Em 1922 nascia eu, e durante 20 anos vivi em meu saudoso bairro, chamado assim por mim, "Meu Bom Retiro querido". Com mais ou menos 6 anos de idade, já começava a observar e imitar os hábitos das pessoas, principalmente dos italianos, porque a colônia era grande, e sendo eu filha da própria, tinha muita facilidade. Ruas ainda não calçadas com os autênticos lampiões de gás formavam o maior centro de diversões. As classes sociais eram divididas praticamente em duas: pobre e rica. Tenho que salientar que, pertencendo à pobre, compreendia e me sentia muito feliz. Fui uma criança muito alegre, entusiasmada e gulosa.
As brincadeiras eram feitas no meio das ruas e com grande assistência, porque era hábito as famílias sentarem nos degraus das portas das casas, e até bancos ali eram colocados; bem típico dos italianos.
As ruas foram passarelas muito interessantes; diariamente passava o leiteiro tocando um grande sino para chamar a freguesia, numa carroça puxada por burros. O homem com as cabras, que traziam sininhos no pescoço, formando um lindo som, e as vacas, que também passavam quando eram conduzidas de um pasto para outro, porque as ruas terminavam no campo. Para as crianças tudo era atração; o homem que todas as tardes ascendia os lampiões de gás, o medidor de luz, o carteiro um homenzinho simpático que servia nosso bairro durante muitos anos. O vendedor de doces italianos assim gritava: "Pasticceria la parigusa, olha la pasticceria, os das batatas doces", Batata assada ao forno;
o dos pinhões, que passava nas noites de inverno, dizia: "Olha o pinhão, olha o pinhão do pinhão, o pinhão quentinho", o sorveteiro tocava uma buzina velha de fon-fon, o verdureiro e fruteiro era um napolitano baixinho e gorducho, que vendia cantando como uma cançoneta napolitana, seu apelido era Michiriquielo, o vendedor de flores gritava: "Olha a flô, olha o flô", a vendedora de bananas uma senhorinha também italiana, quando se dirigia para uma...
Continuar leituraEm 1922 nascia eu, e durante 20 anos vivi em meu saudoso bairro, chamado assim por mim, "Meu Bom Retiro querido". Com mais ou menos 6 anos de idade, já começava a observar e imitar os hábitos das pessoas, principalmente dos italianos, porque a colônia era grande, e sendo eu filha da própria, tinha muita facilidade. Ruas ainda não calçadas com os autênticos lampiões de gás formavam o maior centro de diversões. As classes sociais eram divididas praticamente em duas: pobre e rica. Tenho que salientar que, pertencendo à pobre, compreendia e me sentia muito feliz. Fui uma criança muito alegre, entusiasmada e gulosa.
As brincadeiras eram feitas no meio das ruas e com grande assistência, porque era hábito as famílias sentarem nos degraus das portas das casas, e até bancos ali eram colocados; bem típico dos italianos.
As ruas foram passarelas muito interessantes; diariamente passava o leiteiro tocando um grande sino para chamar a freguesia, numa carroça puxada por burros. O homem com as cabras, que traziam sininhos no pescoço, formando um lindo som, e as vacas, que também passavam quando eram conduzidas de um pasto para outro, porque as ruas terminavam no campo. Para as crianças tudo era atração; o homem que todas as tardes ascendia os lampiões de gás, o medidor de luz, o carteiro um homenzinho simpático que servia nosso bairro durante muitos anos. O vendedor de doces italianos assim gritava: "Pasticceria la parigusa, olha la pasticceria, os das batatas doces", Batata assada ao forno;
o dos pinhões, que passava nas noites de inverno, dizia: "Olha o pinhão, olha o pinhão do pinhão, o pinhão quentinho", o sorveteiro tocava uma buzina velha de fon-fon, o verdureiro e fruteiro era um napolitano baixinho e gorducho, que vendia cantando como uma cançoneta napolitana, seu apelido era Michiriquielo, o vendedor de flores gritava: "Olha a flô, olha o flô", a vendedora de bananas uma senhorinha também italiana, quando se dirigia para uma nossa saudosa e querida vizinha Dona Anézia; dizia: "Doninézia, oggi a fatto la polenta".
As pessoas eram muito alegres; aonde havia um piano, como no caso de Dona Anézia, muitas vezes pessoas se reuniam e cantavam a valer, tanto as músicas da época, como as italianas; e eu como sempre participava de tudo. Eu era muito íntima da família de Dona Anézia, eram pessoas boníssimas, cultas, que eu admirava muito, muitíssimo até hoje. Eu tinha tanta liberdade, que era chamada por elas, a italianinha do Bom Retiro; nessa época eu era a própria.
Nos jogos de futebol de várzea, o refrigerante vendido era a famosa "pichacha", que estava no alcance de todos.
Na morte de alguém, o escândalo se formava, a gritaria era tanta, que para nós crianças, se tornava uma festa. Mas festa mesmo, era a chegada dos casamentos; a criançada se reunia em volta dos noivos para agarrar os confetes que de praxe, eram atirados: a festa era normalmente no quintal da casa, as mães dos noivos, rapidamente tiravam os sapatos e punham chinelos, colocavam o avental de cozinha e formavam a roda para a valsa dos noivos e em seguida dançavam a valer; valsas, chorinhos , rancheiras etc.
As músicas que gravei dos meus primeiros oito anos foram: Lindo Jangadeiro, Na terra da Mantiqueira, Sobre as ondas, Que beleza de Morena, Italianos, La Violeta, Come num sonhatore e uma lindíssima talvez Meriana mas não sei o nome.
Na Revolução de 1930 os comentários políticos foram inflamados, saíram muitas discussões sobre os partidos.
Apesar da crise que ocorria, nós crianças nos divertíamos para valer. Tudo acontecia nas ruas, e logicamente presenciávamos e participávamos sem entender: até discussões sobre religião nós curtíamos. Na época das enchentes, o campo se transformava numa outra Veneza; e então os moradores usavam seus barcos para transporte, outros alugaram os chamados barcões para passeios que se tornavam realmente pitorescos.
E eu e outras crianças, vivíamos a beira dagua para conseguirmos um passeio de graça, pois dificilmente tínhamos uns tostões.
Outra coisa que adorávamos ver, eram os aviões, que ainda era meio novidade. Também muito comentado era o primeiro edifício mais alto da cidade, o famoso Prédio Martinelli; as pessoas que já o conheciam contavam que olhando para cima, sentiam tonturas.
Eu já começava a me interessar pelo carnaval; pelas músicas e alegria que ele trazia; fantasias que estavam em plena moda; porém a gente ainda não podia usá-las, eram caras para o nosso bolso, então nos contentávamos com as de papel creppon que não podiam apanhar chuva, ou ainda, as mulheres vestiam-se de homens e vice-versa, era uma grande farra, o importante era estar fantasiado. As famílias de posse enfeitavam seus carros com muita serpentina e confete; as capotas abaixadas e os escapamentos abertos, davam a imagem e o som do autêntico carnaval.
As ruas ficavam forradas de motivos carnavalescos, e nós nos divertíamos sem gastar nada.
No bairro haviam vários clubes de baile e dramas como eram chamados. O mais antigo e famoso era o Grêmio dramático Musical Luxo Brasileiro, que a maioria freqüentava; como ainda era permitido a entrada de menores, eu já começava a frequentá-lo. Era muito interessante, porque primeiramente passavam o Drama, depois retiravam as cadeiras, com tremenda barulheira, então várias pessoas varriam o chão, levantando enorme poeira e por fim jogavam parafina, para o assoalho ficar bem liso para o baile: e eu e minhas amigas, pegávamos parafina do chão para mastigar feito chiclete. Durante o baile o panorama era o seguinte: crianças e senhoras dormindo esparramadas nas cadeiras.
No carnaval havia competições de cordões que eram muito bonitos, pois todas queriam vencer; mas existiam também brigas com os freqüentadores que defendiam seus clubes com muito amor.
O Jango na época, era grande sucesso, e nos bailes, os pares procuraram se sobressair com figurador e também cantavam procurando imitar Carlos Gardel. Ainda não era hábito as mulheres freqüentarem o bar do clube, mas também não se tinha um níquel para comprar nada; e eu e minhas amigas, ficávamos apenas conversando sobre o desejo de comer alguma coisa. Outro gesto comum de algumas mães mais antiquadas, iam buscar suas filhas no salão, quase agredindo-as e com palavras pouco elegantes, as moças saiam chorando.
Em 1932, novamente revolução. Para nós crianças esta revolução foi ainda mais divertida porque cantávamos o dia todo o hino que foi tocado enquanto ela durou. Às vezes apareciam alguns aviões vermelhos jogando algumas granadas e as pessoas engraçadas diziam: "Correm pra dentro, os vermelhinhos estão atirando as batatinhas", e como sempre, era só algazarra.
Quando a revolução terminou, a crise era grande; havia um depósito situado em Campos Elíseos, onde estavam armazenados vários produtos que o Governo distribuía gratuitamente para os necessitados; entre os produtos, bolachas que já estavam com gosto de mofo, e nós crianças, íamos bem entusiasmadas buscá-las, seu nome era Bolacha Lucinda e para os amigos e familiares, esse nome ficou na história.
Outra grande alegria era a chegada de um circo. A propaganda era feita pelas ruas, com o desfile do elenco e quase todos os animais, nós então acompanhávamos fazendo mil loucuras.
Uma recordação também muito boa é a das procissões que participava desde criança com minhas irmãs e amigas. Apesar de ser um ato tão sério, não deixava de ser para nós maturidade.
Mas grande euforia era o dia do pic-nic, promovido pelo clube que freqüentávamos. Eu acordava de madrugada esperando a hora da partida.
Normalmente era na Vila Galvão ou Cantareira, aí o bairro em peso, se dirigia a pé, para a estação do Tamanduateí, carregando cestos de comida, garrafões de vinho etc; na volta era comum rapazes com manchas de vinho nas roupas.
Uma grande tranqüilidade pudemos desfrutar na época. Praticamente não haviam ladrões; quase todas as casas tinham na porta de entrada, por fora, um cordão para as pessoas entrarem, sem precisar bater ou tocar campainha.
Certa ocasião apareceu no bairro um ladrãozinho, que foi motivo de grande espanto e comentários, porque os grandes, estavam bem presos na cadeia, portanto era coisa raríssima.
Nas feitas juninas as ruas ficavam um só clarão: a cada 50 metros, havia uma enorme fogueira, soltaram muitos balões e fogos, não havia ainda tanto perigo, o céu ficava maravilhoso.
Sempre aparecia uma banda que tocava nas esquinas, e que trazia um dos santos representantes destas festas; e a criançada sempre presente, não perdendo nada, e os Italianos muito alegres também não deixavam por menos, assim cantavam; esta música tradicional:
"Lá fora arde a fogueira
É noite de São João
O céu fica todo estrelado
Fica todo iluminado
Pintadinho de balão
Puxando na cabrocha
A noite inteira
Também fiz uma fogueira
Dentro do meu coração
Quando eu era pequenino
De pé no chão
Recortava papeizinhos
Pra fazer balão
O balão ia subindo
Pelo azul da imensidão".
Realmente era muito engraçado o jeito que a maioria das pessoas italianas ou de sua origem falavam, também me incluo, pois, na época, falava bem mais errado. Vou dar uns exemplos: "Nóis vai alá, Mi leva ela aqui, Nóis cumpremo bacaxi, Nóis vai cumê os macarró, Eu feis as batata, Intó nósi peguemo e fumo lá" e assim por diante.
Meu pai tinha vários patrícios que o chamavam de primo. Tendo a maioria analfabetos, era ele quem escrevia as cartas que mandavam para a Itália. Um deles, era um senhor baixinho que nós o chamávamos de Champito. O nome do meu pai era Salvador então quando chegava, já da porta da rua gritava: "Como está o Salvador?" Aí pedia para meu pai escrever uma carta; lembro-me de alguns dizeres: "Queria que você escrevesse uma carta para mandar a minha irmã; quero que você diga que eu mando lembranças, que a minha mulher manda lembranças, que a Maria manda lembrança", Então meu pai perguntou o que mais ele queria que escrevesse, ele respondeu: "E diga que tuto naisse".
Como o Sr. Champito havia morado uns tempos no interior, seus filhos já falavam um pouco acaipirado. Certa vez um deles estava lá em casa, e eu ouvi este tipo de conversa com meu pai: "Primo, o doutor falou para mim não andar descalço, porque a gente pisa no ralo e fica constipado". Havia também outro patrício que se dizia prima, uma senhorinha que contava sempre mil histórias; nunca se conformando com a morte do marido, certa vez ouvi esta conversa: "Oi primo, eu gosto muito dos meus filhos, mas eu preferia que tivesse morrido meus 7 porcos, meus 7 cavalos, meus 7 cachorros, meus 7 gatos, minhas 7 vacas, meus 7 filhos, e que não tivesse morrido o meu marido".
As pessoas que vendiam roupas falavam assim: "Eu tenho pra vendê, carça, carçone, combinazione e tutte quante sei bele cose".
Em 1935 acontecia a guerra no meio dos italianos; os comentários floresciam nas portas das casas, nas vendas, nos açougues, pois a maioria dos comerciantes eram italianos; então era lido em público, todo o noticiário trazido pelo jornal "Fanfula", os analfabetos liam para os outros em voz alta, e para a criançada era motivo de mais uma festa.
Foi encenada, em seguida, por uma companhia italiana que se encontrava que em São Paulo na época, a peça teatral "Facceta Nera", uma paródia com o tema da própria guerra, causando enorme sucesso na colônia Italiana.
Com enorme euforia e sucesso chegou também o filme português: "A Severa", e a sua música Santo Antoninho foi cantada por toda a população. Os filmes americanos também eram muito concorridos, mas o bairro balançou mesmo, foi com o filme italiano "Vivere" que contou com o grande cantor lírico Tito Schipa.
Nas ruas os comentários eram sempre os mesmos; o enredo do filme, todos cantavam as músicas Vivere e Torna Piccina Mia; foi o maior estouro da época.
No início dos anos trinta, começava o grande sucesso de Carmem Miranda, que marcou inicialmente com a música Taí. Francisco Alves, Vicente Celestino e outros que já eram sucessos. Carlos Gardel com os maravilhosos tangos, também estava no auge.
No início da década de trinta o nosso bairro contava somente com dois cinemas, "Cine Bom Retiro", e "Cine Marconi", e nessa época foi que chegou com grande sensação o primeiro filme sonoro intitulado "Alvorada do Amor", com Janete MacDonald. As músicas desse filme "Gramadeiro e O Lindo sonho foi tortura", tornaram se famosos.
Outra loucura acontecida no bairro, foi com a entrada franqueada do filme de José Mogica. Loucuras de um Beijo, o cinema quase veio abaixo. Na Semana Santa o cinema lotava com o filme "Paixão de Cristo", na hora do crucificação, a garotada gritava: "É amanhã, amanhã é o seu dia", e de fato no sábado de Aleluia a festa era malhar os judas que se encontravam em cada poste das ruas.
Em 1935 a morte de Carlos Gardel nos abalou profundamente; o Bom retiro inteiro chorou. Em 1937 surgiu o primeiro grande sucesso de Orlando Silva, com a valsa Lábios que Beijei e daí por diante a loucura total das fãs; e muitas discussões entre as fãs de Francisco Alves e de Orlando Silva.
Os cantores brasileiros foram fabulosos, muito queridos por todos, e nós acompanhávamos o sucesso de cada um, e eles ficaram gravadas em minha mente com muito amor e carinho.
Nos anos trinta, os carnavais foram muito animados. Nas ruas havia batalhas de confete, que eram as festas, pré-carnavalescas.
O início das novelas de Rádio foi em 1937 ou 1938, sendo a primeira "Predestinada", causando outro marco. Quando a gente ouvia o Prelúdio da Ópera Traviata que era o prefixo, as ruas iam ficando desertas e somente quando terminava a novela, voltava com seu habitual movimento, e com grandes comentários.
No meu bairro acontecia de tudo, a maioria dos fogões eram a carvão, então costumava-se rachar lenha, para de manhã cedinho acender o fogão; e uma senhora, nossa vizinha dos fundos, assim reclamava: "Ma qui é questo barulho, tuti e giorni" "Tuque te tuque vícino a la parede"; e para nós crianças esta senhora passou a se chamar Tuque te tuque.
Outro senhor contava histórias pra nós; "Então ele andou, andou, andou, caminhou, caminhou, caminhou... E muitas outras conversas engraçadas se ouvia pelas ruas, como esta : Noêmia - chamava a mãe e outro senhor respondia - Boêmia? Boêmia Zé cerveja, não, Boemia respondia a mãe, "Noemia". Já então ia crescendo a colônia Israelista. Os hábitos italianos iam desaparecendo, dando lugar aos novos. Os cinemas, os clubes de baile os quais desde a infância freqüentavam com tanto entusiasmo e felicidade que foram sumindo, e as ruas se transformando de negócios e pessoas.
Assim, em 1942 deixei esse bairro, com muita tristeza, ficando só a recordação deliciosa desse tempo, que para mim, vale muito mais que qualquer riqueza material.
Minhas Lembranças de São Paulo nos anos trinta
Quero deixar claro que estas lembranças são apenas da minha memória, portanto faltarão com certeza muitos detalhes.
Sendo eu paulistana e sentindo grande orgulho, foi então que em 1930, com oito anos de idade, comecei a gravar em minha mente, como era o centro de São Paulo, e mais ou menos tudo o que existia e acontecia dentro dele.
Para mim e centro da mina cidade era muito importante, sentia tamanha alegria quando eu lá, por qualquer motivo tivesse que chegar.
Lembro-me das principais ruas e praças. O ponto principal, logicamente: O Pátio do Colégio onde o Padre Anchieta fundou a cidade.
O centro da cidade era bem limitado, compreendendo cerca de 30 ruas, destacando-se a Rua Direita, XV de Novembro, São Bento, José Bonifácio, Boa Vista e Líbero Badaró. Depois dos dois viadutos existentes na época, os atuais Viaduto do Chá e Santa Efigênia, destacou-se ainda as Ruas Barão de Itapetininga, Xavier de Toledo, 24 de Maio, D. José de Barros, 7 de Abril e Avenida São João.
As principais Praças eram Praça da Sé, Praça Clóvis Beviláqua, Praça João Mendes, Praça da Patriarca, Praça Antonio Prado, Praça da República e Praça do Correio. Haviam ainda os Largos importantes; Largo São Francisco, Largo São Bento, Largo Paiçandú. Largo da Misericórdia, Largo do tesouro, Largo do Café, Santa Efigênia, Largo do Pix e o Vale do Anhangabaú.
No início de década, a política era muitíssimo comentada. Eu ainda criança, mas sempre atenta, lembro-me de muita movimentação na ocorrência da revolução de 1930.
O Dr. Getúlio Vargas iniciava seu governo, como Presidente da República que naturalmente todos sabem, governou durante 15 anos, pois foi um regime de Ditadura. Lembro ainda bem mais de todo o período da Revolução de 1932, posso até dizer que em partes colaborei, pois meu pai sendo alfaiate, e com a grande crise da época, faltava trabalho, então passou a costurar para os soldados do front, e eu ajudava na ida e vinda das entregas.
Os governadores e Interventores destes anos foram; General Valdomiro Lima, Dr. Pedro de Toledo, Dr. Armando Sales de Oliveira, e Dr. Ademar de Barros. Os partidos políticos se não me falha a memória eram Partido republicano Paulista, Partido Constitucionalista, Partido Democrático, partido Integralista e Partido Comunista.
Com muitas saudades lembro do Palácio da cidade: o lindíssimo Palácio do Governador do Estado, Palácio dos Campos Elíseos, na rua Barão do Rio Branco, bem próximo do centro da cidade, o Palácio da Justiça, o Fórum Criminal na Praça Clóvis Beviláqua, o Palácio das Indústrias no Parque D. Pedro II, o Palácio da Prefeitura na Rua Líbero Badaró e o Palácio do tesouro no Vale do Anhangabaú.
Foi um grande espanto para a população, quando surgiu o edifício mais alto da cidade, o famoso "Prédio Martinelli".
Outros prédios de Repartições Públicas e Companhias estrangeiras também importantes: Repartição de águas e esgotos, na Rua Riachuelo, Companhia Canadense de Luz Light no Viaduto do Chá com Rua Xavier de Toledo, Companhia de Gás de São Paulo na Rua do Carmo, Companhia Telefônica Brasileira na Rua 7 de Abril, Escritórios das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, na época, a maior da América do Sul, ficavam situados em um prédio triangular na Rua Direta, Quintino Bacaiúva e José Bonifácio, o Quartel General da Segunda região Militar na Rua Conselheiro Crispiniano, o Pronto Socorro principal de São Paulo, chamava-se Central ficava na rua do Carmo junto ao pátio do colégio, o Corpo de Bombeiros na Praça Clóvis Beviláqua, o Hospital Beneficiência Portuguesa, era praticamente no centro na Rua da Conceição, hoje Avenida Cásper Líbero e Correio Central até hoje na mesma Praça.
Já existia nesses anos a Liga das Senhoras Católicas, que era num galpão no Vale do Anhangabaú.
Os bancos que lembro, principalmente no início da década ficavam na zona bancária, ou seja, nas Ruas XV de Novembro, Boa vista, Alvares Penteado, Praça Antonio Prado e Rua do Tesouro. Os nomes dos bancos que lembro eram: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Francês e Italiano, Banco de Londres, Banco Alemão, Banco Holandês, Banco Lar Brasileiro, Banco do estado de Minas Gerais, Banco do Comércio e Indústria, Citybank e a Casa de Cambio Frizzo.
As escolas importantes situadas no centro da cidade eram bastante freqüentadas e com disputa de vagas: A grande Faculdade de Direito do Largo São Francisco, escola técnica Álvares Penteado no próprio Largo, colégio São Bento no Largo São Francisco, colégio do Carmo na própria Rua, o disputadíssimo e único Ginásio do estado, no parque D. Pedro II e Rua Frederico Alvarenga, a famosa escola... na Praça da república, a escola de Ciências e Letras na Rua Brigadeiro Tobias perto do Correio Central e a conhecida escola de Datilografia Remington na rua José Bonifácio.
Como sou amante da música, lembro com profunda saudade, apesar de nunca ter freqüentado o importantíssimo conservatório Musical de São Paulo, que ficava situado na Avenida São João.
Com lindas recordações, lembrados bondes que circulavam pela nossa cidade. As principais linhas que chegavam dos bairros dos centros eram: Linha do Bonde Casa Verde, que eu me servia no Bom Retiro, bairro em que eu morava, para chegar ao centro meu número era 55; outros Nothmman 15, Penha 6, Lapa, Santo Amaro, Brooklin, Santana 43, Ponte Grande a Vila Marian, Bela Vista, Jardim Europa, Jardim Paulista, rua Augusta, Angélica, Barra Funda, Ipiranga, Pinheiros, Paula e outras. Táxis existiam em alguns pontos da cidade.
Os ônibus apesar começavam no início da década, lembro bem da linha do meu bairro, chamava-se empresa de auto ônibus Bom Retiro, logicamente em outros bairros também começavam.
Nesses anos eram muito usados para alguns bairros rurais afastados, o famoso trenzinho da Cantareira, com dois ramais, um para Guarulhos e o outro para Cantareira; sua estação Tamanduateí, ficava na Rua João Teodoro e também eram muito usados os trens que faziam os subúrbios de São Paulo, principalmente os que saíam da estação da Luz, era na época da Companhia Inglesa. Faziam São Paulo a Jundiaí, e São Paulo e Alto da Serra. Outros saíam da estação Sorocabana e outras ainda pela estação do Norte, assim chamadas na época.
As igrejas católicas do centro existem até hoje, que são: Catedral da Sé, que na década a sua construção andava bem vagarosa e a Igreja Santa Efigênia era a Catedral provisória, Igreja São Francisco e Santo Antonio de Catejero no Largo São Francisco, Santo Antonio da Praça do Patriarca, São Bento no próprio Largo, Nossa Senhora do Carmo, na própria rua, Nossa Senhora do Rosário no Largo Paissandú e São Gonçalo na Praça João Mendes.
Os principais hotéis da cidade eram, o maravilhoso Esplanada Hotel que ficava atrás do teatro Municipal, e o Hotel Terminus, na Rua Florêncio de Abreu, próximo ao Largo São Bento.
Quanto aos restaurantes, lembro de um bem freqüentado, o Francisco na Rua Líbero Badaró; e alguns bares bastantes conhecidos, como o Bar Viaduto na Rua Direita, o Ponto Chic no largo do Paiçandú, o Pingüim na Avenida São João com a Praça do Correio; as casas de chá muito freqüentadas na época eram: Leiteria Campo belo e a Leiteria Pereira, ambas na Rua São Bento, a Vienense e a Selecte na Rua Barão de Itapetininga.
Nesses anos ainda vistos com bastante preconceitos, eram os cabarés, mas eu já conhecia através de filmes americanos, então gravei dois nomes; o Cabaré Imperial na Rua D. José de Barros e o Cabaré "Wum-Der-Bar", na avenida São João.
Outra coisa que lembro com muita emoção, foram os teatros do centro da cidade. O nosso belísssimo Teatro Municipal na Praça Ramos de Azevedo, o saudosíssino Teatro Santana, com sua linda decoração, na rua 24 de maio com fundos para a Rua Barão de Itapetininga, o simpático e saudoso Teatro Boa Vista na mesma rua, o Teatro Cassino Antártica perto da Praça do Correio, o Cine Teatro Apolo na Rua 24 de Maio, e o Cine Teatro Recreio na Praça João Mendes.
Os cinemas do centro também me deixaram muitas recordações. O Cine Rosário, foi o primeiro mais chic da cidade, suas poltronas já eram estofadas na época, ficava no térreo do Prédio Martinelli na Rua São Bento. E também o Cine São Bento na mesma rua, o Cine Allambra na Rua Direita. Os Cines Broadway e Ufa Palácio, de boa categoria, ficavam na Avenida São João junto ao Largo Paiçandú, o Cine avenida bem popular no Largo Paiçandú, mais dois populares eram os Cines Santa Helena na Praça da Sé e o Cine D. Pedro II no Vale do Anhangabaú; o Cine República na própria Praça, o Cine Para todos na Brigadeiro Luiz Antonio, próximo ao centro, e o famoso Cine Odeon, com as duas salas, azul e vermelha, muito badalado por ser inédito, ficava na Rua da Consolação bem próximo ao centro.
Nesses anos, também foram grandes atrações os circos; lembro de alguns famosos: o Circo Piolim, o Circo do Arrelia, e também nesse tempo esteve no Brasil, um famoso Circo estranjeiro, que movimentou em massa a população, foi o Circo Terrasseni.
Outra gostosa recordação, é a dos Salões de Baile do centro, os quais cheguei a freqüentar: o Salão Trocadeiro que ficava ao lado do esplanada Hotel, o Clube Germânia na Rua D. José de Barros, o Clube de Português na Avenida São João entre a Rua Líbero Badaró e Praça do Correio, e mais um Salão na Rua Formosa, cujo nome não me ocorre. Gravei também algumas lojas mais conhecidas: Magazine; as duas principais Mappin Stores, e Casa Alemã, sendo que a primeira na Praça do Patriarca e a outra na Rua Direita. Outras lojas de variados artigos sempre as mais importantes, como jóias, roupas modas, perfumarias, música, drogarias, casas lotéricas, livrarias, mercearias,, presentes, fotógrafos etc., ficavam no centro entre mais ou menos dez ruas.
Lembro também de três recordações de jornais no centro, o Estado de São Paulo na Rua Boa Vista, a Gazeta e o Jornal Italiano Fanfulla, ficavam na Rua Líbero Badaró.
As marcas de carros mais usadas eram, Ford, Chevrolet, Hudson e Buils, modelos bastantes usado era a Baratinha, carro grande com duas cadeirinhas a mais, e o Ford bigode.
Motocicletas, havia um modelo com um banco do lado, em forma de barquinho.
As estações de Rádio da época, espero estar certa eram: Rádio Educadora Paulista, Rádio Record, Rádio São Paulo, Rádio Cruzeiro do Sul e Rádio Difusora.
Os clubes desportivos mais conhecidos, Clube Atlético Paulistano que era da elite, Clube de Regatas Tietê, Clube Esperia, Clube Atlética, Clube Germania e Clube Ipiranga. Os clubes de Futebol mais importantes: São Paulo, Palestra Itália, Corinthians Paulista, Portuguesa de Desportos, Juventus e Ipiranga. No esporte me lembro de alguns nomes famosos do Futebol: Lêonidas da Silva, o Diamante Negro que brilhou na copa de 1.938, Batataes, Canhotinho e tantos outros. No automobilismo se destacaram dois: Chico Landi e Barão de Tefé. Nesses anos, São Paulo ainda não contava com seu autódromo; mais assim mesmo, tivemos uma corrida muito importante com corredores estrangeiros de fama, eram: Pinta Ainda e Marinoni italiano, e a francesa Elle Nice. A pista fora improvisada nas Ruas do jardim América. Na Aviação uma grande e corajosa aviadora, Ada Rogatto, e na natação a extraordinária Maria..., vencedora da Olimpíadas.
Os passeios nesses anos eram maravilhosos. Os mais freqüentados, Museu do Ipiranga, Butantã, o Jardim da Luz, com tanta beleza, e ainda contando com vários animais lindíssimos, aves, coreto, cascata e os tradicionais fotógrafos Lambe-Lambe. O Jardim da Aclimação também muito bonito com alguns animais. No bairro da Penha, também muita gente aproveitava o passeio, cumprindo promessas naquela igreja. Outro passeio atraente era o Campo de Marte, porque na época, os aviões, ainda eram grandes novidades.
Foi um grande espetáculo a chegada em São Paulo, no início desses anos; o enorme Dirigível Graf Zeppelin, encantando a população com seu modelo original.
Era também um gostoso passeio, visitar do alto do Sumaré, a Rádio Difusora no início da sua inauguração.
Os filmes dos anos trinta, para mim, são obras sagradas. De tantos que assisti, vou lembrar alguns: Estrangeiros, Paixão de Cristo, Loucuras de um Beijo, O Picolino, A Ponte de Waterloo, E o Vento Levou, Belezas em Revistas, Primavera, Paixão de Zíngaro, Serenata de Schubert, A Dama das Camélias, a Grande Valsa, Os Últimos Dias de Pompéia, Cleópatra, A Alegre Divorciada, A Grande Luce, Carlitos, O Gordo e Magro, O Mágico de Oz, Memória do Regimento, Idade Perigosa, Rainha Victória, Vivere, Tarzan e muitos muitos outros... Filmes nacionais desses anos, lembro de dois: Alô-Alô Carnaval e Alô-Alô Brasil. Desenhos de Walt Disney também de enorme sucesso, Fantasia e a Branca de Neve e os Sete Anões. Companhias de Teatro Brasileiro, haviam vários: Procópio Ferreira, Dercy Gonçalves, Dulcina e Odilon, Vicente Celestino, Alda Garrido, Oduvaldo Viana e outras.
Música Popular Brasileira. Sobre a nossa música popular, eu teria páginas intermináveis, porque foram verdadeiras obras imortais. Assim sendo, vou citar apenas alguns sucessos: Um Salão Cheio de Flores, Boa Noite Amor, Valsa dos Namorados, Aquarela do Brasil, Cortina de Veludo, Bodas de Prata, Boneca, Pisando Corações, Arrependimento, Chão de Estrelas, Noite Cheia de Estrelas, Ébrio, Carinhoso, Lábios que Beijei, Rosa, Última Canção, Casinha Pequenina, Tão Longe, Luar do Sertão, Tristezas do Jeca, Badaladas da Ave Maria, Tico-tico no Fubá, Taí, Cidade Maravilhosa, NO Rancho Fundo, Folhas ao Vento, Ave Maria no Morro, Barracão de Zinco, Pintinhos terreiro, Rapasiada do Brás e milhares lindíssimas. E mais exemplos: Embaladas e Música de Carnaval.
Carnaval entre tantas e tantas de sucesso, destaca-se algumas: O teu cabelo não nega, Fita amarela, Taí, vou fazer minha oração, Pirata da areia, Eva Querida, estrela Dalva, Colibri, Eta moleque bamba, Hoje tem marmelada, Ride Palhaço, Pierrot apaixonado, Paulistinha querida, Vou navegando, Mamãe eu quero, Jardineira, Piriquitinho verde, Quem inventou o Brasil, Primeiro amor, Hino de carnaval, Seu condutor Dim Dim, Dama das Camélias, Ligue ligue lá, Alegria, Escola de Milão, Orgia e Nada mais, Touradas de Madri, Minha terra tem Palmeiras, O orvalho vem caindo, Agora é Cinzas, Implorar, Grau Dez, Loirinha, Linda Morena, Galinha Carijó, Camisa listrada, Abre a janela Estella, Taboleiro da Baiana, Zé Pereira e aí vai...
Música Popular Internacional, foram também maravilhosas nesses anos. Sendo filha de italianos, devo ressaltar que a quantidade de músicas italianas era grande, porque na capital, a colônia ainda predominava. Seguidas das argentinas, Mexicanas, Cubanas, Portuguesas, espanholas, Francesas, Americanas, Alemãs e de outros países, todas lindíssimas.
Vou citar as mais marcante: Italianas - Vivere, Torna Turriento, Lacrime, Parla-mi Dámore Mariú. Solo Mio, Marechiare, Santa Lúccia e muitas outras. Ainda na música italiana, vou citar um fato, para explicar a música: Em 1935 quando a Itália estava em guerra com a Abissínia, encontrava-se aqui em São Paulo, uma companhia teatral de comédia italiana, então aproveitava o tema, para fazer a peça e a música, cujo nome é Facetta Nera, tipo paródia, mas que foi um grande sucesso por muito tempo.
Na música Argentina, destacam-se inúmeros e maravilhosos Tangos, vou lembrar alguns: Lá Comparcita, El dia que me quieras, Silencio a media luz, Mi Buenos Aires Querido, Madreselva, Caminito, Donde estás corason e muitos outros.
Americanas, também grandes sucessos: Granadeiros, Em uma cascata, O arco íris no espaço, Picolino, Valsa das sombras, Night and Day, Over the Raimbow e tantas outras.
A música portuguesa também era muito tocada e apreciada; na época um grande sucesso contagiou toda a população brasileira, foi a música Meu Santo Antoninho, do famoso filme português "A Severa" com a atriz Dina Tereza um fado bastante cantado, na Rua do Capelão e muitos outros inesquecíveis.
A música espanhola também muito bonita e tocada lembro dos sucessos, A Rauchira Afilador, Los Piconeros e a famosa Manolita.
Mexicanas lindíssimas sucessos, jura-me, Rancho Grande, Flôr de Liz, Amor de mis amores, Farolito e inúmeras outras. Vienenses, deslumbrantes sucessos:: Danúbio Azul, Contos dos bosques de Viena, Vozes da Primavera, Valsa dos Patinadores, Noites de Viena, ficaria eternamente lembrando as outras. Alemãs, lindos sucessos: Diga-me outra vez, Ninom e Barril de Chopp. Cubanas, lindas rumbas - duas que marcaram bastante: A dama de vermelho e Libanês.
Francesa, muito bonitas também, um grande e inesquecível sucesso, Jealousie.
Músicas clássicas, lembro de algumas que na época as rádios tocavam bastante, quanto a beleza, seus comentários, Serenata de Schubert
Sonata ao Luar, Flauta Mágica, Dança Húngara nº 5. Tristeza, 1.812 Pour Elise, e esta última Le-Lac-De-Come, uma emocionante recordação, de antes até de 1930, pois aprendi ouvindo no piano de uma estimada família, que jamais esquecerei, Família Guedes Alves Sene.
Operetas, fascinantes lembranças. A Opereta Viúva Alegre foi na época a mais representada e assistida. Outros também apauladas, Frasquita, Eva, O Conde Luxemburgo, Teugnizza, Sonho de Valsa e muitas outras.
Óperas. Eram grandiosos espetáculos com as mais famosas óperas e muito apreciadas pela população paulistana e principalmente pela colônia italiana, que na época era grande. As mais apresentadas e aplaudidas: La Traviata, O Rigoleto, La Bohemia, Madame Butterfly, a Tosca, A Ida, e O Guarani de Carlos Gomes. Sinos patrióticos, foram muito tocados e eu me emocionava profundamente ao ouvi-los. O nosso glorioso Hino Nacional, o Hino da República, o Hino da Independência, o Hino da Bandeira, o Hino do Soldado, o Hino de São Paulo, que aprendi no curso primário, no grupo escolar Marechal Deodoro que freqüentei, e o Hino da revolução de 1932.
Atores brasileiros, lembro de grande as nomes daqueles anos: Procópio Ferreira, Manoel Durães, Odilon, Thô Totico, Zé Fidelis e outros. Atrizes brasileiras, também de destaque: Dercy Gonçalves, Gilda de Abreu, Dulcina e Edit de Moraes, Elza Gomes, Alda Garrido, Beatriz Costa e outras.
Atores estrangeiros bem conhecidos: Charles Chaplin, o Gordo e Magro, Maurice Chevalier, Fred Astaire, Buk Jones, Clark Gable, José Mogica, Gary Cooper, Robert Taylor, Tyrone Powel, John Waine, Mickey Rooney, Jean Kiepura, David Wiveu, Humphrey Bogart, Bing Crosby além de inúmeros outros, e o primeiro Tarzan do cinema americano John Westmuller. Atrizes estrangeiras também eram destaque: Greta Garbo, Marlene Dietrich, Carole Lombard, Ginger Noger, Bette Davis, Joan Crauford, Jeanette Mac DOnald, Judy Garland, Dianna Durbim, Shirley Temple, Vivian Leig, Katherine Hepburn, Claudette Colbert, Martha Eghert, Dina Tereza, Mae West e muitas e muitas outras.
Pianistas brasileiras. Extraordinárias de enorme talento: Magdalena Tagliaferro, Guiomar Novaes e Carolina Cardozo de Menezes.
Cantoras brasileiras de música lírica: a grandiosa Bidu Laião e uma adolescente que surgiu na época, com uma lindíssima voz, seu nome era Rosina de Benini.
Cantoras da música popular brasileira que se destacaram naqueles anos: a inesquecível Carmem Miranda, sua irmã Aurora Miranda, Gilda de Abreu, Dalva de Oliveira, Carmem Costa, Adenilde Fonseca, Aracy de Almeida, Dircinha e Linda Batista, Izaurinha Garcia, Izaurinha Camargo e muitas outras.
Cantores brasileiros também da música popular; foram famosos e queridos: Francisco Alves, o rei da voz na época, Silvio Caldas, Vicente Celestino, Carlos Gallardo, Moreira da Silva, Orlando Silva, Joel de Almeida, Nelson Gonçalves, Almirante, Joel e Gaúcho, Manezinho Araújo com suas emboladas, a dupla Preto e Branco e de Oliveira, posteriormente o Trio de Ouro e o conjunto bastante famoso, o Bando da Lua.
Compositores brilhantes nessa época, da música popular brasileira: Noel Rosa, Lamartine Babo, Assis Valente, Herivelto Martins, Mario Lago, João de Barro, David Nasser, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Pixinguinha e Ervê Cordovil.
Lembro também de dois grandes maestros das orquestras sinfônicas da época: Maestro Eduardo Guarnieri e o Maestro Armando Bellardi. E de orquestras populares também brasileira o Gao e sua orquestra. Quanto as bandas de São Paulo duas exemplares: A da Força Pública e a da Guarda Civil.
E havia também uma tradicional banda italiana: a banda dos Bernaghieri. Duas grandes orquestras sinfônicas americanas a do Maestro "Arturo Toscanini e a do Maestro Leopoldo Tlokosvky" e populares americanas: Glen Miller e Harry Janer, e assim por diante.
Nesses anos tínhamos também como lazer os saudosos pic nics. Os lugares mais freqüentados eram o lindo parque de Vila Galvão, onde havia um lago com barcos para passeios e mais, cavalos para quem gostasse de montar. E outro também muito bonito, o parque da Cantareira. Era usado para o transporte, o famoso trenzinho da Cantareira com sua estação Tamanduateí na Rua João Teodoro, e para as praias de Santos e Guarujá, pic nics menos comuns, ia-se com o trem da Estação da Luz.
Naqueles anos, o rádio era muito importante; certos programas chegaram causar euforia, exemplos: o programa do Tonho Totico, o Zé Fidelis e também a primeira novela de rádio chamada "Predestinada", que foi um verdadeiro estouro, outro programa muito querido foi o teatro de Manoel Durães e o grande e cultural programa do livro do saudoso Cid Franco.
Programas de ricas músicas brasileiras, italiana e de outros países, em geral bem variadas, haviam bastante nesses anos um programa genial para crianças, foi o clube do Papai Noel do Homero Silva e o programa da saudades, com Dárcio Ferreira.
Nessa época, as gírias também eram bastante usadas, exemplos: é do barulho, é da pontinha, sossega leão, tenho uma pena, vou chorar? Vou vestir minha sogra de bombeiro? Etc.
Agora vou falar do meu saudosissímo Carnaval; essa década foi maravilhosa, aconteceu tudo para a alegria do povo. Começando pelo animado concurso de carros abertos, lindamente enfeitados e com as ricas fantasias dos ocupantes. Seu percurso pelas avenidas Paulista, Angélica, porém o ponto mais animado era a avenida São João. Haviam também carros alegóricos e cordões carnavalescos que desfilavam na cidade, para serem classificadas, e uma grande massa popular se concentrava para assistir e participar da alegria de Momo. Na Praça da Sé armava-se um tablado para o povo também se divertir. Em 1936 lembro que o prefeito da cidade era o Dr. Fábio Prado, que colaborou para o carnaval desse ano, enfeitando lindamente a cidade e foi armado no Vale do Anhangabaú um barco para os bailes de carnavais, que por sinal, era um perfeito navio, chamava-se Caravela da Alegria. E também os clubes enfeitavam seus salões, onde aconteciam animadíssimos carnavais, e na quarta feira de cinzas, se apodera na gente uma grande tristeza, porém contando com a alegria do próximo ano.
É com enorme saudade que me lembro dos reclames assim chamados na época, cujos os bondes eram os portadores deles. Portanto eram bem conhecidos dos passageiros. Os nomes de remédios ficaram bem marcantes, vou citar alguns: Emulsão de scotte, Biotônico Fontoura, Óleo de fígado de bacalhau, Xarope São João, a Saúde da mulher e para bronquites o rum creosotado; bem conhecido para dor de dentes Cera do Dr. Lustosa, e para a pele creme Rugol e Leite de aveia Davene.
E minhas primeiras lembranças quando menina, assim que aprendi a ler, foram os dizeres dos bondes, que gravei rapidamente e jamais esqueci. Primeiramente foi: São Paulo é o maior centro industrial da América do Sul. Depois mudou para: São Paulo é o maior centro industrial da América Latina.
E assim termino minhas lembranças de São Paulo nos anos trinta, sentindo no meu íntimo, como se estivesse vivendo aqueles anos.
Para mim nada mudou, porque continuo amando aquele tempo.
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