Cresci ouvindo as histórias da segunda guerra mundial, contadas pelo meu avô, um pracinha (soldados brasileiros que atuaram na Itália). Não eram histórias para criança, mas segundo o vô, eu e meus primos precisavam ouvir, precisava ser forte e aprender como nossa pátria foi forjada. Veterano de guerra não abandona o censo político, diferente de meus pais que nunca falaram sobre política, pelo contrário sempre brigavam com o vovôzinho, dizendo, não fique enchendo a cabeça do menino com estas besteiras. Besteira para meus pais, mas para o avô, não eram apenas historinhas, era a vida dele e eram histórias fortes.
Uma das que mais marcaram foi um relato sobre a morte de um companheiro que atingido por um atirador, o amigo morreu em seus braços e ele teve que ficar imóvel por três dias junto ao amigo falecido, aguardando a calmaria para conseguir sepultar o amigo. Sem meios para cavar, cobriu o corpo com pedras. Depois sobreviveu sozinho por 17 dias, faminto e desidratados no décimo quinto dia sozinho ele encontrou pegadas de sua tropa, mais dois dias seguindo as pegadas, conseguir se reagrupar com os aliados. Ele e o companheiro estavam em uma missão de reconhecimento e mais doloroso que ficar os dezessete dias sobrevivendo sozinho em linhas inimigas foi comunicar aos colegas a morte de seu amigo.
Mas o meu soldadinho de estimação me deixou, eu tinha oito anos, quando ele, vítima de insuficiência respiratória, faleceu. Mas ele foi e deixou seus valores comigo (honra, patriotismo, lealdade). Eu vivendo na zona rural de Mogi das Cruzes, cidade, conhecida como o cinturão verde de São Paulo, por conta de sua produção de hortaliças e legumes. Aos treze anos, saí de casa. Não por desavenças com a família, mas para trabalhar em uma colônia japonesa. Trabalhava de segunda a sábado e aos domingos quando não era época de colheita, eu voltava para casa de meus pais. Foi um contraste enorme, eu que conhecia a história da segunda...
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Cresci ouvindo as histórias da segunda guerra mundial, contadas pelo meu avô, um pracinha (soldados brasileiros que atuaram na Itália). Não eram histórias para criança, mas segundo o vô, eu e meus primos precisavam ouvir, precisava ser forte e aprender como nossa pátria foi forjada. Veterano de guerra não abandona o censo político, diferente de meus pais que nunca falaram sobre política, pelo contrário sempre brigavam com o vovôzinho, dizendo, não fique enchendo a cabeça do menino com estas besteiras. Besteira para meus pais, mas para o avô, não eram apenas historinhas, era a vida dele e eram histórias fortes.
Uma das que mais marcaram foi um relato sobre a morte de um companheiro que atingido por um atirador, o amigo morreu em seus braços e ele teve que ficar imóvel por três dias junto ao amigo falecido, aguardando a calmaria para conseguir sepultar o amigo. Sem meios para cavar, cobriu o corpo com pedras. Depois sobreviveu sozinho por 17 dias, faminto e desidratados no décimo quinto dia sozinho ele encontrou pegadas de sua tropa, mais dois dias seguindo as pegadas, conseguir se reagrupar com os aliados. Ele e o companheiro estavam em uma missão de reconhecimento e mais doloroso que ficar os dezessete dias sobrevivendo sozinho em linhas inimigas foi comunicar aos colegas a morte de seu amigo.
Mas o meu soldadinho de estimação me deixou, eu tinha oito anos, quando ele, vítima de insuficiência respiratória, faleceu. Mas ele foi e deixou seus valores comigo (honra, patriotismo, lealdade). Eu vivendo na zona rural de Mogi das Cruzes, cidade, conhecida como o cinturão verde de São Paulo, por conta de sua produção de hortaliças e legumes. Aos treze anos, saí de casa. Não por desavenças com a família, mas para trabalhar em uma colônia japonesa. Trabalhava de segunda a sábado e aos domingos quando não era época de colheita, eu voltava para casa de meus pais. Foi um contraste enorme, eu que conhecia a história da segunda guerra mundial pelos olhares dos aliados, agora comecei a conhecer a mesma história com o ponto de vista do"inimigo". Contada por uma Professora, que deixou o Japão, destruído pela guerra e veio com o esposo trabalhar no interior de São Paulo em fazenda de café. Casada com cinco filhos. O esposo faleceu vítima de malária e ela, uma professora do ensino primário no Japão, aqui sozinha criou os filhos trabalhando na roça realizando trabalho manual. Seus valores parecidos, mas as particularidade da cultura oriental, foram enriquecedor em minha vida, o fato de ser uma educadora, e eu ter trabalhado em sua companhia dos treze aos dezoito anos. E sabemos da complexidade desta faixa etária e todo os questionamentos naturais da adolescência.
Vivi esse período ouvindo todos os dias valores como: autocontrole, autodisciplina, resistência, paciência, silêncio. Grupo é mais forte que o indivíduo. A harmonia do grupo vem antes das necessidades individuais. Forma e processo são mais importantes que o resultado. E o mais importante nesta estória é o Kaizen. Neste cenário do pós guerra, onde o Japão sofria diversos problemas econômicos. Com necessidade de renovar a industria, as empresas começaram a se aprimorarem em conjunto, criando assim este método que não é apenas um método mas um estilo de vida, filosofia e cultura. Um dos grandes responsáveis foi um professor, senhor Masaak Imai. A chave desta filosofia, é o trabalho coletivo deve prevalecer sobre o individual. E a comunicação moral entre as pessoas. Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje! Melhor não custa caro. Mudanças acontecem em qualquer lugar. Seja transparente no que faz. Não fique preso no passado. Não seja negativo. Não persiga a perfeição. Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje...
Aos dezoito anos retirei os documentos e fui trabalhar na industria. Com os documentos em mãos fui a uma agência de emprego. Era uma agencia temporária. realizando o cadastro no dia seguinte fui chamado para trabalhar em três empresas sendo duas empresas de origem japonesas NGK e Valmet (valtra), mas por questão de proximidade, escolhi uma empresa de origem nacional. Trabalhei três dias e não aguentei mais, era um ambiente horrível, muita pressão e pior de tudo uma enorme falta de respeito. Os comandos eram passados aos gritos. Mas com a segurança da certeza de meu ponto de vista, eu cheguei aos supervisores e falei, a sua empresa é uma bagunça só brigas e lamentação, não quero viver isso, me coloquem na próxima lista de demissão. A liderança, resolveu investigar, me chamaram para conversar e eu com simplicidade realizei uma comparação entre o meu emprego anterior onde reinava a paz e satisfação e o processo da empresa onde em três dias cinco funcionárias choraram no ambiente de trabalho, um nível de estresse altíssimo. Com nível de satisfação extremamente baixo e, o pior, a falta de educação que a liderança tratava os operadores. Ao invés de ser demitido a empresa realizou as mudanças sugeridas por mim. Foi um marco em minha vida e um exemplo aos colegas, e seria impossível se eu não argumentasse com propriedade e não teria propriedade se não tivesse absorvido um pouco dos valores da cultura japonesa. Por isso acredito na interculturalidade, sempre precisamos estar aberto a aprender com a cultura de outros povos sempre.
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