Programa Concórdia Digital Formando Cidadãos
Depoimento de Marlei Franciscon Camillo
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanches
Concórdia, 22/04/2013
CD_HV002_Marlei Franciscon Camillo
Realização Museu da Pessoa
Revisado por Lara Eloiza Dan Della Mura
P/1 – Então, Marlei, pra começar, eu vou perguntar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Nasci aqui em Concórdia, sou natural aqui de Concórdia. Nasci em 24 de julho do ano de 1972. Marlei Franciscon Camillo.
P/1 – Legal. E me conta um pouquinho. O que você lembra da casa em que você nasceu, Marlei, como é que era essa casa. O que você pode contar pra gente?
R – Então, a casa que eu nasci era… eu nasci no interior, aqui do município de Concórdia. Uma casa toda de madeira, onde morava os meus pais, meus três irmãos, quatro comigo, a gente morava com os meus avós. E eu me lembro da casa, de alguns detalhes da casa, que depois, ela foi substituída, meu pai derrubou essa casa e foi feita outra no lugar, que existe outra lá até hoje, né? Mas eu tenho muitas lembranças dos locais de como era a casa, tinha uma varanda, tinha uma escada grande. Uma lembrança muito forte, que eu tinha, que na época, os sanitários não pertenciam na casa, então tinha… e não existia uma calçada que dava acesso, eram tábuas que imitavam essa calçada. Além do que dava acesso a lavanderia, aos banheiros, ao local que a gente ia tomar banho. Então, são algumas lembranças que eu tenho e que tinham muitas árvores ao redor de nossa casa, muita sombra. O que pra nós, era um divertimento, né, porque daÍ, a gente aproveitava esses espaços para brincadeiras.
P/1 – E você comentou que tem três irmãos. Como é que eram as brincadeiras de infância? Do quê vocês brincavam?
R – Dois irmãos mais velhos, os meninos, né, um deles hoje é falecido. Tem o meu irmão mais velho e daí, eu e a minha irmã. Eu sou a caçula da família, né, os meninos brincavam mais de...
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Depoimento de Marlei Franciscon Camillo
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanches
Concórdia, 22/04/2013
CD_HV002_Marlei Franciscon Camillo
Realização Museu da Pessoa
Revisado por Lara Eloiza Dan Della Mura
P/1 – Então, Marlei, pra começar, eu vou perguntar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Nasci aqui em Concórdia, sou natural aqui de Concórdia. Nasci em 24 de julho do ano de 1972. Marlei Franciscon Camillo.
P/1 – Legal. E me conta um pouquinho. O que você lembra da casa em que você nasceu, Marlei, como é que era essa casa. O que você pode contar pra gente?
R – Então, a casa que eu nasci era… eu nasci no interior, aqui do município de Concórdia. Uma casa toda de madeira, onde morava os meus pais, meus três irmãos, quatro comigo, a gente morava com os meus avós. E eu me lembro da casa, de alguns detalhes da casa, que depois, ela foi substituída, meu pai derrubou essa casa e foi feita outra no lugar, que existe outra lá até hoje, né? Mas eu tenho muitas lembranças dos locais de como era a casa, tinha uma varanda, tinha uma escada grande. Uma lembrança muito forte, que eu tinha, que na época, os sanitários não pertenciam na casa, então tinha… e não existia uma calçada que dava acesso, eram tábuas que imitavam essa calçada. Além do que dava acesso a lavanderia, aos banheiros, ao local que a gente ia tomar banho. Então, são algumas lembranças que eu tenho e que tinham muitas árvores ao redor de nossa casa, muita sombra. O que pra nós, era um divertimento, né, porque daÍ, a gente aproveitava esses espaços para brincadeiras.
P/1 – E você comentou que tem três irmãos. Como é que eram as brincadeiras de infância? Do quê vocês brincavam?
R – Dois irmãos mais velhos, os meninos, né, um deles hoje é falecido. Tem o meu irmão mais velho e daí, eu e a minha irmã. Eu sou a caçula da família, né, os meninos brincavam mais de futebol e as meninas de boneca. E alguns momentos, que a gente lembra, que numa oportunidade, a gente ganhou uma bola e os nossos irmãos ganharam outra bola. Mas eles furaram a deles e tomaram a nossa, né, e daí, foram brincar com a nossa bola e o que aconteceu? Tinha um prego exposto lá na parede, quando foi parar a nossa bola (risos). Então, são lembranças que a gente… que eu tenho, assim, ainda da minha infância, né. Como eram dois meninos e duas meninas, às vezes, as brincadeiras ficavam mais divididas.
P/1 – E você comentou de viver com os seus avós. Você conheceu todos os seus avós?
R – Sim, conheci todos. Então, esses avós que moravam conosco, eram os pais do meu pai e ficaram, moraram na nossa casa até que faleceram, né. E os pais da minha mãe, também tive oportunidade de conhecer, não moravam aqui nessa cidade, mas distante daqui. Mas tive oportunidade de conhecer, de conviver assim, muitos momentos com eles também.
P/1 – Que lembranças você tem desses avós paternos, que eram mais próximos, como é que era essa relação?
R – Como a atividade principal, onde o meu pai trabalhava, minha mãe… era agricultura, né, os meus pais iam muito pra roça, cuidar viário, né, então quem cuidava da gente era a vó. Então a lembrança que eu tenho… eu tenho uma lembrança muito forte de um primo da minha idade, que morava na nossa casa, porque onde ele morava não tinha escola e ele veio morar na nossa casa pra ter oportunidade de estudar e eu e ele frequentávamos a escola, os dois juntos, de manhã e os meus irmãos iam à tarde. Então, eu lembro muito desse período que a gente ficava com a vó e a vó pedia pra gente fazer alguns trabalhinhos e a gente fazendo o que a vó pedia, ela premiava a gente com pipoca e mate doce (risos). É uma lembrança muito forte que eu tenho dessa época da minha avó.
P/1 – Legal, legal! E me conta um pouco dos seus pais. Você já falou que eles são agricultores. Como é que eles eram, o que você lembra dos seus pais, dessa período de infância?
R – Então, a família assim do interior, né, sempre trabalharam na agricultura. E eu já nasci onde… eles moravam em uma outra comunidade, daí se mudaram. Meus irmãos nasceram nessa outra comunidade e quando eles se mudaram pra esse local, eu nasci nesse local. Onde existe a propriedade até hoje, que já foi vendida, né? Hoje, a minha mãe mora comigo, aqui próximo aqui da empresa, meu pai é falecido já faz 9 anos. Mas aquela convivência familiar, que… muito bacana, assim, muito família. Nos finais de semana, à noite, todo mundo reunido, família grande, nele. Porque quatro irmãos, os pais, mais o vô e a vó. Então, aquela lembrança de família muito grande, de passeios que a gente fazia nos vizinhos à noite. Quando o vô ia na frente carregando o lampião, a família toda junto. Essas lembranças eu tenho assim, da família, ainda de quando criança.
P/1 – Você falou dessas reuniões pra jantar. Como é que era a rotina da casa, no dia a dia? Quais eram os momentos em que vocês se reuniam?
R – Então, almoço e jantar, era regra. Nele, todo mundo à mesa, se alguém não viesse por algum motivo, o pai ia lá buscar, ia lá entender. Mas essa era a regra: almoçava e jantava todo mundo junto, né? Alguns estudavam de manhã, eu e… eu sempre estudei… como eu era a caçula, acabava estudando no período contrário dos meus irmãos. E por exemplo, meu irmão mais velho, quando terminou o ensino fundamental, que tinha lá na nossa comunidade, já foi pra uma outra escola. Daí logo depois, saiu de casa, e assim sucessivamente, né. Eu como fui a caçula, fui a última que fiquei convivendo com os meus pais, que sai de casa pra estudar. Depois, o casamento, da mesma forma, os meus irmãos todos casados, né. Hoje, todos têm a sua família, têm os seus filhos, cada um mora num lugar. Mas a gente ainda procura marcar essas reuniões de vez em quando.
P/1 – Legal. Marlei, já falou um pouco da escola, me conta como é que era o trajeto da escola, como que era a escola em si? O que você lembra dessa… as primeiras lembranças dessa época de escola
R – Era uma escola… na época, era de primeira a oitava séries, né. Primeiro grau, eu estudei os oito anos naquela escola. Não era muito longe da minha casa, a gente… vários vizinhos, os amigos, que a gente estudava junto. A gente ia a pé, voltava a pé, nunca os nossos pais tinham esse hábito de levar a gente pra escola, a gente ia com o colega, com o irmão mais velho, enfim, né? Eu tenho uma lembrança muito forte, na minha primeira série, na alfabetização, da maneira que eu fui alfabetizada. Existiam uns caixotes de areia, né, tipo umas bandejas que eles colocavam na areia, uma camada bem fina de areia e a gente aprendia a fazer as letras conforme professora fazia o traçado da letra no quadro. A gente fazia nesse caixote de areia e não no caderno. Aí, você balançava um pouquinho aquele caixote, sumia tudo o que você tinha feito, você precisava refazer. Então, me marcou isso, porque logo depois, entraram muito mais cadernos, etc., coisa que talvez, nós não tínhamos naquele momento. E era uma forma barata, inteligente e que a gente conseguiu, todo mundo, né, eles nos alfabetizavam usando esse tipo de material.
P/1 – Legal. E a escola em si, como é que era essa escola, o prédio da escola? Da primeira à quarta série, estudava todo mundo junto, como é que era?
R – Os mais… de primeira a quarta série, a gente estudava de manhã, de quinta a oitava série estudava à tarde. Era dividido. Era uma escola que tinha assim, duzentos, duzentos e oitenta alunos. Porque era… abrangia muitas comunidades pequenas que tinham ao redor, então, as pessoas vinham pra cá de transporte. Enfim, então tinha um número grande de alunos pra realidade daquela comunidade. Não eram prédios, eram salas de aula, assim, blocos de salas de aula. Lembro bem, que tinha uma quadra esportiva, que a gente fazia as atividades de educação física. Tinha atividades de recreação, que a gente fazia nos intervalos, tipo tênis de mesa. Essas brincadeiras dirigidas, né, uma coisa que não acontece hoje. A gente era responsável por deixar a nossa sala de aula organizada, as carteiras no lugar. A “prof” dividia a gente em turmas, em pequenos grupos e cada grupo era responsável por deixar a sala organizada, limpinha pro dia seguinte. A gente recebia o lanche na escola, tinha as tias lá que faziam a merenda. Era bem legal. Eu tenho ótimas lembranças, assim, da minha escola, com certeza.
P/1 – E ai? O período do ginásio, já, da quinta a oitava série, como que… mudou de cidade pra estudar?
R – Não, eu fiz lá também de quinta à oitava série. E o que me marcou nessa época, é que a nossa professora de Educação Física, veio de fora e me identificou lá e eu comecei treinar. Daí, eu vim pra cá, eu vinha de ônibus, três vezes por semana e comecei a integrar a equipe de atletismo daqui de Concórdia. Onde treinei quatro, cinco anos e tive oportunidade, ai, de participar de competições até nível internacional e foi de lá, da minha escola, que eu consegui participar dessa turma de atletismo, que acho que foi uma experiência bem interessante.
P/1 – E como é que eram esses treinamentos aqui, na… lá em Concórdia? Esse passeio todo, como que era, o que você lembra?
R – Eu vinha de lá, no início a professora veio, me apresentou aqui pra equipe, né, que eles recrutavam esses talentos que eles encontravam. Nós tínhamos um professor… o professor Nakashi, um japonês que trouxe o atletismo pra cá, que era um professor muito especial, muito dedicado pra nós. A equipe aqui de Concórdia, tinha um bom reconhecimento no atletismo estadual. Eu vinha três vezes por semana, à tarde, tinha o campo lá, o local, onde a gente trabalhava, no estádio municipal. Fazia os treinamentos, né, tinha o acompanhamento direto dos técnicos e ,daí, a gente participava das competições. A nível, geralmente, estadual, né, representando o nosso município.
P/1 – Legal. E me conta uma coisa, nesse período do ginásio, já um pouco maiorzinha, vocês passeavam, iam pra festinha, como é que era isso? Ou era sempre muito em casa, como é que foi?
R – Na realidade que a gente morava lá, não tinha… no interior, não tinham essas festas, a gente até lá, com 13, 14 anos, as nossas brincadeiras de final de semana era com os amigos, andar de bicicleta todo mundo junto, ou tinha os campos de futebol de gramado. Onde a gente ia lá, jogava futebol os meninos, jogava as meninas, brincava na casa de uma pessoa, de outra, mas festas, coisas assim, não, nessa fase, a gente não tinha.
P/1 – Agora, e festas tradicionais, por exemplo, Festa Junina… tinha alguma tradição, algum hábito que você lembra?
R – Sim, a escola promovia Festa Junina todos os anos. Me lembro muito que todos os anos, eles faziam uma fogueira, nossos pais faziam uma fogueira muito grande. Era tradicional e sim, todos os anos, a Festa Junina eu lembro que acontecia. Daí as festas da comunidade, festas da igreja, essas festas assim, eu tenho lembranças. Ia lá todo mundo, a família, né, essas festas, eu lembro… aconteciam bailes noturnos. Me lembro que os meus irmãos mais velhos já participavam, né, o pai e a mãe participavam, mas a gente, eu e a minha irmã mais jovem, a gente nessa fase não participava.
P/1 – E ai, o período mais velhinha, agora colegial, como é que… você estudou ainda aqui em Concórdia, ou estudou ainda nas comunidades?
R – Eu estudei um ano em Joaçaba, fiz o primeiro… na época, o primeiro ano do segundo grau lá em Joaçaba. E depois os dois anos seguintes, eu fiz aqui em Concórdia. Estudei na época no colégio São José, fiz a minha formação pro Magistério. E depois, aí, eu comecei a trabalhar… não, voltei para a casa dos meus pais. Eu vinha de lá, nesses dois anos eu vinha com o transporte coletivo de lá. Ficava um período em casa, estudava. Ai eu parei. Me formei. Conclui o segundo grau, comecei a trabalhar numa cooperativa que tinha lá, e naquele mesmo ano eu consegui já ser transferida. Onde eu comecei a trabalhar já com o departamento pessoal, aqui na empresa que era aqui em Concórdia. E daí, voltei a estudar, fiz mais dois anos, fiz Processamento de Dados. Na época e ingressei na faculdade de Administração, aqui em Concórdia também, e depois eu fiz uma especialização na área de marketing empresarial, tudo aqui na Universidade do Contestado.
P/1 – Entendi, e você falou que primeiro começou com o magistério, você pensava em ser professora, como é que era isso?
R – Até atuei um pouco como professora nessa escola que eu estudei, mas assim, a gente vinha de transporte coletivo lá de onde eu morava pra cá. Então, isso só tinha durante o dia. Então, as opções de curso que se tinha era Magistério, ou tinha um curso que eu não lembro como chamava, não lembro como chamava o curso. Então, entre as opções que eu tinha naquela época, eu optei por fazer o Magistério, que ,aí, já me dava uma certa preparação e realmente eu, daí, também trabalhei como professora em alguns períodos. Até ter esse trabalho na cooperativa, acabei atuando como professora.
P/1 – E aí? o primeiro trabalho, você lembra o que você fez com o primeiro salário, no que você gastou o primeiro dinheiro que você ganhou?
R – Nossa, deixa eu me lembrar. Quando eu comecei a trabalhar na Coopeg, eu lembro que eu fiz um processo seletivo. Eu entrei na cooperativa, porque a menina que trabalhava saiu de licença gestação, né. Mas assim, do primeiro salário, quando eu recebi, essa lembrança eu não tenho (risos). Não tenho, talvez se eu forçar um pouco, sou capaz de lembrar, mas agora, eu não me lembro.
P/1 – Você me falou um pouco dessa cooperativa, como é que era esse trabalho, o quê que você fazia na cooperativa?
R – A cooperativa tinha então a matriz aqui em Concórdia e nas comunidades da região do interior, eles construíram lá um supermercado com depósito de cereais, de adubos, enfim, pros integrados. Então, eu trabalhei nesse supermercado, né, que atendia toda a comunidade. Mas os integrados da cooperativa, também como a função de caixa ali no supermercado, né, essa era a minha função, esse foi o meu primeiro trabalho.
P/1 – Aí, você falou que depois, você veio pra Concórdia fazer a escola técnica, né, fez o Processamento de Dados?
R – Isso!
P/1 – Como é que foi essa opção por voltar… vim pra Concórdia, sair de vez de casa, como é que foi?
R – Eu… meus irmãos já não moravam mais em casa, né, surgiu essa oportunidade… eu queria muito voltar a estudar. Eu sempre gostei muito de estudar e de lá, onde eu trabalhava, eu já não tinha mais essa condição de vir estudar e voltar todo dia. Então, surgiu essa oportunidade. Meu pai que acompanhava muito a gente ainda nesse período, veio comigo, a gente foi lá, conversou com o responsável, e ele disse: “Sim, nós temos uma vaga, ela pode… a gente pode avaliar, para ela ser transferida”. Tanto que eu comecei essa nova função, no departamento pessoal da cooperativa aqui em dezembro. Daí em fevereiro do ano seguinte, eu já voltei a estudar, daí, fiz Processamento de Dados. Aí foram dois anos assim bem diferentes, nele, você voltando… pagando o teu estudo, voltando a trabalhar. Aí sim, o teu salário, você … comecei a conhecer pessoas diferentes, aí, que começaram a incluir as saídas, os amigos, alguma festa. Foi a partir desse momento, que, daí, você começa a criar um grupo, né. E essa turma que a gente tinha nesses dois anos que eu estudei, uma turma que tem muitas lembranças dos colegas. A gente fez vestibular em cinco, a gente passou pra mesma turma da faculdade, continuou aquele tempo todo junto. Então são pessoas que eu conheço até hoje, que eu lembro até hoje, que a gente se encontra. Uma menina é minha comadre, a gente se visita até hoje. Então, são amizades que você constrói pra vida, né?
P/1 – E ai, como é que foi, aqui em Concórdia, você morava com algum irmão? Você foi morar sozinha, como é que foi se instalar, chegar na cidade?
R – Eu morei um tempo com o meu irmão, que já trabalhava aqui e depois, numa pensão. Numa casa de família, ficava de segunda a sexta, e no final de semana eu ia lá pro pai e a mãe. Ficava lá com os meus pais. E daí depois, eu fui morar eu, minha irmã. Moramos uma época com mais duas meninas, daí, a minha irmã… a minha irmã começou a… a minha irmã é professora até hoje. Eu não me lembro, porque depois ela casou, foi morar fora daqui, voltou pra cá. Tem uma fase aí, que eu não lembro. E moramos eu e mais três meninas, aí saímos eu e uma delas, que a gente ficou juntas dividindo uma casa, até quando eu casei. Logo depois, ela casou também. Moramos muitos anos juntas, somos amigas até hoje (risos).
P/1 – Legal! Você falou dessa turma do Processamento de Dados, conta um pouco porquê do curso, porque você foi fazer, como é que foi o curso?
R – Já faz bastante tempo, né (risos)? Então, foi uma época que era ainda essas áreas de informática, tudo isso era bastante novidade e era atrativo, era um atrativo que a gente tinha. Também não tinha lá todas aquelas opções de curso, né, então foi uma das opções dentro das que tinha. Contabilidade não era meu perfil. Tinha alguns outros cursos, então o de Processamento de Dados me chamou a atenção, gostava disso, né. Na minha função, também a gente usava um pouco desse tipo de trabalho, lá no departamento pessoal onde eu trabalhava e, daí, eu acabei optando como… eu não sei como funciona isso hoje, mas na época a gente fazia o primeiro ano, eles diziam que depois, podia fazer… então, eu só fiz dois anos de Processamento de Dados, né. E também porque eu achava que eu não ia conseguir passar no vestibular, né. Então, eu resolvi fazer esses dois anos e, daí, depois, eu fiz o vestibular, que, daí, ingressei pra faculdade de Administração.
P/1 – E aí, a faculdade também outro período diferente, né, como é que foi a faculdade?
R – Um outro período diferente. Eu me lembro bem que eu fiz cirurgia no pé, logo na segunda fase, fiquei 45 dias engessada e eu precisava prestar as provas. E o meu pai me levava até lá de carro e os meus colegas me carregavam pra sala de aula (risos), pra eu fazer as provas finais de final de ano. Mas uma turma bem bacana que a gente teve, uma turma bem companheira, essas turmas de faculdade. Daí a gente entra na turma, né? A gente… assim, eu nunca tive dificuldade com estudos, felizmente, sempre gostei, sempre estudei, me dediquei e também era bem companheira da turma, assim. A gente saía, a gente ia pra balada, todo mundo junto, foi uma fase muito bacana da minha vida. Nesse período, conheci meu atual marido. No ano que eu me formei na faculdade, eu também me casei, né, então foi uma fase bem legal, muito legal, eu tenho ótimas lembranças.
P/1 – Você conheceu o seu marido… como que você conheceu o seu marido?
R – Então, ele também… a família dele também morava numa comunidade lá próxima, aí eu estudei com a irmã dele muitos anos, a gente acabou se conhecendo e foi convivendo. Até que acabamos ficando juntos, né, e casamos e felizmente estamos juntos até hoje, com três filhos pequenos (risos).
P/1 – Me fala uma coisa, então, como que você vê veio parar na BRF, Marlei, ao longo dessa sua trajetória, quando que você ingressa na BRF?
R – Então, eu trabalhei quase cinco anos na COPÉRDIA, na época, então na Sadia, maior empresa aqui do município, né, e a gente jovem almejava. Tinham muitas vagas, ainda aqui na área administrativa e frequentemente, tu via um colega: “Ah, vou participar do processo seletivo na Sadia…”, e etc., e tal. Até um dia que eu resolvi me candidatar pra vir também participar de um processo seletivo aqui na Sadia. Vários colegas trabalhavam aqui, vários colegas lá da cooperativa tinham vindo pra cá. Eu fiz um processo seletivo, depois me chamaram pra fazer um outro e dai, nos chamaram em três meninas, que tinham três vagas, né. Daí, foram feitas as entrevistas e alocadas uma em cada uma das vagas, então eu entrei aqui no ano de 95, trabalhando na Controladoria. Mas sim, não especificamente contabilidade, custos, nada disso, eu fazia mais a parte de atendimentos. Na época existiam chefes de departamentos, então foi mais… eu fazia mais a parte da secretaria do chefe do departamento na época, foi por aí que eu entrei na… então, na época, na Sadia.
P/1 – E aí, qual que foi a primeira impressão, assim, da Sadia, como é que foi esse ingresso? Começo de…
R – A gente tem até hoje aqui na BRF, o primeiro dia de todos os funcionários eles não trabalham, a gente têm uma integração. E na época, a gente visitava o processo, então pra quem não conhecia o processo. Pra quem não conhece, você leva um susto quando você vai ver um abate do frango, o abate de um suíno, isso ou aquilo. Mas é interessante, porque a gente não… eu não estava acostumada com a grandeza que era a empresa, né, tão grande, tantas pessoas. Então, eu me lembro bem do primeiro, do segundo dia, aquele choque, sabe? Tudo muito diferente, muita gente, você vai pro restaurante almoçar, aquele restaurante com seiscentas, setecentas pessoas. Aquilo deixava a gente meio que assustado num primeiro momento. Me lembro que no segundo dia, eu não lembrava exatamente, tinha uma escada pra subir, não conseguia encontrar a sala. Eu tive que pedir ajuda pra chegar na minha mesa, no meu local de trabalho. E daí, nesse local que eu entrei, eu já conhecia duas meninas, que me ajudaram a integrar com o grupo e dali pra diante, aconteceu, fluiu.
P/1 – Você começou a explicar um pouco das suas funções, falou que tinha as coisas dos gerentes de departamento. Explica um pouco melhor no quê que você ingressou fazendo, como é que foi esse desenvolvimento.
R – Então, eu trabalhava mais com a parte de secretária do chefe de departamento, mas eu fiz essa função durante 13 meses e, na época, existia o caixa aqui na empresa. O caixa, onde ainda se pagavam os integrados, e etc., vinham aí no balcão e recebiam o cheque do seu lote de frango e etc. Existiam muitos documentos que entravam no caixa, se pagavam as contas por aí e enfim… e uma pessoa da contabilidade trabalhava nesse local já decodificando todos os documentos contabilmente. E ocorreu que uma pessoa saiu, outra saiu, não me lembro exatamente. E eles precisaram de alguém pra fazer essa função, que daí foi onde eu aprendi e fiquei fazendo essa função mais dois ou três meses. Voltei pra minha área e daí, sabe aquele sentimento que você tem: "Eu estava aqui, me colocaram lá, agora me trouxeram de volta". Começa a ficar desconfortável, parece que você tá sobrando no espaço e daí, eu fui, justamente, fazer as férias do diretor administrativo, na sala ao lado daqui. Fiquei 30 dias, voltei pro meu setor e fui novamente fazer as férias de uma outra secretária de um outro diretor. Na época, tinham vários diretores, aqui era a matriz. E durante esse período que eu fiz essa segunda férias desta menina. Eu participei de um processo seletivo, começava na Sadia, o TQS, a Qualidade Total. Começava na Sadia e a pessoa que ia coordenar isso, era o meu professor na faculdade. Ele me convidou pra fazer o processo seletivo e eu fui aprovada. Quando a pessoa voltou de férias, o diretor com quem eu estava fazendo as férias nos chamou, e pediu pra que eu ficasse trabalhando com ele, e a pessoa assumir a minha vaga, e foi isso que aconteceu. Ele era o diretor da unidade, na época, então eu fiquei trabalhando com esse diretor, a menina ocupou a minha vaga e aí, eu fiquei trabalhando com a diretoria. Com todos os diretores que foram passando aqui, os diretores da unidade, até o último diretor com quem eu trabalhei foi o Piola, né, Cleomar Piola. Hoje é diretor no Rio Grande do Sul, trabalhei alguns dias com o Alejandro, o nosso atual gerente e o menino que fazia essa função de analista de RH, que é na área de gestão onde eu trabalho. Saiu da empresa e abriu essa vaga e eu pensei… e estava por começar o Projeto Gestão, que foi o projeto que integrou as duas práticas Sadia e Perdigão. E eu vi isso como uma oportunidade, conversei com o Alejandro que me deu um apoio, com a minha atual supervisora, eles disseram: “Não, se você tá afim, tem que participar do processo agora e pegar o projeto do começo”. E foi o que eu fiz, participei do processo e, daí, fui pra área de gestão. Foi um grande desafio pra mim, muitos anos ai, 15, 16 anos como secretária de diretoria. E ir pra uma área assim, mais técnica, onde eu precisei aprender outras ferramentas, realmente, foi um desafio. Tem muita coisa ainda pra aprender, muita coisa que eu faço, mas eu tô bem contente, tô bem contente com essa função. Essa é um pouquinho da minha trajetória.
P/1 – Você falou um pouco dessa coisa da gestão, da Perdigão/Sadia, como é que foi esse período?
R – Então, teve um período, onde eles chamaram várias pessoas das duas empresas, agora, eu não vou lembrar como chamava o projeto de sinergia. Eles ouviam e tinha uma equipe coordenando isso, olhando as práticas da Sadia e as práticas da Perdigão. O que fazia aqui, o que fazia lá e disso tudo, se elencou: “Não, a partir da fusão, a gente vai fazer assim”. Muitas coisas que a gente faz hoje já vinham da Sadia, muitas a gente integrou, que vieram da Perdigão. Coisas novas foram construídas e esse projeto, daí, fez a implantação de todos esses métodos, essas ferramentas de trabalho. Houve um processo de implantação desse projeto no ano passado, 2012, exatamente igual uma rampa de implantação em todas as unidades, Sadia e Perdigão. Então, todo mundo pegou aquele pacote novamente, como se, vamos dizer, começando do zero. E fez toda essa implantação em toda a companhia.
P/1 – Entendi. E aí, Marlei? Você é representante de um comitê, me explica direito o quê que é o comitê? Pra quem não conhece… se você estivesse explicando como que você explicaria? O quê que é?
R – Então, o Comitê de Investimento Social, eu faço parte,do Instituto desde 2007. Mas eu tô envolvida nisso desde 1999. Quando, na Sadia, existia os projetos sociais, que se desenvolvia com a comunidade. Lá em 99, a gente recebeu ai a demanda de criar alguns projetos, que seriam financiados pela empresa e eu coordenei esses projetos. Ao lado, na época, do gerente aqui da unidade. Quando, eu me lembro bem, a gente construiu a creche que está aqui na frente, né, com esse dinheiro do investimento social, que veio lá do corporativo. A gente construiu um aviário-escola no instituto federal… então, desde 99, que eu comecei a me envolver com essa questão mais social da empresa. Há vários anos, esses projetos… a gente apoiou o Projeto do Proer, o Projeto do Canarinho, outros projetos que acontecem aqui na comunidade. A gente foi acompanhando e anualmente, de uma ou de outra forma, se apoiava os projetos. Em 2007, daí veio o Instituto, com toda essa metodologia, que criou os Comitês de Investimento Social, que é um grupo de pessoas, aqui no nosso Comitê, nós temos uma pessoa de cada área. Nós temos vários processos, frangos, suínos, industrializados, manutenção… então, a gente tem uma pessoa de cada processo, que compõe esse comitê. Que com as diretrizes do Instituto, a gente começou a trabalhar esses projetos de investimento social. No primeiro ano, a gente fez uma chamada pública, identificou alguns projetos para serem apoiados. E no segundo ano, a gente começou um trabalho mais estruturado com as comunidades, que a gente vem dando andamento neste projeto e ele está continuando. Agora a gente tem mais um desafio ai, de como os voluntários, implementar mais um projeto nesses dois bairros, que a gente vem trabalhando, que são vizinhos aqui da empresa.
P/1 – Você falou um pouco do Instituto, o quê é o Instituto? Qual é o papel do Instituto dentro da BRF? O Instituto BRF.
R – Então, o Instituto foi criado, né, é a organização dentro da BRF, que cuida exatamente desse ramo social da Companhia. Ele é da empresa, é uma entidade sem fins lucrativos. Mas ele faz parte, o instituto é criado pela BRF, né, ele também passou por essa fase de junção do Instituto Perdigão e o Instituto Sadia. Se criou um Instituto BRF, que foi lançado no ano passado, e ele é o gestor do investimento social da BRF hoje. Ela que faz todo aporte financeiro, a BRF, hoje, né, mas quem gerencia, o gestor de tudo isso, é o Instituto. Com o apoio desses comitês, que hoje, estão em todos os locais que têm uma unidade, em todos os municípios que têm uma unidade. E o foco do trabalho é o desenvolvimento local, o desenvolvimento das unidades, onde nós temos uma fábrica que está incluída naquela comunidade trabalhando.
P/1 – Legal. Aí você já me falou da formação dos comitês, têm os participantes de cada um dos setores, mas como o comitê opera? Ele tem reuniões? Vocês debatem? Como ele funciona?
R – Sim, nós temos um calendário de reuniões mensais, onde a gente deixa todos a par do que está acontecendo. Eu coordeno esse comitê, e a gente tem os facilitadores. Tem uma pessoa que é o facilitador do Trabalho do Voluntários, que é um trabalho que a gente faz. Tem um outro facilitador do Comunidade Ativa, que esse projeto, que a gente veio trabalhando com estes dois bairros. Tem a assistente social, que faz parte desse comitê e dá o aporte necessário. Tem uma pessoa que é a secretária do comitê, então cada um tem a sua função. Os demais membros, que vem um de cada área nos ajudam a multiplicar, organizar as atividades. E a gente sempre une mensalmente. Anualmente, a gente desenvolve um plano de ação pra cada um dos projetos. Cada facilitador coordena o seu plano e vai desenvolvendo as ações conforme foram planejadas para aquele ano. E mensalmente, a gente faz o check, né, o que precisa, o que tá andando, o que não precisa, na reunião mensal.
P/1 – Entendi. E você falou um pouco dos projetos, falou de alguns deles ao longo da criação do Comitê. Quais são os projetos que já ocorreram aqui em Concórdia, que você pode contar pra gente?
R – Naquele primeiro ano, que a gente fez uma chamada pública, a gente apoiou um projeto do Consórcio Lambari, que era um projeto com o foco no… era… o foco era água. Agora, eu não vou lembrar, era a Bacia do Rio dos Queimados, todos os afluentes que chegavam no Rio dos Queimados. Eram rios bastante poluídos, então a gente apoiou um projeto do Consórcio Lambari. A gente apoiou o PROERD, que é um projeto da polícia militar, que trabalha com os adolescentes, nas escolas, com prevenção às drogas. A gente apoiou o Projeto Canarinho, que é uma escola de futebol de campo pra menores também. No segundo ano, a gente começou com esse trabalho mais estruturado, que deu origem ao Comunidade Ativa. Que foi trabalhar os bairros, quem está aqui no nosso entorno, no entorno da empresa. A gente chama Cerca com Cerca, nós convidamos cinco bairros pra participar desse projeto. Esse projeto foi piloto em Concórdia e em Chapecó, comunidade vizinha nossa, e desses cinco bairros, que a gente convidou, apenas dois deram resposta positiva, que queriam continuar. Era um desafio pra nós, a gente ouvia isso das próprias comunidades. Porque o projeto era novo, foi sendo construído aos poucos, né, não tinha nenhuma receita pronta pra gente implementar. Isso, em alguns momentos, a gente ficava um pouco inseguro do caminho que a gente ia trilhar. Mas o Instituto, através do Instituto Paulo Montenegro e o Instituto Fonte, trouxeram muita tecnologia, nos deram todo o aporte que a gente precisava e a gente começou a consolidar o trabalho com essas duas comunidades. E hoje, a gente começa a ter ações, que a gente executou e outras que a agente está executando nessas comunidades, que eles começam a reconhecer o trabalho desse comitê, do CDC do Comunidade Ativa, como sendo positivo nessas comunidades. E o retorno disso é bacana, porque a gente vê comunidades que não estão envolvidas nos procurando. Pra ver se daqui a pouco a gente pode desenvolver projetos com eles também. Então, acho que isso é um feedback positivo,
P/1 – E quais são um pouco os critérios pra escolher os projetos? Você falou da questão do desenvolvimento local, mas como que vocês entendem esse desenvolvimento local?
R – Isso tudo existiu um alinhamento, o Instituto gera… anualmente, existe um seminário, onde são reunidos todos os coordenadores desses comitês, que existem nas unidades e lá em conjunto, com o apoio do Instituto, a gente traça as diretrizes macro e vai trabalhar. Então, com o consenso de todos, com o apoio de todos é que se chegou, não foi num único instante, né, mas que a gente desenhou, que o desenvolvimento local era a bandeira e era o foco do nosso trabalho. A atuação seria com o desenvolvimento local, sempre tentando juntar aí o primeiro, o segundo e o terceiro setor. Trabalhando em função do desenvolvimento. Então, todas as diretrizes são compartilhadas neste seminário, são construídas nesse seminário. Cada passo que o Instituto dá, ele desenvolve os coordenadores desses comitês, e lá se tomam as decisões que vão nortear o trabalho o ano todo. Daí, a gente volta pras nossas comunidade, com o apoio dos nossos comitês, a gente faz os planos de ação, as atividades e se dá sequência ao trabalho.
P/1 – E Marlei, efetivamente, o que te levou a querer ser coordenadora, como que você chegou nesse caminho?
R – Então, foi meio até que automático. Como eu estava envolvida, como eu falei, desde 99, lá em 2007, quando se começou a se falar no Instituto Sadia. Eles buscaram uma pessoa de cada comunidade, na época, o gerente me chamou, ele disse: “Olha, acho que você vem acompanhando esses projetos, é a pessoa que pode nos representar nesse momento”. Acabei incluindo o comitê, depois vieram outras pessoas, que depois a gente fez essa formação inicial e por um período também, além de coordenar o comitê, eu coordenei esse projeto Comunidade Ativa. E o ano passado, daí que a gente começou a trabalhar com os facilitadores pra… porque nós temos a nossa função do dia a dia, eu não deixo de ser analista de gestão. No momento que eu vou trabalhar o trabalho do comitê, então, essa figura dos facilitadores distribui um pouco, né. Cada um, daí, faz uma parte, daí facilita um pouco o trabalho de todo mundo.
P/1 – Entendi. Agora entrando, em específico, nesse projeto que envolve a secretaria de educação, Intuição Jaborandi. Como é que surgiu esse projeto, o Professores em Rede e o Concordia Digital, né, como surgiu, esse projeto, como que ele começou?
R – Ele começou então lá atrás, se eu não me engano foi em 2008, alguma coisa assim, 2009, não tenho lembrança da data. Mas enfim, o nosso presidente, na época, o senhor Valter Fontana, queria desenvolver… conheceu esse projeto em algum local, e disse que queria implementar um projeto muito semelhante, alguma coisa assim, aqui em concórdia, né. Numa oportunidade, a gente recebeu a Luciana, as pessoas lá do Instituto Jaborandi. Pra começar a entender do que tratava, inicialmente, a gente não entendeu. Não caiu a ficha. Tinha um desenho do projeto, construíram uma sala de informática, alguma coisa no centro da cidade, para as pessoas terem oportunidade. Chamamos a secretaria de educação, que apresentou um pouco esse projeto, que na época, se chamava: Nossa Língua Digital, com alunos do quarto ano. E a prefeitura, a secretaria de educação, concordou com o projeto, achou interessante. Mas como o secretário falava na época, eles recebem propostas de projeto quase todo dia, e eles não estavam dispostos a pegar um pacote pronto e tentar: "Não, nós vamos implementar esse projeto aqui em Concórdia". Eles estavam dispostos sim, a juntos, a gente construir o projeto. Uma atuação conjunta e foi a partir daí, que se começou então essa construção conjunta. A unidade, a Secretaria de Educação, o Instituto, com o apoio do Instituto Jaborandi, foi uma verdadeira construção. Foi a primeira turma do Nossa Língua Digital, depois outra turma, até que surgiu a construção do projeto Professores em Rede, pra formação desses professores. Para que a própria prefeitura, agora, adquirindo toda essa tecnologia, Secretaria de Educação, eles possam reaplicar. Possam aproveitar isso, com outros professores e atingir uma rede muito maior de alunos.
P/1 – Legal. E você falou dessa construção conjunta. Como é que funcionava essa parceria conjunta Jaborandi, BRF e Secretaria?
R – Então, o Jaborandi quem trouxe essa… eles já tinham uma experiência de trabalho. E eles que trouxeram pra cá essa proposta e o desenho inicial… o Jaborandi ouvia…a gente ouvia muito mais a Secretaria de Educação, a realidade deles. Porque é fato, né, a gente trabalha aqui na empresa, a Secretaria de Educação lá com o trabalho, às vezes, eles estão desenvolvendo alguma coisa que a gente não tem conhecimento. Nele, então, a gente sentou em muitos momentos, ouvia o que a prefeitura, a Secretaria estava desenvolvendo, e o Jaborandi a partir disso, começou montar uma proposta, que sempre era validada com o Instituto BRF. Conosco e com a própria Secretaria, então se discutia: “Não é por esse caminho que a gente quer, a gente quer abordar tais assuntos, de que forma a gente pode fazer?”. Se voltava a fazer essa proposta, essa construção nos detalhes de que textos vamos trabalhar, como vai ser isso, até que se chegou num consenso: “Não, isso sim, nós precisamos, isso sim, é importante pra nós, isso sim, a gente pode construir e dar andamento”. Realmente, foi uma construção conjunta e acho que isso que resultou no projeto bacana e no resultado que deu. Que a gente cruza com as crianças, ouve os que participaram lá do nossa, Língua Digital e os outros que viram e não participaram, pedem: “Nós também vamos ter isso?”, então eu digo assim, que se eles estão perguntando, é porque eles viram algo de positivo, nele, eles também querem participar e agora, isso tudo está nas mãos deles, nas mãos dos professores, que podem fazer essa disseminação interna. Eles têm toda a plataforma que eles podem trabalhar, então a Secretaria tem isso que pode, realmente, acho que ajudar muito os professores na sala de aula.
P/1 – Legal. E eu queria que você destacasse qual foi o papel da BRF, ao longo de todo esse projeto, assim, o Instituto Jaborandi trouxe um pouco da metodologia, a BRF foi a articuladora, qual que você entende que foi o papel da BRF?
R – Eu acho que é realmente a palavra que você falou. Naquele primeiro momento que você recebeu o Jaborandi, que a gente até brincava que eles falavam grego, que a gente não entendia o que eles queriam fazer.A Secretaria de Educação não queria um pacote pronto, queria uma construção, foi isso mesmo, de articulador, a gente fez essa ponte, né, aqui na unidade. A Luciana lá por São Paulo, a equipe do Instituto por lá, muito perto do Jaborandi, nós aqui, perto da Secretaria de Educação. A gente conseguiu fazer essa ponte, essa articulação do que era necessário, mexer de cá e de lá, pra que o projeto saísse do papel. Foi realmente de articulador. O Jaborandi veio com a proposta para implementar a Secretaria, então a gente tava no meio, né, então era essa a articulação que a gente precisava fazer.
P/1 – E como que foi o acompanhamento da BRF do projeto, vocês acompanharam o projeto nas reuniões, como que se deu o acompanhamento?
R – A gente acompanhava as reuniões, muitas reuniões por telefone, devido a distância. Nele, muitos… em alguns momentos, a gente acompanhou a apresentação dos alunos, que ao final do semestre, eles criavam revistas, outros… eles tinham o resultado do trabalho e faziam as apresentações. Os projetos dos professores, a gente acompanhava as apresentações, e o check se dava. A gente tinha lá as ações para serem desenvolvidas, geralmente em reuniões presenciais ou por telefone, a gente fazia o acompanhamento e ia dando o aporte que fosse necessário, que a gente tinha alçada para dar. Se não acontecesse por aqui, a gente acionava o Instituto. Ia pedir lá, o Jaborandi sempre também em muitos momentos, aqui presente, né, fazendo o check, dando o aporte pras atividades. Em alguns momentos, os coordenadores do projeto, as professoras, as coordenadoras foram levadas pra treinamento, lá em São Paulo, junto com o Instituto Jaborandi. Pra entender o funcionamento da plataforma, que eles precisavam dominar isso, porque a tecnologia foi passada pra eles, né, mas foram muitas conversas por telefone.
P/1 – E Marlei, você percebe resultados do projeto? Que mudanças que a tecnologia trouxe para a educação aqui em Concórdia? Assim, você vê o efeito do projeto? Você falou, por exemplo, dos alunos comentaram: “Ah, a gente queria participar”, que efeitos vocês percebem, assim?
R – A Secretaria de Educação aqui de Concórdia, ela tem uma… eu acho assim, que eles têm um bom… como é que eu vou dizer? Eles têm uma boa nota, uma boa classificação em relação ao estudo aqui, municipal, eles têm as escolas… o que facilitou o nosso trabalho também com relação a Secretária. Foi que a gente encontrou escolas equipadas, escolas já com laboratório de informática, o que facilitou muito o trabalho, o que a gente conseguiu, talvez, levar pra eles, é o como aproveitar melhor esses recursos que eles já tinham disponíveis, para o dia a dia do professor em sala de aula. Porque a tecnologia eles tinham, os equipamentos estavam aí. Então essa forma de fazer, eu acho que é o que fez a diferença, porque os alunos tinham que… os alunos do Nossa Língua Digital, eles estudavam no seu período normal e no contra turno. Eles voltavam pra escola pra participar do Nossa Língua, então, eles precisavam querer isso. No primeiro momento, pra nós, parecia um desafio: "Será que eles vão querer voltar pra escola à tarde?" E quando eles perceberam que era com informática, com internet, que tinha alguém ensinando criar um blog, ensinando criar uma revistinha, fazer… aquilo se tornou muito interessante para eles. Então, o laboratório existia, estava tudo aí, então nessa forma de fazer, que eu acho que é o grande ganho, talvez, que os professores, que a Secretaria tem nesse projeto, que pode auxiliar muito a vida deles. Trabalhar com interdisciplinaridade, a gente vê os projetos dos professores já congregando várias disciplinas, positivo para os professores e muito mais para os alunos, que vão receber isso, né?
P/1 – E quais são os aprendizados que vocês tiraram do projeto, Marlei, o quê que ficou? O quê que fica?
R – Eu acho que um grande aprendizado que a gente tem é conseguir desenvolver… claro que a prefeitura foi aí muito aberta. Mas essa construção conjunta, eu acho que isso é o que fica de positivo, né, todo trabalho que a gente fez, demandou? Demandou! Foram momentos de reunião, foram momentos de indecisão, que a gente não sabia como conduzir, mas eu acho que esse legado que fica, dessa construção. Houve uma mudança na maneira de fazer lá na Secretaria de Educação, hoje se faz… eles têm isso na mão deles, eles podem fazer diferente, então, a própria abertura do poder público para que o poder privado possa intervir e ajudar, de alguma maneira. Acho que isso é bacana, essa união em prol de quem? Não foi em prol de um e nem em prol do outro, foi em prol da comunidade local. Vem muito ao encontro do que a gente vem trabalhando o desenvolvimento local, né, então é um belo exemplo de que uniu o poder público ao poder privado, e se teve um resultado a favor dos alunos, a favor dos professores, a favor das crianças.
P/1 – Legal.
R – Acho que essa construção é o que fica, é o aprendizado, é o que fica essa construção conjunta.
P/1 – Legal. Você falou dessa coisa de união do poder público e poder privado. Acho que é uma das coisas mais interessantes mesmo, eu queria que você desenvolvesse um pouco, as coisas… porque a perspectiva de continuação do projeto, envolvendo isso, assim, como que o poder público fica com o projeto agora, né, como que virou política pública?
R – Foram esses dois, três anos de construção e já… a gente já deslumbrava, já via isso de lá no final, essa plataforma seria passada para o município, né, seria passada para que ele pudessem trabalhar. Aprenderam como fazer, para que eles pudessem trabalhar, principalmente pra conseguir disseminar. Porque até então, a gente conseguia formar lá um grupo de professores X, e agora, eles têm isso na mão, eles podem ampliar esse trabalho, né, eles têm a tecnologia que foi repassada pra eles e eles têm agora, isso em mãos, pra poder desenvolver com outros professores essa nova forma de fazer.
P/1 – E ai, fazendo um balanço também, quais foram as maiores dificuldades do projeto, aonde que a atuação é mais difícil, Marlei?
R – Na formação, nas formações, por um motivo ou outro. Você sempre começa com uma turma X, nem todos os professores conseguiram acompanhar por “n” motivos. Talvez, em alguns momentos, a gente tinha uma expectativa: "Ah, a gente vai fazer lá uma turma de 25", de repente, você estava trabalhando com 18, né, porque todo mundo tem a sua realidade. Às vezes, é difícil no seu contra turno, você abrir mão para conseguir buscar alguma coisa nova, mas as dificuldades existiram. Mas eu acho que o que facilitou foi essa construção conjunta, daí todos tinham a oportunidade de dar opinião pra que caminho a gente devia andar naquele momento. Aí facilitou, um pouco o trabalho. Mas assim, as maiores dificuldades… eu não acompanhei diretamente o projeto em si, né, mas as maiores dificuldades, né, eu acredito que a gente teve lá no início., Precisou essa negociação sim, com a prefeitura, com o prefeito, na época, precisou toda essa negociação, pra que a gente pudesse começar. E ali foi muito importante a presença da unidade, que o contato da prefeitura, do prefeito era a unidade. Não era o Instituto Jaborandi, o Instituto Sadia, na época. Então, nesse momento inicial, precisou esse apoio aqui da unidade pra que o prefeito dissesse: “Não, então vamos lá, vamos para essa construção conjunta”
P/1 – Marlei, agora saindo um pouco do projeto em si, vocês usam muito o termo “investimento social”, né, o quê que quer dizer “investimento social” pra você, o que você entende por isso?
R – “Investimento social”, eu entendo que é um… é realmente é um investimento, e as empresas, que nem no nosso caso da BRF, ela separa alguma coisa não necessariamente apenas em investimento financeiro para aplicar no social, na comunidade onde ela está inserida. E como eu falei, não sendo necessariamente dinheiro, a gente pode trabalhar o investimento financeiro, investimento com pessoas. A gente pode levar conhecimento, tem “n” formas que a gente pode levar o investimento nas comunidades, que a gente faz. A gente se reporta muito ao financeiro, investimento lembra dinheiro, né, mas ele é apenas uma das formas de investir. A gente vem fazendo um trabalho muito bacana com os nossos funcionários que são voluntários. Agora a gente tá dando iniciou um projeto com jovens em duas comunidades, que vai ser coordenado pelos nosso voluntários. Então, esse é um investimento que, vamos dizer, nem preço tem, né? Nem preço tem. Essas duas comunidades que a gente trabalha com o Comunidade Ativa, o que a gente já, junto com eles, conseguiu conquistar, vai muito além de alguma cifra financeira.
P/1 – E agora que você falou um pouco do futuro, quais são as perspectivas de projetos futuros, aqui em Concórdia, nele, quais são os planos do Comitê, as metas de vocês?
R – A gente… vem consolidando o CDC, que é o Comunidade Ativa, ele está numa fase de consolidação. E a gente ainda não sente que está preparado pra abraçar outra comunidade. Enfim, a gente quer que ele amadureça pra 2014, a coordenação, por exemplo, do CDC, sempre esteve na mão de uma pessoa da BRF, porque o Comitê compunha… tem pessoas das duas comunidades, nós da BRF, da prefeitura, do SESI, do SENAI, da universidade… esse projeto envolve também as empresas daqui. Então, uma perspectiva que a gente tem pra 2014 é que a coordenação saia da mão da BRF, que ela vá para uma dessas outras empresas, ou essas comunidades. Outra… o trabalho dos voluntários, a gente tá começando a desenhar, o ano mundial da juventude. Nele, então a gente tá começando agora a desenhar esse esboço que a gente vai agora, no mês de maio, dar um direcionamento maior, com uma ação global. Que é envolver os jovens, o objetivo maior é nessas duas comunidades, que a gente já trabalha, começar a despertar no jovem, esse interesse pela comunidade. Fazer um trabalho comunitário, para também no futuro, ter líderes que assumam os lugares daquelas pessoas, que hoje é o líder comunitário, que faz alguma coisa pra comunidade. Esses dois projetos que a gente leva adiante e a gente precisa consolidar, o da juventude está começando, e a gente também começa a trabalhar com o Programa Inspira. E selecionamos três entidades sem fins lucrativos, que estarão recebendo aí por todo esse ano, toda uma preparação de como trabalhar a gestão, como trabalhar a organização dentro de suas entidades. Então, o Programa Inspira é o primeiro ano, a gente acredita que ele vai se repetir nos anos seguintes, então é esses os projetos que a gente vislumbra agora, pro nosso Comitê, que é bastante coisa (risos)
P/1 – E Marlei, vamos voltar um pouco, você falou que é mãe, eu queria que você me contasse da Marlei como mãe, como que é a Marlei mãe?
R – A Marlei mãe tem três menino em casa (risos). Então, eu tenho um menino de sete anos, completou a semana passada, o Augusto e quando a gente encomendou o segundo, vieram dois, o Pedro e o Davi, eu tenho filhos gêmeos, né, três meninos. O Pedro e o Davi têm quatro anos e o Augusto, sete anos. É bem corrido, assim, porque eu trabalho aqui na empresa, né, meio-dia, eu almoço em casa, levo os três pra escola, no final da tarde, eu pego os três na escola. Daí, um dia você tem o supermercado, um dia você tem outra coisa e o meu marido trabalha fora da cidade. Então… pra ele é mais difícil estar aqui, só quando realmente é necessário. Então, tem essa corrida do dia a dia, ai, mas que com eles, com certeza, vale a pena.
P/1 – E quais são as coisas mais importantes pra você hoje, na sua vida?
R – Com certeza, acho que em primeiro lugar, mais importante é a família e depois disso, a saúde e o trabalho, né? Não… acho que as três estão muito ligadas, né, mas é aquilo que a gente diz, né, que você tem três bolas na mão, né, duas são de vidro uma não. Nele, que é a do trabalho, não é de vidro, mas a família e a saúde, essas você não pode deixar cair nunca e são as que eu realmente coloco no topo. Porque eu acho realmente que a… a família é a base, não sei, quando você tem filhos, né, você diz que… quando a gente tem filhos, a gente aprende a ser… quando a gente é pai e mãe, a gente aprende a ser filhos, né? E eu acho que essa é uma grande verdade e em nenhum momento, você faz alguma coisa sem antes você pensar neles, com certeza!
P/1 – E quais os seus sonhos pessoais, Marlei? Sonhos de futuro?
R – Nossa Senhora (risos)! Então, eu acho que… realmente, voltando a falar dos filhos, eu acho que nesse mundo tão dinâmico, tão diferente, a gente… tão cheio de tecnologia, que a gente vê, o que a gente realmente quer é que os filhos da gente cresçam, tenham uma formação e se tornem verdadeiros cidadãos. Porque a gente vê tanta coisa acontecendo, né, que às vezes, as pessoas até julgam: “Olha o filho do fulano, filho do cicrano”. Em algum momento, nós tomamos as nossas decisões, os nossos filhos vão tomar. Então, eu acho que o grande… a grande vontade que a gente ter é realmente que os nossos filhos cresçam, que eles tenham… que a gente consiga dar uma boa base pra eles e que eles se tornem verdadeiros cidadãos e que venham a contribuir para a sociedade, entre outras coisas
P/1 – E pra fechar, eu só queria te perguntar como é que foi contar um pouquinho da tua história, como é que você se sentiu?
R – É a segunda vez que eu participo disso. Quando foi feito o filme de lançamento do Instituto BRF, eu também dei um depoimento, né, a gente fica meio (risos) incomodada. É fato, mas é muito bacana assim, você trouxe algumas perguntas que me fizeram voltar um pouquinho, né, eu acho que é uma experiência bem positiva e relembrar tudo isso, que às vezes, a gente não faz a retrospectiva e às vezes, você não imagina tudo o que você faz, né? E é nesses momentos que você pára e começa: "Não, olhe o que eu fiz!", que você se dá conta da dimensão das coisas, acho que é muito positivo.
P/1 – Legal. Obrigada, então.
R – Obrigada vocês.
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