Projeto Correios, 350 Anos Aproximando Pessoas
Depoimento de Vinícius Campos de Oliveira
Entrevistado por Isla Nakano
São Paulo, 26/06/2013
Realização Museu da Pessoa
HVC_23_Vinícius Campos de Oliveira
Transcrito por Cristiane Costa
MW Transcrições
P/1 – Bom, Vinícius, primeiro eu queria agradecer você ter tirado um pouco do seu tempo pra vir até aqui.
R – Imagina.
P/1 – E para gente começar e deixar registrado, eu queria que você falasse seu nome completo, local e a tua data de nascimento.
R – Meu nome é Vinícius Campos de Oliveira, eu nasci no Rio de Janeiro, no ano de 1985, no dia 18 de junho
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Minha mãe chama Jussara Ferreira Campos e meu pai Valmir Ferreira de Oliveira.
P/1 – E você sabe como que eles se conheceram?
R – (risos) Não. Boa pergunta.
P/1 – E o nome dos seus avós?
R – Eu não sei também porque eu não conheci e, enfim, nunca tive nenhuma proximidade com eles, na verdade tem na minha certidão de nascimento mas, infelizmente, eu não decoro os nomes.
P/1 – E qual que é a história da tua família, você sabe como que os seus pais foram parar no Rio de Janeiro?
R – É, na verdade eu sei muito pouco porque eles são bem fechados. Tem que ficar insistindo em algumas coisas pra poder descobrir mas meu pai, a família dele é de Aracaju, mas ele nasceu no Rio de Janeiro. Os avós dele vieram pro Rio em algum momento da vida, mas ele nasceu no Rio. Minha mãe também nasceu no Rio de Janeiro mas ela não foi criada pela mãe dela, minha mãe foi criada pela avó, depois tia, minha mãe foi uma andarilha entre a família e eu acho que no meio dessa andança toda ela acabou conhecendo meu pai.
P/1 – E tem algumas histórias de família que foram passadas de geração pra geração que você possa contar pra gente?
R – Na verdade eu também não sei. Minha mãe é muito fechada, realmente. Ela não conta as histórias, na verdade eu acho que a...
Continuar leituraProjeto Correios, 350 Anos Aproximando Pessoas
Depoimento de Vinícius Campos de Oliveira
Entrevistado por Isla Nakano
São Paulo, 26/06/2013
Realização Museu da Pessoa
HVC_23_Vinícius Campos de Oliveira
Transcrito por Cristiane Costa
MW Transcrições
P/1 – Bom, Vinícius, primeiro eu queria agradecer você ter tirado um pouco do seu tempo pra vir até aqui.
R – Imagina.
P/1 – E para gente começar e deixar registrado, eu queria que você falasse seu nome completo, local e a tua data de nascimento.
R – Meu nome é Vinícius Campos de Oliveira, eu nasci no Rio de Janeiro, no ano de 1985, no dia 18 de junho
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Minha mãe chama Jussara Ferreira Campos e meu pai Valmir Ferreira de Oliveira.
P/1 – E você sabe como que eles se conheceram?
R – (risos) Não. Boa pergunta.
P/1 – E o nome dos seus avós?
R – Eu não sei também porque eu não conheci e, enfim, nunca tive nenhuma proximidade com eles, na verdade tem na minha certidão de nascimento mas, infelizmente, eu não decoro os nomes.
P/1 – E qual que é a história da tua família, você sabe como que os seus pais foram parar no Rio de Janeiro?
R – É, na verdade eu sei muito pouco porque eles são bem fechados. Tem que ficar insistindo em algumas coisas pra poder descobrir mas meu pai, a família dele é de Aracaju, mas ele nasceu no Rio de Janeiro. Os avós dele vieram pro Rio em algum momento da vida, mas ele nasceu no Rio. Minha mãe também nasceu no Rio de Janeiro mas ela não foi criada pela mãe dela, minha mãe foi criada pela avó, depois tia, minha mãe foi uma andarilha entre a família e eu acho que no meio dessa andança toda ela acabou conhecendo meu pai.
P/1 – E tem algumas histórias de família que foram passadas de geração pra geração que você possa contar pra gente?
R – Na verdade eu também não sei. Minha mãe é muito fechada, realmente. Ela não conta as histórias, na verdade eu acho que a família não tinha uma ligação muito grande. Então, não sei se é possível até ter história; na verdade o que se tem são histórias muito pessoais, tanto da minha mãe quanto do meu pai, que muitas das vezes não são das mais agradáveis, porque minha mãe sofreu muito no meio dessas histórias todas de ser criada por vó, por tio, por tia e aí num momento da vida bateu uma loucura e se virar no mundo. São mais essas histórias, eu acho que uma referência que eu posso fazer, comparando a minha história com a da minha mãe, é um pouco, mas, enfim, é bem distante, pode ser a coisa de sair de casa muito cedo, de começar a trabalhar muito cedo, de ir pro mundo muito cedo e aprender coisas da vida muito cedo. Isso aconteceu comigo quando eu fiz o filme Central do Brasil. Eu sai de casa, deixei de morar com a minha mãe, meus pais já eram separados e eu fui morar com uma outra pessoa que chama Ana Paula Meireles e com o Gabriel Pereira da Silva, eram casados na época, foram duas pessoas que acabaram se responsabilizando por mim nesse início de carreira, ficaram responsáveis pelos meus estudos, pelas coisas de trabalho e, então, eu tenho eles como pais também nessa minha história de vida e eu acho que a coisa da referência com a minha mãe é basicamente isso. Ela teve um momento muito mais de sofrimento do que eu. Eu tive, na verdade, um acolhimento depois que eu saí de casa.
P/1 – Bom, Vinícius, agora eu queria que você falasse um pouquinho do bairro em que você cresceu, o primeiro bairro que você morou, a tua primeira casa.
R – O primeiro bairro que eu morei na verdade eu não vou me lembrar, porque eu fiquei pouco tempo, eu vou me lembrar da terceira casa que eu vivi, que foi no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, um complexo de favelas grande e dentro do complexo tinha lá a Vila dos Pinheiros, que foi onde eu tenho bastante memórias, tive muitos amigos, cresci lá. Como na época era uma favela dominada pelo tráfico tem muitas histórias de tiroteios, ver gente sofrendo, ver pessoas mortas no meio da rua é bem impactante. Mas, fora isso, eu tive um crescimento, um aprendizado de uma vivência muito grande nas ruas em relação à brincadeira, à diversão, à infância. Apesar dessas coisas todas chatas, eu tive uma infância muito rica, de por os pés no chão mesmo, de enraizar o meu pé no chão, na terra, jogava futebol, passava o dia inteiro jogando bola, soltava pipa, peão, pegava um ônibus eu e meus amigos e ia pra praia, a gente aprontava poucas e boas. Eu cresci nesse lugar até os 12 anos, que foi quando eu mudei, depois, pra um outro bairro. Mas o bairro mais marcante da minha vida e o lugar de moradia onde mais me marcou, de onde eu sinto mais falta realmente, das pessoas que eu tinha por lá e das brincadeiras, é lá.
P/1 – Tem alguma história, assim, de moleque, que você possa contar pra gente, alguma história pitoresca, molecagem?
R – É, nossa, tem muitas histórias. Vamos lá: eu era tão alucinado por pipa na época que eu passava o dia inteiro fora de casa, correndo atrás de pipa, soltando pipa e às vezes quando eu voltava pra casa tarde, pra comer, minha mãe falava: “Você não vai almoçar, não. Agora você vai pra rua, você vai comer rua, menino, Ninguém mandou você ficar tanto tempo na rua, eu fiquei te gritando aqui horas e você não apareceu”. E, numa dessas loucuras de ficar atrás de pipa, uma vez eu tava sozinho, a galera soltando pipa, eu tava esperando um cruza, que chama entre duas pipas pra ver quem ia voar primeiro, uma pipa voou e eu fui correndo no meio do mato, que nem louco, sozinho e sem querer eu dei uma topada no joelho numa pedra e cai, voei, e quando eu cai foi em cima de um formigueiro. Nossa, foi desesperador, desesperador. Todas as formigas em cima de mim, me comendo, me picando e eu gritava que nem louco “ai, ai, socorro”, tirando a roupa do corpo e me batendo, foi muito surreal. Aí, eu voltei pra casa todo picado de formiga e foi meio absurdo essa história.
P/1 – E, Vinícius, o quê que seus pais faziam? Qual a atividade deles, profissional?
R – É, eles trabalhavam, minha mãe era balconista, trabalhava como balconista numa lanchonete da rodoviária e às vezes também trabalhava como diarista. E meu pai era a mesma coisa, fazia obras, enfim, ajudava a galera ali da comunidade, fazendo os famosos bicos.
P/1 – E você chegava a acompanhar eles no trabalho, assim? Tem alguma história de você ter ido com a sua mãe ou ficado com teu pai trabalhando?
R – Não, a gente nunca acompanhou porque, como eu não era sozinho, era eu e mais dois irmãos, meu irmão mais velho e uma irmã mais nova, era preferível que ficasse todo mundo em casa, os três juntos pra um tomar conta do outro. A gente não acompanhava esses trabalhos.
P/1 – E dessa tua infância, das brincadeiras, da tua história, tem algum amigo que tenha marcado ou alguns amigos que tenham ficado desse período, assim?
R – Tem, com certeza. Tem o Leonardo, que era mais conhecido como Buiu, enfim, a gente tinha uma afinidade muito grande, a gente era muito parceiro e praticamente tudo o que a gente fazia, a gente fazia juntos, a gente jogava bola sempre no mesmo time, soltava pipa junto, bolinha de gude, éramos muito parceiros. Mas ele, infelizmente, depois que eu saí, uma galera acabou se perdendo, a galera vai crescendo dentro de uma realidade muito dura e às vezes fica sem caminhos, sem opções, e ele acabou indo pra área do tráfico, teve um desentendimento com a polícia, acabou sendo assassinado no meio dessa história toda. Mas é um amigo que eu mais guardo no peito, que eu tenho como referência.
P/1 – E, Vinícius, quais que são as primeiras lembranças escolares, assim?
R – Eu lembro que eu comecei a ir pra escola... Ah, na creche! Tinha creche. Creche, a lembrança é que eu chorava muito, quando eu era moleque era muito chorão, chorava por qualquer besteira. “Ah, você não pode fazer isso”, aí, eu ficava triste e começava a chorar. A primeira lembrança é da minha mãe me deixando na creche, eu não querendo ficar e chorando, chorando, chorando, até que me acostumei com a escola, com todo mundo e tava numa brincadeira descendo o escorrego, caí, quebrei o braço. E eu acho que essa é a história mais marcante da creche. E, depois que eu fui pra escola, fui com seis anos mais ou menos, as amizades, o futebol que a gente jogava e principalmente tinha um cara que era impressionante porque ele era meu amigo fora da escola, eu chegava no colégio e ele todo dia queria brigar comigo e a gente todo dia brigava, saía na mão e todo dia - eu era mais forte que ele - tinha que bater nele mas eu não queria bater nele e a gente sempre brigava, era muito chato. Mas eu sempre me juntava à galera mais forte da escola, evidente. Porque tava sempre no time mais forte, a galera que queria praticar bullying com os outros amigos. Antigamente, essa história de bullying não era uma coisa que a gente pensava na maldade do menino, “ah, esse cara vai sofrer na vida inteira”, era brincadeira de criança, de um mexer com o outro, um zoar o outro. Era muito mais inocente do que hoje em dia. Hoje em dia, na verdade, criaram um monstro pro bullying quando na verdade sempre foi uma brincadeira inocente que te deixava já esperto pro mundo, pras pessoas que estavam do seu lado, te abria os olhos, te falava “ah, esse moleque é meio chato” ou, então, “porra, tá me zoando aqui, eu não posso ficar dando mole, eu não posso ficar de bobeira, tenho que aprender a zoar os outros, senão eu vou ser sempre o bobão da história e vou ser um bobão na vida toda”. Então, o bullying que a gente praticava era mais suave, bem mais inocente.
P/1 – E, Vinícius, você lembra de festas, Festa Junina ou festa de aniversário, alguma história que tenha alguma...
R – Festa Junina sempre tinha no bairro; a gente sempre invadia a maioria delas. Invadia porque sempre era no colégio, nesses CIEPs [Centros Integrados de Educação Pública] que tem por aí, tinha o CIEP onde a gente estudava e às vezes tinha que pagar os cinco reais -na verdade era cruzeiro, sei lá quantos cruzeiros, alguns poucos cruzeiros. A gente não tinha muita grana, não tava afim de pagar, pulava o muro da escola, que era bem mais fácil e a gente sabia pular o muro, tanto que a gente fugia da escola dessa maneira também. E, a gente ia, se divertia pra caramba, tinha as festa do nosso prédio também, onde as músicas que bombavam eram os axés da época, É o Tchan, essas coisas todas e a gente se divertida, dançava, fazia as coreografias, era bem divertido.
P/1 – Vinícius, agora eu queria te perguntar, como que foi a história de você entrar pro filme? Conta pra gente essa história.
R – Bom, tudo começou na verdade com o meu irmão, meu irmão mais velho. Ele começou a trabalhar no aeroporto Santos Dumont primeiro do que eu, antes de mim, como engraxate, porque já tinha uns outros amigos ali da área que já iam pra lá, que eram mais velhos. Aí, meu irmão descobriu e acabou indo com eles e num determinado momento me chamou pra ir também. E foi quando eu comecei a frequentar; a gente começou a frequentar, passamos milhares de histórias ali, naquele aeroporto, conhecendo outros meninos de outros lugares, correndo um pouco da polícia que pegava no nosso pé, enchia o saco. Na verdade a gente não era baderneiro, a gente tava ali pra tentar, realmente, engraxar um sapato e às vezes, sei lá, comer um lanche, mas tinha perseguição tanto da polícia quanto das pessoas da Infraero, meu irmão acabou até sofrendo uma agressão física de um desses rapazes lá, da Infraero, que não foi nada legal, foi uma situação bem chata, bem triste. Mas, enfim, passado isso, um ano depois de estar trabalhando no aeroporto, teve um momento, um dia em que eu tava dentro do saguão e aí por um acaso, o Walter Salles, o diretor do filme, ia pegar uma ponte aqui pra São Paulo e resolveu parar na lanchonete pra fazer um lanche e ele era o último da fila, mas, evidentemente, eu não sabia quem era o Walter Salles mas eu o vi de longe, no final da fila, pensei “ah, vou chegar até esse rapaz pra ver se eu consigo engraxar o sapato dele” e quando eu fui me aproximando, eu percebi que ele tava de tênis. Eu falei “ah, de tênis não dá pra fazer o serviço, então eu embora”. Ele era muito simples, a calça jeans, um tenizinho e uma camiseta bem lisa, surrada, falei “ah, não vou incomodar esse rapaz, não, coitado. Vou embora”. E, aí, na hora que eu dei as costas pra ir embora, eu parei pra pensar cinco segundos e falei “ah, acho que eu vou voltar lá e pedir pra esse cara me pagar um sanduíche”. Foi quando eu voltei e perguntei se ele podia me pagar um hambúrguer, tal, uma coca cola, ele falou “claro, sem problema” e foi, me pagou o sanduíche, eu agradeci e fui comer lá pro fundo da lanchonete. Ficar na minha com meu irmão, que chegou depois que o cara me pagou o lanche. Aí, fiquei comendo, dividi com meu irmão e nisso ele ficou numa outra extremidade, me observando e, quando ele terminou de comer ele foi falar comigo, perguntar se eu queria fazer um teste pra um filme. Eu falei “ah, claro, tudo bem” mas eu não sabia o que era. Ele perguntou se eu conhecia cinema, se eu já tinha feito alguma coisa, falei “não, não sei o quê que é e nunca fui ao cinema também, então não tenho ideia do que você esteja falando”. Ele falou “bom, então se você puder ir nesse lugar, nesse dia, nessa data, nesse horário, você vai lá fazer um testezinho, a gente conversa melhor e tudo certo” “Então tá bom, beleza”. E, aí, ok, fiquei feliz da vida, o dia foi passando, eu fui contando pros meus amigos dali “ah, um rapaz me chamou pra fazer um teste pra um filme”, legal, legal, e, mais no fim da tarde, ele tinha me deixado o telefone da produtora, da Vídeo Filmes, e eu liguei pra lá, falei “ó, o Walter me chamou pra fazer um teste pra um filme mas eu tô aqui com os meus amigos, tem mais dois, três amigos, eu queria levá-los. Eles podem fazer o teste comigo também?” e eles deixaram “ah, pode sim, sem problema, pode trazer todo mundo” “Então tá bom”. Desliguei, meus dias passaram, na verdade antes disso, eu voltei pra casa, contei pra minha mãe a história, a situação, ela não tinha entendido nada, porque também ela não sabia o que era, não entendia da coisa, ficou super preocupada porque era um momento em que tava muito forte a coisa de raptar crianças e vender os órgãos, essa coisa toda. Esse negócio tava saindo direto da mídia, tava todo mundo muito antenado, muito esperto. Minha mãe ficou preocupada, falou “cuidado com isso, pode ser essa história, então você fica ligado menino!”. Eu falei “ah, então tá” e, aí, os dias se passaram, eu acabei esquecendo da história, acabei esquecendo do Walter, de tudo, não fui fazer o teste porque eu não sabia onde era o lugar e o lugar é ali na Glória, do lado do aeroporto, sei lá dez minutos do aeroporto, mas não sabia chegar ali. Eu sabia chegar no Arpoador mas não sabia chegar ali e eu não fui, simplesmente esqueci, uns dias passaram, até que um dia, também fim da tarde, eu andando do lado de fora do aeroporto, me para uma Kombi do lado e descem duas pessoas, perguntando se eu era o Vinícius. Eu falei “ah, sou, sou eu, sim”, quer dizer, minto. Primeiro eu pensei bastante se eu devia falar o meu nome ou não. Eu fiquei olhando pra eles, desconfiado porque eu não sabia quem eram aquelas pessoas, como elas sabiam o meu nome? Eu fiquei bastante desconfiado, pensei, pensei, falei “sou, sou eu, sim, por quê?”. E, aí, que eles contaram a história do Walter, “a gente veio aqui a pedido do Walter, estamos o dia inteiro te caçando no aeroporto, ele quer que você faça o teste” eu falei “ah, então tá bom. Mas eu posso ir aqui com meu irmão, meus amigos?” “Ah, pode, sim, não tem problema. Vamo lá, você entra aqui na Kombi e a gente vai te levar ali na produtora e depois te traz de volta” “Então tá, então vamos lá”. E essas duas pessoas eu lembro bem, uma era a Denise del Cueto, que é uma amicíssima minha hoje em dia e o Athayde d’Mar que era o motorista, também um grande amigo, eles trabalharam no filme depois, continuaram. E, aí, a gente foi pra produtora, eu acabei fazendo um primeiro teste, na verdade foi com a própria Denise, ela me disse o que eu tinha que falar, me falou a fala, ela pediu pra eu repetir, a fala era “eu quero mandar uma carta pro meu pai”... E como é que era? “Me escreve? Pai, vem aqui no Rio que a minha mãe se machucou” e eu tinha que reproduzir isso na frente da câmera, ela pediu pra reproduzir, ligou a câmera e reproduzi mas eu tava muito nervoso na hora, tava tremendo, mas, enfim, eu consegui falar e acho que consegui passar uma certa verdade que eles queriam. Ela falou, depois que eu consegui fazer, ela “ah, então tá bom. Eu vou ligar aqui pro Walter, conversar com ele e já venho aqui falar com você”. E, aí, a gente ficou esperando no corredor, do lado de fora da sala, ela conversou com o Walter e ela veio falar comigo “olha, a gente gostou do seu primeiro teste, a gente queria que você continuasse aqui trabalhando um pouquinho com a gente” e ela me explicou tudo, o processo, como seria a filmagem e falou que iria conversar com a minha mãe, que eles precisavam pra, enfim, a gente fazer uma logística bacana, deles irem me buscar depois me trazerem e eu topei. Foi quando começou o processo de preparação e testes ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que acontecia a preparação com a Fátima Toledo, que foi quem preparou o filme, aconteceram mais uns dois testes no meio do caminho, pra ver se eu iria bem realmente e foi quando tudo deu certo, acabou dando certo. E, aí, a gente começou a filmar o Central, antes de filmar eu conheci a Fernanda, claro, ensaiei um pouco com ela pra pegar intimidade e foi quando aconteceu o Central.
P/1 – E, Vinícius, você falou que começou o processo de preparação, como que foi essa preparação?
R – Ah, então, a preparação, na verdade, pra mim foi muito dura, porque como era uma primeira experiência de Cinema e era uma preparação muito forte e eu sempre tive um gênio muito forte também, eu batia de frente com a preparadora, apesar de fazer tudo o que ela mandava, eu fazia. Mas eu fazia p da vida, às vezes começava a chorar porque eu não conseguia entender aquele processo, não conseguia entender onde aquele processo ia nos levar, porque era mais uma coisa de ingenuidade, evidentemente, uma falta de conhecimento, de entendimento da coisa, porque o trabalho foi maravilhoso. O trabalho era baseado na questão de você se deixar limpo pro momento da cena, deixar seus sentimentos à flor da pele e foi exatamente o resultado que a gente conseguiu. Na hora das cenas, o Walter vinha falar e tinha um momento de emoção quando lembrava dos exercícios, fazia um pouco e aí vinha a emoção e conseguia chegar. Mas foi um processo muito duro, que acabou dando certo, a Fernanda no finalzinho acabou chegando e a gente conseguiu formar uma parceria bacana.
P/1 – E como que foi começar as gravações? Como que foi isso pra você?
R – Foi muito emocionante, foi muito animador, porque era muita gente, um set de filmagem grande porque foi logo na Central do Brasil que a gente começou filmando, a primeira diária, se eu não me engano acho que foi no dia 06/11 e eu vendo aquelas pessoas todas trabalhando, aquele mundo de equipamentos e eu queria, tava muito excitado, estar no meio das pessoas, queria estar andando pra lá e pra cá, queria estar o tempo inteiro ajudando, o tempo inteiro andando com o Walter pra cima e pra baixo, em momento nenhum eu queria sossegar pra me concentrar, nem sabia o que era isso. Nem queria trabalhar com essa necessidade de concentração. Eu ficava no set o tempo inteiro, só fazendo bagunça, me divertindo e na hora que tinha que gravar, eles me posicionavam, me falavam o texto porque eu também não tinha lido o roteiro e não pegava o roteiro e ficava decorando, na hora da cena eles falavam tem que falar isso, isso e isso, a intenção é assim, assim, assim, assado e vai lá e faz. Eu falei “tá bom”, ia lá e conseguia fazer.
P/1 – E, Vinícius, antes do filme você já tinha tido algum contato com alguém, talvez visto, alguém que escreve cartas pra outras pessoas?
R – Não, não tive esse contato. Foi o primeiro contato, realmente, a partir do filme. Na verdade era uma personagem de ficção mas baseada numa história real; o Central é baseado nessa coisa de mandar cartas na Socorro Nobre, que é uma atriz hoje em dia, ex-presidiária, que ele começou a se corresponder com o Frans Krajcberg e o Walter é muito amigo dele e, numa dessas cartas que ele recebeu, ele mostrou pro Walter e ele se interessou muito por essa coisa, essa coisa das cartas, realmente desse processo, dela mandar carta, na época ela tava presa, uma presidiária mandar carta pra um artista famoso, onde ela viu nas revistas, ficou apaixonada pela obra do cara e a carta chegar pra ambas as pessoas, tanto a dela quanto a dele pra ela. As pessoas tinham um cuidado, principalmente lá, de entregar a carta pra ela, saber que o cara tava lendo e eles se correspondiam. Então, foi duma história real que acabou surgindo essa história da ficção e foi onde eu tive o primeiro encontro com essa coisa de mandar cartas. Uma pessoa se disponibilizar num primeiro momento, a história da Dora é que ela se disponibiliza a escrever cartas e a mandar mas no começo todo mundo sabe que ela não manda, que só depois que ela se transforma e passa a entender, passa a ter um pouco mais de sentimento, ela fica mole com toda a situação do Josué, da busca do pai. Na verdade, o Josué é uma carta viva itinerante, podemos dizer assim, porque ele vai até a Central com a mãe que tenta mandar uma carta, a Dora não manda a carta e ele, então, se prontifica a ser essa carta e a ir ao pai pra contar a história dele, ele quer contar a história dele, ele nasceu e o pai não viu crescer, ele quer conhecer o pai. Então, a Dora fica sensibilizada com essa situação toda e, no meio do caminho, acaba mandando as cartas.
P/1 – e, Vinícius, você chegou a conhecer a Socorro, você sabe se a Fernanda fez alguma preparação com ela? Você quer falar disso um pouquinho?
R – Eu conheci a Socorro mas eu acho que a Fernanda não fez nenhuma preparação com ela, na verdade, apesar de ser baseado, a personagem em si não é uma Socorro Nobre da vida. São histórias totalmente diferentes. Na verdade, a história da Fernanda é uma coisa de sobrevivência dela, pra ela poder ganhar um dinheiro, ela é uma ex-professora, quer dizer, uma professora – não existe ex-professora – na verdade ela não exercita mais a profissão e, aí, quer ganhar um dinheiro à parte mas não manda as cartas, e a Socorro, enfim, respondia o tempo inteiro. A experiência com a Socorro foi das melhores, porque é uma pessoa incrível, que você conhecendo, assim, pessoalmente, você não consegue entender como ela foi presa e depois ela contando a história... Existe toda uma desculpa, na verdade você tirar a vida de uma outra pessoa não tem desculpa, mas, enfim, teve todo um motivo que acabou levando a isso. Mas é uma pessoa incrível, pessoa generosa, amorosa e o Walter foi muito carinhoso com ela, é sempre muito amigo, sempre muito amoroso, tanto que a primeira pessoa que aparece no filme é a Socorro. A primeira mulher que aparece mandando cartas é a Socorro Nobre, ela escrevendo uma carta. Eu acho, eu acho, que a Fernanda não fez nenhum laboratório com ela.
P/1 – E, Vinícius, como foi, quando, assim, que você começou a entender o filme como um todo, assim?
R – Vixi, eu comecei a entender o filme como um todo depois da turnê que a gente fez, Europa e Estados Unidos... Começou a cair uma certa ficha no Festival de Berlim. Na verdade, não foi nem enquanto eu pelo menos tava lá. A primeira vez que eu vi o filme foi lá, no festival e foi incrível, foi deslumbrante, momento único da vida e marcante porque, primeiro pelo trabalho que eu tava vendo, meu trabalho, que eu conseguia ver um trabalho que a gente tinha passado perrengue, três meses filmando na Central e depois no calor infernal do Nordeste. Aí, ver um trabalho concluído foi muito bonito e me ver também pela primeira vez numa tela imensa, sabe, “caramba que legal isso aí”. E, no final de tudo, enfim, aplausos durante 11 minutos pra mim e pra Fernanda no palco, a gente não se cansava de agradecer, as pessoas não se cansavam de bater palma. Então, isso já começou a fazer um trabalho ali na minha cabeça de começar a entender o que poderia vir a acontecer com o filme. E, aí, depois disso tudo, eu voltei pro Rio, eu tava numa casa de praia da família da Ana Paula, que hoje em dia é tudo uma família só, eu sou da família, sou primo, sobrinho, tudo isso, em Maricá e quando tava na sala, vendo TV e no jornal deu a notícia de que o filme tinha ganho o Urso de Ouro em Berlim. Eu fiquei em choque, num primeiro momento falei “caramba, ganhou”, eu comecei a correr pela casa que nem louco, que nem maluco “ganhamos, ganhamos, o filme ganhou o Urso de Ouro em Berlim, ganhamos o festival”. Todo mundo não tava entendendo nada e a Ana Paula, que já sabia da situação toda, falou “caramba, o Urso de Ouro?” “Sim, ganhamos”. E, aí, foi uma felicidade, uma alegria e a gente comemorou durante o dia inteiro e dois dias depois o Walter voltou pro Brasil, pro Rio e a gente teve que voltar pro Rio porque começou uma bateria de entrevistas. As pessoas, os repórteres todos querendo falar comigo, com a Fernanda, com o Walter e um turbilhão de coisas e acho que, a partir daí, também teve o start [começo] pra gente partir, começar a mandar o filme pra vários outros festivais, fazer varias pré-estréias em vários lugares da Europa e eu tendo que ir junto em vários lugares, conhecendo lugares, conhecendo pessoas novas, conhecendo todo esse métier Cinematográfico, de produtores, tudo isso, foi quando eu comecei a atinar da grandiosidade que era esse processo cinematográfico, principalmente quando um filme começa a ganhar uma repercussão mundial, começa a ganhar fama, começa a ganhar praticamente todos os prêmios que competiu, principalmente os de importância. E foi quando a ficha começou a cair, eu falei “caramba, olha só essa coisa é bacana de Cinema, de repente se eu continuar trabalhando, continuar praticando, eu acho que pode dar certo, de repente eu vou prosseguir nessa profissão”. Foi quando voltei pro Brasil e a gente começou a possibilidade, começou a pensar uma série de estratégias pra eu continuar carreira, pra que a carreira não me atrapalhasse na escola e, também, pra que eu não ficasse perdido de cabeça, porque é totalmente possível quando você faz um sucesso estrondoso e, aí, de repente a poeira baixa e você fica meio perdido porque se acostumou com uma coisa bacana e a gente sabe que isso não vai ser pra sempre. Então, a gente teve essa preocupação, de entender o que tava acontecendo nesse momento e que possivelmente a poeira ia baixar, as coisas iam voltar ao normal, podia continuar trabalhando mas ia ser bem diferente. Foi um momento importante, onde eu consegui equilibrar a cabeça, equilibrar os estudos, equilibrar minha vida pra conseguir seguir tranquilamente.
P/1 – Vinícius, você já tinha viajado antes do filme?
R – Antes do filme não; não tinha feito viagem nenhuma, primeira viagem foi justamente pro Nordeste, quando a gente terminou de filmar aqui no Rio e foi pra lá. E, aí, curioso, pegar o avião, ficar nervoso “caramba o avião, que medo. Como é que devem ser as nuvens?” tinha aquela história toda que a gente sempre ouve quando é criança de que as nuvens são algodões. Que é tudo fofo, então eu não sabia o que era direito. E, aí, engraçado que o Walter Carvalho, diretor de fotografia do filme, a gente no aeroporto, antes de pegar avião, perguntou “e, aí, Vinícius, você já voou? Já pegou avião?” “Não, não. Tranquilo, nunca viajei não mas tô um pouco nervoso” “Ah, não tem nada demais, não. O máximo que você vai ver lá em cima, no meio das nuvens são os braços, umas pernas voando mas fica tranquilo, tá?”. Eu “hã? Como é que é essa história aí, Walter” “Não, eu tô brincando”. E, aí, enfim, a gente voou e foi divertido, a gente foi fazendo bagunça no meio do filme, porque aí eu já tinha me juntado à equipe, só queria farra e foi uma bagunça até chegar no lugar.
P/1 – E lá no Nordeste como que foi o contato, assim, com a população local? Se puder falar um pouquinho pra ter essa...
R – A gente sempre foi muito bem recebido nos lugares que a gente foi, principalmente em Cruzeiro do Nordeste, bem no interior de Pernambuco, mais pra dentro de Arco Verde. Lá, uma cidade pequena, o povo foi muito carinhoso com a gente, ajudava de todas as formas que podia na questão da figuração e tinham as pessoas que ajudavam a distribuir água pra figuração, a gente teve uma recepção muito gostosa, tanto que na última cena do filme, a gente fez lá e quando a gente volta pra cidade e anuncia que estávamos indo embora, foi uma comoção, foi um chororô, assim, gigantesco, absurdo. A cidade toda chorando e agradecendo pela oportunidade que eles tiveram de trabalhar, de conhecer pessoas novas e, a saudade que eles sentiriam e, de uma certa forma, a transformação que o filme causou ali, porque, depois que a gente foi embora, a cidade passou a ser vista, principalmente pelos governantes. Eles fizeram água encanada, puseram calçada nas ruas, asfalto. Então, foi um momento muito bonito, que eu lembro até hoje, as pessoas fazendo uma roda em volta da gente, cantando, chorando e agradecendo. A gente, caramba, super emocionado, também chorando e agradecendo aquele momento. Cruzeiro do Nordeste foi a cidade que mais marcou porque foi onde a gente ficou mais tempo filmando. As outras cidades eram menores e a gente teve uma passagem rápida e não teve esse contato tão próximo do público, dos moradores da cidade.
P/1 – E, Vinícius, da data lá do comecinho do filme pra esse tempo lá, no Nordeste, teve algum momento que talvez você tenha tido uma percepção de que “nossa, as pessoas se comunicam, tem esse elo de comunicação entre cartas”.
R – Era difícil pra mim porque eu não me comunicava, eu ainda não tinha entendido a história do filme, essa que é a verdade. Então, eu não sabia o que tava acontecendo direito. Eu tava sendo levando por uma excitação, por um extra de estar fazendo um trabalho e pela alegria de estar num set de filmagem com as pessoas. Eu ainda não parava pra pensar nessas questões, dessa coisa da comunicação entre as pessoas. Eu sabia que existia carta, evidente, mas até então eu nunca tinha mandado, não escrevia cartas, porque não tinha ninguém pra quem eu pudesse mandar com uma distância. Minha relação era ali, com a minha família e os meus amigos, só. Como eu já falei aqui, a coisa da família, a gente nunca foi muito próximo, eu sempre fui próximo dos meus irmãos, da minha mãe e do meu pai. Eu não tinha essa percepção, eu fui perceber, realmente, depois do filme, a importância da comunicação entre as pessoas, essa coisa de mandar carta, da necessidade de conhecimento, de você conhecer o lugar de onde você veio, da coisa de você voltar e poder contar a história e você conhecer a sua história, conhecer histórias novas, histórias de familiares que você desconhece. Essa relação de mandar cartas eu fui entender depois, essa importância, essa necessidade.
P/1 – E no tempo no Nordeste teve alguma coisa, assim, de choque de realidade, alguma coisa que tenha marcado, assim, por ser tua primeira viagem?
R – É, o choque de realidade maior foi acho que a pobreza. A pobreza num estágio muito elevado, as pessoas são, realmente, muito pobres, é um lugar muito quente que você depende principalmente da água pra sobrevivência e você tem pouquíssimos meses em que chove. A gente chegou lá, justamente, num momento de pura seca, onde os bois morriam, as vacas morriam, as cabras morriam, tudo morria de fome, de sede e você via aquela seca refletida nas pessoas. Aquela coisa da crueldade bem refletida no rosto das pessoas. As pessoas com a boca seca, com os pés abertos, bem secos de tanto que andavam, carregando água pra cima e pra baixo e vendendo umas frutas que era possível vender. Esse choque foi muito grande pra mim e sentir que ali não tinha uma ajuda, que ninguém tava preocupado com aquelas pessoas, que ninguém ajudava. Parecia que era um lugar afastado, onde era impossível chegar ajuda, quando na verdade era totalmente possível, faltava boa vontade de quem governava ali por perto. Esse choque de realidade foi muito grande mas o que compensou foi, realmente, essa troca entre a equipe do filme e os moradores, essa troca de ajuda, eles nos ajudavam e a gente os ajudava, era o momento em que todo mundo esquecia aquela pobreza, aquela seca e ia trabalhar. Enfim, pra um bem maior, pra uma coisa que era agradável, por uma coisa gostosa que era nova pra todo mundo. Mas isso foi um choque muito grande.
P/1 – E depois do filme você recebeu carta de fã? Teve alguma?
R – Recebi (risos).
P/1 – Conta essa história.
R – Eu recebi muitas cartas. Eu tenho algumas guardadas, na minha casa mas foram muitas. Recebia cartas de colégios, até na minha própria escola recebi carta. Numa outra viagem que eu fiz, me mandaram uma carta que eu tenho até hoje, que é quilométrica, é um rolo desse tamanho, você abre, ela deve ter uns 200 metros de carta e sempre cartas muito carinhosas, falando do filme, que assistiram o filme, da emoção e tudo mais, e aquela coisa de fã. De ver “nossa, olha só aquele menino, virei fã”, até pessoas mesmo do próprio Cruzeiro do Nordeste mandavam carta pra mim, a gente teve essa correspondência.
P/1 – Você lembra da primeira carta que você recebeu?
R – É, deixa eu pensar... A primeira carta que eu recebi, na verdade, foi um telegrama. Eu tava em Berlim, no festival mas antes eu tava num colégio no Rio; antes de viajar, eu tava num colégio novo no Rio, na Tijuca. Aí, enfim, a minha turma inteira já sabia que eu tinha feito o filme, coisa e tal, já rolava um carinho comigo nesse momento. Eu precisei viajar pro festival e lá eu recebi uma carta da minha turma me desejando boa sorte, sucesso e que tudo de bom pudesse acontecer naquele momento, que quando eu voltasse pra escola todos estariam ali pra me receber. Essa foi a primeira carta que eu lembro, esse telegrama de carinho da minha turma, do colégio e, sim, dos diretores e professores.
P/1 – E você começou a se corresponder, a enviar cartas também?
R – Eu brincava um pouco do telegrama, que era coisa mais rápida, mais urgente, eu mandava, enfim, pros amigos. Cartas eu mandava também pra um grande amigo que eu fiz em Cruzeiro do Nordeste, o Fred Santiago, a gente se correspondia um pouco. E tinha uma, não era bem uma namoradinha, era uma paquerinha que, enfim, a gente ficava trocando cartas. Era gostoso esse momento de trocar cartas, eu ficava numa expectativa, primeiro de mandar, chegar e a pessoa ler e depois de receber a resposta por carta também. Era sempre uma expectativa gostosa, aquela friozinho na barriga, caramba, o quê que a pessoa achou da carta.
P/1 – E desse teu amigo, o quê que vocês conversavam, o que você contava pra ele nas cartas?
R – Contava toda a novidade, o que tava acontecendo no Rio, falava que tava com saudade, que queria voltar lá pra gente, marcar de jogar futebol pra quando eu fosse lá ele organizasse um futebol pra gente jogar, que já tinha essa rivalidade nossa, de futebol “ah, eu jogo mais que você, você joga menos que eu”, enfim. Então, vamos marcar um futebol pra gente jogar e a gente ver quem é melhor. E ele me contava de toda a história, do que tava acontecendo na cidade e, claro, ele tinha um pouco mais de história sofrida do que eu pra contar, porque a seca ainda era muito grande mas o que mais chamava atenção era a esperança que jamais morria: o que importa é que a gente tá bem, a gente tá com saúde, vamos continuar trabalhando e vivendo. Mas, eu fiquei sabendo através de cartas também que a cidade tava melhorando, que depois que o filme saiu muita coisa passou a melhorar lá.
P/1 – E, Vinícius, me conta desse rolo gigante, você poderia contar umas histórias pra gente de cartas que chegaram, histórias peculiares ou engraçadas, assim?
R – É que, na verdade, eu acho que a mais interessante foi essa carta quilométrica porque o que tinha na carta era “eu te amo, te amo, te amo, eu quero muito te conhecer, casa comigo, namora comigo” e eu ficava pensando “caramba, como que essa menina teve tanta paciência pra escrever tanto eu te amo, na verdade tinha escrito e tinha colado te amo, ou seja, ela teve que ter uma paciência pra escrever uma carta de 200 metros, com te amo, te amo, te amo e colar te amo, te amo, que eu falava “caramba, o quê que é isso, o quê que é a coisa do fã”. Essa coisa do espectador com o artista, foi a carta que mais me chamou atenção, eu acho, que mais me deixou curioso. E outras as pessoas mandavam foto, principalmente meninas “olha só como eu sou” não sei o que “tenta me retornar a carta com a foto autografada”. Eu fiz isso algumas vezes, as pessoas mandavam cartas com fotos e eu autografava e mandava de volta, respondi diversas cartas mas essa gigante foi a mais impressionante e você abre meu guarda roupa e vai ver, é a primeira carta que tá, as outras estão numa caixa, mas essa, como é grande, ela fica no meu guarda roupa, tá lá até hoje.
P/1 – E, Vinícius, e esse pós filme, morar numa nova casa, numa nova família, a coisa de ser famoso?
R – Ah, é um outro estágio da vida. Você começa a tomar um rumo que você até então não tinha atinado que podia acontecer e é a coisa de conhecer pessoas novas, entrar num colégio novo, conhecer um mundo novo, totalmente diferente do seu e a coisa da adaptação. E pra mim, claro, foi super importante porque, se não, eu não estaria hoje aqui, contando essa história. Poder conhecer novas culturas, conhecer novas ideias, conhecer pessoas novas, é o momento que você consegue abrir, expandir os seus horizontes, põe o seu olhar mais periférico e consegue enxergar todos os lados e, num determinado momento, que lado você quer seguir de fato. Primeiramente as pessoas te indicam um caminho, você começa a seguir, depois que você entende esse caminho, você entende o leque de opções que tem pra seguir, você por você mesmo acaba tomando seu próprio rumo. Essa mudança foi importante nesse sentido, porque num momento eu determinei o que eu queria seguir pra minha vida, eu, Vinícius, falei “bom, eu vou seguir por aqui, eu quero fazer isso e eu vou trabalhar pra chegar nesse momento”, que foi quando eu comecei a pensar na ideia também, na possibilidade de ser diretor de Cinema. Porque trabalhar com o Walter foi uma experiência tão enriquecedora, tão marcante, de ver um diretor da forma que ele conduzia o set, da forma que ele tratava os atores, era tudo tão mágico e magistral, uma habilidade ímpar, que me despertou uma curiosidade nessa coisa da direção. Foi quando eu comecei a pensar na possibilidade de dirigir Cinema e de estudar, vou fazer faculdade de Cinema pra que isso um dia se torne realidade. Mas a história de ser ator sempre prosseguiu, eu sempre continuei trabalhando, continuei fazendo programas de televisão, programas educativos, fiz Teatro também, comecei no Teatro. Eu mudei várias vezes de casa. E sempre guardando as histórias que vinham, as coisas novas pra poder enriquecer esse meu caminho e até tomar um rumo, real, solo, na vida. Poder caminhar com as minhas próprias pernas, sem que ninguém continuasse de babá ou então que eu fosse morar com uma pessoa familiar, ou voltar a morar com a minha mãe. É o momento que eu falei “ah, bom, é hora de eu sair pra vida e morar sozinho mesmo, cuidar das minhas coisas, pagar minhas contas, me tornar gente grande”. É o momento que eu vivo hoje em dia e ainda marcante porque eu vou ser pai nesse momento, eu moro com a minha namora, que é atriz também, Sara Antunes, a gente mora aqui em São Paulo e ela tá grávida de sete meses. Já é uma outra etapa da vida, eu acho que já tô um pouco adaptado com a coisa de ser pai. Agora quando o bebê nascer é uma outra adaptação, eu imagino que seja um outro esquema, você ter que lidar com uma criança, um ser novo, super depende de você. Isso, já antes do bebê nascer, já entrou na minha cabeça, já entrou na minha cabeça, já entendi essa relação, já entendi que eu vou ser pai e que é uma responsabilidade muito grande.
P/1 – E, Vinícius, porque que você pensou em cineasta mais do que ator?
R – Eu, por incrível que pareça, quando eu estou na frente da câmera e eu vou atuar... A maioria dos atores tem uma desenvoltura grande, sabe lidar com a coisa da câmera e, principalmente, no Cinema sabe lidar com a coisa do olhar, de fazer a coisa pequena. Mas quando eu saio de frente da câmera, eu sou de uma timidez muito grande, eu sou muito tímido e, às vezes, isso me prende um pouco, até mesmo pra quando eu vou na frente da câmera, eu preciso fazer um certo esforço pra quando o diretor diz ação eu conseguir estar inteiro na cena e fazer bem. Mas é um pouco angustiante isso, eu acho que eu sendo diretor eu me sinto mais livre pra poder comandar um set de filmagem e falar o que eu quero pro ator, me expressar talvez até melhor do que na frente, do que eu se continuasse sendo só ator. E, aí, juntou aquela coisa da história do Walter, que eu vi, a coisa de dirigir e também a ideia de que se eu quero contar uma história, minha, particular, que eu quero que outras pessoas vejam -minha que eu digo que eu criei, que eu quero mostrar pra um leque de pessoas- é mais fácil você sendo um diretor do que você sendo ator. Ator você recebe muitas vezes uma proposta pra trabalhar, você lê o roteiro, gosta da história mas, no fundo no fundo, não é a história que você quer contar, é a história de uma outra pessoa que você tá emprestando ali seu corpo, sua interpretação, pra aquele cara conseguir contar aquela história, e que necessariamente não vai ser do modo que você quer, porque quando a gente tá fazendo um filme, a gente lê o roteiro e imaginou o roteiro na nossa cabeça, uma história que se a gente fosse fazer, fosse dirigir, contaria de uma outra forma, mas que, na verdade, no final, não é nada daquilo que você imaginou porque a história é do diretor e na montagem ele vai fazer o que ele quiser, vai contar da maneira que ele quiser. Então, você sendo ator não consegue contar a sua história e sendo diretor você consegue, claro, e é mais por isso que eu quero ser; quero contar histórias, quero falar de assuntos e, na direção, essa ideia é totalmente possível.
P/1 – Na tua adolescência, juventude, essa parte menos adulta, assim, o que você gostava de fazer, aonde você gostava de ir?
R – Na adolescência eu já tinha perdido a coisa das ruas, de moleque, de soltar pipa, pião, aquela coisa quando era menor. E, aí, foi um momento mais de namoro, de descobrir as menininhas, começar a namorar, começar a dar os primeiros beijos, ir no Cinema com os amigos também, tinha a história das matinês, as boates pra adolescente, que eram, sei lá, de cinco às dez. Tinha sempre os amigos da bagunça que aprontavam poucas e boas no shopping, roubavam uma placa daqui, uma placa dali mas eu nunca fui muito dessa bagunça, eu sempre fui mais tranquilo. Eu acompanhava os caras até um certo ponto, quando eles começavam a fazer essas coisas eu não achava tão legal, eu falava “opa, não vou participar disso porque eu não acho legal”. Era mais a coisa do Cinema, das menininhas, o futebol sempre presente, eu sempre gostei de jogar bola e essa coisa de ir descobrindo um mundo novo, essa coisa da adolescência, da competitividade, principalmente com seus pais, de você querer se impor e quando você não pode... Apesar de você ter 15 anos e se achar adulto, você não é quem manda em você, são seus pais ou quem tá mais próximo de você e, por conta disso, tinha aquela necessidade de fazer logo 18 anos; já é a maioridade então eu já posso mandar em mim, teoricamente. Era mais isso e essa questão de fazer 18 anos logo.
P/1 – E você falou dos namoros, eu queria te perguntar como é que era o fato de você ter feito o filme já e as meninas te mandarem cartas?
R – Eu nunca namorei nenhuma dessas meninas que mandou carta ou fã, primeiro porque eu nunca gostei de usar isso a meu favor, essa coisa “ah, sou famosinho, fiz Cinema, então namora comigo”, nunca gostei disso, na verdade eu prefiro que a pessoa me conheça, a pessoa Vinícius, saiba quem eu sou e aí se rolar alguma coisa ok, do que “ah, nossa, sou seu fã” e a partir daí comece a rolar alguma coisa. Eu prefiro justamente o contrário. Por conta disso eu nunca namorei nenhuma fã, nenhuma dessas meninas que me deu carta, a primeira menina que eu namorei foi do colégio mesmo, a gente se conheceu e foi um namorico de criança mas era uma coisa de Vinícius com a menina, Vinícius pessoa, sem ser o famoso.
P/1 – E, Vinícius, se você puder contar pra gente um pouquinho, talvez falar dos outros trabalhos que você fez, que tenham marcado a tua trajetória.
R – Depois do Central do Brasil eu comecei a fazer Televisão, fiz uma novela, fiz programas educativos e comecei no Teatro e foi um trabalho que me marcou muito porque foi um monólogo, muito difícil, sobre Carlos Drummond de Andrade, chamava Jovem Drummond. Era um espetáculo que falava da vida do poeta através das poesias dele, eu encenava as poesias no palco, tinha toda uma coisa de corpo, tinha toda uma interpretação bacana, não era um recital monótono, chato, era bem dinâmico, inclusive. E foi marcante porque foi meu primeiro trabalho no Teatro, um monólogo, dificílimo, sobre Carlos Drummond de Andrade e que já vinha com uma responsabilidade muito grande porque eu já tinha feito um filme de grande sucesso, onde o meu trabalho foi muito bacana, então as pessoas esperavam que eu desse continuidade a esse trabalho, que, enfim, se afirmasse esse talento que foi revelado ali na frente das câmeras. Mas foram momentos maravilhosos nesse espetáculo, momento muito marcante durante esse processo de apresentações que a gente fez pelo Brasil, quando a gente foi pra Itabira, cidade do Drummond, tava acontecendo um fórum dos cem anos dele, completaria cem anos e no espetáculo foi impressionante, teve quase tudo. Tem um momento em que eu tô fazendo uma cena e, aí, eu tenho que fazer um movimento e, do nada, surge uma chuva de papeis, folhas em branco, tem que cair do teto, alguém joga, enfim, pra simbolizar o que eu tô pedindo ali na cena. E uma dessas folhas eu precisava pra prosseguir na outra cena, eu precisava pegar uma dessas folhas, qualquer que fosse, pra eu poder continuar. E, aí, eu fiz a cena, fiz o movimento, fiz o gesto pras folhas caírem e as folhas não caíram. Eu desesperado, fazia assim, fazia assim, fazia assim pra pessoa que tava pra jogar as folhas, mas ele não tava conseguindo entender e não jogou. Aí, eu parei pra pensar “caramba, e agora, o quê que eu vou fazer?”. E eu fiquei naquela saia justa, foi a primeira vez que eu vi isso acontecer, que tinha acontecido comigo, de eu ficar numa saia justa de ter que improvisar, foi o meu primeiro improviso no teatro que é normal acontecer. Eu falei “caramba, o quê que eu vou fazer agora?”, aí, eu olhei pra frente, por um acaso tinha uma folha que no começo do espetáculo eu já tinha usado, então, eu sai do meu cenário, que era feito por um tapete grande, fui até a frente do palco, peguei a folha, meu personagem, claro, como se fosse o poeta, fiz uma graça, voltei e segui no espetáculo. E deu tudo certo, algumas pessoas perceberam, tal, e no final do espetáculo, foi muito curioso, foi uma energia tão forte que as pessoas gostaram bastante, começaram a aplaudir, assoviando, gritando e foi uma emoção tão forte que eu comecei a chorar loucamente, parecia que eu sentia a presença do Drummond naquele momento. E, de fato, tinha uma energia de presença daquele poeta, naquela situação e eu comecei a ficar com uma dor de cabeça que eu não tava entendendo o que tava acontecendo direito. Foi um momento de muita emoção que me marcou muito nesse trabalho, nesse processo dessa peça. Eu continuei trabalhando, teve um momento que eu trabalhei um pouquinho menos, que foi justamente porque eu tinha que dar mais enfoque pro colégio, tinha que terminar o colégio então eu tava focando nisso. Tava fazendo poucas coisas, principalmente na televisão, mas no Cinema tinha feito uma participação no Abril Despedaçado, que o Walter dirigiu, uma participação pequena nesse meio tempo e depois não fiz mais de Cinema, mas tinha o convite já do Walter pra fazer o Linha de Passe, que a gente fez acho que dez anos depois do Central. Ele já tinha a ideia na cabeça, não tinha o roteiro ainda e falou “ó, eu tenho uma história que eu vou fazer, vou começar a escrever o roteiro agora e quero muito que você faça, que é um jogador de futebol, quer dizer, um moleque aspirante a jogador e quero muito que você faça”. Falei “claro, Waltinho”, fiquei super animado pra fazer esse personagem e falei “ah, então eu vou começar desde já a treinar, mas especificamente futebol, né?”. Aproveitei a oportunidade, que iria fazer o filme daqui há uns dois, três anos, com a vontade de jogar bola. Falei “vou começar a treinar”, entrei numa escolinha pra ir me aperfeiçoando melhor no futebol. Foi quando eu comecei a treinar na lá na Escolinha do Zico, no Rio, e alguns anos depois, o filme demorou a sair, o roteiro demorou a sair, a gente pode fazer o Linha e foi um momento importante pra minha carreira, também de reafirmar o trabalho principalmente no Cinema. Eu tinha ouvido muitas pessoas comentando “ah, ele deu sorte porque como é criança, criança é muito espontânea, vai lá e faz, é muito mais fácil de acreditar” de uma certa forma isso é verdade. Eu tinha novamente aquele peso nas costas de afirmar o meu trabalho no Cinema também e tinha a coisa de eu ser o mais experiente da galera ali no Cinema. Porque a família inteira era a primeira vez que eles estavam fazendo Cinema, apesar de todos já terem uma experiência muito grande no Teatro, principalmente a Sandra Corvelone, já tinha, sei lá, 30 anos de Teatro, era o primeiro filme dela e, em contrapartida, tinha também o Caíque, que era um moleque que tava na mesma situação em que eu estava no Central do Brasil. Tinha todos esses fatores que me faziam ver o filme de uma forma diferente, estava numa situação totalmente nada a ver com a do Central. Eu me via num momento, em relação ao Caíque, que era o mais novo, de abraçar o moleque, de trazer ele pra gente e dar todo o apoio que pudesse, porque eu já tinha passado por aquilo e também e entrosamento com aquela família, com aquelas pessoas que estavam fazendo Cinema pela primeira vez. E foi um processo também muito bacana, com a Fátima Toledo, de novo, também difícil, claro, sempre muito duro o trabalho com ela mas que é bom e sempre dá resultado e a gente conseguiu fazer uma família, de fato, muito próxima, tanto que até hoje a gente se fala, a gente é muito próximo. Recentemente, antes de morar com a minha namorada, eu tava morando com um dos atores do filme, o João Baldasserini, que faz o motoboy, a gente dividia apartamento, enfim, é super brother e a gente tá o tempo inteiro se falando. O Linha de Passe foi muito rico por conta disso. Primeiro pela família que a gente criou fora do filme e depois pelo trabalho, que eu acho que ninguém me criticou. Ah, depois do Central -continuando falando do Central- tem mais trabalhos, eu continuei fazendo alguma coisa mais de Teatro, alguma coisa mais de comédia, mais leve, mas que também nada demais e, como o Teatro não é muito minha praia, depois do monólogo que eu fiz, eu dei um tempo, não tava tão focado no Teatro e acabei me afastando, mesmo. E não me sentia muito bem no Teatro depois, eu não tive a necessidade de retornar aos palcos, sabe, de fazer peças. E, aí, essa coisa vem até hoje, eu não sou muito do Teatro, não sou muito de fazer. Sou mais de Cinema mesmo, eu prefiro, tanto que eu fiz mais outros longas, fiz O Assalto ao Banco Central, recentemente tava no Cinema; fiz A Hora e a Vez de Augusto Matraga, que ainda não estreou, direção do Vinícius Coimbra; fiz recentemente o Trinta, que é sobre a história do Joãozinho Trinta, o carnavalesco, que é a direção do Paulo Machline, que também ainda não estreou e fiz um outro chamado Se Deus Vier Que Venha Armado, que é do Luiz Dantas, que também não estriou mas tá pra estrear, continuo no Cinema e tô fazendo faculdade de Cinema.
P/1 – E, Vinícius, agora fala um pouquinho, você falou que vai ser pai, que mora com a tua namorada. Como que é a tua rotina, o que você gosta de fazer nas horas de lazer?
R – Rotina é faculdade, eu tô finalizando o semestre, minhas coisas pessoais, que eu tô muito nessa coisa de fazer minhas coisas, acho que tá na hora, eu já dirigi dois curtas metragens, um que tá na internet e um outro que eu tô finalizando e me juntar, fazer parceria com amigos pra poder desenvolver projetos. Tem as coisas das séries, que tão pedindo bastante. Eu tô desenvolvendo uma série com um amigo, já tem um roteiro pronto, que é muito bacana e também tô muito antenado a coisa da internet. A coisa dos programas de internet e com outros amigos eu tô pondo no ar um programa sobre futebol, que chama Fominhas, que é bem diferente do que a gente vê hoje em dia, diferente no sentido do papo, enquanto as pessoas são mais certinhas pra falar, a gente se senta numa mesa, começa a tomar cerveja e começa a falar de futebol como se estivesse num boteco e, aí, cozinha petisco e começa a, enfim, a falar de um monte de coisa sem muito compromisso com nada, é mais pro público ver e se identificar com a gente. A galera que gosta realmente de futebol vai pro boteco falar sobre. E fora isso, tem a coisa do lazer, com a minha namorada, de ir ao cinema, ir ao teatro e também o Futebol. Futebol é, realmente, uma coisa muito forte na minha vida e não deixo de jogar as minhas peladinhas durante a semana por nada, a não ser que seja um trabalho em que na hora da pedala eu esteja filmando mas, se não, eu vou jogar o meu futebol fim de semana com o time que eu tenho aqui em São Paulo e, claro, toda a responsabilidade focada no bebê, na criança. Ou seja, tudo de trabalho, tudo de dinheiro que eu ganho 90% tem guardar e a gente sabe que é muita despesa.
P/1 – E já sabe o nome do bebê?
R – Não, o nome ainda não sabemos, tá bem difícil. Mas, enfim, de repente a gente ou chega num acordo nas próximas semanas de nome ou então chega num outro acordo, que é o bebê vai nascer, tem as opções de nome, olhar pro rostinho dele e ver, esse vai chamar... Enfim, fulano de tal.
P/1 – E, Vinícius, como que você utiliza os Correios hoje? Você manda alguma coisa, recebe?
R – Correios é muito importante, eu uso principalmente o Sedex. Que, São documentos que às vezes precisa assinar, que não dá pra mandar por e-mail, não dá pra mandar pela internet e precisa chegar com uma certa urgência, aí vai e manda. Ou, então, alguma coisa que eu compro e chega na minha casa no Rio, meu tio vai e me manda ou ao contrário, eu preciso mandar alguma coisa pra alguém ou, sei lá, meu amigos vieram em São Paulo, na minha casa, esqueceram alguma coisa. Vou lá, ponho nos Correios e mando. Um carregador de celular, um carregador de computador, tem sempre essa coisa da urgência, que é muito eficaz, aquela coisa do Sedex 10, principalmente. E sempre quando você compra alguma coisa via internet, chega pelos Correios.
P/1 – E agora, Vinícius, se você talvez puder dar a sua opinião, ao que você acha que os serviços, não só cartas, mas também telegramas, pacotes, encomendas, marcam a vida das pessoas, falar um pouquinho dessa questão de aproximar as pessoas, comunicação...
R – É, eu acho que principalmente hoje em dia, essa coisa da tecnologia, da internet, eu acho que a gente perde um pouco da sensibilidade, porque, por exemplo, eu tenho que comunicar com uma pessoa do outro lado do mundo, no e-mail em dez minutos eu consigo fazer isso mas, dependendo do tipo de comunicação, se é uma coisa de expectativa, uma coisa mais amorosa, você não tem mais aquele momento, aquele friozinho na barriga de espera, o tempo da carta chegar, de você fica imaginando coisas, ficar pensando o que ela pode ter escrito. Então, sei lá, será que a carta chegou? Será que a carta não chegou? Eu acho que não tem mais aquela angústia de saber se a carta vai chegar ou não, ou de que forma a pessoa recepcionou. Hoje em dia, a coisa da internet, você vai lá, a pessoa leu, ok, é tudo muito frio e eu acho que a carta faz você parar, sentar, refletir no que você vai escrever e, aí, escreve com cuidado, você tenta fazer ainda uma letra bonita, você tenta escrever bonito, enfim, você tenta fazer umas coisas que de certa forma te fazem tocar na pessoa mesmo que exista uma distância. A coisa da carta, sei lá dependendo da relação de carinho que você tem com a pessoa, na coisa de namorados, tem muita gente que põe um beijo na carta e manda. Hoje em dia você não consegue fazer isso pelo computador, você manda aquela carinha e tudo bem mas não foi você, foi o computador que te mandou aquilo, não foi a sua boca, você não teve o cuidado de ir no espelho, passar um batom no caso das mulheres e dar um beijo e mandar, Eu acho que esse romantismo da carta ainda está presente com as pessoas que ainda continuam utilizando, mas quem não usa eu acho que se perdeu, a coisa da internet perdeu um pouco isso. Mas a importância e a necessidade disso eu acho que tá aí, nesse romantismo, nessa sensibilidade que a ainda se tem nessas correspondências.
P/1 – E o quê que você acha de um projeto de contar essa história dos 350 anos dos Correios através dessas histórias, de humanizar, de pegar essa experiência vivida das pessoas?
R – Eu acho a melhor ideia e a ideia mais bonita. Você contando através de cartas, você conta pela raiz, por onde tudo começou. Porque sempre foi assim, essa dificuldade de comunicação sempre existiu e é justamente o que eu falei, aquela coisa da expectativa. Você contando essas histórias através das cartas, eu acho que resgata essa coisa da raiz, essa coisa das primeiras histórias, de como você era, de como você cresceu. Eu acho que a coisa da essência é muito forte na gente, eu acho que isso tem que se manter, sempre. Eu acho que isso não pode deixar se perder, a coisa das cartas resgata esse momento.
P/1 – Bom, pra finalizar, Vinícius, eu sei que você tá acostumado a dar entrevista mas eu queria te perguntar como foi pra você voltar lá atrás, na tua história, contar a tua história?
R – Olha, foi bem curioso porque (risos) eu realmente não tava pronto pra contar bastante coisa e foi bacana poder lembrar dos momentos, relembrar as histórias, relembrar do meu amigo que eu falei aqui, o Leonardo, que infelizmente faleceu, foi um momento de bastante emoção. Enfim, agradeço demais essa oportunidade, esse momento de me levar de volta ao meu passado e poder mostrar ele aqui pra vocês.
P/1 – Ótimo. Então, em nome do projeto e do Museu da Pessoa, eu agradeço o depoimento.
R – Eu que agradeço, obrigado.
FIM DA ENTREVISTA
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