Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Maria Berenice Horta de Melo
Entrevistado por Tatiana Dias
Belo Horizonte, 15 de Setembro de 2005
Entrevista: CB046
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Bruna Ghirardello
P- Berê, boa tarde, obrigado por ter aceitado o nosso convite, eu queria que você...Continuar leitura
Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Maria Berenice Horta de Melo
Entrevistado por Tatiana Dias
Belo Horizonte, 15 de Setembro de 2005
Entrevista: CB046
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Bruna Ghirardello
P- Berê, boa tarde, obrigado por ter aceitado o nosso convite, eu queria que você repetisse pra gente o seu nome completo.
R- Maria Berenice Horta de Mello.
P- Data e local de nascimento.
R - 09 de Junho de 1947, nasci em Belo Horizonte.
P- Então Berenice, como que foi, conta pra gente um pouquinho da sua infância, a sua casa, os seus irmãos.
R Minha infância, como a dos meus irmãos, foi uma infância mágica, a gente morava numa casa muito grande, passamos a infância em quintais na rua, era outra época né? Hoje as crianças ficam confinadas e naquela época a gente vivia liberdade total em casa, meus pais trabalhavam fora e depois da escola a gente ficava o dia inteiro brincando, inventando coisas pra fazer e assim, com o sentido muito agregado, era a gente, mais os vizinhos, mais os amigos, a gente liderava assim as brincadeiras na nossa casa, então foi uma infância mágica, assim com muita liberdade, com muita alegria, com muita música, é uma coisa que não acontece tanto né?
P- Você falou agora de música, o que você lembra-se de ouvir mais assim na infância, Berenice?
R Olha é, eu tive o que a minha geração, foi uma geração privilegiada porque eu nasci em 1947, pós-guerra, época dos musicais né, da Broadway e tal, então nós ouvimos os musicais, todos, praticamente todos, porque meu irmão importava os discos com os amigos através do fã clube, então a gente ouvia todos os musicais que aconteciam, e depois da época dos musicais veio a época do rádio, a era do rádio, né, e antes da era do rádio, nos ouvíamos rádios o dia inteiro, essas músicas, tinham músicas do mundo inteiro que tocavam na rádio, não só músicas americanas, mas francesas, cubanas, mexicanas, a gente ouvia de tudo, então depois que a época do rádio veio, da era do rádio, veio a bossa nova né, depois o samba canção, que deu início a bossa nova e assim, simultaneamente, ao yê yê yê, então a nossa geração foi uma geração privilegiada, que nós vivemos todos os movimentos musicais, a Tropicália, a música instrumental, nós ouvimos de tudo, sabe. E ouvimos também, principalmente, a música clássica que era uma paixão desde a infância, minha mãe conseguiu cultivar, seduzir a gente para essa música, então a gente ouvia a rádio do MEC, a rádio nacional tinha os horários da programação de música clássica e aí ela apagava as luzes da casa todinha, mandava todo mundo sentar ou deitar, todo mundo ficar caladinho, desligava o telefone, fechava a casa toda, era a hora da gente ouvir a música clássica, então tinha todo aquele ritual e foi assim, então eu digo que a minha geração foi privilegiada porque nós conseguimos passar pela história da música brasileira quase toda, né, e estamos hoje na era da música eletrônica, então a gente ouviu muita coisa, não tinha jeito de não sair nenhum músico da família, né, saiu o Paulo, meu irmão, o Toninho, a Lena, a Gilda cantava e eu só não fui música porque eu era muito preocupada, só não estudei música e segui carreira musical porque era muito preocupada com o lance da sobrevivência, sabe, achava que alguém tinha que se preocupar com a sobrevivência, achava tudo muito louco e eu fiquei muito preocupada, não dei muita atenção sabe, mas eu sou ótima ouvinte, isso eu sou, com certeza.
P-E sua juventude, Berê? Você estudou onde?
R- Eu tive o privilégio de estudar numa escola católica porque eu ganhei uma bolsa de estudos. Meus irmãos todos estudaram no Estadual Central e eu, também era uma excelente escola, assim como Marcinho Borges estudou no Estadual Central, o Fernando Brant, o Murilo Antunes, muitos outros, o Toninho, muitos estudaram no Estadual Central, estudei na Imaculada da Conceição, que eu ganhei uma bolsa de estudos, mas foi válida a formação que eu obtive lá, uma formação humanística que depois desembocou em duas graduações na UFMG, em história e ciências sociais, então eu tive essa formação em humanística e que coincide assim com e, sabe, ajuda também a gente conciliar esses valores sabe, da música, da boa música e tudo, acho que tudo desembocou nesta vontade assim, dessa música, dessa musicalidade que a gente tem.
P- E como é que foi ver seus irmãos, Berê, despertarem para serem músicos profissionais e para terem uma carreira?
R- Como eu te disse, eu fiquei muito preocupada, porque os anos eram diferentes né? O Paulo não, o Paulo, eu já era criança, já era mocinho, o Paulo já tocava, foi uma coisa natural assim, foi uma coisa espontânea. Agora o Toninho, eu fiquei meio preocupada porque nós estávamos em plena ditadura militar e o músico arrisca muito ao tocar na noite, ao cantar, né, ao fazer o uso da palavra então, eu ficava preocupada com o lance da segurança e o Toninho demorava, as vezes, a chegar em casa, a gente, eu tinha essa função de ligar pra saber onde que ele estava, se ele estaria preso, se ele estaria vivo, sabe, eu tinha essa preocupação porque as coisas acontecem na calada da noite, né, tinha o julgamento sumário de uma pessoa que era feito na calada da noite, então a família, nos preocupávamos com esse lance dele ser músico nessa época de repressão e o Toninho circulava nas várias tribos, nas tribos do cinema, nas tribos da música, entre os poetas e assim, ele circundava, circulava todos os ambientes e eram ambientes muito visados, então quando a gente viu, sabe, era tudo o que ele queria, ele respirava música, sonhava música e aí, a gente ficou preocupado desse lance da segurança, mas a gente nunca teve dúvida sabe, que ele seria um grande músico, assim como todos do Clube da Esquina, eles já nasceram grandes porque eles tiveram uma coisa que eu acho importantíssima, foi esse endosso da geração mais velha, sabe, eles já nasceram com credibilidade, qualquer música que eles faziam, todas as músicas que eles faziam, eles já tinham endossos do seus pares, dos outros músicos, sabe, da sociedade como um todo, eles já cresceram grandes, eles não batalharam, claro que eles batalharam a vida inteira, mas eles, é, a credibilidade deles foi assim sabe, dia a dia, e tinha uma coisa que era muito legal, uma competição saudável entre eles, um fazia uma música, mostrava pra todo mundo, aí o outro queria fazer a musica mais bonita mostrava, então houve aquele crescimento coletivo sabe, e muito legal, um apoiando e tudo, foi um crescimento sabe, solidário, um crescimento musical solidário, uma coisa muito bonita sabe, uma coisa assim, que a gente não vê hoje isso acontecendo assim, hoje tem muita competição, cada um mostra seu projeto depois de acabado, depois de finalizado e não, o projeto deles era um projeto aberto, era todo mundo dava palpite, todo mundo tocava todos os instrumentos, então foi uma coisa muito espontânea, muito linda e eles tiveram essa credibilidade, assim, desde o início, a gente viu que era uma coisa que veio para ficar, sabe, uma coisa divina dos céus.
P- E que tipo de inovação você acha que a música do seu irmão e dos outros amigos, você acha que trouxe para a música brasileira?
R- Olha é, foi uma inovação harmônica e melódica também, harmônica porque eles usavam uma vestimenta para roupa, pra música, totalmente inovadora sabe, enquanto a bossa nova, ela teve influência do Jazz e tudo, a música produzida aqui em Minas, ela incorporou assim, sutilezas do barroco, sutilezas da música, clássica da música flamenca, flamenca, é, sabe, e tão pouco do Jazz, um pouco de tudo então foi um sincretismo assim inédito, então quando tocava a música, sabe, quando a gente viajava e ia pra outro lugar, quando dava o primeiro acorde você já sabia que aquela música era de Minas Gerais porque tinha toda uma cor todo um matiz, tinha assinatura né, e eles todos tem, essa, é uma coisa natural sabe, a música do Milton, esse som de procissão de cachoeira, de ladeiras, esses altos e baixos são as montanhas, altos e baixos, a música não é linear a música que acompanha o desenho das montanhas então é uma coisa assim é uma assinatura única para você ter uma ideia no Japão são trinta e cinco sites só de clube da esquina de pessoas fãs mesmo do clube da esquina,trinta e cinco, nós recebemos cartas, cartões assim do mundo inteiro querendo saber dos discos das músicas então o clube da esquina já rodou o planeta muitas vezes a emoção maior que a nós tivemos na nossa casa foi quando uma jornalista, há dez anos em 1995, uma jornalista japonesa, não sei o sobrenome dela ela esteve aqui no Brasil quando ela abriu a porta o portão quando ela entrou aí nós começamos a chorar falo assim a música do nosso irmão já foi lá no Japão não só do nosso irmão a música de minas foi no Japão voltou sabe então ela fez essa globalização antes da economia, atingiu esse nível antes da economia, antes da política, antes do meio ambiente da política ambiental, a música já fez essa ligação do planeta né, esse que é o grande lance da música, qualquer boa música né, esse entrosamento né.
P- E quando é que você percebeu, você teve essa percepção de quando o Toninho ia se tornar uma pessoa conhecida mundialmente, você sentiu isso de alguma forma quando ele despontou para essa carreira internacional?
R- Olha, o tempo todo, sabe, eu não posso falar, pois eu sou presidente do fã clube, mas o tempo todo a gente sentia, pela determinação dele, tudo o que ele queria fazer ele tinha um primor, ele tem um primor, uma dedicação, sabe, um perfeccionismo, uma coisa exacerbada, então as pessoas que tem esse perfil de ficar envolvidas, sabe, desligar do resto do mundo, do resto das coisas e a pessoa que consegue ficar concentrada naquela coisa, naquela criação e nos arranjos, naquela música e pensar sons, pensar introdução, meios, finalização, a pessoa que consegue, não tem como a pessoa não ser bem sucedida e respeitada, no mundo inteiro pelo seu trabalho e tudo mais, agora a gente viu que isso foi um trabalho árduo, porque a música agora, depois de, o Toninho já tem quase quarenta anos que compõe e agora é que a música está sendo, assim, mais entendida, mais, como se diz, valorizada também, mas ele batalhou tanto pra gravar o CD, pra gravar discos e só em 1972 que eles conseguiram, a Emi Odeon deu para eles uma, o Milton deu uma fita e depois ele começou a gravar assim com músicas, sabe, quem chegasse ia tudo gravando, gravando, e depois
a EMI transformou no disco, o estúdio era terrível, era o pior estúdio da EMI, eles eram, como se diz, eles eram deixados em segundo plano, era o Toninho, Danilo Caymmi, Novelli e Beto Guedes, tanto é que a capa do CD, eles estão num sanitário, né, e ao redor de uma privada eles tão e bateram uma foto de cima mostrando a condição deles que eles receberam da EMI, ou seja, nenhuma condição, nenhum crédito, mas é um disco maravilhoso, primoroso que depois de muita burocracia, nós conseguimos a liberação pra gente pensar no nosso selo, é um disco maravilhoso que reflete aquele momento do despontar desse grupo, do Toninho, Beto, Novelli, do Danilo Caymmi. Aí depois disso surgiram outros discos, mas esse foi o primeiro, então, a gente viu nossa família, os amigos, a gente via que o Toninho não tinha outro jeito sabe, ele ia ser um músico consagrado, respeitado, pois era tudo o que ele queria, ele primou por isso, ele merece estar onde está, né, que é muito reconhecido, graças a Deus.
P- Berenice, e o Toninho tem um histórico já de uma carreira independente, né, de gravações independentes, como é que surgiu isso, ele é meio que pioneiro nessa situação né?
R- Ele começou a carreira dele solo e também, paralelamente, ao Clube da Esquina, ele já fazia trabalhos independentes, ele começou a compor aos doze anos com a minha irmã, depois compôs com a minha prima e depois compôs com colegas de vizinhança, com Rubens Teodoro, muitas canções, mais de vinte e tantas canções, depois que ele conheceu o pessoal do Clube da Esquina, mas ele já começou solo, já teve uma carreira independente desde o início. Aos dez anos, quando ele começou a estudar violão, ele, o estudo, a composição, veio juntos, estudo, violão, tal, e já compunha mesmo então desde os treze anos. Aos catorze, ele teve uma música gravada pelo Aécio, pelo Márcio que trabalhava no conjunto do Aécio, o vocalista do conjunto do Aécio, o Flávio, e olha isso, aos catorze, aos treze ele foi convidado pra fazer trilha musical de histórias infantis gravados em vinilzão, eram várias histórias, André de Carvalho, um escritor aqui de Belo Horizonte convidou Toninho, o Toninho musicou o CD todo, me parece que eram vinte e quatro historinhas, ele fez uma historinha, ele fez uma música para cada história, sabe, é uma coisa, um primor, com treze, catorze anos. Catorze teve música gravada, e por aí vai, a história começa assim, já fez música para teatros infantis, já fez música para cinema, para documentários, então, já trabalhou demais, né, ele até essa idade, já trabalhou demais, incansavelmente, se tem um músico que é trabalhador compulsivo é o Toninho, ele até hoje é um trabalhador compulsivo.
P- Berê, há quantos anos você trabalha com ele?
R- Olha, eu trabalhei com o Toninho, eu estou mais de perto do Toninho desde o Seminário de Música Instrumental de 1986 e a partir de lá, que eu estou dando mais uma força, mas a minha irmã, a Gilda, que mora nos EUA, ela que acompanhou o Toninho desde o início e tudo, porque nesse momento eu estava casada, estava fazendo faculdade e criando filhos. Então, a partir de 1986, que eu já tinha três filhos e tudo, já tinha feito faculdade, aí eu comecei a dar mais um suporte pra carreira dele aqui no Brasil. Mas a minha irmã continua até hoje dando um suporte na carreira internacional, né, ela fica tipo ponte aérea EUA e Brasil, mas ela dá um suporte até hoje para carreira dele. Peraí, parece que eu não respondi a sua pergunta,
P- Não, perguntei há quanto tempo você estava trabalhando com ele, pode continuar contando.
R- É isso mesmo, é muito tempo. E hoje a gente está com esse projeto livrão da música brasileira, que já tem dezenove anos, começou exatamente nesse Seminário de Música Instrumental, e o grande sonho dourado do Toninho é finalizar esse livro e entregar pros músicos, vai ser a bíblia dos músicos deste milênio, vai ser esse livrão da música brasileira, e esse livrão já está, nós estamos numa fase agora, as pesquisas já finalizaram, fase de digitação das partituras, revisão final e, se Deus quiser, até no primeiro semestre de 2006 ele vai estar nas mãos dos músicos do Brasil e do mundo inteiro, se Deus quiser. Esse é o grande sonho do Toninho, a realização da vida dele vai ser o lançamento desse livrão, dezenove anos de pesquisa porque começa hoje, ele viaja, a gente fica meio um pouquinho, depois ele vêm e dá mais uma alavancada. Então ele foi feito assim, passo a passo e músicos do mundo inteiro, porque ele fala sempre nas entrevistas, então os músicos do mundo inteiro e perguntam: “E o livrão, já saiu?” Vai ser um similar do Real Book americano porque todos os músicos do mundo tocam música americana, cantam, tocam muito bem porque eles tem o Real Book, né? E nós, esse livrão pretende fazer essa função do Real Book, né, colocar as nossas partituras pro mundo inteiro, né, a disponibilidade delas pro mundo inteiro, esse é o grande sonho.
P- Berê, e como é que é os fãs de Toninho, do mundo? Eles procuram, procuram o escritório, procuram por vocês, procuram a sua casa, como é que é isso?
R- Olha eles são muito calorosos, eles mandam presentes, eles mandam fotos, eles escrevem até testamentos, e a gente tem, nós temos um escritório que está sempre alimentando. Sabe, dando retorno para esse público, que eles querem saber onde que o Toninho está tais dias, eles querem saber da agenda do Toninho, eles querem saber todos os passos, todos os projetos dele, então, assim, acompanham direto a carreira do Toninho. Nós temos um site, esse site foi feito na Suécia, um fã dele que fez então a gente passa as informações para Suécia e eles disponibilizam no site, então, através do site, fãs estão conectados com o Toninho e ele recentemente está conectado no Orkut. E conversa com muitas pessoas e tal. E a gente está sempre recebendo pessoas aqui em casa, são coisas, são situações bem engraçadas, as vezes, chega o pai, o filho ou a mãe e o filho, assim, uma hora da manhã chegam para se hospedar aqui em casa, querem passar o fim de semana com Toninho. E a gente acomoda do jeito que dá pra acomodar, e passa uma semana, Toninho viaja para Ouro Preto, Toninho tem um carinho muito grande com todos os fãs, nós já recebemos fãs do Japão, da Indonésia, da Coréia, sabe, CD várias partes do mundo, muitos americanos, italianos, muitos italianos e eles vêm e querem ficar aqui com o Toninho, na casa do Toninho, e o Toninho não mora aqui, Toninho mora no mundo, né, ele está aqui mas ele está em Nova Iorque, ele está no Rio, ele está mais viajando e quando o Toninho não está a gente, recebe com a mesma atenção e com mesmo carinho, por que sabe é legal você ver a pessoa cativada pela nossa música mineira, que é a nossa música, é muito bonito, né. A música produzida aqui em Minas é maravilhoso, os compositores são muito inspirados, sabe, tem alguma coisa aqui de mistério que a gente não sabe o que é, mas tudo aqui é muito, muito denso.
P- O Toninho tem muitos fãs famosos né?
R- Tem sim, uma das parcerias é o Jack Lee é um coreano, é ele fez um CD com ele From Belo to Seoul, de Belo Horizonte para Seul, este fã é tão ardoroso que quando foi inaugurado “Camelote”, uma casa noturna na Suécia em Seul, ele chamou o Toninho para fazer o lançamento do CD nessa casa, acontece que uma semana [antes] aconteceu um terremoto em Seul, e aí eles fizeram um show em homenagem às vítimas do terremoto, então os fãs sabem, não querem só a atenção do Toninho, uma cartinha e tal, eles querem gravar, eles compõem música para o Toninho, é um dos projetos pro ano que vem, se Deus quiser, depois que sair o livrão nós vamos fazer um CD com as músicas todas, que o Toninho recebeu do mundo inteiro, desses amigos que fizeram música para o Toninho, nós vamos pegar autorização dos fonogramas e vamos montar um CD com essas músicas dos amigos fazendo música para o Toninho, porque tem música no mundo inteiro que eles fazem para o Toninho. Tem música em japonês, tem música em coreano, tem música em todas as línguas do Brasil, então, só daqui de Belo Horizonte, o Juarez fez música para o Toninho, o Caxi Rajão, sabe, o Cleber Lopes, muitos músicos já fizeram música para o Toninho, acho que esse projeto nós vamos ter dois CDs, sabe, vai ser um projeto duplo porque são muitas músicas, então é, o Toninho, sabe, ele criou um círculo assim de amizades muito grande e essas amizades é que enchem de alegria a vida dele e a nossa vida, uma vez eu falei assim com os meus filhos: “É a coisa mais fácil a gente ter amigos, a gente não precisa de sair, circular muito para fazer amigos”, porque os amigos do Toninho visitando lá em casa, nós fomos incorporando os amigos dos amigos dos amigos, nós temos uma rede muito grande de amizades que foram construídas assim espontaneamente e muitas amizades muito duradouras e felizes, isso que é o mais importante.
P Como é que você recebeu essa ideia do projeto do Museu Clube da Esquina?
R. Olha, eu achei fantástico, é, essa ideia do museu do Clube da Esquina, museu vivo do Clube da Esquina. Eu senti uma honra muito grande porque a minha escola foi a escolhida para ser o primeiro encontro dos integrantes do Clube da Esquina com essa moçada nova e essa moçada nova precisa de aprender muito com o Clube da Esquina que foi que viveu uma situação, sabe, é, uma história difícil, né, um período difícil da história, mas eles venceram, eles foram determinados e eles são respeitados no mundo inteiro e essa moçada hoje com toda liberdade, com toda democracia, tem o campo aberto para produção musical, para produção intelectual, para produção virtual, nas artes plásticas, visuais e tal, tem todo o campo aberto e eles não produzem, então essa visita do Clube da Esquina no colégio, foi depois nós fizemos uma reflexão, foi uma coisa assim muito saudável porque mostrando para eles da responsabilidade deles de também construírem a arte, porque através da arte a pessoa se liberta, a pessoa é verdadeiramente um homem ser humano, né, então foi assim uma coisa maravilhosa essa ideia do Clube da Esquina, de ter sabe esses encontros, levar para moçada tudo isso que aconteceu, que está acontecendo, porque a produção do Clube da Esquina ela não para, né, ela está sempre acontecendo, então foi uma lição de vida, foi uma ideia maravilhosa do Marcinho, só podia ter surgido dele, grande poeta nosso, foi uma ideia maravilhosa que sabe que outros movimentos, outros segmentos tem que incorporar essa ideia para gente resgatar a nossa memória, nossa memória cultural.
P- Berê, mais alguma história que você tenha se lembrado, que você queira contar?
R. São muitas histórias, agora eu não tô me lembrando, mas eu só queria falar o seguinte: o encontro do Toninho com esses músicos parece que estava escrito nas estrelas, o Toninho era jazzista, era perfeccionista, era muito mais assim sério, encontrou com a descontração do Lô, do Beto, do Marcinho, do Fernando, essas coisas todas, então deu uma assimilação, sabe, o Lô e o Beto eram amantes dos Beatles e eles se encontraram, eu estava nesse encontro, antes disso né, eles se encontram muito ali, perto da rua Tupis, tinha uma lanchonete que chamava Saci, porque quando meus pais trabalhavam fora e quando eles chegavam em casa, “cadê o Toninho?” e eu que ia atrás do Toninho, então, via o Toninho com esses meninos, então sabe, foi uma troca de experiências muito grande, tudo, sabe uma troca mútua, foi uma contribuição, coisa fantástica, e eles se encontraram no Festival Estudantil da Canção em que Belo Horizonte inteira estava lá nesse festival estudantil, o Lô entrou com Equatorial, o Toninho também entrou com, Iara Bela, a Joyce cantou, defendeu a música do Toninho, tem essa história toda, então eu lembro, essa época foi um período muito vivo, porque a gente morava muito próximo do Beto e muito próximo de onde aconteciam essas coisas, do edifício Levy. Marcinho, Marilton eram amigos do meu irmão, então esse período assim tá tudo muito vivo, porque muitas historias, muitas coisas boas, agora o mais importante é o seguinte, que essa geração nova, ela fica confinada no computador, entre quatro paredes sabe, está perdendo tempo, a pessoa tem que se abrir, tem que se conectar, formar redes de amizades, a vida real tem mais significado do que a vida virtual, né, e hoje essa moçada vive mais no virtual infelizmente, o grande lance dessa geração, desses meninos, foi essa vontade esse pensar coletivo, sabe, esse pensamento coletivo que hoje a pessoa tem um projeto de vida né, eles não, eles tinham um projeto coletivo de cultura, de cinema de música, de artes, sabe, dessa doação, impressionante. Eu teria coisas para contar assim de todas as épocas, principalmente, desse início que foi fantástico, a primeira ida do Milton lá em casa, ele todo tímido, né, ele era amigo do meu irmão, todo tímido, e ele tocava baixo aí o Toninho falou pro Milton: “Milton, eu vou te apresentar o meu irmão Toninho, ele sabe tocar algumas coisas”, Toninho tocou algumas músicas de Vinicius e do Tom e ele ficou encantado: “Nossa, mas ele toca muito bem, ele harmoniza, sabe?” e logo depois o Milton também deixou o baixo e foi tocar violão e já cantava, então são muitas histórias, mas o mais importante é que de tudo isso, a gente revendo essas histórias todas, [é] que desde o início eles tiveram essa credibilidade da geração mais velha, sabe, esse suporte da geração pré Clube da Esquina, que eram os músicos amigos do meu irmão, do Marilton, do Paulinho, Chiquito Braga, esse pessoal todo, Aécio Flávio, eles endossaram, eles davam a maior atenção para essa moçada que estava começando, isso foi fantástico. Agora, será que essa moçada que está aí está apoiando estes que estão começando? Então eu gostaria que continuasse esse crescimento geração após geração, então um dos objetivos do livrão é esse, instrumentalizar o jovem, música de partituras, de qualidade e de coisas boas para ele manter essa cultura viva.
(Fim da Entrevista)Recolher