Ponto de Cultura - Museu Aberto
Depoimento de Waldomiro da Silva Prado
Entrevistado por Isabela de Arruda e Thiago Belloto
São Paulo, 06/04/2010
Realização: Museu da Pessoa
Depoimento PC_MA_HV263_ Waldomiro da Silva Prado
Transcrito por
Revisado por Erick Vinicius de Araujo Borges
P/1 – Waldomiro, boa tarde!
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria que você dissesse para gente iniciar a entrevista seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Waldomiro da Silva Prado e nasci no dia primeiro de fevereiro de 1945, no Município de Itatinga, Estado de São Paulo.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – O meu pai chamava-se Rubens da Silva Prado e a minha mãe Emília Sampaio Prado.
P/1 – O que seus pais faziam?
R – O meu pai, primeiramente trabalhava na lavoura com café, uma espécie de empreiteiro dos cafezais lá no Município. Depois, quando viemos para Carapicuíba, ele prestou concurso como funcionário da Prefeitura Municipal e acabou sendo funcionário público, onde se aposentou como funcionário da Prefeitura Municipal de Carapicuíba. Minha mãe, era doméstica, não trabalhava, só cuidava dos filhos.
P/1 – Trabalhava em casa...
R – Trabalhava mais do que fora porque cuidava de dez filhos.
P/1 – Dez filhos?
R – Dez filhos.
P/1 – Você é o mais velho? Com quantos...
R – Não, o mais velho é o Waldemar, já falecido.
P/1 – Todos nasceram em Itatinga?
R – Não. Alguns nasceram em Itatinga e outros nasceram em Carapicuíba.
P/1 – Ah, tá... Mas os seus pais, voltando um pouquinho para eles, eles sempre moraram em Itatinga? A família veio de onde?
R – Sempre, sempre moraram em Itatinga. Meu pai nasceu em um Município mais distante, mas foi morar em Itatinga. A família é de Itatinga.
P/1 – Os seus avós também?
R – Também.
P/1 – Todos são de lá?
R – São de Itatinga. Itatinga, Botucatu, aquela região.
P/1 – Sei.
R – É interessante que, nós morávamos, eu morava na...
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Depoimento de Waldomiro da Silva Prado
Entrevistado por Isabela de Arruda e Thiago Belloto
São Paulo, 06/04/2010
Realização: Museu da Pessoa
Depoimento PC_MA_HV263_ Waldomiro da Silva Prado
Transcrito por
Revisado por Erick Vinicius de Araujo Borges
P/1 – Waldomiro, boa tarde!
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria que você dissesse para gente iniciar a entrevista seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Waldomiro da Silva Prado e nasci no dia primeiro de fevereiro de 1945, no Município de Itatinga, Estado de São Paulo.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – O meu pai chamava-se Rubens da Silva Prado e a minha mãe Emília Sampaio Prado.
P/1 – O que seus pais faziam?
R – O meu pai, primeiramente trabalhava na lavoura com café, uma espécie de empreiteiro dos cafezais lá no Município. Depois, quando viemos para Carapicuíba, ele prestou concurso como funcionário da Prefeitura Municipal e acabou sendo funcionário público, onde se aposentou como funcionário da Prefeitura Municipal de Carapicuíba. Minha mãe, era doméstica, não trabalhava, só cuidava dos filhos.
P/1 – Trabalhava em casa...
R – Trabalhava mais do que fora porque cuidava de dez filhos.
P/1 – Dez filhos?
R – Dez filhos.
P/1 – Você é o mais velho? Com quantos...
R – Não, o mais velho é o Waldemar, já falecido.
P/1 – Todos nasceram em Itatinga?
R – Não. Alguns nasceram em Itatinga e outros nasceram em Carapicuíba.
P/1 – Ah, tá... Mas os seus pais, voltando um pouquinho para eles, eles sempre moraram em Itatinga? A família veio de onde?
R – Sempre, sempre moraram em Itatinga. Meu pai nasceu em um Município mais distante, mas foi morar em Itatinga. A família é de Itatinga.
P/1 – Os seus avós também?
R – Também.
P/1 – Todos são de lá?
R – São de Itatinga. Itatinga, Botucatu, aquela região.
P/1 – Sei.
R – É interessante que, nós morávamos, eu morava na Rua Samuel da Silva Prado, e o meu nome Waldomiro da Silva Prado, nunca entendia isso quando garoto. Eu sempre perguntava: “Pô, por que, né? Quem é o Samuel da Silva Prado?” Curiosamente nós mudamos da Rua Samuel da Silva Prado, para a Rua Major Antônio da Silva Prado, coincidentemente. Quando me perguntavam: “Qual é o seu nome, menino?” “Waldomiro da Silva Prado.” Só para falar: “Por que esse espanto? Não entendi” Porque grande parte das ruas tem o sobrenome Prado lá no Município.
P/1 – Lá em Itatinga vocês moravam na cidade?
R – Não, em princípio morávamos em um sítio.
P/1 – Como que era esse sítio?
R – Um sítio pequeno, onde tinha criação de animais, tinha vacas de leite... Nós tomávamos o leite. No período da manhã meu pai tirava leite das vacas e a gente tomava, tinha porcos, muitos animais. Café, cafezal. Animais, galinhas, porcos, perus, essas coisas tinham muito e usávamos para refeição.
P/1 – Como é que era esse monte de crianças morando no sítio, como eram as brincadeiras?
R – Ah, era um espaço enorme cujo espaço nos fascinava, porque a gente vivia no meio da natureza e isso nos agradava muito, a todos nós. Tínhamos uma vida pacífica, uma vida tranquila, sossegada, me lembro, eu pelo menos, vivia cantando, a minha vida toda, na infância, era cantar, é uma alegria enorme, pois tínhamos uma fartura muito grande, fartura mesmo. Tínhamos melancia, abacaxi, banana... Tudo isso a gente apanhava no pé. A melancia, você queria chupar uma melancia, ia no pé e pegava, você queria comer uma banana, comia no cacho. Queria um abacaxi, tirava um abacaxi. Era uma fartura enorme. Arroz, nós tínhamos plantação de arroz, tínhamos plantação de milho, de feijão. Tínhamos um rio de águas límpidas e cristalina, chamávamos de Prainha, a nossa Prainha. Nós brincávamos, nadávamos, passávamos momentos realmente muito agradáveis e ainda íamos para a escola. Quando voltava da escola, tomava banho, a mãe exigia, depois disso ia para a Prainha nadar, no riozinho. Realmente passamos... Eu passei uma infância maravilhosa. Tenho muitas saudades, gostaria, se pudesse voltar tudo de novo, para que pudesse ser criança novamente em Itatinga fazia isso de novo.
P/1 – Tinha alguma brincadeira dos seus irmãos que você gostava muito?
R – Ah, sim
P/1 – Como é que era?
R – Sim, tinha brincadeira, nós jogávamos bolinha de gude. Bolinha de gude muitas vezes com bastante seriedade. Jogava a bolinha e quando alguém perdia, partia para a luta porque não queria perder. Outra brincadeira que fazíamos também, montar em cavalos. Tínhamos cavalos bravos e a gente pegava aqueles cavalos que chamamos de potro. Montávamos no potro, levava cada tombo... Montávamos em bezerros, essas coisas todas nós fazíamos de brincadeira. Nosso esporte mesmo era natação, bolinha de gude e, por incrível que pareça, leitura. Ler. Nós tínhamos essa cultura, ainda que morando em um sítio, uma cultura letrada.
P/1 – O que vocês liam?
R – Ah, lia livros de filosofia.
P/1 – Criança, ainda?
R – Eu lia Platão, quando criança li os livros de filosofia. Os livros de Platão, Aristóteles. Tinha verdadeira paixão pela leitura. Bom, ainda tenho. Sou apaixonado pela leitura, não passo absolutamente nem um mês sem ler um livro. Sempre voltados para livros de reflexão.
P/1 – Mas quando vocês, quando eram crianças, assim, vocês liam... Uma pessoa lia... Como é que era?
R – Geralmente um lia e os demais ficavam sentados ouvindo as leituras. Quando se tratava de ler para os pequenininhos, a gente lia historinhas e eles adoravam.
P/1 – Tem alguma dessas histórias que você lembra?
R – Não me lembro agora, no momento. Tenho histórias de reflexão atuais, isso eu tenho.
P/1 – Mas daquela época?
R – Daquela época não tenho muita recordação, algumas delas, se citar vou me atrapalhar.
P/1 – Mas além da leitura vocês tinham o costume de contar histórias, os pais de vocês, ou só com...
R – Não, não tinha não, meu pai era muito sério. A minha mãe ainda contava algumas histórias para nós, mas meu pai não.
P/1 – Como que eram os seus pais? Além do trabalho?
R – Meu pai, muito honesto, uma pessoa muito séria, muito correta, gostava das coisas realmente certas. Tudo o que ele determinava tinha que ser cumprido à risca, não poderíamos desobedecer de forma nenhuma, era rígido. Tanto é que a gente acabou criando essa cultura, esse modo de ser com bastante seriedade, fazendo as coisas com perseverança, muita educação no trato com as pessoas, meu pai fazia questão absoluta. Valeu a pena, porque nós aprendemos a respeitar as pessoas. Isso repercutiu, depois, lá para frente, um respeito mútuo às leis, ao trânsito. Faço questão absoluta, não ponho meu automóvel jamais em cima da calçada, porque se eu colocar sei que possivelmente estarei atrapalhando alguém que vai por ali passar. Isso não faço. Não passo com farol vermelho. Tudo isso veio desse procedimento, dessa rigidez do meu pai.
P/1 – A sua mãe, como que ela era?
R – A minha mãe também rígida, mas já gostava mais de brincar com os filhos. A gente brincava, dava gargalhadas, principalmente... A vida era feliz, sinceramente falando, a vida era feliz mesmo. A gente não tinha essa coisa de briga de irmãos, lógico que às vezes era normal, os irmãos... Mas era muito difícil essa coisa de partir para cima do irmão, não, muito pelo contrário, era de defender... Cada um defendia o irmão.
P/2 – Vocês andavam sempre juntos, os irmãos?
R – Por incrível que pareça sempre juntos, sempre.
P/2 – Brincavam com as crianças.
R – Brincávamos, quando mudamos do sítio para a cidade e fomos morar na Rua Samuel da Silva Prado, tinha um areião de um lado, lá nós brincávamos todos juntos e o meu irmão mais velho, muito inteligente, jogava moeda para cima, pedia primeiro para que a gente agachasse, ficava abaixado que Deus ia mandar dinheiro. Nós abaixávamos, esperando que Deus mandasse dinheiro e ele atirava as moedas para cima, a moeda caía e a gente achava que tinha caído do céu (risos). Meu irmão brincava, tirava sarro da gente. Era muito divertido. A vida era feliz, como a gente diz, a vida está em se viver e lá estava realmente a vida, em se viver. Não tinha nada de agitação, tanto é que nós, outro fato curioso, dormíamos de janela aberta. Não sabia que existia roubo que alguém pudesse do outro roubar alguma coisa. Isso para mim foi novidade, quando fiquei sabendo que alguém roubava. A nossa casa ficava ali... Não tinha muro. As janelas ficavam abertas, dormíamos de janela aberta. A cidade era pequenininha, não tinha nem automóveis.
P/1 - Com quantos anos vocês se mudaram para a cidade? Vocês moravam no sítio?
R – Morávamos no sítio, foi mais ou menos quando eu tinha sete anos porque eu entrei na escola, no grupo escolar Paulo Tomás da Silva, onde fiz o primário e depois eu fiz um... Chamava-se... Era uma espécie de vestibulinho, para fazer o ginásio. Fugiu o nome agora. Fiz o ginásio lá, não tinha o colegial, só tinha até o ginasial. Fui terminar o colegial que chamamos, nós chamávamos, hoje é o ensino médio. Hoje nós temos o fundamental e o médio, era o ginásio e o colégio. Eu vim fazer o colégio aqui.
P/1 – Isso foi um pouco mais para frente?
R – Ah, bem mais para frente.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Quando vocês mudaram para a cidade, por que vocês mudaram do sítio?
R – Ah, não tem dúvidas, porque na cidade é um estalo, tudo mais fácil, mercado, açougue, padaria e cada vez que nós tínhamos que comprar pão, tinha que sair do sítio a cavalo para comprar um pão na cidade, fazer compras, tudo isso dificultava. Outra coisa, para ir à escola também era difícil, tinha que montar a cavalo, ou então de charrete. Foi então que o meu pai mudou para a cidade, lá ficou tudo mais fácil.
P/1 – A casa onde vocês moravam, ficava na Rua Samuel da Silva...
R – Samuel da Silva Prado.
P/1 – Como que era essa casa?
R – Era uma casa grande, enorme, dessas casas antigas, com janelas enormes, portas grandes, aqueles tijolos enormes, um casarão enorme. A sala enorme de assoalho de madeira. Uma casa antiga, mas super confortável, onde tinha um quintal enorme, no quintal tinha muitas frutas também. Coincidentemente saímos do sítio e fomos para a cidade e nós tínhamos também frutas. A vida era magnífica.
P/1 – Os irmãos todos dormiam juntos? Como é que era?
R – Não...
P/1 – Como é que era a divisão?
R – Não... Os homens dormiam em um quarto e as meninas em outro. A casa era muito grande e cada um... Não dormia sozinho, mas poderia, porque tinha quarto para cada um, para quem quisesse.
P/1 – Como é que era a rua onde vocês moravam, a rua, a cidade, o bairro.
R – A rua era uma rua larga, com pedrisco, areia, não tinha asfalto, não sabia o que era asfalto, não tinha a mínima ideia. Era tudo terra e também não tinha automóvel, eram só carroças, charretes, carro de boi, era o que passava na ruas.
P/1 – Quais eram os principais costumes de vocês, como que era o cotidiano.
R – O dia a dia era de uma família normal, levantávamos cedo, tomava um belo de um café, café bastante reforçado, muitas vezes a minha mãe fritava ovos e tinha mesmo, bastante mesmo, comíamos pão feito em casa, ovos, um bife, sempre a refeição da manhã com frutas. A refeição da manhã era sempre forte. Depois íamos para a escola, voltávamos, almoçávamos um almoço caseiro, feito pela minha mãe, muito gostoso, tudo com bastantes coisas da natureza, sempre com coisas da natureza.
P/1 – Foi aí que você entrou na escola, foi nessa...
R – Sim...
P/1 – Como era o nome da escola?
R – Grupo Escolar Paulo Tomás da Silva.
P/1 – Certo.
R – Uma escola, na época, um colégio enorme. Uma escola de estilo... Estilo gótico, escola bonita, ampla, muito confortável.
P/1 – Qual é a primeira lembrança que você tem da escola, do início?
R – A lembrança, tenho que ser sincero, não foi boa, no primeiro momento, porque no primeiro dia de aula eu pedi ao professor que queria ir ao banheiro, ao toalete e ela não deixou, em hipótese alguma. Tinha esse lado rígido, não é como é hoje na escola. Na escola, hoje, o aluno tem toda a possibilidade de falar, de expor. Na época não, nem ao banheiro ela não deixou e acabou resultando em uma situação péssima, lamentável e não foi... O primeiro dia de aula não foi bom. Eu que gosto de escola, adoro a escola, mas a lembrança não foi boa. Mas depois sim, aí foi maravilhoso. Como gostava muito de leitura e principalmente de cantar hinos, eu cantava, um vozeirão que tinha, como garoto, cantava hinos, o Hino Nacional era obrigatório... O Hino Nacional... Puxa vida... Tem um que eu cantava...
P/1 – Mas como é que era... Era todos os dias? Todos os dias tinha que cantar?
R – Todos os dias, para entrar na sala, primeiro nós cantávamos o Hino Nacional e depois a professora pedia para que os alunos cantassem outros Hinos, aí elencavam quais seriam os Hinos a serem cantados. Eu cantava. Coincidentemente gostaria até de falar o que houve em uma ocasião. Como eu gostava de cantar e eu estava cantando muito alto, a professora me repreendeu, dizendo que eu estava exagerando, estava cantando muito acima do que todos cantavam. (Cantando)
“Salve lindo pendão da esperança,
Salve símbolo augusto da paz,
Tua nobre presença lembrança
A grandeza da Pátria nos faz.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil...”
Por aí vai e fui repreendido porque cantava com empolgação. Quando era para receitar também era o primeiro, sempre a recitar. Era a Bandeira do Estado de São Paulo, adorava essas coisas de Bandeiras, sempre adorei, tenho verdadeira paixão. Então eu recitava:
“Bandeira de minha terra
Bandeira de minha terra
Bandeira das treze listras
São treze lanças de guerra
Cercando o chão dos paulistas.
Bandeira...”
Puxa... (___).
P/1 – Não tem problema. Se o senhor lembrar depois pode falar também.
R – Gostaria (___). Eu acho que... (___)
P/1 – Tranquilo. Mas nessa escola eram só meninas que frequentavam , ou era mista?
R – Não, não eram meninos e meninas. Era mista, porém, um fato curioso, as meninas ficavam de um lado e os meninos do outro. Na sala de aula se misturavam, mas mesmo assim em uma ocasião foi mudado também, meninos sentavam na sala de aula de um lado e as meninas do outro. Mas não me sentia confortável com essa iniciativa, uma vez que ainda como criança eu não sabia que todos devemos ser iguais, o que hoje está assegurado na Lei, na Constituição de 88, que todos nós somos iguais sem distinção de sexo, cor... Eu me incomodava com isso, achava que tínhamos que sentar juntos.
P/1 – E como é que... O que você mais gostava de fazer na escola além desse seu gosto pela leitura, você já tinha alguma atividade que você gostava bastante?
R – Tinha sim. Nós aprendíamos, na prática, fazermos trabalhos manuais. Inclusive aprendi a fazer cabides, o interessante que eu fazia e depois vendia os cabides, aos domingos saía, pegava um cabo de vassoura, colocava todos os cabides e saía na rua vendendo: “Olha o cabide, cabide, cabide.“ E vendia, vendia mesmo. Eu aprendi e tomei gosto por isso. Acabei, depois, até arrumando um emprego em uma marcenaria. Fui trabalhar em uma marcenaria porque tomei gosto pela coisa, de fazer cabide e isso surgiu na escola.
P/1 – Mas como era? Tinham várias coisas? Várias coisas vocês aprendiam a fazer, a construir...
R – Tinha, na prática usávamos... Os professores ensinavam as meninas a fazer bordados, as professoras... Bordados, costura e os meninos a fazer atividades práticas, como cabides, casinha de cachorro, casinhas para passarinhos colocar ninho. Muitas atividades nesse sentido acabavam fazendo com que a gente tomasse um rumo certo na vida, que na prática já vivenciava isso aí.
P/1 – Tem algum professor dessa época que te marcou, que você lembra?
R – Me lembro, perfeitamente do professor Ezequiel, exatamente o diretor da escola, do Colégio Paulo Tomás da Silva. O diretor Ezequiel era um senhor de cabelos grisalhos, alto, forte, andava de gravata, de terno na sala de aula e isso me empolgava de ver, aquela pessoa pressionando, com aquela postura. Eu, muitas vezes dizia para os colegas: “Um dia eu vou ser professor também.” Espelhado no professor Ezequiel, aquela postura dele, o corpo reto, falava com convicção, voz firme, ele conhecia mesmo da matéria, tanto que eu adorava. Ele era rígido, mas eu gostava do jeito dele. Aprendi muito com ele.
P/1 – Então desde criança você queria ser professor? Era isso que você queria ser?
R – É, na verdade eu... O sonho meu mesmo, verdadeiro mesmo, era ser piloto de avião. Esse era o meu sonho e depois pensei em ser padre. Acabei entrando na Abadia, onde se formam os padres, ajudando os padres a fazer o serviço de rotina, participava das missas, das rezas, e acabei, e inclusive eu gostava muito de latim. Cheguei a comprar um livro de latim quando menino, estudando, fazendo o primário. Lá com os padres, porque a missa era rezada em latim, tive a oportunidade de desenvolver ainda mais a habilidade de conhecer o latim. O latim ainda é a língua mãe, porque o português nasce do latim. O português tem a origem do latim. Primeiro é o latim clássico, depois o latim vulgar que se popularizou, em virtude de Portugal, os portugueses, os soldados, os militares, os comerciantes, não conseguiam falar a língua clássica e ele se misturou. Então, veio para o Brasil, acabou sendo um latim mais vulgar. Para mim foi bom porque acabei desenvolvendo esse lado.
P/1 – Então desde criança vocês tinham o costume de ir à igreja, de...
R – Tinha...
P/1 – Como é que era?
R – Na igreja não perdíamos a missa, principalmente aos domingos, porque nós éramos muito religiosos e ainda somos, ainda somos até hoje. Não fico sem ir à igreja, às terças-feiras, tem uma missa muito bonita, na igreja de Santo Antônio, em Osasco, Aos domingos eu vou com a minha esposa, faço questão, em ir lá na igreja, faço uma oração pedindo que Deus ilumine o caminho de todos os meus amigos, de todos os meus parentes e aproveito a oportunidade para agradecer a Deus e a Nossa Senhora pela vida que tenho, uma vida muito brilhante.
P/1 – Mas ainda lá, quando vocês iam, ia a família inteira, quando vocês eram crianças, como é que...
R – Nem sempre, porque tinha meninos pequenos. Minha mãe tinha filhos pequenininhos que tinha de ficar cuidando. Acabava não dando certo em todos. Quando dava certo, íamos todos, mas nem sempre dava.
P/1 – E, além da missa tinha alguma outra atividade que vocês faziam na igreja, na paróquia...
R – Eu ajudava na igreja, não era bem o Coroinha, mas ajudava a colocar flores, a limpar o altar, estava sempre envolvido com essa questão. Foi aí que tive a ideia de querer ser padre. Botei na cabeça que queria ser padre, depois, acabou não dando certo e como todo o garoto da minha idade de 12 ou 13 anos sonha, eu tinha os meus sonhos. Primeiro, queria ser padre, depois queria ser piloto, depois queria ser policial. Tudo isso passava pela minha cabeça, como passa na cabeça dos jovens. Não tem uma definição do que realmente ele quer. Como queria ser piloto, dizia na sala de aula para os meus colegas: “Um dia vou ser piloto.” Eles riam, todos riam na minha cara e achavam que era impossível. Então eu fui fazer o curso de piloto, não era o Clube de Sorocaba. Voei, sobrevoei a minha cidade.
P/1 – Mas isso foi um pouquinho mais para frente, não é?
R – Foi bem para frente.
P/1 – A gente está lá em Itatinga ainda.
R – Lá em Itatinga...
P/2 – Esse interesse por ser piloto, veio de onde? (___)
R – Não porque não sabia, não assistia filmes, não tínhamos nem televisão na época. Eu nem sabia que existia televisão. A televisão surge em 1954, se não me falhe a memória... 54, 55. Eu me lembro perfeitamente que a Lolita Rodrigues e a Hebe Camargo que inauguraram a televisão. A televisão em preto e branco chuviscava, assim, sabe? (risos) Justamente, era cômico.
P/2 – Mas esse seu interesse pela aviação veio... Você lembra quando?
R – De garoto... Não, via o avião passando e ficava olhando, ficava imaginando. Eu nunca tinha visto um avião de perto, quando garoto. Lá tinha um campo, que nós chamávamos de “campinho”, onde desciam alguns aviões, eram os chamados Thunder. Avião Thunder é o que tem duas cadeiras, uma na frente e uma atrás, e aqueles Paulistinhas, que fabricavam lá perto da minha cidade, em Botucatu. Fabricado pela Leiva, que hoje pertence ao Governo Federal, a Embraer. Era do BOPE, cheguei a conhecer o BOPE, se não me falhe a memória, era do Alberto que era o filho do dono da fábrica de aviões. Cheguei a conhecer, conversei com ele que tinha vontade de adentrar e não adentrava. Então surgiram os primeiros aviões passantes.
P/1 – Você disse que contava para os seus amigos, seus amigos zombavam.
R – Ah... Sim. Nossa... Eu contava para os meus amigos que queria ser piloto e eles riam na minha cara. Davam gargalhada mesmo.
P/1 – Mas esse grupo de amigos era da escola? Era da mesma escola ainda?
R - Da escola, estudantes, igual a mim mesmo, com a mesma idade.
P/1 – Mas da mesma escola...
R – Da mesma escola.
P/1 – Paulo...
R – Paulo Tomás da Silva
P/1 – Da Silva
R – Grupo Escolar Paulo Tomás da Silva.
P/1 – Você continuou nessa escola até quando?
R – Eu fiquei até fazer o Ginásio.
P/1 – Até o Ginásio.
R – É. Eu repeti um ano (risos), o terceiro ano.
P/1 – Como é que foi isso?
R – Foi terrível.
P/1 – Na sua casa... Com o seu pai rígido...
R – Na minha casa foi terrível. Ah... Fui repreendido, porque para ser sincero, eu deixei de estudar mesmo, a verdade foi essa. Acabei foi bagunçando mesmo, no terceiro ano e repeti.
P/1 – O seu pai, como é que foi? Que ele era super...
R – Meu pai ficou louco, louco da vida. A minha mãe... A minha mãe ficou mais brava ainda, queria até me bater. Falei: “Não mãe, pode ficar tranquila, que agora, daqui para frente vou estudar mesmo?” Mas levei a coisa na brincadeira no terceiro ano. Depois peguei certo.
P/1 – E... Pode falar...
R – Pois não... Interessante que, na escola lá onde estava fazendo o primário entrou uma professora do interior, muito calma, tranquila e, como eu lia muito, tinha respostas às vezes na ponta da língua, incomodava a professora. Ela começava: “Em quantas partes divide o corpo humano?”, nem terminava, “Em quantas partes...” Eu: “Cabeça, tronco e membro, professora”. Respondia na hora (risos). Não deixava ela terminar (risos).
P/1 – Ela ficava irritada? (risos)
R – Ela ficava irritada, porque quando ela começava a perguntar eu já falava.
P/1 – E os seus amigos, eles eram assim também?
R – Ah! Os meus amigos... Ficavam bravos, às vezes.
P/1 – Ninguém gostava? (risos)
R – Não, não gostavam não. Porque é o seguinte, o ser humano tem isso, quando você passa na frente do outro, parece que ele... Parece que desagrada. É uma coisa interessante, não era diferente lá não.
P/1 – Você estava falando desse grupo de amigos, foi... Nessa idade, você começou a sair mais com a turminha da escola, ou ainda com os seus irmãos? Como é que era, essa...
R – Saíamos, geralmente com meus irmãos e naturalmente com a turminha da escola.
P/1 – E o que vocês faziam, quando vocês saiam?
R – Íamos para a praça. Tinha uma praça, muito bonita, uma praça enorme da Igreja Matriz, Igreja de São João. Na praça nós íamos paquerar. Interessante que na praça, nessa época, isso durou ainda muito tempo, os homens andavam em uma direção e as mulheres em sentido contrário. Então, sempre cruzávamos, as mulheres andavam em um sentido e os homens em outro e se cruzavam. Dávamos uma olhada e assim nascia uma paquera.
P/1 – E dava certo?
R – Dava certo.
P/1 – Como é que era?
R – Dava certo. Naturalmente que deveria ter uma boa presença. Eu me lembro, perfeitamente, que as meninas me procuravam muito e eu muitas vezes até ficava curioso, queria saber o porquê disso. Mas é por que eu tinha um porte físico bom, avantajado e uma boa presença. Hoje não, hoje estou um caco. Pudera também, estou já com 65 anos, caminhando para 66, mas tinha uma presença boa e naturalmente um bom diálogo. Isso eu tinha.
P/1 – E você lembra de alguma das meninas que deu certo?
R – Me lembro...
P/1 – Seu primeiro namoro... alguma coisa?
R – Me lembro sim. Olha, não afirmava... Hoje a gente chama “ficar”, mas eu usava... Eu não sabia o que era “ficar”, mas ficava. Não dava certo, geralmente não me afirmava muito com uma só menina. Sempre fui exigente, sempre tive esse lado de exigência. Sou e sempre fui sistemático desde menino. Então muitas vezes, eu deixava... Tive esse privilégio: não era a menina que me largava não, era eu que deixava. Bastava fazer uma coisa que não gostasse e pronto, não adiantava mais, entendeu? Mas me lembro, sim, das meninas que eu paquerava... (risos) Não me lembro do nome...
P/1 – Tudo bem (risos). Não tem problema, não quer falar, não quer (risos)... Além de ir para a praça, tudo o mais, tinha alguma festa...
R – Tinha.
P/1 – Na cidade... Como é que era?
R – Tinham muitas festas. A cidade pequena, geralmente festas, como por exemplo, Festa de São João, Festas Juninas, Festa de São Cristóvão, fazia... Benziam-se os animais... Festa de São Roque. Festa não faltava na cidade. Leilão, muitos leilões nas Festas Juninas.
P/1 – E como é que eram as festas, o que tinha de comida, de diversão... Como é que era...
R – Ah sim, comida, nessas cidades interioranas é o que não falta. Comidas típicas como bolo de fubá, por exemplo, isso não faltava. Doce de leite, lá tinha muito leite, tinha até uma cooperativa e leite não faltava. Doce de leite, doce de mandioca, bolo de mandioca. Tinha muita fartura.
P/1 – A gente vai trocar a fita. Só um instantinho.
(TROCA DE FITA)
P/1 – Então Waldomiro, a gente estava falando das festas lá em Itatinga, além de todas essas comidas que você estava contando, tinha diversão, banda, por exemplo, jogos... Alguma coisa assim? Como é que era?
R – O que tinha era futebol, não faltava. Futebol, bom time por sinal e a gente ia... Não sou muito chegado em futebol, mas meu pai nos levava. Tinha muita tourada. Vinha para a cidade essas touradas, que nada mais é do que... A gente chamava de tourada e hoje é outro nome, rodeio, eles chamam. A gente se inspirava também em ver aqueles homens montando em bois e cavalos, eu promovia também uma tourada, com a garotada, com os colegas. Chegamos a fazer uma tourada mesmo, para montar em bezerros, para os demais colegas assistirem. Levamos cada tombo de bezerro que não é brincadeira. Mas valia a pena, porque tudo era como brincadeira, nada, digamos, para ganhar dinheiro não. Outra coisa também, os circos. Na época vinham esses circos e cantores como Tonico e Tinoco, por exemplo. Alvarenga e Ranchinho, deixa ver se me lembro de mais algum. Nossa... Tantos...Inezita Barroso... Deixa eu ver um famoso também... Bob Nelson... Bob Nelson dificilmente aparecia, quando ele ia... Cantava música de cowboy. Cheguei a aprender cantar música de cowboy e cantava mesmo, a molecada pedia para eu cantar e eu cantava. (Cantando)
“Eu sou vaqueiro lá do Oeste, ai, ai ai
Eu sou um vaqueiro lá do Oeste sim senhor
Quando eu acabo o meu trabalho
Que eu arreio o meu cavalo
Vou à cidade para ver o meu amor.
Oleirich, Oleirich, Oleirich, e Oleirich.”
Eu aprendi a cantar isso aí (risos). Chegava em casa e pegava o violão... Era coisa de maluco (risos) (___) Valeu a pena.
P/1 – Bom, então aí nessa época, você já tinha quantos anos? Uns 17, assim?
R – Não...
P/1 – Menos? Mais novo?
R – Com 17 anos eu vim parar Sorocaba.
P/1 – Ah, tá...
R – Bem antes.
P/1 – Então, mas antes de ir para Sorocaba, você falou que vendia os cabides...
R – Ah, os cabides foi antes. Os cabides estava fazendo o primário.
P/1 – Então, mas...
R – Tinha uns 12 anos, 12, 13 anos...
P/1 – Então, mas além dos cabides, você trabalhava ou só estudava?
R – Não, trabalhava na roça.
P/1 – Na roça com o seu pai?
R – Na roça com o meu pai. Trabalhava na lavoura. A gente saía de manhã, em uma carroceria de caminhões, de tratores. Eu trabalhava na roça. Meu pai pegava... Era empreiteiro, ele pegava empreitada de cafezal, ia com ele e trabalhava. Quer dizer, para ser sincero, era o filho do patrão e não trabalhava, não pegava muito no pesado, mas ficava ajudando sim.
P/1 – E era todos os dias?
R – Todos os dias.
P/1 – Então você ia trabalhar com o seu pai e depois ia para a escola.
R – Depois ia para a escola.
P/2 – Você gostava de ir à lavoura?
R – Ah, eu gostava, adorava. Gostava porque estava perto da natureza,e eu gostava muito de passarinhos, pássaros. Lá é o que não faltava: pássaros, animais silvestres também tinha. Cansei de ver, não onça pintada, mas jaguatiricas, passando por nós. Veados, isso é o que não faltavam, tinha mesmo. Lebres, aquelas lebres cinza, tinham muitos. Pássaros, então, tinham muitos, demais. Eu gostava de ouvir o canto dos pássaros, adorava, aliás, adoro até hoje eu gosto.
P/1 – Então, você continuava indo para a escola, tinha falado da sua grande vontade de ser piloto e que as pessoas zombavam de você.
R – Zombavam.
P/1 – Você falou aqui que você tentou fazer um curso? Como é que foi isso?
R – Eu tentei sim. Fiz um curso no aeroporto de Sorocaba, como PP, chama Piloto Privado, acabei não seguindo, tive problemas na vista e tenho até hoje, a minha visão é bem diminuída. Tive um problema sério na visão, fiz uma cirurgia, cheguei a perder mesmo a visão. Cheguei a ficar por dois meses sem enxergar absolutamente nada. Depois fiz uma cirurgia, quando jovem, quando garoto, tinha 15 anos mais ou menos e depois usei óculos. Toda a vida eu usei óculos e no exame final acabei levando bomba.
P/1 – Então agora aproveitando que você falou isso já era em Sorocaba, quando você mudou para Sorocaba com 17 anos.
R – Com 17, foi em 1961.
P/1 – Por que você foi para Sorocaba?
R – Ah, eu vim para Sorocaba porque já com 17 anos, com vontade de crescer na vida, ser alguém de destaque, eu sempre tive essa ideia, então achava que Sorocaba era um caminho bom para seguir uma carreira profissional. Porque Sorocaba é uma cidade que tem boas escolas, boas universidades.
P/1 – E você foi sozinho?
R – Primeiramente vim sozinho. Só eu e o meu irmão, Waldemar. Viemos para Sorocaba, sondar o ambiente. Tínhamos parentes lá. Sondei o ambiente. Gostei, achei a cidade ótima, grande e tinha o que a gente procurava. Depois voltei e trouxe os meus pais, onde moraram... Puxa vida, não me lembro do nome do bairro... Próximo ao Centro de Sorocaba.
P/1 – Quais eram as principais diferenças de Itatinga e Sorocaba. O que mais mudou?
R – Ah, muito grande. Itatinga era uma cidade pacata, bem interiorana. Sorocaba já é uma cidade grande, quase que em comparação a Itatinga, era uma metrópole. Muitos automóveis, faculdades, veículos, coletivos, ônibus. Coisas que em Itatinga não tinha. Itatinga só tinha, na época, quando garoto, carroças e charretes. Quando veio o primeiro carro que vi em Itatinga, foi uma Kombi. Eu fiquei admirado quando vi a Kombi. Fiquei rodeando a Kombi, andando, olhando dentro da Kombi. Fascinava-me aquela Kombi (risos). Eu já queria dirigir a Kombi também (risos). Pedi para o rapaz que estava dirigindo: “Me deixa dirigir?” Eu lá sabia dirigir... Mas era uma curiosidade ingênua. Então veja, o primeiro carro que fiquei conhecendo em Itatinga foi uma Kombi.
P/1 – E Itatinga é longe de Sorocaba?
R – É longe.
P/1 – Como é que foi a viagem, de Itatinga até Sorocaba?
R – A viagem foi sofrida (risos). Foi sofrida porque era de trem. Não tinha ônibus e o trem demorava muito. A viagem de trem de Itatinga a Sorocaba demorava oito horas. Era incrível. Hoje você pega um avião e vai daqui para Brasília, em menos de uma hora. Demorava oito horas de trem. Interessante, os trens que circulavam eram aqueles trens antigos ainda. Chamava Maria Fumaça, ainda. Estava com uma roupa, uma calça amarela e saía uma faísca do trem, pegou na minha calça, manchou a calça. Fiquei triste com aquilo, é a calça que vim. Então a viagem foi sofrida.
P/1 – E o que era a maior dificuldade, o tempo...
R – Da viagem?
P/1 – É.
R – É a demora, porque trem, o máximo que corria era, acredito, 60 quilômetros por hora. Hoje você tem trem no Japão que corre 800 quilômetros hora, é o que estão querendo implantar no Brasil, também, chamado Trem Bala. Já estão... Já está aberto, me parece, que o Edital vai sair de Campinas ao Rio de Janeiro.
P/1 – Mas quando você chegou em Sorocaba, qual foi a sua primeira impressão da cidade.
R – Ah, a primeira impressão, ficava pasmo de ver aquelas... Os prédios... Eu ficava olhando. Aquilo para mim me fascinava. Eu pensava comigo: “Como pode ter um prédio dessa natureza que não cai”. Hoje não, hoje entendo que ele tem uma fundação, tudo é feito com alta tecnologia, só que isso não sabia antes. Então, mas aquelas... Aqueles prédios me fascinavam.
P/1 – Você chegou e foi para onde? Quando você chegou a Sorocaba?
R – Quando cheguei em Sorocaba fui para casa de uma prima da minha mãe que nem a conhecia. Cheguei lá, me identifiquei e como eles também eram bastante receptivos, logo perceberam que a gente era do bem. Nos acolheram de braços abertos. Deram toda a assistência para gente... Até emprego eles procuraram para gente.
P/1 – Você começou a trabalhar, lá? Como é que foi
R – Comecei a trabalhar. Logo de início arrumei um emprego em uma loja, olha que fato curioso: eu havia aprendido na escola, fazer cabides, envernizar, fazer o verniz. Curiosamente fui a uma loja em Sorocaba e acabei arrumando um emprego para envernizar móveis. Fui admitido na hora, fiz um teste, fui envernizar e correu tudo bem,
P/1 – Você continuava morando na casa da prima da sua mãe e é isso?
R – Prima da minha mãe que fiquei por algum tempo, não muito. Logo voltei. Fiquei uma questão de 30 dias. E voltei para buscar os familiares.
P/1 – Voltou, foi todo mundo para Sorocaba?
R – Foi todo mundo para Sorocaba.
P/1 – Todos os irmãos?
R – Todos os irmãos.
P/1 – Vocês foram morar em uma casa da família mesmo?
R – Não, não compramos ainda a casa, nós alugamos.
P/1 – Alugaram uma casa?
R – Alugamos uma casa.
P/1 – Qual era a grande diferença dessa casa para a casa grande, onde vocês moravam lá.
R – Ah, a diferença era enorme, porque a gente era acostumado com bastante espaço, quintal enorme, sempre gostei de espaço e lá não tinha nem quintal. O quintal era pequenininho, bem reduzido, cômodos pequenininhos e isso me incomodava. Nunca gostei disso, gosto de espaço, sempre gostei. Lá em casa... Onde eu possa andar a vontade, com liberdade.
P/1 – Mas você continuava trabalhando nessa loja de móveis.
R – Sim, eu trabalhei nessa loja de móveis, depois eu levei o meu irmão, para ir morar comigo, também, o Waldemar. E daí, apareceu um tio, chamava-se Joanim Tragueiro. E ele foi em casa, em Sorocaba, nos visitar e contou de Carapicuíba, como era, e eu fiquei com vontade de vir para Carapicuíba. Combinei com meu pai que eu viria e vim para Carapicuíba, eu e o meu irmão, novamente, os mesmo que saíram de Itatinga, saímos de Sorocaba e viemos para Carapicuíba, e fomos acolhidos, também, na casa desse meu tio, muito bem, por sinal, e nos tratou maravilhosamente bem, e fiquei morando com eles ali até, acho que mais ou menos uns seis ou sete meses. Ele me arrumou um emprego, em São Paulo.
P/1 – Então você ficou por pouco tempo em Sorocaba e já se mudou para...
R – Em Sorocaba fiquei, mais ou menos... Não, fiquei um ano e meio, mais ou menos .
P/1 – Um ano e meio?
R - É. Depois viemos para cá e fiquei...
P/1 – Certo. E quando vocês vieram para Carapicuíba você foi morar na casa desse seu tio...
R – Fui morar na casa do meu tio...
P/1 – O que te motivou a sair de Sorocaba, que já era uma cidade enorme, para vir para Carapicuíba.
R – O que motivou foi que em Sorocaba não estava tendo emprego, estavam difíceis os empregos. Como eu sabia que em São Paulo era um horizonte, é uma terra enorme, onde acolhe todo mundo e o meu tio falou bem de São Paulo, me entusiasmei, vendo que tinha possibilidade de crescer ainda mais e vim para cá.
P/1 - Então, você foi morar na casa do seu tio e ele te arranjou um emprego em São Paulo.
R – Arrumou um emprego em São Paulo.
P/1 – E qual foi a sua primeira impressão de São Paulo?
R – De São Paulo?
P/1 – É.
R – Nossa. Eu fiquei... Eu fiquei pasmo de ver os prédios. Eu tinha vergonha de olhar para cima, para ver os prédios, porque tinha medo que as pessoas estavam me observando e sabiam que eu era uma pessoa do interior. Então olhava rápido os prédios, mas me fascinavam e eu ficava pensando: “Como eles podem construir um prédio tão alto desse jeito que não tem problemas de cair com os ventos.” Essas coisas todas passavam em minha cabeça.
P/1 – Você sentia alguma dificuldade, quando você mudou para Carapicuíba, para São Paulo, do cotidiano da cidade, da locomoção e das pessoas, de muita gente.
R – Sim. Acabei tendo essa dificuldade. Ainda que sempre tive facilidade de entrosamento com as pessoas, mas tive sim. Me parece que as pessoas não tinham aquela mesma familiaridade que tinha em Sorocaba. O povo, ao encontrar ali uma pessoa que você não conhecia, cumprimentar: bom dia, boa tarde, boa noite. Eu comecei a notar isso em São Paulo. Quando vinha para São Paulo, para as ruas centrais, entrava no prédio, eu tinha o hábito de cumprimentar e eu observava que as pessoas me olhavam. Chegava e cumprimentava. Notava que parece não agradar a ele. Eu via um distanciamento das pessoas. Aquela afinidade que tinha na cidade do interior não tinha em São Paulo. Eu adoro São Paulo, nossa... Eu gosto demais daqui.
P/1 – O emprego que você começou a trabalhar aqui em São Paulo o que era, o que você fazia?
R – Eu comecei a trabalhar, primeiramente de faxineiro numa loja de móveis. Trabalhando de faxineiro, mais uma vez, o que eu havia aprendido, apliquei, envernizar. Acabei fazendo um teste na loja, fui envernizar móveis e fiquei envernizando móveis. Depois disso fui trabalhar na casa do dono da empresa que morava na Avenida Nove de Julho, ao lado da casa do Lucas Nogueira Garcez, que foi o Presidente da República. Eu fui trabalhar na casa dele, fui muito na casa dele, envernizar os móveis dele. Comia com eles, almoçava e jantava com eles.
P/1 – E como é que era esse trabalho na casa, de uma pessoa...
R – Era... Eu fui... Era bastante reservado. Tinha horário para fazer as coisas e tinha pessoas que estavam dormindo. Tinha a filha dele que estava dormindo.
P/1 – Você gostava de trabalhar?
R – Eu gostava.
P/1 – Por quê?
R – Ah, eu gostava porque era bem tratado. Na falsa modéstia eu também sabia tratar as pessoas. Sempre soube. Esse é um item que eu (_______) sei tratar as pessoas, ainda que não tinha, digamos, o preparo, culturalmente falando, mas tinha o conhecimento do senso comum, que nem sabia o que era senso comum, mas eu já tinha um senso comum comigo e aplicava na prática, que é o conhecimento que cada um de nós temos.
P/1 – Mas você não morava lá? Você voltava para Carapicuíba todos os dias.
R – Não, eu voltava para Carapicuíba todos os dias. Ia de manhã, entrava sete horas, pegava o trem, primeiro trem, era o único veículo que tinha o trem, a única condução era o trenzinho.
P/1 – E aí você saía de lá que horas?
R – De Carapicuíba? Geralmente eu saía às cinco e meia, quinze para as seis.
P/1 – E chegava...
R – Nunca cheguei atrasado.
P/1 – E chegava em casa, à noite, que horas?
R – À noite saía do serviço mais ou menos às seis horas, chegava sete e meia, oito e meia.
P/1 – Como que era a casa em Carapicuíba? A do seu tio? Quantas pessoas moravam?
R – Moravam... Deixa-me ver... (murmúrios). Umas dez pessoas lá dentro
P/1 – Bastante gente também. Sempre com a casa cheia.
R – Sempre com a casa cheia.
P/1 – E eram todos da sua família?
R – Não, eram os filhos do meu tio.
P/1 – Do seu tio.
R – Isso. Todos os filhos, a tia Isaura. A Ivone acabou sendo a minha comadre, depois. Uma pessoa maravilhosa e a minha tia também. Emociono porque eram pessoas fantásticas. Tratavam bem a gente (___).
P/1 – Na casa dos seus tios e tudo o mais, no final de semana, você ficava lá, ou você também trabalhava nos finais de semana?
R – Não. No final de semana saía para passear.
P/1 – E o que você fazia nessas horas?
R – No final de semana, geralmente queria conhecer os lugares novos. Então ia ao Museu do Ipiranga, ao Anhangabaú, naquela época, andava pelo Anhangabaú, Parque do Ibirapuera. Visitava Museus, Igrejas. Eu saía para conhecer tudo que até então não tinha tido contato.
P/1 – E você ia sozinho, ou ia alguém com você.
R – Geralmente eu e o meu irmão Waldemar. Sempre os dois juntos. Meu irmão já faleceu, mas sempre nos dávamos muito bem. Sempre gostei dele, depois apareceram os outros colegas que coincidentemente eram de Botucatu, o José Paulino e a gente ia junto. Marcava, eu ia para São Paulo, pegava o trem, sempre de trem.
P/2 – E algum desses lugares você gostava mais de ir?
R – Ah sim, o Museu do Ipiranga. Ah, gostava do Museu do Ipiranga e o Ibirapuera. Eu adorava.
P/1 – Por quê?
R – Por que no Ibirapuera tem muitas meninas bonitas, eu era jovem e sempre surgia alguma paquera. Ainda que eu tinha aquele jeito interiorano, jeito de caipira mesmo, a verdade é essa, jeito de caipira. Mas sabia me comportar.
P/1 – E no Museu do Ipiranga também?
R – Também, sempre soube me comportar, ainda que como caipira, mas ficava na minha, só observando as coisas, para entender.
P/1 – Mas daí também não saía nenhum namoro sério?
R – Namoro sério não. Era só paquera, “ficar”. Nós falamos “ficar”. Eu estava sempre nessa. Não era constante, o que eu achava era que não era a pessoa certa com que realmente gostaria de conduzir com bastante seriedade um namoro, para que se desse o resultado de casamento. Como deu com a minha esposa. Nos casamos há 32 anos, sem briga, nos damos muito bem. Ela me acompanha.
P/1 – Quer parar um pouquinho? Tomar uma água?
(PAUSA)
P/1 – Bom, a gente estava falando que nos fins de semana você gostava de ir passear em alguns espaços de São Paulo, mas lá em Carapicuíba você não saía?
R – Em Carapicuíba mesmo não tinha lugares de lazer, recreação, não tinha. Então lugar de lazer mesmo era São Paulo.
P/1 – Mas assim, a vizinhança, não tinha festas, não tinha... Sabe assim, essas ocasiões...
R – Tinha festas, mas são as festas porqueiras, não uma coisa muito padronizada. Não tinha grandes atrativos não.
P/1 – Então, mas aí você continuava trabalhando nessa casa que era na Nove de Julho.
R – Não, não, eu fiquei lá um ano e depois saí.
P/1 – E depois você foi para onde?
R – Ah, depois saí dali e nem me lembro do nome da empresa, porque em 91 eu não parava em lugar nenhum (risos). Tenho esse lado também, não parava em lugar nenhum... Um ano e meio, dois anos... Eu sei dizer que eu saí não me recordo agora para qual empresa que fui... Ah, sim... Foi na indústria... Saí dali, não, foi lá atrás, bem depois... Puxa vida, não me lembro. Só sei dizer que trabalhei em tantas empresas.
P/1 – E aí você foi trabalhar...
R – Eu posso citar... Se for citando assim... (_______)
P/1 – Não tem problema, se você quiser parar em uma que seja importante... Mas não tem... Tem alguma assim que foi muito marcante, o que você fazia lá na Matarazzo...
R – Na Matarazzo...
P/1 – Como é que era, o que você fazia lá?
R – Entrei como vendedor na Matarazzo e trabalhava com uma Kombi. Interessante que um bom vendedor passava a vender farinha. Primeiro eles colocavam para vender sabão, sabonete, bolacha, biscoitos, macarrão... Vendia tudo isso. Se o vendedor fosse bom mesmo ele passava a vender farinha, porque farinha vendia demais. Passei a vender farinha, sinal que era bom vendedor. Nossa... O pessoal ligava para minha casa. Falava: “Waldomiro, preciso de farinha, preciso de um caminhão de farinha, você se vire aí.” E me virava, era para entregar a farinha. Era uma boa entrega por causa das padarias (____). Mas vendia demais.
P/1 – Você gostava de trabalhar lá?
R – Eu gostava.
P/1 – E como é que era?
R – Era um vendedor normal, vendia no supermercado, mercadinhos, bares, nas lanchonetes, nas padarias geralmente era a farinha, macarrão. Já nos empórios e mercadinho, macarrão, farinha, bolacha, biscoito, aqueles macarrão de quilo, deste tamanho, aquele maço, vendia o maço azul, era macarrão familiar, deste tamanho assim. Vendia horrores, ia com a Kombi lotada, entregava, voltava, carregava de novo, não vencia. Eu entregava também, andava muito. Não conseguia atender a clientela minha, vendia muito.
P/1 – Nessa atividade de vendedor, tinha muito... Era muito comum fazer amizade nos lugares...
R – Ah, era comum.
P/1 – Como é que era?
R – Ah, fazia com os donos de supermercados, de padaria, fazia amizade. Sempre ganhei ponto nesse tipo de amizade porque acaba tendo uma confiança em você. Essa confiança que ele deposita em você, você também deposita nele e é recíproca, com isso a gente acaba vendendo mais. Ele já indica um colega que precisa comprar também, desde que seja na sua área e avisa: “Compra de fulano que o camarada...” Assim a venda vai aumentando cada vez mais. Fazer amigos e influenciar pessoas, isso é muito importante. Tem até um livro, do Dale Carnegie que já li pessoal, “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. Eu não tinha lido ainda, mas cultuava isso.
P/1 – Você ficou bastante tempo trabalhando na Matarazzo?
R – Não, não fiquei não. Fiquei cerca de dois anos só, na Matarazzo. Arrumei outro emprego melhor.
P/1 – Onde?
R – Em Jandira. Foi da Matarazzo que fui para Jandira.
P/1 – Você mudou-se para Jandira?
R – Não, fiquei em Carapicuíba morando.
P/1 – Continuou morando.
R – Continuei morando.
P/1 – E o que você... O que era esse trem em Jandira.
R – Em Jandira fui gerenciar uma loja de móveis.
P/1 – De móveis novamente.
R – Mais uma vez móveis. Parece que era um destino. Era na Rua Vereador São Bernardo, também fiz sucesso muito grande, fiquei cinco anos lá.
P/1 – E tem alguma história nesse trabalho? Você se lembra...
R – Ah, nesse trabalho tem histórias sim e por sinal uma história linda. Foi nesse trabalho que conheci a minha esposa Maria José.
P/1 – Como que foi que vocês se conheceram.
R – Foi assim, fui financiar um carro no Banco Bradesco, lá em Jandira é uma agência pequenininha, só tinha dois caixas e uma meia dúzia de funcionários, dentre essa meia dúzia de funcionários, a minha esposa era funcionária. Coincidentemente foi ela que fez o meu cadastro para comprar o carro financiado pelo banco. A minha conta era no Bradesco e me lembro perfeitamente quando ela perguntou: “Solteiro ou casado”, falei: “Solteiro.” E aquilo já, daí foi nascendo aquele interesse. Fiquei realmente encantado por ela. Imagina, fui fazer o financiamento, fiquei encantado pela moça que me atendeu e é a minha esposa Maria José, uma pessoa maravilhosa, que me fez feliz, Deus me iluminou de conhecê-la.
P/1 – Mas como é que foi, você chamou ela para sair depois disso?
R – Não, não chamei. Simplesmente fiz o financiamento, agradeci, como agradeci o gerente, cujo nome não me lembro agora, era meu amigo também... Me fugiu o nome e fui embora. Como tinha que depositar o dinheiro da firma, tinha os funcionários nossos que depositavam, falei: “Não, deixa o dinheiro que tenho de ir ao banco e deposito, porque queria depositar.” Acabei indo depositar, aí os meninos, funcionários: “Não, mas eu precisava depositar o dinheiro.” “Deixa que eu deposito, tenho que ir ao banco, aproveito e vejo o negócio do financiamento.” Era nada, era para depositar o dinheiro no caixa dela. Ela era caixa. Por que no banco fazia de tudo, atendia financiamento, seguros, essas coisas todas e atendia o caixa também. Era ela e a Ana, ela e a Ana. Só tinha dois caixa dela e eu ia no caixa dela. Coincidentemente todos os dias de manhã, rigorosamente fechava a noite o balanço, o caixa e de manhã pegava o dinheiro e ia depositar. Curiosamente levava bastante dinheiro trocado, cheguei a trocar o dinheiro graúdo, para que ela ficasse contando enquanto eu ficava ali. Interessante que quando eu chegava lá, a primeira coisa que fazia era cumprimentá-la. Chegava: “Bom dia!” (___) “Bom dia, tudo bem?” Daí nasceu esta interação de namoro. Coincidentemente depois nós nos encontramos em uma inauguração de uma pastelaria. Essa pastelaria foi inaugurada e ela foi convidada e como eu também. Só que então eu não sabia que ela estava lá, fui convidado, lá estávamos e lá nós trocamos umas ideias. Daí sim, eu convidei-a para dar um passeio comigo e, coincidentemente, fui com o meu carro que havia financiado, naquela época era um carro de luxo, um Maverick. Maverick era um carro de luxo mesmo. Poucas pessoas tinham esse carro. Carro lindo, lindo, lindo.
P/1 – O namoro engatou dessa vez.
R – Aí foi, surgiu... Nós marcamos o primeiro encontro, saímos, eu com muito respeito com ela, mas já tinha idade bem mais avançada. Sou dez anos mais velho que ela. Eu estou com 65, você acha a idade dela, sou dez anos mais velho.
P/1 – E onde vocês foram ao primeiro encontro?
R – No primeiro encontro nós fomos num jantar, no Parque Continental, em Osasco. Tinha um restaurante de luxo e esse foi o nosso primeiro encontro, jantar. Jantar bastante romântico (____).
P/1 – E dessa vez o namoro deu certo.
R – Deu certo. Pude perceber, realmente, esta é a pessoa sim com quem eu deveria ficar. Realmente, porque as pessoas, elas contam para você no olhar o que ela pretende, as suas ideias e eu pude entender que seria realmente a pessoa com quem eu ficaria o resto da vida. Porque casamento é um juramento e não sou de quebrar um juramento.
P/1 – Vocês namoraram por quanto tempo antes de casar?
R – Nós namoramos acho que uns dois anos. Quando marcamos, fiquei conhecendo toda a família e ela ficou conhecendo a minha, o pai dela tornou-se o meu grande amigo, amigo mesmo. Faleceu alguns meses, quatro meses. Foi um grande amigo. Coincidentemente fomos trabalhar juntos, eu e o irmão dela. Depois com (___).
P/1 – Só para fechar um pouco essa parte, vocês se casaram e você lembra o dia do casamento como foi?
R – Nós casamos no dia seis de janeiro de mil novecentos... Ai se eu errar (risos), no dia seis de janeiro de 1978. Dia seis de janeiro de 1978. Ah... Ela vai me pegar (risos), tenho certeza, ela não erra data (risos).
P/1 – Como que foi esse dia, teve festa, foi na igreja, como é que foi?
R – Teve uma bela de uma festa. O casamento foi muito bom, tudo correu dentro dos... Da normalidade, casamos em Carapicuíba, na Igreja de Carapicuíba. O casamento foi muito bom, convidei todos os meus parentes, amigos, tudo bom, com a maior seriedade possível. Nada de coisas extravagantes, tudo dentro do contexto.
P/1 – E a sua família que tinha ficado lá em Sorocaba, vieram e tudo o mais?
R – Não.
P/1 – Como que... Você ainda via bastante a sua família que tinha ficado lá?
R – Não, a gente foi se distanciando. Não via. Foi se distanciando porque, outros afazeres, outras atividades e acabou se distanciando.
P/1 – Bom, vocês casaram, foram morar juntos numa casa em Carapicuíba?
R – Não, eu mudei para Jandira. Agora que mudei em Jandira.
P/1 – Ah tá... (risos)
R – Porque trabalhava em Jandira, mas morava em Carapicuíba. Quando casamos aluguei uma casa. Coincidentemente uma casa confortável, do jeito que gosto, com árvores, muitas árvores, uma chacrinha. Fui morar próximo aos pais dela.
P/1 – Vocês tiveram filhos?
R – Tive. Tivemos. Graças ao bom Deus, uma filha maravilhosa, Airlaide, olha que nome interessante, Airlaide, até hoje me perguntam: “Mas como esse nome?” Airlaide. Esse nome havia visto em um disco, um disco até do meu pai, tinha dado para gente. Ele deu e pronto, até para quando tivesse filhos, disquinho de musiquinhas de crianças infantil e eu vi no disco Airlaide. “Olha que nome lindo!”, falei para a minha esposa, “Olha que nome lindo!”, ela topou e pusemos. “Se for uma mulher chamará Airlaide, e se for homem, vamos escolher depois”. Mas parece que estava predestinado.
P/1 – Como foi ser pai, o que mudou?
R – Ah, foi a coisa mais bela que você possa imaginar. Uso dizer, inclusive, acho que se não fosse pai nem sei o que seria da minha vida. Não vou dizer que não seria ninguém, mas acho que teria um sentimento. Acho que é a coisa mais bela do mundo você ser pai e ter uma filha como tenho, minha vida é maravilhosa.
P/1 – E o que muda, o que mudou, quando você se tornou pai.
R – Mudou tudo, porque até então não ligava muito para as coisas. Nunca fui de ligar para as coisas, sabe? Essas coisas de bens materiais, essas coisas todas, nunca liguei para isso. Mudou completamente. Passei a guardar dinheiro, a comprar uma casa, para quando... E essas ideias eu não tinha antes. Não estava nem aí, o meu negócio era carro, carro eu comprava, isso gastava dinheiro porque comprava mesmo, não estava nem aí, queria passear. Depois de casado tive outra ideia, uma ideia com muita seriedade, de fazer as coisas. Tanto é que a minha esposa faz as coisas tudo cronometrado, tudo certinho, tudo muito criteriosa e acabou me colocando no ritmo. Valeu a pena. Senão, se deixasse para mim... Entendeu? Não estava nem aí. Tive chance de ter tanta coisa na vida e eu não estava nem aí. Cheguei a comprar casa e deixei para lá. Não estava nem aí não.
P/1 – Trocar mais uma vez.
(TROCA DE FITA)
P/1 – Bom você estava contando para gente de quando você foi pai, de quando a Airlaide nasceu e vocês moravam em Jandira.
R – Ah sim, morava em Jandira.
P/1 – Você trabalhava na loja de móveis ainda?
R – Não, nessa época a minha filha nasceu. Eu já tinha saído, já estava... 1979, minha filha nasceu em 17 de abril de 1979. Eu estava, em 1979, na Matarazzo ainda. Depois fui para a Associação Industrial de Jandira.
P/1 – E o que você fazia lá?
R – Na Associação, foi o seguinte, o Doutor Fábio Starace Fonseca, é o Presidente do grupo Friozem e ele precisava de uma pessoa que cuidasse e ajudasse a desenvolver a entidade que é uma Associação das Indústrias. Me convidou, ele já me conhecia, aliás o meu sogro, que trabalhava na Friozem, que é o primeiro funcionário da Friozem, o meu sogro, o Doutor Fábio me convidou. Fui trabalhar, administrei a entidade, coincidentemente era Diretor do CIESP que é o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo e me levou para trabalhar no CIESP. Onde eu fiquei entre CIESP e Associação, 15 anos. Paralelamente eu abri um Jornal. Isso foi já em 1983.
P/1 – Como que foi a ideia do Jornal? Como começou?
R – A ideia do Jornal iniciou com outro Jornal que existia no Município, o Jornal Jandirense. Esse Jornal divulgava as coisas do Município e eu estava sempre levando matérias para que se divulgasse. Acabei me envolvendo com o Jornal, o Jandirense. Gostei e tive a ideia de fundar um Jornal, junto com um amigo, tivemos essa ideia: “Vamos fundar Jornal?” e fundamos o Jornal da Região Oeste. O Jornal nasceu em uma sala, comum, sem nenhum maquinário, sem nada. Nasceu do nada. Tivemos a ideia: “Vamos fazer um Jornal?” “Vamos fazer um Jornal”. “Vamos fazer o primeiro número?”. Fizemos o primeiro número, foi um sucesso. Tudo o que ponho a mão faz sucesso, incrível, inacreditável (risos). Não tem uma só coisa que não coloque a mão e não tenha resultado. O resultado é tudo positivo, porque o que faço é com amor. Tudo o que pego para fazer, faço mesmo com perseverança, com empenho, com dedicação, pego com garra, com firmeza, caso contrário não pego as coisas para fazer. Só faço quando tenho certeza de que vou levar adiante. Como tenho um pensamento muito positivo, não permito ideias negativas, tudo o que faço prospera. Porque tudo o que a gente faz, tem que ter um pensamento positivo em cima. Muito mais importante, porque às vezes o importante não é o que você sabe, mas o que você faz com aquilo que sabe.
P/1 – Então a ideia do Jornal, você com o seu amigo, assim...
R – Isso...
P/1 – Tiveram a ideia, mas o que motivava vocês a montar um Jornal?
R – O que motivava é que a gente via no Município de Jandira a falta de um órgão de imprensa que divulgasse as coisas da cidade, que era a política, o lazer, a recreação. A gente percebia que faltava um órgão de imprensa nesse sentido e nós tivemos a ideia de fazer. Fizemos, como gosto muito desse lado cultura, queria divulgar esse lado cultural e deu certo.
P/1 – E quem trabalhava nesse Jornal, qual era a equipe, como que vocês formaram?
R – A equipe era só eu e o Daniel Deusdeth Peruzzo, meu grande amigo.
P/1 – Como vocês se viravam para fazer as coisas...
R – Ah, mas era uma luta violenta. Nós éramos o Redator, o Entregador, buscava anúncio. Tudo a gente fazia, era só eu e ele. O Jornal era só nós dois. Depois ele cuidava da parte de Jornalista, registrava o ______ tudo. O Daniel Deusdeth Peruzzo é pai do atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Antônio César Peruzzo. O grande amigo Peruzzo, Daniel, pessoa por qual tinha uma estima e aprendi muito com ele, um homem muito inteligente, muito preparado, me ensinou muito do que aprendi hoje, aprendi com Peruzzo.
P/1 – Bo Jornal, vocês faziam de tudo.
R – Bom, no começo nós fazíamos de tudo, buscava anúncio, vendia anúncio, escrevia o Jornal, levava o Jornal para rodar... Rodar porque não tínhamos máquina, levava em Bragança. Lá em Bragança, ficava a noite inteira esperando o Jornal rodar e no outro dia, eu saía entregando o Jornal.
P/1 – Você que saía?
R – Eu que saía entregando num Volks. Eu tinha uma Volks, uma Volks azul, saía entregando. Não demorou um ano, deu uma melhorada, comprei mais uma Volks. Escrevia reportagem e esse carro servia para fazer a reportagem. Não demorou mais um ano, comprei um (_____), aquele que tinha buzina assim... Foi prosperando. Não demorei muito já comprei a máquina. O Jornal foi crescendo, foi tomando fôlego e passou a ser respeitado. O Jornal hoje é o Oeste, é um Jornal super respeitado. Em todos os lugares por onde andava, quer no Executivo, no Legislativo, no Judiciário... Todos setores por onde esse Jornal andava, ele era respeitado. Porque tinha uma linha séria.
P/1 – Como vocês faziam, por exemplo, você falou que trabalhava de vários assuntos, como o que acontecia em Jandira, como que vocês faziam as pautas e iam atrás dos assuntos, como é que era esse cotidiano do Jornal.
R – A gente ia pessoalmente, digamos que inaugurar, por exemplo, o Legislativo, o Judiciário, inaugurar um Fórum, por exemplo, iamos lá fazer uma cobertura. Digamos que o Prefeito queria divulgar alguma coisa de eventos, a gente ia lá buscar na Prefeitura. Vivia assim, nesse sentido, buscando subsídios para o Jornal rodar. E a pauta era... Saía, muitas vezes, a caminho dela (risos). Não fazia uma pauta. Não traçava um roteiro. Nós vamos para Carapicuíba, nós vamos para Itapevi, nós vamos para Santana de Parnaíba, então ia lá em Santana de Parnaíba. Interessante que nós fazíamos ali. Cada lugar onde a gente aparecia era amigo na certa. Esse não deixava mais a gente. A gente fazia o Jornal e entregava mesmo, o Jornal dava resultado. Mas o Jornal foi indo muito bem, logo eu tive que comprar um caminhão, inclusive, um F4000 para fazer a distribuição. Mais uma vez saí dirigindo um caminhão e o meu pessoal entregando. Porque até então não tinha funcionários, mas logo fui obrigado a contratar. Contratei uma moça para trabalhar na recepção, logo precisou de mais uma moça para ajudar na recepção do pessoal e contratei mais uma menina. Depois contratei um rapaz para fazer entrega, já para ajudar na entrega, depois contratei um rapaz para fazer desenho e a coisa começou a tomar mais direcionamento, mais um alinhamento, uma linhagem de Jornal mesmo.
P/e – Como é que era a distribuição? Você falou... Era gratuita ou vocês...
R – A distribuição era gratuita.
P/1 – Sei...
R – Mas o mais interessante é que começamos fazendo só Jandira, Carapicuíba, Itapevi e depois começou a andar. Fomos para... Fazíamos Carapicuíba, Osasco, Itapevi, Santana do Parnaíba, Pirapora, Taboão da Serra, Embu, Itapecerica... Toda essa região. Ou seja, a região Oeste da Grande São Paulo, começamos a fazer uma boa distribuição dela.
P/1 – A equipe de Jornalistas também cresceu ou não?
R – A equipe de Jornalista não, nós tivemos o Professor Peruzzo e depois o Paulo, o Jornalista Paulo, depois veio o, muito depois, veio o José Carlos.
P/1 – O Jornal foi por bastante tempo?
R – O Jornal funcionou durante quase 20 anos, 20 não, mais. O Jornal funcionou, mais ou menos 20 anos. Interessante que eu também escrevia só que não podia assinar porque não era Jornalista, mas eu escrevia. Muitos dos textos que ainda tem no Jornal são textos meus, escritos por mim. Na falsa modéstia eu escrevia bem porque recebia telefonemas, do pessoal que tinha lido e queria saber quem tinha sido o escritor. Desenvolvi essa base de escrever, tomei gosto pela coisa.
P/1 – Isso tudo com o Jornal você ainda tinha a sua ligação com a CIESP?
R – Ah sim, continuei. Essa ligação do Jornal se fortaleceu ainda mais porque ele acabou sendo um veículo de divulgação do CIESP de Osasco, que era a... Chamava-se Delegacia do Jornal de Osasco, depois passou a chamar-se Diretoria Regional e ele se afirmou, divulgava as indústrias, tinha até uma coluna que chamava-se “O que vai pelas Indústrias.” Eu que escrevi. O interessante é que o Jornal deu vazão, também, possibilitou até a abertura de um programa de Rádio. Nós fazíamos um programa de Rádio que era “CIESP em notícias”. Eu fazia, era o locutor. Foi ótimo também, um aprendizado muito bom.
P/1 – Como que era esse trabalho na Rádio?
R – Na Rádio tinha um programa de manhã, era das oito às dez. Era na Rádio Difusora Oeste. (Locução) “Está no ar, CIESP em Notícia. Rádio Difusora Oeste de 1540 kilowatts no arrrrrrrrrrrr.” Eu falava do que se passava no meio das indústrias, era um sucesso. Muitas vezes a senhorinha que trabalhava lá dizia: “Olha, tem um monte de pessoas que quer conhecer você, quando você faz isso aí.” Por causa da minha voz, tinha público. Interessante que era um serviço de utilidade pública, esse serviço do CIESP, um serviço de utilidade pública, tal era a necessidade de mão de obra nas indústrias. Tínhamos mão de obras, colocamos o problema no ar, na Rádio Difusora, para divulgar as vagas existentes. Então era um serviço de utilidade pública. Então falava: “Serviço de utilidade pública. Atenção, você que está desempregado, vamos passar as vagas existentes nas indústrias do Município de Jandira.” Aí lia todas as vagas, chamando pessoas para trabalhar. Mas assim mesmo não dava conta. Porque muitas indústrias queriam ir para Jandira e muitas vezes não iam por falta de mão de obra. Tive a ideia, vou abrir um programa e divulgar as vagas para trazer as indústrias, porque o meu objetivo era trazer as indústrias a Jandira para fortalecer o Município. Eu não tinha ideias políticas lá, não, nada de política, partidária. A minha satisfação era ver crescer a cidade, porque cresci com a cidade.
P/1 – Quais eram as grandes mudanças que Jandira passava nessa época.
R – Nessa época passou por mudanças significativas, principalmente o Parque Industrial, porque até então não tinha indústrias. Não tinha... Tinha apenas duas ou três indústrias de porte, era o Frigorífico Jandira, depois começou a aparecer indústrias grandes como a Friozem, Açotécnica, a Budai, a Quartzolit, a Inepa, a Resinac, e outras indústrias vinham E interessante que eu convidava as empresas a se instalarem em Jandira.
P/1 – Como que era isso?
R – Convidava, muitas vezes, eu trabalhava no CIESP e ia no escritório de indústria, por exemplo, que estava em São Paulo, por exemplo e falava: “Por que você não instala a sua empresa em Jandira. Em Jandira tem facilidade de transporte, de mão de obra, uma abundância; saídas para a Castelo, para a Raposo Tavares. Incentivava a pessoa ir. Incentivei vários industriais a ir para Jandira e consegui. Consegui sem pensar em ganhar, nada disso. Querer ganhar dinheiro para levar uma indústria, nada disso, para vender terreno. Não, nada disso, absolutamente. Meu objetivo era realmente ajudar o crescimento. Tem sempre esse lado, esse ideal, sempre tive.
P/1 – Waldomiro tinha alguma relação de interesse, assim, a Prefeitura não se interessava por esse trabalho da Rádio, ou do Jornal. Tinha alguma relação com isso?
R – Por incrível que pareça a Prefeitura, o poder público não se interessava por esse lado. Inacreditável dizer isso, mas não tinha esse interesse. Tanto é prova disso que muitas vezes queria fotografar a cidade, a transformação, sempre queria acompanhar o desenvolvimento, por várias vezes conversei com o pessoal para a gente fazer foto aérea e absolutamente... Eu, por minha conta, junto com os industriais, contratava empresas de foto aérea para fotografar as transformações da cidade, porque eu já tinha ideia de fundar um Museu. Isso já vinha desde 79. Tudo o que fazia, fazia pensando exatamente no futuro. Eu sempre fui de enxergar as coisas distantes, longe. Nada de enxergar só o espaço em que vocês sobreviverão. A minha ideia é de enxergar longe. Até a lua.
P/1 – Conta para gente como começou essa ideia de fundar um Museu. Como é que foi isso.
R – Bom, a ideia de fundar um Museu, interessante que no escritório do Jornal, na Redação, funcionava junto a Associação Industrial, tinha algumas fotos antigas, colocadas na parede e as pessoas que vinham na Redação do Jornal, olhava para a foto: “Olha, que bonita essa foto. Eu tenho lá em casa uma foto também, uma foto antiga.” Aí falava: “Me doa então, ponho aqui e fica bonita.” E assim fiz, as pessoas foram doando, acreditavam e doavam, as pessoas que viam, os antigos moradores, viam aquela foto bonita e foi aumentando o acervo. Depois fiz umas publicações no Jornal: “Se você tem uma fotografia antiga da cidade que queira nos doar, futuramente nós vamos construir um Museu.” Ah, mas não teve... Toda hora vinha gente. “Ah, vim doar uma fotografia.” O acervo foi crescendo e fui... Montei dentro do escritório os quadros, mandei fazer quadros bonitos, bem feitos e acabou dando resultado, isso foi para as escolas. Coincidentemente a minha esposa era professora, essa mesma que trabalhava no Banco Bradesco, depois acabou estudando, sendo professora e ela levava os alunos para conhecer as fotos, as transformações, acabei entrevistando as pessoas para pegar os dados sobre o Município e fornecendo aos estudantes para fazer pesquisa, trabalhos. A ideia do Museu nasceu em 1979.
P/1 – Mas por que você achava isso importante, qual foi o estalo de guardar essas fotografias e tudo o mais?
R – A ideia era o seguinte, você sabe que as coisas mudam e constantemente desaparecem do que já havia. A minha ideia sempre foi fazer com que na realidade ficasse a história para as novas gerações. Outra coisa, pude perceber que é importante que o estudante conheça a história do seu Município, para que ele sinta amor pela cidade. Ele tendo amor pela cidade, muitas vezes deixa de quebrar uma árvore, de pichar, sente que aquilo está enraizado que lhe pertence. É importante que o aluno conheça mesmo, de fato, isto eu pude constatar pelo interesse dos alunos quando vem fazer pesquisa. O resultado foi sempre positivo. Falei para você: ”Não tem uma coisa que não ponha a mão, que não dê resultado.” O sucesso foi enorme.
P/1 – Mas vocês divulgavam nas escolas? Como é que as pessoas chegavam até lá?
R – Nem precisavam divulgar. Os alunos vinham, contavam para os demais que tinham ido num escritório, tinha visto a fotografia antiga e acaba isso... Cidade pequena... Caía logo no ouvido de uma Diretora, entrava em contato conosco, se podia levar os alunos. “Sim, pode trazer.” Mas só que eles não tinham um meio para trazer, eles vinham a pé às vezes. De longe os alunos vinham.
P/1 – Mas continuava na sede do Jornal?
R – Continuava, na sede do Jornal.
P/1 – E isso desde... A ideia começou em 79...
R – Em 79
P/1 – Mas o Museu começou a ter um espacinho no Jornal...
R – Começou a ter mais... Digamos assim, mais...
P/1 – Quando?
R – Uma afinidade como Museu a partir de 1983, 84. Aí queria mesmo fundar um Museu, de fato. Comecei sentir que era importante termos aquilo. Porque comecei e o acervo foi crescendo, foi tomando vulto. Acabava divulgando no Jornal e as pessoas entraram em contato comigo, doavam as fotografias, contavam fatos, relatos sobre a história e eu escrevia tudo. Muitas vezes gravava. A pessoa estava falando comigo e eu estava gravando. Ele contando: “olha ali era assim, assim... ali era um rio onde a gente pescava...” e eu gravava tudo isso. Porque a ideia era fazer um trabalho mais amplo.
P/1 – Te perguntei isso porque você falou que o Jornal durou 20 anos, mais ou menos.
R – O Jornal durou mais ou menos 20 anos.
P/1 – E o Museu ficou sempre, esse acervo sempre ficou dentro do Jornal?
R – O Museu começou há 30 anos e não consegui fundar até hoje.
P/1 – Mas como é que era? Ele ficou todo esse tempo na sede do Jornal? E quando o Jornal fechou?
R – Não, não, só ficou na sede do Jornal quando o Jornal já estava atrapalhando o nosso andamento, do trabalho normal, da rotina do escritório, acabei levando o Museu em casa.
P/1 – Para sua casa?
R – Fundei o Museu dentro de casa, porque achava que isso era importante para a cidade. Entrei em contato com os administradores da cidade e parece... não sei o que faltava, não conectavam muito essa ideia, não sei por quê. E eu: “Quer saber de uma coisa? Vou abrir o Museu em casa.” E abri, abri o Museu em casa.
P/1 – Na sua casa, na sala de casa, assim?
R – Dentro da minha residência, na sala, na cozinha, nos quartos. Coloquei os quadros... Era enorme a quantidade de material iconográfico e fotográfico. Eu punha lá e trazia o pessoal para fazer visitas. O pessoal ia lá visitar aos domingos, enchia a minha casa de gente visitando. Aí como a casa era grande mudei para a parte de baixo, fomos morar na parte de baixo, eu e a minha esposa citou a ideia e em cima ficou... Ficava aberto, sábado, domingo. Nunca ninguém mexeu em absolutamente nada na minha casa. A minha casa é uma das únicas casas daquela rua que o muro é dessa altura. Ficava aberto. O pessoal entrava, eu estava na cozinha e iam tomar um café. Chegava lá tinha quatro ou cinco pessoas olhando. “Ah, fica a vontade.” Convidava a pessoa para tomar um café comigo. Dava um cafezinho, contava a história, sempre contava, ficava contando história. “Ah, tenho uma foto para trazer para o senhor. Uma foto antiga.” “Ah, me dá a foto antiga que eu ponho aqui.” “O senhor põe aí?”.
P/1 – Ficava tudo exposto? Tudo o que dava era exposto...
R - Não, não... Era tudo exposto nas paredes. Eu mesmo coloquei na parede. Bem bonitinho, certinho, tudo nivelado, tudo... Gosto de fazer as coisas bem feitas, faço bem feito. Ponho a mão em uma coisa... Só ponho a mão para fazer bem feito. Caso contrário não pego para fazer. Então colocava direitinho, bonitinho, peguei até prática de mexer com isso. Até nos quadrinhos punha esquadro, mandava fazer os quadrinhos e eu mesmo punha. É coisa que gosto de fazer. Ficava às vezes até meia noite, uma hora pondo fotos em quadros. Pintava os quadrinhos.
P/1 – E continuou na sua casa...
R – Continuou na minha casa por um bom tempo...
P/1 – Mas depois o que aconteceu?
R – Na minha casa foi o seguinte, começou a me atrapalhar porque a gente queria sair num domingo e tinha gente visitando porque divulguei, o pessoal começou a saber e todo mundo vinha em casa conhecer o Museu. Vinha gente de longe. Tive uma ideia. Eu... Sabe o que vou fazer? Vou comprar um ônibus e vou fazer um Museu itinerante. Mais uma vez falei com o Doutor Fábio, o Fábio Starace Fonseca, que é o dono da Friozem... Tinha uma cultura extraordinária, uma visão enorme, um homem que pensa no futuro, entendeu que isto era importante e que me ajudaria sim. Tanto é que ele vem colaborando, ajudando, para que isso se concretize como um Museu. Só o Doutor Fábio. A visão dele é ampla, coisa que os políticos não tiveram essa ideia. Falou: “Não, eu te ajudo.” Ajudou e comprei o ônibus. Bom comprei um ônibus e daí, quem dirigia? Dirigir ônibus? Tive que contratar um motorista. O que fiz? Fui tirar uma carteira de motorista profissional que queria ter para dirigir o ônibus. Fui entrei no DETRAN (Departamento de Transito), fui no DETRAN tirar a carteira de motorista. Primeiro entrei na autoescola para dirigir um ônibus. Ah, foi um sucesso. Tirei a carteira de motorista, me empolguei tanto que dou risada sozinho quando estou dirigindo meu ônibus. Dirijo o ônibus. Levo para as escolas, dirigindo, sou o motorista. Montei o ônibus do jeito que queria, mandei fazer... Um colega me ajudou a fazer as divisórias. Falei: “Você me faz as divisórias, assim, assim, assim.” Fizemos tudo. Mandei reformar o ônibus, mas eu que montei tudo aqui. Aquilo para mim é um hobby, um prazer, uma satisfação. O ônibus é um sucesso. Nossa! Vai para as escolas, tem que ver. Tem que ver o sucesso na escola. Entram de dez, de 12 alunos, eu explico a cada aluninho que entra, trato com bastante dignidade, os meninos desde o pré até os jovens, ao entrar no ônibus. “Bom dia, sejam bem vindos! Este é o Museu Itinerante, vocês vão conhecer a história do Município de Jandira. Vocês já conhecem? Fiquem à vontade, viu?” Deixo eles à vontade. Nada de adverti-los: “Não põe a mão aqui, não põe a mão ali.” Nada disso. Ninguém põe a mão em nada. Ao contrário que você pensa que o aluno vai entrar, vai por a mão e vou falar: “Não põe a mão não, viu... não põe a mão, porque amanhã... (____).” “Bom dia, sejam bem vindos!” Eles entram, fazem perguntas. Às vezes fico mais empolgado do que o próprio visitante, explicando: “Olha aqui, era a indústria tal, aqui era o bairro tal e hoje é assim, hoje tem uma indústria.” E vou explicando, me sinto empolgado. “Esse aqui é o senhor” e dou o nome das pessoas. “Você conhece a via que liga a Castelo Branco e a Via João de Góes? É esse senhor aqui, senhor João de Góes. Você conhece a Rua Conceição Sammartino? Essa aqui é a dona Conceição.” Eu vou explicando cada rua. “Essa aqui é a Rua Fernando Pessoa, esse aqui é o Fernando Pessoa.” Explico.
P/1 – Como é que funciona, você leva o ônibus para as escolas, mas como que as pessoas buscam.
R – Olha, buscam pelo seguinte: levei em uma, duas ou três escolas, correu a notícia em todas as escolas de que o ônibus é itinerante. Só que eles dizem que é da Prefeitura. O ônibus itinerante da Prefeitura, eles entram em contato com a Prefeitura para mandar o ônibus. A Prefeitura não... Eles acabam entrando em contato comigo, da escola. Descobrem o meu telefone. Mas aí a Editora Abril, a Revista Nova Escola, ela fez uma reportagem sobre o ônibus. Mas antes, porém, a TV Cultura, a TV Cultura fez uma reportagem: O Museu sobre Rodas. Passou no Jornal da Cultura. Nossa! Você não queira saber o sucesso. Gente de fora, de outro estado, me parava, eu dirigindo o ônibus. “Eu queria ver o ônibus, vi na TV Cultura.” Nossa, foi um sucesso. Nossa como fiquei conhecido, não esperava, que retorno enorme que deu, viu? “Olha o homem do Museu, olha o Museu.” A criançada, eu passo na rua, precisa ver como sou conhecido. Estou andando na rua, a molecada me cumprimenta, porque eu cumprimento. Tenho esse lado. “Oi, tudo bem, com você? Tudo bom, tudo bem?” Trato tudo com dignidade. Os meninos, os rapazes, os jovens, foram meus alunos. Os trato sempre bem e isso me empolgou ainda mais. Agora que em empolgou, agora que quero construir esse Museu... Não quero morrer antes de construir, nem que seja para construir e morrer depois, aí me sinto feliz, mas que vou fazer um Museu... Já vai indo para 30 anos que estou lutando. Graças ao Doutor Fábio, que vem me ajudando e que vai construir o Museu. Já está construído.
P/1 – Deixa eu te perguntar uma coisa, Waldomiro. Por que você acha que as pessoas gostam tanto do Museu sobre rodas? O que atrai as pessoas?
R – O que atrai é o seguinte, geralmente a pessoa teve dentro do ônibus, tem um avô, um bisavô, ou parente. O que atrai são as peças, porque hoje, a tecnologia muito avançada, o computador. Então explico: “Olha, dentro do ônibus tem lampião que iluminava os primeiros estabelecimentos comerciais, isso empolga o aluno de ver que aquele lampião que dava origem e hoje está acostumado com as coisas modernas, com lâmpadas fluorescentes, ele vê um lampião e se empolga. A máquina de escrever, tenho máquina de escrever de ferro. Tenho máquina de escrever de ferro, tão pesada, que não tenho forças para levantar e isso empolga os alunos. O que empolga, conhecer, por exemplo, tem as ruas, cujos nomes a pessoa está na foto, isso empolga: “Ah, isso aqui que leva o nome da rua tal, moro nessa rua, moro nesse bairro.” Isso empolga e eles vão divulgando. Um vai divulgando para o outro. Outra coisa, vem os professores históricos, hoje o Estado, a Secretaria do Estado e Educação, ela vem trabalhando muito essa coisa de (______) Municípios. Deu uma boa atenção, digamos assim, para esse lado e com isso fez com que os professores de história naturalmente atentassem para esse lado de divulgar a história do Município. Coincidentemente tenho todo esse material, a cidade não é uma cidade muito grande e tornou-se um sucesso. Mas esse sucesso já foi para longe. Já fui convidado a levar esse ônibus em outros Municípios, distantes. As pessoas viram na televisão, viram na Revista Nova Escola e pedem para que leve o ônibus. Foi um sucesso. Precisa de ver.
P/1 – A sua ideia, agora pouco você falou que o seu sonho é construir um Museu. Agora não entendi direito... Como é que... Fora do ônibus? Como é que é? (risos)
R – Ah, fora do ônibus... Não... O ônibus vai continuar, não vou acabar com o ônibus. Vai ser o seguinte, o Doutor Fábio que é da Friozem está construindo um prédio, cujo prédio será doado para uma entidade, que se chama União Pró-Jandira. Essa entidade é detentora do prédio mais antigo do Município onde nasceu a emancipação político-administrativa da cidade. É lá que queremos fundar o Museu, por ser um prédio histórico que ainda está de pé. O que nós fizemos? Nós... Isso é através do Doutor Fábio, que está construindo o prédio, lá nós vamos colocar a entidade dentro de um prédio novo, com toda a infraestrutura, um prédio de três andares... Dois ou três andares... Bem feito, nós ficamos com o prédio antigo, com o prédio velho, onde nasceu a emancipação político-administrativa da cidade. Lá vai ser o Museu, tanto é que a população já sabe. O pessoal já anda lá: “Ah, aqui vai ser o Museu.” Vejo o pessoal comentando, já caiu no ouvido de todo mundo. Eu não quero morrer antes de fundar o Museu, porque eu nunca deixei de realizar alguma coisa do qual dissesse que iria fazer. Até hoje não. Se eu falar para você que vou comprar um material, eu vou. Se eu falar para você que vou, por isso que não falo, se falar eu faço. Eu vou, vou em frente. Trabalho nem que seja de dia e de noite, mas cumpro e faço.
P/1 – Waldomiro, eu queria te perguntar, que estava falando agora do Museu, você falou dos seus alunos. Quando você começou a dar aula? Como é que foi isso?
R – Ah, interessante como comecei a dar aula. Na realidade meu sonho, não, tinha quando garoto, dizia que queria ser professor, mas esse sonho deixei para lá. Interessante que, como me aperfeiçoei muito do lado de Bandeira, ou seja, a parte cívica e patriótica, uma coisa que gostei sempre, desde criança, fui fazer uma palestra num colégio e o sucesso foi enorme. Não esperava que tivesse tanto sucesso desse jeito. A própria Diretora me convidou para dar aula e fui. Tinha o Jornal e lá acabei dando aula como professor eventual, é aquele professor que substitui, eventual. Nossa Senhora! Foi um sucesso. Não sabia que tinha tanto jeito para ser um educador. Acho que nasci educador, porque a primeira aula foi um sucesso, porque disse que tinha uma sala que nenhum professor conseguia dar aula. Foi um sucesso.
P/1 – E você dava aula de História?
R – Filosofia.
P/1 – Filosofia.
R – Filosofia era o que eu dominava. Isso também é um ponto importante, como domino bem a matéria e já lia muito, desde garoto, sempre li coisas sobre Filosofia, tenho domínio. Isso facilitou muito, porque o aluno quer ver o conhecimento que o professor tem, ele quer testar o professor. Quando você prova ser, realmente, habilitado, ter mesmo conhecimento dentro daquilo, da área que você faz, o aluno te respeita. Esse é um dos motivos do meu sucesso. Eles me respeitam. Na falsa modéstia, tenho conhecimento mesmo da matéria. Conheço sobre a vida, a vida toda, mexendo com,... Lendo jornais.
P/1 – Agora, só para eu entender direito, você dava aula, trabalhava no Jornal...
R – Trabalhava no Jornal...
P/1 – E no Museu...
R – E no Museu.
P/1 – Tudo junto.
R – Não, tudo junto. Eu ainda cuido de tudo isso, até hoje.
P/1 – E o Jornal...
R – Não, o Jornal não. O Jornal eu vendi. Mas ainda cuido do Museu, dou assessoria na Associação Comercial, leciono, estou dando aula, dou aula no Estado, sou professor do ensino médio e agora estou dando aula na faculdade. Fui me aperfeiçoando.
P/1 – Waldomiro, agora a gente já está chegando mais para a parte atual e tudo o mais. Você falou as coisas que faz hoje, as suas atividades hoje são essas que você acabou de falar e quais são as coisas mais importantes para você, hoje.
R – Mais importante você diz em termos de atividades profissional?
P/1 – É e também na sua vida...
R – Na minha vida, perspectiva de vida, sonho? Bom, tudo o que havia planejado, ainda quando jovem, já galguei e atingi. Eu sou aquilo que tracei como perfil, porque o destino do homem não está nas suas estrelas, mas nas suas conquistas e eu havia planejado, porque a nossa vida não é um destino. Nós somos os responsáveis, o arquiteto do próprio destino, eu arquitetei. Então, sonho mesmo, é a realização do Museu, poder atender as pessoas lá com bastante conforto, porque o Museu que quero fazer não é um Museu de peças antigas, como a gente está tendo ideia, ou Museu de coisas velhas, não. Eu quero... Terá sim as coisas antigas, mas um Museu com infraestrutura para que possa atender aos alunos com bastante dignidade, com biblioteca, cinema, com bastante estrutura. Praça para eles sentarem para pegar o livro, ir à biblioteca sentar na praça para ler. Palestras, cursos, tudo isso está dentro do meu contexto. Essa é uma das coisas que quero realizar, está dentro do meu planejamento. Fiz um planejamento. Agora com referência a vida pessoal e familiar, o que queria atingir consegui. Primeiro, ter uma boa casa, tenho. Ter um bom carro... Não estou pouco ligando para carro, mas o carro é necessário. A família. Dizem que um homem só se realiza quando ele planta uma árvore e tem um filho e eu me considero uma pessoa realizada.
(TROCA DE FITA)
P/2 – Waldomiro, você começou com o Museu, essa questão do bairro, você levou e acabou até escrevendo um livro.
R – Ah, sim...
P/2 – Sobre isso. Eu diria que foi uma ligação, você tem uma ligação especial com o bairro?
R – Com o bairro?
P/2 – É você fez esse livro por causa do bairro ou por causa do Museu?
R – Não, não. Na realidade foi por causa, foi o seguinte, pude constatar de que as informações inerentes à cidade eram fragmentadas, em virtude de matérias que saiam em jornal, algumas revistas, então, isso me incomodava, porque achava que deveria ter isso tudo dentro de um livro, toda a história, não só do bairro, mas todos os bairros falando do Município. Porque o nosso Município de Jandira é um Município, assim mais ou menos, como os demais Municípios, mas um pouco atípico, por uma razão que ele pertencia ao Município de Cotia. Então Jandira, era, na realidade, um Distrito de Cotia, se emancipou bem depois, lá por volta de 1963, que se tornou emancipado e eu queria reunir essa história em que pertencia a Cotia em um livro. Conversando com uma pessoa amiga que também tinha vontade de fazer um livro, o senhor Leopoldino dos Santos, que sempre respeitei, uma pessoa muito preparada. O senhor Leopoldino dos Santos foi Vereador, foi Presidente da Câmara, um homem entusiasmado, se empolgava quando falava do Município de Jandira, falava que ia escrever um livro, sobre a história. “Senhor Leopoldino, nós vamos fazer esse livro.”. Ele começou a me ajudar, me passou material, para que eu pudesse e, graças a ele, que esse livro saiu. Ajudou-nos mesmo, de fato, assim como outras pessoas que nos doaram material, fotográfico, histórico, relatos... Aí acabei escrevendo um livro sobre a história. Não fiz o livro para ganhar dinheiro, não fiz, vou ser sincero com você. Fiz o livro para servir mesmo como um elemento de consulta aos estudantes, para os professores lá do Município. Mas a coisa tomou um vulto maior do que imaginava. Esse me surpreendeu, ele vendeu dentro da cidade, coisa que não imaginava que venderia assim, pois vendeu. Até hoje o pessoal procura o livro meu para comprar. E esse livro foi para a Biblioteca, para a Fundação do Memorial da América Latina, para a Biblioteca da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, da Emplasa. Esse livro andou, foi para a cidade de Quioto, no Japão, que é uma cidade irmã no Município do Rio de Janeiro, o Prefeito de Quioto esteve lá, levou o livro. O Ministro Fernando Haddad esteve lá em Jandira, recebeu o livro de Jandira. O Governador Fleury, também recebeu o livro. Nosso livro foi um sucesso. Até hoje continuo recebendo ligações, de pessoas que leram e adoram. Na falsa modéstia, ficou bom o livro, debrucei em cima do livro mesmo, dei tudo de mim para fazer uma coisa bem feita, isso aí é sem falsa modéstia.
P/1 – Waldomiro, depois de escrever esse livro sobre a história de Jandira e tudo o mais, queria te perguntar como foi contar e não escrever, como foi a sua história para gente aqui na entrevista.
R – Olha, contar a minha história foi simplesmente maravilhoso, magnífico. Porque a gente faz as coisas e muitas vezes pensa que aquilo está enrustido, fica ali entre quatro paredes e não é verdade. Contar a história daquilo que a gente fez é uma grande oportunidade, uma grande possibilidade que obtive, graças a vocês, de me abrirem as portas para que eu pudesse falar aquilo que sempre tive vontade de por para fora e nunca tive esta oportunidade. Foi maravilhoso. Quero realmente deixar aqui o meu grande agradecimento a vocês todos que me deram esse acolhimento maravilhoso, me deixaram a vontade, confortável e eu pude realmente falar aquilo que estava retido dentro de mim, por para fora.
P/1 – A gente agradece muito a sua presença aqui, Waldomiro, muito obrigada, obrigada mesmo. Valeu!
R – Eu que agradeço, vocês não tem que agradecer nada. Eu tenho que agradecer a vocês.
Obs: Os nomes dos irmãos e primos foram retirados da transcrição à pedido do depoente.
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