escola, pertinho de onde a gente morava e, depois, quando acabou, eu transferi de escola pra onde a gente estava morando. Aí fiz o ginásio, o colégio, em outra escola também perto. Aí fui fazer a faculdade. Fiz minha pós-graduação, tudo.
P/1 – Você realizou quais cursos? Em que áreas?
R – Eu comecei na primeira faculdade que eu comecei, fiz até o terceiro ano de Administração, mas eu não gostava do curso, né, porque eu sempre tive aquela coisa com química, achava sempre interessante, e quis fazer Química de qualquer jeito. Então eu fui fazer Administração acho que por uma opção. Eu vi que não era o que eu queria, então eu acho que acordei a tempo, né? Aí eu larguei o curso, prestei vestibular de novo, entrei na faculdade de Química, fiz Química Industrial. Aí, acabando o curso de Química, eu fiz uma pós-graduação em microbiologia industrial.
P/1 – E o que influenciou na escolha da sua carreira?
R – De Química? É como eu falei, né, eu sempre fui fascinado [por] saber como que se produziam as coisas, a mistura que tinha e o que acontecia. E eu acho que isso que influenciou bastante, né? Saber a consistência, como você mexe com as coisas, misturando o que com que vai dar alguma outra coisa. Então eu ficava fascinado, né, de ver as coisas. Até fazia experiência em casa, minha mãe falava: “Você [a] qualquer hora vai explodir a casa de tanta coisa que você mexe”.
P/1 – Com quantos anos você começou a trabalhar?
R – Eu comecei a trabalhar com 16 anos, né, meu primeiro emprego foi num banco. E eu trabalhei dos 16 aos 22 anos no banco, né? Depois, eu saí do banco, fui trabalhar numa empresa química, né, na época - hoje não existe mais essa empresa, que era o Laboratório Anakol que fazia a pasta Kolynos, né? Trabalhei lá durante acho que uns seis anos, e depois eu fui pra Avon. Eu entrei na Avon como estagiário, né, no laboratório. Isso foi em setembro de 1986 e, em janeiro de 1987, eu fui efetivado. E to lá até hoje, só há 21 anos.
P/2 – Mas essa vaga de estágio surgiu como? Você foi até lá?
R – Na verdade, me indicaram, eu tinha um amigo que eu conheci na época que eu trabalhava na Anakol, né? Ele trabalhava no banco onde eu tinha conta, a gente fez amizade, tudo. Ele saiu do banco e foi trabalhar na Avon e eu queria na época. Eu pedi um estágio na própria Anakol pra trabalhar no laboratório, aí eles não deixaram, não quiseram me ceder tudo. Aí eu comecei a procurar porque já tava fazendo faculdade de Química, né? Entrei em contato com esse meu amigo, ele falou: “Olha, tem vaga de estágio”. Eu falei: “Ah, posso tentar. Por que não?”. Aí eu fui aprovado. Fiz todos os testes, fui aprovado e entrei como estagiário, né? Sem, assim, uma certeza de ser efetivado, né, mas graças a Deus apareceu uma oportunidade, teve uma vaga e eles acabaram me efetivando.
P/1 – E conhecia a Avon antes disso?
R – Eu conhecia porque minha mãe comprava muito produto da Avon, né, tinha uma revendedora que sempre ia em casa, então ela sempre comprava. Na época, a Avon tinha uma linha infantil que tinha bichinho, era coelhinho, elefantinho, né, então era umas coisas, assim, interessantes. Então eu já conhecia sim!
P/1 – E qual foi a primeira impressão que teve da Avon?
R – Quando eu entrei? Ah, eu fiquei fascinado, né, nunca tinha entrado dentro de uma empresa que fizesse cosmético e, sabe, aquele cheiro, aquela coisa, né? Uma coisa, assim, diferente. Você vê como são feitos os produtos, como eles são envasados. Aquilo me fascinou bastante.
P/1 – E lembra como foi o seu primeiro dia de trabalho?
R – Lembro, quer dizer, fiquei assim meio tímido, porque eu não conhecia ninguém, né, a não ser esse meu amigo que trabalhava lá. Assim, eu fui muito bem recebido pelas pessoas, né, as pessoas me ensinaram muito bem o trabalho, e eu tenho uma capacidade muito fácil de aprender, então rapidamente eu peguei todo o esquema [de] como funcionava e fui levando durante três meses como estagiário. A gente quer aprender tudo, né, porque você não sabe quanto tempo vai durar o seu estágio. Então eu aprendi bastante coisa, absorvi muita coisa e aí fiquei muito contente quando chegou na época que me efetivaram, que eu fiquei sabendo, né, que eu ia ser efetivado. Eu fiquei muito contente.
P/1 – Então você entrou em que área?
R – No laboratório químico.
P/1 – Qual foi a sua trajetória na Avon? Está sendo, né?
R – Sim, eu entrei como estagiário, né, como eu falei, fui efetivado no laboratório químico, como técnico. Depois de um tempo, eu não sei bem quanto tempo, tá? Fui promovido a analista, né, fiquei mais um tempo como analista, aí eu fui promovido para o laboratório de microbiologia. Só que o que eu precisava fazer para o laboratório de microbiologia era essa pós-graduação que eu fiz, né, porque eu não tinha a base da microbiologia. Então eu fiz a minha pós-graduação em microbiologia, pra poder me inteirar do trabalho, que eu achei super interessante e uma coisa, assim, muito válida. Porque eu acho que tudo que a gente aprende é uma coisa nova e a absorção das coisas novas é muito interessante pra gente. E fiquei lá no laboratório durante, acho, que uns cinco ou seis anos. Aí voltei para o laboratório químico, né, pra fazer análise de matéria-prima, fiquei lá um bom tempo. E agora eu faço toda a parte administrativa, né, continuei fazendo a parte administrativa do laboratório.
P/1 – E como é trabalhar no laboratório? Qual é a rotina?
R – A rotina, ela é uma coisa assim, né, vamos dizer, ela é todo dia uma rotina mesmo, como você falou, né? Mas, assim, a gente tem que analisar produto, tem que analisar matéria-prima, você tem que ver se está tudo dentro das especificações, né, não pode aprovar nada se está fora das especificações. Produto acabado também. Senão a gente pode vender produto que não tá bom, né? Então tudo é controlado rigorosamente lá pelo próprio laboratório. Então a rotina é toda essa: tem que checar o produto, analisar pra poder liberar sem ter nenhum problema, correr nenhum risco.
P/1 – E com que áreas, assim, o laboratório dialoga?
R – Bom, a gente tem contato muito com importação e exportação, planejamento, vendas, compras, terceiros, fornecedores. Então, principalmente, marketing, né? Porque marketing que direciona o que vai produzir, o que vai lançar, né, então a gente tem muito contato com o departamento de marketing. Então, quer dizer, a gente acaba sendo englobado em várias áreas da companhia.
P/1 – E quais foram os principais desafios que você enfrentou até agora?
R – Os principais desafios? Olha, eu acho que um deles foi ter lutado bastante pra ser efetivado, porque eu acho que assim, é uma luta, né? Você ser um estagiário, tá correndo aquele risco, ou você fica, ou você não fica. Então é um desafio pra você, né, [e] eu consegui passar por esse obstáculo, consegui mostrar que eu era um bom funcionário. Sabe, tem outras coisas também, né? A gente fazer as análises, é um desafio, sempre é um desafio, porque eu posso fazer uma análise errada, né, não perceber na hora e acabar liberando uma coisa que tá errada, um produto que vai estragar, uma grande quantidade de produto. Isso também é um grande desafio. Hoje, como eu faço uma parte mais administrativa, né, eu dou treinamentos, então, também é um desafio. Eu tenho que conseguir passar pras pessoas que eu tô treinando o que eu sei e eles precisam absorver o conteúdo que eu tô passando. Então, pra mim, também é um desafio isso.
P/1 – Como funciona essa área de treinamento?
R – É assim, como a gente trabalha com, eu faço parte também de um outro departamento que chama departamento de GMP, (“Good Manufacturing Practices”) [Em português: Boas Práticas de Fabricação (BPF)] né, então tudo que é obra que é realizada dentro da empresa, funcionários terceirizados que vão pra empresa pra fazer algum tipo de trabalho, eles são treinados em relação GMP. O que é que é GMP? É a maneira como eles tem que se portar dentro da empresa, pra não danificar os nossos produtos, ou contaminar, a maneira... Eles não podem entrar comendo na fábrica, né, tem que ter várias maneiras de se portar, de manter a higiene, essas coisas, né? Então a gente tem que passar pra eles de uma forma que eles entendam, né, e colaborem com a gente nesse sentido. Então, quer dizer, é um desafio isso, né? Sabe, você conseguir manter a atenção da pessoa, porque eles chegam na empresa às oito e meia da manhã e ficam com a gente até quase meio dia, né? Então se você não conseguir, sabe, fazer aquele jogo de cintura com o pessoal, né, brincar com eles um pouco, eles acabam se dispersando e, uns acabam dormindo. Ou fica naquela, mexe pra cá, mexe pra lá e acaba não absorvendo. Então eu acho que isso é uma coisa que a gente tem que segurar ali, na rédea, né?
P/1 – E quais as maiores alegrias que você já teve?
R – Dentro da companhia? Olha, sabe, das pessoas me tratarem bem, sabe, das pessoas gostarem de mim, gostarem do meu trabalho. Eu tô já há 21 anos dentro da empresa, sabe, isso pra mim é uma gratificação muito grande. Isso me deixa muito contente.
P/1 – Então o que você considera a sua maior realização?
R – A minha maior realização, eu acho que consegui transmitir pras pessoas o conhecimento que eu tenho, né? Não que eu seja, assim, um “expert” em tudo, mas o pouco que eu sei, eu consigo passar, colaborar, ajudar as pessoas, né? Sabe, pode ser de outra área ou não, a gente tá sempre trocando informação e eu consigo fazer isso. Pra mim, isso é muito importante, eu saber que a pessoa me procura porque ela tá precisando da minha ajuda e eu consigo transmitir essa ajuda pra ela.
P/2 – Deixa eu perguntar uma coisa. Wanderley, você falou de laboratório químico e laboratório de microbiologia.
R – Isso.
P/2 – Qual que é a diferença?
R – A diferença... O químico, você mexe com a parte físico-química de um produto, de uma matéria-prima, né? O microbiológico, você mexe com a parte microbiológica, ou seja, faz pesquisa de micro-organismos, então, seriam bactérias, fungos, vírus, né? Na Avon, a gente não mexe com vírus, tá? Só bactérias e fungos. Então a gente estuda, né, vê se tem uma contaminação do produto, se cresceu alguma colônia, né? Colônia são, a gente consegue visualizar nos testes, né, são os bichinhos que crescem no meio de cultura. Então é uma coisa bem diferente, quer dizer, envolve parte química no microbiológico, tá, mas assim, são coisas bem distintas.
P/1 – Então um produto que passa por um laboratório, passa pelo outro também?
R – Sim, tá, porque um produto acabado - não só um produto acabado, como matéria-prima também -, são feitos os testes físicos-químicos, e os produtos, né? Se for produto que é microbiológico, que a gente chama, que são mais sensíveis pra contaminação, eles são testados microbiologicamente também, assim como a matéria-prima. Se ele não for um produto que é muito sensível, que ele não tem necessidade, então não é testado microbiológico, mas o químico sim, tá? Tem essa diferença.
P/2 – Cita algumas matérias-primas só pra gente entender?
R – Hã, que são microbiológicas? Ou não?
P/2 – Não necessariamente, ou as duas?
P/1 – As que vocês trabalham.
R – O perfume, por exemplo, o óleo, né, que a gente chama de Perfume Oil, né, ele é uma matéria-prima, porque ela vai no produto - ele não é microbiológico, tá? Por causa da quantidade de óleo, ele vai álcool, tudo, então ele não sofre uma ação pra ser contaminado. Agora, uma que pode ser contaminada, o Lauril Sulfato, né, é uma matéria prima que é o princípio ativo de um shampoo, tá, então ele é mais sensível - é testado microbiológico também, além do químico.
P/2 – E se acontece do produto não passar ele tiver algum problema, qual que é o procedimento?
R – É assim a gente faz o teste, né, você fala do microbiológico ou do químico?
P/2 – Do microbiológico.
R – O microbiológico é assim: se o produto não é aprovado, se tem uma contaminação, o que a gente faz? Vai retestar, né? Porque pode ter sido, aconteceu um acidente no percurso, e a gente no teste acabou contaminando, então vai re-testar pra ver se, realmente, tem uma contaminação. Se houver uma contaminação, a gente vai destruir o produto, a Avon destrói o produto, não fica nada lá, né? A gente manda pra uma incineradora, ele é incinerado, porque a gente não pode correr o risco de ter produto contaminado dentro da empresa, né? E algum desvio, se alguém pegar e comercializar o produto contaminado, vai tá em jogo o nome da empresa, né? Então ele é totalmente destruído.
P/2 – E as equipes que trabalham nesses laboratórios, eles são de que área?
R – Microbiológico, normalmente, o pessoal é farmacêutico ou biólogo, né. Eu, na minha época, vamos dizer, era uma exceção. Era um químico trabalhando num microbiológico, mas eu tinha base por causa da pós-graduação em microbiologia, né? E no químico... O pessoal também pode ser farmacêutico, mas o mais, a área mais abrangente mesmo é a Química.
P/1 – Então como é o seu relacionamento com os colegas de trabalho?
R – Eu me relaciono muito bem com todo mundo, né, sabe, eu sempre brinco, tô sempre brincando. A gente conversa bastante, sai pra jantar fora, né, ou às vezes o pessoal [se] reúne. “Ah, vamos lá em casa. Vamos fazer um churrasco”, a gente vai, sabe? Então meu relacionamento é muito legal. Conheço muita gente na Avon, né, também, [tenho] uma grande trajetória, então conheço não só da minha área como de outras áreas, a gente conhece. Às vezes, a gente acaba viajando junto, né, como tem uma secretária que é secretária do vice-presidente de finanças, a gente é muito amigo - ela tem um pouquinho mais de tempo de Avon do que eu. Então, a gente é muito amigo, inclusive, a gente viajou, mês passado, acabou viajando junto também, né? E, sabe, o meu relacionamento é muito bom, eu nunca tive problema com ninguém.
P/1 – O que a Avon representa para os funcionários?
R – Olha, eu acho que a Avon é uma empresa, assim, incrível, maravilhosa, sabe? Eu acho que não tem o que falar mal dela. Eu acho que ela proporciona ao funcionário tudo o que ela pode, né, pelo menos eu, né, falando particularmente de mim. Tudo que eu precisei assim, sabe, em termos de medicamento, auxílio, informação, eu sempre tive, né? Eles nunca me deixaram na mão, sempre procuraram fazer o melhor pra mim, pra me atender, né, então eu não tenho o que reclamar.
P/1 – E você poderia contar alguma coisa engraçada que aconteceu nesses anos todos?
R – Uma coisa engraçada... Deixa eu ver se eu lembro, né, porque faz tanto tempo (risos). Você fala assim, engraçado em que sentido?
P/1 – Ah, sei lá, algum fato que aconteceu que ficou marcado com o pessoal.
R – Não sei se seria um fato engraçado, acho que eu me lembre assim... Não tô me recordando.
P/2 – Ou algum caso pitoresco?
R – Não sei, eu participei de algumas festas que a Avon deu, né, que eu achei, assim, legal. Então, mas assim engraçado eu não me lembro mesmo, não tô recordando agora.
P/1 – Ah, tudo bem. E qual o seu estado civil?
R – Eu sou solteiro.
P/1 – Solteiro, tem filhos?
R – Não.
P/1 – Então o que você gosta de fazer no seu tempo de lazer?
R – Olha, eu gosto de ler, de ouvir música, né, gosto de sair, ir à casa de amigos bater papo. Ou, [às] vezes, quando eu tô com muita vontade, numa balada, né? Então, mais ou menos, é isso. Não tem, não foge muito disso não.
P/1 – Agora a gente vai partir assim mais pra uma parte de avaliações da Avon. Qual a importância da Avon pra venda direta, essa venda de porta em porta?
R – A importância? Eu acho que a Avon tem que atender bem a revendedora, né, porque na verdade ela é a chave da empresa. Então tem uma importância muito grande pra ela, [de] sempre atender de forma rápida, entregar tudo que ela pediu, né, pra não faltar o produto. Porque, diretamente, ela vai tratar com o nosso cliente, né, e se a Avon não entrega pra revendedora o produto, o cliente tá esperando e não chega, ele vai acabar comprando de uma concorrente. Então eu acho que tem que ser uma coisa, assim, bem priorizada mesmo na revendedora, tem que atender muito bem a revendedora. A gente trata ela muito bem.
P/1 – E qual a importância que você acredita que a Avon tem de levar os produtos para os lugares mais distantes, assim, do Brasil?
R – A importância? A gente sabe que tem locais bem distantes no Brasil, né, que a Avon acaba chegando, então a gente consegue atender bem essa revendedora. É um caminho, assim, bem longo. Às vezes, a pessoa mora lá no meio da Amazônia e chega, né? A revendedora pega barco, navio, um monte de coisa lá, mas ela chega. E é importante, né, porque a pessoa também lá tá esperando o produto que ela quer, então a gente consegue atender isso também. É importante isso.
P/1 – E a grande maioria dessas revendedoras que vocês (retém?) são mulheres, né?
R – Sim, antigamente só tinha mulher. Hoje, ainda tem, [mas] os homens começaram a revender Avon. Não são em grande quantidade como as mulheres, mas tem bastante homem que tá vendendo Avon.
P/1 – E o que você acha dessa iniciativa de colocar essas mulheres, essa grande quantidade de mulheres no mercado de trabalho através da venda direta?
R – Eu acho legal, porque que nem tem muita mulher que, às vezes, não quer ficar em casa, né, ela quer ter alguma atividade, então ela pode ter a atividade dela vendendo Avon. Ela acaba criando aquelas clientes, né, às vezes, no salão de beleza ou na casa da amiga, sabe? Ela cria uma atividade, ganha o seu dinheiro e acaba tendo, assim, um divertimento, vamos dizer assim, uma distração pra ela. Eu acho legal isso.
P/1 – Qual a sua visão a respeito das ações sociais que Avon realiza?
R – Eu acho fantástico a Avon, principalmente, a gente tem aquele Instituto Avon, né, que previne o câncer de mama. É uma coisa, assim, muito importante, e, sabe, a Avon teve essa iniciativa já faz um bom tempo, né, e atende muita gente. Pelo que eu sei, já atendeu muitas mulheres, né? Eu acho importante isso, sabe, a empresa ter um fundo social, né, vamos dizer assim para... Porque ela acaba sendo vista não só como uma empresa que vende cosméticos, mas uma empresa que tem um fundo social pra auxiliar as pessoas também.
P/1 – Então, na sua opinião, qual a importância da Avon pra história dos cosméticos?
R – Bom, a importância da história da Avon... A Avon começou nos Estados Unidos, né, numa casinha, onde o fundador começou a criar os perfumes. Chamava-se Casa de (Francas?) Califórnias [“Califórnia Perfume Company”], se não me engano, e arrumou uma representante, que era a Florence Albee. E aquilo foi crescendo, né? Hoje, a Avon é essa potência que é, né, ela lidera grande parte do mercado de cosmético e tá sempre inovando, sempre lançando produtos novos, sabe? É uma coisa assim que chama a atenção, né, as pessoas conhecem. Aonde você vai, encontra Avon, né? Eu viajei esse mês passado, como eu falei pra vocês, encontrei a Avon em vários lugares nos países que eu fui. A gente até achava: “Nossa! Aqui tem Avon também!”, acha até interessante, né? E você vê que os produtos são praticamente os mesmos, às vezes, muda um pouquinho a embalagem, né, por causa do país, alguma coisa. Mas, assim, eu acho que é importante, né, Avon tá sempre ligada no mundo. E [se] você fala que trabalha na Avon, é visto de outra maneira onde você tá, né? A gente viu muito disso, parece que a porta pra você abre um pouco mais, né, não fica aquela coisa muito restrita, principalmente quando você vai pra fora do país. A primeira coisa quando você chega na imigração de um outro lugar, eles perguntam se você trabalha e onde. Você fala que trabalha na Avon, sabe, [e] praticamente, eles param de te fazer pergunta, porque todo mundo conhece a Avon e sabe que é uma empresa que tem um nome, é uma empresa digna, séria. Acho que isso é importante pra empresa.
P/1 – E qual o fato mais marcante que você presenciou ao longo da sua trajetória?
R – Eu acho que a parte mais marcante foi logo quando eu entrei, né, isso foi em 1987. Eu tinha seis meses de empresa e foi quando o Brasil passou por uma crise muito grande, né, e a Avon demitiu muita gente - não porque ela quis, foi a crise mesmo, né? E eu até fiquei com medo na época, porque, eu falei: “Poxa, eu tenho seis meses, será eu vou também”, né? Mas não fui, acabei não indo - alguns colegas de trabalho foram. Todo mundo ficou meio assim, né, assustado. Eu acho que essa época marcou muito. Mas, graças a Deus, a Avon conseguiu se reerguer e tá essa potência que é hoje, sempre com a colaboração de todos funcionários, todo mundo sempre empenhado em trabalhar, ajudar, colaborar com a empresa, e faz com que a Avon cresça cada vez mais.
P/2 – Você chegou a acompanhar a greve que teve...?
R – Não, eu não tava na empresa ainda, né, mas eu fiquei sabendo da greve tudo.
P/1 – Então, quais foram os maiores aprendizados de vida até agora na Avon?
R – Você fala em relação ao meu trabalho?
P/1 – É, você, assim, quais foram os maiores aprendizados de vida trabalhando lá?
R – Olha, conheci pessoas que me ensinaram muita coisa, né, mais velhas que eu, claro, de trocar experiência de vida. Você vê que algumas pessoas têm um problema mais sério que o seu e, às vezes, acabam ajudando você, né? Que seu problema é pequenininho perto do que ela tá passando. Então, sabe, eu aprendi muito com isso. As pessoas me ajudaram muito, né, sempre nessa troca, não só como, em relação a trabalho, mas como parte pessoal. As pessoas têm, assim, a gente fala, né, a Avon é uma família, uma grande família. Todo mundo se ajuda, todo mundo tem aquele coleguismo, aquela intenção de ajudar e querer sempre participar com você de um problema que você tem. Independente, sabe, do trabalho que você faça ou não, né, você sempre cria um vínculo de amizade com alguém, um vínculo mais forte, né? Essa pessoa acaba sempre te ajudando [e] você ajudando a pessoa. Eu acho que isso é uma experiência de vida muito boa, muito bacana.
P/1 – E o que acha da Avon resgatar a sua memória através desse projeto?
R – Eu acho legal, porque a Avon tem muita história, né, afinal, ela tá no Brasil há 50 anos. Ela cresceu numa firma pequenininha na João Dias, né, nos anos 60, e foi crescendo, crescendo e hoje a gente tá nessa empresa tão grande, com tantos funcionários. Quer dizer, tem uma trajetória muito grande, né? Teve os seus altos e baixos, acho como toda empresa tem, e a Avon sempre conseguiu superar, né? Eu conheci muita gente, nesses 21 anos que eu tô na empresa, tem muita gente que entrou, muita gente que saiu, né? Alguns a gente encontra ainda, né, que, às vezes, vem fazer visita na empresa [e] a gente acaba encontrando, conversa. Então eu acho que é legal levantar toda essa memória dela; não deixar morrer, não.
P/1 – E o que acha de ter participado desse projeto e contribuir com um pouco da sua história pra história da empresa?
R – Ah, eu gostei, porque, sei lá, eu posso colocar um pouquinho da minha experiência, né? Eu acho que muitos funcionários, eles sabem que a gente trabalha numa área, mas não sabe o que a gente faz, né, então a gente acaba falando um pouco do trabalho da gente também, como profissional, e o que realmente a gente faz. Por exemplo, a gente fala assim: “Ah, a gente testa o produto por causa de contaminação”, mas por que fazer isso, né? Muita gente não entende porque que a gente faz. Então é legal, porque você tá transmitindo pra outros funcionários a tua experiência lá dentro e ele fica conhecendo um pouco mais do teu trabalho, ou o trabalho da empresa, né, a companhia como companhia mesmo, o porquê que ela se preocupa tanto em produzir um produto cosmético com uma alta qualidade, uma tecnologia tão boa, que a gente tem.
P/2 – Deixa só eu fazer mais uma pergunta que eu me lembrei agora. Há 20 anos, né, Wanderley, mudanças que aconteceram na área, de melhorias, de tecnologias. O que você acompanhou disso?
R – Todas. Equipamentos, modernização de equipamento - isso aí é uma coisa muito importante, né? Hoje a gente faz um teste muito mais rápido do que a gente fazia há 20 anos atrás, porque a gente tem equipamentos mais modernos, que auxiliam a fazer isso e a tecnologia vai mudando, a tua experiência também vai mostrando uma maneira mais fácil de você fazer. Então tem tudo isso, né? Mudou muita coisa.
P/1 – Tem mais alguma coisa que você gostaria de contar pra gente que a gente não perguntou?
R – Eu acho que não, eu acho que eu contei tudo pra vocês, (risos) que eu me lembrei . Acho que foi tudo.
P/1 – Então, em nome da Avon e do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista.
R – Imagina, obrigado vocês.
[Fim do depoimento]Recolher