Meu nome completo é João de Moura Cunha. Nasci em dezembro de 1930, em Caratinga, Minas Gerais. Meus pais moravam na roça. Meu pai tinha uma fazendinha. Eles eram lavradores. Trabalhavam na roça e punha nós todos na roça. São 31 filhos: 28 homens e três mulheres. Meu pai casou três vezes, mas tudo na roça. Naquele tempo não tinha televisão, não tinha rádio, não tinha diversão nenhuma, ninguém conhecia circo, ninguém conhecia nada. Eu fui criado na roça até uns 14 anos. Antes, aliás, até uns oito anos. Aí me tiraram e me botaram na escola em uma cidadezinha, mas pequenininha também. Cidade que eu digo são três casas [risos]. Meu avô morava… e tinha uma farmaciazinha pequenininha. Minha tia era professora e através da política, aquelas coisas, ela lecionava. Então, nessa cidadezinha que existe – hoje é cidade mesmo. Uma tal de (Anta?). E então foi assim a vida. Depois saí dali e foi onde veio um problema, porque lá era mais difícil o registro dos filhos. O filho nascia e ficava 15, 20 anos até se registrar. Quando ia casar, aí fazia o registro do filho. Eu fui um desses e meus irmãos também. Isso não é nada demais e nem de menos, mas tem que contar. São coisas que passaram comigo. Meu pai não deixava nenhum dos filhos dele servir ao Exército. Naquele tempo, o Exército jogava dentro da água, dentro da vala, dentro da lama, dentro da sujeira. Então, meu pai dizia: “Meus filhos não vão fazer isso". No Estado de Minas Gerais era horrível mesmo. Ele não registrou nenhum filho. Quando chegamos aos 15, 16, 17 ou 18 anos ele registrava com 20 anos e já saíam. Na época, ele teve que pagar Cr$ 600 (seiscentos mil cruzeiros) para tirar os dois filhos mais velhos do Exército. Os outros, ele foi fazendo tudo assim. Eu não servi e meus irmãos não serviram. Ele me registrou parece que com 11 ou 12 anos a mais da idade. Eu tinha 16 e ele me registrou com 29. Aí, o que aconteceu? Nessa idade, eu arrumei...
Continuar leituraMeu nome completo é João de Moura Cunha. Nasci em dezembro de 1930, em Caratinga, Minas Gerais. Meus pais moravam na roça. Meu pai tinha uma fazendinha. Eles eram lavradores. Trabalhavam na roça e punha nós todos na roça. São 31 filhos: 28 homens e três mulheres. Meu pai casou três vezes, mas tudo na roça. Naquele tempo não tinha televisão, não tinha rádio, não tinha diversão nenhuma, ninguém conhecia circo, ninguém conhecia nada. Eu fui criado na roça até uns 14 anos. Antes, aliás, até uns oito anos. Aí me tiraram e me botaram na escola em uma cidadezinha, mas pequenininha também. Cidade que eu digo são três casas [risos]. Meu avô morava… e tinha uma farmaciazinha pequenininha. Minha tia era professora e através da política, aquelas coisas, ela lecionava. Então, nessa cidadezinha que existe – hoje é cidade mesmo. Uma tal de (Anta?). E então foi assim a vida. Depois saí dali e foi onde veio um problema, porque lá era mais difícil o registro dos filhos. O filho nascia e ficava 15, 20 anos até se registrar. Quando ia casar, aí fazia o registro do filho. Eu fui um desses e meus irmãos também. Isso não é nada demais e nem de menos, mas tem que contar. São coisas que passaram comigo. Meu pai não deixava nenhum dos filhos dele servir ao Exército. Naquele tempo, o Exército jogava dentro da água, dentro da vala, dentro da lama, dentro da sujeira. Então, meu pai dizia: “Meus filhos não vão fazer isso". No Estado de Minas Gerais era horrível mesmo. Ele não registrou nenhum filho. Quando chegamos aos 15, 16, 17 ou 18 anos ele registrava com 20 anos e já saíam. Na época, ele teve que pagar Cr$ 600 (seiscentos mil cruzeiros) para tirar os dois filhos mais velhos do Exército. Os outros, ele foi fazendo tudo assim. Eu não servi e meus irmãos não serviram. Ele me registrou parece que com 11 ou 12 anos a mais da idade. Eu tinha 16 e ele me registrou com 29. Aí, o que aconteceu? Nessa idade, eu arrumei uma namorada e casei aos 16 anos. Quando fiz 17, eu era pai. E ele está aí, vivo. Hoje, ele tem 40 e tantos anos. Foi quando eu saí, fui para o Paraná, morei em Londrina, morei em Rolândia, morei em uma porção de lugares no Norte do Paraná. Trabalhei na roça por muito tempo. Depois, trabalhei na cidade com tinturaria, como ladrilheiro, pedreiro, padeiro, essas coisas. Depois eu voltei pra casa, mas eu casei e separei dessa moça. O cara com 16 anos, ele não tem realmente... Não adianta o cara falar: “Fulano é adulto.” Não é. Não adianta. Porque eu passei por isso. Eu pensava também que era, mas não era. Ele engana a ele próprio, pensando que é e não é. Quando eu vim de lá, meu pai tinha aquela coisa: "Ninguém é separado, todos moram com as esposas. Você também não vai ser o primeiro.", mas eu não queria mais, de jeito nenhum! “Não, mas tem que ficar”. Foi quando aconteceu mais filho. E aí eu deixei ela de novo e vim para o Rio de Janeiro. Aí é que vamos à história. Ela ficou uns dois ou três meses e veio atrás. Trouxe os filhos: “Ele que arrumou, que se vire agora.” Fazer o quê? Já estava mesmo no meio da lama e aí fiquei. Cheguei no Rio de Janeiro em 1964. Eu achei legal, porque já tinha morado no interior de São Paulo, já tinha morado também em São Paulo. Eu tinha um colega, nem me lembro mais do lugar. No Paraná, eu morei em diversos lugares. No Norte do Paraná, rodei aquilo tudo. E cheguei no Rio e achei uma coisa mais diferente, porque o Paraná é um lugar muito limpo, muito cuidadoso, que o pessoal parece mais que é do exterior do que do Brasil. Então, eu cheguei no Rio e vi o pessoal mais brasileiro. Desculpem eles lá, mas o pessoal do Rio eu achei mais brasileiro. Aquela coisa de praia, a maneira de falar, aquele negócio de gíria. Eu gostei mais e eu fiquei. Tive uma boa impressão e assim foi. Sempre gostei muito de samba e forró. Fui até presidente de um bloco, na época, também. Eu saí do Estado de Minas Gerais e fui para Vila Kennedy, Rio de Janeiro. Eu e mais dois colegas, eles voltaram e eu fiquei. Eles não tinham muita experiência e eu disse pra eles: “A gente só fica sabendo depois que aconteceu. Você tem que molhar primeiro pra saber que realmente está chovendo.” Eu fiquei na Vila Kennedy. Aí eu ajudei a terminá-la de construir. Não me lembro muito bem, mas acho que em 1960. Assim que passou aquela chuva de 1964/1965, eu cheguei em Santa Teresa e não saí mais. Depois, passado muito tempo, eu vim para o Morro dos Prazeres, meu irmão morava aqui. Tinha pessoas que estavam aqui e foram ajudar a construir a Vila Kennedy, mas depois que terminou, eles voltaram para cá. Aí meu irmão falou: “Vamos embora pra lá também.” E me trouxe para cá. Chegando aqui, só tinha mineiro, alguns paraibanos, alguns pernambucanos, mas a maioria era mineiro. Engraçado, lá de onde eles vieram não era um lugar tão ruim assim. Um lugar que se planta, colhe. Mas sabe o que é? É a mesma coisa da Serra Pelada: “Vamos buscar o ouro!”. O Rio de Janeiro era a mesma coisa. Hoje não, mas na época era a mesma coisa. Era igual ao Paraná: “Vamos para o Paraná que tem colheita de café. A gente arruma muito dinheiro.” A mesma coisa. Chega aqui, aí já compra roupas bonitas, compra uma porção de coisa, relógio e cordão que não tinham. Aí chega lá, o cara olha assim nos outros: “Como é que está?”. “ Lá é uma beleza. Lá você faz isso...” . Eles aumentam um pouquinho. “Você arruma muito isso, arruma muito dinheiro, tem muita gente, muita moça bonita.” Aí o cara: “ Não dá um jeito de você me levar? Eu pago você em dobro.” [risos]. Aí, vem o cara pra cá. Aqui no morro se plantava horta, mas não hortas enormes. Até uns oito anos mais ou menos, eu arrumei uma bacia de lavar roupa. Ela furou, eu enchi ela de terra, botei esterco e plantei cebolinha, coisa grande. Eu acho muito legal essa plantação. Eu gosto de plantas, flores, essas coisas. De vez em quando, tem pessoas que fazem isso, agora não. Depois que passou esse problema de obra, aí acabou muito as terras. Botaram muito concreto. Cobriram muito: “Ah, isso aí não pode que é da Prefeitura...”. O cara vai cortar um capim ali pra plantar: “ Não, isso aí, não." . Quando eu cheguei no morro, morei na Rua Gomes Lopes, 175. Foi a primeira rua que eu morei e ela já tinha esse nome. Um moço chamado Pedro Ribeiro – já morreu. Morreu com 80 anos – Pedro Ribeiro tinha um irmão… O morro já se chamava Morro dos Prazeres, o Escondidinho e os Prazeres. Muitos mineiros, quando falavam Santa Teresa, já falavam: "O Escondidinho e os Prazeres." Depois de um bloco carnavalesco que foi instalado aqui é que separou mais. Ficou o Bloco dos Prazeres e o do Escondidinho. Que tinha dois blocos lá embaixo e um aqui em cima. Antes era: “Vamos no morro?” . Já falou dos dois. A Rua Gomes Lopes dividia os dois morros, mas não tinha nada que especificava isso. O bloco começou e tinha que colocar um nome. Já tinha um no Escondidinho, aí colocaram o nome do outro de bloco Morro dos Prazeres. Não lembro muito bem quando o bloco foi fundado. Os fundadores fomos nós mesmo. Eu, Guido e Luiz Carlos, que já morreu. Ele me chamou - não me esqueço disso – ali naquele armazém: “Moura, vem cá.” . Sempre fui um cara mais comunicativo. As pessoas gostavam de brincar, conversar, tomar uma cervejinha de vez em quando, dançar, ir no baile. Faziam um baile, podiam contar comigo que eu estava lá. Se tivesse uma caipira, eu estava por ali também, batendo palma ou fazendo alguma coisa. Barulho, qualquer coisa. Não tinha barreira, isso aí era chão. Não tinha nada. Era uma coisa abandonada, praticamente. Então, eles falaram para fazer uma festinha aí. Arrumavam frango e faziam leilão. Eu e outro levávamos um frango frito. "Olha, quem mais dá pelo frango? Dou-lhe uma, dou-lhe duas...". Aquele negócio tipo roça mesmo: "Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três". Aí, a gente arrematava o frango e comia com cerveja." Era tudo mais farwest mesmo. Tira com a mão, pega um pedaço, pega outro, chamava uma moça: ”Ah, eu venho também.” . Entrava também, comia também, bebia a cerveja. Isso tudo existiu aí. Depois que fizeram a (Assamp?) , essa sede aí, a antiga sede, lá da frente.
Aí então, esse Luiz Carlos me chamou: "Moura, vem cá, vamos botar...”. Estou me esquecendo de um detalhe. No Caju, tinha campos de futebol social e eu tinha time nacional e levava pra lá. Tinha primeiro e segundo quadro. Eu levava os dois pra lá. E depois, arrumei um time de mirim. Primeiro e segundo também, mirim. Eu andava com um chapéu aqui no morro, pedindo dinheiro pra ajudar a comprar a camisa das crianças e eles davam. Eu recolhia hoje, e amanhã já estava com o jogo de camisas. Esse Luiz Carlos me chamou: “Vamos fundar um bloco?” . “Vamos. Se você ajudar e for o cabeça, posso dar uma força.” Aí ele chamou mais algumas pessoas – que agora não me lembro mais, já morreram ou mudaram, e fizemos aquela união e aconteceu o bloco. Começou o bloco, o primeiro presidente do bloco parece que foi o Getúlio. O Luiz Carlos foi o primeiro, depois foi o Getúlio. A gente ensaiava aqui e desfilava. Tinha uns lugares que os blocos desfilavam, por exemplo, esse ano, a gente desfila em Campo Grande. Se vence lá, vem mais pra perto [risos]. Vem para o lugar da Imperatriz, aí vem pra Ramos. Chega em Ramos, ganhou? Aí vem pra 28. Os outros assim também. Se perder, volta pra Campo Grande outra vez. Nós perdemos muitas vezes e ganhamos muitas vezes. Teve uma vez, que foi a última vez que nós desfilamos e fomos para Ramos. Foi a parte ruim do bloco e da minha vida toda no Rio de Janeiro, foi essa. Nós fomos pra lá. Chegou lá, nós estávamos esperando, porque tínhamos poucas peças e esperamos um rapaz trazer mais peças. Nós atrasamos 20 minutos para o bloco entrar. Nesse atraso, tinha um outro bloco – não me lembro agora, sei que era verde e branco – que tinha que entrar depois de nós. Atrasamos 20 minutos, fizemos eles atrasarem também. E o atraso deles era concluído no desfile. Quer dizer, nós perdíamos e eles também perdiam por conta do atraso. E eles estava em _____ porque a gente viu muitas armas. Todo mundo de arma na mão. E a gente querendo entrar com o bloco e eles falando alto pra gente ouvir: “Nós já estamos perdidos mesmo, nós já vamos voltar lá pra Campo Grande. E agora o que vai acontecer? Nós vamos deixar uma meia dúzia morto aí, pra ficar logo legal.” Uma coisa horrível! Eu tinha caído de um andaime, eu estava com a perna doendo muito. Eu estava mancando e não podia correr. Eu pensava assim: “Pra eu correr, é um problema sério.” Eu vi as armas na mão das pessoas. Tudo revólver. Hoje tem até mais sofisticado, mas era tudo revólver 38, 45. Toda terça-feira tinha uma reunião e a gente ia lá no desfile. O bloco era Acadêmicos dos Prazeres [O Sr. João tenta lembrar um trecho do samba]. Inclusive, o bloco saía, tinha o bondinho. O (Dei?) era o carnavalesco nosso. Se vocês passarem ali no Guimarães, aí vocês olham no muro e vão ver umas caricaturas de negócio de futebol. Ele desenhava aquilo, muito perfeito. E ele fazia nosso Carnaval, fazia direitinho. Fazia o Cristo, o Pão de Açúcar, o bondinho. Tudo perfeito. Tudo no mínimo, mas fazia. O primeiro samba parece que foi o da jaqueira. Não sei o quê da jaqueira... Tem algumas pessoas que ainda lembram. É a jaqueira da escadaria. Hoje, acho que nem existe um pedaço de jaqueira. A Portela não tem uma jaqueira que marca? Ela também marcava o nosso bloco. Tinha aquele negócio das moscas, das meninas vestidas de mosca. Sei lá. Umas coisas assim. Meu filho conta melhor porque ele era também compositor nessa época e compunha o samba. Compunha pra Vila Isabel também. O nome dele é Leondras José de Moura. Hoje ele é crente e não mexe mais, mas sabe muita coisa. Ele mora aqui. Alguns dos meus filhos nasceram aqui. Minha esposa de Minas veio aqui pros Prazeres. Chegou aqui e me encontrou com outra [risos]. Mas aí, botaram ela pra fora e eu tive que ficar com ela mesmo. Não teve jeito. Aí fiquei com ela e veio vindo os filhos. Tem dois que nasceram aqui. Aliás, três. O Morro dos Prazeres significa minha morada, a minha residência. Veja bem onde eu cheguei. Esses dois times de futebol de garotos que nós levávamos pro aterro. Cinco horas da manhã eu estava com o apito na boca chamando as crianças. Não fumavam, não bebiam, não tinham dinheiro. Às vezes, eu pagava a passagem deles porque o bonde não queria levar de graça. Descia, às vezes. Eu não tinha dinheiro, a gente descia no meio da viagem e acabava de chegar a pé. Então, essas crianças eram minha vida. Uns 20 garotos mais ou menos. Levantava todos eles e juntava em volta de mim e nós saíamos. A maré melhor um pouquinho, numa caixa, eu levava sanduíche de mortadela pra eles ou de presunto. Não me esqueço disso, não. Divertido. Levava pro aterro, e lá a gente ficava jogando bola até 10h-11h, mais ou menos. Depois ia pra praia. Todos estavam sob a minha responsabilidade. Na praia, às vezes, eu nem entrava. Esperava eles entrarem e ficava olhando. Qualquer coisa que acontecesse, pra mim, saía e a gente vinha embora. Todo domingo era isso. Podia estar chovendo. Era uma coisa que eu fazia e gostava. Eu não sei porque. Eu gostava daquilo. Se fosse uma coisa assim provenientes de mulheres, namoradas, eu nem tinha nada a ver. Tinha muitos deles que nem mãe tinha, as mães já tinham morrido. Mas eu gostava daquilo. Pra mim, era a coisa mais bonita o que fazia com aquelas crianças. Tinham muitos que eram até de colégio interno. Essa noite mesmo eu estava conversando com um. Tenho até fotografia deles. Podia até ter trazido. Eu tinha aquilo como fosse assim: uma pessoa veste uma roupa muito bonita e quer mostrar. Eu queria mostrar aquilo. Quando chegava lá no aterro, eu encontrava outras crianças bem vestidas, bem tratadas. O cara fazia e eu queria fazer assim com os meus também. E tinha um Seu Irineu também, ele era forte e negro. Ele também morava aqui e tinha um time com uns 20 garotos que iam jogar contra os meus, todos os domingos. Ele sempre perdia, nunca ganhou. Aquilo pra mim era... Eu comprava fogos, eu soltava fogos. Eu pagava caixa de guaraná para eles e coca cola. Eu não me lembro muito da coca não. Era guaraná. Eu fazia tudo pra eles, tudo! Tinha festa junina e eu comprava 10, 15, 20 caixas de bombinha e dava para eles. Acendiam as bombinhas e jogavam em mim. Aquilo, pra mim, era uma festa. Nenhum deles bebia e nem fumava. Não tinham vício nenhum. As mães deles diziam: “Junto com Seu Moura pode ficar.’ Aquelas crianças pra mim, eram os meus filhos. Aquilo era o maior orgulho que eu tinha. Eu botei um time para jogar no campo daqui também e fui campeão cinco vezes, direto. Não com o time Nacional, era outro já. Tinha o Gomes Lopes e o Unidos de Santa Teresa. Eu tinha dois times com dois nomes. O Unidos de Santa Teresa, eu botei até loteria esportiva. Fazia igualzinho aos outros, só que inscrito. Os meninos inscreviam pra mim. Faziam o trabalho deles lá e traziam pra mim. Eu botava, as pessoas ganhavam, eu dava o dinheiro. Mulheres jogavam. Eu botei 20 times para disputar no campo em cima. Time do Silvestre, daqui de Santa Teresa, uma meia dúzia lá do 117, desse morro aí, Fallet. Eu sei que consegui 20 times, tudo organizado. E fazia loteria esportiva. Eles jogavam, todo mundo jogava. Eles ganhavam e faziam festa. Aquela coisa! Quando terminou o campeonato, eram seis ou oito taças que eu comprei. A primeira desse tamanho(?). Aqui na Barreira eu fiz uma fila de pessoas e outra fila. Aqui ficou vago, os troféus lá. Aí eu pegava o capitão do time, levava ele lá e falava. O troféu do primeiro lugar entregava a ele. Ele vinha com o troféu e todo mundo batendo palma e cantando. Aquela coisa toda! Aí vinha do segundo, a mesma coisa, mais ou menos assim. Aquilo pra mim era um orgulho. Eu ficava doido com aquilo. Daqui até lá na Associação, nós chamamos de Barreira. Barreira. Não sei se era porque tinha muito barro. Botaram o nome de Barreira aqui eu não sei porquê. Eu acho que realmente isso era a maior barreira. Era barro mesmo. Mas, é Barreira. Lá embaixo na rua aí é Madame porque o terreno na beira da rua era de uma madame. Lá também tinha um bloco Colina, porque era no alto. Era esse o campão. O campo melhorou muito. Ele era muito ruim. Não tinha como tomar banho, nem como beber uma água. Tinha duas árvores lá que era a sombra. Hoje acabaram com tudo, mas o pessoal joga lá. Agora mesmo estão jogando lá. Sobre o Casarão, a lembrança que eu tenho dele é que aqui teve casamentos e batizados. Aqui, dentro desse Casarão. Era uma igreja, porque não tinha no morro. Era a igreja católica. Não tinha nada disso aí. Tudo assoalho era tudo de pinho de riga debaixo até em cima. Aqui era a frente. Aqui tem uma área. Aquela área era toda de pinho de riga. Não tinha essas portas que tem aqui em cima e embaixo. Eram uns vidros, um vitrô azul e outro verde. As crianças jogavam pedra nisso aí. Aqui em cima morava um casal. Depois parou com negócio de Igreja. Arrumaram uma igreja aí, dentro do morro. Morava aqui um casal. Conheci pessoalmente o casal. A mulher, a moça, a senhora, não me lembro o nome dela. O homem eu lembro, chamava (Vantuil?). Não sei o que eles faziam. Vantuil trabalhava e ela também trabalhava. Ela era empregada doméstica. Ela trabalhava e bebia muito. Isso eu presenciei. Ela chegava numa sexta feira e no sábado, acho que ela recebia o pagamento. Eu vi muitas vezes ela toda evacuada, toda suja dentro do ônibus. Umas duas vezes ela desceu do ônibus, eu vim trazendo ela. Ela falou: “Não. Pode me largar.” Chegou no Dois Irmãos, deixei ela. Ela veio subindo, chegou ali e sentou. Não aguentou e deitou ali. Ela tinha muito cachorro. Os cachorros todos desceram e ficaram lá rodeando. Eles faziam isso. Era muito engraçado. Rodeavam ela assim. Ficavam de longe assim. E, ela sentada no meio toda suja. Eles tomavam conta do Casarão. Ninguém podia botar ____. Alguns, eles trabalhavam, mas algumas crianças jogavam pedra, quebravam, mas eles tomavam conta. Aí ele morreu, ela ficou paralítica andando numa cadeira de rodas e depois morreu também. Foi aí que entrou a favela-bairro e derrubou isso aqui tudo e fez igualzinho novamente. Fez igual só que mais sofisticado. Mas igualzinho. Tudo era assim mesmo, as portas, tudo, assim, grande. Eu já achei o Casarão uma das coisas mais bonitas que aconteceu em Santa Teresa. Eu digo em Santa Teresa porque realmente aconteceu ali. Isso aqui, essa frente, não tinha essas pedras. Tudo era barro. Chovia e ninguém podia vir. Era lama. Isso aí era horrível. Uma recuperação dessa foi muito bonita. Só isso já foi uma grande coisa. Não sei nem como explicar, falar... Muito bom. Eu acho ótimo! Por isso eu estou aqui. Senão, não estaria aqui não. E porque, não sei se meu filho que está viajando, ele é crente, ele é compositor e já tem uns sete CDs. Eu não sei se ele está viajando, mas se ele estiver aí, eu vou tentar mandar um recado pra ele vir aqui pra dar uma entrevista. E vocês vão ver ele falar sobre o bloco. Ele sabe muito mais porque ele foi compositor do bloco. Todo ano ele estava compondo e ganhou dois sambas aqui e levou pra avenida. Leondras tem 43 anos. Ele ganhou esse nome porque a mãe dele tinha um afilhado com o nome de Leondras e botou esse nome nele. Antes dele nascer, ela falou: “Meu filho vai chamar Leondras”. Leondras José de Moura.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
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