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Por: Museu da Pessoa, 1 de janeiro de 1996

"Eu não vi o século passar, não"

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"Eu não vi o século passar, não"

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Meu nome é Germano Araújo da Silva. Nasci em Vitória da Conquista, Bahia, no dia 22 de agosto de 1875, dentro do cativeiro, mas não fui cativo. Nasci já na Lei do Ventre Livre. Quer dizer que ali, já era independente, não fazia nada. Quando a Princesa Isabel deu liberdade aos negros, eu tinha treze anos.

O nascimento da minha mãe e da minha avó era aldeia de índio. Meu pai era de Portugal. Ele veio pequeno, novinho pra ser vendido no Brasil. Ele veio pra trabalho. Quando chegou no meio da estrada, meu pai era esperto, uma noite, os português tavam fazendo as contas quanto dava de dinheiro nos negro aqui no Brasil. Aí ele falou: “Poxa, a gente vai ser vendido”. Ele pegou as trouxinha dele e “ssh” “dendo” mato. Quando foi de madrugada, danou a procurar aqui e acolá. “Num achou o nego. Acho que saiu por aí e a onça pegou”. Ele pegou o carreirinho e saiu numa fazenda, e ficou por lá, trabalhou um bando de tempo. E daí, veio andando a pé, trabalha num canto, em outro, chegou dentro do Brasil mesmo, em Vitória da Conquista, na aldeia dos índios. Aí ele ficou por ali e já existia cativeiro, mas ele tava sozinho. E ali ele casou com minha mãe. Mas ele era dos africanos de Portugal.

Ele morreu com 130 anos. Eu era pequeno. Meu pai foi casado três vezes. Tenho irmãos que nem conheço. Meu pai era “reprodutor”.

Minha avó era índia. Pegava flecha, ia pro mato, velha “corajuda”. Enfrentava caça. Chegava com viado. Quando dava jeito, achava uma onça. Ela matava e depois mandava ir buscar. Não tinha medo. Mas, vivia de mão em mão dos brancos. Era parteira, analfabeta e morreu com 140 anos. Tinha até rendeiros e criação. Quando minha mãe morreu, ela ficou tomando conta da gente até morrer. Aí, meu tio ficou sendo tutor e acabou com tudo: fazenda, gado, égua, área que tinha animais cavalar. A gente era pequeno e herdeiro, ele comeu o que era nosso e o que era...

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