P/1 - Boa Tarde Senhor Gimenes, muito obrigado por ter aceito o nosso convite.
R – Boa tarde, é um prazer falar com vocês.
P/1 – Gostaria que o senhor começasse dizendo o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome completo é Manoel Gimenes Ruy, nasci em 28 de Julho de 1951 e fui registrado na cidade de Garça, no interior de São Paulo.
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Manoel Gimenes Alvarez e minha mãe, Maria Ruy Martim.
P/1 – Certo. Qual era a atividade do seu pai?
R – Meu pai era ferroviário e a minha mãe era do lar.
P/1 - O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci meus quatro avós, Fernando e minha avó por parte do meu pai tem uma característica no nome interessante, que ela se chamava Maria de la Adoración de la Santissima Trinidad, ela veio da Espanha. Todos os quatro vieram da Espanha, então conheci os quatro.
P/1 – Você se lembra do nome dos quatro?
R – Fernando, Maria, Gregório e Maria de la Adoración.
P/1 – E eles imigraram para o Brasil em que época mais ou menos, você tem idéia?
R – Ah, 1906, por volta de 1910.
P/1 – Certo.
R – Meu pai é nascido em 1917, minha mãe em 1916.
P/1 – Já nascidos aqui, os seus pais?
R – Nascidos no Brasil.
P/1 – Perfeito. O senhor tem irmãos?
R – Eu tenho cinco irmãos.
P/1 – E em que ponto da escala o senhor se coloca?
R – Eu sou o antepenúltimo, no meio.
P/1 – Perfeito. Foi criado em Garça o tempo todo?
R – Eu nasci, na verdade eu nasci num patrimônio próximo de Garça, que se chama Jafa, que é um distrito que fica entre Garça e Marília. Então é uma cidade tipicamente rural, Garça era na época o pólo cafeeiro do país, né? Então nasci, me criei e fiquei, até os 18 anos de idade eu fiquei nesse patrimônio que se chama Jafa, estudando em Garça e praticamente trabalhando na zona rural.
P/1 – Fazendo o...
Continuar leituraP/1 - Boa Tarde Senhor Gimenes, muito obrigado por ter aceito o nosso convite.
R – Boa tarde, é um prazer falar com vocês.
P/1 – Gostaria que o senhor começasse dizendo o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome completo é Manoel Gimenes Ruy, nasci em 28 de Julho de 1951 e fui registrado na cidade de Garça, no interior de São Paulo.
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Manoel Gimenes Alvarez e minha mãe, Maria Ruy Martim.
P/1 – Certo. Qual era a atividade do seu pai?
R – Meu pai era ferroviário e a minha mãe era do lar.
P/1 - O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci meus quatro avós, Fernando e minha avó por parte do meu pai tem uma característica no nome interessante, que ela se chamava Maria de la Adoración de la Santissima Trinidad, ela veio da Espanha. Todos os quatro vieram da Espanha, então conheci os quatro.
P/1 – Você se lembra do nome dos quatro?
R – Fernando, Maria, Gregório e Maria de la Adoración.
P/1 – E eles imigraram para o Brasil em que época mais ou menos, você tem idéia?
R – Ah, 1906, por volta de 1910.
P/1 – Certo.
R – Meu pai é nascido em 1917, minha mãe em 1916.
P/1 – Já nascidos aqui, os seus pais?
R – Nascidos no Brasil.
P/1 – Perfeito. O senhor tem irmãos?
R – Eu tenho cinco irmãos.
P/1 – E em que ponto da escala o senhor se coloca?
R – Eu sou o antepenúltimo, no meio.
P/1 – Perfeito. Foi criado em Garça o tempo todo?
R – Eu nasci, na verdade eu nasci num patrimônio próximo de Garça, que se chama Jafa, que é um distrito que fica entre Garça e Marília. Então é uma cidade tipicamente rural, Garça era na época o pólo cafeeiro do país, né? Então nasci, me criei e fiquei, até os 18 anos de idade eu fiquei nesse patrimônio que se chama Jafa, estudando em Garça e praticamente trabalhando na zona rural.
P/1 – Fazendo o quê exatamente?
R – Bem, zona rural o que a gente faz é tratar com plantas, né? A gente tratava de cafezal, basicamente plantava o café, colhia café, limpava café, tanto a parte das árvores quanto do próprio grão do café. Então a gente trabalhava em atividade rural basicamente e jogava bola nos finais de semana.
P/1 – E a sua primeira escola?
R – Minha primeira escola foi em Jafa, lembro da professora, lembro da diretora, professora Antônia era uma referência pra gente, né, do primário, que foi lá em Jafa mesmo. Já na quinta série, a gente tinha que viajar pra fazer em Garça, e eu em Garça estudei no ginásio industrial, à época era um tipo de ensino profissionalizante, então eu estudei em Garça no ginásio industrial.
P/1 – E fora esse trabalho que o senhor tinha no âmbito familiar, na lavoura e tudo mais, qual foi o seu primeiro emprego formal, o seu primeiro trabalho formal?
R – Meu primeiro trabalho formal, de carteira registrada, foi como bancário do Banco Português, em 1970. Eu tinha 19 anos, portanto.
P/1 – E o quê que lhe fez procurar um trabalho nessa área bancária?
R – Necessidade, eu tinha necessidade de um emprego, porque na verdade ser da lavoura não é demérito, mas a gente tinha uma família muito humilde, meu pai já era aposentado por invalidez e a gente foi para uma cidade maior que era Marília e eu precisava trabalhar até para me sustentar no estudo, que eu estava começando o curso Normal, né? Curso Normal é o curso profissionalizante para quem quer ser professor, então eu precisava de um trabalho. E modéstia à parte, eu gostava de jogar bola, a minha diversão de infância toda foi jogar bola, e num determinado dia tinha uma partida e eu fui e joguei e me virei e me transformei em bancário. Eu fui convidado para trabalhar no Banco Português, então eu virei bancário por conta da bola, né? Mas, aí eu tomei posse, trabalhei no Banco Português por um período, e depois no Banco Itaú e depois no Banco do Brasil.
P/1 – E como é que foi essa decisão de fazer um concurso pro Banco do Brasil?
R – Banco do Brasil sempre foi uma referência de emprego e na época mais...
(interrupção)
(continuação da entrevista)
P/1 – De onde veio essa sua decisão de fazer um concurso para o Banco do Brasil?
R – Bem, para o Banco do Brasil foi em função de que o Banco do Brasil era, - ele é - uma referência de emprego, uma empresa, na época, importante, né. E nós que éramos bancários tínhamos como sonho um dia ser bancário do Banco do Brasil, mesmo trabalhando no Banco Itaú, que é um senhor banco também, e à época eu já tinha até, apesar do pouco tempo de banco, um cargo relevante no Itaú. Eu consegui assim fazer o concurso e passar. Então, quer dizer, a motivação mesmo era a melhoria, o status, a garantia de emprego, a garantia de ter um fundo de previdência bom que é a Previ, a caixa de assistência que é a Cassi, então, na época, foram motivadores, era motivador pra todo mundo e foi o meu motivador também.
P/1 – E ao passar o senhor tomou posse onde?
R - Ao passar, eu fui designado para uma cidade próxima de Marília, que era Ibitinga. Na verdade, a minha classificação era uma classificação boa, e, chamado na ordem de classificação, fui designado para Ibitinga. Mas, antes de tomar posse em Ibitinga, que é uma cidade próxima de Bauru, eu fui remanejado, fui relocalizado na própria cidade de Marília, porque na época o pessoal da agência de Marília, do Banco do Brasil, precisava de pessoas já com conhecimento bancário, e eu já tinha uma experiência boa de bancário, né? Foi difícil a minha opção, quer dizer, por tomar posse. Não foi por fazer o concurso, até porque passar não foi difícil, mas por tomar posse no Banco do Brasil, porque o Banco Itaú queria me segurar de toda a forma, né? Na época, eu fui chamado à matriz do Itaú em São Paulo, fiz um teste para ser administrador, eu já era gerência média, já gerenciava equipe de suporte de atendimento, mais voltado a atividade mais ________, não à venda de produtos. E aí o Itaú mandou eu ir a São Paulo para eu fazer uma prova para dimensionar o meu potencial para gerente, gerente geral da agência, e até me ofereceram a gerência da agência de Joinville, em Santa Catarina, tudo para eu não ir para o Banco do Brasil, né? Mas conversando, e mediante orientação de pessoas mais experientes, o próprio gerente regional do Banco Itaú garantia que eu tinha que vir, apesar de que a oferta do Itaú era muito boa, né? Também um detalhe, é que eu entrei no Banco do Brasil - quando eu tomei posse, em novembro de 1974 - eu entrei com um salário que era pouco mais de 50% do que eu ganhava na época no Banco Itaú. Então, no Banco Itaú, eu ganhava praticamente o dobro do que eu entrei ganhando no Banco do Brasil, então paguei um período até recuperar, mas foi muito bom.
P/1 – E quais eram as suas funções, as suas responsabilidades primeiras assim no Banco do Brasil?
R – No Banco do Brasil? Bem na época a gente - ou agora quando entra no Banco do Brasil - entra em atividades mais administrativas, ou rotineiras, e você tem um processo de qualificação, de certificação, e você vai crescendo na carreira, né? Como eu tinha uma experiência de bancário boa por sinal, e na época a atividade bancária era uma atividade muito burocrática, nós não tínhamos o desenvolvimento tecnológico que temos hoje, quer dizer, eu fui colocado num setor onde cuidava da parte da folha de pagamento dos funcionários, cuidava da parte da compensação de cheques, fundamentalmente isso. E tinha também o subsetor da contabilidade, mas nada que fosse difícil. Em seguida, eu já passei a substituir. Em pouco tempo, passei já a substituir o responsável por um desses subsetores. Substituir significa exercer o cargo de chefia naquele espaço, né?
P/1 – Nós estamos falando de um momento com um forte repique inflacionário e, ao mesmo tempo, um processo bancário muito burocratizado e muito cheio de papel?
R – É, se a gente situar em 1974, a burocracia era imperante, não tinha praticamente automação. Aliás, no Banco Itaú a gente havia iniciado o processo de automação mandando documentação para Bauru, para central do Banco Itaú em Bauru, já num processo de automação do serviço de cobrança, desconto, duplicata, aquela coisa toda. O Banco Itaú já estava automatizando. Mas era um processo todo ele - como você falou - naquelas maquininhas antigas da Box.
P/1 – E o Banco do Brasil era todo manual nesse aspecto?
R – Era todo manual, todo manual.
P/1 – E como é que isso foi evoluindo, quer dizer, até onde eu sei existe um marco nesse processo de transformação, que foi a chegada das “Sharpinhas”. O quê que significou isso no procedimento interno ali do trabalho?
R – É, se a gente olhar assim, do lado de hoje, se fizer uma comparação hoje com aquela época, quer dizer, a evolução era muito pequena. O processo evolutivo, ele era muito lento, porque você mudar da Box para “Sharpinha” mudou pouco, né? Se você... por quê? Porque você continua para “Sharpinha”, né, mudou pouco, porque você continuou tratando papel internamente, a burocracia continuou, né? Você só tinha um ganho pequeno de automação, mas era mais em cima do processo manual, mas a papelada ainda tinha que ser tratada. Posteriormente, não. Quer dizer, aquilo que eu falei, que no Banco Itaú estava se iniciando um processo de centralização tanto que a gente mandava a documentação de Marília para ser processada de uma forma centralizada em Bauru, também começou no Banco do Brasil. E aí teve, em 1978, todo um processo, vou dizer assim, de evolução - não vou dizer tecnológica, mas em termos de processamento dos dados. O Banco do Brasil já tinha centros de processamento de dados no país, que eram os antigos Cepdas, que eram vinculados a um departamento no Rio de Janeiro, que era o Depda, já cuidando de estruturar um processo organizado em termos de processamento de dados. Não é processar o papel: é processar dados que estão nos papéis. Então eu diria que, em 1974, o sistema bancário brasileiro, ele tinha poucas condições de processamento, mas já tinha sido iniciado um processo de automação maior em termos de tratamento dos dados além do tratamento dos papéis.
P/1 – E no caso específico do Banco do Brasil, como é que foi se dando essa evolução a partir de 1978, quando se começa a ter esse processamento de dados mais centralizados, como é que isso foi impactar lá no trabalho mesmo do homem, da pessoa...?
R – Da agência?
P/1 – Exato.
R – É, em 1978, 1977, 1978, foram criados centros de processamento de serviços e comunicações. Quer dizer, já era uma entidade, já era um órgão especializado no tratamento de papéis, de dados e da comunicação - comunicação enquanto malote, enquanto trânsito, né, transporte, essa coisa toda. Então esses centros, foram 51 na época, com dez centros de processamento dos dados, quer dizer, computador, né. Então existia um fluxo de papéis das agências para 51 centros - o nosso lá da região era Bauru, né? Esses centros, ali, eles digitavam e geravam um ganho de escala em cima de cada agência fazendo. Ali, aqueles dados eram capturados dos papéis, os papéis eram microfilmados, eram guardados, destruídos, mas os dados dali já fluíam para o centro de processamento de dados. No centro de processamento de dados, com computadores já, nessa hora é que o Banco do Brasil teve um ganho, quer dizer, na hora que você deixou de tratar esses papéis em cada uma das agências - eles simplesmente eram remetidos, o serviço da agência era juntar. É lógico que tinha que fazer fichas, essas coisas para bater, fechar a contabilidade, mas não tinha que ficar copiando cheque por cheque lá na Box, então já eram mandados para esses centros. Eles foram criados em fins de 1977, foram instalados em 1978. Os primeiros já nasceram acoplados aos antigos Cepdas, Rio, Brasília, onde tinha o Cepdas, e os demais foram sendo instalados até completar os 51 em 1982. Então o processo que era totalmente descentralizado, cada uma das suas agências tratando dos papéis, passou a ter um processo de remessa dos papéis e a captura desses dados num ponto, e transmitidos já por telecomunicação - transmitidos para um centro onde eram processados e aí sim gerados dados consolidados que as agências mesmo, no dia seguinte, recebiam listagens, e podiam trabalhar com as listagens no papel. Isso de 1978 até 1982. Em 1977 - falando então um pouquinho da minha participação - eu era um bancário da agência de Marília, normal, trabalhando lá nos processos normais da agência daquela época, né? Em 1978, eu tive a oportunidade, porque eu sou formado em Letras, né, e sendo formado em Letras eu tinha e tenho uma boa capacidade de redação, de correção - eu era professor do curso colegial, que hoje é o Terceiro Grau, professor, a noite, trabalhava de dia e aula a noite - mas então eu tinha uma formação e uma prática boa em termos de português. E teve uma formação, uma captura de pessoas treinadas em língua portuguesa, pelo Banco do Brasil, para formar uma equipe de instrutores para melhorar a redação/comunicação, e eu fui pinçado no cadastro do banco como uma das pessoas que podia ser esse instrutor na época. E eu vim para Brasília, fiquei aqui duas semanas fazendo o curso de formação para instrutores, conheci algumas pessoas já daqui de Brasília e, posteriormente, em outubro, setembro, outubro agora de 1978, já estava se estruturando o departamento que ia fazer a coordenação desses centros, quer dizer, ia gerenciar essa estrutura desses centros. E como se tinha necessidade da geração de muitas normas, rotinas, procedimentos, o pessoal que foi instrutor para formar os instrutores foi acionado por essa gerência deste departamento para saber: “Desses colegas, que vieram aí pra fazer o curso de instrutor de comunicação, quem que vocês indicariam pra fazer um estágio aqui em Brasília com a gente?”. E eu fui um dos referidos, né? E vim fazer o estágio em outubro de 1978, e, no comecinho de 1979, eu vim em definitivo. Eu era casado e novo, só eu e minha esposa, a gente veio para Brasília, no comecinho de 1979 e estamos até agora. Mas foi assim que eu ingressei nessa área de processamento de dados, eu entrei mais pela parte administrativa, organizacional, procedimentos, que eu fui colocado, fui chamado e nomeado pelo banco.
P/1 – Isso gerou uma sedução, uma paixão no senhor? Gostou daquilo que viu?
R – Não, eu sou um apaixonado por tudo que eu faço, né, eu acho que eu jogava bola bem, eu acho que eu fui um bom bancário, acho que eu sou um bom assessor, sou um bom pai, um bom amigo, um bom irmão, meu comportamento, assim a minha formação, até pela humildade lá atrás, é uma formação mais de apaixonado e de lutador, vamos dizer assim...
P/1 – Nesse momento, desculpe, a gente vivia uma época de um surto inflacionário intenso e uma tecnologia bancária que precisava acompanhar essa velocidade, essa espiral, e como é que se dava isso no banco, esses desafios aí, praticamente cotidianos, que vocês eram obrigados a enfrentar?
R – Bom, o Banco do Brasil tinha uma diferença que era uma tal de Conta Movimento, que você já deve ter ouvido falar, e que só foi extinta lá em 1986. Então o Banco do Brasil era uma entidade, eu diria. Pública, mas uma entidade muito mais do governo em termos de resultado e, portanto, fazia parte da estrutura de governo e tinha alguns benefícios, vamos chamar assim, tinha alguns direitos, tinha as suas responsabilidades, suas funções sociais, né? Mas tinha alguns direitos, quer dizer, não era uma instituição que tinha que brigar no mercado, tinha que captar no mercado não. Precisa de dinheiro para emprestar, o governo colocava o dinheiro, colocava o recurso, né, isso lá até 1986. Então, em 1980, era muito mais uma questão de otimização da estrutura, uma questão de colocar em prática muitos do que os funcionários do Banco do Brasil entendiam que dava pra melhorar. Então era um processo de melhoria, e nem tanto assim por uma necessidade de estar ajustado ao mercado concorrencial não. Quer dizer, o Banco do Brasil sempre teve competentes técnicos, profissionais, instrutores, professores, a equipe do Banco do Brasil é muito bem profissional, vamos dizer assim, né? Então a garra, a vontade, a imposição, a criação, as idéias, vamos dizer assim, né, a inovação sempre esteve presente. Foi muito mais um processo de ajuste a uma estrutura, a uma necessidade de fazer melhor do que alguma coisa demandada pela concorrência em si. Mas na época a gente vivia, nem vou te dizer que seja um problema tanto da inflação, mas a gente vivia sob um regime de reserva de mercado, quem fala em tecnologia, né, reserva de mercado significa que - significou lá atrás - a importação de produtos de tecnologia estava cerceada pelo governo, pelo Estado...
P/1 – Lei de Informática, né?
R – Lei de Informática. Então, quer dizer, tinha uma dificuldade muito grande para você conseguir se atualizar em termos de colocar computação. Bom, telefonia, Telecom, por exemplo, quando é que a gente teve uma evolução no serviço de Telecom, então você não tinha o que você tem hoje rede, que você transmite dados, imagens. Você não tinha, telefone era uma raridade, um ou outro. Então aquilo que hoje você tem como recurso que facilita todo o processo tecnológico, lá atrás você não tinha. Então o telefone de hoje, uma linha de dados de hoje, você substituía por um carro, um caminhão, transportando malote, né? Com toda a sua deficiência. Então, voltando lá, se eu colocar 1980 como um marco, a questão não era nem tanto de inflação. A questão de inflação eu diria que ficou muito ruim próximo de 1984, 1986, né, os absurdos, índices absurdos. Mas eu diria que, internamente, no banco, a preocupação não era tanto com a inflação. Na área da automação, da organização, era muito mais de fazer negócio e de ter um processo mais humanizado, mais estruturado, organizado, e aproveitando o que se tinha à época, né? Na época, você não tinha computador em todas as agências, mas você conseguia com os computadores que você tinha você fazer esses centros, tá? Eu diria que até 1982. Em 1982, no Banco do Brasil já começou a discussão sobre serviços online. Quer dizer, ligar uma agência a um computador central online real time paralelamente a tudo que a gente fazia em termos de trânsito, em termos de fluxo de papel via malote. Eu mesmo participei, mesmo estando estruturando a criação de mais aquele centro, porque precisava, nós já estávamos com desenvolvimento de estudos com vistas a conectarmos as agências, principalmente as grandes agências dos grandes centros, conectarmos essas agências aos computadores do banco. Não é, ainda, o autoatendimento do cliente não, mas é a agência, tudo que ela fizesse, ela fizesse no atendimento e tudo mais, deixaria de transitar o papel, quer dizer, ela mesma já faria a transmissão para os centros de processamento de dados.
P/1 – Ainda visando exclusivamente o processo?
R – O processo, sempre na visão do processo, ainda não o autoatendimento, uma internet como você tem hoje já voltada pro cliente.
P/1 – E o quê que mudou nessa área exatamente no momento em que o banco foi obrigado a ir ao mercado, fim da conta movimento, 1986, quer dizer, e aí ele teve que voltar, teve que ser um banco múltiplo, né, múltiplo e de competição?
R – Como foi, né? Sua pergunta é como foi. Então, olha, o banco, como eu disse, sempre teve profissionais. O banco sempre teve, e tem hoje, excelentes técnicos, reconhecidos no mercado, com visão do futuro, com projeção de carreira. Então isso tudo motiva muito e eu posso dizer que tudo aquilo que aconteceu antes - desde de 1970, 1977, 1978, 1982 -, tudo isso facilitou, em 1986, esse processo de ajuste, o chamado processo de ajuste, né? É uma virada no banco, o quê que isso significou uma virada? Quer dizer, a partir de uma determinada data, não se podia mais sacar a conta do tesouro simplesmente, tem que captar. Bom, o custo de você captar é diferente de você simplesmente sacar, né? Então o processo em si impôs a necessidade de maior automação, de maior racionalização e de ganho de escala com maior seriedade no crédito. Quer dizer, impôs mudança, mudança forte, por quê? Porque sem inflação, sem ganho inflacionário, porque se tentou ali conter a inflação, deve ter sido... o Plano Cruzado ali foi uma tentativa. Então, quer dizer, tudo o que se tinha de antecedência em termos de organização e racionalização ali passou a ser uma necessidade. Antigamente, era um fruto, ali não, ali passou a ser uma necessidade, ali ou fazia, ou não se sustentava. Tanto que muitos falavam que “Não vai suportar, o Brasil vai quebrar, o Brasil sem a conta movimento acaba, o Banco do Brasil…” e, no entanto, fruto dessa força, da gestão do banco, desde o presidente, os diretores, as equipes técnicas aqui, todo mundo trabalhou muito para fazer todos os ajustes para, já em seguida, na data da reabertura dos bancos, os bancos ficaram dois, três dias fechados, quer dizer, para se preparar. Tudo foi feito e funcionou muito bem no sentido, eu diria, sempre da necessidade, agora por uma questão de concorrência e de sobrevivência.
P/1 – E como é que essa evolução se deu, Seu Gimenes, dali pra frente? Quer dizer, houve um novo repique inflacionário, e depois finalmente, depois de tanto sofrimento nessa área, tem-se a estabilidade da moeda, e aí o banco tá numa outra realidade totalmente diversa daquela de dez,12 anos passados, não é verdade?
R – É. Nós, na verdade, não tivemos ainda uma estabilidade, né, estabilidade mesmo a gente considera o marco de estabilidade lá em 1994, não é, com o Plano Real. Aí, eu diria para você que de 1986 até 1994 - um período razoável, são oito anos - em 1986 o banco já tinha agência conectada dentro daquele, uma série histórica aqui, o banco já tinha agência em 1986 conectada aos seus computadores, então o banco já tinha agência online, quer dizer já estava saindo daquele modelo operacional fluxo/papel para um modelo operacional de mais tecnologia, mais Telecom, mais processamento, vou chamar processamento direto, não é bem isso, mas sem uso do recurso físico, né? Então já tinha essa evolução, tá? Isso de alguma forma facilitou a ultrapassagem desse período, como você chamou, de turbulência, período de inflação galopante, inflação muito alta, né? E aí quando chegou em 1993, chegando a 1993, 1994, quer dizer, é um processo difícil, um processo pesado de não ainda, efetivamente, termos uma automação do jeito que temos hoje. Aí o quadro de pessoal do banco havia crescido muito, a demanda da clientela era muito grande, o volume era muito grande, então mesmo você já tendo agências online com o computador central, você ainda dependia, porque você tinha um volume muito grande. Vou dar um exemplo: você tinha um volume muito grande de cheques, você ainda dependia de um volume grande de cheques irem pra esses centros, esses centros capturarem e mandarem para o processamento dos dados. Então você ainda tinha uma burocracia, você ainda tinha um consumo de estrutura de recursos humanos muito grande ainda, mesmo já tendo agências online muita coisa ainda fluía, até porque não tinha Telecom, você não tinha rede, rede de dados, então ainda fluía muita coisa num custo muito alto, que é o custo do transporte. Quando chegou 1994, que aí teve o Plano Real, né? Teve em seguida, em 1995, que a mudança de gestão do banco que o banco havia dado prejuízo em 1994 exatamente por esse contexto que eu tentei passar aqui rapidamente, mas aí em 1995 veio uma gestão nova, veio uma administração nova, fez toda uma reestruturação, uma reformulação pesada a nível de estrutura e a nível de processos, né? O banco definiu uma forma, vamos dizer assim, clara de resultado, quer dizer, de obtenção de resultado - como deveria ser feito, analisou a sua rede de agências, fechou agências, fez um plano de demissão dos funcionários, famoso PDV [Programa de Demissão Voluntária], foram demitidos os funcionários, demitidos no sentido, eles puderam aderir, mas fica difícil você entender que pode aderir num ponto onde tem 100 funcionários onde vão ficar 50, aí realmente é um processo complicado de gestão e tudo mais. Isso gerou um trauma no funcionalismo, mas para a empresa em si eu diria que aquele ali foi o grande marco, aquele ali foi o grande processo. Foi quando, se lá em 1988 a gente tinha agências conectadas, em 1996 todas as agências estarão conectadas, foi decisão: todas as agências estarão linkadas a um computador central, não vai mais ter trânsito de papel entre dependências, né? Então isso fez, e foi nessa hora que o banco também, a sua gestão definiu pelo autoatendimento. Quer dizer, é preferível o cliente se auto atender do que enfrentar uma fila para ser atendido por um caixa. Então isso foi modulado, vou chamar assim, tudo em 1995, modulado em 1995, e implementado em 1996, 1997, 1998, que foi o que eu tenho chamado de a grande, realmente, mudança do banco para a competição e, é por isso que hoje o banco tem esse nível de condições, esse nível de concorrência com os grandes players do mercado, né?
P/1 – Quer dizer uma evolução construída ao longo de todo um processo que, inclusive vivenciou traumas, né, tipo PDV e tudo mais?
R – Tipo PDV.
P/1 – E qual é o estado da arte da tecnologia no banco hoje?
R – Bom o estado da arte da tecnologia do banco também, se eu falar hoje dá impressão que foi feito ontem, né, não é isso, também é um processo evolutivo. Eu disse que o banco tem profissionais, tinha e tem profissionais sempre dedicados, bem formados, reconhecidos, com lugar em qualquer instituição, onde quiser, tanto instituição financeira quanto instituição de tecnologia. Então é um processo, a partir do momento em que o banco conectou suas agências, a partir do momento em que os processos foram revistos, processos inclusive de processamento de dados, né, porque o volume é muito grande. Em 1996, o banco devia ter um milhão e meio, dois milhões de clientes, hoje tem 30 milhões de clientes, então, quer dizer, se tivesse gerando chequinho e papel não existiria forma estruturada de tratar isso, né? Então eu diria que 1996, 1997, 1998 uma das orientações era o autoatendimento. O cliente vai se auto atender. Naquela época não tinha internet, não tinha disponibilidade de internet, o auto atender significa nas maquininhas de autoatendimento, né? Então o autoatendimento já era uma forma de alavancar, vamos dizer assim, a capacidade instalada em termos das pessoas, se você tem condições de ir com menos pessoas, atender um público igual e partir para venda de negócio. Foi quando o banco optou por ser um banco de varejo, já que o país, com a população que tinha, com a economia que tem, é um banco para varejo, varejo e consumo, necessidade de desenvolvimento pressupõe esse tipo de atividade econômica. Então, quer dizer, o banco focou no autoatendimento e focou em uma atualização tecnológica de todo o seu parque tecnológico, todas as máquinas, né? Logo em seguida também, numa necessidade de atualização de investimentos, e até por uma tendência mundial, nós verificamos que o banco tinha dez CPDs [Centro de Processamento de Dados], quem tem dez CPDs distribuídos no país e com um nível já de Telecom que interliga, interligava e interliga automaticamente você não precisava de dez, então isso foi lá em 1994 que nós começamos a discutir. Em 1998, foi batido o martelo, quer dizer, nós definimos em 1994 e depois foi batido o martelo em 1997, 1998, que não teríamos atualização de dez centros, faríamos a atualização de três: São Paulo, Rio e Brasília, porque você tinha facilidade de Telecom e não tinha porque ficar processando para depois fazer outra centralização, outra concentração. Então isso foi feito, virou modelo, apesar de que tem banco hoje que não tem esse modelo, as agências processam por si e destinam, quer dizer, usa Telecom em um determinado momento do processo, não, no banco não, no banco é tudo automatizado. Quer dizer, então você tem condições de você, com o seu cartão, você vai numa máquina em qualquer ponto do país e você acessa o seu extrato. Nem todo o banco faz isso, né? Então lá atrás é que nasceu essa definição, lá em 1996, 1997 e 1998 e aí, o autoatendimento. Se o cliente pode se auto atender, eu não posso falar para ele que ele vai se auto atender só naquela agência, ele passou a ser um cliente do banco e não cliente daquela agência, né? Deu até discussões, tem gerente que até hoje “ah, mas o cliente é da minha agência!”. Inocente, porque quando você vai no aeroporto você sabe que não é cliente da agência do aeroporto, né? Então foi um processo, eu diria assim, evolutivo, mas que teve a grande definição de autoatendimento em 1998. Em 2003 o banco já tinha internet, em 2003 o banco já tinha uma senhora internet. Em 2003, também, o banco começou analisar, estudar, aliás a ter o primeiro contrato de móbile, de estruturação do autoatendimento por celular em 2003. Então 1998, 1999, 2000, 2002, 2003 são marcos, eu diria, dessa evolução do autoatendimento, é óbvio que quando você coloca disponibilidade de internet, uma coisa é disponibilidade de internet pra alguém brincar no Orkut, né? Aliás pode cometer crime no Orkut. Outra coisa é você liberar um acesso a um CPD [Centro de Processamento de Dados] em que você tem tudo guardado ali, a guarda ali de todos os dados dos seus clientes. Você tem ali transações, saldos, você tem ali dados, né? Dados importantíssimos, tudo isso tem que estar, inclusive, muito seguro, seguro em todos os sentidos, tá? Então essa estrutura centralizada dos CPDs, que eram três, hoje praticamente ficamos com um que é onde a gente, o banco - eu falo a gente porque eu me considero do banco - concentra esses dados é praticamente Brasília. São Paulo ainda tem alguma coisa de processamento, muito mais por conta de termos lá uma área do Call Center, e alguma coisa no Rio de Janeiro que funcionava como backup de São Paulo e a gente manteve até como uma questão... mais um volume mesmo. Cliente mesmo quando você estiver em Recife ou Porto Alegre, se você acessar sua conta os dados estão guardados em Brasília. Então essa concentração, essa centralização, permitiu um maior domínio de instalação, de infra estrutura tecnológica, você conhece mais, você tem mais condições de gerenciar. “Aumenta um pouco o risco”, você pode me dizer. Aumenta o risco, mas se você tiver convicção de que o risco está sob controle e você tem as suas alternativas para uma manutenção em termos de contingência, isso é relativo. Até porque você tendo dois centros e duas máquinas, você faz todo o balanceamento, todo o jogo de processo, vamos dizer assim, e você tem segurança. Então a mudança grande foi o autoatendimento e o cliente que se habituou a enxergar na máquina, ver lá no display da máquina ali a tela e ele ali digitar, chamar o saldo, ou um saque, ou um extrato. Quer dizer, ele já estava se preparando pra fazer isso na casa dele, porque a tela da máquina do autoatendimento é a tela do computador que tem na casa dele. Aliás a máquina de autoatendimento é um computador com um cofre, se você for sacar dinheiro, ou um cofre com folha de cheque, né? Então, quer dizer, na migração do autoatendimento para internet a questão era, e é, a segurança. Porque na máquina de autoatendimento, o banco garante a segurança, em termos da transição, até o computador central. Agora, na casa do cliente, ele tá muito mais vulnerável, como vocês sabem, a gente vê todo dia, em termos de segurança. Tudo bem, estando treinado na máquina do autoatendimento, fazendo as transações no seu computador em casa, certamente usar o celular também não tá muito longe. Então, quer dizer, é uma evolução, quer dizer, é um processo que eu diria natural, hoje nós devemos ter no país 100 milhões de aparelhos celulares...
P/1 – Um pouco mais, um pouco mais...
R – 130 milhões, então quer dizer, são potenciais agências bancárias, os terminais bancários na mão dessa clientela, dessa base de brasileiros, então naturalmente, o Banco do Brasil, como eu falei, com pessoal capacitado, gabaritado, tem essa visão, tem essa competência de enxergar essas coisas e de desenvolver.
P/1 – No resumo da ópera é que agora o foco virou para o cliente, né?
R – Sem dúvida, sem dúvida. Eu diria pra vocês que a grande mudança foi processo, processo, processo, papel, papel, papel, papel e agora não, o cliente tem lá. É óbvio que tem toda uma estrutura tecnológica de desenvolvimento de sistema, as aplicações, segurança, segurança de acesso, disponibilidade. Porque vocês sabem, né, que se o cliente entrar na página de internet e a página estiver fora do ar, acabou! Vai numa máquina para tirar dinheiro não tem dinheiro, já não sabe que às vezes a máquina tá cheia de dinheiro, o cofre tá abarrotado, tá lá com o dinheiro necessário, as cédulas, mas o problema é de comunicação com o computador central. Então, quer dizer, se você consegue ter um desempenho da infra-estrutura, um desempenho bom, fica ótimo pro cliente, ele não precisa se deslocar, ele faz um pagamento lá da casa dele, ou faz do próprio celular uma conta. A facilidade para o cliente e o ganho para o banco, porque o cliente numa fila do banco, é agência, é prédio, é máquina, é pessoa, então o custo operacional eu diria é da ordem de dez vezes, no caso do...
P/1 – Do tempo do cliente, né?
R – Do tempo do cliente e fila, e transporte, e confusão! Então é muito vantajoso para o cliente e é vantajoso para o banco esses canais, a gente chama de canais alternativos com o autoatendimento, né?
P/2 – Gimenes, agora a sua trajetória nisso tudo, você veio para Brasília, veio trabalhar no centro de processamento de dados, né? E como você acompanhou essa transformação do Banco do Brasil na parte tecnológica? Quais foram as áreas que você trabalhou, onde que você participou dessa mudança?
R – Na verdade, eu vim para o departamento que coordenava aqueles centros. Se eu coordenava os centros, e o processamento de dados estava dentro dos centros, certamente eu tinha contato, né, apesar de ser formado em Letras, eu tinha contato com os processos. Então, por curiosidade, eu formatei - em 1979 quando eu vim para cá - o curso de organização e métodos para os administradores desses centros, que eles começaram ali em 1978 e foram instalados até 1982. Quer dizer, eu fiz, eu estruturei o curso para eles porque eu conhecia o banco como bancário: eu conhecia instrução, rotina, então eu estruturei toda a organização para eles, escrevi as rotinas, os procedimentos, e aí fui designado para dar aula e eu era novo de banco, eu tinha entrado no 1974, estávamos em 1979, eu tinha cinco anos de banco. Para vocês terem uma idéia, eu fui impedido, pelas normas do banco de fazer o concurso, mas fui professor deles, dos alunos. Quer dizer, não pôde pelas regras do banco, sem reclamação, não é isso, só para vocês terem uma idéia de como foi a minha entrada nesse grupo, né? E dentro desse grupo tinha pessoas que foram chefiar tanto aquele subcentro de processamento dos papéis quanto chefes daquele centro onde processavam os dados no computador, capturados lá no papel e transmitidos para esses centros. Então eu comecei ali, já em 1979, a ter essa relação, vamos dizer assim, com essa área. Quando eu falei da reserva de mercado, era uma dificuldade muito grande pra você comprar equipamentos, computadores. Em 1979, estava vigorando a reserva e só podia fazer importação mediante a apresentação de um plano de desenvolvimento de informática. Plano de desenvolvimento de informática, a gente chamava de PDI, hoje é normal, né, PDI é... Então, na época, tinha que se fazer um porque o banco - isso era lá em 1980 - precisava ter um plano para apresentar na secretaria especial de informática para eles aprovarem para poder importar alguns computadores, para poder fazer a licitação, a concorrência para comprar os computadores. E no banco, quer dizer, aqui em Brasília, o diretor à época, da área, pediu dois nomes para fazer parte lá no gabinete dele para estruturar o PDI. Foi um gerente de divisão a época que depois foi diretor, foi meu chefe tudo lá da área específica lá de sistemas e eu fui pela área de organização e rotinas, então fomos nós dois que desenvolvemos, né? Esse documento inclusive eu passei, eu tinha uma cópia, de uma das primeiras versões que meu chefe despachou assim muito bom e mandou pra cima, né, eu tinha mostrado para ele a cópia e eu tinha essa cópia comigo até agora, recentemente, e eu passei para o pessoal que ta montando aí a documentação dos 200 anos, né? Então eu acho que era o único exemplar que existe, né, que existia, apesar de ser um rascunho, de não ser a obra acabada. Mas tem até um despacho formal de um administrador da época. Então voltando, nessa época eu já estava muito lado a lado com o pessoal específico de desenvolvimento de sistemas, do processamento dos dados. Era uma estrutura única, mas tinha uma parte mais técnica e uma parte mais administrativa, eu era mais dessa parte administrativa e o outro da parte mais técnica, né? Isso foi lá em 1982. Algumas vezes eu fui requisitado pelo diretor da época, da área, trabalhava no gabinete dele, às vezes substituindo assessores e tal. Quer dizer, então eu fui ganhando conhecimento, vamos dizer assim, e vivência nas discussões. Em 1986, no Plano Cruzado, eu passei os dias da preparação para a reabertura do banco no dia seguinte eu passei dentro da área de tecnologia do banco, lá em 1986, eu era da área de rotinas, da área de organização, mas estava lá dentro, porque o processamento de dados precisa de rotina, né, e as rotinas precisam do processamento de dados. Então tinha hora que a gente corria para lá ou eles corriam para cá, para a gente convergir as mudanças dos processos, isso em 1986. Em 1988, eu fui convidado para trabalhar na presidência do banco, eu fui ser assessor eu diria. Eu fui não, fui mandado, fui obrigado a ir, porque eu não queria ir. Meus chefes sabem que eu não queria ir, porque eu achava que era muita burocracia, e eu gostava da agitação do dia a dia, de resolver problemas. Então fui nomeado, designado, convocado, ordenado, se vocês quiserem, arrastado, e fui trabalhar na presidência do banco. Mas muito bom, depois gostei. Foi em 1988 e eu fui trabalhar na área administrativa, não a área, eu diria a área de controle de ponto não, porque na estrutura da presidência do banco tinha uma área administrativa para onde vinham os processos para o conselho diretor oriundos das vice presidências voltadas pros assuntos administrativos. Então a gente analisava proposta de reestruturação, proposta de aquisição de máquinas, proposta de atualização de recurso, tudo isso passava por uma adjunta da presidência e eu trabalhava nessa adjunta. Então, mais uma vez, processos de tecnologia, não só tecnologia. Foi em em 1988 para 1989 que o banco comprou o conjunto de antenas, antenas grandes, que o banco instalou nos seus CPDs para capturar toda a transmissão via satélite. Então esse processo, que deu questionamentos na justiça, eu é que conduzi trazendo os técnicos. Obviamente, a gente trabalhou muito nisso lá, então mesmo estando na presidência, vinculado a parte de Telecom, a parte de processos de aquisição, isso lá em 1988. Eu fiquei lá até 1991. Em 1991 eu vim para a chefia de gabinete da diretoria de tecnologia. Fiquei um ano e meio, um ano mais ou menos, nessa chefia e aí, com uma troca de administração, apesar de ter vindo uma pessoa que depois me promoveu e tudo mais, a pessoa trouxe a sua equipe e eu fui trabalhar na área de gestão do patrimônio do banco. Gestão do patrimônio do banco, isso foi realmente em 1991, porque o presidente da república era o Collor, teve umas crises por conta do patrimônio essas coisas. Como eu era muito dedicado, muito interessado, muito lutador, comigo as coisas têm que estar certas, eu fui colocado nessa área para trabalhar, para participar de um processo de melhoria da gestão do ativo imobilizado do banco. Isso foi em 1991. Fiquei lá até 1993. Em 1993, eu voltei já nomeado titular efetivo na chefia de gabinete da Ditec, Diretoria de Tecnologia, isso em 1993, 1994, 1995. Em 1995, com a posse dessa diretoria que eu disse que montou toda essa estrutura online, trocou cabeamento das agências, máquinas novas nas agências. Quer dizer, foi a grande mudança, o autoatendimento e tal. Eu trabalhei com aquela equipe, foi aqui neste prédio. Trabalhei com a equipe que estruturou todo aquele processo que eu falei de mudança para tecnologia, porque para uso intensivo da tecnologia, quer dizer, eu trabalhei naquela equipe e a gente teve ali também, outra vez, muita discussão. O banco tinha acabado de formatar um plano diretor de informática no final de 1994. Com a chegada dessa direção em 1995, esse plano foi discutido aqui neste prédio. Inclusive, foi rediscutido, revisto porque a gente não tinha feito essa visão do autoatendimento, não estava incorporada, ela chegou em seguida. Então, teve toda uma rediscussão, um processo, reestruturação. Participei também disso, até porque eu era chefe de gabinete do diretor, né, diretoria de tecnologia, obviamente participei das discussões todas, né? Então isso já foi em 1995. Em 1995, eu continuei esse processo na implementação do PDV, que foi um processo pesadíssimo, né, necessário. O próprio presidente Calliar, na época da saída dele, no final de 1994, começo de 1995, no discurso de despedida dele disse para nós que “remédios amargos deverão ser ministrados”. Então significa que... e o processo que foi feito na evolução posterior até do autoatendimento tem muito a ver com aquele período anterior, eu estava lá, eu não to falando... eu estava lá e estava na diretoria da área, né? Mas foi, assim, como lá no fim da conta movimento ficou aquela preocupação sobreviveremos ou não? Vamos batalhar para sobreviver e sobrevivemos, da mesma forma um resultado de prejuízo para o Banco do Brasil a repercussão foi horrível, péssima. Então tivemos ali, em 1995, 1996, essa visão de novo, não podemos dar prejuízo, o quê que podemos fazer? O quê que a gestão de pessoas pode fazer? O quê que a gestão tecnológica pode fazer? O quê que se pode fazer? Foi aí que nasceu o trabalho, dessa reestruturação toda.
P/1 – Que redundou para esse quadro atual?
R – Quadro todo atual que a gente tem. É a minha visão, assim, de participante, né?
P/1 – E o futuro, Seu Gimenes?
R – Falta só um intervalinho, né? O último período aí. Então eu fiquei encarregado, nessa reestruturação toda, acabaram gabinetes de diretorias, foram extintas agências, fechadas mesmo, foram extintos órgãos estruturais da direção geral e nasceu uma estrutura diferente, uma estrutura voltada para negócios e voltada para funções internas. Eu fui designado numa área de infra-estrutura, que era segurança, compensação, dimensionamento de recursos, inclusive computadores, aqueles computadores de grande porte. Quer dizer, a área lá de tecnologia dizia o que precisava e nós aqui dizíamos se comprávamos ou não comprávamos. Então, mais uma vez, eu fiquei muito vinculado a essa área de tecnologia. Fiquei nesse processo até 2003. Tivemos mudança de direção e tudo mais, em 2003, eu continuei na área de infra-estrutura. Só que, no final de 2003, eu fui designado para ser o diretor de tecnologia. Aí fiquei de dezembro de 2003 até abril de 2006 como diretor respondendo a um vice presidente de tecnologia e infra-estrutura que tinha mudado o nome para logística, né? Então continuava aquele desenho lá atrás, uma área mais técnica e uma área mais administrativa, só que agora a nível de diretor, dois diretores. O banco cresceu tudo mais, nível de diretores e um vice- presidente. Então de abril de 2006 até o dia em que eu me aposentei eu fiquei como interino respondendo pela vice-presidência de tecnologia e logística. Então essa é a minha trajetória, esse foi o meu currículo, foi a minha formação no meu currículo.
P/1 – Agora eu volto à pergunta: e o futuro, como é que o senhor enxerga o futuro desse banco?
R – Bem, eu sou suspeito em falar do futuro do banco porque eu sou aposentado e estou assessorando o presidente do banco, então vou dar aqui uma opinião, não to falando como administrador do banco, né? O banco tem toda uma base instalada, o banco tem um infra-estrutura tecnológica formidável, tem técnicos competentes, mantém um quadro criativo desafiado, porque o banco tem que concorrer com o mercado, não pode dormir, não pode achar que está tudo bom, tudo ótimo, estamos dando lucro, temos uma base de clientes muito boa, então nós vamos dormir todo mundo, não, não é. Concorrência pressupõe atenção, pressupõe passo firme, pressupõe avanço, avanço bem medido, riscos controlados, investimentos justos, necessários, né? Uma boa gestão da máquina, máquina que eu to falando aqui, toda a infra estrutura do banco, uma boa gestão das pessoas, uma boa gestão da tecnologia, uma boa gestão dos recursos e eu digo pra vocês o banco está muito bem estruturado, o banco preenche todos esses requisitos, né? Inflação sob domínio, crédito demandado, quer dizer, alta demanda de crédito, apesar da turbulência no mundo, o banco está bem estruturado, compatível com a economia brasileira. Não dá pra achar que o banco está descolado de uma economia, tá dentro da economia brasileira sim, como os outros bancos, lucros, né? Acionistas recebendo os seus dividendos, funcionário recebendo participação nos lucros, clientela com bom atendimento eu diria, um bom nível de autoatendimento, que isso aí, queira ou não, a gente tem que reconhecer que é fruto da tecnologia, é propiciado pela tecnologia que hoje é fruto de toda uma evolução, né? Coincidentemente, hoje o banco publicou o fato relevante, a convocação das Assembléias da incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina, o banco nunca incorporou um banco, né? E lá atrás, voltando aqui na minha vida de bancário, eu era do Banco Português e o Banco Português foi comprado e incorporado pelo Banco Itaú. Eu saí do Banco Português para o Itaú numa incorporação, quer dizer, eu rasguei o último papel da agência do Banco Português em Marília, junto com o inspetor do Banco Central. Então, hoje como assessor do presidente ele me designou para acompanhar para ele, assessorá-lo nos processos de incorporação. Atualmente, esse é o meu cargo, essa é a minha função e hoje o banco publica o edital da convocação da Assembléia com vistas a incorporação do Besc. Quer dizer, isso significa evolução. O banco nunca teve isso, o banco agora está fazendo, enquanto os outros bancos compraram, compraram, compraram, cresceram por aquisições, o Banco do Brasil não pôde e não fez nenhuma, né. Agora está podendo fazer uma dentro da lei, da legalidade, sem problema nenhum. Então eu diria que o banco não só tem todas as condições de, mas acompanha e realiza ações no sentido de estar preparado para muito mais tempo, mais 200.
P/1 – É isso que eu queria terminar perguntando ao senhor, o que significa tendo uma vida como a sua tão intensa junto ao banco e ligado a uma instituição de 200 anos?
R – Ah, significa muito, né, significa bastante. Se a gente voltar lá atrás, que eu sou de uma família humilde, né, trabalhei na lavoura, gostava de jogar bola, mas virei bancário, como eu disse, eu era um bom professor, me dedicava muito, ajudava muito os alunos até pela experiência passada, né? Eu dava aula à noite, que pressupõe quem normalmente trabalhava durante o dia. Então o fato de estar no Banco do Brasil e de ter conseguido galgar esses postos, esses reconhecimentos todos, porque cargo, como eu disse, eu mesmo estava num lugar, de repente fui mandado pra outro e sem demérito, fiz o meu trabalho e fui reconhecido e voltei com promoção. Então, quer dizer, é muito gratificante para mim. Pessoalmente, é muito gratificante. Eu sempre procurei com os colegas do banco, as pessoas que trabalharam comigo, sabem do meu estilo, da minha forma de ser, né, muita seriedade, muita lealdade, honestidade, dedicação, então, quer dizer, é muito gratificante ver o banco, né? A gente que viu, lá em 1986, né, uma barreira, vamos transpor, foi transposta, em 1994 para 1995 uma outra dificuldade, vai transpor? Vamos transpor? Foi transposta, quer dizer, então a gente valoriza muito isso, né? Porque se a gente tivesse tudo de graça, tudo muito fácil não tem tanto valor. Então eu valorizo muito por isso. Agora, pessoalmente assim, pessoalmente, eu sou muito feliz, mas eu sempre procurei dosar, sempre procurei dedicar ao banco e à minha família. Sempre trabalhei isso muito forte, as pessoas mais próximas de mim sabem disso, sabem do carinho, da atenção que eu dou para as minhas filhas, para a minha esposa, para Marília onde está a minha mãe, que tem 92 anos de idade, né? Então eu vou pra lá ver a mãe, ver os irmãos, né? Então eu acho que esse dedicar ao banco, né, ficar domingo o dia todo no banco, a noite de domingo para segunda, correr em casa na segunda-feira às 11 da manhã, tomar um banho, botar a gravata, o terno porque as duas da tarde tinha que ter uma apresentação pro conselho diretor do banco, uma demanda, quer dizer, que a gente ficou assim não foi por incompetência não, foi por necessidade de entregar um trabalho bem feito, da mesma forma que eu faço isso, eu também me dedico a minha família, pego as minhas filhas e vamos para não sei aonde, e vamos. Eu tenho duas filhas gêmeas Paula e Taís de 26 anos, 27 anos de idade, né, praticamente, quer dizer, como eu disse eu vim para cá, eu e minha esposa viemos pra cá para ficar três anos, foi promessa para a sogra, e eu to aqui até hoje, tem 30...
P/1 – Qual é o nome da sua esposa?
R – Sônia. Então quer dizer, quem conhece a gente e quem me conhece sabe da minha dedicação à família, família. O meu lazer continua sendo futebol, como eu não posso jogar, que eu machuquei a coluna tal, eu assisto. Aliás qualquer esporte, se me falar que vai ter corrida de formiga contra mosquito hoje a tarde e vai passar na TV é capaz de eu correr e assistir. Hoje a tarde não, porque eu tô trabalhando, mas sábado, domingo, feriado, normalmente eu vejo.
P/1 – Seu Gimenes o quê que significou para o senhor dar esse depoimento? O quê que pareceu essa conversa que nós tivemos aqui?
R – Olha, esse depoimento aqui ele é continuidade de alguns que eu faço, que eu vinha fazendo no banco, né? Eu me lembro aqui eu fiz um depoimento mais ou menos desse tipo, há uns seis, cinco anos. O banco tem os estagiários, tem o menor aprendiz, uma turma nova, mesmo não sendo concursados estão aqui dentro da casa da gente, né, então dentro da casa da gente, a gente tem que orientar, induzir, respeitar, obviamente, isso ta fora, né, mas a gente tem que ser uma referência, tem que ser um exemplo, então graças a Deus eu sempre tive exemplos bons, né, a seguir, né, alguns não bons para não seguir. Então quer dizer eu vou lembrar aqui nesse dia, em alguns dias, em outras oportunidades, mas eu fiz uma conversa desse tipo, mais um histórico, mais a origem e tal com o pessoal em Goiânia, na época era na unidade nossa de infraestrutura de Goiânia e aí estavam reunidos normalmente, não o pessoal queria conhecer o diretor, o diretor é de carne e osso! Sou gente também, né, então vamos lá, vamos lá conversar com eles! Aí entrei na sala, fiquei quase duas horas conversando com eles e abriu diálogo, os meninos perguntando: “E como é que foi assim? E isso?”. Interessados e tal, até de tio me chamaram no final lá. Então acho que esse tipo de depoimento, esse tipo de conversa, de passagem, tem muitas motivações, uma delas é gratificante para mim dizer que muito do que eu queria eu consegui, aliás, tudo que eu queria eu consegui, né? E continuo conseguindo, né? E dizer isso para as pessoas, deixar isso gravado para outras pessoas poderem ouvir, serve também de estímulo pras pessoas: “Ah não vou ficar aqui na minha tal”, não gente! Tem que batalhar, tem que ser criativo, tem que correr atrás, honestamente, sempre disse isso, quer dizer, as coisas acontecem, fruto daquilo que você faz, se você não faz, dificilmente acontece. Mas esse apego a fazer as coisas com correção, com lealdade, com honestidade, não esquecendo de família, dos amigos, né, eu acho que isso é gratificante. A gente poder falar, dificilmente eu estaria tão espontâneo aqui se eu não tivesse coisas boas pra contar, ficaria muito difícil, e eu diria para vocês que eu tenho coisas boas, eu não tenho maldade, eu não tenho, não carrego comigo nenhuma maldade, então é fácil, é muito tranquilo expor. Eu agora quando me aposentei eu recebi muitas mensagens, e uma delas de um colega do banco lá da tecnologia escreveu pra mim “Não pare, comece a falar, comece a dar aulas, passe a sua experiência, vai ajudar muita gente”. Quer dizer, ele fez quase que um poema para mim, me induzindo a fazer esse tipo de conversa com as pessoas, né? Então é gratificante.
P/1 – De fato as informações que o senhor nos deu foram muito ricas, um processo muito detalhado de uma evolução que nos interessava muito conhecer, pelas quais a gente te agradece muito, porque foi muito rico esse seu depoimento para nós.
R – Eu continuo à disposição, como sempre no banco, né? Aqui ou em qualquer lugar que vocês entenderem que... o meu nome surgir e vocês entenderem que eu posso agregar alguma coisa eu estarei a disposição, sempre.
P/1 – Nós agradecemos muito.
R – E deixar um depoimento desse para os colegas do banco, né, para as pessoas que continuam no banco, para os que estão chegando, que sirva de estímulo.
P/1 – Sobretudo para as novas gerações.
R – Para as novas gerações, para quem está chegando no banco, acho que vale a referência. Vale realmente você ir sem orgulho bobo, sem orgulho falso, não é isso. Eu sou assim, quem me conhece sabe que eu sou assim, mas muito mais como estímulo para que façam as coisas certas, com correção, sejam leais, sejam honestos com os colegas, com os superiores, com os subordinados, assim como tem que ser leal e honesto com a família, com filho, com pai, com a irmã, que é isso que conta muito para que você tenha um resultado bom de vida, um resultado de vida, não é um resultado como bancário, é um resultado de vida, vida tranquila, muito boa.
P/1 – Dormir bem com o seu travesseiro, né?
R – Sempre dormi, fora a brincadeira, sempre dormi bem.
P/1 – Muito obrigado Seu Gimenes, foi um grande prazer ouvi-lo e foi uma lição o seu depoimento para nós.
R – Disponham sempre.
P/1 – Muito Obrigado.
P/2 – Obrigada.
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