P/1: Qual seu nome, local e data de nascimento?
R: Ismael Quirino Trindade Neto. Nasci em Andaraí, Bahia, em 20 de dezembro de 1964.
P/1: Qual o nome dos seus pais e dos seus avós?
R: Ruy Dias Trindade, Ismael Quirino Trindade, e Maria Dias Trindade. Valda Rabelo Dias Trindade, minha mãe, Otacília Rabelo Dias e Deocleciano Dias.
P/1: Deocleciano é seu avô?
R: Isso.
P/1: E qual era a atividade dos seus pais?
R: Meus pais, bom, meu pai foi juiz no interior e depois na capital. Depois ele se tornou desembargador, e hoje está aposentado. E minha mãe foi dentista. E já é falecida.
P/1: E a atividade dos seus avós, você sabe?
R: Sei.
P/1: Me fala o nome deles conforme você for falando.
R: Bom, o meu avô Deocleciano mãe...é [risos], pai da minha mãe, ele era comerciante de tecidos no interior, Paripiranga, onde meus pais nasceram. E minha avó, mãe de minha mãe, era dona de casa, Otacília, né. Meu avô Ismael, do qual eu herdei o nome, ele era...ele foi….várias profissões ele teve. Ele foi sapateiro, depois ele se tornou pecuarista, ele foi político, prefeito da cidade, e até ele morrer ele tinha fazenda, cuidava de gado, né, lá no interior. E a esposa dele, minha avó, era dona de casa.
P/1: E você tem irmãos?
R: Tenho três irmãos.
P/1: E me diz uma coisa, você cresceu nessa região que você nasceu? É perto de Salvador, localiza um pouquinho?
R: Bom, eu sou o único da família que nasceu em Andaraí, que todos os outros nasceram em Paripiranga, Bahia, que é região nordeste da Bahia, fronteira já com Sergipe, né. Só que eu nasci em Andaraí porque na ocasião meu pai estava trabalhando lá como juiz. E era tradição sempre que um filho ia nascer voltar pra Paripiranga, que era a cidade dos meus avós, cidade que meus pais nasceram, né. Só que conta a história, meu pai conta a história, de que se preparou todo com carro pra ir próximo do natal inclusive, né, e quando estava já saindo da...
Continuar leituraP/1: Qual seu nome, local e data de nascimento?
R: Ismael Quirino Trindade Neto. Nasci em Andaraí, Bahia, em 20 de dezembro de 1964.
P/1: Qual o nome dos seus pais e dos seus avós?
R: Ruy Dias Trindade, Ismael Quirino Trindade, e Maria Dias Trindade. Valda Rabelo Dias Trindade, minha mãe, Otacília Rabelo Dias e Deocleciano Dias.
P/1: Deocleciano é seu avô?
R: Isso.
P/1: E qual era a atividade dos seus pais?
R: Meus pais, bom, meu pai foi juiz no interior e depois na capital. Depois ele se tornou desembargador, e hoje está aposentado. E minha mãe foi dentista. E já é falecida.
P/1: E a atividade dos seus avós, você sabe?
R: Sei.
P/1: Me fala o nome deles conforme você for falando.
R: Bom, o meu avô Deocleciano mãe...é [risos], pai da minha mãe, ele era comerciante de tecidos no interior, Paripiranga, onde meus pais nasceram. E minha avó, mãe de minha mãe, era dona de casa, Otacília, né. Meu avô Ismael, do qual eu herdei o nome, ele era...ele foi….várias profissões ele teve. Ele foi sapateiro, depois ele se tornou pecuarista, ele foi político, prefeito da cidade, e até ele morrer ele tinha fazenda, cuidava de gado, né, lá no interior. E a esposa dele, minha avó, era dona de casa.
P/1: E você tem irmãos?
R: Tenho três irmãos.
P/1: E me diz uma coisa, você cresceu nessa região que você nasceu? É perto de Salvador, localiza um pouquinho?
R: Bom, eu sou o único da família que nasceu em Andaraí, que todos os outros nasceram em Paripiranga, Bahia, que é região nordeste da Bahia, fronteira já com Sergipe, né. Só que eu nasci em Andaraí porque na ocasião meu pai estava trabalhando lá como juiz. E era tradição sempre que um filho ia nascer voltar pra Paripiranga, que era a cidade dos meus avós, cidade que meus pais nasceram, né. Só que conta a história, meu pai conta a história, de que se preparou todo com carro pra ir próximo do natal inclusive, né, e quando estava já saindo da cidade minha mãe sentiu as dores e aí teve que voltar. E eu nasci em Andaraí, Chapada Diamantina, uma região belíssima que eu me orgulho bastante.
P/1: Você cresceu nessa região?
R: Não, não cresci, então eu não lembro nada da infância lá, porque eu saí praticamente com um ano e meio, dois anos de idade. E aí minha infância foi em Alagoinhas, uma cidade do recôncavo baiano, já saindo do recôncavo pro agreste, né, na Bahia. Porque meu pai foi transferido pra lá. Ele foi juiz de Alagoinhas durante 10 anos. De 1966 a 1976. Então nesse tempo minha infância foi toda lá. Agora, assim, nas férias sempre íamos para Paripiranga, cidade dos meus avós. Então haviam essas duas cidades de referência. E Salvador, eventualmente íamos, também, visitar uma tia, passear.
P/1: Mas cresceu mais no interior, né?
R: No interior, até os 12 anos eu morei em Alagoinhas.
P/1: E como foi a infância em Alagoinhas, morava numa casa, como era a casa?
R: Ah, é muito interessante essa história, porque eu morei numa rua, rua Luís Viana, a primeira casa que eu morei lá, que é justamente em frente, praticamente da base da Petrobras lá em Alagoinhas, né. Que também nessa época tinha se descoberto os campos de petróleo lá dessa região, né. Campo de Araçás, enfim. Inclusive meu pai tinha comprado uma terra que tinha campo, que tinha poços de petróleo, dentro da fazenda. Então havia toda uma relação já com a Petrobras desde minha infância.
P/1: Ah é?
R: Eu me lembro de um episódio inclusive que eu brincando, assim, no jardim de casa, tinha um pé de uns tomatinhos pequenos, né, aí eu brincando, eu coloquei dentro do ouvido e não conseguia tirar. Aí eu fiquei desesperado, aí minha mãe veio socorrer e não conseguia tirar também. Aí atravessamos a rua, ela me levou no ambulatório da Petrobras, aí o médico lá com a pinça tirou, assim, como num passe de mágica, aí foi aquele alívio, né. Então, assim, digamos que eu tô ligado à Petrobras desde dessa época [risos], né, desde a infância.
P/1: Deixa eu te perguntar uma coisa, você tinha alguma imagem da empresa ou era só uma empresa perto da sua casa? Tinha alguma fantasia?
R: Não, tinha uma imagem. No interior, lá em Alagoinhas em especial, era muito forte a presença da Petrobras. Muitas pessoas eram empregadas da Petrobras. Então na outra, na segunda casa que eu fui morar, que foi a casa que morei mais tempo, que era continuação dessa Luís Viana, rua Treze de Maio, tinha pessoas, vizinhos, que trabalhavam na Petrobras. Eram vigilantes, operadores, então os filhos eram meus amigos. Então, sempre teve, assim, no pano de fundo da minha vida, sempre teve a Petrobras presente, né.
P/1: E como foi ir pra escola, com quantos anos você foi e como era? O nome da escola e como era ela?
R: A primeira escola foi também em frente à minha casa, né, da primeira casa que eu morei, vizinha do prédio da Petrobras [risos]. Então era, assim, uma escola muito interessante, muito arborizada, mas eu fiquei pouco tempo lá porque houve um desentendimento da professora com meu pai por conta de uma briga que teve. Assim, a professora bateu na minha irmã, aí meu pai foi lá tomar satisfação e acabou brigando com a diretora e tirou todo mundo da escola. Aí a gente ficou um ano sem estudar, nesse ano que tirou da escola.
P/1: Só tinha essa escola?
R: Não, é que saímos assim, digamos, no meio do ano. Então não continuou, né. Aí eu achei ótimo isso, porque eu fiquei brincando [risos].
P/1: O que que você fazia, vamos lá, com tanto tempo pra brincar quais eram as brincadeiras?
R: Eram brincadeiras de criança mesmo, ir no quintal, subir em árvore, e correr. Mas aí fomos pra uma outra escola, numa outra parte da cidade, escola chamada Padre Anchieta, e então... a primeira escola eu não me lembro o nome, acho que era Luluzinha e Bolinha, era esse o nome. A segunda, Padre Anchieta, que depois, a mesma escola foi vendida e se transformou em escola Rui Barbosa, na praça Rui Barbosa, lá em Alagoinhas. E essa escola eu fiquei até a terceira série do primário. E na quarta série eu mudei pro colégio estadual, e já na quinta série já vinha, então, a mudança pra Salvador, né. Meu pai foi transferido para ser juiz em Salvador e aí eu mudei de escola, mudei de cidade, mudei de escola, e aí...
P/1: E aí ficou morando?
R: Uma nova etapa.
P/1: E aí como foi chegar em Salvador, como era a cidade, o que se fazia?
R: Bom, a gente já tinha um contato, né, porque visitávamos minha tia e minhas primas lá, já tinha um contato. Foi muito bom assim, foi uma coisa assim desejada, né, pra desenvolver os estudos. Então eu já tava indo cursar a quinta série, foi num momento interessante.
P/1: Isso foi em que ano?
R: 1976. Aí meu pai vendeu essa fazenda que tinha lá na região, comprou uma casa em Salvador, né. Essa fazenda que tinha poços do campo de Araçás dentro, né. Se fosse hoje ele não venderia, né, porque hoje tem o royalty, naquele tempo não tinha [risos]. Ele “taria” recebendo, talvez, uma boa renda aí, né. Mas naquele tempo a compensação era só...como é que chama...a servidão, né, que é tipo um aluguel do espaço que o poço ocupa, servidão e tem outro...
P/1: Ah, o poço então era dentro da...?
R: É, eram vários poços...
P/1: Você ia muito ver, via petróleo, com é que era?
R: Eu ia, via o cavalo de pau, né, víamos os oleodutos. Inclusive tinham uns leilões da Petrobras, meu pai comprou um Fusca que foi da Petrobras [risos], cinza, na época comprou; PickUp também, então. Me lembro de dois Fuscas que ele comprou e de uma Pickup, né. Cinza que era a cor que a Petrobras pintava os carros, né. Então comprou num leilão, e tinha essa história sempre, né. Assim como pano de fundo, né.
P/1: Mas em Salvador você completou então seus estudos?
R: Em Salvador fiz o ginásio, e aí depois, o segundo grau, fiz Escola Técnica. Escolhi o curso de geologia na Escola Técnica, e quando terminei, emendei direto com a faculdade. E fiz geologia de novo na faculdade.
P/1: E me diz uma coisa, antes da gente explorar essa escolha, né, como era a juventude em Salvador, quais eram os divertimentos, o que se fazia na cidade, modas, coisas assim que marcaram sua juventude?
R: Humhum. Bom, como a gente era assim vindo do interior, então quando a gente chegou lá no bairro que eu fui morar, no Pituba, _______ da Cidade da Luz, era uma área nova também de expansão da cidade. Então a gente continuou assim aquele ritmo de interior, explorava assim o bairro, que ainda tava construindo muitas casas, tinha algumas áreas verdes ainda, trilhas, íamos andando pra praia. Então tinha aquela coisa, as ruas não eram calçadas, então dava pra andar de bicicleta com a turma. Então tinha essa coisa ainda de liberdade, né. Que hoje em dia talvez não seja possível mais, né, tá bastante urbanizada e a violência também, né, crescente. Mas a gente tinha isso, né. E tinha a escola também que era um ponto de encontro da gente, e com os colegas novos, explorando o bairro da Pituba.
P/1: Mas a escola era na Pituba mesmo?
R: Era na Pituba. Foi a escola Ana Neri, escola pequena, porém muito interessante assim. E íamos a pé pra escola, próxima ao Colégio Militar, passávamos pelo Colégio Militar até chegar à escola. Íamos também pelo fim de linha da Pituba que ainda era uma fazenda de côco, na época. O que hoje é o bairro do Itaingá, né, era uma fazenda de côco, então a gente ia até um certo trecho de rua, depois tinha que pegar uma trilha, se quisesse ir por esse caminho, pra chegar na escola, né. Então subia o morro de coqueiral e descia lá do outro lado. Então tinha esse elemento ainda, assim como eu vou dizer...
P/1: Meio rural.
R: Meio rural, assim se transformando tá. A gente viu essa transformação, eu diria.
P/1: Então você praticamente viu Salvador crescer pra essa área, né?
R: Pra essa área sim. Então foi nessa época que surgiu o Shopping Iguatemi, não tinha nem ônibus comum, só tinha o frescão. E a gente não tinha grana pra pagar o frescão, a gente ia a pé pelo caminho das árvores. E aí ainda tinha que atravessar uns morros, que ainda não tinha rua e tudo [risos]. Então era uma verdadeira, assim, aventura, né, dentro da cidade, né. Ainda era possível ter.
P/1: E me diz uma coisa, na sua família tinha alguma expectativa em relação a uma carreira que você seguisse ou?
R: Tinha. Assim meu avô, pai do meu pai, ele tinha assim uma coisa que ele dizia: “Bom, só existem três profissões: medicina, engenharia e direito. Não, odontologia também. Seu tio é dentista e se deu bem”. Aí meu pai também internalizou isso, e ele ficava repetindo. E ele como fez direito, ele tinha essa expectativa, né. Mas não tão assim, ele me deixava também muito à vontade, né. Tanto que quando eu escolhi geologia, eu até acho interessante, porque o que me despertou pra eu escolher geologia foi até uma, uma excursão que eu tive, talvez quando eu era do ginásio, pra refinaria Landulfo Alves. E eles distribuíram, assim, um caderninho falando das atividades da Petrobras. Eu me lembro muito bem do texto que falava da parte da exploração, da geologia, né. Desenhava os perfis, com as rochas, com as camadas, como é que tirava o petróleo. E isso ficou, assim, acho que no subconsciente, né. Que quando eu fui escolher a profissão pra Escola Técnica eu vi que eu não tinha, assim, nenhuma empatia maior por profissões que fossem para indústria, né. Que era o que a Escola Técnica muito oferecia, que era química, né, eletrotécnica. E assim, Estradas, que era uma coisa mais construção civil, e Edificações também não me despertou muito. Quando eu vi o posto de geologia eu disse: “Não, é esse que eu quero”. E aí optei por geologia, aí minha mãe, minha irmã, que tava fazendo química, mais velha que eu: “Ah esse curso é o que as pessoas menos escolhem, assim, é o mais fraco...”. É, assim, o que dá menos...
P/1: Futuro?
R: Menos ibope, o que tem menos emprego, né, diziam isso, né. Mas aí eu dizia: “Não, mas se eu for fazer Escola Técnica, eu acho que só faria isso aí”, né. Porque eu não tinha, assim, muita expectativa de fazer Escola Técnica...
P/1: Mas tinha opção de geologia na Escola Técnica?
R: Foi mais uma coisa, assim, que minha mãe, não obrigou, mas sugeriu fortemente, né. Porque assim, minha irmã mais velha tinha feito, meu outro irmão mais velho também, eu era o terceiro... “Não, você tem que fazer Escola Técnica porque é bom, porque já dá um emprego, é alguma coisa que você já tem.” Mas aí quando eu fui optar mesmo, eu disse, bom, se é pra fazer, então eu vou fazer uma coisa que eu acho que tenho a ver, né, comigo, então escolhi geologia.
P/1: Hum, hum.
R: E eu gostei do curso, gostei bastante, eu acho que tinha essa coisa de contato com a natureza, as excursões.
P/1: Tinha muito, muita viagem que vocês faziam na Escola Técnica?
R: Tinham pequenas viagens pela região de Salvador já, né. E assim no final do curso tinha excursão pro interior, Jacobina. Naquela região, fazia mapeamentos, então isso foi muito interessante, porque acho que tinha também uma ligação com essa coisa, minha, da infância, de explorar os lugares, os arredores da cidade, eu gostava muito. Assim, eu até era tido como sonso, né, porque [risos] eu criava os planos, né, vamos em tal lugar, então era um lugar assim longe, né. Eu me lembro até de um lugar em Paripiranga, nós vamos em Simão Dias, que era cidade vizinha, pela estrada, comprar passarinho na feira, né. Aí eu chamava, arregimentava minha irmã mais nova e meu irmão e íamos, né, fugíamos. Então, aí eles eram tidos como danados, mas quem arquitetava os planos, na verdade era eu, né. [risos].
P/1: Ismael me diz uma coisa, então o curso de geologia na Escola Técnica te satisfez e quando você foi fazer faculdade optou também por geologia. Teve alguma reação em casa ou a essa altura você já tinha convencido a sua família que...?
R: É, assim, eu fiquei em dúvida se eu faria geologia, quer dizer, ou se eu continuaria com geologia. Me lembro que me despertou atenção, assim, arquitetura. Aí, mas na hora H de fazer inscrição mesmo, eu disse: “Não, vou continuar com geologia”. Assim, digamos que a experiência que eu tive com Escola Técnica foi muito boa, né, e aí eu fiz geologia na Federal. E aí eu fiz, também, ao mesmo tempo na Católica, engenharia civil e passei. Aí eu fiquei o primeiro semestre cursando as duas, que pelo fato de eu ter passado nas duas, e estar assim cursando as duas, federal e engenharia civil na católica, eu acho que isso não me pressionou muito quanto a escolha de geologia. Só que depois eu abandonei a engenharia, né, fiquei só com geologia.
P/1: E você tinha alguma expectativa em relação à carreira de geólogo? A Petrobras aparecia pra você como uma opção de trabalho, assim, em sonho?
R: Olha, no começo do curso, nem tanto assim, né, mas pro final do curso eu pensava.
P/1: Em fazer concurso?
R: Em fazer concurso, tanto que caiu certinho, foi acabar o curso, em 1988, e em 1989 abriu concurso pra Petrobras. Início de 1989, tanto que teve, foram dois concursos. O primeiro foi anulado, foi logo no começo, eu formei em setembro, aí fui fazer estágio no interior, depois em dezembro de 1988 já havia notícia do concurso, me inscrevi. Aí teve no início de 1989 o concurso, aí anularam o primeiro, porque parece que houve fraude aqui na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], roubaram os gabaritos. E aí repetiu o concurso, aí eu fiz, passei, e aí...
P/1: Hum, hum. E foi seu primeiro trabalho?
R: Foi meu primeiro trabalho. Agora, assim, a gente fez o concurso como bolsista. Nós não fomos ainda empregados da Petrobras na época. Porque na época tava fechada a contratação direta porque, parece, que é por causa de eleição, né, aquele tempo antes da eleição. Então o artifício que houve é que a gente seria bolsista da UFRJ, né, estudante ainda, né, bolsista fazendo curso de pós-graduação, então a gente tem o título de especialização em geologia do petróleo pela UFRJ. E depois desse curso é que nós fomos contratados. Ou seja, em 2 de maio de 1990 eu assinei o meu contrato de trabalho com a Petrobras.
P/1: E você foi trabalhar em que área?
R: Aí eu fui trabalhar em acompanhamento geológico de poços. Acompanhamento da perfuração de poços, né, acompanhamento geológico.
P/2: Aí já como geólogo?
R: Já como geólogo, isso. Porque de 1989, no segundo semestre de 1989 eu fiquei aqui no Rio como bolsista fazendo o curso, no edifício Serrador na Cinelândia. O curso que a Petrobras, através da UFRJ, estava proporcionando para os bolsistas ingressos, né. Várias turmas entraram, né, de engenheiros, de geólogos, de analistas de sistema. E terminamos em dezembro, né, voltamos, janeiro e fevereiro de 1990, fizemos o curso na Bahia como estágio, lá no campo, na área do recôncavo. Aí viemos pra cá, meados de abril, maio, é em abril. Março e abril fizemos os exames médicos e fomos, então, contratados. Aí ficamos de nos apresentar por volta de junho, né. Só que eu não cheguei a me apresentar porque nesse tempo houve aquela célebre demissão em massa que Fernando Collor fez para caçar os marajás, né, só que ele só demitiu o pessoal, que pelo menos no nosso caso, era recém ingresso.
P/1: Ah você nem chegou a assumir então na Petrobras?
R: Nós fomos número, né, nessa coisa de demissão de funcionários públicos, né. Então eu nem cheguei a assumir, eu tava com passagem e tudo pra ir pra Aracaju me apresentar, quando veio o telegrama informando que eu tava sendo demitido, aí eu fui na sede da Petrobras lá na Bahia e assinei a demissão. E aí, o que eu vou fazer agora, vou tocar minha vida pra frente. Um colega daqui que eu tinha feito esse curso de bolsista informou que a UFRJ tava abrindo concurso pra mestrado em geologia ambiental. Aí eu vim pra cá, me inscrevi, isso em junho, me inscrevi, passei e comecei a cursar.
P/1: Humhum. E o que que te atraiu pra geologia ambiental?
R: Ah, geologia ambiental, porque eu sempre tive um pezinho assim na área da ecologia e do meio-ambiente. Na faculdade nós tínhamos um grupo que a gente formou, um grupo informal, que a gente chamava de grupo da filosofia da geologia. Então a gente discutia essa relação, assim, o que que a geologia tinha a ver com meio-ambiente, com a ecologia, já desde dessa época. Tinha um professor que dava, assim, um suporte a nós, né, aos alunos. E dentro disso, acho que foi criando dentro de mim, assim, essa abertura para trabalhar também com essa perspectiva do meio-ambiente sendo geólogo, né. Então quando surgiu oportunidade depois que eu fui demitido por Fernando Collor, eu aí vim pra cá e vim feliz da vida, assim como bolsista, ganhando aquela bolsa, que pra viver no Rio de Janeiro era um pouco apertado, mas tava super contente e tudo. E aí foi quando veio a notícia, que por conta de uma guerra entre Irã e Iraque, que os preços do petróleo se elevaram, e que a Petrobras precisava reinvestir no pessoal e contratar pessoas. Então todos os demitidos foram convocados para serem readmitidos. E aí disso eu tinha três semanas só de curso e fui chamado, aí eu digo: “Aí meus Deus e agora? Depois que eu arrumo minha vida de novo, vou ter que desarrumar outra vez” [risos]. Mas aí eu pensei bom, eu sou novo, viver aqui como bolsista não é fácil, né, no Rio de Janeiro, ter que alugar apartamento, pagar alimentação, transporte. Eu vi que não, eu não tinha família aqui, né. Mas aí eu disse, mas o sonho, os sonhos nunca envelhecem, né, já disse o pessoal do Clube da Esquina, né. Então esse sonho de me tornar geólogo de meio-ambiente pode ser mais pra frente, né. Então aí eu voltei pra Petrobras. Fui pra Aracaju e trabalhei, né, de 1990, segundo semestre, 1991 todo, e início de 1992 como geólogo de acompanhamento de perfuração de poços, né, geólogo de exploração. E aí em 1992 surgiu a oportunidade de trabalhar como assistente regional de meio-ambiente na exploração, na geologia, lá, né. Porque era um cargo de uma pessoa só pra começar a lidar com essas questões ambientais que tavam já sendo demandadas, assim, em todos os setores da empresa, e lá na geologia não era diferente. Em você tinha uma pesquisa sísmica, essa pesquisa tinha que obter uma licença ambiental no órgão estadual, então precisava de uma pessoa que agilizasse isso, que visse toda a documentação necessária, as informações, os cuidados ambientais que a pesquisa teria que ter. E nisso havia um colega meu que tinha essa atividade e ele foi fazer o mestrado e ficou vago então foi quando eu me candidatei, né. A princípio, o superintendente achou: “Mas você vai fazer isso agora, você é tão jovem ainda, e não se desenvolveu tanto nessa área, que é a área maior da geologia na empresa”. Eu falei: “Não, mas eu quero porque eu já tinha um contato com essa área ambiental e eu to disposto a começar essa área”. E aí fiquei e tô até hoje nessa área ambiental, né, depois de uma passagem, assim, rápida na exploração, né, no acompanhamento de poços.
P/1: Aí depois você retornou para fazer o mestrado ou...?
R: E aí não, o sonho ficou lá, né, ficou lá atrás o sonho de fazer o mestrado, eu já nem pensava mais em fazer mestrado nenhum porque o dia-a-dia, né. Eu casei, em 1993, eu casei, né, e aí o trabalho começou a absorver bastante. E depois de assistente regional de meio-ambiente na exploração houve uma reestruturação na empresa, e aí foi criada uma assessoria de meio-ambiente, e eu fui convidado pra ser gerente. Então não era mais eu sozinho, me tornei gerente dessa assessoria de 1995 a 1998, 1999, não to bem lembrado. E aí então eram muitas demandas, né, pra dar conta, então nem pensava em fazer pós-graduação.
P/1: Isso era em Sergipe?
R: Em Sergipe porque a nossa área lá tem em Sergipe e Alagoas, né. Mas a gente fica sediado em Aracaju, Sergipe. E aí, então, depois em 1999 houve outra reestruturação da empresa, foi criada, então... juntou, a assessoria que era de meio-ambiente junto com a de segurança e saúde. Então eu deixei o cargo de gerente e fui pra gerência de SMS, que é meio-ambiente, saúde e segurança, e aí fiquei 1999, 2000. Quando foi no final de 2000 eu soube desse mestrado em desenvolvimento de meio-ambiente pela Universidade Federal de Sergipe e aí me deu uma coisa me puxou pra ele. E aí eu fui pro meu gerente e argumentei que eu gostaria muito de fazer, que eu já tava há algum tempo nessa área e precisava de uma coisa a mais fora, pra me dar um gás, um novo desenvolvimento, né. E aí batalhei lá, argumentei, pedi ao gerente, ao gerente geral pra fazer e pra dar a liberação, escrevi o pré-projeto. Então primeiro eu fiz a seleção, né, porque tinha uma seleção lá na universidade e aí passei, aí mostrei que tinha passado. Passei bem, né, bem colocado, de primeira, porque às vezes você faz a seleção e você não passa logo no primeiro ano, aí você tenta no outro, né.
P/1: É, ainda mais que você tava afastado, nem, da universidade?
R: Exato, mas aí como eu passei logo, e tava assim, foi o momento certo, 2001.
P/2: E você ficou afastado do trabalho na Petrobras nesse tempo?
R: Não, eu no primeiro ano, que são dois anos de mestrado, né, 2001 e 2002. Na verdade março de 2001 a março de 2003, dois anos. Então no primeiro ano como era...a gente cursava as disciplinas do mestrado e fazia os trabalhos, eu obtive só a licença pra assistir às aulas, né. Então foi meio expediente trabalhando e meio expediente fazendo as disciplinas. E aí estudava em casa à noite, fazia como era possível, né. E me dei bem, né, assim, eu e a minha colega, que fez junto também, do mesmo setor, lá do SMS [Política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde], a gente conseguiu fazer, né.
P/2: Quem era a sua colega?
R: Mara Régia. Ela desenvolveu pesquisa com resíduos. A incorporação de resíduos oleosos da indústria de petróleo na indústria cerâmica, fazendo uma transformação, uma reciclagem.
P/2: E o seu projeto era sobre o que?
R: Então, aí no meu projeto eu já coloquei dentro de uma área da Petrobras, o campo de Carmópolis, que há mais de 40 anos produz petróleo e eu fiz uma análise de toda a área com relação à questão florestal. O que as leis determinam, como é que está a situação florestal no campo, o que que precisa, então, ser revitalizado. Não só pra atender a legislação, mas também pra trazer todo benefício ao meio-ambiente que os espaços florestados trazem, né. Então a minha pesquisa foi isso. Então no ano de 2002, que foi o ano da pesquisa, com eu tava com um trabalho dentro da empresa, minha pesquisa era um tema da empresa, eu consegui ficar só voltado pra ela. Também era muita... eu estudei a área do campo que pertence à Petrobras, porque nem toda área do campo é da Petrobras, tem partes que são de fazendeiros, de pequenos produtores. Mas tem uma grande área que é uma área pertencente à Petrobras, a Petrobras é dona da terra também. Então foi aí, na fazenda Oiteirinhos, de propriedade da Petrobras que eu foquei minha pesquisa. Então eu passei o ano de 2002 todo com a pesquisa, né, pra ver como tava a situação dessa cobertura. Mas não só analisar a cobertura florestal, mas o que as pessoas também, que compartilham desse espaço, porque a área da Petrobras é aberta, ela não tem lá cercas impedindo que a comunidade transite lá. E a comunidade usa a área, pequenos sitiantes fazendo pequenas plantações, criando gado, utilizando os rios pescando. Então o que eles, qual a percepção que a comunidade tem da presença da empresa, d questão florestal, das matas. Então eu também entrevistei pessoas lá pra saber o que eles pensavam disso aí. E o que que eles pensavam, então, de um projeto de recuperação da mata, da mata de reserva legal que roda a propriedade tem que ter. E pra minha surpresa assim, eu não tinha idéia do que ia dar o resultado da pesquisa, né. Eu achava que ia dar num projeto de reflorestamento com educação ambiental pra que as pessoas ajudassem a preservar a mata, a floresta.
P/2: Imaginava então um resultado prático?
R: Já imaginava um resultado prático, com projeto de reflorestamento com educação ambiental, com a conscientização ambiental da população pra cuidar desse espaço. Mas aí percebi que a questão de você criar espaços florestados simplesmente era uma ameaça pra comunidade. Porque ela dizia: “Eu vou plantar aonde, a gente é pobre, já não tem terra, aí o pouquinho que a Petrobras tem e deixa a gente plantar ainda vem...”. Então o subtexto por trás de tudo era essa questão, né. E eu peguei algumas falas, né, quando eu falava: “Você acha interessante a gente criar uma reserva aqui?”. Eles diziam: “Acho”. “Você vai cuidar?”. “Vou”, mas aí eles diziam: “Mas eu acho também que tinha que plantar coisa que sirva pra gente, manga, fruta, pra gente comer porque a coisa não tá fácil não”. E aí eu fiquei com essas coisas assim. Eu disse: “Poxa, como é isso, eu vou apresentar uma solução e criar um problema”. E aí fui pesquisando literatura assim, né, tava pesquisando, e aí me detive com o tema sistemas agroflorestais, que eu não conhecia, não sabia o que era.
P/1: Então diz pra gente o que é, rapidinho.
R: E aí tá lá escrito nos documentos do ministério do meio-ambiente pra Agenda 21, né, uma experiência de sistemas agroflorestais como alternativa sustentável para o meio-ambiente. Porque os sistemas agroflorestais é você plantar culturas agrícolas junto com árvores. O tempo que as árvores vão crescer, as árvores têm crescimento mais lento, é o tempo que as culturas agrícolas já vão se desenvolvendo e dando seus frutos. Então você planta milho, feijão, mandioca, é, aipim, aqui chamam aipim, né, lá é macaxeira [risos].
P/1: Macaxeira?
R: Você sabe, né, aipim, né. Então planta maxixe, abóbora, quiabo, mas você planta toda uma série de sementes das árvores, árvores que vão demorar assim, é, quatro anos pra atingir talvez um metro, um metro e meio, dois. Porque as árvores têm crescimento mais lento, enquanto isso você já produziu milho, feijão no primeiro ano, no segundo ano você vai ter a macaxeira, vai ter o maracujá, que já vai tá enramando em alguma árvore que cresce um pouquinho mais rápido. Então todo o tempo você vai tendo também produção agrícola. E quando as árvores tomarem conta, você já botou lá algumas árvores que produzem frutíferas. Botou o cupuaçu, o caju, a jaca. Banana, no segundo, terceiro, quarto, quinto ano você vai ter bastante. Então é introduzir essa cultura da permanência, de que você não precisa ter toda a terra ali parada pra produzir as culturas agrícolas, ou então você ter o espaço só da mata. Então você vai ter tudo junto, então essa é a idéia dos sistemas agro-florestais. E pra mim era novidade, tava vendo ali, a nível de publicação, aí eu fui no pioneiro dos sistemas agroflorestais na Bahia, que é um suíço, Ernest Göet, radicado há mais de vinte anos na Bahia,que desenvolveu um sistema próprio aqui pro Brasil, e que é bastante diversificado, que se assemelha à mata atlântica original. Recuperou pastagens lá, áreas que eram degradadas, onde você não tinha mais nenhuma mata, as nascentes já tinham secado, tinham secado, então hoje é uma mata assim exuberante produtiva de cacau, de frutíferas. Áreas outras que ele vai a cada ano recuperando, ele sempre tá produzindo, então, os cultivos anuais, o milho, o feijão. E esse trabalho não é só dele, já tem uma série de associações e grupos no Brasil todo. Ele dá consultoria desde Amazônia ao Rio Grande do Sul, desenvolvendo esse trabalho. Então, aí eu fui visitar e aí eu disse: “Não, é isso que eu tenho que propor aqui”. A integração entre a necessidade ambiental e a necessidade social pra essa região, pra essa comunidade de Carmópolis e Japaratuba, que é justamente a comunidade onde o campo de Carmópolis está localizado.
P/2: Mas como é que são essas comunidades, elas são comunidades pobres?
R: São comunidades pobres.
P/2: Como elas fazem a manutenção econômica, basicamente agricultura?
R: Então, é, as cidades de Japaratuba e Carmópolis têm obviamente, assim, um desenvolvimento por conta da indústria do petróleo, Mas não deixam de ser cidades com muitas pessoas ainda de nível social mais baixo. Então muitas pessoas dependem da agricultura, muitas não têm terras, então são diaristas, né, vendem o trabalho pra fazendeiros, muitos... E por conta dessa facilidade da área da Petrobras no campo de Carmópolis, a Petrobras não proibir a atividade lá. Muitos têm pequenas roças. E tem, assim, aí é uma história a parte, porque pra essas pessoas entrarem, elas entraram informalmente, mas aí a empresa formalizou com a prefeitura um contrato de comodato, cedendo a terra emprestada pra plantação. Isso na área de Carmópolis. E na área de Japaratuba havia sido prometido e nunca tinha se concretizado. E então com essa minha proposta, nós começamos um projeto piloto de comodato com a prefeitura de Japaratuba, com doze famílias na área de Japaratuba, justamente pra implantar a atividade agrícola, mas na forma de sistemas agroflorestais.
P/2: E aí nesse momento a Petrobras já tinha assumido seu projeto de mestrado, ele já tava pronto?
R: Então, eu tinha defendido em março, apresentei em abril pro gerente geral, ele gostou da idéia e aí me colocou como coordenador do projeto. Então eu fui atrás da prefeitura, fizemos contatos, a prefeitura selecionou os agricultores da região, né, doze agricultores, doze famílias, né, destituídas de terras. E em junho nós começamos de fato em dois lotes, que a gente batizou de lote-escola lá na área da Petrobras, o trabalho. Começamos então com uma prática coletiva, ninguém tinha lote individual. E aí esse primeiro ano...
P/2: Mas aí esses doze agricultores que foram selecionados eles não tinham que ter lote, mas quais eram os outros critérios que a prefeitura estabeleceu?
R: Então, agricultores , né, moradores lá do município que tinham interesse em desenvolver agricultura, que não tem terras, e que foram lá e se inscreveram. Basicamente esses foram os critérios.
P/1: Ismael, me diz uma coisa, a sua dissertação de mestrado ela foi um projeto, uma proposta de ação, ou ela foi uma reflexão?
R: Foi uma reflexão, então, concluindo que aquilo ali, que a revitalização daquele espaço, daquele território, para que a mata voltasse a compor de forma mais efetiva o espaço, deveria ser feito na forma de sistemas agro-florestais. E aí eu já deixei encaminhado assim toda uma série de requisitos para fazer isso. Tanto que em seguida nós iniciamos o trabalho.
P/1: E você já tinha expectativa da Petrobras acolher este projeto?
R: Olha, quando eu terminei assim, a coisa foi saindo, assim, tão fluida, tão orgânica, do momento que eu parei pra pensar e vi esse caminho, que foi muito natural, assim. Tanto que havia, assim, uma demanda no Ministério Público pra que houvesse umas ações de revitalização da mata atlântica junto à Petrobras, então foi apresentado esse projeto, foi aceito. Então houve uma série de fatores, assim, que foram favoráveis pra que houvesse essa continuidade natural da dissertação para a implantação do projeto.
P/1: E como é que foi a implantação e o seu papel na implantação?
R: Então, meu papel na implantação foi organizar esse grupo de agricultores, essa relação com a prefeitura, delimitar essa área, trazer um consultor, nós trazemos o Ernest Göet pra ensinar a gente, porque ninguém tinha ideia dessa prática. Colocamos também dois técnicos agrícolas estagiários da escola agro-técnica. Então foi assim um trabalho pioneiro pra todo mundo, esse primeiro ano. Começamos um pouco tarde em junho, porque as chuvas começam agora em meados de março.
P/1: Esse ano foi dois mil e?
R: 2003. Então começamos em junho, então já pegamos do meio pro fim das chuvas. Mas mesmo assim houve muita produção de milho, de feijão, de maxixe, de abóbora. E foram plantadas as árvores com as poucas sementes que a gente tinha, porque nós não tivemos tempo de colher semente no verão. Porque no verão é a época, lá nessa região, que as árvores frutificam e produzem as sementes. Mas conseguimos algumas sementes, então no primeiro ano tivemos um resultado bom em termos agrícolas, e em termos, assim, das florestas alguns resultados tímidos. Mas ao mesmo tempo, paralelo a isso., nós revitalizamos o viveiro de mudas que já havia lá na área da Petrobras. E o que fizemos? No segundo ano nós tratamos de fazer uns curativos, ou seja, onde tinha pouca semente de árvore, onde não vingou muita árvore nós colocamos essas mudas. E temos o viveiro até produzindo pra poder fazer, justamente, esse reparo onde não nasce muitas árvores por algum motivo, seja por formiga, seja porque a semente não tá muito boa, a gente faz esse curativos e vai tocando o trabalho.
P/2: E além desse viveiro de mudas que outras atividades vocês têm no projeto?
R: Bom, então nós temos os campos de produção, os lotes-escola, e no ano passado nós entramos com os lotes individuais ao redor desses lotes-escola, desses dois lotes. Então nós temos doze lotes individuais de meio hectare cada um, onde os agricultores, cada família começou sua produção individualizada. Além esse lote individual, eles trabalham também no lote-escola, ainda no sistema comunitário. E nós temos também junto com isso um trabalho com a equipe de técnicos agrícolas, os dois que eram estagiários foram contratados, hoje são técnicos do projeto, que dá assistência técnica a eles. Eu também vou toda semana lá, acompanho o projeto. Temos também o engenheiro agrônomo que é consultor nosso e vem de dois em dois meses também acompanhar o projeto. Ele trabalha, foi aluno do Ernest Göet, ele é o Henrique Souza, e assim, digamos, que ele é o aluno mais antigo do Ernest Göet, e já faz um trabalho muito na Bahia, inclusive no semi-árido e na área do litoral. Inclusive o trabalho do Instituto de Permacultura, que ele faz parte, foi premiado, já foi entrevistado pelo Globo Rural. Então, assim, o sistema agroflorestal mostra que é eficiente na caatinga, no litoral, na Amazônia, apesar de ser ainda um sistema pioneiro, que demanda muito conhecimento, uma mudança de cultura, né, porque, aí já vou entrar no sistema agroflorestal, né. A gente tem toda uma série de práticas que são as práticas agroecológicas. Porque você pode fazer uma agricultura orgânica sem ser sistema agroflorestal, que se assemelha nas práticas, assim, de você não fazer queimadas, você não arar a terra, você não usar defensivos químicos. Isso tudo a gente também adota, são práticas agro-ecológicas. Mas além disso a gente insere também elemento florestal. Que no elemento simplesmente agrícola, na roça tradicional, não é usado.
P/1: E me diz uma coisa, as pessoas que já tem uma certa cultura, diferente dessa, elas aceitam facilmente não usar agrotóxico, plantar de uma determinada maneira, não queimar?
R: Então, e aí é como disse um agricultor no início do projeto “plantar dentro do mato isso eu nunca vi não, tô besta de saber”. Foi o que falou pra gente, mas aí com a gente e tá mostrando que é possível, né. Então é um choque cultural, pra todo mundo. Inclusive porque simplifica muita coisa. E até na simplificação as pessoas não estão acostumadas. Estão acostumadas a fazer as coisas pesadamente, arar a terra, né, vive do suor do rosto, como diz o Gênesis, né. E quando a agrofloresta se desenvolve, você fica num sombreado, você parece que tá num ar refrigerado natural, sabe. Então as coisas ficam tão leves que é difícil até se acostumar com essa leveza, né. O mato não cresce.
P/1: Mas então eles não resistem a adotar essas...?
R: Resistem, resistem. Eles resistem, é uma mudança cultural muito forte. Mas, assim, também, à medida que os resultados vão aparecendo eles vão ficando cada vez mais entusiasmados, principalmente os mais jovens. Os mais antigos são mais, assim, céticos, mas também têm o papel de criticar, de questionar, né, então...
P/2: E vocês selecionaram doze agricultores e são doze lotes de terra?
R: Isso.
P/2: Esses lotes foram cedidos pras esses mesmo doze agricultores?
R: Pra esses mesmo doze.
P/2: E eles tão no projeto até hoje?
R: Tão até hoje, com exceção de dois que saíram, então foram substituídos. Porque um saiu por questões médicas , ele teve uma lombalgia, então tá sendo acompanhado pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]. E um outro pediu pra sair, acho que o outro realmente não se adaptou, que é normal, né, assim, não se adaptou ao trabalho, talvez ele tenha entrado talvez, não tanto com a perspectiva de se tornar agricultor mesmo, né. Ele viu aquele chamado da prefeitura e tinha os amigos e foi, né, e trabalhou, a gente via que ele trabalhava e tudo, mas ele não tinha aquele gosto pelo ofício de agricultor, né. Então naturalmente ele se desentendia com as pessoas e tudo, e teve uma hora que pediu pra sair e saiu, e nós colocamos outra pessoa no lugar, né.
P/2: Ismael, você já acha possível perceber nesses dois anos de projeto resultados na vida desses agricultores e da própria comunidade?
R: Bom, na própria comunidade fica difícil, né assim, mas na vida dos agricultores sim. Eles assim, estão muito entusiasmados, eles já têm todo um conhecimento de práticas agroecológicas. E o conhecimento é construído, assim, com o que eles sabem, com o que a gente trás de consultoria. E muita coisa da consultoria é corrigida pela experiência prática deles. Então assim é um aprendizado que é construído em duas vias. Não tem essa do formado, do doutor chegar e dizer o que sabe. Pelo contrário, a gente tem aprendido cada vez mais. Principalmente coisas assim, vai plantar num terreno que é mais alagado, eles chegam e dizem “assim não dá certo”, aí a gente “não, mas vamos fazer assim”, e quando chega não dá certo mesmo. Aí faz do jeito deles e aí vê que dá certo. Então tem muitas coisas que eles realmente, assim, dizem a direção de como se deve fazer, né.
P/2: Anteriormente você falou que é um trabalho de equipe muito grande, e tem um a pedagoga desenvolvendo trabalho com esses agricultores. O que que ela tá fazendo?
R: Então, a agricultora, a pedagoga, desculpe, ela acompanha essa questão da construção do conhecimento. Então ela tem essa base em Paulo Freire, né, na pedagogia de Paulo Freire. Inclusive, quando eu a convidei, ela era mestranda, pra desenvolver a dissertação de mestrado dela nesse projeto, e ela fez e defendeu no final do ano passado, justamente pra ver como era a construção desse conhecimento. Como mudou assim do início, pro meio, até o final do projeto, até o final da pesquisa dela, porque é um ano de pesquisa, essa construção do conhecimento. E ela mostra como eles vão aprendendo e construindo os conceitos, e essa visão da agrofloresta, né. Saindo daquela coisa mais limitada de poucos cultivos, milho, feijão, mandioca, que era o que o básico, né. Pra uma coisa mais rica, mais diversificada, mais biodiversa. Mais próxima da natureza no seu estágio primitivo, que é a floresta, a mata atlântica, né. Só que isso com o homem inserido nela, né. Então acho que quando o homem entra aí, com conhecimento harmonizado com o processo natural a coisa se acelera, então é isso que o Ernest Göet provou, que a recuperação da mata atlântica é possível de forma mais até acelerada, e com vantagens pra sociedades, ou seja, é possível ter espaços preservados com a sociedade coexistindo. O homem inserido na natureza e não aquela coisa estanque, que é o homem [que] vai fazer seus desmatamentos e ali, a reserva florestal cada vez mais pressionada, porque precisa cada vez mais de espaço. Então é isso que eu defendi na minha dissertação, é isso que eu acredito, e que na prática a gente tá querendo cada vez mais ser mostrada, e divulgada, porque eu acho que no Brasil você tem que combinar essas duas instâncias, sociedade e natureza. Não dá pra ficar focando só numa coisa, porque chega uma hora que as duas entram em conflito. Ou harmoniza, ou... não vejo outra solução, sinceramente.
P/2: Mas qual é o nome da pedagoga?
R: Ana Paula Fraga Bolfe.
P/2: Nesse projeto, você tá há dois anos com o projeto, mas antes ainda fazendo o mestrado, você teve algum problema, algum grande desafio na hora de implantar ou ao longo dele?
R: Claro, né, sempre tem, as expectativas são grandes pra que dê certo, e na verdade vejo que é uma construção. Então no primeiro ano a expectativa era grande, que ao final do primeiro ano você já tivesse, ali, as coisas do jeito que o consultor faz, né. Mas são pessoas novas entrando numa metodologia nova, então as árvores não cresceram tanto quanto a gente esperava. A gente teve então que partir pro segundo ano, fazer os curativos, estamos agora no segundo ano, os lotes individuais já tiveram bons resultados, outros não tanto, porque varia de pessoa pra pessoa. Mas digamos, assim, o fato de ter mais de 50% com bom resultado isso é excelente. E a gente sempre fica na expectativa, né, que a coisa vá e dê certo. E assim, você tá lidando com pessoas, né, então sempre surgem problemas, manejar essa questões, a relação com a empresa, né que é uma coisa nova. Tem que tá negociando, buscando recursos, e disponibilizando seu tempo junto com outras demandas que a empresa tem também, com outros projetos. Então a gente sempre tá com...
P/1: Mas você não parou de trabalhar na Petrobras nas suas funções?
R: Isso faz parte das minhas funções na Petrobras.
P/1: Ah, isso faz parte das suas funções?
R: Na Petrobras. Porque eu trabalho na gerência de meio-ambiente, então esse é um trabalho que tá sendo desenvolvido na gerência de meio-ambiente, da SMS. Mas junto com esse trabalho eu tenho outros trabalhos, outras demandas, de licenciamento ambiental de projetos da Petrobras, e outras coisas mais. Mas tô sempre acompanhando, né, e tem essa equipe que dá o suporte, da pedagoga, dos técnicos da equipe, do agrônomo e da bióloga que dá assistência ao viveiro, à produção de mudas.
P/2: E além disso vocês oferecem curso? Vocês têm estrutura lá no projeto pra cursos?
R: Isso, então, na área do viveiro, que é uma área assim que a Petrobras, já há alguns anos atrás, na década de 90, desenvolveu esse viveiro pra tentar fazer um projeto de revitalização da mata atlântica, mas que não foi muito pra frente, talvez até por esse foco de criar a reserva intocada florestal. Então houve o boicote da comunidade, corte de cerca, o gado entrou, comeu as mudas, e não foi muito pra frente. E aí ficou essa área do viveiro abandonada e aí, nós entramos pra revitalizar o viveiro, aí eu pensei: poxa, mas essa área aqui é tão bonita, né, um bosque, um horto, uma nascente, a nascente do Diogo, Vamos criar aqui uma base, né, do projeto, e aí nós... eu pensei, assim, criar um espaço pra cursos, pra aulas, pra regiões. E aí eu tive conhecimento, contato com um arquiteto que tava ingressando nesse mesmo mestrado que eu fiz, só que foi em 2002 que ele entrou, não 2003, ele entrou e a pesquisa dele era com bambu, eu disse: “vamos fazer uma construção com bambu aqui”. Aí nós fizemos a primeira construção com bambu lá de Sergipe, e ficou assim um projeto bastante ecológico, né, bastante agradável dentro daquele ambiente de bosque. Então esse é o espaço que a gente batizou da casa agro-florestal Petrobras, a casa de bambu, que serve também de escritório ao projeto. É o espaço, é o centro de educação ambiental. Ao lado, nós fizemos uma trilha ecológica que vai até a nascente, ao, lado nós temos o viveiro de mudas. Então, escolas da região já estão visitando lá, conhecendo o projeto. E assim eu não paro de pensar em novas atividades. Essa semana mesmo, ontem, um professor lá de uma universidade local, me procurou junto com um vereador de Carmópolis...
P/1: Universidade de Carmópolis?
R: Não, universidade lá de Sergipe.
P/1: Ah, de Sergipe.
R: Universidade de Tiradentes, Ele é um biólogo, especializado em fauna, e ele tá com um projeto de proteção e preservação do Guigó, o Guigó da região, porque tem vários guigós. E lá tem uma espécie que foi descrita em 1999 pela ciência que até então era desconhecida. Que ocorre nas áreas litorâneas de Sergipe, lá em Carmópolis, e no norte da Bahia. Até 1999 a ciência desconhecia, então ele me procurou querendo saber o que que a Petrobras poderia ajudar. E aí ele vai escrever o projeto das ações de conscientização da preservação desse macaco, porque é muito caçado ainda hoje, infelizmente os caçadores ainda caçam. E as matas também estão desaparecendo que é a casa dos animais, né, se não tiver mata o animal não vai ter o seu refúgio. Então isso vai se somar com o projeto agrofloresta, que vai desenvolver novas florestas, junto com a preservação dos remanescentes de matas que existem dentro das fazendas, que ele vai fazer um trabalho com os fazendeiros pra transformar em reservas particulares, em patrimônio natural. Então é mais uma atividade que a gente vai somando dentro desse projeto maior, né, que eu acredito que vai se desenvolver mais essa questão ambiental, e a melhoria da qualidade ambiental da região, dentro duma área produtora de petróleo.
P/2: E você contou que as escolas já estão levando os alunos em excursões pra conhecer o projeto agrofloresta. E como que você vê essa aceitação da comunidade, eles já conhecem o projeto, tem gente querendo participar?
R: Sim, é sempre uma surpresa, né, pela novidade, e querem participar. Os professores querem desenvolver projetos junto com os alunos e a gente tá aberto também pra essa perspectiva. Esses passeios de escola servem não só pra conhecer o projeto, mas pra conhecer todas as atividades do petróleo no campo de Carmópolis, né, os poços produtores, as estações. E mostrando que além de produzir petróleo, a empresa também tá preocupada com a conservação de meio-ambiente, com a inclusão social de agricultores. Então tem todo esse caráter, né, que as visitas têm proporcionado.
P/2: E Ismael, como criador e coordenador do Projeto Agrofloresta, como é que você vê a participação e o apoio da Petrobras nesse projeto?
R: Olha, eu não tenho do que me queixar, né, porque desde do começo, desde o momento que a Petrobras me proporcionou fazer esse mestrado eu tenho tido todo o apoio, e depois na proposta que eu sugeri eu tenho tido apoio e na manutenção. O que só me trás, assim, muita satisfação pessoal e profissional. Então digamos assim que eu tô no lugar certo, né, fazendo o que eu quero, o que eu acho que tenho de melhor pra dar, e sendo digamos, acolhido na proposta, né, nessa vontade de contribuir.
P/2: A sua unidade de Sergipe e Alagoas desenvolve muitos projetos sociais e ambientais. Me fala mais um pouco dessa sua opinião da empresa estar se relacionando com responsabilidade social dessa maneira tão constante?
R: É, isso é uma coisa que a gente vê, que tá cada vez mais na pauta do dia da empresa, muitos projetos tem se aberto lá, a comunidade... e de uma forma cada vez mais responsável, né, porque são instituições que procuram a empresa através de projetos, e que a empresa apóia. E tem, as instituições têm respondido a esse apoio da empresa. Então eu vejo que tá um desenvolvimento, assim, muito forte que tá criando uma responsabilidade pelas instituições de proporem assim soluções pra determinadas questões, assim, do menos, de comunidades carentes. E tão respondendo adequadamente dentro do que se propõem, então eu vejo que abriu um campo muito interessante, né. Que tá sendo muito legal, assim, de ver o quanto às comunidades estão assim ganhando né, e o quanto a empresa tá também podendo proporcionar esse apoio, né, de uma forma responsável, cada um com as suas responsabilidades. Não só aquela coisa paternalista de dar o peixe, mas de ensinar a pescar, né. Então isso eu acho muito interessante, né, dar autonomia, digamos, nesse projeto, assim, eu vislumbro que a empresa vai se afastar desse apoio, e eles vão poder, serem até os próprios instrutores de outras comunidades.
P/1: Você acha que em algum momento eles vão ganhar autonomia e não vai precisar da presença da Petrobras?
R: Eu espero isso e a gente tá trabalhando pra isso.
P/1: E me diz uma coisa Ismael, esse projeto ele é multiplicador ou ele ta restrito à área da Petrobras e a esses doze agricultores?
R: Nesse momento tá restrito a esses doze agricultores a área da Petrobras. Mas nós já fomos procurados pelo programa agrícola da TV Sergipe, que já fez duas matérias, temos visitas de órgãos públicos ligados à agricultura. É, a Embrapa sempre nos deu apoio, porque meu orientador é oriundo da Embrapa, então ele desde começo deu apoio. Já realizamos três simpósios conjuntos Petrobras, Embrapa, Incra sobre sistemas agroflorestais, trazendo pessoas de outros estados pra falar ao público de técnicos. Os simpósios um e dois, e nesse terceiro nós fizemos localizado lá na área do projeto, no espaço florestal, no centro de educação ambiental, onde colocamos os agricultores de assentamentos, os agricultores do projeto, junto com técnicos dos órgãos públicos. E foi muito interessante, porque foram só dois dias, mas no segundo dia nós fizemos plantios por equipes, né, e foi muito interessante ver essa troca, né, de como o agricultor tem um conhecimento, como o técnico tem outro. E como os dois se complementam, né. Então eu diria que dentro de um novo conhecimento a gente tem que cada vez mais considerar isso. Não existe isso de que o letrado é aquele que vai pra universidade, não a gente tem que ouvir cada vez mais as pessoas que têm a experiência empírica, prática e considerar tão importante quanto àquele que foi pra universidade. E isso acho que a gente deve inclusive valorizar, porque é muito conhecimento que eles têm. E que a gente aufere com eles, tando em contato com eles, é uma troca realmente. E isso eu sinto, assim, como um resultado mesmo, prático, desse trabalho.
P/2: E Ismael, além do projeto agrofloresta você tem se dedicado a que outra atividades?
R: Bom, esse trabalho realmente me toma bastante, né, mas, assim, fora da empresa tem coisas que eu gosto de fazer, então eu gosto de trabalhos manuais, desenvolver trabalhos manuais, fazer dobradura de papel, recorte de papel. Então nas minhas horas vagas eu faço isso até como uma terapia, né. E recentemente também eu tenho praticado esporte, tenho nadado bastante, né, e agora daqui pra frente eu vou nadar mas também vou remar. Minha nova proposta agora é remar, me matriculei essa semana, devo começar terça-feira, né. E fora isso o lazer com a família, né.
P/1: Você é casado?
R: Sou casado.
P/1: Tem filhos?
R: Tenho filhos, moro nessa cidade de Aracaju...
P/1: Quantos?
R: Essa cidade maravilhosa. Dois filhos, um casal. Flora, que tem 8 anos, e Miguel, 10 anos.
P/1: Flora, né?
R: E Lucília que é minha esposa. Então viajamos muito pra Salvador, que nossa família tá toda lá, né, então finais de semana mais prolongados, feriados e férias vamos pra lá. Esse ano também tô com um projeto pessoal, tô construindo minha casa num terreno próximo à Aracaju, são 1000 metros quadrados que eu pretendo fazer a minha agrofloresta, né [risos]. Além de construir a casa, que já começou. Então é o meu refúgio, lá é que eu vou botar em prática as coisas todas que eu tenho aprendido com os agricultores, né.
P/1: Tá certo. Eu queria que você falasse assim rapidamente do seu ponto de vista, o que você acha de uma empresa do porte da Petrobras inserir na sua agenda essa questão ambiental e essa questão social? E a relação disso com a própria atuação da Petrobras na área de petróleo?
R: Olha, eu acho, assim, da maior importância essa atuação, cada vez mais presente, e como ela tem feito, né, tem respondido. Porque eu acho que algo muito natural, assim, uma empresa que obtém o seu produto da natureza, estar com essa responsabilidade também com a natureza. É, digamos assim, uma gratidão por tudo que a gente tem conseguido. Aliás, não só a Petrobras, mas qualquer pessoa, qualquer entidade, empresa, acho que deveria ter isso em mente, né. Essa responsabilidade com as pessoas, que são as pessoas que fazem a empresa. A empresa só existe porque as pessoas estão lá dentro trabalhando, criando e desenvolvendo,. E as comunidades do entorno também, dando suporte, na medida em que fornecem trabalhadores também, enfim. Eu acho, assim, algo de muito, de muita, é, responsabilidade e de reconhecimento e de gratidão por tudo que a gente tem recebido da natureza. Esse petróleo faz essa energia mover o Brasil até hoje, né, e cada vez mais. E a gente tá com essa responsabilidade com o ambiente e com as pessoas.
P/2: Ismael, pra gente terminar nossa entrevista, queria te perguntar o que você achou de participar do projeto Memória Petrobras, de ter vindo aqui e dado esse seu depoimento?
R: Olha, foi uma satisfação muito grande tá aqui com vocês. Aliás desde o primeiro momento que você conversou comigo eu gostei bastante, né. Realmente faz muito sentido pra mim tá aqui nesse projeto, porque a minha memória, desde criança, tem ligação com a Petrobras, né. Eu falei aqui pra você, né, do episódio que eu fui socorrido no ambulatório da Petrobras, né, que eu morava em frente, que eu andava nos campos de Araçás lá, da Petrobras. Então isso pra mim faz muito sentido. Tava escrito nas estrelas [risos] que eu “taria” aqui fazendo isso. Porque o meu destino “tava”, desde cedo, tava entrelaçado intimamente com a Petrobras, né. Pela família eu cumpri isso, né [risos].
P/1: E me diz uma coisa, e o que você acha da Petrobras está investindo num projeto como esse, né, de memória a partir do depoimento das pessoas que de alguma maneira tem relação com a empresa?
R: Veio em boa hora, veio em boa hora porque a empresa completou 50 anos, né. Então tá na hora de escrever sua história cada vez de forma mais marcante, né, e investir nisso. Eu acho que tá vindo em boa hora. Se não as histórias se perdem, né, a memória se perde, toda uma cultura. E isso tá intimamente ligado com o desenvolvimento do Brasil, né, a história da Petrobras. E eu acho que a Petrobras é um dos pilares, né, não é a toa que ela é a maior empresa do Brasil. E o que o Brasil tem hoje, né, acho que muito por conta da história da Petrobras, né, das pessoas que construíram e constroem esse país. Então esse projeto é realmente muito importante.
P/2: Obrigada.
R: Já acabou, tão rápido [risos].
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