Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Kerexu Yxapyry
Entrevistado por Diogo Pereira dos Santos e Davi Timóteo Martins
Entrevista concedida via Zoom (Campinas), 09/03/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV045
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Muito bom dia, Kerexu, tudo bem? Prazer, eu me chamo Diogo, sou Guarani de etnia Guarani Ñandeva, de Mato Grosso do Sul, minha cidade é Dourados, minha aldeia se chama Jaguapiru é um prazer imenso ter você aqui com a gente pra contar um pouco a nossa história pra ficar eternizado nos moldes da internet.
Bom, Kerexu, primeiramente eu gostaria que você se apresentasse. Seu nome, de onde você vem, seu povo e a sua apresentação. De como você gostaria que nós chamássemos você.
R – Bom dia, Diogo, primeiro eu quero dizer que é uma satisfação estar aqui com vocês, concedendo essa entrevista. Meu nome é Kerexu Yxapuru, meu nome indígena, meu nome verdadeiro, e o meu nome civil é Eunice Antunes. Eu estou hoje aqui em Brasília, mas eu sou da Terra Indígena Morro dos Cavalos, no município de Palhoça, em Santa Catarina e sou do povo Mbyá Guarani.
P/1 – Entendi perfeito Kerexu, então, eu vi algumas reportagens e recolhi alguns artigos sobre a terra a qual você pertence. Você gostaria de falar como foi crescer naquele lugar, falar um pouco como foi sua infância?
R – Então, na verdade, eu nasci numa terra indígena chamada Terra Indígena Xapecó, que é mais para o oeste de Santa Catarina. E cresci, estudei no colégio, na escola até o ensino fundamental e, mais tarde, eu venho pra Morro dos Cavalos onde eu me formo a Kerexu nesse espaço. Mas, assim, vou falar um pouco da minha infância. Eu venho de uma infância muito boa, muito bonita. Eu venho do mato mesmo, lá do mato, do meio do mato, durante a minha infância até os oito anos, eu vivi pescando, me alimentando junto com meus avós, minha avó, meu avô e meus pais, eu me criei muito com meus avós, porque minha mãe é a...
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Entrevista de Kerexu Yxapyry
Entrevistado por Diogo Pereira dos Santos e Davi Timóteo Martins
Entrevista concedida via Zoom (Campinas), 09/03/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV045
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Muito bom dia, Kerexu, tudo bem? Prazer, eu me chamo Diogo, sou Guarani de etnia Guarani Ñandeva, de Mato Grosso do Sul, minha cidade é Dourados, minha aldeia se chama Jaguapiru é um prazer imenso ter você aqui com a gente pra contar um pouco a nossa história pra ficar eternizado nos moldes da internet.
Bom, Kerexu, primeiramente eu gostaria que você se apresentasse. Seu nome, de onde você vem, seu povo e a sua apresentação. De como você gostaria que nós chamássemos você.
R – Bom dia, Diogo, primeiro eu quero dizer que é uma satisfação estar aqui com vocês, concedendo essa entrevista. Meu nome é Kerexu Yxapuru, meu nome indígena, meu nome verdadeiro, e o meu nome civil é Eunice Antunes. Eu estou hoje aqui em Brasília, mas eu sou da Terra Indígena Morro dos Cavalos, no município de Palhoça, em Santa Catarina e sou do povo Mbyá Guarani.
P/1 – Entendi perfeito Kerexu, então, eu vi algumas reportagens e recolhi alguns artigos sobre a terra a qual você pertence. Você gostaria de falar como foi crescer naquele lugar, falar um pouco como foi sua infância?
R – Então, na verdade, eu nasci numa terra indígena chamada Terra Indígena Xapecó, que é mais para o oeste de Santa Catarina. E cresci, estudei no colégio, na escola até o ensino fundamental e, mais tarde, eu venho pra Morro dos Cavalos onde eu me formo a Kerexu nesse espaço. Mas, assim, vou falar um pouco da minha infância. Eu venho de uma infância muito boa, muito bonita. Eu venho do mato mesmo, lá do mato, do meio do mato, durante a minha infância até os oito anos, eu vivi pescando, me alimentando junto com meus avós, minha avó, meu avô e meus pais, eu me criei muito com meus avós, porque minha mãe é a primeira filha, então eu sou a primeira neta da família por parte de mãe. Então, eu tive essa infância muito boa, na floresta mesmo, sem essa preocupação e com uma alimentação assim que era das melhores. E aos oito anos, eu vou pra escola e meu pai trabalhava numa colônia italiana, uma colônia italiana onde ele trabalhava na roça, fazendo a produção para esses italianos, então quando eu fui, a minha primeira escola, foi uma escola italiana. Fui direto nesse impacto, sai do meio - porque tinha terra indígena tema ainda até hoje em Xapecó e que a divisa, o limite da Terra é o Rio Chapecó. Então tem o lado da terra indigena e do outro lado é uma terra já dos colonos, do pessoal que faz a produção do agronegócio, então, para eu ir pra escola, meu pai trabalhava por lá, eu já tive que ir essa escola que era mais próxima… E, pra mim, ali começa o primeiro impacto, esse primeiro impacto direto na minha vida porque meu pai, vou falar um pouco da história da minha família, meu pai ele era mestico, filho de um homem branco com uma mulher Guarani, então meu pai era mestiço e minha mãe Guarani Mbyá, ali juntos como os pais, então ali eu tinha esse conhecimento da Língua Portuguesa, mas o meu convívio mesmo era, principalmente, junto ali da língua materna junto com os meus avós com a minha mãe.
Mas quando eu vou pra essa escola, eu tenho esse impacto diretamente na questão da língua e o meu pai, pra eu não sofrer esse preconceito, essa discriminação fora da escola, ele me obrigava a aprender a todo custo a Língua Portuguesa, tanto a ler, quanto a falar a língua correta, não é aquela língua arrastada, meio atrapalhada, era o português correto, com a pronúncia correta. Então eu lembro de muitas vezes, à noite, ele pegava pra me ensinar, eu chorava porque era muito difícil você está nesse lugar. Mas, com o tempo, eu fui muito rápida nesse conhecimento, já convivendo com as duas línguas, mas aí pegar e dar esse mergulho na língua portuguesa, então eu dei um salto, quando eu consegui entender as pronúncias, as pronúncias corretas da Língua Portuguesa, então eu consegui, em dois toques, pegar uma cartilha e ler, do início ao fim, e dei uma adiantada nos estudos. Na escola, eu lembro, na escola, que eu não tive, não sofri essa discriminação por parte dos meus colegas, que eram os filhos dos italianos que estudavam na escola, até hoje, eu sinto, a gente é colega e amigo, a gente se encontra hoje. Mas depois, mais tarde, eu entendi que eu era muito discriminada pela professora da escola, num tom que eu não entendia a forma de fazer essa discriminação, mas eu sempre, às vezes, as coisas não vinham pra mim, às vezes, faltava, as coisas eram negadas e eu, sempre, relevava porque vinha do mato mesmo, não tinha essa questão de querer tudo que estava tendo lá, de ter acesso, mas eu estava ali pra cumprir uma questão de escola. Então, foi esse o primeiro impacto. Depois, pra mim, quando eu passo do quarto ano, que eu tenho que ir para o colégio de quinto ano, aí a educação é privada para mim, porque meu pai não deixava eu sair, tinha que pegar um ônibus, ir pra cidade e aí meu pai não me deixou sair. Eu fiquei anos, cresci anos sem estudar nessa fase do ensino fundamental final, eu fui depois, já estava mais velha, já estava ali com mais de 18 anos, ali eu peguei e fui fazer essas matérias, essas séries no EJA, na verdade, era Ensino de Jovens e Adultos, que era esse que a gente faz em módulos, foi ali que eu voltei a estudar de novo e consegui me formar nesse sentido.
Depois do Ensino Médio, eu continuei fazendo, uma parte eu fiz por módulo também e depois, eu mesma voltei e refiz o Ensino Médio presencial com o profissionalizante, o Ensino Médio que me formou dentro da área do Magistério, da Educação e eu volto. Então, retorno e faço os quatro anos de dessa formação, nesse tempo, eu já conseguia entender também, que eu tive que entender todo esse processo da Língua Portuguesa, mergulhar e ir lá para todas as outras histórias, que são contadas nos livros da Língua Portuguesa, das disciplinas. Quando eu me formei na primeira fase, no ensino médio, eu comecei a olhar para o meu contexto novamente e eu comecei a me enxergar como indígena e a ver o quanto eu me distanciei, dentro desta Língua Portuguesa. Então, eu começo a rever muitas coisas em mim mesmo, porque a Língua Portuguesa se tornou praticamente a minha primeira língua, a língua do dia a dia, automaticamente, e aí a Língua Guarani já fica lá de vez em quando, em segundo plano, em momentos específicos para se falar. Eu comecei a rever isso na minha vida e pensar: Mas por quê? Porque eu, dentro da minha família mesmo, eu percebi que as pessoas falavam em Guarani comigo e eu, automaticamente, respondia em português, falava em português, então essa questão começou a vir muito forte para mim e comecei a me cobrar, a me fazer essa cobrança para entender. E aí quando eu cheguei mesmo no pé do problema que tinha me levado a esse lugar, eu vi que a escola foi o que fez esse impacto na minha vida e também dentro da minha família, principalmente, na minha mãe, que não falava a Língua Portuguesa e aprende a falar em português comigo nesse período, porque a minha mãe também tinha medo de falar em português e falar errado, de ser criticada, zombada pelas pessoas. Ela começa conversar comigo em português e ela aprende a falar, aí ela só fala em portugues comigo até hoje. Eu já tenho, tudo… e até hoje a minha mãe conversa com todos em Guarani mas quando ela olha pra mim, ela fala em português, porque pegou esse hábito. Então, quando eu chego nesse período de fazer essa formação, depois do Ensino Médio, eu começo a reparar essas coisas em mim, mas, ao mesmo tempo que eu começo a reparar, eu começo a criar uma revolta com a questão da escola, de ver o quanto que ela veio enfiada mesmo, dentro das culturas, dentro das aldeias, dentro da comunidade, isso começou a me abrir os olhos em muitas questões que aconteciam na aldeia, em muitas mesmo, e cada vez mais, iam me revoltando. Quando eu estava quase terminando o Ensino Médio, o magistério, eu entro numa escola para trabalhar. Eu começo a trabalhar na escola que é no Morro dos Cavalos, inclusive, na primeira escola, eu fui a primeira mulher jovem indígena que eu entrou para começar a dar aula, mas eu já entrei com esse olhar crítico do direito da língua, do modo de ser Guarani, do modo de ser indígena, dessas questões dos direitos, e vou mergulhar dentro da LDB, mergulhar dentro da Constituição Federal para entender como é que eu posso defender essa questão específica, que é do povo Guarani, da língua Guarani, principalmente, como que eu vou fazer essa defesa e vou para os meus mais velhos, que são os nossos Caciques, as mulheres, os nossos Pajés e ali eu consegui ter esse… eu já vou com essa revolta, eu entro e falo: “não, eu vou entrar pra mudar. Eu quero entrar pra fazer essa mudança porque eu não quero mais me submeter a essa escola, eu já me submeti como aluno, como criança e agora eu não vou me submeter como professora a fazer a mesma coisa.” E aí foi o primeiro conflito que eu tenho dentro da terra indígena, meu primeiro conflito que eu tenho quando a coordenadora da escola era uma não indígena, na verdade, todos eram não indígenas e, na verdade, os professores Guaranis que estavam dentro da escola pra dar aula, estavam como intérprete dos não indígenas, então os não indígenas criavam conteúdo e repassava as aulas e os professores indígenas só faziam a interpretação, traduziam para a Língua Guarani, todo conteúdo que era passado. E aí eu fui, entrei na escola para alfabetizar, mas foi muito engraçado a minha entrada, porque eu fui contratada como uma professora de Língua Portuguesa para dar aula pra esses alunos e, dentro da minha sala, tinha um senhor que era Guarani também, pra fazer a tradução das aulas que eu ia dar pro meus alunos e aí isso pra mim foi perfeito, sabe? Porque quando eu cheguei e comecei a criar os conteúdos diferenciados específicos, que a gente estudou no Magistério, esse professor mais velho que era um ancião, ele foi uma soma primordial na minha vida, também pra fortalecer essa questão do ser Guarani, então não tinha o que ele traduzir, eu sabia falar a língua, eu sabia explicar na língua dos alunos e fazer uma alfabetização inteiramente na lingua Guarani, então a gente começou a criar material específico o material pedagógico para alfabetizar em Guarani e foi ali então que a coordenadora veio e me chamou falando que eu não estava trabalhando, que eu não estava dando as minhas aulas, que eu estava dando aula de outro professor e que tinha material que eu já tinha recusado, me recusei desde que entrei na escola, me recusei a fazer alfabetização com os livros didáticos que vem da secretaria pras crianças, então a gente teve que criar nosso próprio material ali, pra passar os alunos e ai isso era muito cobrado mesmo e aí foi assim até engraçado esse momento porque eu lembro assim que eu solicitava muitos materiais assim como o barbante, tesoura, cola, essas coisas que a gente além de fazer essa… esse planejamento, passar os conteúdos indígenas a gente também trabalhava com taquara, com madeira, com várias coisas então a gente usava e aí era muito demandada a escola e isso começou a ser gasto pra mim como professora e aí eu falei não tem problema se tem uma quantidade pra cada um a gente vai comprar gente faz uma vaquinha, compra e traz o material mas a gente não pode deixar de ensinar o conteúdo e aí foi onde a gente começou a fazer os trabalhos também dentro da comunidade que daí os pais vieram começar ajudar e começaram a me ajudar forcer material então eu já não estava mais dependendo daquele quantitativo que vinha pra mim na escola e a comunidade começou a se juntar comigo as mães, os pais, e até os líderes espirituais mais velhos tinha alegria de participar, ensinar e aí essa coordenadora pegou e falou pra mim que eu tava...eu tinha entrado ali pra tomar o lugar dela mas assim primeira vez na sala de aula primeira vez eu trabalhando eu nunca me achei essa capacidade de de assumir uma coordenação da escola mas quando ela veio e falou isso pra mim esse momento de discussão ela chegando e falando pra mim assim eu sei que você veio aqui pra querer ocupar o meu lugar, aí veio assim uma luz na minha cabeça e eu falei cara eu não tinha pensado nisso mas eu quero sim, quero sim ocupar esse lugar porque esse lugar aqui é nosso e a pessoa que está ali está indo contra tudo que a gente é .Não tinha pensado nisso mas vou começar a pensar e aí ficou aquilo a gente teve primeiro conflito tal foi bem forte esse conflito que a gente teve discussão e tudo mais a gente parou na Secretaria da Educação por causa dessas questões mas no final eu sempre batendo na questão do direito sempre, sempre colocando a minha questão do direito em primeiro lugar e aí eu ganhei a questão na Secretaria de Educação e aí ela foi demitida e tudo mais e aí quando demitiram ela a primeira coisa que o Cacique falou foi você vai ocupar o lugar dela aí eu olhei se e lembrei daquele momento e falei não, não quero esse lugar agora eu vou me preparar para ocupar esse lugar mais tarde, mas agora não.E aí assim foi então assim foi a primeira, minha primeira luta dentro da escola que dentro da região de Santa Catarina meu pai era professor também e ele era dos protagonistas também de fazer essa defesa lá dentro da Secretaria de Educação então assim ele fazer essa defesa o tempo todo eu ali na base junto com a comunidade levando essa questão da do direito e aí ali a gente teve em 2004 até 2010 a gente teve uma formação de professores do magistério intercultural indígena é de língua guarani portuguesa e a gente conseguiu fazer uma formação de 82 professores do povo Guarani do Brasil todo desde o Rio Grande do Sul até Espírito Santo e aí esse período então eu passo também a coordenar a coordenação pedagogia do curso e a provocar a universidade pra gente pensar na licenciatura na verdade eu m imaginava na licenciatura eu queria que os guaranis os indígenas ocupassem esses lugar na universidade, e ocupassem esse lugar na universidade na área que eles quizessem nao era fazer um curso só e todo mundo ir pra aquele curso, ter uma formação dentro da universidade para que os indígenas pudessem ocupar todos os lugares aonde eles tivessem demanda seja na saúde, na educação em vários lugares, e ter essa ocupação dos indigenas, então foi até outra luta que eu também fiz parte da primeira turma da licenciatura intercultural indígena do sul da Mata Atlântica e aí lá então a gente pensou e eu fiquei na coordenação pedagógica do povo Guarani, seis meses participando dessa construção junto e aí então ali dentro a gente pensou o curso da licenciatura intercultural indígena do sul da Mata Atlântica ele era voltado pra três eixos, que era o eixo da humanas que era questão do direito a questão da língua e a questão da ambiental que era a gestão ambiental que foi o curso que eu fiz …A gente fez a primeira vez na universidade todo histórico dos povos, depois a gente separou e foi trabalhando especificamente cada povo e depois a gente separou… juntou os povos se separou por cada linha específica que ia se fazer essa formação, então a gente teve várias momentos na universidade, e hoje a licenciatura intercultural indígena virou curso permante na universidade e hoje ele é todo ano tenho vestibular e tudo mais pra ser essa essa formação lá. Assim, só para falar um pouco da minha formação, não falei muita coisa do Morro dos Cavalos.
P/2 – Não, perfeito, Diogo, eu posso perguntar uma coisa só rapidamente? Pode ser? Kerexu, você lá atrás e eu sei já ouvi várias histórias mas gostaria que você falasse do seu olhar, do que você viveu lá atrás, você falou do seu pai trabalhava nessa colônia do outro lado do rio e você falou que não só na escola, mas que tinha muita influência na cultura de vocês, você falou que tinha essa influência na própria no próprio povo naquela região…como que era isso? Ele saía da comunidade pra trabalhar nesse outro lugar, essa saída dele era necessária por que e como toda essa relação mudava? O que mudava na vida de vocês? Não sei se fui claro, se fiz a pergunta de um jeito que deu pra entender…
R – Sim. Então é… lá na Terra indígena em Xapecó é uma terra indígena Kaingang que tem uma aldeia dentro que chama-se Linha Limeira que é do povo Guarani então assim por muito tempo o povo guarani até hoje tem pessoas Guarani que moram lá mas essa época muitos Guarani muitos assim que hoje assim se espalharam por vários estados que moravam essa região da Limeira e teve então um período que acho que lembro direito eu não sei dizer assim que era esse período mas eu imagino que foi esse período forte da atuação da SPI onde teve um aumento o comércio então os arrendamentos de terra pelo povo Kaingang pros não indígenas pros colonos, e aí é o povo guarani ele começa a sair desse espaços pra ir prum espaço pra mais dentro do mato e ele começa a ser empurrado por essa ocupação de arrendamento de terra e começa a ir mais pro centro do mato e eu não sei assim porque também mas eu lembro assim que a minha família por parte de pai dos meus avós maternos a gente vivia mais retirado de todos a gente não vivia muito esse núcleo com todo aquele grupo maior do povo Guarani a gente vivia sempre mais… mais no mato mesmo, mais próximo do rio aonde meu vô fazia a roça fazia o plantio ali e aí ali esse meio aonde tinha um núcleo maior começou a ser tomadas terra dos Guaranis então muito dos Guaranis começaram a ficar sem terra, sem produção e começou a acontecer naquele período uma tal de crise que agora que eu começa entender mas falavam assim chegou a crise na aldeia e aí todo mundo saía pra buscar trabalho lá nos italianos que era lá no próprio território lá dos italianos ..em busca de comida mesmo… era trabalho em troca de comida, eles m pegava dinheiro eu lembro que o pessoal ia pra pegar comida pra trazer pra se alimentar e meu pai trabalhava muito com isso… eles tinham muito lá esse italianos tinham além de toda a produção que eram do milho, do arroz, do açúcar, do leite, …tinha questão do frango, do porco, pessoal vende ali então entre indígenas e todo mundo trabalhava esse lugar em troca de alimento meu pai era um deles mas assim eu lembro que vinha na minha família principalmente que morava mais afastado é… hoje eu acho que que assim a gente vivia numa riqueza muito grande porque tinha tudo tinha tudo mesmo mas sempre tinha esse complemento que meu pai trabalhava pra trazer esse alimento pra pra casa pra aldeia que a gente tivesse, por exemplo: o açúcar, a farinha, essas coisas… eu lembro que assim até hoje quando a primeira vez que eu sentir o cheiro de fritura, da fritura do que a gente chama de Tipá… que é uma massa um bolo feito com trigo, que é colocado …que é feito frito . e ai eu lembro assim que eu senti aquele cheiro era um cheiro tão bom assim aí eu fui na casa da pessoa e a pessoa pegou e ofereceu esse prato com esse bolo e aí nossa era muito bom era muito bom e aí assim naquele momento lá na comunidade era só as pessoas que trabalhavam fora que tinham acesso a isso as pessoas que moravam na aldeia iam comer a farinha do milho, iam comer Mandioca, batata, a galinha caipira que era criada no no terreno, ou a caça, o peixe que a gente se alimentava bastante disse… mas que não trabalhava se alimentava disso, quem trabalhava tinha o açúcar a banha que era usada pra fazer a fritura farinha de trigo pra fazer esse Tipá, era mais as pessoas que trabalhavam que não trabalhava no comia essas coisas, mas esse trabalho era trabalho pros italianos então assim eu lembro desse impacto ali é o mais forte pra mim que eu falo que foi a interferência na questão da língua, a questão da alimentação também foi outro fator que me chamou muito atenção e que hoje também eu trabalho muito essa questão dentro da aldeia da família essa questão da alimentação da própria alimentação porque além de ser uma alimentação que pra nos não era do nosso modo ainda o modo de fazer a produção desse alimento era muito ruim, e é ruim. e meu pai trabalhava muito essa s colonias …do agrotoxico mesmo…usar o agrotoxico pra tudo , inclusive na época o agrotóxico…. hoje tem máquina que até eles abrem as asas, tem até helicóptero pra jogar o agrotóxico no meio das lavouras, na época o meu pai passava os agrotóxicos com a máquina nas costas, enchia ali de veno daquela caixa e ia passando no meio da plantação ali no meio da matae ali passando aquele agrotóxico espirrando aquele agrotóxico e depois passando ainda por cima pra poder matar as ervas daninhas… então meu pai também foi vítima inclusive. Meu pai faleceu em 2015, vítima disso, porque ele criou um câncer na cabeça que foi provocado pelo agrotóxico … então assim são esses impactos que a gente temesse período da colônia dessa colônia italiana na minha infância
P/2 – Obrigada
P/1 – Perfeito…o que eu queria saber também que você falou que que ficou tempo afastada dos estudos que foi o tempo que seu pai o seu pai não permitiu que você fosse pra cidade como era… como foi esse período pra você? Você foi bem jovem e depois de um tempo teve que trabalhar como que era também a sua rotina em relação os seus amigos mesmo da sua comunidade e também a comunidade externa a cidade era mais ou menos perto, ou longe?
R – Então, a cidade não era muito perto, na verdade, o bairro mais perto que tinha comércio, tipo mercado, loja, essas coisas acho que dava uns 40 km. Eu falo que não era perto porque pra gente ir pra cidade, a gente tinha que ir andando, tinha que ir e voltar andando, então não era assim simples de ir pra cidade. Mas assimesse período que eu fiquei fora da escola primeiro assim quando eu vi meus colegas todo mundo indo assim me deu a maior tristeza me revoltei com meu pai, sempre fui uma pessoa revoltada com meus pais porque assim primeiro me obrigaram a sair a estudar fora e depois que eu passo, vou passando de série, eles gam isso então eu fiquei assim um período muito muito revoltada por que os meus colegas foram todos e aí eu fiquei e eu tinha vergonha também porque eu não tinha conseguido ir porque eu era diferente então começa essa fase da adolescência eu começa sentir muita só questão de do indiferente do inferior e superior e eu começo a ter essa sensibilidade assim aí eu começo a ter muita essas revolta mesmo, dentro da minha família principalmente eu esqueci de falar também que teve um período que acho que foiesse período mesmo mas teve um período também que a igreja adentrou dentro dos territórios e aí foi um momento muito ruim também pra mim pelo menos que eu sei que eu sinto assim da minha infância que até hoje quando eu lembro desse lugar eu lembro principalmente dessa linha Limeira que foi onde teve essa invasão dos arrendamento de terra aonde meus avós saíram foi morar em outro lugar masesse lugar mais específico da Limeira até hoje quando eu lembro eu lembro assim com essa esse sentimento ruim mesmo esse sentimento da crise, da miséria, e da fome… eu lembro dessa desse momento dessas invasões que é tomada, eles tomarem as terras dos Guaranis e meu pai mesmo conta não chego a lembrar muito, mas ele contava que ele também teve as terras roubadas, os plantio roubados pelo pessoal…e aí a igreja ela entra tambémesse período e aí quando a igreja entra eu já tava lá com os meus 12, 13 anos e a igreja entra com tudo pra dentro das aldeias e aí eu lembro que meu pai ele vai pra igreja e aí eu tava essa revolta que eu não conseguia ir pra escola meus colegas tinham ido e eu tinha ficado na aldeia e eu acabava escondendo dos meus amigos porque eu era pessoa diferente então eu começa a ter essa essas coisas e aí meu pai me…ele quer me forçar a ir pra igreja aí eu vou pra igreja eu vou pra igrejaesse momento vou e começa olhar tudo… todo as regras que são criadas ali que são colocados o protocolo de como tem que ser se conduzir ali de como tem que andar, como tem que arrumar seu cabelo, como tem que se vestir, e essas coisas foram muito contraditórias com nosso modo de vida e eu senti muito isso e aí eu lembro assim teve um dia que tava eu e minha prima e tal e nos tava ali na igreja, eu aprendi a cantar na igreja, e aí teve um dia que minha prima falou assim vamo cortar o nosso cabelo… as franjas usar aquelas franjão assim e aí a gente foi cortou o cabelo uma da outra ali nós era adolescente e jovens e aí cortamos os cabelos e saímos e quando a gente saiu eles pegaram a gente disse que a gente tinha que sofrer uma punição pela gente ter cortado o cabelo e a punição era eu lembro que na época era chamaram todo mundo da igreja e a gente foi… chegamos na igreja eles falaram agora se vocês vão ficar na disciplina, acho q era esse o nome…é e aí pegaram chamaram e falaram que a gente fica de joelhos na frente do altar dentro da igreja e aí eu me guei a fazer isso eu me guei guei minha prima foi fez isso, mas eu me guei, me guei mesmo, eu falei: eu não vou! não vou não! eunão vou fazer isso… nossa! todo mundo ali meu pai minha mãe minha família toda ali por parte do meu pai, ali me obrigando e eu falei: eu não vou! eu não vou eu não vou ir não fui Ali também sabe que vem essa questão da resistência desse lugar que eu já me sentir inferior já estava me sentindo inferior por não participar de tudo que foi me jogando que era uma questão da escola era me gando as coisa e aí de repente ela me ligado mais isso principalmente mais disso no meu corpo então assim pra mim eu estava me colocando o que estava sendo colocada no lugar de muita humilhação então eu não aceitei assim então isso também ficou marcado na história principalmente até hoje tem alguns familiares por parte do meu pai que continua na igreja evangélica e que se distanciamento de mim porque eles acham que eu sou diferente por causa de várias coisas me condena por várias coisas enfim mas assim então eu passei por esse momento de não ir pra escola mas eu fui comecei a trabalhar comecei a trabalhar por várias coisas comecei trabalhar fazer artesanato, fazer jardim, fazer horta, fazer um monte de cois,a trabalhar e também ir fazer trabalho comecei a trabalhar essa colônia italiana também pras pessoasesse lugares, esses trabalhos mais domésticos mesmo quando eu tava de 15 anos meu pai se mudou então pra Curitiba eu não sei qual foi qual era a ligação dele pra mudar pra Curitiba mas foi pra Curitiba chegamos em Curitiba tinha um bairro que só tinha indígenaesseesse bairro e aíesse lugar eu já estava um pouco mais adulta já entendendo o processo e eu olhei esse lugar esse lugar é o pior lugar que eu já vi por que era um lugarde de de desprezo mesmo lugar onde era ninguém era, tinha visibilidade não tinha essa visibilidade então ali em Curitiba eu comecei a tentar a me desligar do meu pai, da minha mãe… eu falava: não sei porque que meu pai não me coloca não se coloca em alguns lugares e começa caminhar … tudo por questão da igreja mesmo …e aí eu vou trabalhar, eu vou trabalhar numa casa de doméstica, e aí eu trabalho mas eu trabalho pra…como é que fala… pra sustentar a minha família que são meus pais, meus irmãos, e minha mãe, tudo essas coisas, e eu começo trabalharesse lugar, e aí eu ficava semana toda trabalhando vinha pra casa aos finais de semana e aí chegou no final o meu pai não aguentava mais, porque assim não tinha nada ali era tudo assim…a gente fazia… porque era diferente de plantar na aldeia, de fazer as coisas na aldeia, ali não tinha como fazer isso e também não tinha emprego por que não tinha formação em nada então assim eu acabei ali fazendo esse sustento, e meu pai falou não, vou arrumar um dinheiro vou embora pra Limeira e aí quando ele fala essa questão de ir embora, eu falo eu não vou mais pra lá… agora eu não vou mais, eu vou ficar por aqui e tal, e ai meu pai se gava…não, você não vai ficar! você vai ir com a gente porque você vai ficar sozinha, porque voçê quer tal e tal…sabe aquela coisa de sermão… eu falei: eu não vou! não vou mais pra Limeira eu já fui já passei por várias coisas e agora eu estou bem estou, to trabalhando, conseguindo tirar o sustento até por que eu posso ajudar mas eu não volto mais pra Limeira. E aí assim foi uma briga com a minha família. E aí meu pai falou assim então você vou deixar a responsabilidade pra você quem vai ficar responsável por você aqui vai ser um pastor da igreja de tal tal… que vai ser a pessoa que vai estar responsável por você e tal. Ai eu falei beleza então ele pegou e acabou indo embora e eu fiquei trabalhando e esse pastor ficou com a pessoa que ficou responsável por mim.E aí eu trabalhei um tempo e aíesse tempo então a esposa do pastor perguntou se eu não queria trabalhar na casa dela pra cuidar das coisas dela e tal…e aí eu me mudei pra casa dos pastores e fui trabalhar fui fazer esse trabalho pra ela ali como trabalho e aíesse momento também eles vem com outro olhar de novo …de querer me me levar pra igreja me puxar pra esses lugares e aí eu vou assim sabe? eu estou aliesse período dos 16 anos assim essa coisa mais adulta uma pessoa super educada, super gentil, mas aquela pessoa que já tem esse olhar … atento as questões assim …principalmente na questão da violência, que eu era muito orientanda essa s questões de não sofrer essa questão da violência… e aí começa de novo essa questão da igreja pra tentar me trazer e me colocar de novo protocolos, condutas, e como seguir e ai eu me go mais uma vez, eu me go e falo: não, eu não quero isso na minha vida! não quero isso na minha vida, e acabei saindo de novo da casa dos pastores e foi morar sozinha e fui trabalhar em outro lugar. E aí eu morei em Curitiba oito anos… morei em Curitiba oito anos e aí conhece um rapaz e acabei me envolvendo e acabei ficando junto tivemos dois filhos o Kendy e a Raiana que são meus filhos meus meus primeiros filhos a gente teve, então eu acabei tendo esses dois filhos e morei oito anos… e aí meu pai, minha mãe, que estava na Limeira, que tinha ido pra Limeiraesse período lá no inicio que eu tava com 15 anos e aí eles vieram pra… pro Massiambu, que ali no Morro dos Cavalos do lado dos Morro dos Cavalo ,meu pai foi convidado pra trabalhar ali no Morro dos Cavalos com os professores… e aí eu fiquei ali lá na…la em Curitiba e aí quando meu pai veio foi pra Massiambu eu fui pra pra aldeia e aí pra mim foi um retorno foi esse momento do retorno porque eu fiquei todo esse tempo desde lá do primeiro… do ensino fundamental , iniciall… aí depoisesse período que eu fiquei que eu estudei o final , o fundamental final e daí depois eu retorno pra aldeia e aí quando eu retorno pra aldeia pra mim foi esse retorno mesmo porque eu tinha ido pra passear e aí cheguei na aldeia… quando eu cheguei na aldeia eu fui recebida por todo povo Guarani, meus familiares vindo me abraçar e falar um monte de…que fazia tempo que não me viam… e todo mundo falando em Guarani. Ninguém chegou falando em português e pra mim isso foi essa questão assim muito forte a língua pra mim sempre teve essa questão do impacto na língua quando eu chego e falam em Guarani comigo e eu entendo e eu começo também a responder em português mas depois eu começo a lembrar e falar também e aí eu falo assim eu nunca mais quero sair daqui então foi ali também que eu retori e fui fazer o ensino médio o primeiro ensino médio e daí eu retor fico ali na família sou recebida pelo meu povo, pela comunidade e acabo ficando al, deixo casa, deixo marido, deixo tudo e vou ppra aldeia , vou me aprofundar na aldeia e aí a partir daliesse momento da aldeia eu retorno também pra essa questão da espiritualidade que é o meu espírito Guarani … então eu vou, e ai assim… foi esse mergulho de retorno denovo de beber da fonte, de chegar na aldeia e participar de todos os dias de rituais, de participar de várias funções… inclusive a questão do meu nome que no passado meu nome era Pará e aí retorno de novo então todo esse preparo denovo de retornar pra aldeia de corpo espírito chegar aliesse retorno e começar desde a questão da língua do modo de viver, mas também dentro da questão da espiritualidade …então assim, eu acho que eu começo a daí que eu falo , que eu me torno Kerexu…esse momento , que eu me torno Kerexu…e aí essas coisas ruim do passando aí que eu conto sobre toda essa vida de crise, de miséria, de fome, discriminação, tudo, ele vira uma história ele vira uma história que passou então a minha história ele começa desse momento pra cá … Vocês querem fazer mais alguma pergunta?
P/2 – Eu vou perguntar bem pontualmente. Kerexu a igreja que você contou… na época que você cortou cabelo era católica ou já era evangélica?
R – Era uma igreja evangélica.
P/2 – Ata…E esse lugar que você volta e renasce é no mesmo estado onde você nasceu?
R – É.
P/2 – No meu estado. Obrigado.
P/1 – Impressionante Kerexu. Impressionante! É… e outra parte que eu gostaria de saber também é você volta pro território você renasce como com a sua ancestralidade e como foi a sua trajetória pro retorno dos estudos? Você sentiu muita dificuldade assim em relação a onde você começa teus estudos novamente em relação a você ter deixado seus estudos você sentiu muita dificuldade? aonde você aprendeu, com quem você aprendeu? Foi na aldeia ou foi na cidade esse contato?
R – Meu retorno pro estudo? então ele já foi na aldeia. Esse retorno pros estudo, que pra mim o mais barato , como eu falo assim … oo mais importante pra mim é voltar a estudar …era porque assim, tinha meu tio que era o José Martins que era o professor do EJA do ensino médio, e tinha vários outros professores mas ele era um dos professores e assim como eu estudei essa escola italiana e eu tive que… fui forçada a entender muito mais rápido que os demais que estava estudando normal eu tive que acelerar isso pra mim poder aprender falar a língua portuguesa e sempre tive muita facilidade essa questão de ensino…então assim mesmo fora da escola trabalhando… eu lembro que quando eu morava em Curitiba eu trabalhei até numa secretaria, numa…secretaria não.Trabalhei numa empresa onde fabricava computador que era de um japos que fabricava computador então assim…no trabalho aprendi muita coisa era secretária, fazia atendimento, fazia despacho, essas coisas, então assim eu tinha facilidade eu sempre tive essa facilidade de entender o processo assim muito acelerado eu acho que isso foi bom…hoje eu falo que por um lado foi bom porque me acelerou esse processo…eu não tive essa dificuldade em fazer esse ensino por que era só matar módulo, porque os conteúdos que me passava eu olhava estudava e já via, e já sabia de muita coisa…falava matar módulo por que era pegar as prova, fazer as provas, e fazer as entregas e assim foi bem mais tranquilo pra mim…
P/2 – Muito legal, muito legal… é, então… pelo que você contou, você deixou seu território inicial e aí você vai pra pra Palhoça e lá você também já formada, já cursando o magistério você tem aquela questão que você citou lá no comecinho sobre como era o ensino dos não indígenas pra com indígenas e eu vi também pesquisei algumas coisas aqui que foi essa escola não sei seu nome é certo se chama “Itapi”... que lá tem… tem artigos também falando sobre isso… que lá foi implementado o primeiro projeto político pedagógico pra escola indígena … muito interessante. e ali que você começa a ter mais mas envolvimento com território com os Morro dos Cavalos é ali mesmo assim?
R – Sim. então ai… eu começo pela escola e aí eu ja vou criando conflitos e passando barreiras … eu começo primeiro com a secretaria, com a coordenadora, e depois eu vou num lugar mais maior assim, mais amplo, que daí tem a Coordenação Regional da escola… primeira coordenação da escola, e depois eu vou pra coordenação regional pela escola, não trabalhando na escola mas eu vejo que a coordenação regional também ela começa a criar o registro e restrições de várias coisas que não pode isso, que não pode aquilo, no sistema não aceita isso aqui não dápra colocar no sistema, não se encaixa no sistema, e muita coisa assim sendo privado… e aí eu muito essa questão do direito eu vou muito essa questão do direito de cada povo, a questão específica de cada povo, a língua de cada povo, isso tem garantido na lei…que nós temos esse direito e ai eu via muito interferência no direito …então assim eu comecei também a fazer esses questionamento criar conflito …criava conflito nas coordenações regionais ali e fui passando…fui passando, fui passando, até chegar na Secretaria de Educação também e ser barrada ali, ser barrada várias coisas… e aíesse momento eu já fazia essas discussões junto com os caciques aldeia muito ligado com a questão da educação então eu comecei a ser demandado também pelos Cacique do estado de Santa Catarina assim… assim muitas perguntas que eles faziam pra mim sobre a questão do direito ou muitas coisas que vinham me falar: “olha Kerexu, isso daqui não é isso…estão tentando enganar a gente… isso daqui dessa forma…”.Então eu já ia pra frente fazia criava conflito e fazia o combate ali mas assim eu lembro que daíesse período a…os Caciques se reuniram e falavam assim que… como que a Secretaria não pode por que tem o direito, por que existe, por que existe aquilo, está aqui garantido na lei tal, agente não conseguir a passar disso … que chegava lá na frente e era bloqueado… e aí teve um dia que eu tava em Biguaçu, na escola de Biguaçu, trabalhando na escola de Biguaçu… e aí foi chamado o Cacique da aldeia pra dizer que não aceitavam o que era incluso dentro da grade de ensino da escola a questão dos rituais que não podia ser contado como aula e m a questão dos mutirões. Era era três conflitos ali, era era questão dos rituais, a questão dos mutirões, que era no período da roça, de preparar a roça, e era também um período do ritual quando a menina fica moça, quando a menina fica moça, que ela tem que ficar reclusa, que ela não pode sair, ela é trancada e não pode sair,,, e aí e aí era bemesse momento onde as meninas estavam no período entre quinto, sexto ano essa fase que acontecia com essas meninas…o que que acontecia? ou essas meninas depois que elas voltavam pra escola elas acabaram reprovando, ou elas desistiam… por que era mesma coisa, desistir ou no ano que vem voltar na mesma série ou reprovar e ano que vem estudar na mesma série então assim a maioria das meninas acabaram desistindo da sala de aula. e tudo isso por que lá dentro da grade curricular da escola não aceitavam que isso fosse um ensino também então a gente começou a…quando a gente teve esse conflito com Cacique… o Cacique com a Secretaria e os professores ali o Cacique se rebelou e falou assim: “eu vou fechar a escola e não quero mais ninguém aqui na escola! não quero mais saber de secretaria de ninguém aqui na escola! Já que não dá pra seguir o nosso modo de ser então a gente não quer mais”...e aí eu lembro que a moça da secretaria chegou e falou: “não é só vocês apresentar uma proposta um plajamento de ensino com essas questões ai”... e aquilo ficou dentro da minha cabeça e a gente fez várias reuniões na comunidade tudo e eu conversei com o cacique falei assim, vamos montar um plano, apresentar uma proposta projeto politico pedagógico e aí a gente voltou pra escola estava fechada a secretaria e nos voltamos o cacique tudo… não. o Cacique falou: “então ta. Se vocês querem a escola de volta eu vou dar um uma semana pra vocês apresentarem uma proposta pra mim… e eu vou olhar e se não tiver de acordo eu não aceita escola …” e aí a gente ficou, ficou ali e a gente ficou pensando como que a gente ia fazer a proposta e aí veio a ideia de pegar justamente esses pontos que geravam esses conflitos e começar por ali. Então tá então vamos inserir a questão da menina que vira moça que precisa fazer isso…como que a gente vai trabalhar esse conteúdo? e aí a gente começou a ver que dava pra trabalhar muita coisa ali … daí a gente começou a trabalhar por exemplo com a vida da mulher aqui que aqui chama “underecó” dai a gente falava e nos rituais? como que a gente vai trabalhar isso na escola? e aí também a gente viu que dava pra trabalhar universo do mundo ali dentro com livros didáticos inclusive pra comparar para somar nos ensinos se a questão dos mutirões a mesma coisa e a gente foi montando montando, montando, quando a gente chegou quase no final da semana a gente chamou Cacique, a gente apresentou a proposta ele olhou ele falou nossa ele ficou muito muito feliz e ele falou assim: “Não, eu quero eu quero inserir mais coisas que já que abriu essa esse caminho” aí inseriu várias coisas e aí a gente apresentou pra Secretaria de Educação, e a Secretaria de Educação aceitou, e falou que era a primeira proposta …que a gente começou pela escola de Biguaçu…em 2008 eu vim pro o Morro dos…eu trabalhava em Biguaçu ..eu era do Morro dos Cavalos, fui pra Biguaçu, trabalhei ali, voltei pro Morro dos Cavalo e falei agora nós vamo montar o nosso projeto político pedagógico aqui no Morro dos Cavalos, criamos, fizemos todo plajamento, criamos a proposta e apresentamos pra Secretaria, e ai foi aceito , então foi a primeira proposta criada no Biguaçu, apresentado no Morro dos Cavalos…foi o segundo apresentado…só que eu via que ainda tinha coisa faltando ali … faltava por que muitas coisas não era aceitas tal… sempre tinha um ali questionando. E aí eu lembro que os Caciques perguntavam pra Secretaria: “Que gócio que é esse sistema que não aceita? quem é esse sistema? quem que é a pessoa do sistema?” que questionavam que o sistema não aceitava isso, não aceitava aquilo… E aí o pessoal pegava, ficava falando assim: “não. É uma pessoa? é uma caixa? é o computador? o que que é o sistema? O que é esse sistema? nos explique. o que a gente precisa conversar com sistema?” E aí eu fui…quando eu fui pra universidade eu estava fazendo na época o…eu tava fazendo o meu TCC…e ai tava muito trabalhando essa questão do…tava estudando essa questão das normativas. E aí quando me deu, me dá assim um estalo eu falei, gente será que não é esse sistema das normativas de colocar tudo dentro das normas, das regras…aí fiquei muito assim essa ânsia… assim vendo como que a gente fazer as pesquisas e aí eu voltei pra aldeia peguei todo aquele documento do projeto político pedagógico, que era de uma proposta …e aí coloquei tudo dentro das normas Que era do que o show que era uma proposta E aí peguei coloquei tudo dentro das normas, fui colocando tudo dentro das normas ali arrumando, e tal, e ajeitando ali todo o projeto político pedagógico. E aí quando eu coloquei tudo dentro das normas e falei agora vou entregar pra secretaria, e aí quando eu chamei a secretaria e eles vieram aí a gente entregou e esse projeto politico pedagógico dentro das normas aí todo mundo ficou… O primeiro Projeto político pedagógico indígena do estado de Santa Catarina se cria. Aí eu falei nossa… É muita burocracia porque os conteúdos eram os mesmos de muito tempo só que não tava dentro dessas normas então eu comecei a entender esse sistema.
P/1 – Muito bem Kerexu… muito impressionante os seus relatos. Bom, a gente falou sobre a sua ligação com o território, a sua trajetória nos estudos desde seus momentos dos seus estudos iniciais até sua formação, e também do enfrentamento que foi pra implementar os projetos nas escolas indígenas Santa Catarina, que foi muito impressionante e também ao que eu vi e também nas notícias que eu pude relatar foi que eu vi suas na intert aí a partir desse fato da escola quando você é nomeada Cacique da região você pode especificar qual região como se deu esse fato, se esta certo isso dizer assim minha pergunta é quais a responsabilidades que você encarou frente a isso ?
R – Sim , então pra mim foi esse momento que eu estava na universidade eu fui pra universidade, e assim através da escola como eu consegui fazer esses trabalhos trazendo a comunidade a participação da comunidade para dentro desses ensinos como eu falei quando a gente apresentou a proposta desse ensino pro projeto pedagógico da escola então quando a gente ia falar sobre a questão da menina que ficou mocinha e tal e precisa desse acompanhamento das mulheres da aldeia, principalmente das professoras que trabalham em sala de aula então a gente envolve fortalece, isso era o que era feito no passado antes de ter essa escola era ter cuidado dessas meninas pelas outras mulheres pelos mais velhas então eu trazia muito essa discussão pra dentro da escola, e aí a gente teve também a questão dos jovens por exemplo, os jovens que tinham as meninas tinham isso passava por esse período, e os menino: os meninos tinham que fazer esforços, tinha que cortar lenha tinha isso ,então a gente trazia também pra esse lugar de ensino na escola os homens as lideranças os mais velhos não é pra contar história, então isso sim foi trazendo toda, todo esse juntando unificando mesmo essa questão da luta a questão escolar indígena dentro da aldeia e aí a partir dali dentro da escola eu começo atuar também eu comecei como professora alfabetizadora, comecei alfabetizando e depois foi passando pra outras séries eesse período que eu fui pra universidade então eu comecei a atuar também com aluno do ensino médio que foi a primeira turma quando surgiu eu também fui a professora, e ali dentro dessa proposta do ensino político pedagógico e o ensino médio era no modelo de Eja, e tinha os blocos de ensino mas tinha tinha sido aplicado que não podia hoje não pode mais fazer isso aplicar pra criança pro aluno menor de 16 anos, e na época a gente teve essa briga com a Secretaria eles fizeram ali um acordo e a gente conseguiu abrir o ensino médio pelo EJA mas a quis seguir da forma que a gente pensou na proposta do político pedagógico então dentro desse curso do ensino médio tinha um curso que era pra falar sobre um projetos como a gente eu lembro que eu estudei essa trabalhei essa questão da linguagem com os alunos do ensino médio das linguagens mas também trabalhei essa apresentação de projetos pelo ensino médio na Aldeia e ali a gente criou um projeto onde os alunos tinham que retribuir ou contribuir com a comunidade com tudo que eu estou recebendo , meio essa lógica, a gente tem tudo, a gente tem escola, a gente tem merenda gente tem comida a gente tem um Cacique está brigando a gente tem terra gente tem em casa qual que é a minha contribuição com tudo isso que eu tenho? é criar projetos sustentáveis para dentro da comunidade pra que outros que venham continue tendo então assim eu comecei a trabalhar meio que essa questão de projetos, e aí a gente meio que na primeira vez a gente conseguiu a gente conseguiu o projeto das mulheres a gente colocou Cunhador…que é o afazeresdas mulheres, que vem ligado com projeto da escola mas também é um projeto de toda comunidade e aí a gente consegue fazer um edital e trazer esse projeto pra dentro da escola, e aí as mulheres conseguiram aí damos um salto esse momento aí na comunidade com com a escola de valorizar a questão do artesanato e tinha pesquisa dos artesanato,s grafismos, das cores, das pinturas e todo que era feito ali na comunidade e aí os meninos os jovens ficava se você conseguiu pras mulheres vamos ter que conseguir pra nós e a gente fez também esse projeto com o jovem,e os jovens já foram numa linha muito radical enquanto mulheres estavam fazendo esse fortalecimento do artesanato do grafiismo da pintura os jovens falaram que nós queremos tecnologia mas queremos câmera, filmadora, computador, notebook tinha até aqueles Pen Drive na época gente quer cada um nosso pen drive, cada aluno quer ter o seu notebook o seu Pen Drive e aí montaran um estúdio pra edição de vídeo então aí eu falei então tá o que que vocês querem fazer com isso? A gente quer fazer a história do Do sol e da lua …. que é a origem do povo Guarani e a gente quer ajudar as mulheres dar visibilidade ao artesanato a gente quer ajudar na questão da visibilidade da luta . Então lá em 2012 isso que aconteceu em 2010 e aí a gente foi trabalhando esses projetos já envolvendo com jovens e a gente criouesse período quando foi lançado a inclusão digital em escola indígena, a gente conseguir o primeiro edital a primeira escola indígena a receber inclusão de como foi escola … e a trazer tudo isso que os jovens tinham colocado um computador pra cada 1 Pen Drive pra cada um câmera, filmadora, essas coisas a gente conseguiu curso pela Universidade e a gente fez parceria com a … Então tava ali completo atarevés da escola a gente está envolvendo a comunidade conseguiu trazer de uma uma explosão enorme pra valorização cultural mas também dentro da tecnologia e aíesse período então eu me envolvia muito dentro dessa questão da educação mas aíesse período que eu estava na universidade fazendo isso fazendo isso dentro da aldeia a comunidade fez uma denúncia que nós estávamos perdendo nosso território, porque estava tendo ali uma uma discussão sobre a BR101, a gente já tinha a Funai de Brasília já tinha recebido o documento assinado pelo Cacique autorizando e nós perdendo território e aí a comunidade fez a denúncia :não a gente vai ter que se reunir e não podemos deixar não podemos deixar ali meu pai tava ali falou se não a gente vai ter que ratificar como se dizer, é anular esse documento e aí aí eu lembro que eu vim da Universidade pra essa reunião na comunidade pra ver essa questão da terra que não estava correndo risco de perder a terra e aí essa reunião a comunidade, jovens principalmente as mulheres, me apontaram para ser Cacique, que era uma coisa também que pra mim que lembra lá do inicio que que eu não tinha pensado para ser coordenadora de escola daí eu ia pensar dali pra frente mas mas a condição de ser Cacique que era uma coisa que não estava no meu radar no meu plajamento eu pensava muito em essa questão da linha da educação e aí eles me indicaram e eu fiquei pensando se foi o segundo de de pensamento pra decidir nossa se eu for eu não sei se Cacica que tem que fazer e aí por outro lado também já trabalhando muito essas questões e os jovens também falando vai lá vai lá aí eu falei eu topo ser Cacica, mas assim dentro da aquela indicação eram várias outras indicações, tinha vários outros homens tinham sido indicados Cacique, e na comunidade é muito legal que porque assim nós somos um povo bem democrático, a gente tranquilo e calmo mas a gente fala na lata na cara dura, o que está errado que está certo isso a gente não quer a gente num não quer ir aí foi aquela questão da votação, pessoa pra pessoa sendo perguntada, qual a pessoa que ia voltar e as pessoas voltavam justificava e a gente quer a Kerexu porque ela fez isso fez aquilo pra comunidade e aí é todo mundo desde os homens as mulheres as crianças voto na comunidade pra escolher o Cacique e aí e aí no final quando eu vi eu tinha ganhado a eleição de Cacique e aí agora foi um desafio,pra mim assim porquesobre e educação eu ja estava tendo todas as noções mas de Cacique? Daí quando eu fui ver o gócio do cacique era pra trabalhar pra questão da terra, pra questão de homologar Terra eu m sei m sabia dessa questões de desses processos de que é portaria declaratoria, identificação, delimitação, e eu não tinha ideia de como se seguir esse processos, e aí eu tive que ter essa ideia então eu comecei ir atras e aí minha vida de liderança ela começa aliesse desafios, porque pra mim teve tive que entender sobre a terra indígena tinha que estudar toda a terra indígena os processos entender como Funai funciona, entender quais os departamentos que vão até chegar à conclusão final, e aí eu chegava na Funai a Funai falava isso aqui não é comigo isso aqui é com Brasília então tá então vamo ligar pra Brasília e vamos ligar marcar uma audiência com a pessoa com quem eu falo não com fulano mandava o nome da pessoas ligadas a pessoa falava eu quero marcar uma audiência para o dia pra conversar contigo, ou você vem pra aldeia ou eu vou pra aí e comecei a marcar essas reuniões, de ir atrás do processo de demarcação e fazer a denúncia,e aí começou a desenrolar todo processo de Morro dos Cavalos que estavam lá quase sendo perdido, resgatado foi trazendo e a gente colocando em pauta e aíesse período então começa a perseguição e daí já é a perseguição a perseguição de Estado, sociedade da região de Palhoça do município de Palhoça e do próprio estado e começa perseguição por que começa então a desenrolá processo Sul demarcatório até ali no final quando a gente conseguiu tirar tudo da Funai aí passa pra Ministério de justiça eu também faço questão de conversar com o ministro da Justiça e falo não eu quero conversar com ele e aí vão tentar me marcam uma audiência e eu venho pra Brasília e marco essa audiência com o ministro da Justiça e converso com o ministro conto toda situação pro ministro, e aí ele vai tenta até que consegue vem pra Brasília vim fazer audiência com a presidente que daí na época era a Dilma, ai eu também falo eu quero conversar com a presidente preciso conversar sobre Morro dos cavalo e ai o pessoal tenta ate eu conseguir agenda,até o desenrolar do processo que é o período pra mim assim que pra mim, assim pensando hoje assim é o período assim que parece que eu estou numa aventura num jogo assim naquela adrenalina mesmo porque eu vejo processo por processo ser desenrolado, vejo gócio muito truncado ali, com ameça muito grande principalmente nós de ser retirada desse espaço era um gócio que todo mundo falava que é um espaço que é difícil de reverter ei eu vouesses espaços e eu vou desenrolando , então pra mim era essa adrenalina que eu ia, mas assim não era só isso, que isso ali chama atenção ele puxa o conflito muito forte dentro do estado de Santa Catarina e ali então eu começo ser ameaçada eu começo ser perseguido então 2012 quando eu recebo primeira ameaça quando assim uma pessoa trabalhava num restaurante o pessoal chegou e falou assim: olha hoje nós vamos tacar fogo na casa da Cacica e aí o pessoal comenta aí vai embora aí e o rapaz do restaurante veio correndo pra aldeia avisar, olha tem um grupo falando que vai tacar fogo na casa da Cacica, e aí então começa tencionar dentro da aldeia e todo mundo assim fica preocupado, fica rvoso, e todo mundo com medo e eu não estava na aldeiaesse dia, e e aí me ligaram falaram pra mim que não era pra voltar pra aldeia porque tinha gente que queria tacar fogo na aldeia e aí que eu falei e aí que eu quis voltar não eu não posso ficar aqui eu tenho que voltar para aldeia eu sou Cacica , aí meu pai meu pai na época falava: não é pra voltar ficar aí, porque é perigoso, aí eu falei não é preciso voltar preciso pra aldeia porque meus filhos estão na minha família ta la, a comunidade está lá, e aí por causa de mim eu m tô lá na aldeia mais taca fogo ou machuca um alguém então eu fui mas assim uma coisa assim que eu queria destacaresse período da da minha escolha pra ser Cacica, então eu sou escolhida para ser Cacica, eu tô aliesse cacicado e aí passou mais o um quase anoesse cacicado que eu já estou caminhando começou a provocar esse conflito dentro da aldeia, eu lembro que daí teve um dia cultural uma semana cultural, que a escola faz na aldeia onde foi convidado o seu Alcindo Moreira que é o Tiramuin que até hoje ele tá morando Biguaçu ele foi uma das pessoas que me formou tambémesse caminho também da espiritualidade , que teve esse retorno inclusive foi ele que me deu nome então tava ele a dona Rosa e aí eles foram convidado pela escola pra ir dar uma palestra na escolaesse período pelos outros professores que já tavam ali ocupando lá o espaço, e aí o seu Alcindo veio na escola e fez abertura da Semana Cultural tudo mais e aí depois ele tava ali sentado, e falou assim: eu senti que eu preciso consagrar você pra ser liderança, pra ser Cacica é porque você está muito aberta, você está muito exposta e tudo mais, e aí eu pensei assim beleza eu achei muito chique nossa está dentro de uma programação mas não foi dessa forma porque daí a essa consagração tinha que ter um preparo, um alinhamento do fogo com sol, e com a medicina com os remédios que a gente precisa usar durante período, e aí eu fui trabalhar muitoesse contexto da questão da esperitualidade e aí eu fui consagrada, esse período por toda comunidade do Morro dos cavalos pelo seu AlcinDo pela família dele aí eu fui consagrada pra ser liderança, eesse consagrar para se liderança eu lembro que eu recebi essa consagração e o poder de liderança e aí ele falou assim a partir de agora você recebe o poder de liderança, é seu e aí você vai seguir esse caminho e aí beleza eu recebi esse poder de liderança estou na universidade fazendo toda a trajetória começa a questão dos conflitos, e aí pra mim era muito forte e pra comunidade isso era mais ainda porque assim eu podia tá do outro lado do mundo se tivesse conflito na aldeia quando eu chegava na aldeia um gócio sempre se desfazia e e aí é isso as vezes eu falava pro pessoal assim não se assuste não faça isso por que não vai dar em nada e eles falavam vai dar se você não tiver aqui vai dar, e aí eu voltava e aí todo mundo me cobrava lembra que você liderança você recebeu esse espírito pra cuidar da aldeia e aí então tá e eu continuei essa questão do dos conflitos e aí começou do estado de Santa Catarina município de Palhoça, câmara municipal fazendo audiência pública contra a terra indígena o governador do estado entrou numa ação no Supremo Tribunal Federal pra cancelar pra anular a portaria declaratório aí vai toda imprensa de Santa Catarina levantar a mídia uma mídia suja que levanta que faz um monte de perseguição com povo Guarani lá do Morro dos cavalos falando que os Guaranis não são dali que são do Paraguai e daí ficam falando que não queriam que a gente estava impedindo a duplicação da BR101, e assim foi um caos no estado e aí eu tava passando os anos já desenrolou tudo processo de Morro dos cavalo aguardando a mologação mas a perseguição continuava por que continuava continuava a polícia teve um período que eu tive que conviver com polícia 2014 finais de seman,a véspera de feriado, a polícia tanto federal, quanto a polícia militar mesmo de Palhoça, tinham que fazer a ronda na minha casa ficar com uma viatura amanhecer chegava a noite amanhecia por que minha casa era atacada teve uma vez que minha casa foi atacada de madrugada as pessoas chegando e atirando na minha casa então eu tive esse período também de passar assim com os policiais sendo vigiada a comunidade sempre comigo a comunidade sempre comigo dormindo acordava dormia com a minha casa fazer era atacada eu vinha na escola, no centro onde recebe todo mundo vinha pra escolaa comunidade vinha tudo, das casas mesmo morando do lado e a gente dormia na escola todo mundo junto à comunidade sempre junto comigo muito me fortalecendo, e aí as pessoas que atacavam, a política o estado que me atacava, viram que eu não estava sozinha viram que eu estava muito fortalecida junto com a minha comunidade com as lideranças do estado, dos três povos, o povo Guarani, Kayngang, Xope todo mundo ali muito forte comigo durante esse período de ataque então eu estava muito blindada todo um povo indígena da região então não tinha assim como me pegar não tinha como fazer algo comigo,ai então lá em 2015 foi um período pra mim mais difícil também que foi o período que quando meu pai adoeceu foi pro hospital faleceu, acabou falecendo e ele era a pessoa que me orientava como eu ia quando eu voltava então ficava alguma dúvida, e ele ia me orientando então meu pai falaceu tudo mais e aí eu começo a receber as ameaças diferente as ameaças não vinham mais pra mim, as ameaças vem pros meus filhos vem pro meus irmão vem pra minha mãe meu tio meu tio foi ameaçado naquele período as ameaças começam a vir pra minha família para os meus familiares aí pra mim já não era mais já era pro meus familiares e aí pra mim ali foi o momento de eu no caso pensar e agora porque assim eu saía pra todo lado viajava ia reunião voltava tal que todo mundo ali blindado de toda a proteção, minha família não minha família não estava acostumada com isso minha família estava na casa vivendo a vida dela passeando indo pra cidade fazendo compra e outras aldeias e livre, sem ter esse cuidados então pra mim foi esse momento de recuar então eu falei assim vamos fazer o seguinte reunião comunidade falei vamos eu vou sair Cacica porque minha família tá sendo ameaçada eu saio desse nome de Cacica e entrego então meu cargo de novo pro antigo cacique que da onde que eu vim me repassou o cargo e eu entrego e aí depois a comunidade decide se vai ser ele se vai ser outro mas eu vou fazer essa entrega de novo de quem eu recebi esse cacicado aí eu fiz em 2016 eu fiz isso chamei a comunidade reunir e fiz a entrega do meu cacicado denovo pro antigo cacique, e dali eu pensei não vou mais me envolver com essa questão pela minha família, vou trabalhar na roça de fazer roça vou plantar, vou investir na função que eu estou com o gestora ambiental vou executar essa função que eu estou estudando e aí eu fiz isso peguei então entreguei o cacicado e falei pro cacique no que precisar de ajuda eu vou ajudar eu vou ficar aqui o tempo todo mas agora minha vida vai ser dedicada pra isso, já tava todo o desenrolado do processo da terra, e eu fui comecei a trabalhar comecei a fazer meus trabalhos de plantio reflorestamento essas coisas de questão ambiental e parecia que estava bem não me envolvia mais na questão do Cacicado e ai aliesse período teve uma troca de cacique tiraram esse antigo Cacique e foi colocado um outro Cacique que por acaso ele ainda era meu tio que era irmão da minha mãe que foi colocado, e aí tava ali na comunidade mas aí chegou uma época que veio a outra denuncia que daí já estava já antigo Cacique chegou a denúncia falou assim : Kerexu nós vamos se unir porque nós tamo perdendo a terra e mais uma vez vem aquele tom assim nós tamo perdendo a terra porque estou sabendo que está acontecendo isso, isso, e o Cacique está gociando a terra com a prefeitura de Palhoça tudo mais aí eu falei: meu Deus do céu denovo a gente já tinha desenrolado processo e tudo mais mas a gente vai ter que ir agora gente vai ter que ir com muita força assim sabe porque a gente deixou muito nas mãos dele, a gente deixou muito nas mãos dele, ele agir, e eu não sei como é que está mas a gente está perdendo a terra aí eu nos reunimos de novo com a comunidade fizemos aquela reunião grande com a comunidade mas eu na minha cabeça eu não quero ser não quero ser Cacica da aldeia e aí a gente pegou e fez então essa reunião e aí a gente foi entender qual que era processo e de fato a gente estava perdendo esse processo da demarcação da terra que estava sendo gociada na epoca nós estamos com ação no Supremo Tribunal Federal pelo estado e aí então foiesse momento que a gente se levantou de novo com a comunidade e falando assim nós não vamos deixar nós não vamos deixar e você não vai ser mais o Cacique dessa aldeia e a gente vai retornar de novo pro antigo cacique que a gente sempre retornava pro antigo Cacique e aí esse Cacique então que tava ali gociando ele teve resistência de entregar o Cacicado não foi mais aquela democracia como antes, teve a resistência inclusive com toda a família dele, e aí essa resistência a gente foi bateu pé pra ele e aí ele veio pra cima de mim que daí eu já tinha essa questão de ser perseguida de ser de estar sendo perseguida de estar sendo ameaçada, e ele estava gociando justamente com essas pessoas que tinham me ameaçado no passado, então eu era o alvo ali de me submeter eu era pessoa que estavaesse alvo, e aí eu fui fiz um enfrentamento fiz esse enfrentamento na comunidade fizesse vem tratamento falei você não vai ficar de Cacique que você vai sair e o outro o antigo Cacique, que é o Cacique Teófilo se ele topar ele vai tocar isso porque eu já não queria mais por conta dessas ameaças e aí a comunidade acertou toda comunidade de acordo e tal e tiramos ele, colocamos de novo antigo Cacique e aí teve essa resistência na comunidade o que aí quando Cacique Teófilo entra ele fala assim: eu quero que você trabalhe comigo, como… nós vamos organizar diferente agora nós vamos trabalhar em conjunto, não vai ser só um Cacique vai ser um conjunto de lideranças que vão trabalhar comigo e eu vou só executa quem vai plajar vai ser esse conjunto de liderança e aí a gente fez assim a gente fez e eu fiquei como gestora do território que era mais uma função, essa função mais de trabalho mesmo liderança mais umafunçao de trabalho , porque como a gestora do território e a gente colocou… fizemos… criamos uma associação, criamos uma organização, e aí ali essa organização fiquei com uma liderança do território daí fiquei eu e mais três pessoas mas aí a gente conseguiu denovo daquela puxada no processo fazer as denúncias, denúnciamos e puxamos denovo processo da terra indígena que tava ali aí trancamos tudo isso e aí ali essa revolta toda essa questão da violência 2017, isso já em 2017 então tem essa revolta onde ele reúm com várias pessoas dali pra ir na minha casa pra me matar eles falavam pra me executar a ordem era execute, e eu não sabia de nada eu estava na minha casa ali tranquilo e minha mãe que ali caminha na Aldeia, anda pra todo lado passeia na casa de um não tem inimizade com ninguém, ela chega um dia de noite estava escuro de noite tava vindo de uma casa de um grupo conversando ela se aproxima sem eles perceberem, e ela ouve que a ordem era pra mim executar e aí ela começou a prestar atenção e ela não sabia de quem eles estavam falando, estava combinando inclusive o que tinhex Cacique estava ali tava junto e tal e ela escuta falando que tinha que fazer isso. fazer aquilo, em tal data fazer tal coisa e aí ela tentando entender quem era a pessoa que tinha que ser executada quando ela descobriu ali que o pessoal falou que era a pessoa que era pra ser executada era eu, a minha mãe entrou num no meio do grupo xingou todo mundo falou quero ver se vocês vão matar a minha filha que no sei o que e fez a defesa lá minha mãe foi lá e fez aquela defesa no meio deles e aí disse que ninguém falou nada pra ela ninguém abriua boca, ninguém assim falou nada todo mundo ficou em silêncio e acabaram indo embora, a minha mãe chegou em casa e falou pra mim assim: você sabia que eu peguei o pessoal falando isso ,isso e tal de você então cheguei lá e falei as mesmas coisas pra ele xinguei eles tal, ameacei e ai eles ficaram com medo e foram embora mas eu falei : eles falaram alguma coisa? nao falaram, eu falei : mãe sai da casa agora, saia da casa agora porque a senhora está correndo risco de vida, sabe aquele momento foi um momento que me puxou eu falei meu Deus a minha mãe ela foi ela ouviu e interferiu ali, nossa falei : sai da casa agora, você não pode ficar mais sozinha em casa e ela começou eu falei pro meus irmãos vão ficar na casa dela vão dormir com ela não deixa mais ela sozinha, mas eu também não contei pro meus irmãos que tinha que minha mãe tinha pegado o pessoal falando sobre essa minha execução e aí teve um dia que a minha mãe estava lá lá andando a minha irmã foi morar com ele tal e não dia minha mãe foi passear lá na casa de alguém e dormiu e a minha mãe ficou sozinha em casaesse dia ela sofreu esse ataque foi bem na véspera do dia 2 de novembro de 2017 onde entraram na casa dela assim, esse grupo com pessoas de fora mas também com pessoas de dentro ligado com Cacique com esse mandato do Cacique pra fazer essa execução mas também era um apagamento de arquivo ali na naquele momento então minha mãe teve uma ataque assim muito violento muito violento mesmo assim um ataque assim dela , que ela teve toda a parte do corpo, os braços todo quebrado, esfaqueado, esfaquearam ela, deram várias facadas no rosto, no corpo dela, na cabeça, dela cortaram muito e aí teve esse momento também dela ter a mão esquerda decepada desse ataque assim, pra eles… a minha mãe … eles tinham matado a minha mãe e tinham deixado recado pra mim que quando eu cheguei láesse espaço onde minha mãe já tinha sido levada o meu irmão tinha pegado e levado ela pro hospital e tudo eu chegueiesse espaço tava assim selecionado tinha um machado, um facão, uma faca, grande, uma faca menor, uma faquinha, e assimesse crescente assim e tesouras tudo assim selecionadinho em cima da mesa tipo um recado ali dizendo assim que essa eram as armas deles colocado ali então pra mim aquele momento foi um momento que foi assim nossa eu não sabia assim o que o que que eu ia fazer porque quando minha mãe foi pro hospital eles falaram que ela não tinha não tinha chance de sobreviver ela não ia… já tinha falado pra gente se preparar porque ela não ia sobreviver e aí ela passou por várias, várias e várias cirurgias, mas ela sobreviveu. Ela sobreviveu inclusive em sã consciênte… a gente fala em sã consciência ela teve voltou assim muito lembrando de tudo e aí então a gente teve esse momento assim muito forte denovo da gente pegar é reunir de novo com todas as lideranças Cacique comunidade de Santa Catarina denovo pra gente fazer esse momentode fazer justiça esse momento de querer fazer justiça por que tudo que aconteceu no Morro dos Cavalos desde os tiros, desde as ameaças,desde as invasões que aconteceram nunca teve justiça, nunca teve assim uma decisão dizendo a gente pegou fulano e puniu, nunca…ja teve envolvimento de todo policia, Ministério Público, Funai, pra tudo quanto é lugar até hoje nunca teve uma prova dizendo que quem foi a pessoa que faz isso então aquele momento a gente juntou toda comunidade, as comunidades ao redor do Morro dos cavalos, da região ali de Florianópolis a região de Santa Catarina juntou aquele momento uma revolta muito grande dentro do povo Guarani e a gente junto pra fazer justiça pra fazer essa justiça e aí a gente pega…pega uma pessoa que era suspeita e tal e a pessoa conta a toda história e aí a gente tem duas opções ou a gente faz o nosso modo que é como é que fala olho no olho dente por dente que era tipo assim na minha cabeça naquela hora minha ideia era fazer isso porque eu sabia que se entregasse pra polícia não vai fazer, não vai fazer justiça mas eu tenho que também toda essa questão da liderança, tem essa questão da família , dos filhos, e tudo mais então eu falo assim então vocês decidem… o cacique tava…o Cacique Teófilo ele está ali no comando tem minha irmã que é uma Cacique la taesse comando, eu falo vocês resolvam o que vocês resolverem está resolvido mas eu não quero ficar na frente dessa pessoa porque eu acho que minha decisão vai ser diferente então assim… ficamos ali . E ai quando a polícia veioesse período na casa pra coletar todas as… que está ali de prova ele leva tudo pra perícia e aí todo mundo vai pra delegacia dar depoimento tal e eu naquele corrente, delegacia, depoimento e tal, hospital dormir com a minha mãe, no hospital e ta acompanhando em casa também pra ver a questão da segurança foi um caos então esse foi o momento assim acho que um dos momentos muito ruim, os mais… mais difícil assim pra gente assim conseguir permacer como liderança na defesa da terra e aí então eu pego naquele momento decido quando minha mãe voltar do hospital eu vou pegar minha família foi embora daqui não vou mais ficar Morro dos Cavalos, e aí eu fico pensando assim, mas se eu sair daqui pra onde que eu vou porque toda comunidade a minha família , meus primos, meus tios, meus sobrinhos, todo mundo mora ali então se eu pegar e sair daqui todo mundo sabe que eu sou liderança que dou a condução na terra indigena do Morro dos Cavalos eu vou sair os meus familiares vão sair comigo e se eu sair meus familiares sair comigo a terra nós vamos perder, …nos não vamo mais… A terra ela vai de vez que a gente está na sua frente de luta aí eu ficava essa dúvida de ficar pensando e agora o que eu faço e aí foi num dia desses que eu vejo no jornal quando um procurador do Município fala que a pessoa que tinha sido preso tinha sido entregue pra polícia, que contou, que confessou, que participou do crime ali … ele confessa…ele estava preso, ele estava preso, pra nos agora beleza agora vamos pegar os outros bandidos, eu vejo no jornal local lá de Santa Catarina o procurador do Município falando que ele tinha solto que tinha ido na delegacia ver o rapaz que estava preso que tinha mandado o delegado solta porque ele tinha sentido no depoimento do rapaz que ele estava sendo pressionado pela família pra confessar aquele crime, pra assumir o crimel e que não era pra ele ficar preso e pagar injustamente. E aí tinham soltado ele, simples assim …então quando eu vejo esse momento que ele fala isso eu me sinto mais uma vez pela pelo município dali, nós como se tivesse abrindo uma porteira e fala agora pegue fazem o que quiserem com ele que eles são os perigosos eles que são os criminosos quando eu pensei nisso que eu vi que ele tinha soltado cara e essa fala do procurador eu pensei gente nós não temos mais escapatória agora, agora vai ser todos nós aqui da aldeia, daí eu pensei então agora me fortaleci ali naquele momento falei agora eu vou fazer esse enfrentamento de cara mesmo vou de cara ali… não quero mais polícia, não quero mais ninguém que me cuide eu vou enfiar minha cara dentro dessa questão aí e seja que Deus quiser mas a gente vai fazer esse enfrentamento agora porque não tem pra onde correr agora. tipo era… ou era ficar quieto e se atacada ou era se armar e ir pra frente do ataque então a gente se organizou dentro da comunidade pra se fortalecer, se armar e a gente ter essa autonomia que a gente tinha…a nossa organização de autonomia porque assim não precisa correr pra Funai pra pedir que a Funai faça proteção a gente vai fazer nossa proteção e a Funai vai ter que cumprir com papel dela não precisa esperar a polícia vir aqui pra fazer a proteção dela proteger pessoas nós vamos fazer e a polícia vai ter que vir cumprir com papel dela. Então a gente se organizou na comunidadeesse momento e a gente teve juntou, fizemos o nosso plano de vida no Morro dos Cavalos com todas as famílias e se organizamos, fizemos nossa auto organização e ali dali então eu saio em 2018 e parto para uma campanha …me laço a candidata deputada federal no estado de Santa Catarina pra fazer essas denúncias … então assim,esse momento quando eu vou pra frente da questão da partidária que era uma coisa que eu tinha muita resistência, que pra mim era uma coisa muito ruim, aí eu então assim eu pego e saio e vou pra candidatura.
P/1 – Esse envolvimento seu com a política é…voçê foi coordenadora da PIB, um tempo … não sei se está correto. Formou grupos também, isso se entrelaçam assim na sua trajetória ou foi uma um caminho que foi só em ascensão depois desse episódio trágico que…?
R – Então na verdade eu até 2017 eu nunca quis me envolver com essa questão de política mesmo eu sempre fiquei muito focada na questão da terra e eu acho que me envolvi um pouco mais na questão política quando eu me envolvi na secretaria de educação mas era muito voltado pra questão da educação.E aí essa questão da terra era era específica dos Morro dos Cavalos mas a partir de 2017, a partir desse ataque que minha mãe sofre que eu junto e falo assim, nós vamos plajar agora a nossa autonomia nossa organização, e ai eu me coloco de frente mesmo daí mesmo eu já não quero mais ninguém mais de fora, dizendo que está me protegendo que era questão da polícia que era questão de vários… da FUNAI, de várias coisas eu falo não quero mais, porque eles não fazem nada nós vamos se organizar…Aí eu vou então pra esse lugar a primeira coisa… eu falava, eu vou me candidatar a deputado federal 2018 pra mim ficar muito de cara ficar exposta mesmo enquanto tava me protegendo as coisas estavam acontecendo agora ao contrário agora então eu vou me colocaresse lugar e vou me expor pra ficar bem exposta aí eu fui pra campanha 2018 e pra mim foi uma experiência muito uma construção também dentro do estado porque daí eu vou pra candidatura aí mas eu vou mais com esse papel de defesa mesmo do território do povo Guarani do povo indígena vou falar sobre a questão indígenaesse âmbito político e aí quando eu faço a minha inscrição vou lá faço a minha filiação no PSOL ,me filio ao PSOL e vou pra essa linha de frente da política quando chega no período da campanha não sei o que vou apresentar de proposta pra sustentar de verdade, eu falo assim o que que eu vou prometer pra esse povo votar em mim, fiquei pensando assim, imagina eu uma liderança da comunidade Indígena, perseguida, atacada e tudo mais… eu vou fazer o que que eu vou te prometer pra essa gente , pra mim a sociedade tava todo mundo contra, estava contra a terra indígena, contra minha pessoa e tudo mais, e aí foi esse momento assim de ficar essa coisa, só deixar o nome mas aí vem denovo a questão do poder da liderança sempre muito forte, essa questão dessa consagração do poder da liderança aí vou denovo lá pros meus rezadores vou la e converso tudo, e aí eu lembro que tinha um que falava pra mim assim que tem que ser Guarani continuar sendo Guaraniesse lugar político aí fazer a política que é do Guarani, o que que é política do Guarani? é a terra, e água, é planta , é a medicina, é a semente,é isso… foram colocando pra mim isso e aí veio pra mim assim aquela chuva, aí eu falei vou me colocar desse jeito, vou me colocar do jeito que eu sou, não vou me moldaresse outro modelo de política vou me moldar vou entrar dentro pegar esse sistema político como Guarani assim como a gente criou na escola e foi com isso então a minha proposta em 2018 foi a transformação pelo bem viver que pra nós que e o Tekoporã ,que é o Nhandereko gente chama de nosso modo de vida e apresentar essa proposta de vida pro estado de Santa Catarina, e aí foi maravilhoso assim isso daí lá em Dois mil … e , quando acabou a campanha eu fui a segunda candidata da esquerda mais votada do estado, só que como é também a primeira vez que o PSOL tava lançando candidatura para deputado como nós fomos um dos primeiros a gente não teve cório pra chegar a ser eleita. Então mas ali ficou muito marcado no estado de Santa Catarina essa questão do bem viver da transformação pelo bem viver e ali então da essa visibilidade, principalmente depois das eleições porque até durante as eleições eu vinha assim muitas poucas pessoas me conheciam e tal e tal e fui fazendo a campanha sem dinheiro, sem nada, passando também por esse sistema de quebrar vários tabus dentro do próprio partido sofrendo discriminação também dentro do partido mas eu vou ali mas quando sai o resultado da eleição nossa eu vejo assim que quebra tudo que tem ali de questão de visibilidade sobre a questão indígena no estado sinto assim que rompe que dai tem um nome não é colocado como uma mulher indígena do povo Guarani que veio com essa proposta de transformação que ali dentro dessa proposta de transformação que foi a presença da primeira campanha ela começa a ser plantada mesmo sem a eleição mesmo sem ganhar eleição em vários modos de vida no estado, de varios eleitores que começaram a pegar projeto da transformação pelo bem viver que a água, floresta, a semente, alimentação, e começa a fazer a implantar dentro do estado e ai em 2019 então tem assembleia Guarani, lá no Morro dos cavalos, que e da comissao Guarani Gurupá, que é do povo Guarani no Brasil em seis estados e aí ali então eu sou chamada denovo a indicada para ser a coordenadora pela ambé uma das coordenadoras que vai gerenciar essa comissão do Gurupá. ai dentro da…E daí eu aceito eu já tinha feito pra campanha já tinha feito tudo isso agora eu vou pra esse lado político mesmo entrei dentro da organização fiquei três anos na comissão Guarani Gurupá e aí assim na verdade assim destacar também aqui que eu só que topei ser coordenadora da comissão Guarani Gurupá porque eu apresentei uma proposta eu falei eu só aceito se vocês me permitirem que eu trabalhe com as mulheres que eu traga essa visibilidade das mulheres aqui pra dentro da comissão Guarani Gurupa … para fazer esse trabalho de chamar as mulheres para ocupar esse espaço e também eu quero dar um foco muito especial pras áreas de conflito aonde tem conflito de territórios eu quero atuar essa s areas então se vocês me permitirem que que eu puxe esses dois focos pra dentro da comissão eu aceito ser coordenadora e mesmo assim na época apresentando essas duas propostas na hora da votação então eu fui uma das pessoas escolhida para ser coordenadora. Trabalhei ali durante esses três anos 2020 eu sou convidada então indicada pela própria comissão pra ocupar então o cargo de coordenação executiva da…e daí que eu começo então a ocupar esses espaços de uma política mais ampla …E aí trabalhar com todos os povos indígenas não é só o povo Guarani e todos os povos indigenas do Brasil. 2019 eu ainda sou convidada então como comissão Guarani Gurupá pra ir pra Londres fazer uma fala em Londres sobre o povo indígena e eu fui indicada ali pela FiBE pra também fazer a denúncia das queimadas que estava acontecendo na Amazonia… e aí eu chego lá em Londres mexe muito comigo isso é um lugar que mexeu muito comigo sabe quando eu cheguei lá em Londres pra falar sobre Brasil e aí pra mim assim me chamou muito atenção e mexeu mesmo assim naquele momento de eu ter que me coctar comigo mesmo é porque assim a história do Brasil conta que os europeus vieram e aí uns falam que foi descobrimento do Brasil, mas nós falamos que é “a invasão do Brasi”l e aí é esse lugar que cria todo esse contexto de nos colocar no lugar onde nós estamos esses lugares de muito massacre, de muitos extermínio dos povos indígenas, de muito genocídio de povos indígenas, então como que eu vou falar de mim lá na Europa eu tenho que chegar e falar dessa forma eu falar que os europeus invadiram Brasil e fizeram isso no Brasil é uma coisa agora eu falar aqui os europeus entraram no Brasil e fizeram lá na Europa é diferente e aí então assim, começou essa briga dentro de mim e aí como é que eu falo? eu falo isso, falo aquilo, mas eu não posso gar essa história eu não posso me omitiresse momento eu preciso falar a realidade do que eu semore falo e da minha luta aí eu lembro que a gente tava dentro de um camarim se arrumando pra participar das atividades e veio uma jornalista e falou assim: “gente só quero falar uma coisa pra vocês… vocês pensem bem o que vocês vão falar dos europeus” aí tipo deu um toque …aí eu pensei gente se não for pra mim falar do meu modo de vida, da minha luta, eu m falo. não vou falar…vou me gar a falar aí eu falei com várias pessoas ali falei não aí até o pessoal ali a você pode falar mais falar num tom mais leve tal, assim e assim… e eu com aquela coisa dentro de mim, muito mexida mesmo aí eu cheguei … lembro que eu cheguei na frente e falar essas coisas e aí pra fazer a denúncia da Amazônia eu tinha que falar de mim que sou da mata atlântica e aí e aí ali veio como se tivesse caído um ancestralidade dentro de mim pra dizer o que que é a mata atlântica? o que que é o Povo da Mata Atlântica? o que que é invasão no Brasi?l o que que é extermínio dos povos das florestas? dos animais de todas as riquezas que a gente …onde que tá? onde que tá impactado?onde começou toda essa invasão? então assim pra mim veio assim… caiu assim ai foi muito forte pra mim porque quando eu comecei a colocar invasão que começa pela Mata Atlântica pelo bioma Mata Atlântica começa contar toda história que foi pra chegar hoje onde nós estamos nas queimadas da Amazônia isso significa que a Mata Atlântica está toda totalmente, ou quase totalmente exterminada só que esse extermínio maior…então mais do que preservar e proteger as florestas eles tinham que pensar no reflorestamento, tinha que pensar denovo tinha que fazer esse reflorestamento aí eu lembro assim que eu falo assim: desde criança, desde a minha história de quando eu começo a me entender por gente eu sempre ouço meu povo falar, os povos indigenas falando que o mundo tem uma dívida histórica com os povos indígenas essa dívida do genocídio que fizeram com os povos indígenas aí eu falei assim entãoesse momento eu não vim aqui pra cobrar essa dívida histórica do genocídio dos povos indígenas não estou aqui pra fazer essa cobrança dessa dívida histórica mas eu estou aqui pra convidar vocês a reparar a destruição que foi feita no Brasil por que vocês dependem de nós pra sobreviver, vocês depende do ar, depende da água, depende tudo, pra sobreviver porque nós mesmo sendo exterminados e atacado nós ainda mantemos o mundo nós temos essa função de preservar, de cuidar, de proteger pra vocês sobreviverem então assim nós estamos o tempo…inclusive nossos ataques é por preservar e por cuidar desses territórios então agora nós estamos aqui para convidar vocês a repararem essa história e ajudar a gente a recuperar esses espaços, e a reflorestar principalmente o bioma da Mata Atlântica que foi o primeiro impacto que comece por ela essa reparação… então assim foiesse momento foi muito forte e aíesse período aí eu ganho essa visibilidade, esse destaque no movimento indígena nacionalmente como uma pessoa de referência pra falar sobre a Mata Atlântica então a gente começ… a gente conseguiu quebrar várias coisas ali que reprimiam, e uma das coisas que eu percebi também na Europa era que assim aquele olhar que daí muitos no Brasil também, pegavam e entravam na onda, porque é um europeu que ta falando isso queda… que era do preserve a Amazônia, proteja a Amazonia assim esse preservar e esse proteger Amazônia que eu senti lá na Europa era um olhar de interesse não era um olhar de proteção era que a gente proteger Amazônia nós não vamos ter aonde buscar a água se nós não proteger Amazônia nós não vamos não temos onde buscar o açaí que era assim coisa muito assim a gente consegue preservar Amazônia gente vai ter açaí na Amazônia e a gente vai poder ir lá e trazer e exportar… aí tinha todo um projeto de produzir…de mais uma produção maior e tal e fazer essa exportação então todo esse olhar, essa fala de proteção, não era de fato uma fala de proteção, que era na verdade uma fala nada de interesse mesmo… continuava sendo e continua sendo esse olhar de interesse para esses lugares em expecifi…porque são eles lugares que eu ainda posso explorar então isso que eu consegui identificar ali dentro desse lugar na onde que na Europa sobre essa questão do proteger… então a gente quebra também a gente quebra esse tabu e fala assim… não. vocês não vou sóesses lugar que tem algo a oferecer pra vocês vocês vão construir lá onde não tem nada e vão reflorestar e plantar as sementinha, preparar a terra, preparar a Sementinha, pra depois vocês quererem fazer um projeto que dê pra fazer essas trocas mas a gente precisa reparar esse erros… então acho que foi assim. E aí continuei dentro dessa comissão Guarani Gurupá até o ano passado no início do ano passado aí no início do ano passado eu pego e saio da comissão da coordenação pra denovo concorrer mais uma vez uma eleição e aí então essa eleição a gente vemi se preparando mais e mais porque a gente plaja e faz um projeto dessa candidatura não só de mim em Santa Catarina, mas é uma candidatura que a gente faz o projeto da bancada do cocar, que a bancada do cocar então ela vem puxada pela ANMIGA que é articulação das mulheres indígenas do Brasil onde também ajudei a fundar e aí então a gente pega e lança várias candidaturas de mulher no Brasil todo com a ideia de criar a bancada do cocar, chegar no Congresso Nacional e a gente ter por exemplo assim vários projetos de lei que a gente teve que ir pra rua, vir acampar em Brasília pra fazer esse enfrentamento Das PEC 215, da PL 490, vários outros pareceres que vão surgindo, e a gente vem com essa proposta da gente ocupar esses espaços com a bancada do cocar e a gente minimizar isso é gente também apresentamos nossa proposta então criamos um grupo de mulheres…várias mulheres, de vários estados e a gente chamou o projeto da bancada do cocar e lançamos …lançamos, aonde também fiz parte disso daí mais uma vez eu compor o estado de Santa Catarina sou a primeira mulher mais votada dentro do partido mas infelizmente só fui eu votada não teve Cório denovo …das pessoas que estavam ali comigo, de conseguir o tanto de voto …Eu acabo não me elegendo mas dessa vez já a quase… triplica …mais que triplicaram as votaçoes…porque da vez passada foi dez mil e poucos votos e dessa vez foi 35.000 e poucos votos então assim e aí então eu venho eu continuo dentro da coordenação executiva da PIBesse período e vou de novo pra construção de um plano de governança dentro da PIB pra gente falar sobre como que a gente vamos organizar agora… porque dessa bancada do Cocar foram eleitas duas mulheres: Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, então elas são eleitas e elas vem pra ocupar esse espaço dentro do congresso então aí a partir dali a gente vai criar esse subsídio pra dizer como que vai ser agora esse comando então a gente pensa em como articular os povos indígenas de criar um plano de governança político que a gente vai estar trabalhando junto com as lideranças mas também junto com os deputados trazendo, apresentando propostas e também recebendo também do Congresso Nacional e aí a gente está ali mas ali dentro da proposta da PL de 2022 a gente tem também a proposta de pegar e trazer a promessa ministérios dos povos indígenas então agora que está eleita Célia Xakriabá e Sonia a gente tem ainda construção do Ministério dos povos indígenas então a gente criar um plano de governança dos povos indígenas do Brasil a gente chama todo todas as organizações de todo estado a gente faz as oitivas que são as consultas que a gente que a gente vai falar com todos os Caciques de todos os aldeias a gente criou várias oitivas pra falar várias pra criar mesmo esse povo de governança e aí a gente vai pra essa transiçãode governo e a gente também é indicada com a PIB a participar de uma transição e eu vou também ali na transição, criar um mistério dos povos indígenas então assim ficamos ali acho que 16 dias muito assim mergulhados mesmo essa questão de entender a questão do governo mas também trazer subsídio desse plano de governança dos povos indígenas, e criar o Ministério dos Povos Indígenas, pensar o que que é o Ministério como que nós ia fazer, fazer a consulta com a lideranças de base e criar ministério da saúde, então eu fiquei… eu estou Brasília desde novembro, desde que passou o segundo turno eu estou aqui em Brasília fazendo toda essa criação e aí agora então pra final chegar assim depois que é lançado a ministério, é lançado a ministra, a gente então começa estruturar o Ministério, e aí a minha resistência foi até jairo a minha resistência de entrar no governo foi por que por todo esse histórico, por toda perseguição, por todos os confrontos, por tudo que a gente passou e passa, dentro do território principalmente dentro desse governo , vendo os estados, vendo os municípios, vendo desses governo mesmo então eu sempre me recusei entraresse governo eu sai da escola já porque fazia parte do governo por causa dessa resistência e me recusei sempre de estar dentro do governo masesse momento é uma forma estratégica do movimento indígena ocupar esses espaços, e aí então dentro de ocupar esses espaços nós como liderança do movimento daqui da PIB tudo mais,se pensou que quem construiu vai começar a ocupar esses lugares e começar a chamar outras pessoas pra ocupar esse espaços, então assim eu tive essa resistência eu fui indicada pra ser secretaria da saúde, no início e aí fiquei e aí o meu povo também na resistência dizendo que não que você veio pro governo vai se corromper e tudo mais e eu ai naquela resistência dizendo eu não vou de ai decidi não vou não vou ficar na minha aldeia porque Morro dos Cavalos ta pra ser pra ser homologado, aqui pra mais uns dia sai a Homologação, dos Morro dos Cavalos e essa minha luta eu fui colocada pra cá pra isso então não vou trabalhar na aldeia vou esperar a homologação do Morro dos cavalos mas aí a Sonia ministra já liigou de madrugada pra mim falando pra mim; Kerexu : você precisa ocupar essa secretaria de demarcação, e proteção territorial por que você tem essa essa carga essa bagagem esse experiência que você carrega essa luta de Morro dos cavalos, e a luta dos povos indígenas então assim eu penso que você precisar vir, pra esse lugar você não vai estar sozinha, aqui você vai vir a gente acha que a gente não vai dar conta esse é o medo de todos nós mas a gente vai dar conta a gente tem essa capacidade e você não vai estar sozinha, você vai estar com várias outras pessoas que vão estar vindo de vários lugares e a gente vai construir juntos assim como a gente construiu lá do início até a política tudo e a gente sobreviveu até aqui, então agora mas chegamos aqui então a gente vamos alémí teve esse convite que eu falei claro então bora lá e aí e aí esse outro acho que meus finaleiro, esse outro lugar assim que foi pra mim sair da aldeia ir e vim de novo pra pra cá assim foi pra mim assim e uo sacrifício, mesmo por que sair da aldeia com todo uma estrutura de uma liderança uma coordenação de liderança e mudar se preparar ali pra esse lugar aqui e trabalhando que é pro Brasil todo para todos os povos mas essa encrenca que é a questão da demarcação de terras e da proteção então assim eu tava assim naquela coisa quase entrei em depressão assim nos primeiros semanas aí voltei pra aldeia teve denovo um ritual lá pra aldeia Tiramuan veio , que é nosso líder espiritual e ele trouxe medicina, ervas medicinais do mato trouxe ervas do mato e tudo me surpreendeu mais uma vez que ele me chama de novo pra vir fazer a consagração e aí ele fala assim eu não sei pra que fazer isso em você mas me mandaram fazer isso pra você, e eu vou te consagrar agora pra você ter o poder da palavra e aí pegou e me fez um benzimento e tudo, e fez a consagração, e falou assim: agora você pode estar no lugar que você tiver a tua força a tua fala vai ter esse poder de transformação e aí eu falei gente assim é uma missão recebi essa missão poder da liderança e agoraesse novo espaço poder da palavra então assim eu sinto que estou muito preparada pra estaresse lugar e muito bem amparada eu falo assim não brinque comigo que eu não ando só, então eu tenho toda essa ancestraliidade que carrego junto comigo mas também tenho todo o povo assim com esse mesmo desejo que essa mesma objetivo e com essa mesma resistência que é a demarcação a proteção do nosso território e aí estou aqui agora no Ministério dos povos indígenas na secretaria de direitos territoriais e ambientais como secretária aquiesse comando já fazendo trabalho em campo com esse desafio maior.
P/3 – Assim no caso eu queria ver só a questão assim na verdade dela sim é o sentimento dela agora essa questão da política toda , essa questão aí de ser uma mulher, no caso agora política tando agora lá com seus povos indígenas qual é o sentimento dela em relação às questões de agora pra fazer mas a questão do Brasil porque mudou a questão do território nosso território Guarani não está dentro do Brasil está em várias coisa já está acompanhando eu queria saber essa questão no desafio do seu sentimento mesmo como pessoa, como mulher?
R – Legal ! Então eu tenho assim eu venho com essa missão essa missão lá agora com o governo também o que que eu sinto , primeiro a missão é a mesma ela só cresceu a demanda primeira gente sai ali do local do povo e agora rede do Brasil como você colocou, e aí assim o que muda pra mim são os métodos de luta porque pra mim hoje a gente agora eu estou dentro do sistema agora eu estou aqui dentro do sistema e a minha uma das coisas que eu coloco o que eu falei dentro do meu TCC aqui que que precisa é criar um sistema novo a gente precisa atualizar o sistema e eu estou aqui agora dentro desse sistema, desse comando da máquina, mas eu vejo aí que ainda tem muito tabus a ser quebrados, muitas regras, muitos protocolos, a ser quebrado na verdade assim reconstruído que eu coloco assim essa reconstrução do Brasil e ir aí eu vejo assim que pra fazer uma ação lá na ponta precisa passar por várias coisas aqui até ser liberado essa sessão na ponta e nós estamos acostumados a ver o problema ir lá e resolver então esse assim que é um desafio maior pra mim eu acho que é isso de chegar ali pegar o problema e resolver fazer essa ação na ponta aí esse é o desafio mas eu vejo assim que a gente tem essa reconstrução mesmo no Brasil que hoje a gente está aqui no Ministério dos Povos Indígenas a gente tem principalmente agoraesse governo ser em dia a gente tem essa criação da proposta entre o Ministério interministerial e aí e aí então a gente apresentar essa proposta mas assim a gente tem dentro do departamento que a minha secretaria que é de demarcação proteção territorial várias terras indígenas que a gente está retomando e caminhando do lugar que tem que ser naquelas que vão passar pelos os estudos aquelas que vão essa que vão passar pela assinatura da portaria e as que vão pra homologação, mas a demanda maior que hoje nós temos que falta gente é esses espaço da proteção territorial esse espaço esse que é o desafio maior que o Brasil pede socorro dos ataques que acontece nos territórios, as as invasões, dos garimpos, hoje a gente tem assim como o governo e a gente está batendo muito em cima dessa tecla como o caso dos Yanomamis o que é um caso que eu nunca vi na história que me impressionou muito mas nós não temos só esses espaços que nós não o espaço que está na mídia hoje mas nós temos temos muitos outros espaços com esse mesmo desafio, então eu acho que assim eu vejo assim que a falta de pessoas que a falta de servidores pra essas ações que é o desafio maior que o governo precisa,quer dizer nós no caso precisa pensar em algo maior pra essa atuação nas bases .
P/2 – Kerexu, em relação a isso, rapidamente, se você puder falar bem resumidinho, você, eu imagino, tem a intenção de que as lideranças indígenas, até os Caciques, participem de alguma forma do processo do Ministério. Isso é possível ou é muito difícil por conta da máquina, conseguir ouvir as lideranças da base? Do seu olhar.
R – É, nós porque nós estamos aqui dentro e nós somos as lideranças então eu vejo assim que quebrou muita coisa assim essa questão que antes não podia porque era difícil ter esse acesso nós estamos aqui dentro do Ministério dos Povos Indígenas dando essa preferência que seja as lideranças que vem aqui conversar com nós que tragam demanda que contém porque são só as lideranças do território que sabem aonde que pode, aonde que não pode ir, aonde vai ser atacada, quando as estratégias, então é só a liderança do território, isso pra nós é prioridade aqui no Ministério e que as lideranças venham, tragam, que somem. Muitas pessoas estão vindo pra cá pra trabalhar, a gente não completou o quadro, a gente está aqui recebendo os currículos que foram enviados e colocando estrategicamente essas pessoas que têm essa experiência. Então, quebrou aquela coisa de afastar a liderança do governo, agora, nós estamos chamando, porque nós estamos aqui também como liderança. É lógico que a gente não vai usar, é só falar, assim como o governo, com uma fala de liderança, a gente vai usar fala de governo, mas nós somos lideranças, continuamos liderança de território, então é possível e deve ser feito, porque a gente fica chamando o pessoal pra vir mesmo.
P/2 – Obrigada pela resposta, agora a gente vai ter que encerrar Diogo.
P/1 – Isso ‘bora’, último minuto meu muito obrigado Kerexu, ficamos muito felizes que nós conseguimos marcar essa reunião e agradecemos muito seu tempo por você ter contado um pouco da sua história. Eu desejo um ótimo trabalho, ótimo serviço de Ministério.
R – __________.
P/3 – Eu queria também dar um parabéns aqui pra minha parenta. E felicidades e coragem ai essa batalha que você tá pegando aí pra nós, que é muito importante pros nossos povos indígenas. Agradecendo a essa entrevista que foi muito boa, eu já conheço a tua luta, mas muito mais agora, o Brasil e o mundo também vão conhecer um pouco mais da sua história .
R – Obrigada Davi, é um prazer e uma honra, eu falei lá no início da entrevista que, pra mim, foi muito importante trazer essa fala, de índigena para índigena, sendo dentro universidade, dentro do governo, nós fazermos mesmo entre nós. Então, pra mim, sempre é um prazer e sempre estou à disposição. E agradecer a oportunidade, é claro que não deu pra contar toda essa história, que são quase 40 anos de história, porque demora, mas foi ótimo, obrigada.
[Fim da Entrevista]
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