Meu avô era um homem sertanejo de pernas cambotas que dormia e acordava com o galo, pensando sempre no próximo passo. Não sei quando começou sua luta, algumas línguas falam que no início da juventude, outras acreditam que o desconforto com a forma como o mundo se apresentava injusto veio só mais tarde. Já eu digo que corações vermelhos pulsantes já nascem lutando. Subiu em palcos para milhares, apertou na mão de outros mil, mas abraçava mesmo as necessidades do povo sertanejo do qual ele sempre fez parte.
Em 1979 junto a outras lideranças da região, criou uma estrutura organizativa chamada de Polo Sindical dos Trabalhadores do Submédio São Francisco que tinha como objetivo a luta contra os efeitos negativos da construção da Hidrelétrica de Itaparica, unificando posseiros, arrendatários, pequenos agricultores e sem terras da região, constituindo-se como uma organização de trabalhadores rurais para defesa dos direitos dos camponeses perante o governo.
“Em 1976 começou o movimento do sindicato aqui por Petrolândia botando a pelegada para fora, a partir dele se criou um movimento em toda região que compõe 13 municípios com polo sindical e 7 municípios com a barragem de Itaparica onde se criou um movimento muito forte e muito respeitado e que se confrontou uma guerra frente à CHESF: os trabalhadores de um lado através da sua organização com o sindicato e o polo e a CHESF que é uma empresa do governo e todo mundo sabe. Fizemos 7 grandes manifestações, fizemos uma inclusive para conquistar o mapa de onde iria ser inundado, fomos obrigados a fazer uma grande manifestação. Fizemos outra grande manifestação para rever a questão de interesse social e utilidade pública e fizemos outras. Fizemos uma em 85 dentro da própria barragem alertando a CHESF que se não fizesse o reassentamento dos trabalhadores iríamos ter que partir para coisas mais sérias. A CHESF não fez nada, a verdade é essa e nós tivemos...
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Meu avô era um homem sertanejo de pernas cambotas que dormia e acordava com o galo, pensando sempre no próximo passo. Não sei quando começou sua luta, algumas línguas falam que no início da juventude, outras acreditam que o desconforto com a forma como o mundo se apresentava injusto veio só mais tarde. Já eu digo que corações vermelhos pulsantes já nascem lutando. Subiu em palcos para milhares, apertou na mão de outros mil, mas abraçava mesmo as necessidades do povo sertanejo do qual ele sempre fez parte.
Em 1979 junto a outras lideranças da região, criou uma estrutura organizativa chamada de Polo Sindical dos Trabalhadores do Submédio São Francisco que tinha como objetivo a luta contra os efeitos negativos da construção da Hidrelétrica de Itaparica, unificando posseiros, arrendatários, pequenos agricultores e sem terras da região, constituindo-se como uma organização de trabalhadores rurais para defesa dos direitos dos camponeses perante o governo.
“Em 1976 começou o movimento do sindicato aqui por Petrolândia botando a pelegada para fora, a partir dele se criou um movimento em toda região que compõe 13 municípios com polo sindical e 7 municípios com a barragem de Itaparica onde se criou um movimento muito forte e muito respeitado e que se confrontou uma guerra frente à CHESF: os trabalhadores de um lado através da sua organização com o sindicato e o polo e a CHESF que é uma empresa do governo e todo mundo sabe. Fizemos 7 grandes manifestações, fizemos uma inclusive para conquistar o mapa de onde iria ser inundado, fomos obrigados a fazer uma grande manifestação. Fizemos outra grande manifestação para rever a questão de interesse social e utilidade pública e fizemos outras. Fizemos uma em 85 dentro da própria barragem alertando a CHESF que se não fizesse o reassentamento dos trabalhadores iríamos ter que partir para coisas mais sérias. A CHESF não fez nada, a verdade é essa e nós tivemos que paralisar a obra em dezembro de 86. A partir daí, o que não foi feito em 10 anos passou a ser feito dentro de 1 ano. As condições nas agrovilas não é aquela desejada e nem aquela que o movimento defende, então a Chesf encheu o lago um pouco precipitada, a verdade é essa e a gente não quer que os trabalhadores fiquem nas áreas 2 ou 3 anos sem produzir, pois é ruim para eles, é ruim para nós e é ruim para toda a nação.” Relatou ele para a TV Viva em 1990.
Na época, o Polo Sindical passou a pressionar a empresa estatal responsável pela barragem no sentido da obtenção de reassentamento com irrigação para a população deslocada, e ao longo dos anos realizaram manifestações públicas como ocupação de escritórios estatais e canteiro de obras (manifestações que reuniram mais de 5 mil camponeses) e passeatas, petições, seminários, enfrentamentos e lutas relacionadas aos efeitos sociais e ambientais da barragem.
Na sua vida como militante e político ocupou por vários anos a pasta de Secretário de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras de Pernambuco – FETAPE, concorreu ao pleito a prefeito por duas vezes em Jatobá, também em Petrolândia, foi vereador em Jatobá e Secretário Municipal de Agricultura.
Ao longo de sua trajetória participou de diversas frentes de luta ao lado do povo trabalhador, enfrentou mobilizações, sempre com o objetivo de fissurar a estrutura de um sistema que reproduz desigualdades. Para muitos, é uma lenda na luta popular da história do Submédio do São Francisco, pois sempre esteve à frente das lutas sociais em prol dos trabalhadores rurais dos municípios de Petrolândia, Jatobá e região.
Alguns homens já nascem póstumos e a melhor maneira de elogiá-lo é manter viva a luta popular!
ERALDO, PRESENTE!”
Eraldo José de Souza
05.06.1950
15.05.2019
Por Hélder Souza 25/09/2020
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