Correios 350 Anos
Depoimento de Taila Ravena Lopes
Entrevistada por Stela Tredice
São Paulo, 19 de Julho de 2013.
Realização Museu da Pessoa.
HVC043_T. Ravena Lopes
Transcrito por Iara Gobbo.
MW Transcrições
P/1 – Queria que você falasse seu nome completo, local e data do seu nascimento...Continuar leitura
Correios 350 Anos
Depoimento de Taila Ravena Lopes
Entrevistada por Stela Tredice
São Paulo, 19 de Julho de 2013.
Realização Museu da Pessoa.
HVC043_T. Ravena Lopes
Transcrito por Iara Gobbo.
MW Transcrições
P/1 – Queria que você falasse seu nome completo, local e data do seu nascimento.
R – Meu nome é T., eu nasci em Fernandópolis, tenho 25 anos.
P/1 – Qual data que você nasceu?
R – Eu nasci dia 16 de junho de 88.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama R. e minha mãe chama D.
P/1 – Você sabe como seus pais se conheceram?
R – O meu pai, ele trabalhava numa oficina mecânica e ele foi pra Minas, aí ele deu uma passada em Minas e foi para o Mato Grosso. Aí chegando lá ele foi fazer um conserto de uns caminhões, num sítio e ele conheceu a minha mãe. Aí ele trouxe ela pra Fernandópolis.
P/1 – Ela vivia num sítio?
R – Isso.
P/1 – E o que que eles faziam, seus pais?
R – Meu pai e a minha mãe atualmente são separados. O meu pai é mecânico e a minha mãe é do lar.
P/1 – E os seus avós? Conheceu os seus avós?
R – Conheci. Inclusive eu fui criada com a minha avó, por parte de pai, A.
P/1 – E o que a sua avó faz?
R – A minha avó é aposentada. Ela gosta muito ali de um jardim, de uma flor. Ela tá sempre se movimentando nessa parte.
P/1 – Onde que ela mora?
R – Em Fernandópolis também.
P/1 – E a sua avó gostava de contar história?
R – Bastante. Ela contava muito assim sobre criança ___inaudível___ , o que ela fazia quando era pequena, em relação a essas coisas.
P/1 – E tem alguma comida, alguma lembrança legal que você guarda da sua avó?
R – Ah, muita coisa. Comidinha da vó assim, é inesquecível. Tipo ela fazia muito o que eu gostava. Tudo o que eu pedia assim ela tava fazendo. Eu gostava muito de macarrão, assim essas coisas, lasanha, ela fazia. Aquele temperinho de vó. Comidinha de forno. Fazia muito.
P/1 – E você tem irmãos, T.?
R – Tenho, tenho sim. Por parte de mãe eu tenho uma irmã. O nome dela é Taís e por parte de pai eu sou filha única só tem mesmo eu_.
P/1 – E na sua infância, onde você morou?
R – Eu morei sempre ali em Fernandópolis, num bairro meio afastado da cidade.
P/1 – Como que era esse bairro? O que você lembra dele?
R – Na minha infância eu morava num bairro muito humilde, umas casinha bem humilde. Minha casa também era muito humilde. Tinha uma escola num quarteirão assim pra cima, que foi aonde eu estudei a maior parte da minha infância. Aí do lado de baixo assim tinha uma outra escola agrícola. Eu morava entre essa escola e a rodovia. Morava ali. Tinha uma pracinha onde a gente brincava. A gente brincava muito na rua, de carrinho de rolimã, andava de skate com as crianças da vizinhança. A gente bagunçava bastante.
P/1 – Você tinha muitos amigos, assim?
R – Quando eu era pequena tinha sim, tinha muito moleque lá, muita criançada. Nós bagunçava demais.
P/1 – Você morava com seus irmãos?
R – Não, não. Eu fui criada com a minha avó. Quando meu pai e minha mãe se separou eu era pequena, tinha oito meses, e eu fui criada ali com a minha avó ali sozinha. A molecada ali era tudo filho dos vizinhos. Mas eu fui criada sozinha com a minha avó.
P/1 – E assim, que mais tinha no dia a dia na casa da sua avó? Tinha festa? Tinha coisas assim bacanas?
R – Ah, os tios vinham em casa, nos fim de semana, aí nós fazia churrasco, o almoço em família. É porque é assim, na minha família a gente, era meio que uma regra assim, todo final de semana, a gente sempre se unia pra almoçar com a minha avó, pra ela não ficar sozinha, porque o meu vô morreu, ela ficou muito sozinha. Então nós tinha meio que esse lema assim de todo domingo a gente estava ali, todo final de semana a gente estava ali pra ficar com ela. Então a gente fazia muita festa. Aí eu fui crescendo e como eu já fui crescendo nesse ritmo, eu mesma já ia fazendo pra ela, pra tá sempre perto dela, sempre animando ela.
P/1 – Tipo ajudando ela, cozinhando essas coisas?
R – Isso. Ela me ensinou. Desde pequena faço comida, fazia comida em casa, limpava casa. Eu estava sempre ali, ajudando ela.
P/1 – E aí, iam seus primos, a família toda?
R – E aí era a hora que enchia a casa de criança, que eu não me sentia a criança tão sozinha, era essa hora que iam todos os primos em casa, e era sempre nesses finais de semana assim.
P/1 – Você falou de brincadeiras, o que mais assim você gostava de brincar, que é marcante?
R – Sempre fui meio moleque, sabe? Gostava de soltar pipa, andar de skate, a brincadeira que nós costumava ali no dia a dia brincar. Eu andava de carrinho de rolimã, soltava pipa na beira do rio… Era sempre eu de menina e aquele monte de menino, era sempre assim as brincadeiras que a gente tinha
P/1 – E você tinha alguma vontade assim, de ser alguma coisa quando crescesse?
R – Ah, pela profissão do meu pai, assim, eu estava sempre ali na oficina, então eu fui meio que engenheira mecânico. Gostava de ajudar ele a abrir motor, descer motor de caminhão, pôr no guincho, puxar. Eu gosto assim dessas coisas mais pesadas. Aí fui fazer engenharia mecânica.
P/1 – Quer dizer, você tinha contato com seus pais?
R – Tinha mais com meu pai, minha mãe mesmo eu conheci, eu tinha seis anos.
P/1 – E do seu pai, o que você guarda assim de memória, o que você lembra dele?
R – Ah, o meu pai, ele sempre foi assim meio daqueles caras assim rígido, sabe? Ele era muito seco. Não era aquele pai que abraçava, que falava eu te amo, essas coisinhas que a gente vê na televisão, meu pai nunca foi assim. Mas meu pai ele sempre foi do bem ele sempre estava ali, tipo ___ inaudível __. As boas lembranças que eu tenho do meu pai, é que independente do que ele fazia, ele nunca me abandonou. Nunca me deixou de lado. Tava sempre ali, trabalhava demais, sempre me ajudando. Nos finais de semana normalmente ele tava: "Filha, assim não. Filha, assim não pode". Então, nas festas assim ele tava sempre ali, sempre olhava pra mim, tipo: "Eu vou fazer acontecer. Eu vou fazer você uma pessoa de bem”, apesar de onde eu estar, ele tá sempre lado a lado assim.
P/1 – Ele não morava com vocês?
R – Não, não. Morava com a minha madastra em outra casa, mas ele tava sempre ali.
P/1 – Você costumava ir pra casa dele?
R – Eu ia muito. De final de semana dava um pulinho lá, mas eu não gostava de deixar minha avó sozinha. Minhas passagens na casa dele eram meio de relance.
P/1 – E a sua avó chegou a trabalhar? Você se lembra?
R – Então, que eu me lembre, trabalhar fora, minha avó não trabalhava não. Eu me lembro que ela lavava roupa em casa, fazia sabão pra vender, fazia essas coisinhas assim pra dar uma ajudadinha na renda. Ela fazia bolo, coxinha, doce, essas coisas ela fazia.
P/1 – Você sabe a origem da sua família?
R – Especificamente te dizer assim eu não sei.
P/1 – O origem do seu nome, você não sabe?
R – Então, a minha avó sempre falou prá mim que ela gostava de T., mas nunca me disse por que ela gostava de T., e o Ravena ela disse que tava lendo um livro aí tirou do livro. Ficou T. Ravena aí minha mãe falou’ "T. não, T. não dá", meu pai falou’ "T. Ravena é bonito". Dois contra um colocaram T. Ravena. Ficou T. Ravena. A origem, específica assim, eu não sei
P/1 – E nem o significado.
R – E nem o significado.
P/1 – Me conta dessa escola perto da casa sua avó, como é que…
quais as suas lembranças?
R – É, essa escola que eu tinha estudado do jardim até a sexta série ___ inaudível __ Ah, eu lembro. Corria demais, na sala de aula eu era muito atenciosa, gostava muito de estudar, apesar de eu cabular bastante aula, mas eu tirava notas boas. ___ inaudível __ mas eu ia, minha avó fazia eu ir, até a quinta série eu ia todo dia na escola. Aí depois da sexta eu comecei a dar uma fugidinha, mas sempre estudando pra terminar os estudos. Eu gostava muito de português, ciências, história, geografia. Eu não gostava muito de matemática e inglês. Mas do resto eu sempre fui boa, sempre tirava nota nove, nove e meio, dez. Em inglês era seis, sete, notas baixas. Em matemática era cinco, não saía do cinco.
P/1 – E você tinha uma professora que tenha te marcado?
R – Eu tenho sim, um professor de ciências. Eu gostava muito dele, porque eu achava o método dele de ensinar bom, sempre brincando. Tipo fazia uma brincadeira e você lembrava da brincadeira e já lembrava da resposta, automaticamente. Era o professor Milan. Ele tinha um jeito legal de lidar com as crianças, eu nem era mais criança, tava na quinta série, quarta série, escolheu um professor de ciências da terceira a quinta. Então ele tinha um método legal de ensinar. Eu gostava dele. Um professor que eu sempre lembro é ele.
P/1 – E tem alguma aula em especial que você se lembre?
R – Ah, eu gostava muito de aprender sobre o corpo. Teve uma das aulas que passou pra gente que até um pouquinho lá pra frente eu tive que usar foi aula de massagem cardíaca, de socorrer uma pessoa, tipo afogada, engasgada. Eu gostava muito dessa aula, pra mim foi um pouco marcante por quê? Porque depois de algum tempo, no decorrer do passar do tempo, a minha tia veio a ter tipo de uma parada, sabe, e eu lembrei’ ‘Poxa, eu fiz o método, por quê que não vou fazer nela?’, e eu fiz e quando o resgate chegou, o médico falou, né, quem tava ali fazendo. Aí minha avó me mostrou. Ele falou: "Se ela não tivesse feito, talvez agora ela não estaria mais aqui", então marcou bastante.
P/1 – Então, você salvou a vida da sua tia?
R – Foi legal. Ficou na mente.
P/1 – E você tinha muitos amigos, como é que era?
R – Eu nunca fui assim de muitos amigos depois que eu fui crescendo assim, eu sempre fui mais afastada. Não gostava muito de aproximação, porque eu achava assim, que o meu mundinho era eu e a minha avó, então eu tava… não gostava muito… tipo, toda criança gostava de brincar, né, eu gostava mais de perto da minha avó. Eu tinha ciúme dela, então, não saía muito de perto dela. então, devido a eu gostar de ficar muito perto dela, eu fui crescendo num mundinho meio que adulto, então já não gostava muito de amizade.
P/1 – E com a sua avó, o que você costumava fazer junto com ela?
R – Ah, eu e minha avó era meio que a mesma sintonia com a gente. Eu dormia junto com ela, nós almoçava junto, jantava junta, tomava banho junta. Ela ia pra cidade na hora de ir pra escola, eu ia junto. Gostava muito de ir pro shopping com ela, ficar olhando sandália, assim, nós fazia tudo junto. Cada momento que eu passei com a minha avó, que eu pude passar com ela, foi tudo muito especial, tudo muito legal. ___inaudível__ foi tudo muito bom. ___ inaudível __, ela gosta muito de blusa, de roupa, sapato, perfume, a minha vó, mesmo com 75 anos ela é estilosa, onde ela passa, todo mundo sente. Então ela é muito vaidosa.
P/1 – Ela que te ensinou a se maquiar ou como é que foi?
R – Não, isso aqui é muito que não é meu, sabe? Eu me empolguei com o momento, ai, eu pensei: ‘ah, eu passar uma maquiagem’, mas eu nunca passo, passei, mas eu não gosto muito, não faz parte muito de mim assim, se maquiar.
P/1 – Mas foi você que se maquiou?
R – Foi.
P/1 – Tá ótimo. Legal. E lá em Fernandópolis, como é que era o seu dia a dia, o que você gostava de fazer? Como que era o seu dia a dia?
R – Ah, eu gostava muito de ir no cinema, então meu dia a dia era assim, quando eu tava na faculdade, ia pro cinema, aí vinha pra casa, deitava no sofá e assistia uma televisão, tomava banho, me alimentava. Faculdade, cinema, faculdade, cinema. Depois que eu saí da faculdade, o meu dia a dia era ficar com a minha avó de dia, e de noite eu ia pra casa dos meus primos, que ___ inaudível __, então eu ia pra casa dos meus primos, aí nós fazia um churrasco, saía pra dar uma volta na cidade, tipo prainha, gostava muito de ir pra prainha
P/1 – O que é prainha?
R – Prainha é um lugar assim. Lá no interior não tem praia que nem aqui em São Paulo. Aí tem uma prainha, uma mini prainha, pequenininha. Eu gostava muito de ir pra lá.
P/1 – Uma praia de rio?
R – É. Um rio. Era um rio. Nós gostávamos de ir lá, alugava uma casinha, ficava ali, o dia inteiro aliás, casinha, tomando sol, era sempre ali.
P/1 – E você tem muitos primos?
R – Tenho, tenho. Nós somos em 15. Quinze primos, mas assim que tem mais aproximação é três. O Natan, o Alice e a Renata, são os três que eu mais tenho aproximação, saiamos sempre juntos, os quatro. Só com eles assim que eu era mais ligada no meu dia a dia.
P/1 – Mas voltando um pouco para a época da escola, você estudou até que série e depois para que escola que você foi?
R – Então, eu estudei até a sexta e da sexta eu fui pra o Ângulo (cursinho pré-vestibular) aí ali eu fiquei até terminar o terceiro. Aí nessa fase eu ainda tava meio que em dúvida do que fazer. Aí sentei um dia pra conversar com o meu pai, ele queria que eu fosse enfermeira, que eu fizesse enfermagem. "Pai, eu gosto muito de mecânica, não quero fazer enfermagem" "Não, mas enfermagem vai ser bom" “Ah, mas eu tenho mais habilidade com esforço físico, tal”. Aí ele falou: "Ah, se é isso que você quer fazer, eu te apoio". Aí eu parti pra engenharia mecânica. Mas uma parte ali da escola eu sempre fui muito reservada, eu não tinha muitos amigos, não tinha tantos amigos da escola, que eu ia mais estudar, não tinha aquela relação assim muito de ficar ali no pátio da escola, conversando com os amigos, não tinha muito isso, era meio seca, meio reservada.
P/1 – Mas você gostava de cinema, que tipo de filme?
R – Ah, eu gosto muito de ação, filme de ação, filme romântico, assim. Eu não curto muito comédia, né? Comédia eu não curto muito não. Tava sempre assistindo filme de ação, filmes que saiam, então…
P/1 – E com o pessoal do colégio você manteve amizade?
R – Não tinha muita aproximação com o pessoal da escola.
P/1 – E namoro? Você tinha namorado?
R – Então, aí é outra parte também. Namorar eu só namorei com o pai dos meus filhos, que eu tenho dois filhos, um casal. Namorei, já casei, permaneci sete anos casada e depois que eu separei eu fui morar com minha avó de novo. Não arrumei mais nenhum companheiro sério, nenhum fixo. Eu não gostava de namorar, gostava mais de curtir. Eu não gostava de um laço, eu nunca fui chegada nisso.
P/1 – E como você conheceu seu ex-marido?
R – Foi… seria cômico se não fosse trágico. Eu conheci meu marido, ele foi... minha prima namorava um rapaz e ele era amigo desse rapaz. Aí os dois foram juntos e eu conheci ele ali.
P/1 – Ai, vocês começaram a namorar…?
R – Ai, a gente começou a namorar e...
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Treze.
P/1 – Bem novinha mesmo.
R – Tinha 13 anos. Aí nós começou a namorar, aí teve aquele negócio de ir em casa, pedir pro meu pai, que na época ele era muito duro e tal. Ele pediu pro meu pai, aí nós começou a namorar, aí nós já casou. Já casou, aí eu permaneci sete anos casada.
P/1 – E o quê que ele (corte no áudio)
R – Quando eu casei com ele, ele era, como que… como que eu posso te explicar? Ele descarregava caminhão, sabe? Ele fazia isso, e depois ele virou caminhoneiro. Por isso que o casamento foi acabando, já não parava mais em casa,
já começou já era aquela vida meio que desregrada, já não tinha tanta presença, e aí foi meio que foi desgastando.
P/1 – Aí você teve o M. e a A.
R – O M. e a A. O M. nasceu em 2003
P/1 – Qual foi a sensação de você ser mãe?
R – Nossa, foi meio que... Não tem explicação, sabe? Só sei que na hora que eu olhei ele eu chorei demais. Ele era grande. Nasceu com quatro quilos, 52 centímetros. Nossa, ele era lindo. Eu era praticamente uma criança, tinha 13 anos, aí minha mãe brincava e falava, minha avó, né, chamava minha avó de mãe, aí ela falava pra mim: "Uma criança brincando com outra criança". Foi bem especial, bem legal. Gostei muito de ter tido ele. Nunca me arrependi de ser mão, de falar assim: “Ah, eu era muito nova e tal.” Ele foi especial.
P/1 – E a A.?
R – A A. veio depois. A A. veio em 2004. A A. já foi meio que inesperado assim eu tomava remédio e tal e fui descobrir que tava grávida dela já tava com seis meses já, aí tava meio que despreparada. Aí quando ela nasceu, nasceu bem pequenininha. Tava acostumada com aquele nenezão grandão, menino é mais fácil de cuidar. Eu fiquei meio que desamparada. Aí eu fiquei uns dias com a minha avó. Minha avó que cuidava dela porque ela era muito pequenininha, eu tinha medo até de relar nela. Aí ela foi crescendo, aí eu fui mais me acostumando com ela, mas também foi muito legal.
P/1 – Então depois de você se separar, você voltou a morar com a sua avó?
R – Eu voltei a morar com a minha avó.
P/1 – E ai, seus filhos?
R – Eles vieram comigo, só que tipo assim, só que tipo assim, o M. ele era muito apegado ao pai dele. Quando o pai dele ficava em casa, era Deus no céu, o pai na terra. Eu trouxe eles comigo pra morar, aí o M. ficou doente. Como eu ainda era muito nova, tinha 17 e ele ficou doente e ele só pedia pai, pai, pai. Ele não comia, não queria mais pentear o cabelo dele, não queria saber mais de nada. E ele começou a emagrecer, e eu sem saber o que fazer, naquela de... Tava meio que perdida. Peguei ele e levei pra ele, falei: Leva, vê o que você faz, me ajuda". Aí ele veio, ele falou: "Ó, vou levar o menino", falei: "Fazer o que, não vou deixar meu filho morrer. Ele não quer ficar comigo, eu não posso fazer nada". Aí ele foi, e a menina viu ele ir, quis ir também.
P/1 – Hoje eles estão bem?
R – Tão muito bem. Hoje o M. tem dez, a A. tem nove
P/1 – Você tem contato com eles ?
R – Então, acho muito difícil prá mim porque eu não posso mais chegar perto deles, por causa da sequencia da vida que eu escolhi, que eu me envolvi. Uma vez eu fui ver eles e chegou lá, eu tive uma discussão com ele (ex-marido), porque ele prometeu pra mim que mesmo eles indo morar com ele, que ele deixaria eu tá vendo as crianças, e eu cheguei lá, ele não quis deixar eu ver. Eu não tenho muita paciência, aí nós começou discutir e a mãe dele veio pra cima de mim com uma faquinha de serra e eu tipo meio que empurrei, ela caiu em cima da lança do portão. E ela abriu um boletim de ocorrência contra mim, o juiz entendeu como tentativa de homicídio. Aí ele me afastou a mil e quinhentos metros longe das crianças. Aí eu não posso mais ver eles, nem escrever, nem pedir satisfação, tipo, só posso ver eles se ele trouxer até a mim. Eu chegar perto, eu não posso.
P/1 – Mas isso pode mudar?
R – Pode. Meu advogado me instruiu para eu ter um bom comportamento, não procurar ele, para não piorar a situação, que isso não é pro resto da minha vida. O juiz pode converter a situação. Mas minha avó me mandava foto. Ela me mandava foto, eu tinha várias fotos deles. Mas aí eu vim de bonde pra cá, tava numa comarca do interior, vim de bonde pra cá, como eu vim num bonde de madrugada, meio que se perdeu no meio das coisas das companheiras.
P/1 – Como que é que você veio de bonde?
R – De bonde? É tipo eu tava numa cadeia e eu não sei bem quem que pede, mas alguém pede a remoção pro sistema penitenciário, que eu estava na comarca, aí eu vim pro sistema penitenciário. Isso na nossa linguagem é bonde.
P/1 – E voltando um pouquinho, você resolveu fazer engenharia mecânica. E como é que foi esse negócio de faculdade pra você? O que que você sentiu quando conseguiu entrar na faculdade, você lembra?
R – Quando eu consegui entrar na faculdade, pra mim foi tudo muito novo, porque eu tava acostumada com aquela vidinha de escola, você tinha horário pra entrar, você tinha horário pra sair, você tinha horário pra fazer, tudo muito certinho. E na faculdade não é bem assim não. Você vai, aí fica todo mundo ali conversando, você entra na aula se você quiser, se você não quiser você vai embora. Então pra mim foi tudo muito novo, tudo muito diferente. Mas nos primeiros meses eu gostava de tá ali, e eu tranquei a faculdade por isso. Porque foi passando os dias e eu já não gostava mais de ir, já não gostava mais de estar lá, mas foi uma experiência legal.
P/1 – Você pretende voltar?
R – Eu pretendo, eu pretendo, mas eu já não queria fazer mais a mesma coisa. Eu queria fazer o que meu pai queria que eu fizesse. Eu queria fazer enfermagem, porque eu percebi que meio que eu tenho um dom de cuidar das pessoas, é um negócio que eu gosto. Com 19 anos eu fiz meio que um curso de home care, sabe? Cuidar de pessoas em casa. Eu cuidava de um rapaz que sofreu acidente de moto.Eu fiquei um ano e seis meses cuidando dele, e depois quando a minha tia veio a ficar internada, que ela fez uma cirurgia na cabeça, eu cuidava dela também. Então é um negócio que eu gosto de fazer. E depois que eu cheguei aqui, também eu já cuidei de algumas pessoas aqui dentro, que inclusive foi até uma senhora que ela veio a falecer, eu cuidava dela, depois a Lu passou a cuidar dela. E aqui na saúde também, eu cuidava de muito de uma uma garotinha que tinha aqui, ela tinha pressão alta, tal e eu gostava de cuidar dela. Então acho que é um negócio que é dom. Tenho uma certa influência na parte de cuidar.
P/1 – inaudível -
R –
Inclusive até se eu fosse fazer a enfermagem, eu acho que eu queria até tá ali na parte que a Betinha faz, ela é chefe de Enfermagem na Santa Casa de Fernandópolis, a parte de feridos ali, eu gosto daquela parte de cuidar de necrose, essa parte assim. Como que eu posso te falar? Ver como a ferida tá, ver como ela vai ficando depois que você vai tratando, eu acho que até nessa parte que eu vou fazer.
R – Que legal, seguir esse seu dom. Muito importante. E como você chegou a trabalhar me conta um pouquinho do seu primeiro trabalho.
P/1 – Meu primeiro trabalho foi esse. Eu tava em casa um dia e tal, aí meu pai chegou lá e disse: "Ah, tem um menino que sofreu um acidente de moto e a família dele tá procurando alguém pra cuidar", eu não fazia nada dentro de casa, ficava o dia inteiro assistindo televisão. Aí ele disse assim: "Ah filha, você não quer ir?", eu falei: "Ah, por que eu?", ele falou assim: "Porque se você gosta, você tá sempre aí ajudando sua mãe", aí eu falei: "Ah, tá bom, eu vou." Aí eu fui. Cheguei lá conversei com o rapaz "Então, eu até pago meio que um curso pra você, pra você se especializar e cuidar bem e tal". Aí eu fiz, comecei a trabalhar. Trabalhava das seis da manhã até às seis da tarde. Aí eu ia das seis e meia da tarde até às oito da noite eu ia nesse curso, nessa espécie de curso. Aprendi passar sonda, curativo, medicação, o que pode, o que não pode, tal, e assim, é bom, muito bom.
P/1 – E você lembra do que você fez com seu primeiro salário?
R – Com o primeiro salário? Eu gastei com bobagem. Eu recebi e falei pra minha avó: “Vamos no shopping?”, "Fazer o que?”, “Ah, vamos no shopping, vamos gastar". Aí ela: “Ah, vamos no shopping”. Eu fui no shopping, lembro de que comprei roupa. Primeiro salário gastei com um monte de besteira. "Menina, pelo amor de Deus, como assim? Faz uma coisa interessante", "Ah, eu tô fazendo. É meu primeiro salário". O resto depois, os outros salários fui guardando, mas o primeiro eu meio que torrei ele todinho.
P/1 – E o que você sente que mudou assim, da sua infância para sua juventude?
R – Acho que a grande mudança da minha infância pra hoje é que tipo, de criança a adulta tão rápido, foi meio que um baque assim, que eu era tratada como um bebê em casa. Já era mãe de dois filhos e minha mãe tratava como uma criança. Depois tive que encarar a realidade muito rápido, aprender a viver, aprender a colocar o pé onde a perna alcança. Nunca dar um passo maior que a perna. Acho que foi marcante, assim.
P/1 – Teve assim uma música especial na sua vida, que você lembra, que você gosta?
R – Nossa, eu gosto muito do Leandro e Leonardo, Rick e Renner, até as mesninas lá dentro falam: "Ah T., você é velha, meu. Pelo amor de Deus, olha as músicas que você gosta de ouvir", ___ inaudível __. "Pelo amor de Deus, tinha que falar porta aí, falar porteira". Aí, eu gosto assim dessas músicas antigas românticas.
P/1 – T., me conta um pouquinho. Você tem o costume de trocar correspondências com as pessoas, cartas?
R – Tenho, tenho sim. Converso com alguém lá de ___ inaudível __ "Arruma um perrengue lá prá nós tá trocando umas ideias, tal", aí convida a pessoa, aí eu escrevo: "Oi amigo, aqui quem escreve é a T., tal", vamos trocar umas ideias. Vamos trocando bastante carta.
P/1 – Quantas cartas você costuma mandar?
R – Deixa eu falar, daqui dentro uns 50, 60 selos por mês. Eu gasto muito com selo. Eu mando muita carta.
P/1 – Você manda as cartas para quem não conhece?
R – Eu mando pras pessoas que eu não conheço ou pra minha avó, pro meu primo que também se encontra privado da liberdade, mas eu mando muita carta pra gente que eu nunca vi na vida. Eu mando carta às vezes pras pessoas que estão presas também. Pra se conhecer, pra tipo, dividir experiência, tipo: "Ah, eu faço isso", "Ah, eu também faço isso", tal, "Hoje eu tô triste" "Não, mas não fica assim, tal", então troco muita carta assim. Com várias penitenciárias eu me correspondo, com quase todas.
P/1 – No Brasil?
R –
Aqui no Brasil.
P/1 – E do que você gosta, quais são as coisas que te tocam, assim?
R – Quando eu não recebo uma carta eu fico muito brava, mas quando eu recebo carta já começa a brincadeira, tipo assim: "Carta pra mim". Ah, a gente fica feliz assim. Sabe, é uma sensação de ser lembrada, porque nós que tá aqui hoje, nós em meio que um lema: carta é a visita que eu não tenho ___ inaudível __, e às vezes uma palavra é mais do que se a pessoa tivesse presente. Quando eu recebo uma carta, a sensação de eu tenho é de uma visita. Eu fico muito feliz quando eu recebo uma carta, muito feliz. Quando a carta cai, você fica escutando, caiu no chão, você sai corrente, já cata a carta "É prá mim". Então meio que assim, a gente brinca muito em relação a carta.
P/1 – Como que é isso da carta cair?
R – Eu moro numa cela, tal, aqui a porta é de ferro, aí a carta vem cinco e meia da manhã ___ inaudível __. Aí a carta cai no chão. Cai no cão aí levanta todo mundo correndo pra sair catando a carta. É assim: todo dia cinco e meia da manhã cai a carta.
P/1 – Você recebe quantas cartas em média?
R – Chega muita carta. É conforme a frequência que eu escrevo. Se eu escrever bastante, vou receber bastante resposta. Agora quando eu escrevo menos, tipo essa semana eu não recebi nenhuma carta, porque eu não escrevi. Eu não tava bem, trabalhei bastante, não tava aguentando, tava cansada. Mas essa semana agora que vai entrar, vai ser a semana da carta, que eu acho que eu escrevi acho que 42 cartas, foi um bolo assim, foi muita carta. Foi bastante carta.
P/1 – Em que momento você costuma escrever essas cartas?
R – Eu levanto de manhã, aí eu tomo banho, tomo o café, vou trabalhar. Aí eu começo, aí de tarde quando eu chego tomo um banho, aí eu descanso um pouquinho, aí eu já pego o papel e já começo escrever. Daí só meia noite, uma hora da manhã que eu paro. Nós mora em quatro e as quatro é assim. Tipo tô concentrada aqui ___ inaudível __. Nós escreve na cama. Uma dorme em cima, outra embaixo, eu durmo ___ inaudível __, a outra companheira dorme no chão. Aí tipo cada uma deita na sua cama, aí se cobre e começa a escrever e nunca mais para. Tem carta nossa aqui que tem cinco, seis folhas. Não é uma carta, isso é um livro.
P/1 – Vocês costumam conversar sobre o que vocês estão escrevendo, das cartas?
R – Ai a menina: "Ah, eu escrevi isso, isso e tal". “Ah, legal, manda um beijo pro outro com amor, “ nós comenta muito aí quando chega” Ó, lembra aquele, a resposta e tal.” A gente troca bastante informação sobre as cartas.
P/1 – Você se corresponde com a sua avó?
R – Com a minha avó sim, de lá da minha família, só ela e o meu primo que tá preso.
P/1 – E me diz uma coisa, você guarda? Costuma guardar suas cartas?
R – Guardo. Eu tenho essa caixa que tá aqui, que é desse ano. Eu tenho uma do fim do ano passado, mas a maioria é desse ano, e as outras tem tipo um cesto desse tamanho assim, que a última vez que lá a última vez que eu guardei lá ___ inaudível __. Eu recebo de amigos assim, que são de outras cadeias. ___ inaudível __, contam o dia a dia delas, o que ela tá passando, se ela tá triste ___ inaudível __do meu aniversário esse ano, aí ela colou uns adesivos e aí escreve o nome delas ___ inaudível __e ela me conta sobre o dia a dia dia dela, o que ela fez, tal, ___ inaudível __ se eu tô precisando alguma coisa. Ela manda beijo dos vizinhos ___ inaudível __ uns adesivos. Aí tem vez que ela manda o cheiro dela pra mim sentir. ___ inaudível __.
P/1 – Você manda desenhos pra sua avó?
R – Eu amo desenhar, amo desenhar. Eu, particularmente desenho muito bem. Eu meio que não vim preparada, não fiz nenhum desenho pra te mostrar, mas eu desenho muito, então eu mando desenhos pra ela, que são aquelas folhas ___ inaudível __, tipo mando aquelas cartas imensas, cheia de desenho. Elas gosta muito de flor, eu desenho umas rosas e tal, violeta, muita coisa pra ela. Acho que ela deve ter uma biblioteca.
P/1 – O que é esse BBC?
R – BBC? Isso chama BBC porque é assim, quando tem uma reincidente criminal ___ inaudível ___, não vai saindo um monte de papel? Aquilo chama BBC, então meio que apelidou isso de BBC. Tem muita folha. Eles chamam BBC.
P/1 – Que linda! Quem fez essa?
R – Essa daqui foi uma das minhas parceiras de cela, chama Luciene. Tipo elas que fizeram com os meus desenhos, porque eu tenho uma pasta enorme de desenho, adoro desenhar.
P/1 – Você pode __ inaudível __
R –
__ inaudível __ ver você como uma bebê chorona. Aí sim decidimos te adotar, só que chora demais. Nosso nome é Márcia e Luciene, nós somos bagunça. A felicidade não está nas pessoas onde muitas vezes procuramos, mas sim no coração onde muitas não encontram. Seremos sempre sua amiga. Deus é sempre contigo, aliás conosco. Nossa amizade deve ser como um lago, pura e verdadeira, como o ar, firme e solta como a liberdade. Seu jeito humilde e amigo cativa as pessoas ___ inaudível __ valeu a pena. Nosso bebê, te amamos demais. Que essa data se repita por milhares de anos, mas que seja bem longe desse lugar. Luciene e Marcia.
P/1 – Que lindo.
R – Isso aqui eu recebi no meu aniversário. ___ inaudível.__ Esse aqui também eu recebi no meu aniversário. __ inaudível _. Essa é pra dizer que jamais esquecerei dessa sua data tão especial __ inaudível __.
P/1 – Você recebeu mensagens tão lindas.
R – Tipo nós não se suportava, nós não conversava. Ela chegou um pouquinho antes de mim __ inaudível _. Nós não conversava, não se gostava. Aí foi passando o tempo, tal, ela aparecia __ inaudível __ Aí eu fui trabalhar na lavanderia e ela trabalhava lá. Aí nós pegamos amizade, tal, aí chegou um dia __ inaudível __. “Tem um copo sujo aqui no chão, T.”, “Tá bom mãe, vou pegar”. Foi assim que nasceu mãe. Mãe, mãe, ficou mãe. ___ inaudível _. Respeito __ inaudível __. Sempre que eu tô triste, precisando de uma força, quando eu tô meio pra baixo, tal, ela tá ali, sempre me ajudando, me aconselhando. E a mesma coisa ela, se ela tiver triste, eu subo a escadinha, subo na cama dela : "E aí, tá triste por quê? Tipo, nós tamos aí, não vai chorar __ inaudível __. Filha é assim, tá sempre se animando na outra.
P/1 – Não pode chorar?
R – Não pode chorar. Aqui nós fala assim: “Criminoso não chora”. "Chora sim, tá? Chora sim". E assim nós vai levando.
P/1 – Vocês pode enviar encomenda?
R – Não, encomenda a gente não pode mandar __ inaudível __. Quem tem visita, que tem visita, __ inaudível _, família do interior não tem como vim, mas eu recebo sedex. Uma, duas vezes no mês a minha avó manda o que não vende na casa. Aí ela me manda sedex.
P/1 – O que?
R – Tipo, se eu tô precisando de camiseta, aí ela manda. Meia, essas coisas assim. Agora aqui vende, mas antigamente quando não vendia ela mandava meia, camiseta, top, calcinha, essas coisas assim.
P/1 – Coisas íntimas?
R – É, coisas íntimas.
P/1 – Você recebe por sedex?
R – Isso, eu recebo por sedex. Aí sempre vem uma cartinha, né? __ inaudível _, aí já começo a chorar lá na fila, né? De alegria, né? Porque tipo: "Ah meu, eu pedi, né, chegou. Ai que alegria e tal". Posso pedir por carta ou ir na assistente social. A assistente social liga pra minha casa e fala: "A T. tá precisando disso, disso, disso. Tem como o senhor mandar?". Meu pai fala: "Ah, vou mandar semana que vem", aí ela me chama: "Teu pai falou que vai mandar semana que vem", assim. Eu mando mais por carta, não gosto muito de pedir pra assistente social.
P/1 – E assim, nessas cartas que você recebe - inaudível -
R – Não, eu posso receber escrito. Escrito eu posso, mas em DVD assim não, até porque não tem onde eu ver. Rádio só entra rádio pequenininho.
P/1 – E como é essa troca, um ajuda o outro, um conversa com outro?
R – Ele é meio chorão, sabe? Tipo, você tem que ficar aí, você tá presa, fica em paz, vai dar tudo certo, tenha paciência, vai sair. Entendeu? Tipo, tem que dar uma força pra ele também. E ele é manhoso __ inaudível _.
P/1 – __ inaudível
R – Como eu posso te dizer? __ inaudível
P/1 – Que linda a letra dele. __ inaudível
R – Isso não foi ele, mas a letra dele é assim tipo um garrancho, tem que decifrar. Mas ele também gosta muito de cozinhar __ inaudível
P/1 – __ inaudível
R – Eu desenho assim também.
P/1 – __ inaudível
R – “A distância e a saudade e o tempo que estamos hoje, só me fez chorar ainda mais”.
P/1 – Aí atrás ele escreve a carta?
R – Aí atrás, a carta.
P/1 – Ele gosta de escrever como você.
R – Aqui ainda é pouco, mas __ inaudível _ cartas de muitas folhas, cinco, seis folhas.
P/1 – E como era a relação de vocês?
R – Eu, era assim, __ inaudível _, 24 por 48 ali grudado. Depois que eu cresci, porque eu e ele tem meio que a mesma história de vida, tipo, a mãe dele abandonou e a minha mãe abandonou também. Os dois foram criados com vó, tipo, eu com a avó paterna e ele também com a avó paterna. Então temos a mesma relação assim, a mesma história de vida e nós cresceu meio que __ inaudível __, sabe? E aí depois que a gente cresceu, a gente meio que se uniu. Nós era sempre junto, tudo que ia fazer a junto, "Ah, vamos fazer uma festa pra vovó junto", era tudo muito junto. __ inaudível
P/1 – E T., me diz uma coisa. Hoje assim quais são os sonhos mais importantes?
R – Ah, minha avó e minha liberdade __ inaudível __hoje, na minha vida, tipo assim, minha liberdade é tudo. Porque não tem coisa melhor na vida do que isso. Você ter livre arbítrio de ir e de vir, de fazer e de não fazer. __ inaudível _. Em que eu bati de frente com a realidade, e que a vida não e o mar de rosas que eu pensava. É tudo o que eu mais prezo na minha vida hoje.
P/1 – E os seus sonhos assim, quais são?
R – Meu sonho? Meu, vou te falar assim, sonho, sonho, tipo tudo que eu tenho vontade eu faço, né, só me arrependo do que eu não faço, do que eu não fiz. Nunca me arrependi de nada do que eu fiz. Meu sonho hoje é sair daqui, pisar na terra descalça, de verdade. Sempre costumo falar: "Meu, saindo daqui, pá, por o pé no chão, descalço", é meu sonho, que do resto, tipo: "Ah, tenho vontade disso, vou fazer. Tenho vontade, vou fazer". É meio esse meu sonho, sair lá fora e pisar na terra.
P/1 – Sim, mas em breve vai tá, né? T., o que que foi pra você, como foi pra você aqui contar sua história?
R – Foi legal, foi interessante, achei interessante porque é que nem eu tinha falado ali pra você antes, independente de qualquer coisa do que aconteceu, do que deixou de acontecer, essa é a minha história de vida. Então tipo amanhã eu vou ver, eu vou assistir e vou falar: "Eu passei um pouquinho de mim, um pouquinho do que eu sou, um pouquinho da minha vida". E que sirva assim, pras pessoas, entendeu? Tipo, a gente tem que dar importância pros pequenos detalhes da vida, certo? Tipo, uma carta, às vezes a pessoa olha pra carta e fala "Ah, pedaço de papel, tal", tá, que nem eu já vi várias pessoas rasgar. Não. Às vezes nesse pedaço de papel, tem pra mim algo mais importante do que qualquer outra pessoa possa imaginar. Tipo, ela faz, ela tem muita importância na minha vida, no meu dia a dia. Porque o que eu não dava importância ontem, pra mim hoje é mais do que importante. Aqui tem, existem coisas aqui nessa caixinha que, tipo eu tô triste, pá, eu pego, releio, tiro força, entendeu? Prá continuar lutando, pra continuar vivendo, sabendo que lá fora existem pessoas que ainda me amam e que ainda me esperam. É muito importante pra mim.
P/1 – Olha, tem alguma coisa que eu não perguntei e que você gostaria de deixar registrado? Qualquer coisa. Ou se você também não quiser.
R – Não, não. Aí eu vou te fazer uma pergunta. Se tiver alguma coisa que você não perguntou e que você queira perguntar.
P/1 – Não. O que eu queria te perguntar era isso. Aí eu te deixo à vontade pra você, se você vai "Puxa, eu queria contar aquela história que eu esqueci", não. Também se você achar que é suficiente, é isso. E o que você nos deixou já é muito precioso.
R – Não, não, acho que foi legal. Foi legal. Gostei.
P/1 – Eu também gostei muito.
R – Eu gostei, vai ser uma honra. Eu agradeço mesmo pelo interesse de vocês, pelo pouquinho aí da minha vida.
P/1 – Muito obrigada, foi um grande prazer ouvir sua história, compartilhar comigo.
FINAL DA ENTREVISTARecolher