P/1 - Queria começar a entrevista com o senhor dizendo para gente o nome completo a data e o local de nascimento?
R- Meu nome é Carlos Augusto Parisi, nasci em Poços de Caldas em 20 de agosto de 1936.
P/1 – E o nome de seus pais?
R- Meu pai chamava-se Pedro Parisi e minha mãe Laura Stein Parisi.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Meu pai era funcionário público. Trabalhava na Secretaria de Turismo de Poços de Caldas e chegou a ocupar o cargo lá de chefe de serviços de Fazenda; minha mãe era do lar mas depois de certa idade ela começou a trabalhar no serviço de meteorologia de Poços de Caldas. Fez parte da estação meteorológica que controlava a temperatura, umidade do ar, direção dos ventos e que era tudo informado pelo Serviço Nacional Meteorológico que era no Rio de Janeiro e depois passou para Brasília. Eles criam então o Mapa do Tempo no Brasil naquela época. Agora por satélite estas coisas perderam um pouco a importância, mas na época era um trabalho muito interessante eram leituras diárias, três vezes por dia, aliás, ela fazia isso religiosamente.
P/1 – Como é que ela resolveu trabalhar?
R - A gente tinha uma vizinha lá de casa que trabalhava no serviço d e meteorologia e quando ela ia se aposentar ela... O pessoal pediu pra ela arrumar alguém que pudesse substituí-la e ela perguntou se ela queria e aí ela topou. O pessoal lá do serviço achou interessante e ela foi pra Belo Horizonte fez um curso e voltou trabalhou lá 20 e poucos anos até se aposentar.
P/1 – Ela era uma dona de casa e mais ou menos em que ano acontece isso?
R – Isso foi de 1950 mais ou menos e ficou até início dos anos 80 que ela trabalhou lá.
P/1 - E você lembra de seu pai, ele encarou bem?
R – Não, meu pai achou ótimo porque minha mãe sempre gostava de fazer as coisas pra fora ela costurava roupa pras irmãs dela, costurava fazia roupa pra gente ela sempre arrumava um jeitinho de ganhar...
Continuar leituraP/1 - Queria começar a entrevista com o senhor dizendo para gente o nome completo a data e o local de nascimento?
R- Meu nome é Carlos Augusto Parisi, nasci em Poços de Caldas em 20 de agosto de 1936.
P/1 – E o nome de seus pais?
R- Meu pai chamava-se Pedro Parisi e minha mãe Laura Stein Parisi.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Meu pai era funcionário público. Trabalhava na Secretaria de Turismo de Poços de Caldas e chegou a ocupar o cargo lá de chefe de serviços de Fazenda; minha mãe era do lar mas depois de certa idade ela começou a trabalhar no serviço de meteorologia de Poços de Caldas. Fez parte da estação meteorológica que controlava a temperatura, umidade do ar, direção dos ventos e que era tudo informado pelo Serviço Nacional Meteorológico que era no Rio de Janeiro e depois passou para Brasília. Eles criam então o Mapa do Tempo no Brasil naquela época. Agora por satélite estas coisas perderam um pouco a importância, mas na época era um trabalho muito interessante eram leituras diárias, três vezes por dia, aliás, ela fazia isso religiosamente.
P/1 – Como é que ela resolveu trabalhar?
R - A gente tinha uma vizinha lá de casa que trabalhava no serviço d e meteorologia e quando ela ia se aposentar ela... O pessoal pediu pra ela arrumar alguém que pudesse substituí-la e ela perguntou se ela queria e aí ela topou. O pessoal lá do serviço achou interessante e ela foi pra Belo Horizonte fez um curso e voltou trabalhou lá 20 e poucos anos até se aposentar.
P/1 – Ela era uma dona de casa e mais ou menos em que ano acontece isso?
R – Isso foi de 1950 mais ou menos e ficou até início dos anos 80 que ela trabalhou lá.
P/1 - E você lembra de seu pai, ele encarou bem?
R – Não, meu pai achou ótimo porque minha mãe sempre gostava de fazer as coisas pra fora ela costurava roupa pras irmãs dela, costurava fazia roupa pra gente ela sempre arrumava um jeitinho de ganhar um dinheirinho. Fazia bolinhos pra vender na padaria e ela sempre administrava aquele dinheirinho que ela tinha, ela sempre gostou dessas atividades. De uma maneira foi bom pra ela porque depois ela se aposentou também e além da pensão do meu pai, ela tinha a aposentadoria dela e tinha uma velhice mais tranqüila.
P/1 – Esse Parisi é italiano?
R – É italiano da Calábria.
P/1 – De quem é, do avô?
R – É do meu avô. Meu avô veio da Itália e meu pai já nasceu aqui no Brasil, em São José do Rio Pardo. Até quando fui tirar minha cidadania italiana eu pesquisei toda a origem da família. E foi muito difícil conseguir a certidão de nascimento de meu avô. Porque ele nasceu em 1856 e naquele tempo não existia cartório, o pessoal era registrado nas paróquias. E aí nós pesquisamos e pesquisamos e não conseguimos; e aí tem um primo meu que trabalha no consulado e descobriu todas as paróquias que existiam lá em volta de Pizzo na Calábria, lugar em que ele nasceu, e então eu mandei essas cartas todas para lá e dali 10 dias chegou a resposta dizendo que ele tinha nascido em Francesco Domenico Parisi, tinha nascido em tal ano e daí eu consegui tirar a cidadania italiana.
P/1 – E sua mãe é Stein, alemã?
R – É Stein, filha de alemães, meus bisavós e meu avô vieram de Hamburgo. E a minha outra avó que era alemã também veio de Breslau hoje é Polônia. Naquele tempo era Alemanha e aí se casaram aqui no Brasil.
P/1 – E você tem irmãos, Carlos?
R - Tenho um irmão mais velho que eu que já é falecido há um ano e meio e tenho uma irmã dois anos mais nova que eu que mora lá em Poços de Caldas.
P/1 – Vocês todos se criaram lá em Poços de caldas?
R – Foi. Meu irmão veio para São Paulo estudou e trabalhou aqui. Eu trabalhei em Poços de Caldas dois e depois vim pra São Paulo e aqui mais dois anos em banco até fazer a faculdade. Depois da faculdade eu fui por nordeste trabalhar com petróleo, Petrobrás fui lá para aquelas bacias petrolíferas lá de Sergipe, Alagoas. E aí, depois em 68 que voltei pra Poços de Caldas e arrumei trabalho como geólago na CBA.
P/1 – Mas todo ensino básico você fez em Poços de Caldas?
R – Foi. Poços de Caldas era uma cidade tranqüila naquela época com 20 mil habitantes. Era uma estação de turismo, uma das mais famosas da América do Sul e tinha aquelas águas termais para tratamento de pele, doenças e reumatismo e esses negócios todos. E foi uma estância turística importante porque na época que antecedeu a primeira guerra mundial, 1930, mais ou menos. Tinham jogos, cassinos então se formaram cassinos fantásticos lá, vinham artistas do mundo inteiro. Lamarque dos americanos e vinha muita gente lá e Poços de Caldas girava em torno desse tipo de turismo, das águas termais e dos cassinos. Aí quando acabou a guerra em 1945 o presidente na época, o Dutra, ele fechou todos os cassinos e então foi um golpe muito grande para cidade Poços de Caldas perdeu a maior parte da renda, fechada os cassinos, ficou muita gente desempregado, e a maior renda da cidade diminuiu, mas se prolongou o ritmo do turismo até o final dos anos 70, mas depois o turismo começou a cair também. Mas aí a Poços de Caldas começou a desenvolver a parte de mineração. A ALCOA trouxe uma fábrica de alumínio lá que trouxe um desenvolvimento grande para cidade não só na de emprego, mas também de renda pra cidade também. A CBA começou a mineração lá em 1950 e poucos, e outras empresas de mineração, de artigo refratário, cerâmica Toli, Emb Alibaba, tudo isso aí Poços de Caldas desenvolveu neste sentido de estabilização, indústria e continuando com o turismo. Hoje em dia o turismo já perdeu a importância, mas ali se tornou um centro comercial muito grande naquela região, tem ainda uma parte turística que ainda funciona.
P/1 – Você lembra dos cassinos? Como é que eram na cidade?
R – Lembro, eu ainda era pequeno naquela época mas Poços de Caldas... não eram um desses cassinos que se vê em Las Vegas, não é aquele padrão, naturalmente. Mas para a época eram cassinos muito grandes, muito bonitos e até hoje tem lá esses cassinos... aqueles lustres e o pessoal ia muito chique para esses cassinos, tudo de terno, gravatas, smoking, as mulheres com aqueles vestidos... tudo muito requintado mesmo. E interessante é que lá no cassino você tomava bebidas de graça tinha sanduíches e refeições de graça e tudo mais. Isso criou também um ambiente em Poços de Caldas que todo mundo quer e pros clubes e ir para as festas, mas ninguém quer gastar nada. Porque criou-se uma cultura de que para freqüentar esses bons locais não precisava pagar nada era só se vestir e ir lá. Então hoje em dia você tem clube em Poços de Caldas e ninguém quer. Acha um absurdo pagar mensalidade de clube. É uma coisa que me marcou e que lembro de tudo isso até hoje.
P/1 – E essa história de que Lua de Mel tem que ser em Poços de Caldas?
R – É, Poços de Caldas era na época uma cidade que tinha um clima muito bom, muito agradável. Inverno, mês de maio mês das noivas, todo mundo casava e ia pra Poços de Caldas passar frio e passar lua de mel. Tinham hotéis, hotéis não muito caros e aqueles passeios tradicionais da cidade. Subia no Cristo, ia lá no véu das noivas, nas cachoeiras um ambiente gostoso e o pessoal ia para lá. Até agora o pessoal fala: “ah, você é de Poços de Caldas... ah, eu passei…”, hoje em dia não já fala a meu pai passou, daqui a pouco vão falar meu avô, meu avô passou a Lua de mel lá. Mas era impressionante porque chegava mês de maio você passava nas ruas aqueles bandos de casaizinhos que acabavam ficando lá mesmo no mesmo hotel. Era muito interessante.
P/1 – Tem uma história de um ônibus?
R - É tem uma história interessante: uma vez eu vim pra São Paulo estudar eu fazia cursinho aqui e trabalha no Citibank. Então naquele tempo o banco trabalhava até sábado de manhã e eu saí do banco e fui correndo para o ponto de ônibus na esquina da Av São João e cheguei lá e fui comprar minha passagem, o motorista falou: “olha só tem uma última passagem…”, e eu: "bem, vou chegar em Poços de Caldas" entrei no ônibus tinha acho que 21 ou 22 casais, cada banco tinha um casal, em lua de mel e no último banco que era de cinco lugares tinha um à direita e outro à esquerda e eu sentei no meio ali e fui à viagem inteira escutando ali o burburinho de recém-casados... Podem imaginar (risadas)...
P/1 – Ainda mais nesta quantidade...Nesta época quantas horas levava de São Paulo a Poços?
R – Demorava quase seis horas, as estradas eram... Só tinha asfalto de São Paulo a Campinas e tava começando o asfalto de Campinas para Mogi Mirim e dali pra frente era só estrada de terra. Naqueles ônibus que dificilmente não quebrava na viagem, era difícil uma viagem que não furava um pneu, que o ônibus não quebrava, mais ou menos seis horas... Era uma viagem.
P/1 - Carlos, quando é que você lembra assim de ter resolvido estudar Geologia?
R – Quando eu tava fazendo o curso científico eu pensei bom eu vou ter que sair de Poços de Caldas, fazer uma faculdade e com o curso científico seria uma base boa pra poder fazer vestibular, mas não tem uma base boa pra poder arrumar um emprego, digamos assim. Aí, eu e um colega eu resolvemos: “porque que a gente não faz um curso de contabilidade?”, na época, então nós resolvemos fazer, a gente tinha terminado o primeiro científico e entramos no segundo científico e o curso de contabilidade à noite, durante o dia o cursinho, de manhã, e durante a tarde ia trabalhar na padaria para poder pagar o curso de contabilidade à noite. Aí fiz o segundo científico e o primeiro de contabilidade e terceiro científico e o segundo ano e aí quando eu terminei o tiro de guerra, com 19 anos, eu terminei a contabilidade. Aí me formei e comecei a trabalhar num emprego num banco lá em Poços de Caldas, num banco no BMP – Banco Mineiro da Produção, na época. E foi passando o tempo e eu: “o que que eu vou fazer? O que eu vou estudar? Como é que vou para São Paulo?”. Eu não gostava de medicina, não gostava de advocacia, para engenharia eu era muito ruim de matemática. Ciências econômicas, nem pensar... Eu gostaria de estudar agronomia, mas meu pai não tinha fazenda né, como é que eu ia...? E eu ia vender adubo depois? Aí um dia meu irmão que já estudava em São Paulo tava lendo o jornal e ele viu um anúncio assim: “Olha foi fundado em São Paulo o Curso de Geologia. A profissão de geólogo é muito interessante porque trabalha no campo pesquisa de minérios, fósseis, petróleo e tudo mais"; Ah, aí deu aquele "clim" na minha cabeça, aquele sininho e aí eu disse: “ah, é isso aí que eu quero ser, topografia e tudo mais!”. Aí procurei me inteirar do curso e este curso tinha sido aberto aqui na USP com 40 vagas, em Ouro Preto e lá no Rio Grande do Sul, e lá em Porto Alegre e peguei e verifiquei que aquela bolsa também dava bolsa de estudos, para 10 alunos, só que você tinha que passar entre os 10 primeiros. Aí eu pedi transferência do Banco, vim pra São Paulo e comecei a fazer cursinho. Como a transferência do Banco estava demorando eu fiz um teste no Citibank, entrei e comecei a trabalhar no Citibank, trabalhei dois anos ali na esquina da Av Ipiranga com a São João e fiquei fazendo cursinho. O primeiro vestibular que eu fiz levei o maior pau, levei bomba em matemática, física e química. Nas outras matérias todas passei. História natural, botânica, geologia e botânica eu passei, que eu gostava... No segundo ano eu entrei no cursinho de novo pra fazer só estas três matérias: Física, química e matemática, e fiz um calendário de estudos pras outras matérias. Aí um mês antes do vestibular eu tirei férias e fiquei enfiado na biblioteca do centro de São Paulo estudando o dia inteiro e quando eu fiz o vestibular naquele ano eles tinham diminuído o número de vagas de 40 para 30 e o número de bolsa para os oito primeiros alunos e aí disse: “e tá danado!” Mas aí passei e peguei o oitavo lugar. Peguei a última bolsa e fiquei feliz da vida. Pedi demissão do Banco, rasparam a minha cabeça e comecei a estudar. Mas o interessante é que no Cursinho um colega meu o Sidney, ele era muito inteligente e ele era meio esquerdista. Naquela época isso era muito comum pessoal de esquerda... E ele tinha prestado vestibular e levado bomba no vestibular e ele foi lá e reclamou e pediu revisão de provas, foi feita a revisão de provas e viram que tinham se enganado realmente. Ele tinha passado no vestibular em sexto lugar e aí eu passei para o nono lugar e perdi a bolsa. Aí pode imaginar meu desespero... Careca, sem emprego, tendo de pagar pensão, a faculdade não pagava que a USP era de graça. Aí me deu aquele desespero, mas meu irmão, que também sempre lia jornal, disse o Jockey Club está dando bolsa de estudos para alunos pobres. Meu pai não podia pagar nada para mim e aí eu fui lá no Jockey Club e pedi a bolsa: “ah vou estudar e tal e esqueci aquilo lá…”. E aí já tava acabando o resto do dinheirinho que eu tinha juntado do tempo de banco e aí chegou a notícia de que a Petrobrás tinha resolvido dar 10 bolsas de estudo para geologia que a Petrobrás estava precisando muito de geólogos para substituir os geólogos americanos que trabalhavam na Petrobrás e aí eu peguei a bolsa da Petrobrás e fui ficando feliz e quando foi chegando o mês de junho o dinheiro da Petrobrás dava para pagar a pensão que eu morava, mas não dava para pagar alimentação. Em junho eu estava a zero, mas eu ia pra Poços de Caldas em julho eram as primeiras férias que eu tirava na minha vida e lá em casa eu não preciso gastar dinheiro. Aí recebi um telefonema do Jockey Club me chamando lá e aí eu falei: “ih que será que aconteceu? Será que o pessoal viu que eu to recebendo bolsas de estudo e vão me dar uma bronca porque eu não comuniquei nada eles lá que era para cancelar aquele meu pedido?”. E aí fui lá morrendo de medo, lá no Jockey Clube, e aí cheguei lá a moça falou: “Ah, sr. Carlos Parisi o senhor, por favor, se dirija ao caixa”. Cheguei no caixa e o cara falou o senhor tem uma bolsa de estudo aqui pra receber... Era quatro mil cruzeiros deviam ser quatro mil drácunas ou quatro mil sestércios (Risos) naquela década de 50, aí falei quatro mil reais que bom, ele falou só que são 24 mil cruzeiros por que são retroativos a janeiro... Aí eu saio de lá dando pulo dessa altura. Aí fiz o curso de Geologia com duas bolsas, o pessoal me chamava de milionário, aí foi todo mundo pedir bolsa no Jockey, mas elas já tinham esgotado (risos). Isso em 58 foi em 1960... Que em 58 eu vim para São Paulo e fiz dois anos de cursinho e na faculdade foi 1960 eu acho... Me formei em 66... Vim com 21 anos... Levei dois anos entre faculdade e cursinho entrei na faculdade com 23 anos, entrei bem velho, era um dos mais velhos da turma e me formei com 27 anos.
P/1 - E esse impacto dessa mudança de Poços de Caldas para São Paulo nessa época?
R – Ah, foi... Naquela época a gente era novo e não tinha muito essa questão de adaptar numa cidade e noutra e tudo mais etc... O que mais me impressionou foi o nível cultural. Eu fui para um cursinho era um cursinho Netuno na época e eu ficava encantado com as aulas lá de biologia, zoologia... Eu tinha que fazer um cursinho de medicina, porque não tinha cursinho específico pra Geologia. Você fazia aulas de zoologia, biologia, botânica num cursinho de medicina e você fazia as matérias física química e matemática num cursinho de engenharia, e então lá abriu um horizonte assim que você não tinha no interior... Aquelas aulas fantásticas, professores muito bons foi uma mudança fantástica... Nos dois primeiros anos foi muito difícil, porque você trabalhando no banco fazendo cursinho e tudo... Foi ficando mais difícil, um pouco... Mas o pessoal do banco era um pessoal simpático, agradável e lá no Citibank, depois que eu entrei na faculdade mudou completamente... a vida.
P/1 – E o curso que matérias tinha? E quanto tempo tem e quais as matérias destes cursos de
Geologia?
R – Geologia são quatro anos.
P/1 – E já era este tempo?
R – Já era de quatro anos, tinha todos os cursos de geologia do Brasil, geologia regional, tinha topografia, mineralogia. Você tinha aquela parte de paleontologia que era muito interessante estudar o estudo dos fósseis e origens da vida. O curso foi fantástico e um curso que fazia ir lá você não via o tempo passar, curso de muitas excursões que eram cursos essencialmente práticos.Fim de semana você saía pra ver pedreiras, ver poços de minerais; nas férias você fazia estágio na Petrobrás, nas fábricas de cimento e depois visitava aquelas minas de chumbo lá no Paraná e de calcário e então foi um curso fascinante e fim de semana tinha as excursões. Integral, manhã e tarde e final de semana suas excursões. Pegava sua mochilinha, seu sanduichinho e quando eu saia assim de sábado de manhã ou domingo de manhã da pensão, seis horas da manhã o rapaz já me via assim passa lá naquela padaria, que tem até hoje Padaria Javali, e falava: “solta um peito de peru para viagem”. E quando eu chegava já estava o meu sanduíche de mortadela embrulhadinho e era nosso almoço, no campo.
P/1 – E os professores?
R – Os professores da faculdade a maior parte, metade deles pelo menos eram estrangeiros, tinha um italiano que dava aerofotogrametria, tinha um americano que dava estatística cultural e outro zoologia econômica e tinha um sueco. Eram quase todos estrangeiros inclusive a gente tinha que ter aulas de inglês na faculdade para poder acompanhar as aulas. A maior dificuldade era os livros porque a gente não tinha os livros de hoje no Brasil. Hoje todo mundo tem. Naquele tempo os livros mais práticos para a gente eram os livros em espanhol os mais práticos eram os em espanhol “Geologia Econômica.” Então tinha que estudar espanhol também, muitos em inglês, mas era um curso muito bom.
P/1 – A tua foi a terceira turma?
R – A minha acho que foi a Quarta turma de Geologia. 1960 formou a primeira, quando eu entrei na faculdade a primeira turma estava terminando.
P/1 – Você acha que essa simultaneidade na criação desses cursos de Geologia em determinado momento tem a ver com o momento da indústria no país?
R - Justamente, coincidiu com o despertar da Petrobrás pra pesquisa do petróleo no país e foi um grande incentivador destes cursos foi isso. A Vale do Rio Doce estava começando e existia um clima de justamente criar o, foi no Juscelino Kubitschek de criar o desenvolvimento do país, mas pra isso precisava de profissionais em todas as áreas. Engenharia, Geologia, Engenharia de Minas e houve este incentivo e um desses incentivos foi justamente às bolsas de estudo – graças a ela me formei - criaram para estimular o pessoal a fazer a Geologia o curso de Geologia. E a Petrobrás ela estava realmente com um programa muito grande de pesquisas de petróleo. Porque o Brasil era totalmente dependente do petróleo estrangeiro, petróleo externo e com isso nós entramos na Petrobrás e passamos a furar áreas, eu fui trabalhar na bacia de Sergipe e Alagoas e descobrimos um campo de petróleo muito grande em Carmópolis. Trabalhei quatro anos lá e depois verificou-se que as áreas terrestres de nossas baías eram muito antigas e as possibilidades de ter petróleo eram pequenas. E isso é verdade, tanto que o Brasil hoje em dia quase noventa por cento do petróleo que a gente produz é da plataforma continental. Logo depois que eu saí da Petrobrás começou-se essas pesquisas de procurar petróleo em águas profundas. Não tão profundas na época, mas hoje em dia são muito profundas e o Brasil criou um know-how de tecnologia muito avançada para isso. E hoje é um pioneiro para o país do mundo todo, junto com a Noruega.
P/1 - Agora Carlos, você terminando a faculdade você já foi direto para a Petrobrás por causa da bolsa, tinha alguma relação?
R – É. Quando a Petrobrás nos dava lá aquela bolsa você assinava um compromisso não um compromisso de fato, mas quase que moral de ir trabalhar na Petrobrás depois de formado. E naturalmente a gente respondeu pela bolsa e quis corresponder a confiança de trabalhar na Petrobrás.
P/1 – E ganhava bem um Geólogo?
R – Hoje em dia as coisas mudaram, mas naquela época que a gente estava se formando o pessoal da Vargas, Petrobrás e dessas empresas iam lá caçar a gente a laço e era aquela briga e então todo mundo já saia empregado e a Petrobrás era uma estatal e ela pagava muito bem. A gente podia entrar lá ganhando seu salarinho alto e logo já podia comprar sua casinha e seu carrinho e tudo mais. Mas logo em seguida, me formei em 63, a Revolução foi em março de 64, três, quatro meses depois que entrei na Petrobras ocorreu a revolução e esses sindicatos todos, foram todos extintos e existiam nas estatais também foram colocados sobre controle. Então aqueles salários que vinham aumentando constantemente sobre pressão dos sindicatos e tudo mais houve um achatamento salarial tanto que depois de quatro anos de Petrobrás, todo mundo lá já tava desanimado e muita gente saiu de Petrobrás por causa e baixo salário e inclusive eu.
P/1 – Durante quatro anos você ficou lá dentro?
R- Fiquei quatro anos trabalhando lá dentro.
P/1 - Como é que começa uma pesquisa sobre Petróleo, por exemplo?
R – Primeiro você tem essas pesquisas indiretas que a gente chama de geofísica, gravimetria, porque o Petróleo só ocorre em bacias sedimentares locais em que foram oceanos há milhões de anos atrás, criaram as camadas de rochas, camadas porosas, camadas impermeáveis, camadas porosas formando aquelas armadilhas onde o Petróleo se formava por deposição daqueles organismos marinhos que existiam nesses antigos oceanos e foram se transformando em Petróleo e se acumulando nessas rochas sedimentares porosas. Que eram capeadas por rochas impermeáveis e formaram se estruturas, dobramentos onde o petróleo ia subindo e ficava preso ali ou então em fraturas onde tinha uma camada porosa fechada por uma camada impermeável. Então o trabalho da geofísica, da gravimetria estes métodos indiretos era justamente procurar detectar onde se existiam estas estruturas porque o mais caro da pesquisa de petróleo é a perfuração. Então se você for perfurando a esmo, tuas chances de acertar eram muito pequenas e eram furos profundos de 800 mil metros e na plataforma continental chegam a quatro, cinco milímetros de profundidade e então se você tiver uma indicação da geofísica dos métodos indiretos aumenta muito a chance de acertar. Este campo de Carmópolis naquela época, em 64, foi definido pela geofísica. Eles definiram lá uma calota de 40 ou 50 km de diâmetro e nós fizemos o primeiro furo lá e achou petróleo e depois foi feito um segundo furo mais ao norte confirmou petróleo e depois chamaram para fazer um furo bem a oeste, e para ver se a calota se estendia naquela região que a geofísica indicava,e um ao sul para ver se a estrutura terminava ali. Neste furo que foi feito ao sul realmente não achou petróleo, quer dizer a estrutura estava bem definida e este posto que fizemos a oeste achou petróleo confirmando então. É um dos maiores campos de petróleo da época. Um petróleo assim bem escuro, asfáltico, inclusive ele hoje é exportado por que nossas refinarias não conseguem processar e é trocado por petróleo que é mais fácil de processar e gera mais gasolina e óleo diesel, que é o que mais interessa para o país, para nossa frota de veículos. Esse posto que nós fizemos lá à oeste de Carmópolis e interessante porque ele encontrou sal-gema primeiro. Foi até muito engraçado porque o químico de perfuração que faz a lama de petróleo usado para perfurar chegou e falou: “oh, a lama está estranha, ficou esquisito, talhou tudo…”, nós fomos lá ver o geólogo mais experiente, mais velho que a gente: pegou, colocou o dedo na lama e pôs na boca e falou: “é tá salgado para burro! nós pegamos sal-gema! Trata de transformar essa lama a base de sal senão nós vamos criar uma caverna lá embaixo e vamos perder este posto!”. E sempre tem todas sondas tem uma grande quantidade de sal, e aí e transformar a base de sal e aí você usa, tirar em vez de você roer a rocha e triturar ela, usa, tira o que eles chamam de testemunho; e você desce com uma broca com parte cortante na beirada e corta e elas retiram um testemunho, cilindro da rocha que você está perfurando e nós pedimos para tirar o testemunho desta camada de sal. E eu lembro que era mês de maio e chegou o testemunho era onze horas da noite e nós fomos lá para plataforma para sonda e saiu um testemunho assim de um metro mais ou menos verde, vermelho e azul uma coisa linda muito bonito…: “E que diabo de sal é esse?”. Mas era de noite e falamos: “vamos deixar aqui no lado da casinha do Geólogo e amanhã cedinho à luz do dia a gente analisa”. E fomos dormir. Noutro dia cedo chegamos, fomos tomar café e cadê o testemunho? sumiu o testemunho!. Falamos: “puxa... quem será que roubou este testemunho?”. No interior de Sergipe, sertão desgraçado. Só tinha nós. Tinha a gente lá quem será este sacana que foi lá e roubou este testemunho? Fomos lá e falamos com o sondador, com o pusher e ninguém sabia. E mais tarde voltamos ao local e vimos que tinha umas estruturas meio avermelhadas e percebemos que talvez ele tivesse derretido e aí soubemos que este sal é tão hidroscópico que ele derreteu com a umidade... Mês de maio é mês úmido lá em Sergipe, deve ter derretido com a umidade do ar. E fomos lá e tiramos outros testemunhos e tiramos, e aí como fazer pra ele não derreter? Aí um lá inventou, “vamos enrolar ele em parafina e mandamos para lá do Rio de Janeiro analisar naquele laboratório do S. Abreu, DNPM – Departamento Nacional de Proteção Mineral”. Aí fizemos isso, enrolamos em parafina enviamos para o Rio e veio a análise sal de potássio. Primeiro depósito de sal de potássio encontrado no Brasil. Potássio riquíssimo e o pessoal da Petrobrás, ficaram loucos e começamos a fazer testemunhagem para determinar o tamanho dessa jazida, que era imensa e hoje é uma grande mina de potássio em Sergipe que fornece adubo para todo o Brasil. Até uma vez escrevi um artigo para a revista Brasil Mineral “O roubo do Testemunho” que não foi roubo coisa nenhuma o testemunho só derreteu, só isso.
P/1 – E os equipamentos? Todos importados neste período?
R – Todos importados. Na época inclusive compramos cinco sondas da Romênia para desenvolver campo de Carmópolis, que tinha que fazer uma quantidade muito grande de furos para desenvolver o campo e produzir petróleo. E contratamos uma equipe do Texas para explorar essas sondas, mecânicos e sondadores e a gente fazia a parte de geologia e tudo mais. E eram uns texanos muito grandes e eles ficavam o dia inteiro naquela sonda lá aquele barulho de motor, aquele charuto no canto da boca. E você ia lá de noite na madrugada conversar com eles, imagine para quem tinha feito curso de inglês de faculdade, você não entendia nada do que eles estavam falando, falando inglês do Texas, charuto na boca e o barulho do motor... Uma fase interessante...
P/1 – Esse equipamento da Romênia, veio um técnico para montar?
R – Eles vieram, os romenos vieram pra montar; eram sondas montadas em cima dos caminhões e então elas tinham deslocamento muito rápido. Esses Romenos ficaram meses lá com a gente lá em Carmópolis, botaram as sondas e fizeram os primeiros furos pra gente aprender a operar com elas.
P/1 – O seu relacionamento era bom com os estrangeiros?
R – Bom, muito bom. Todo mundo gosta do Brasil. O pessoal principalmente o pessoal que vem lá daqueles países do leste europeu, dos romenos, muito bacana. Eles adoravam o Brasil. Ainda mais o nordeste lá, praias boas ali.
P/1 – Daí você ficou quatro anos e saiu?
R – É, saí e vim para o sul pra procurar emprego aqui, e meu pai já tinha falecido, já tinha nascido meu segundo filho e o salário da Petrobrás estava muito ruim. E eu resolvi vir ficar mais perto de casa e de minha mãe e aí arrumei emprego na CBA lá em poços de Caldas, de uma maneira muito interessante que foi num velório (risos). Esta história é muito interessante. Esta história é muito engraçada, porque quando eu estudava em são Paulo e fazia faculdade; tinha um rapaz lá Poços de Caldas que se mudou pra mesma pensão que eu e depois alugamos um apartamento que era com quatro rapazes lá de Poços de Caldas. A gente estudava junto e esse rapaz fazia engenharia e o pai dele trabalhava na CBA, senhor Jonofre, ficou muito amigo meu e eu tava lá em Poços de Caldas um fim de semana e o pai desse senhor, era um senhor já bem de idade 94 anos morreu, avô desse rapaz e pai desse senhor que trabalhava na CBA. Eu fui no velório, estava sentadinho lá com minha esposa e senhor Jonofre veio conversar com a gente e tudo o mais e ele falou: “onde você tá trabalhando?”, aí eu falei: “ah eu estava lá na Petrobrás, mas agora eu pedi demissão e voltei para o Sul procura emprego, mas tá difícil…”; ele falou: “a que engraçado, a CBA está precisando de um Geólogo. O Dr. Miguel de Carvalho Dias que era o vice-presidente que trabalhava aqui em São Paulo está procurando de um geólogo, porque você não vai lá conversar com ele?’; eu falei: “eu vou sim…” e aí fui pra São Paulo e arrumei emprego. Mas foi num velório que arrumei emprego.
P/1 – Você casou quando você tava trabalhando nesse emprego.
R - Depois que eu comecei trabalhar na Petrobrás eu corri e juntei lá o salário dos primeiros nove e meses e quando deu o total de dinheiro para comprar os móveis eu voltei correndo e casei. Eu voltei pra Poços de Caldas, casei e depois levei minha esposa, coitadinha, para Maceió. Dureza, viu? E depois Aracajú, dois anos. E o nordeste naquela época imagina... Não tinha nada, não tinha hotéis, não tinha nad. Uma região muito pobre e você fazia feira lá e tinha caranguejo tinha aquelas coisas todas que fazia parte da dieta do nordeste, não achava verduras então a gente acostumada com o sul naquele tipo de alimentação, foi triste.
P/1 - Sua esposa era de Poços de Caldas também?
R – Ela nasceu em São João da Boa Vista, mas mudou-se cedo para Poços de Caldas. Meu sogro, ele tinha uma fábrica sabonete lá em poços de Caldas e ela se mudou pra lá quando ela tinha treze anos. Comecei namorar ela quando ela tinha 18 anos, qualquer coisa assim.
P/1 – E aí você veio para São Paulo, com quem que você foi conversar?
R – Vim pra São Paulo para conversar com o Dr. Miguel de Carvalho Dias, que é nosso vice-presidente e ele realmente estava precisando de um geólogo e me contratou. Já pensou, eu, geólogo, trabalhando em Poços de Caldas era um paraíso e todos os meus colegas morriam de inveja porque eu tinha colega meu trabalhando em Rondônia, no Amazonas, no Amapá, Sergipe para todo lado.
P/1 - Não tinha geólogo quando você foi contratado, você foi o primeiro?
R – Eu fui o primeiro geólogo. Eles tinham lá um feitor um senhor, senhor Friso, Antônio Friso Mendonça, uma pessoa fantástica, tinha pouca cultura, mas uma pessoa altamente inteligente, sabia tudo de bauxita altamente inteligente e ele fazia esta parte. O sr. Joanofre, este que eu lhe falei era gerente administrativo e o sr. Friso era da mineração, e então eu tive uma convivência muito boa com ele. Ele olhava meio desconfiado, assim: “chegar um cara para me substituir quem que é esse cara?”. Mas não, logo fiz amizade com ele trabalhamos muitos anos juntos em pesquisa e rodamos o Brasil todo atrás de bauxita de novo e trabalhou lá até morrer. Aprendi muito... muita lição de vida com ele.
P/1 – Como era a CBA naquela época?
R – Então, a CBA era em Poços de Caldas só que era de mineração. Ela tinha 50 funcionários e a maior parte morava numa vila lá. Tinha uma vila lá na CBA. A maior parte morava lá. Eu morava em dois ou três funcionários na cidade. Só que iam de caminhão. A gente tinha lá meia dúzia de caminhão para dar produção, naquela época a gente tinha meia dúzia de caminhão para dar a produção e naquela época a gente produzia oitenta mil toneladas de bauxita por ano; hoje a gente produz isso em 10 ou 12 dias. Hoje a nossa produção é de dois milhões e seiscentos mil toneladas por ano, era produção pequena, a gente tinha lá uma escavadeira... uma meia dúzia de caminhão e era suficiente para dar nossa produção... tinha um lavador de todo mineral lavado e a produção nossa era relativamente pequena e tranqüila... Não tinha meio ambiente...Não tinha nada, era bem mais fácil trabalhar; E aí eu fiquei três anos na CBA trabalhando o período do mais interessante da minha vida na CBA, que era sondagem a trato, furo de pesquisa para cubar todas as jazidas que a gente tinha na região porque em cima do trabalho que eu já tinha feito na época. Porque eles não tinham geólogo e eu fui o primeiro geólogo como falei, então foram três anos de campo, nós ia cedinho para o campo com um sanduíche e não tinha celular, não tinha nada, então era tranqüilo trabalhava-se muito, mas um trabalho interessante; trabalhando faziam os mapas da CBA. E naquele tempo tinha departamento de geologia, aqui em São Paulo, do dr. Branquinho ele trabalhava na CBA, dois anos antes de eu começar e me deu um ao apoio muito grande, e toda essa parte de processamento, tudo eles faziam aqui e uma parte lá em Poços de Caldas. Não tinha laboratório, tinha laboratório aqui, mas e outras partes tinham que se ser lá em Poços de caldas. Não tinha laboratório, precisei criar um laboratório que depois fiquei na fábrica lá uns quinze dias com o pessoal de analista e comecei a fazer as análises de minério.
P1 – Então, mudou muito, porque você vinha de um tempo de pesquisa de petróleo, muda muito...
R – Muda muito, totalmente porque eu trabalhava com petróleo que são jazidas subterrâneas, jazidas de centenas de metros e você vai trabalhar com jazidas a flor da terra, que são jazidas sem cobertura nenhuma, sem nada a ver com petróleo; coisa completamente diferente. Mas como eu estava explicando para Judith, quando a gente estava fazendo o curso de geologia era um curso assim bastante amplo e bastante abrangente e nunca fazia uma especialização em determinada matéria. E como o pessoal que estava formando era o pessoal que estava sendo preparado pra suprir as necessidades em todos os campos... pesquisa de petróleo, geologia de barragens mineração, águas subterrâneas e tudo o mais, você não podia ter um curso voltado para uma determinada matéria específica... Você formava em geologia em amplitude grande depois você ia trabalhar e tentar desenvolver aquela sua geologia naquela empresa.
P1 – Em termos de procedimentos e de normas, você teve que estabelecer tudo lá na CBA de Poços de Caldas?
R – Tudo. Tudo, porque o pessoal naquela época fazia... como eram números pequenos... eles tinham aquela escavadeira... Que a gente chamada de chovio que escavavam o minério de frente e as bauxitas de Poços de Caldas eram todas formadas de bolsão mais profundos, de panelas mesmo que foram detectados nesta época de pesquisa que eu fiz lá. E então muito, parte da bauxita estavam sendo deixadas pra trás por essas máquinas que não conseguiam escavar, e eu lembro que um dia eu estava lá com dr. Miguel, este diretor nosso em Poços de Caldas, e mostrando para ele: “olha dr. está acontecendo isso, essas bacias e campos de bauxita formam panelas e essa máquina chovio não consegue extrair e seria bom que tivesse uma máquina que conseguisse cavar lá embaixo, mas eu não conheço essa máquina”; aí ele falou: “não, mas existe essa máquina sim e uma máquina nova foi inventada agora chama retroescavadeira hidráulica e foi desenvolvida na França e tem aqui, a Votorantim tem duas máquinas dessas pra extrair argila por que justamente a argila vem de regiões baixas…” aí eu disse: “mas será que o dr. Antônio não emprestaria uma máquina dessas pra gente testar?”; ele falou: “vou ver com dr Antonio”; ele falou e dr. Antônio pegou e mandou uma retroescavadeira pra lá, era uma Bunkan, uma máquina... uma das primeiras que saíram e aí todos nós usamos ela nas lavras dessa bauxita e nessas panelas e foi um sucesso aquilo lá; e como você trabalhar com uma mão humana, extraindo uma lavra totalmente seletiva... E a bauxita de Poços de Caldas são... é quase um garimpo, você tem filões de argila no meio tem núcleos de rocha e essa máquina vai escavando tudo e só deixa o esqueleto lá embaixo, tira todo o minério e foi um sucesso esta máquina e aí nós compramos uma. Até era uma máquina italiana fabricada na Itália e Fiat, eu até hoje lembro direitinho estava escrito nela em italiano “vetado sustain em ágio de abone Del scavatore” e esta máquina foi a primeira retroescavadeira hidráulica usada em mineração no país, muitos anos depois as outras empresas começaram a usar também. Então, nós desenvolvemos o método de lavra de uma banca, extraímos uma bancada para depois passar pra outra carregando o caminhão diretamente um sistema de lavra muito interessante que hoje e usado em todo o país em todas as grandes minerações. Inclusive lá na mineração do Norte onde a CBA é sócia. Na mineração do Norte onde a CBA é sócia elas são jazidas gigantescas são máquinas, são 15 metros cúbicos de caçamba... cada caçamba sai 25 toneladas. As nossas, são caçambas de um metro cúbico no máximo. Pequenininhas, mas o tipo de jazida lá em Poços são é diferente, são pequenas ocorrências, bolsões quase um garimpo mesmo.
P/1 - Quer dizer que esse método de bancada, só mesmo depois da retroescavadeira?
R- Só com retroescavadeira. Só depois da retroescavadeira e hoje nós temos, lá em Poços nós temos quatro retroescavadeira dessas trabalhando direto, lá em Cataguases três e dá essa produção toda que eu te falei em torno de dois milhões e seiscentas mil toneladas de bauxita por ano.
P/1 – Esta época em que você já estava lá, não sei talvez década de 70, essa questão da produção do alumínio era mesmo uma questão estratégica da empresa da Votorantim? Se via isso mesmo?
R- Da Votorantim? Era. Era sim, e inclusive o dr. Antônio depois de formado em Mines, nos Estados Unidos, quando ele voltou ele já foi trabalhar direto na construção da fábrica da CBA e ele se entusiasmou com o alumínio. E até hoje o alumínio CBA é a menina dos olhos dele e a empresa e hoje das mais rentáveis, a CBA. E o alumínio é um material estratégico, um material que tem uma demanda muito grande e preço bom e digo que a CBA adquiriu uma tecnologia e uma capacidade de produção que você pode chamar de estado da arte “Est d’Art” da produção de alumínio e é a maior fábrica de alumínio integrada do mundo. Ela produz desde a bauxita, o óxido de alumínio, o Metal, produz “coques de petróleo” que é usado na fundição e que produz a criolita sintética através da fluir e produz todos os subprodutos chapa, folha, cabos, telhas, cabos de transmissão de energia elétrica, papel de alumínio e produz também mais de sessenta por cento de energia que ela usa para produção desse aluminio. Então como fábrica de alumínio é a maior fábrica de alumínio, totalmente integrada no mundo. Ela teve que correr atrás disso porque era difícil no país na época conseguir uma concessão para produzir energia elétrica. Então a light que produzia energia elétrica no sul, chegou o ponto que ela não tinha mais, não conseguia fornecer energia para a CBA porque ela fornecia pra São Paulo. São Paulo era uma cidade que estava crescendo num ritmo muito acelerado e a CBA não tinha onde comprar energia na época não tinha as grandes hidrelétrica Itaipu, Furnas… não tinha nessa época, então teve que partir isso também e se ela não tivesse que construir hidrelétrica ela poderia ter aumentado muito a produção de alumínio naquela época, mas isso foi bom, porque ela produziu as hidrelétricas dela hoje ela tem 13 hidroelétricas em sociedade com outras empresas também ela consegue alimentar sessenta por cento do consumo de energia elétrica usado na fábrica e isso nos deu uma condição de competir com esses grupos internacionais. Esses grandes produtores de alumínio que nem a Alcoa que tem uma tecnologia muito avançadas e capital e um dos maiores produtores do mundo. E hoje a CBA compete com eles em condições até melhores que as deles.
P/1 – Quer dizer que essa condição da energia de autonomia... A energia está diretamente ligada à qualidade ou não?
R- Não. Está ligada à produção, a quantidade. Porque pra você produzir alumínio você gasta em torno de 14 kwh para produzir um kilo de um alumínio. Da 14 mil kwh para uma tonelada de alumínio. E um consumo de energia muito grande. Hoje um terço de todo custo do alumínio vem da energia elétrica. Então se você tiver uma energia barata você se torna competitivo e se você tiver uma energia cara teu lucro é muito pequeno. E a CBA foi a pioneira nisso porque ela começou a fazer as hidrelétricas para produzir alumínio, ao passo que as outras empresas aqui no Brasil, a Alcan, Alcoa, a Albras lá no norte, eles tinham todos que comprar energia própria. Hoje tanto a Alcan quanto a Alcoa, a Vale estão investindo na produção de hidrelétrica. Um trabalho que a CBA começou há quase 50 anos atrás. Então a CBA saiu bem na frente. E então teve competitividade para produzir um alumínio a custo barato e com isso gerar recursos e aumentando a produção e se tornar uma grande produtora; hoje, individualmente, é a maior produtora de alumínio do Brasil e é uma das maiores fabricas de alumínio no mundo também não são fabricada integrada, mas como capacidade de produção e uma das maiores do mundo então isso é motivo de orgulho muito grande pro dr. Antônio e para dr. Miguel que foram os que criaram a CBA e acompanharam a vida dela todinha.
P/1 - Mas Carlos você saiu pra fazer outras pesquisas, você estava contando...
R – Sim, quando eu entrei na CBA o dr. Miguel me contou: “Olha, nós estamos produzindo lá uma 15 mil toneladas de alumínio por ano. E nós estamos consumindo 80 mil toneladas de bauxita e nós temos 16 milhões de toneladas de reserva aqui em Poços de Caldas”. Eu fiz as contas e falei: “então a gente tem minério para duzentos anos.” E ele falou: “é, tem bastante minério, estamos tranqüilos”. Só que a CBA tem essa péssima mania de dobrar a produção triplicar, quadruplicar. A vida inteira ela sempre fica aumentando a produção. Quando ela dobrou a produção de alumínio foi nos bolsões de bauxita, nossas reservas caíram de 200 para cem anos só, simplesmente. Depois, quando dobrou de novo a produção caiu para 50 anos e na próxima vez que ela ia a dobrar a produção nossas reservas iam durar só mais 25 anos, aí falei: “ô doutor Miguel, desse jeito não vai ter minério, daqui a pouco vão ter que sair atrás de bauxita”. Então vamos fazer uma campanha, e fomos pesquisar bauxita pelo mundo afora; Pesquisamos mais minas em Poços de Caldas, fazer pesquisas para detectar outras jazidas e então mantivemos nossa reserva e saímos para procurar bauxita em outras regiões e saímos aí pelo mundo afora e acabamos depois em 1980. Teve um Senhor que morava em Cataguases dizendo que havia bauxita naquela região oferecendo. Dr. Antônio me chamou e falou: “vá lá verificar se tem essa jazida”. Eu fui lá, eu fiquei uma semana lá visitando as áreas todas e quase cai de costas, eram umas jazidas fantásticas e voltei fiz as amostras e analisei e realmente eram jazidas muito boas. Cheguei e falei para o dr Antônio: “pode comprar que realmente são jazidas muito boas”. E ele comprou as jazidas na região de cataguases e hoje as grandes reservas da CBA estão lá e nós temos bauxita não para 200 anos, mas para 100 graças a Cataguases. E também daquela época como tinha pouca bauxita a gente ainda não tinha descoberto Cataguases, nós entramos de sócio nesta mineração no Norte, lá em Trombetas que tem jazidas muito grandes. A CBA tem 10% de participação lá em Trombetas. Eu trabalhei muitos anos lá e durante 22 anos eu fui do comitê técnico desta mineração do Norte ia pra lá quatro, cinco vezes por ano e naquela época nós tínhamos produção de três milhões e meio de toneladas de bauxita e hoje produz 17 milhões. E a maior mina de bauxita do mundo. Só que a CBA não usa. Ela usou durante alguns anos a bauxita de lá, mas depois que nós começamos produzir em Cataguases paramos de produzir bauxita lá porque fica muito caro tem que trazer de navio até Santos descarregar colocar no trem e levar até o alumínio, então ficava muito cara para nós esta bauxita e então nós paramos de extrair a bauxita lá e a nossa cota lá a gente vende para terceiros. Ou pra ALCOA ou para os Estados Unidos e Vale do Rio Doce, América do Norte...
P/1 – Tem muita diferença de cultura dos operadores de Poços para os de Cataguases?
R – Tem, a maior diferença é o sotaque. Do sul de minas você deve está notando meu sotaque do sul de Minas... Boa parte do interior de São Paulo. Lá na Zona da mata de cataguases eles chamam de carioca do brejo eles falam aquele “r” assim do tipo do carioca. Inclusive, tem o um engenheiro nosso lá que eu brinco muito com ele, que ele vem de Varginha e ele formou em engenheiro de minas em Belo Horizonte então ele come; ou adquirir o sotaque do belo horizontino que e parecido com o carioca aí depois ele foi trabalhar em Poços de Caldas perdeu o sotaque, mas quando ele foi pra Cataguases e voltou com o sotaque de carioca. Uma vez nós estávamos lá no Rio de Janeiro e saímos do hotel e ele falou assim: “dr. Carlos eu vou ali na esquina comprar um jornal e já que eu vorto...” então ele tinha uma recaída...
P/1 – Mas e culturalmente pra implantar processos?
R - É tudo igual... É a mesma coisa... Porque eu trabalhei na implantação do departamento lá em cataguases também... junto com o Claret e o dr. Branquinho da Votorantim, fizemos um projeto e desenvolvemos todo ele mais ou menos a luz do projeto que eles tinham lá funcionando em Poços de Caldas e também Trombetas que a gente aprendeu muita coisa. Entre Cataguases e Poços de Caldas tem uma diferença fundamental: O minério de Poços de Caldas e o que a gente chama de bauxita road of line e a bauxita que você extrai brita e embarca não tem que fazer beneficiamento nenhum. No começo eles lavavam tudo. Mas depois com as pesquisas e análises a gente viu que não precisaria lavar aquele minério. A gente só fazia uma nova seletiva e extraia a bauxita, britava e embarcava um conteúdo bom. Por isso a gente evitou fazer um tipo de lama e perder muito minério durante a lavagem. Agora em Cataguases não, todo minério tem que ser lavado. Ele tem uma tez argilosa grande e de areia então lá nós tínhamos que fazer um britador, um lavador, peneiras e tudo mais. Essa é a diferença fundamental. Agora, a qualidade do minério lá de Cataguases é melhor.
P/1 – O dr. Branquinho que deu uma entrevista porque a gente estava falando um pouco desse projeto aí. Porque vocês revolucionaram alguns sistemas?
R – Principalmente à parte de recuperação de filos. Porque você pega uma bauxita de Cataguases se você lavar ela no sistema tradicional por peneiras e tudo mais você não recupera cerca de 45% do minério e uma parte grande dessa bauxita é constituída de partículas pequenas que se joga fora e iam lá para o dique de lama. Então se desenvolveu um projeto lá com auxílio dr. Branquinho, professor Arthur, um consultor nosso lá da USP e colocamos lá algumas peneiras que chamamos de alta freqüência então aquela parte da lama gerado da lavagem da bauxita se recuperava 45% de minério e 55% era de lama que se jogava no dique. Então essa lama toda passou a ser bombeada num sistema de ciclones onde você separava lama do resíduo mais grosso que tinha a areia e a bauxita. Essa bauxita caia nessas peneiras de alta freqüência e separava a fração de resíduo e com isso nossa recuperação passou a 54% mais ou menos. Aumentou muito, depois foi desenvolvendo outro sistema aquela lama que sai do ciclone, passava por uma bateria de ciclones menores e recuperava o restante dos filos que estavam perdendo, aí caia outro numa peneira mais fina ainda em tela muito fininha e você recuperava também essa bauxita e uma parte desta lama que passava, ela voltava também para o sistema de espirais onde você separava a parte mais densa que era constituída de minério de ferro, titânio e que prejudicava um pouco o teor da bauxita e passava depois no separador magnético; também, então depois lama que sobrava era rica em bauxita e então nessa pereirinha mais fina você recuperava esse minério. Com isso nossa recuperação foi 56, 57 com tendência de chegar aí à 60%, então um ganho muito grande a produção do minério aumentava em 20% em vez de você jogar fora na barragem você passou a aproveitar toda essa bauxita e caia o custo também.
P/1 – Esse lavar é literalmente lavar? Tira o minério…?
R – Lavar... A bauxita você brita ela num britador de martelo lê ele cai num tamborão que e um tambor grande assim do tipo de uma máquina de lavar roupas. De tamanho grande. O processo é contínuo, o minério entra aqui, a água é injetada junto e vai batendo dentro desse tamborão. Tem uma série de haletos e vai batendo. Então aquelas pelotas de argila que envolve o minério vai se dissolvendo no tamborão e vir uma lama então quando o produto desse tamborão cai numa peneira a bauxita fica por cima e recebe uma ressarja, um jato de água forte pra tirar para tira toda a lama
do minério e a lama passa no fundo da peneira, vai numa pereirinha mais fina separa outra vez a bauxita e essa lama depois passa pelos ciclones, espirais esse separador magnético para recuperar os resíduos. O lavador do sistema e isso um tamborão e um sistema sintético com duas peneiras, ciclones, um sistema simples, não é muito complicado não.
P/1 – E para o meio ambiente?
R- É… Para o meio ambiente e... a lama ela é toda contida num dique. Quando você faz uma mineração de bauxita que você precisa lavar. A maior preocupação é com o dique de lama e não com a bauxita em si, porque você tem que ter um local onde você possa jogar essa lama durante dezenas de anos. Então nós fizemos ao lado do lavador nosso na plataforma onde foi construídas todas as estações de britagem e beneficiamento foi construída uma barragem grande suficiente para pelo menos para 30 anos de vida dessa deposição de lama. Uma barragem onde coubesse lama pelos próximos 30 anos só que essa barragem já estamos lá com 13 anos e ela já está mais da metade cheia porque nós aumentamos muito a produção. Começamos com toneladas de 600 mil por ano e estamos produzindo um milhão e seiscentos agora... Então a vida da barragem vai ser mais curta, mas como a gente está recuperando muito esses fios e tudo mais a quantidade lama que a gente joga na barragem também diminuiu e isso então aumentou um pouco a vida dela.
P/1 – Ela prejudica o meio ambiente então essa lama, não?
R- Essa lama não, que e argila e ela fica totalmente contida ali. Ela decanta e a água limpa ela volta por circuito. Se por acaso essa água ta suja, você tranca a barragem e deixa vazar e isso é monitorado constantemente e você só solta pra fora quando ela atinge grau de turbidez dentro dos limites. Hoje, inclusive, a gente já está construindo ao lado uma estação de tratamento de água, uma ET para quando ocorrer essa situação e a barragem está ficando cheia você poder processar essa lama de essa água turva eliminar toda turvidez dela e joga ela de novo... A bauxita não prejudica muito o meio ambiente porque são corpos pequenos, porque você tem lá nas determinadas regiões onde você tem uma jazida de 500, 660, um milhão de toneladas e você fica lá trabalhando aquela mina três meses, seis meses, um ano, dois no máximo, você recupera a área, refloresta e área volta a ser ambientalmente correta em poucos anos. Você tem uma cobertura de solo em cima do minério este solo é todo removido, separado para as laterais da mina; aí você extrai todo o minério com essas retroescavadeiras, depois o trator vai lá e acerta o fundo dessa mina, recompõe a topografia e volta com esse solo recobra tudo aquilo lá faz as captações de água, poços de decantação para evitar durante período que esta terra está desnuda e a grama ou as árvores não crescem, você faz poços de decantação e rede de drenagem e refloresta toda aquela área em pouco tempo. A área está totalmente vendinha. Se foi pasto e o fazendeiro quiser que ela volta a ser pastagem, você planta capim baqueado, se e a área de floresta que você teve que desmatar você a refloresta totalmente com espécies nativas da região. Nós temos um horto lá em Poços de calda. E temos um horto lá em Cataguases onde produzem cada um deles mais de cem mil mudas de árvores nativas por ano. Perto de 100 variedades de árvores de todo tipo. Frutíferas mas todas nativas da região e então a gente obtém licença assim sem muitas dificuldades... as dificuldades normais.
P1 – E como a Votorantim chegou nessa bauxita de Poços de Caldas?
R – Poços de Caldas, Poços de Caldas foi através do... quem foi o pioneiro foi esse vice-presidente dr. Miguel de Carvalho Dias, hoje ele está com 94 anos. O dr. Miguel, ele é filho de uma fazenda de uma família tradicional de Poços de Caldas, fazendeiro de café e que tinha terras também no planalto de Poços de Caldas, onde tinha aquelas pastagens e lá eles criavam gado eram praticamente regiões de pastagens... invernadas. que eles chamam, e os filhos desse fazendeiro antigo lá, Lindolfo Pio da Silva Dias, todos eles foram… Um foi estudar agronomia, outro fez matemática e dr. Miguel foi fazer medicina, formou-se em medicina trabalhou alguns anos e aí ele teve um russo que foi lá em poços de caldas e aí ele teve um russo que foi lá em Poços de Caldas visitar aquela região e verificou que ali tinha muito minério muita bauxita naquela região e informou lá para o fazendeiro e quando o seu Lindolfo informou pro filho dele que tinha essa bauxita lá, ele pegou largou a medicina e foi trabalhar em poços de caldas fazer pesquisa. Ele tinha um cunhado que era Mário Pinto era diretor do DNPM - Departamento Nacional de Proteção Mineral e eles chamaram esse Mário Pinto que trabalhava no DNPM e foram lá pra Poços de Caldas pra, ele morava no Rio, pra ajudar nessa pesquisa definir essa pesquisa; ele acabou casando inclusive com uma irmã do dr Miguel, Maria Inês. Dr. Miguel, então, fez um trabalho de prospecção naquela época. Era com poços de pesquisa, trincheiras e tudo mais e arrumou emprego lá na empresa do grupo byington que explorava bauxita naquela época em Poços de Caldas nos anos 30 e 40 e começou a se interessar então pra esse minério e sonhar com uma fábrica de alumínio e chamaram ele de louco, visionário… E ele arrumou alguns sócios aqui em São Paulo pra poder desenvolver esse projeto e o projeto estava quase todo pronto com o apoio lá do governo americano para iniciar a fábrica o projeto e tudo mais quando estourou a Segunda guerra mundial. Os japoneses invadiram Pearl Harbor alguns dias antes de ser fechado o contrato com a CBA e aí parou tudo. Só depois da guerra eles reiniciaram o trabalho, mas aí os EUA não tinham mais interesse que ele produzia muito alumínio e não era um material mais estratégico e então eles não conseguiram apoio americano e conseguiram através da Itália da Monte Catini e Edson que é uma empresa que produzia alumínio e eles que desenvolveram o projeto inicial da CBA. Só que aí, os outros sócios já tinham desistido e ele conseguiu convencer o José Ermínio de Moraes, na época senador, pai do dr. Antonio, a entrar como sócio com eles lá e eles fizeram sociedade. O José Ermírio de Moraes entrava com 75% constituído de capital da CBA e os Carvalho Dias entraram com 25% que eram as jazidas de bauxitas lá Poços de Caldas e aí eles criaram a CBA. O dr. Antônio formou foi trabalhar desenvolveram e em 1955 eles inauguraram e no começo foi uma tragédia por que aqueles fornos que a Monte Catini Edson dizia que produzia tanto e com tal qualidade não foi nada daquilo. O alumínio que saiu de lá foi de baixa qualidade e então eles não conseguiam vender tiveram que pagar títulos em protesto. O dr. Antonio de vez em quando conta essa história toda ele passou um período muito duro e aí ele tomou uma decisão drástica. Foi lá e demoliu todos aqueles fornos antigos e construiu todos novos com tecnologia mais moderna e ai a CBA começou a produzir alumínio de boa qualidade e começou a deslanchar, mas foi um tempo muito difícil. Naquele tempo que para pedir um lápis você tinha que entregar o toquinho do lápis velho pra poder ganhar o lápis novo. Provar que usou até o fim.
P/1 - E Carlos, a CBA se adaptou bem quando começou essa onda de meio ambiente, de maior fiscalização... ela se adaptou fácil?
R – Ah sim, tivemos que nos adaptar né, Cláudia? Porque é uma condição sine qua non, porque se você não tiver de bem com o meio ambiente hoje em dia você não consegue fazer nada e essas coisas vão apertando de tempo em tempo. Cada vez vai ficando mais restritivo. Hoje em dia pra você minerar uma área, você tem que ter uma licença do órgão ambiental do estado de Minas Gerais, o FEAM tem que ter o apoio do COPAM, que é a Câmara, você tem que ter o apoio o IEF que é o responsável pelas matas, mas até pelo capim que você remover. Se for capim nativo, eles criam um monte de dificuldades. Você tem que ter relatórios e tudo o mais. Você tem que ter licença do Ibama e cada vez que você vai desmatar uma área... normalmente, 80% das jazidas nossas são áreas de campo e não tem problema nenhum, tem todo aquele processo ambiental, controle de erosão, de água qualidade... Mas é mais fácil, mas as áreas de mata você tem que fazer um trabalho muito grande e para cada hectare que você desmata você tem que reflorestar este hectare com árvore daquela região e você tem as medidas compensatórias. Para cada hectare que você desmatou você tem que reflorestar um outro hectare ao lado ou em outra região. Antigamente era um e depois passaram para dois, para três, e agora eles querem quatro. Então o pessoal acusa as mineradoras de estarem destruindo a Mata Atlântica que é onde a gente atua, a região que a gente atua só que quando nós chegamos na região pra trabalhar a Mata Atlântica, já tinha sido toda destruída. O que a gente tá fazendo, ao contrário, estamos e recuperando a Mata Atlântica, porque além de você recuperar a área que você minerou e reflorestar. Você está reflorestando uma área muito maior, três vezes maior do que aquela que você está impactando e hoje em dia não é só isso: antigamente você reflorestava com eucalipto era muito bom, reflorestava com pinus era muito bom... hoje em dia não pode claro, você tem que recuperar as nativas. Só que hoje você tem que reintroduzir os passarinhos que tinham lá você tem que contratar um ornitólogo, reintroduzir a fauna e então você tem que contratar um zoólogo, o sapo as cobras, então você tem que contratar um herpetologista, você tem que recuperar todas as herbívoras, aquelas trepadeiras, orquídeas que tinha na mata... Você tinha que recuperar e reintroduzir ali e esse negócio não tem fim mais, não tem fim. Antigamente você tinha na mineração um engenheiro de minas, dois geólogos e um topógrafo, hoje você tem o geólogo, o engenheiro de minas três biólogos, quatro ecólogos, cinco zoólogos, ornitólogos... a legislação mudou o foco.
P1 – As nossas leis ambientais as leis brasileiras elas são um pouco irreais?
R – Severas.
P1 – Elas são severas, mas são irreais. Você faria uma avaliação que...
R – Para o contexto, o desenvolvimento nosso elas são irreais, por exemplo: na parte de mineração você precisa de matéria-prima para desenvolver um país. Todo mundo mete o pau na mineração, que a mineração destrói o meio ambiente, destrói isso. A mineração hoje não destrói mais o meio ambiente, ela usa o meio ambiente, mas depois recupera tudo e ela produz todos os insumos que você usa. Tudo que você tem aqui você olha. Você vai cozinhar numa panela, é de alumínio; você vai dirigir um carro ali, você tem tudo, você tem titânio, você tem borrachas sintéticas do petróleo, você gasta combustível que é petróleo na tua casa, você tem piso de cerâmica que vem da mineração, você tem tijolo que é da mineração também, telha e por aí vai. Tudo o que você vê hoje em dia vem do... até a roupa tua, de tergal, vem do petróleo e então a mineração é considerada hoje uma atividade fundamental, considerada de utilidade pública inclusive, mas as aversões são tão grandes que está havendo um desestímulo para isso. E qual é a alternativa? É importar minério de outros países. O Brasil sempre foi um grande exportador de minérios e hoje em dia nós estamos com auto-suficiência em muitos tipos de minérios. Mas vai em uma casa o assoalho é de madeira, o telhado todo mundo fica contente... Meu telhado é de peroba e aquele meu armário e de imbuia, mas ele não deixa você cortar lá na mata, ele não está fazendo que para fazer aqueles móveis da casa dele ele também desmatou algum lugar. O importante é que você use o meio ambiente, mas recupere e isso a gente faz com perfeição, é muito elogiado. Inclusive, nós criamos lá um departamento de meio ambiente que é fantástico, mas é cada vez mais restritivo. Você vê em hidroelétricas que é outro ramo que a gente atua. O Brasil hoje em dia está tendo uma matriz energética das melhores do mundo nós estamos quase auto-suficiente em petróleo. Nós temos um depósito de gás muito grande, que é um combustível fantástico; somos o maior produtor de álcool do mundo? E temos a biomassa também que é muito grande, usada para produzir energia e temos o maior potencial hidrelétrico do planeta, 20% da água doce do mundo está aqui no Brasil e o Brasil até hoje só desenvolveu 27% das hidrelétricas dele e não consegue produzir mais porque o pessoal não deixa mais. Não só o meio ambiente, como essas ONGs que agora criaram um movimento dos atingidos pelas barragens e uma série de restrições, e claro não a barragem, vocês vão destruir o rio... e não isso e aquilo. Ao contrário, se você não construir a barragem você vai consumir o quê? Você tem que consumir carvão, consumir petróleo, fazer uma termelétrica a urânio, que é muito mais poluente que uma barragem. Na barragem você tem uma energia limpa renovável através da chuva você cria um lago que é bom para o turismo, você tem um investimento fantástico porque a cada barragem aqui custa centenas de milhões de dólares e você cria uma quantidade de empregos para todo mundo, e você cria um lago que não permitem irrigação de terras do Brasil. O Brasil hoje irriga seis por cento de suas áreas. O mundo, em média, irriga 40% e você pode criar peixe... quer melhor coisa do que criar uma barragem para criar peixe? Claro que hoje em dia o pessoal cria uma barragem com mais cuidado: você faz uma escala de peixes, você faz a trilha ecológica e um monte de restrições que você é obrigado cumprir, mas que não tem dificuldade nenhuma. Faz as reclusas e torna o rio navegável e tudo isso está sendo travado por essa morosidade e às vezes mesmo antipatia dos órgãos ambientais a respeito dessas atividades. O Brasil vai ficando pra trás.
P/1 - Carlos você hoje é diretor de mineração?
R – Sim.
P/1 – Como é que você chegou?
R – Então, eu a vida inteira trabalhei nesta parte de pesquisa de beneficiamento e embarque de minérios né? E depois que nós criamos o departamento de Cataguases e estava atuando lá em Trombetas... Eles criaram um cargo de Gerente Geral de Minerações e englobava Poços de Caldas, Cataguases e Trombetas eventualmente uma ou outra que aparecesse por aí e depois a CBA contratou um diretor para cuidar dos investimentos que a CBA tem lá no Norte porque a Alunorte é uma fábrica de óxido de alumínio que a CBA é sócia e também da Mineração Rio do Norte que essa que é a maior produtora de bauxita do mundo, da qual a CBA é sócia também. E eu trabalhava lá no Comitê Técnico de Mineração, aí esse diretor saiu há uns três anos e meio atrás e o Dr Antônio então teve a idéia. Eu estava para aposentar e então ele disse: “você não vai aposentar não, você vai trabalhar comigo lá em São Paulo eu estou te convidando para ser Diretor de Mineração porque quero que você cuide das áreas de mineração lá do Norte e você tem todo esse trabalho aqui para fazer em Poços de Caldas e Cataguases” e aí eu vim para São Paulo... Até um amigo meu falou assim: “Oh, São Paulo é bom para começo de carreira e não para fim de carreira”. Foi um desafio bom, eu gostei, estou gostando, é sacrificado, mas vale a pena. Eu viajo muito também.
P1 – E como é que foi essa passagem de repente, você era um homem de campo e de repente está em um escritório?
R – É, exatamente... a vida inteira trabalhando lá de botina, roupa de briga assim. Camisa aberta, de chapéu, e agora venho para São Paulo trabalhar de terno e gravata. No começo foi um choque realmente, mas a gente acostuma. Faz parte do jogo.
P/1 – Mas você vai de vez em quando...
R – Eu freqüentemente vou a campo... Vou a Poços de Caldas, na mineração geralmente eu vou lá sexta-feira vou em Cataguases e uma vez por ano vou em Trombetas ainda, e quando aparece alguma coisa nova pego meu martelinho e vou para lá lembrar dos meus tempos de geólogo. A família tinha 25% quando o pai dele morreu, o pai dele morreu no dia em que foi inaugurado a CBA, em 1955, ele tava aqui em São Paulo se preparando para inauguração quando ele teve um infarto e faleceu aqui, foi muito chato. Mas então as ações ficaram para cada um dos filhos e então cada um ficou com dois e dois e pouquinho por cento... Só que esses dois e pouquinho por cento viraram uma coisa muito grande, e esses que viraram fazendeiros... tinham uns que moravam no Rio e venderam a participação e compraram apartamentos lá no Rio, esses que eram fazendeiros compraram fazendas e tudo o mais, e o Dr. Miguel não, ele continuou lá com a cotazinha dele, aí quando o dr Antônio chamou ele lá e falou: “Então, o dr Antonio, você tem essas ações e a gente tem interesse em comprar tudo o mais, e posso te oferecer um bom dinheiro.” E ele acabou vendendo essas ações ele ia se aposentar. Ele vendeu as ações dele. Quase todos venderam acho eu... só tem uma irmã dele que tem ações da CBA, e o dr Miguel, os outros todos venderam e ampliaram seus negócios e tudo o mais. E o dr Miguel vendeu essas ações, pegou uma parte do dinheiro, comprou, ele já tinha uma parte das fazendas, 300 alqueires e ele comprou mais fazendas dos irmãos e ficou com uma fazenda grande lá de 1 200 alqueires e ele pegou e está transformando essa fazenda numa fazenda florestal. Ele planta eucalipto e vende esse eucalipto para a Champion, lá em Mogi Guaçú, que agora é International Paper e dá uma renda fantástica. Porque a Champion vai lá e compra toda a produção; corta, leva lá para fábrica da Champion e paga em cash para ele. E eucalipto é o seguinte: você planta e dali sete anos ele atinge ponto de corte, aí você corta, aí ele brota de novo e dali sete anos torna cortar e dali sete anos corte de novo. Então que ele tá fazendo? Tá plantando cem alqueires de eucalipto todo ano, e já completou setecentos alqueires, e então ele corta o primeiro talhão, depois corta o segundo e quando ele cortou o último talhão lá dos últimos... daqueles primeiros cem alqueires... aquele primeiro já brotou já tá na hora de cortar de novo, então durante 21 anos não faz mais nada...
P/2 –Que visão espetacular desse dr Miguel... e só botar o despertador, né?
R – Ele nunca gostou de gado, de fazenda e falava: “Sou um péssimo fazendeiro e tudo mais”, e então ele achou essa alternativa que isso aí a gente fazia na CBA. As áreas que a gente reflorestava no começo, minerava, a gente reflorestava tudo com eucalipto e hoje não pode. Só nativos. Mas os eucaliptos depois que cresceram tinha que cortar e eu até que falei para o dr Antonio: “Olha dr Antonio, a Champion está querendo comprar nosso eucalipto aqui. Você não quer fazer um negócio comigo?” Ele olhou desconfiado: “Que negócio?” Eu falei: “Eu corto seu eucalipto, vendo para Champion, e com o dinheiro eu compro aquela retroescavadeira que eu estou precisando e que você não está querendo comprar para mim, ele olhou para mim e falou assim: “Eu não quero ver um tostão desse eucalipto aí, pode transformar tudo em máquina”. Então faz sete anos que eu não gasto um tostão da CBA em compra de máquina. O ano passado eu vendi 750 mil reais de eucalipto e comprei uma retroescavadeira lá de 500 mil reais, e ainda sobrou 250 que eu reformei o escritório. Agora esse ano estou vendendo mais de um milhão de reais de eucalipto, e comprando mais duas pás carregadeiras de mais 500 mil reais cada uma e ele fica feliz que eu não estou gastando o dinheirinho dele.
P/1 – O Carlos, todo mundo diz, você não é o primeiro, que a CBA é a menina dos olhos do dr Antônio... Por quê?
R – Porque, porque ele ajudou a criar...
P/1 – Mas só por isso?
R - ... é paixão mesmo! Que a CBA é um negócio altamente complexo como eu te falei são hidrelétricas e foi criada com uma dificuldade tremenda. Eu te contei lá do começo da formação, eles tiveram que demolir todos aqueles fornos e tudo mais...
P1 – Será que isso foi o maior desafio?
R – É foi o maior desafio. E aquilo lá foi crescendo, sem dúvida, é um desafio tremendo que ele trás até hoje aquela mágoa do pessoal ter perseguido ele, o Assis Chateaubriand e ele superou tudo isso e hoje a CBA é uma potência e ele tem um entusiasmo assim. Você vê, há um ano e meio atrás ele inaugurou aquela grande ampliação que ele fez que passou de 240 para 340 mil toneladas de metal... foi um pulo gigantesco. Agora esse ano já vai inaugurar outra fase que já vai a 400 mil tonelas de metal. Já vai começar em maio agora a ligar os fornos novos e já está começando outra fase que vai chegar a 460 mil tonelagem de metal e ai já está pensando em 520 mil e um negócio que não tem fim viu... e ele tem um entusiasmo tremendo e, a par disso, ele vai construindo hidrelétrica, aumentando as minerações de bauxita e vai correndo atrás de todo aquela cadeia que compõe a CBA.
P/1 – Como é o dia-a-dia com o dr Antonio? Como é que é trabalhar com dr Antônio?
R- Bom, o Dr. Antônio é um homem ocupadíssimo. Eu converso com ele mais ou menos uma vez por semana, duas dependendo... ele... a CBA virou uma empresa tão grande que ocupa o tempo dele... enorme. Então ele tem que se dedicar a áreas das barragens, a área da fábrica propriamente dita da produção de metal, a compra de laminadores, fornecimento de energia elétrica, as vendas, a colocação do produto, a alumina e então virou um universo muito grande pra ele. E ele então é muito ocupado, mas ele é ótimo de lidar, é um homem firme e bravo quando precisa ser, mas um homem... é muito humano e muito bom quando pode ser também. Eu gosto muito dele, é um homem que eu acompanho desde que entrei na CBA e ele sempre me tratou muito bem e reconhece o trabalho que você faz. E acho que é por isso que ele não deixa a gente se aposentar, ele quer ter a turminha antiga do lado dele e a turma que ele tem confiança que ele pode contar a qualquer hora na hora do aperto.
P1 – Ele decide rápido?
R – Rapidíssimo. Você manda um relatório para ele pela manhã e à tarde ele já está devolvendo assinado ou com alguma observação. Então, se ele tem alguma dúvida ele te chama lá em cima e ele te explica, e põe alguma observação e ai de você, se você não tiver anotado lá o apoio dele, a assinatura dele naquele papel, naquele documento... No futuro ele vai checar com aquele documento e vai falar, mas quem que aprovou isso aqui? Você tem que tomar esse cuidado, ele examina aprova tudo, mas ele quer ser comunicado de toda e qualquer decisão que você tome. Na sua área, em qualquer área, isso ele faz questão e acho muito bom mesmo porque a decisão dele é muito rápida, é sim ou não, e se tiver alguma dúvida você esclarece em outro relatório ou conversa.
P 1 - Esse caso que você contou do eucalipto é um caso... quer dizer... Uma decisão sua que... Qual outro caso da sua área que você decidiu e comunicou?
R – Eu lembro de uma decisão importante, foi logo no começo quando a gente estava trabalhando. Eu comecei a trabalhar em Poços de Caldas, todo minério era lavado e quando eu comecei as pesquisas eu percebi que boa parte do minério não precisaria ser lavada e eu comuniquei dr Miguel, dr Antonio que: “olha, tem um minério aqui muito bom que eu acho que não precisa ser lavado” e o dr Miguel, muito desconfiado falou: “Mas como? A vida inteira lavamos minério, é perigoso, pode lavar se não a sílica aumenta muito!”. A sílica é aquele componente do minério que está contido na argila e que no processo Bayer, de produção de alumina ela consome muita soda cáustica e toda argila que tem no minério ela gasta soda cáustica para ser eliminada e então essa soda que reage com a sílica você perde. E a soda que reage com a alumina, que depois permite a extração da alumina do minério, essa você recupera no processo, mas a que combinou com a argila não. Então a sílica daquela época... o limite máximo era de três por cento de sílica e eu conseguia isso através do beneficiamento de lavagem, e eu falei: ”Olha tem uma bauxita aqui que a gente tem menos de três por cento e que a gente pode mandar sem lavar...” naquele tempo não tinha laboratório lá em Poços de Caldas e eu falava: “Olha, se o senhor deixar, eu embarco cinco vagões desse minério e o pessoal analisa na fábrica lá e eu garanto para o senhor que o minério vai chegar lá com um bom resultado. Ele falou: “tá bom, mas olha lá heim, caboclo!”. Como bom fazendeiro: “Olha lá, heim caboclo?!”. Eu embarquei o melhor minério que achei, cinco vagões. E mandei para São Paulo e dali uma semana o dr Miguel me ligou... “Oh, você quer saber o resultado da análise aqui?” Falei: “Pois não, dr Miguel”. Eu estava sentado,assim e ele: “Oh, vagão número um: sílica 7%;” Eu comecei afundar na cadeira: “Vagão número dois: seis e meio; vagão número quatro: 8%; vagão número cinco: 6%.” A hora que ele falou o último vagão eu estava embaixo da mesa, morrendo de vergonha, sem saber o que fazer: “Aí, tá vendo? Eu falei para você que esse negócio não dava certo.” Eu falei: “Tá bom dr Miguel...” Enfiei o rabo por debaixo das pernas e fiquei quieto, e aí eu fiz o que eu deveria ter feito pela primeira vez fui lá na jazida e tirei amostra daqueles barrancos todos e mandei para fábrica analisar primeiro. Aí chegaram os resultados e aí que eu identifiquei: “Nossa, que esse danado desse minério aqui é amarelinho é bonitinho, mas é venenoso e esse outro aqui é bom, aí que eu conheci melhor bauxita e me conscientizei do que era minério bom de minério ruim e telefonei para o dr Miguel e falei: “Oh, posso embarcar mais cinco vagões de minério?”
P/1 – Mas não podia mandar um pouquinho tinha que ser cinco vagões? Não era muito?
R - Porque como não tinha laboratório em Poços de Caldas e tudo mais e o minério era muito bom, “Vamos ver como ele se comporta na fábrica” e lá ele tirava a mostra lá do minério e falei: “Posso mandar mais cinco vagões?” Ele falou: “Não dá. Esse minério você já viu que não dá certo.” Eu: “mas eu garanto dr Miguel eu já analisei antes e tudo mais.” Falou: “Você tem certeza? Eu falei: “Confia em mim?” E ele falou: “Então tá bom, vamos receber o minério aqui e vou ver o que vai dar.” Aí mandei os cinco vagões e daí sete dias ele me telefonou: “Oh quer saber o resultado do minério?” Eu já entrei lá debaixo da mesa e falei: “pode falar”; “Primeiro vagão: dois por cento de sílica, vagão número dois: um por cento; vagão número três: um por cento.” Eu já tava sentado na cadeira, a hora que ele falou o último eu já tava em pé em cima da mesa falando aquele: “yes!!” E a partir daí falei para ele: “então a gente pode começar a extrair esse minério”. E aí que chegou a retroescavadeira e a gente começou a fazer a lavagem seletiva e começou a embarcar o minério sem lavar que foi um resultado fantástico, né? Que economizou... Dobrou o tamanho das jazidas nossas graças ao fato de não precisar lavar. Porque você perdia metade do minério, era jogado fora e barateou muito o custo e tudo o mais... mas aí o minério começou a chegar lá muito pedrento na fábrica que não tinha como britar. Para britar se tinha que jogar água e para jogar água você perdia, tinha que peneirar e aí compramos um britador americano, britador de martelo. E instalamos ele em 1975, e a partir daí então a CBA cresceu violentamente e tinha minério à vontade... e outra decisão que você me perguntou foi essa decisão de compra de jazida. Essa jazida lá de Cataguases ele pediu minha opinião e tudo mais e eu falei: “Pode comprar tranqüilamente que são jazidas muito boas” e ele comprou e não se arrependeu.
P/1 – O dr Branquinho inclusive já tinha contado que vocês já tinham identificado que ela era uma jazida boa, mas ela se mostrou muito melhor?
R – É, se mostrou muito melhor porque na época a gente... nós fizemos uma pesquisa assim muito superficial e fizemos alguns furos lá para poder dar uma decisão rápida para o dr Antônio e ele adquiriu as jazidas. E quando nós fizemos as pesquisas nós vimos que o minério era muito, mas muito maior do que a gente imaginava e com um teor muito maior do que as primeiras análises indicaram. Com alumina reaproveitável e a sílica reativa. E então com isso teve uma conseqüência boa também que o minério de Poços de Caldas, que já estava sendo explorado há mais de trinta anos já estava com a qualidade piorando, principalmente a sílica que já estava começando a aumentar e a sílica do minério de Cataguases era muito baixa e então a mistura dos dois minérios ficou perfeita e Poços de Caldas tinha sílica alta e Cataguases tinha sílica baixa e o teor de alumínio de Poços de Caldas era alto e o de Cataguases era mais baixo um pouquinho, então, misturando os dois ficavam muito bom. E Cataguases tinha um conveniente que tinha o teor de ferro muito alto e Poços de Caldas muito baixo, então a mistura foi boa. O minério de Cataguases tinha areia e o de Poços de Caldas não tinha areia então deu baixo teor de areia... Então foi um casamento perfeito, encaixou certinho então com isso aumentou inclusive a vida das jazidas de Poços de Caldas porque minério que a gente não podia... na época porque tinha um teor fora do padrão, principalmente sílica passou a ser minério por causa da bauxita de Cataguases, de poder misturar com Poços de Caldas esse foi o grande pulo da CBA, que permitiu essa expansão porque aí a CBA tinha a bauxita suficiente para qualquer expansão que ela desejasse.
P/1 – Eu estava te perguntando... você tem filhos Carlos?
R – Tenho quatro filhos, dois homens e duas mulheres. O mais velho tem 39 anos. Ele é geólogo e trabalha também lá em mineração e tem duas filhas. A mais velha se casou, separou, tem uma filha de 12 anos... a outra é nutricionista, trabalha lá em Poços de Caldas, está casada com um farmacêutico lá tem uma menininha de cinco e tem o rapa do tacho que é o Luís Augusto, com 26 anos, que está trabalhando lá na Suíça. Ele formou em informática, não conseguiu emprego aqui e tinha vontade de ir para fora, e tá lá aprendendo francês e trabalhando lá de ajudante de cozinheiro... trabalhou no salão do automóvel agora, e agora está falando bem francês e está procurando serviço na área... a gente tinha passaporte italiano que a gente tinha conseguido do meu avô então ele é cidadão europeu, foi para lá.
P/1 - E o mais velho, sendo geólogo, vocês conversam, acompanham…? Porque mudou muito, não é Carlos, com a introdução da informática?
R - Mudou muito, mudou totalmente, eu por exemplo apanho até hoje da informática. Eu aprendi informática e sei aquele pouquinho, o Word para redigir carta e Excel para fazer tabelinha e é isso. Qualquer coisa diferente eu tenho que chamar minha secretária lá, a Satiko e "Satiko, me ajuda aqui..."; a gente foi criado com outro tipo de cultura... Eu vejo meus netos lá, com dois anos já vai lá com o dedinho no aparelho de som na televisão, já nasce com o dedinho em riste pra apertar teclas de computador e tudo mais, nós não, não tivemos essa cultura e então é muito difícil para gente raciocinar em termos de computador. É um bicho que eu não entendo. Uso mas não entendo...
P1 – Que mais mudou nesse tempo todo você acha que foi só isso... no teu trabalho, desde quando você começou até agora?
R - Tudo, né Cláudia? Porque naquele tempo você usava pesquisa de dados manual, e hoje você tem dados mecânicos. Naquele tempo você trabalhava com escavadeiras chovio, hoje você tem retroescavadeiras modernas hidráulicas que fazem tudo. Antigamente a escavadeira era com quatro cinco alavancas em cada mão; dois, três pedais aqui outro no ombro, hoje você tem duas alavanquinhas que parecem um joystick e ali você faz todos os movimentos da máquina que você quer, gira, escava, abaixa, levanta, chacoalha. É outra tecnologia, totalmente. E a informática ajudou muito nas pesquisas, antigamente para você juntar aquelas pesquisas na área e catalogar todos aqueles dados de cubagem e análise e tudo mais você tinha que ficar o dia inteiro. Antes vieram aquelas maquininhas de calcular de bolso que faziam as quatro operações somar, diminuir, dividir e tudo mais, e depois vieram as calculadoras científicas. Depois, quando veio o primeiro computador aí você tinha que fazer um relatório, você tinha que datilografar tudo e depois tirar cópia ou datilografava com papel carbono quer dizer não tinha nem fotocopiadora naquela época era aquele sistema de mimeógrafo, então você tinha que datilografar junto com o carbono, né? Então se você errava a palavra, já pensou? Quatro, cinco páginas para apagar... Hoje não, você redige um relatório, ele calcula tudo para você, reserva teor médio e tudo o mais. Você aperta um botão sai 50 cópias lá, uma revolução, não é?
P2 – Eu ia te perguntar se você chegou a conhecer algum ponto de bauxita fora dos país?
R – Não, fora do país eu não conheci nenhuma mas as do país eu conheço praticamente todas, praticamente todas, mas fora do país não. Uma que não dava tempo, outra que o dr Antônio ele queria a gente lá o tempo todo à frente da mineração. E também não havia tanta necessidade porque como aqui havia a mineração Rio do Norte e tinha outras minas e tudo o mais, a gente pode trocar idéias com pessoas do mundo inteiro. Essa Rio do Norte é uma companhia onde participa a Vale do Rio Doce, a CBA que são nacionais, participa a Alcan, do Canadá, a Alcoa, dos Estados Unidos, a Bindungen do grupo da Shell, que era dona e agora passou para empresa australiana, PHP Bindungen, o pessoal da Mexic Hidro. Então foi uma correria assim muito boa, muito interessante e você participar com esse pessoal que era expert de bauxita em beneficiamento do mundo inteiro era lá na mineração Rio do Norte. E adquirimos um conhecimento muito grande disso aí onde a gente já usou bastante disso para desenvolver lá o projeto de Cataguases.
P1 – Carlos, a grande lição desse tempo todo, desse tipo de trabalho, da Votorantim?
R – Eu acho que a grande lição é principalmente a seriedade do grupo. Você trabalhar num grupo onde você vê seu trabalho reconhecido e você vê que ele está dando frutos. Isso é importante, mas o mais importante é essa sensação de fazer um trabalho bem feito, de contribuir para o país, é essa sensação de nacionalidade, de brasileirismo que a CBA e principalmente o dr Antônio lhe incute. Você vê que está trabalhando num país que é um país ainda em crescimento, carente de tudo e você pode fazer um trabalho em que você está contribuindo para o país desenvolver. Por isso que às vezes a gente fica triste e revoltado com essas questões ambientais, não que o meio ambiente não deva existir, acho que tem que existir, mas só que não pode ser o 8 ou 80. Acho que a gente tem que evoluir no sentido de criar uma legislação, não uma moratória ambiental para você poder fazer tudo. De repente ser mais ágil e voltado mais para o desenvolvimento do país. Porque se o país não se desenvolver... é um país que está crescendo a população tremendamente. Hoje você vê, nossa meninada se forma e não arruma emprego. Tem técnicos fantásticos aí... o Brasil tem equipes aí de projetos de investimentos e ferrovias e barragens e obras grandes aí, e acabou... acabaram todas essas empresas... então eu acho que a maior experiência que tem foi justamente essa vontade de trabalhar, continuar trabalhando e, apesar de estar com 68 anos já devia estar aposentado há algum tempo, mas ainda continuo com essa vontade de trabalhar, porque a gente vê que está trabalhando numa empresa que, principalmente, busca o crescimento e o desenvolvimento. E essa nacionalidade ferrenha que o dr Antônio transmite pra gente. Isso é até emociona cada vez que a gente... o dr Antônio fala nestas palestras que ele dá, a gente se emociona, a gente vê que ele sente aquilo no fundo da alma dele lá e ele transmite isso para gente. Isso aí é que eu acho que é uma coisa que a gente nunca vai esquecer. Vamos... enquanto a gente tiver trabalhando a gente tá imbuído dessa vontade.
P/1 – E sobre o projeto memória que você acha?
R – Eu acho fantástico isso aí é um negócio que eu sempre gostei muito de história. Aliás, faz parte da nossa formação que quando você começa estudar paleontologia e vê aqueles fósseis de antigamente, como é que a terra se formou, como é que evoluiu a evolução das espécies, do homem e tudo o mais. A gente vê que o passado é a grande chave do presente e do futuro, e então é uma coisa boa no Brasil não existia e hoje em dia você têm pessoas escrevendo livros sobre famílias, sobre cidades, tem um livro muito interessante feito pela Alcoa, lá de Poços de Caldas que é sobre a Companhia Geral de Minas. Aquela que eu te falei que o dr. Miguel trabalhou com ela no começo e que a gente acabou comprando dela uma parte e que deu origem a Alcoa. É um livro muito interessante porque eles quiseram fazer um livro sobre a empresa e acabaram por fazer um livro sobre mineração, em Poços de Caldas, até se você quiser ver esse livro, ele é muito interessante e eles resgataram fotografias e história de pessoas e tudo o mais, e isso daí é muito importante porque você vê as pessoas mais velhas vão morrendo, onde é que você vai resgatar a memória das empresas? Então as fotografias e depoimentos, eu acho isso aí fundamental e fantástico. A história da empresa.
P1 – E você gostou de dar entrevista para o projeto?
R- 1 - Achei ótimo, principalmente perante duas entrevistadoras tão simpáticas assim... Pessoal muito legal, bons profissionais. Gostei muito e espero que tenha correspondido, e se precisar de mais alguma coisa estou às ordens. Eu tenho esse material da CBA lá em casa, fotografias. Se for de interesse a gente pode fornecer.
P/1- Será. Carlos muito obrigado por você dedicar seu tempo a essa entrevista, foi muito bacana, muito obrigado Carlos.
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