Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Victor Ahmar
Entrevistado por Jonas Worcman e Lila Schnaider
São Paulo, 12/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB054_Victor Ahmar
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Bem-vindo.
R – Muito obrigado.
P/1 – Você pode me dizer, por favor, seu nome, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Victor Ahmar, nasci em Uberaba, Minas Gerais, Triângulo Mineiro, 29 de janeiro de 1996.
P/1 – E qual foi a coisa que você sabe, assim, sobre a história do seu nascimento?
R – Eu sei sobre a história do meu nascimento? Eu sei que eu não ia ser Victor, eu sei que de última hora mudaram o meu nome, eu ia me chamar Guilherme, mudaram pra Victor de última hora. meu pai conversou com a minha mãe, eles mudaram, de última hora e sei também que era à noite e que eu chorava e incomodava o hospital inteiro, eu gritava como se não houvesse amanhã, assim. E muito vermelho, muito vermelho também, eu nasci.
P/1 – Por quê que eles mudaram o seu nome?
R – Meu pai, ele sempre gostou de História, meu pai é formado em História e Victor é o nome de um dos reis que ele gostava muito e ele colocou como nome composto Victor Alexandre, porque o meu avô chama Alexandre e aí, como homenagem ao meu avô também. Conversou com a minha mãe, ela topou e eles mudaram de última hora, mas era para ser Guilherme.
P/1 – E você cresceu nessa cidade mesmo?
R – Cresci, cresci… eu venho muito pra São Paulo, meio que eu sou um nômade, assim, eu fico em Uberaba um pouco, São Paulo um pouco, até hoje assim. Eu divido o meu tempo entre lá e aqui. Aqui muito mais por causa do trabalho, mas fico muitos dias do mês lá também.
P/1 – Você disse que o seu nascimento foi um momento que você chorou muito. E qual foi o momento que você lembra, o primeiro, que você riu muito mesmo?
R – Eu sempre dei muita risada com a minha vó, minha vó é muito engraçada, minha vó me passava muito susto, era aquele susto que você assustava e depois, dava muita risada, sabe? É aquela coisa bem de interior mesmo, minha vó, ela vestia de fantasma, colocava de toalha assim, e depois eu assustava, ela tirava a toalha, eu via que era a minha vó, eu dava risada e minha primeira referência de dar risada sempre foi com a minha vó, minha vó sempre teve esse negócio de ficar me pregando peça, me zoando muito e até hoje assim, eu tenho essa relação com ela, da gente ficar brincando muito com o outro. Acho que a minha primeira referência de risada mesmo foi com a minha vó.
P/1 – Conta mais um pouco sobre isso, teve alguma, além dessa de se vestir, algum outro episódio que sua avó fez que você deu bastante risada?
R – Cara, teve um episódio que foi o seguinte, eu tinha um pacto com a minha vó, eu morei numa cidadezinha que chamava Araguari que era no interior de Minas, ali, perto de Uberaba e talvez o momento que eu mais dei risada com a minha vó foi esse dia, porque eu tinha um pacto com ela que eu tinha que entrar em casa até às dez horas da noite e nesse dia, eu tava brincando de bolinha de gude na porta de casa, quando eu entrei em casa, eu abri o portão, eu olhei para o relógio eram 11 horas da noite, aí eu rezei para todos os santos que eu lembrava assim, na hora e na hora que eu olhei, minha vó tinha ultrapassado todos os limites assim das peças que ela tinha pregado, que ela tinha colocado uma vela acesa assim, perto da maçaneta da porta, tinha uma vela e ela tava parada com um avental aberto, tinha pó de arroz nela inteira, ela ficava assim: “Uuuuuuuu” eu olhava aquilo, eu ficava: “Por que minha vó tá fazendo isso comigo?”, eu não sabia se eu chorava ou se eu ria, se eu ficava desesperado e foi acho que o dia que minha vó mais encarou o personagem dela de fantasma, mesmo (risos), nesse dia.
P/1 – E esse era o único personagem da sua vó ou ela fazia outros personagens?
R – Não, ela dava um nome que é um nome que não tem nada… ela chamava de Miliquita esse, é um nome que… ninguém pensa que Miliquita é uma assombração, você pensa que é uma formiga, você pensa uma… (risos) você pensa qualquer coisa, menos uma assombração. Minha avó chamava esse fantasma de Miliquita, nunca vou entender porque. Mas era só esse que ela fazia, sempre me assustava, fingia de assombração para mim, sempre, sempre. Dei muita risada com ela.
P/1 – E você fazia isso com as outras pessoas também?
R – Não, não. Eu sempre fui um menino muito tímido. Eu sempre fui um menino muito na minha, assim, eu nunca fui assustar muito as outras pessoas, de ficar zoando as outras pessoas, a comédia surgiu muito por acaso, pra mim, inclusive, na minha vida, eu sempre fui um cara muito tímido, eu fui filho único por muito tempo, não tinha muita criança para brincar lá em casa, então eu brincava muito sozinho, mesmo, a brincadeira era muito sozinha assim, então…
P/1 – Quais eram as brincadeiras?
R – Putz, eu sentava, tinha um baldão de brinquedo, eu tava o balde de brinquedos assim no canto da parede e eu ficava brincando, pegava os bonequinhos e começava a imaginar coisa, imaginar história e aí, eu pegava um boneco, olhava pro outro, imaginava que tava já numa arena lutando um com o outro, aí eu ligava a televisão, imaginava que eu tava no desenho, que eu era um dos caras que tava no desenho, eu sempre tive uma imaginação muito fértil, assim, minha imaginação sempre foi muito aberta assim, pra muita coisa e desde pequeno, assim, desde que eu tinha assim, sei lá, uns nove, dez anos, eu já gostava de escrever coisa, gostava, sempre gostei muito de escrever, então acho que a minha imaginação foi aflorada…
P/1 – Quem que te passou esse gosto de escrever, assim?
R – Eu acho que um pouco de tudo meu, porque o meu pai trabalha com palestra e o meu tio… também tenho um tio que trabalha com palestras, então, eles gostam muito de estudar coisas, de falar com as pessoas, de criar discurso para falar com as pessoas e eu sempre tive essa referência desde quando era pequeno, assim deles, então acho que foi… juntou isso, com o ato de eu sempre ter sido filho único, morar sozinho, eu acho que juntou as duas coisas e foi aflorando a minha criatividade, minha imaginação.
P/1 – Que tipo de coisa assim, você escrevia?
R – Eu cheguei a escrever, quando eu tinha uns 14 anos, comecei a escrever uma história que chamava CBOB que era o Clube de Besteiras Oficiais do Beco, que eu morava num beco, aí eu criei uma historinha que tinha um clube de amigos que ficava brincando no beco, lá que eu morava e eu comecei a escrever uma historinha disso e aí, inventava um monte de histórias que eles estavam indo salvar o mundo, que eles iam pegar um avião e ir para outro planeta de avião, umas histórias muito doidas assim que eu escrevia e foi a primeira coisa que eu escrevi era isso, as primeiras coisas que eu escrevi eram historiazinhas… sempre imaginava sendo alguma coisa tipo igual eu via nos desenhos, assim, sabe? Eu escrevia essas coisas, assim.
P/2 – Mas tinha também fatos reais ou era ficção mesmo? Você inventava.
R – Tinha alguns detalhes que eram reais, tipo, por exemplo, o fato de ser um beco, eu morava realmente numa rua que era um beco e eu imaginava por exemplo, os amigos da rua, assim, mas colocava outro nome neles assim, e fazia com outros nomes, assim. Mas a história era uma viagem total assim (risos), a história era lutar com o Capitão Garrafa, uns negócios que não existem, assim, sabe? Mas as referências das coisas eram do meu meio onde eu morava ali, do meio onde eu vivia.
P/2 – E esses amigos do beco, na vida real, na real assim, o que vocês costumavam fazer de brincadeira?
R – É muito bom você morar na cidade do interior e ainda num beco, assim, é tipo igual você ter um playground para você montar na rua da sua casa, assim, sabe? Então, eu jogava muita bola, pra não aparecer por causa do meu filho, que eu jogava muita bola com eles e a gente brincava muito, a gente começava a viajar também, de querer ficar inventando história: “Nossa, aquele vizinho ali deve estar bolando algum plano muito maligno”, aí a gente começava a olhar a janela do vizinho assim, pra olhar se tinha alguma coisa, começava a espionar os vizinhos, até os vizinhos xingar a gente, enchia o saco dos vizinhos, até eles xingar a gente e a gente… na frente da minha casa tinha um terreno baldio, abandonado e toda vez que a gente chutava bola lá, todo mundo ficava com medo de pular lá achando que tinha alguma coisa, que tinha alguma coisa mau assombrada e a gente criava… o beco não tinha nada, então tudo a gente criava, a gente brincava coisa de criança, mesmo assim, a gente imaginava um monte de coisa pra ter o que brincar lá, né, para ter o que imaginar lá.
P/1 – Tinham muitos animais nesse beco?
R – Não, pior que não, cara. Lá tinha mais… era bem vazio, assim, era uma rua muito escondidinha, então, eram mais os moradores que tinham ali mesmo e aí, ficavam só as crianças brincando na rua mesmo, assim.
P/1 – Nessas brincadeiras, teve alguma história assim, marcante pra você?
R – Cara, eu vou ser sincero que eu acho que não, assim, teve muitas coisas que eu lembro de brincar assim, mas uma coisa marcante, marcante, assim, não. Era uma coisa mais de rotina pra mim, de ficar brincando, assim, todo dia lá, não teve nenhuma história, sabe, de destaque, assim.
P/1 – Quantas histórias que você escrevia? Você escrevia e ficava pra você ou você mostrava para os amigos, para a família, como é que era?
R – Então, as histórias que eu escrevia, que eu gostava de escrever, eu chegava a mostrar de vez em quando para a minha mãe, para a minha vó, mostrava algumas coisas, elas gostavam, falavam pra eu escrever mais coisas, assim. Eu quando tinha por volta de uns 13 anos de idade, mais ou menos, assim, conversando com a minha psicóloga, trocando uma ideia, eu sempre mostrava também pra ela o que eu escrevia, eu sempre trocava bastante ideia, ela começou a sugerir, ela via que tinha um tom bem humorado nas coisas que eu contava. E ela sugeriu de eu assistir algumas coisas de comédia, ela até me passou uma lista de algumas coisas para assistir. E foi por eu mostrar essas histórias que eu escrevia que foi o meu primeiro contato com comédia, mesmo, que eu comecei a pesquisar mais sobre comédia, comecei a entender mais sobre comédia e gostar mais. Então, ela me indicou as coisas, comecei a assistir, comecei a gostar e aí, eu fui levando mais essas coisas que eu criava para o lado da comédia depois disso, assim, sabe?
P/1 – E que coisas que ela te indicou?
R – Ela me indicou alguns filmes, ela me indicou filmes mais clássicos, tipo, Jerry Lewis, Os Três Patetas, essas coisas assim, mas também me indicou coisas mais contemporâneas. na época que ela me indicou, por exemplo, o Espetáculo do Improvável, de improviso, da Companhia Barbichas que na época estavam começando a lançar os vídeos deles no YouTube, começando assim, de amis sucesso no YouTube e eu assisti aquilo e comecei a gostar e daí, eu fui assistir coisas de stand up comedy, comecei assistir alguns stand ups americanos e aí, comecei a assistir também a galera que começou a surgir no Brasil, inclusive o Diogo Portugal quando foi no Jô Soares, o Fabio Rabin, Fabio Porchat, quando o pessoal começou a surgir, começaram os vídeos de stand up no YouTube junto com o negócio do Improvável, eu comecei a ver isso muito assim, gostava muito de assistir, porque eu achava muito legal, achava muito novo…
P/1 – Dessas coisas, qual foi a que mais te fez rir, assim?
R – Ah cara, assim, eu gostava do improvável, mas eu me apaixonei muito pelo stand up quando eu assisti pela primeira vez, porque eu vi um cara fazendo piada sobre noticia, sabe? Piada sobre coisa que ele tinha acabado de ver, tinha acabado de acontecer, ele pensou uma coisa engraçada e normalmente, eu só via gente fazendo piada de papagaio, de português, de loira, e quando eu vi um cara fazendo piada sobre ele, sobre a noiva dele, sobre noticia que ele viu no jornal, falei: “Cara, isso é muito louco! É muito legal ver um cara…”, é muito sincero, sabe, por isso que eu gostei, eu acho, eu achava muito sincero o jeito como eles faziam as pessoas rirem com coisas que acontecem, de verdade, com a gente, não sobre português, sobre o papagaio, mas sobre coisa que a gente vê, sabe, isso que me deixou meio apaixonado por comédia, assim, eu acho que foi isso.
P/1 – E você passou a usar isso na sua comédia?
R – Comecei. Comecei a usar isso. Comecei a escrever coisas sobre a comédia, comecei a pesquisar mais e comecei a escrever minhas primeiras piadas, assim, foi aí. E comecei a estudar muito, eu me apaixonei muito por comédia nessa época. E eu comecei a estudar, estudar e estudar, tanto que eu fui uma dos caras que comecei mais novo no meio. Comecei a fazer stand up eu tinha 16 anos.
P/1 – Dezesseis anos?
R – É.
P/1 – E o quê que a sua família achava assim?
R – Cara, a minha família é incrível, a minha família sempre me apoiou demais, nunca tive aquele negócio de: ‘Ah, você vai estudar para fazer Medicina e você não pode fazer isso, porque isso não dá dinheiro”, não, minha família sempre foi tipo: “Vai, só vai, brilha, vai lá”. E eles gostavam muito, desde o começo, sempre me apoiaram muito, tanto que quando eu comecei a estudar muito comédia pela internet, eu vi um curso de comédia stand up aqui em São Paulo, só que eu não tinha como vim, primeiro que eu não tinha dinheiro, nenhum adolescente tem dinheiro, a gente só gasta dos outros e eu não tinha como vim para São Paulo sozinho com 16 anos para fazer um curso do nada. Então, eu tinha que contar com a ajuda da minha família, eu fiz um e-mail e mandei o e-mail para todos os parentes meus: meu tio, minha mãe, meu pai: “Olha, eu quero fazer isso aqui, se todo mundo fizer uma vaquinha, a gente consegue, vamos cada um dar 40 conto aí que a gente junta e aí, eu vou fazer o curso”, aí eu mandei esse e-mail, todo mundo me ajudou e eu vim com minha vó aqui pra São Paulo, vim com minha vó, fiz esse curso de um final de semana e aí, entrei para esse mundo sem volta do stand up aí.
P/1 – Qual foi o seu primeiro stand up?
R – Cara, eu dei muita sorte, o meu primeiro stand up foi no Comedians, que é um dos lugares, se não for o principal, um dos principais lugares de comédia do Brasil. Eu dei muita sorte, nesse curso que eu fiz, no final do curso, você tinha que fazer cinco minutos do que você criou, que te ensinaram a fazer piada, você tinha que criar o seu próprio material e você tinha que apresentar para os alunos esses cinco minutos. Só que aí, alguns comediantes já profissionais foram assistir os alunos no dia e aí, nesse dia, o Patrick Maia que é um comediante stand up, já profissional na época, já tava consolidado na época, assistiu o meu número e quando acabou o curso, ele falou assim: “Você vai estar em São Paulo hoje à noite?”, falei: “Vou” “Você quer fazer cinco minutos no Comedians hoje?”, aí a minha pressão caiu, eu fiquei roxo, eu fiquei o dia inteiro passando mal, vomitando (risos), pensando: senhor cristo, não tô acreditando que isso vai acontecer. E aí, o meu primeiro show foi no Comedians. Fiz cinco minutos lá e tive que ir com a minha vó, porque não podia entrar no bar sozinho, porque era menor de idade, minha vó teve que ir comigo e aí, eu fiz os meus primeiros cinco minutos lá, cara, eu só lembro flashes, só lembro slides, de tão nervoso que eu tava, só lembro os slides passando assim. Não consigo lembrar quase… eu tava muito nervoso, foi um negócio muito marcante pra mim, isso. Foi o meu primeiro contato de show assim, foi no Comedians.
P/1 – E era sobre o que o seu número?
R – O meu número era sobre… eu começava falando sobre o filme “Crepúsculo”, porque na época era meio que o auge assim, o filme “Crepúsculo”, então os meus primeiros textos de comédia foi falando muito sobre minha família, eu tinha texto falando sobre a minha família, porque era o que tava no meu ambiente, era a minha realidade, que tava ao meu redor, então fazia muito texto falando sobre eles e fazia texto falando sobre o “Crepúsculo” que na época, todo mundo ou amava ou odiava quando estourou assim, ia fazer um texto zoando a história do “Crepúsculo”, assim, e falando também zoando a minha própria família e foi como eu comecei assim. Tinha um jeito muito inocente assim, na época, minha pegada de comédia era muito… um jeito muito inocente de ver as coisas, assim, sabe? Então, eu acho que é por isso que as pessoas foram me ajudando e gostando assim, porque era uma coisa muito diferente, normalmente você vê os caras falando de sexo, de família, de relacionamento, de um jeito mais rabugento e o meu jeito de falar é um jeito meio bobo, assim, um jeito ainda olhando com olhar de jovem, assim, sabe? De 16 anos de idade e foi assim que eu comecei.
P/2 – Fala um pouquinho desse jeito que você falava da família.
R – Aí, eu lembro que os primeiros textos que eu fazia, eu lembro que eu comecei fazendo piada sobre a minha vó, eu lembro disso, que igual eu falei, a minha vó foi a minha primeira referência de dar risada, então, as minhas primeiras piadas também de família eram falando sobre a minha vó. Eu lembro que eu falava assim: “Vó, eu vou pra São Paulo fazer o meu primeiro show, como é que eu tô? Tô feio?”, ela falou: “Não, você é feio” (risos), e aí, as minhas piadas eram esse tom bem inocente, assim, sabe? Era essa pegada bem inocente, assim, sabe? Eu falava… até hoje, eu ainda falo muito de família, tem muito texto que eu ainda falo da minha avó, falo da minha irmã e a gente brinca muito, eu falo que a minha vó era muito grossa, ela me ligava e falava assim: [Imitando a voz] “E aí, como é que tá aí em São Paulo?” “Ah vó, correria, né?” Então aproveita e vê se emagrece”, era muito grossa comigo, sabe? E tinha essa pegada bem inocente no meu texto, assim. Falava muito da vida da minha família e daí, eu fui falando de outros assuntos, mas comecei desse jeito, comecei falando da minha vó.
P/1 – A sua vó tava presente lá no…
P/2 – Comedians?
R – Tava. E é muito engraçado, minha vó tava presente no meu primeiro show no Comedians fazendo cinco minutos e há dois anos atrás, eu fiz o meu show solo num teatro lotado na minha cidade natal, foi a primeira vez que eu fiz isso e aí, já uma hora de show, o meu show, a minha cara e tipo, minha vó tava lá também e no final do show, tipo, ela chorando, me abraçou e tipo, é muito legal ver que ela viu… ela tava comigo quando eu comecei e ela tá comigo hoje também, ela viu eu voltando no teatro, pra mim é incrível ter tido essa oportunidade da minha vó ter visto o meu crescimento profissional, sabe? E estar nesses momentos todos comigo, foi muito legal, mesmo.
P/1 – E aí, antes que a gente pule, assim, como era a sua relação amorosa, assim, nessa época?
R – Ah, a minha relação amorosa, assim, é como qualquer jovem de 16 anos gordo, assim, né, é muito mais torcendo para Jesus te dar um milagre na sua vida, assim (risos). Eu sempre fui muito tímido, eu nunca fui o cara pegador da turma, nunca fui o cara que chegava na balada e fazia sucesso nas festinhas, sempre fui na minha, assim. Mas eu… com 17, 18 anos, eu comecei me dar melhor com mulher assim, porque o stand up me ajudou muito com isso, de conseguir conversar melhor com as pessoas, assim, sabe? Então, hoje tenho uma namorada, a gente namora já há quatro anos, a gente começou a namorar nessa época, eu tinha 18 anos e comecei a ficar com as primeiras meninas que eu tava ficando assim, conheci ela e a gente namora até hoje, assim. Então, minha relação com mulher foi muito… eu sempre fui um cara que eu queria achar alguém que eu olhasse, putz, ser for para namorar tem que ser uma pessoa muito gente boa que dê muito certo comigo, assim. Aí foi assim que… por isso que eu namoro a minha namorada até hoje, assim.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Camila. O nome da minha namorada é Camila.
P/2 – Como que vocês se conheceram?
R – A gente se conheceu seguinte, nós somos de uma geração horrorosa que fica se conhecendo pelo celular, a gente não tem mais aquele negócio gostoso, nossa geração é um horror, como eu odeio a minha geração. Mas eu conheci ela desse jeito, conheci ela fazendo o famoso stalk que os jovens falam, stalkeando ela que é quando você abre o perfil da pessoa e olha: “Nossa, que pessoa bonita, aí você curte uma foto, curte duas, aí você curte até 2011 para ela entender que você é um psicopata que tá querendo alguma coisa com ela (risos). Aí, ela curte algumas de volta, isso é um sinal, para quem não sabe, os jovens, quando curtiu de volta: tem alguma coisa acontecendo aqui, vamos descobrir. E aí, teve um belo dia que eu curti uma foto dela, ela me chamou no Facebook, a gente começou a conversar, começamos tocar uma ideia e ela era muito difícil, a gente ficou conversando mais de um mês pela internet para ela topar sair comigo pela primeira vez e aí, a gente saiu, começou a ficar e ficou uns três meses até começar a namorar. Ficamos… é foi isso, uns três meses até começar a namorar mesmo, assim, oficialmente assim. E o nossos primeiro encontro, eu fui levar ela para assistir um filme que era aquele filme “Somos tão jovens”, que conta a história do Legião Urbana e aí, era bem legal, porque tipo, ela gosta desse tipo de música, eu também gosto, nosso primeiro encontro foi isso e daí foi.
P/1 – E teve alguma história engraçada assim entre vocês?
R – Nossa! A gente tem muita história engraçada entre a gente, cara! Uma história muito engraçada que eu lembro foi uma das primeiras vezes, assim, tipo, começo de namoro assim, eu tava na casa dela e a mãe dela tinha saído assim para passear. E você saber, né, quando você tem essa oportunidade, você quer mandar ver, você quer mandar brasa. E aí, comecei beijar ela, a gente começou a se agarrar e aí, a gente: “Vamos se agarrar no banheiro, que a gente é rebelde, a gente tá aqui pra fazer uma aventura”, aí fomos para o banheiro da casa dela, comecei a beijar ela, coloquei ela em cima da pia e a pia desmoronou (risos). Eu acho que eu nunca fiquei tão em pânico na minha vida, coloquei assim na pia, pow, falei: “Minha nossa senhora, eu não sei o que eu faço”, começou a esguichar a água assim, e eu falando assim: “Minha nossa senhora, eu vou morrer, vou ser preso agora, eu não sei o que eu faço da minha vida”, e eu tava desesperado, eu não sabia o que fazer e o homem é tão imbecil que juro por Deus que eu peguei a pia, eu achei que eu ia encaixar ela de novo (risos) assim. E não deu certo, aí a mãe dela ficou muito nervosa comigo, assim, mas depois…
P/1 – Vocês contaram a versão original pra mãe…?
R – Assim, a gente tentou dar um miguezão, mas a mãe sempre sabe, a mãe sempre sabe o que o filho faz, essa é a grande verdade. Mas aí, tive que pagar a pia da minha namorada. Foi a primeira coisa engraçada que aconteceu com a gente, assim.
P/1 – Tem qual mais? Tem amis alguma?
R – Cara, deixa eu pensar alguma coisa… tem uma que é muito triste assim, é engraçada porque é triste. Às vezes, a tristeza é engraçada. Nosso primeiro ano de namoro, quando a gente foi fazer comemoração de um ano de namoro, um momento muito engraçado nosso foi uma vez que eu fui levar ela pra gente passar um final de semana em Araxá, que é uma cidadezinha meio turística lá em Minas e putz, consegui um final de semana num hotel legal pra gente ficar, um negócio bacana, um negócio massa e a gente chegou, aí a gente almoçou, aí a gente foi para o quarto do hotel, a gente tava conversando, e aí, a gente tava conversando, papo vai, papo vem, fomos pra piscina quente, voltamos, tava tudo bem, tudo tranquilo assim. Aí, tava enxugando no quarto depois da piscina quente, aí ela foi conversar alguma coisa comigo e eu não sei porque o meu organismo fez isso comigo, mas eu dei uma jatada de vômito assim… mas no primeiro dia, assim, eu dei uma jatada de vômito na cama, eu comecei a vomitar, aí ela foi chamar um cara para ajudar do hotel, na hora que ela chegou, eu não parava de vomitar no quarto inteiro e aí, eu fiquei vomitando o final de semana inteiro, foi como a gente comemorou o nosso primeiro ano de namoro, eu vomitando em Araxá e ela cuidando de mim no hotel (risos). Eu estraguei tudo assim, cara, estraguei tudo. Foi o nosso primeiro ano de namoro foi isso.
P/1 – E teve algum amigo assim que você viveu histórias bastante engraçadas também?
R – Cara, eu tenho um grupo de comédia, eu tenho um grupo de comédia lá em Minas que chama Zebu em Pé e a gente vivem muita coisa engraçada entre nós, assim,. acontece sempre, em correrias de shows, coisas assim, a gente acaba que ficou muito amigo e acaba acontecendo muita coisa engraçada nas viagens que a gente faz, nos shows que a gente faz e uma vez a gente foi fazer show numa cidadezinha que chamava Bom Despacho, eu fui com esse grupo meu e era uma apresentação num clube e tinha um salão de eventos no clube, a gente fez a estrutura para o show e aí, quando a gente foi começar o show, primeiro amigo nosso que subiu no palco, primeiro comediante que subiu no palco começou a falar com a plateia e aí, deu um raio e desligou o clube inteiro assim, fez tipo zoomm, desligou o clube inteiro. Aí, a gente ficou em desespero, porque a gente não sabia o que fazer, a gente não tinha ideia do que fazer. E aí, a plateia toda levantou tipo celular, a lanterna do celular pra gente continuar o show com a luz da lanterna do celular, assim, e isso foi incrível. E aí, a gente começou a fazer o show e tava tudo bem, assim, estava todo feliz e aí, começou a chover junto com os trovões e começou a entrar dentro do salão a água. A gente: “O que a gente faz agora? já tá sem luz, o pessoal já tá filmando o celular, começou a entrar água no salão, o que a gente faz?” E aí, esse amigo nosso teve uma ideia maravilhosa que ele começou a fazer gincana, igual aqueles programas que tem na televisão, sabe quando o apresentador vai na casa de alguém e fala: ‘Eu quero encontrar sabonete”, aí vai todo mundo procurando? A gente começou a fazer uma gincana… ao invés de fazer o show, tipo assim, a gente falava assim: “Pessoal, vamos todo mundo arrumar quem trouxer mais cadeira agora, a gente vai dar um pão do camarim”, aí vem as pessoas trazendo no meio da enchente assim, trazendo cadeira pro palco, a gente tacava pão do camarim pras pessoas (risos), e as pessoas entraram muito no clima da brincadeira assim, porque eles estavam num clube como hospedes, é aquele tipo de clube que hospeda pessoas assim, então, tava todo mundo de boa, eles tinham quarto pra onde ir. Entraram na nossa vibe, a gente fez uma gincanona lá, a gente falava: ‘Agora quem vai trazer pra gente um pedaço da mesa que quebrou?”, o pessoal trazia o pedaço da mesa (risos), a gente dava um refrigerante para a pessoa. Cara, a gente fazia muita coisa assim, sabe? E em todas as viagens nossas, a gente se diverte muito, assim. Eu me divirto muito com o meu grupo.
P/1 – E voltando, você disse que se apresentou lá no Comedians, né? E aí, depois disso, como é que foi?
P/2 – A trajetória?
R – A minha trajetória no Comedians foi assim, eu comecei a vir para São Paulo mais ou menos de três em três meses, juntava tipo uma graninha para vir, ficava tipo uma semana e fazia esses espaços de cinco minutos que a gente chama de open mic que é quando a gente dá um espaço de microfone aberto pra alguém que não é profissional ter o seu espaço para fazer o seu trabalho, até ele se tornar profissional, né, até melhorar a sua performance e ter capacidade de ser profissional. Eu fiquei fazendo isso durante mais ou menos um ano e aí, eu montei o meu grupo lá em Uberaba, a gente começou a fazer shows lá em barzinhos semanalmente. E isso me calejou muito na comédia, eu comecei a trabalhar muito, comecei a cada vez mais criar mais textos e me motivar a voltar mais para cá, porque aqui é onde acontece, São Paulo é onde acontece o cenário cultural do Brasil, a cidade mais incrível do Brasil para isso. E a gente… eu comecei cada vez mais juntar dinheiro para investir na minha carreira aqui. Então, juntava dinheiro para vim ficar uma semana, para vim ficar duas semanas, para vim ficar três semanas, eu juntando dinheiro pra eu ter mais shows para eu fazer pra conseguir mostrar o meu trabalho para o maior número de comediantes profissionais possíveis.
P/1 – Você juntava dinheiro como?
R – Eu juntava dinheiro tanto com shows que eu fazia em Uberaba com o meu grupo lá em barzinhos, quanto nesse esquema da vaquinha com a minha família, sempre falava: “Dá 20 contos que ajuda”, ia juntando assim e juntava uma grana e vinha, então sempre fui na base muito assim, tipo: eu quero, eu vou dar um jeito, de qualquer jeito que seja, mas eu vou vir, eu vou vir mostrar o meu trabalho. E aí, um ano e meio mais ou menos que eu tinha começado a fazer isso, eu comecei a fazer shows de convidado aqui em São Paulo, então eu comecei a receber cachê para vir fazer o meu show, comecei a receber dinheiro, comecei a ser convidado por grupos de comédia de São Paulo, para os shows que existem em São Paulo e aí, eu comecei a me profissionalizar no meio. Comecei a ter espaço no meio como profissional. Daí, eu fui crescendo, eu fui melhorando meus textos, fui sendo convidado mais vezes, fui entrando nos circuitos mais principais de comédia e uma coisa foi consequente da outra, o trabalho foi levando ao crescimento natural, assim, participações em televisão, participações em coisas maiores, até conseguir me estabilizar e começar a viver de comédia, mesmo, igual eu vivo hoje. O trabalho vai levando uma coisa a outra, sabe? Fui me estabilizando, até que hoje eu faço show no Brasil inteiro, um dos maiores shows que tem, faço participações em coisas de TV, é tudo que eu queria assim, nunca quis fazer comédia por fama, muito mais… sempre quis só me manter com isso. Se eu sobreviver com comédia, é isso que eu quero e hoje, eu consigo isso.
P/1 – E nessa época, de onde que você tirava assim, a respiração para criar seus números?
R – Eu sempre tirei… acho que a gente pode rir de tudo. Acho que a gente pode rir de qualquer coisa. Tudo tem graça, você só precisa saber achar a graça nisso. Você pode ver a sua vó doente, sentar na sua cama e chorar com isso ou você pode achar o que rir disso. Acho que esse é o trabalho do comediante, o comediante tem dois trabalhos na sociedade, um é tocar o dedo em feridas que ninguém tem a coragem de tocar, o comediante vai e aponta o dedo para a coisa que ninguém tem coragem de falar, é nosso papel fazer isso e as pessoas riem da nossa audácia para fazer isso ou transformar a risada em coisas que acontecem com a gente mesmo, fazer as pessoas se identificarem. Contar coisas que as outras pessoas ouçam e digam: “Isso acontece comigo também” e dar risada por isso. Então, eu sempre fiz comédia com coisas que eu senti sinceridade falando. Eu nunca quis falar de tal coisa, tipo, nunca quis por exemplo escrachar mulher para ser engraçado, falar que a mulher é feia para isso ser engraçado. Eu nunca quis falar de time de futebol porque é engraçado afalar de time de futebol. Eu sempre quis falar de coisas que foram sinceras para mim. Então, eu falo de ser gordinho. Eu falo da minha família, eu falo do meu namoro, eu falo do que eu acho sobre religião, eu falo do que eu acho sobre política, eu falo de todos os assuntos, mas que seja sincero para mim. Eu transformo isso em piada, porque eu preciso que as pessoas deem risada com o que eu penso, eu não posso fazer uma palestra sobre as coisas que estão ao meu redor. Então, eu gosto de pegar as coisas que estão ao meu redor e achar graça nessas coisas que estão ao meu redor. Eu poderia, por exemplo, ser gordinho, não tocar no assunto e: “não, vou ficar calado que isso me deixa inseguro, nunca vou falar sobre isso”, não, eu quero falar sobre isso, quero achar graça nisso, quero aprender a conviver com isso, acho que a comédia tem esse papel importante, assim.
P/1 – Nessa sua trajetória, assim, enorme, quais foram os momentos assim, marcantes e principalmente, engraçados, assim, que você viveu?
R – Ah, pra mim, a coisa mais marcante pra mim além desse primeiro dia que eu fiz o meu show no Comedians pra mim foi muito marcante, foi quando eu recebi o meu primeiro dinheiro fazendo comédia, que eu olhei aquilo e falei assim: “Cara, isso pode ser um trabalho, isso pode ser com o que eu posso levar a minha vida”, foi uma vez que eu fiz um show no Bar Beverly Hills em São Paulo e eu não tava como elenco da noite, eu ainda era um open mic, só que quando eu desci do palco, o Robson Ramones que era o comediante dono da noite, foi me cumprimentar, ele bateu na minha mão e aí, tinha uma nota de 100 reais na mão dele, ele fechou na minha mão assim, ele não falou nada. E aí, eu olhei aquilo, e aquilo simbolizou um negócio muito importante pra mim, foi tipo um negócio que eu falei: “Cara, é isso, isso aqui… é isso aqui que eu quero fazer para o resto da minha vida, sabe?”, porque cara, tem um monte de gente rindo comigo e eu posso ganhar dinheiro ainda com isso, cara? É isso, pô! Vou fazer o que da minha vida? Vou ser médico? deixa os outros serem médicos, aí, eu vou só fazer os outros rirem, mesmo, sabe? Eu sempre fui um cara que eu trabalhei muito com metas, então tipo, cada vez que eu alcancei uma meta pra mim, sempre foi importante. Então, quando eu comecei a vim de convidado a São Paulo, não eu correr atrás dos shows, mas os shows correrem atrás de mim, começou a ser muito importante pra mim também, primeiro show que eu fiz de convidado no Comedians pra mim foi incrível, minha primeira participação na televisão pra mim também foi muito importante, foi muito legal.
P/1 – Foi importante, como? Como é que foi essa participação?
R – Foi… minha primeira participação em televisão foi no “The Noite”, do Danilo Gentili, no programa do SBT. Me ligaram do nada, entraram em contato comigo e falaram: “A gente quer que você faca o quadro do Enrolado da Noite que você comenta noticias da semana, tal e a gente quer que você vá lá para você fazer. E cara, pra mim, foi muito louco, assim, porque eu nunca tinha tido essa experiência de uma galera assim, em rede nacional assistir o meu trabalho. E meu, se você visse como eu tava nervoso assim, eu tava gelado, minha unha tava roxa assim, que eu ficava com a mão no bolso o tempo inteiro. Aí, que cheguei lá, aquele negócio tudo grande, aquele monte de câmeras assim, e aquela correria de televisão e eu sentei no banquinho, assim, e aí, o programa começou a gravar e assim, na minha cabeça, eu tava assim: isso aqui já tá acontecendo, já tá gravando, daqui a pouco já vai passar na televisão. Só que na hora de falar, eu tinha que falar como se nada tivesse acontecendo, então, o Danilo apontava o dedo pra mim, eu fazia uma piada olhando para a plateia, a plateia ria e eu ficava igual a um robô assim, sabe? Eu ficava: “Ah lá”, riram, aí: ‘”Não sei o que lá”, nossa, riram de novo, que legal. Eu só fui entender o que aconteceu depois que eu cheguei na minha casa, assisti o negócio que eu vi o que aconteceu que eu: “Nossa, aconteceu isso mesmo”, pra mim foi incrível assim, e recentemente, eu fiz o “Domingão do Faustão”, é uma competição do “Domingão do Faustão”, eu cheguei até o final do programa, eu fui finalista do quadro e essa foi a experiência mais louca na televisão, assim, porque é uma audiência gigantesca assim, é muita gente que te assiste, é m negócio absurdo e você… é uma exposição muito grande, assim, é uma coisa que eu nunca fui acostumado com isso. E quando aconteceu assim, cara, eu ficava… só deixava acontecer, sabe, eu… quando eu vi o Faustão pela primeira vez, assim, que eu olhei e vi aquele cara gigantesco assim na minha frente, assim, ele apertando a minha mão, eu quase falei: “Pai”, eu fiquei (risos), assim, eu queria muito abraçar o Faustão, cara! É uma coisa doida que eu via na casa da minha vó lá em Araguari há muito tempo atrás e o cara tava na minha frente. Então, isso é muito louco, é muito doido. E poder fazer as coisas que eu criei em rede nacional para uma galera ver, sabe? Nossa, incrível! A primeira vez que eu usei o banheiro da Globo, também ó, maravilhoso. Essa foi a melhor história do mundo. Eu não sei nem se eu posso falar isso aqui. Será que eu posso falar isso? Posso? Então, é uma história muito… inclusive, isso aqui em primeira mão, isso aqui é um negócio em primeira mão porque foi uma das histórias mais vergonhosas da minha vida, assim, eu tava indo ensaiar para um quadro, para esse quadro e aí, eu tava muito nervoso, normalmente, quando eu fico nervoso, me dá o famoso piriri, né, que é quando te dá aquela dor de barriga que você não consegue fazer mais nada da sua vida. E eu tinha acabado de almoçar, eu tinha que ensaiar, só que o meu intestino deu um pimmmm aqui que eu falei: “Nossa, já era! Agora não dá mais, a roleta tá rolando aí, eu preciso correr”, e eu não sabia o que fazer e eu falei: “Nossa, cara, o quê que eu faço? Não quero fazer isso com a Globo, não posso fazer isso aqui”, aí eu sai correndo, assim, aí eu fui lá para o camarim, aí eu tranquei o camarim, aí entrei dentro do banheiro, e pensei assim: não, eu não posso fazer isso na Globo, eu vou fazer xixi que vai dar uma enganada, vai dar uma enganadinha aqui, vou respirar fundo, vou ensaiar e vou embora, tá tudo bem. Aí gente, eu fui fazer o xixi, né? E aí, comecei a sentir um negócio meio estranho assim, vindo do chão assim, e aí quando eu olhei, a privada não tava instalada (risos), não tinha água, aquelas… só o vaso mesmo assim e começou a escorrer pelo chão da Globo. E aí nessa hora (risos), eu falei: “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, ai eu comecei a pegar sabe aqueles papel de banheiro, assim, comecei a pegar, falei: “Cara, não tem o que fazer”, comecei a fazer um tapete assim pra conter o que tava acontecendo ali e jogar um monte de papel, assim, 20 quilos de pastel no chão assim, e eu cara… foi o momento mais vergonhoso da minha vida, que eu ajoelhei pegando aqueles papel, assim, e era só para estar ensaiando: eu só vim aqui pra ensaiar, olha o que eu tô fazendo! E jogando no lixo, assim e aí, eu peguei minha mochila, peguei o meu perfume e taquei perfume no banheiro inteiro pra ver se melhorava (risos) a situação, e ninguém sabe disso, é a primeira vez que eu falo isso, aqui e agora e é uma vergonha que eu mantive comigo muito tempo. Obrigado, viu, por eu estar podendo desabafar isso para vocês, assim, foi uma coisa incrível (risos).
P/2 – Como é que foi entrar no Risadaria?
R – Putz, foi muito legal. Foi muito legal entrar no Risadaria, porque… é o meu primeiro ano no Risadaria, é um festival que eu acho muito legal, porque ele tem um propósito de levar a comédia para diversos lugares diferentes, diversos públicos diferentes e tornar acessível a comédia, então eu acho muito legal, tem muita gente incrível que participa do Risadaria, é talvez o maior festival que tem na América Latina, talvez no mundo de comédia, é muito grande o festival, então eu tô muito feliz de fazer parte disso, né? Eu acho que quanto mais Risadarias tiverem no mundo, melhor, porque eu acho legal, quem quiser ver palhaço, tem palhaço fazendo coisa, tem magico, tem desenho, tem stand up, tem personagem, tem improviso, não importa, desde a criança até a pessoa idosa, a pessoa vai dar risada. Vários lugares diferentes de São Paulo, então, tipo cara, eu acho incrível e agora, eles estão começando a viajar o Brasil também, tem Risadaria que faz em algumas capitais, então putz, eu acho que quanto mais Risadaria tiverem por aí, melhor. Eu sou muito a favor desse tipo de festival, que leva a comédia para as pessoas de uma forma mais acessível. Acho muito legal isso.
P/2 – Mas o quê que significa para você?
R – Cara, pra mim, fazer Risadaria significa estar cada vez mais onde eu quero estar no meio. Significa cada vez mais ter a possibilidade de levar as minhas ideias para as pessoas e tal, onde eu quero estar, aqui é onde estão os melhores comediantes do país, então, só de estar no meio dessa galera, pra mim, incrível assim, é o que eu quero fazer. Igual eu falei, eu não faço comédia por fama, eu faço comédia porque eu quero para poder levar o meu trabalho e viver disso. Então, quando mais pessoas eu conseguir levar, eu fico feliz. O Risadaria me proporcionou estar no meio de uma galera muito legal e levando comédia para uma galera muito lega, também, então eu tô muito feliz, muito feliz mesmo.
P/1 – Qual o foi o dia assim, que você sentiu mais realizado nessa trajetória na comédia?
R – Eu fiz muita coisa legal na comédia, né, televisão, Risadaria, festivais, viradas culturais, shows no Comedians, shows não sei o que lá, mas o momento que eu mais me senti realizado na comédia foi ha umas três semanas atrás. Eu fiz… eu top começando a rodar o meu show solo de comédia em algumas cidades. Isso é um passo muito importante para quem é comediante, porque é quando você consegue ir numa cidade e vender o seu show sozinho, então sou eu, é o Victor Ahmar fazendo o meu show e as pessoas indo me assistir uma hora do que eu tenho para falar. E ha três semanas atrás, eu fiz esse show na minha cidade natal, Uberaba, onde é difícil, não é igual São Paulo, né? São Paulo, cara, você faz comédia de segunda à segunda, tem lugar para você fazer comédia de segunda à segunda, em Uberaba não é assim, interior do Brasil não é assim. E o teatro lotou e acabei o show, eu fui aplaudido de pé e isso pra mim foi o momento que eu me senti mais realizado, porque eu olhava aquilo e falava: “Cara, eu consegui”, não foi tipo a televisão, não foi tipo os shows maiores do Brasil, mas foi tipo, estar num lugar que não tem um cenário forte e a galera ter lotado um teatro para me assistir e ter me aplaudido de pé, falei: “É isso, eu consegui. É isso que eu quero, é isso”, e me senti muito realizado, me senti muito… foi o dia que eu me senti mais realizado foi esse.
P/2 – E um momento de felicidade, assim, de plenitude, na vida, não em relação só a sua trajetória profissional.
R – Ah, mais recentemente, o meu maior momento de felicidade foi quando minha irmãzinha nasceu, eu fui filho único por muito tempo. Fui filho único até os meus 12, 13 anos de idade e quando a minha irmã nasceu, eu fiquei muito feliz, porque eu sabia que eu ia poder proporcionar pra ela uma companhia legal, sabe? Que ela não ia estar sozinha, que ela não ia ter que se virar e cara, cuidei muito da minha irmã quando ela nasceu e talvez tenha sido o momento mais legal, assim, recente da minha vida tenha sido o nascimento da minha irmã, porque a gente tem uma relação muito próxima, eu zoou muito ela no meu show, eu encho muito o saco dela, eu crio ela de um jeito muito não tão convencional, assim, sabe? Junto com a minha mãe, eu gosto de sentar com ela e trocar ideia com ela e falar: “essa música que você ouve é horrorosa, ouve essa música, essa música que você tá ouvindo é um lixo, horrorosa, ouve essa aqui”, e conversar com ela dessas coisas e falar: “Vamos assistir esse negócio. O que você acha disso aqui? Vamos assistir isso aqui”, aí coloco um negócio pra ela assistir pra gente assistir junto. Então, eu tenho a possibilidade de fazer com ela um tipo de conversa, um tipo de diálogo que a gente ficou muito amigo, assim, sabe? Eu deixo a minha mãe cuidar dela do jeito convencional, sabe, minha mãe cuida dela, dá os conselhos legais pra ela, eu gosto de chegar e fazer o que ninguém faz, sabe? fala assim: “Você já assistiu ‘O Exorcista?’, vamos assistir Ó Exorcista’, então” (risos), fazer essas coisas assim e brincar com ela. Cara, muito lega, inclusive, nesse show solo que eu fiz na minha cidade, ela tava lá também e foi toda produzida, com cabelos feito no salão, que agora ela tá na pré-adolescência, ela acha que ela é adulta e eu fico enchendo mais o saco dela, ainda. E a gente brinca muito junto assim, a gente se diverte demais, então, eu acho que foi um dos momentos mais felizes meus foi ter essa possibilidade de trocar essa ideia com a minha irmã, assim, acho que foi bem legal, ganhei…
P/2 – Ela tem que idade, hoje?
R – Hoje ela tem nove anos de muita paciência na nossa cabeça (risos).
P/1 – Qual que é o seu sonho?
R – O meu sonho? O meu sonho é que quando acabe a minha trajetória aqui nesse planetinha em que vivemos, que eu tenha marcado de alguma forma com minhas ideias, meu trabalho as pessoas. Que as pessoas tenham dado bastante risada comigo, que as pessoas tenham admirado o que eu tenha feito ou que as pessoas tenham pelo menos se divertido bastante comigo. Se o maior número de pessoas que eu conseguir até o meu final da trajetória aqui tiver alcançado o maior número de pessoas possível que tiver dado risada comigo, eu tô feliz. É isso, o meu sonho é atingir o maior número de pessoas possível com as minhas ideias e que elas se divirtam com isso, principalmente, não só atingir a elas, mas que elas saiam de alguma forma mais felizes, mais leves depois disso. É isso que eu quero.
P/1 – E aproveitando que você contou a sua história, né, disso tudo que você contou, tem alguma coisa que você não contou que te marcou bastante, que você quer deixar registrado ainda?
R – Mas em qual sentido você diz?
P/1 – Qualquer sentido, assim. Porque isso aqui é a sua história de vida. Sae você quiser contar ainda alguma coisa e falar: “Nossa, isso tem que estar na minha história de vida”.
R – Cara… mas não é tão engraçado assim. Não tem problema?
P/2 – Tudo bem.
R – Tá. Uma coisa que me marcou muito esse ano e que me fez pensar muito sobre as coisas em geral foi o falecimento do meu avô. Meu avô faleceu esse ano e o meu avô era um cara muito querido, ele era dono de um centro espirita lá onde a gente mora e ele sempre foi um cara muito incrível. Meu avô nasceu na Síria, cara, ele veio para o Brasil com 20 e poucos anos e ele veio para o Brasil por causa da doutrina espirita. Ele se apaixonou pela doutrina espirita lá, lá não tinha espaço para isso, e ele veio aqui para o Brasil pra conhecer mais, principalmente por causa do Chico Xavier, essas paradas assim que no Brasil é muito forte, ele veio pra conhecer, fundou um centro espirita, começou a fazer a doutrina dele lá e eu nunca fui um cara religioso, não sou um cara religioso, eu respeito muito a religião de cada um, que cada um quiser seguir, mas eu nunca fui, mas eu sempre vi o meu vô com muita admiração, porque ele era um cara muito querido, tipo, direto as pessoas batiam na casa dele, tipo, desde pessoas carentes até pessoas do bairro, mesmo,. que ele morava para conversar com ele. Achava isso muito doido, é uma coisa muito do interior ter essas coisas, né, mas o meu vô tinha essa figura pra mim. E quando o meu vô faleceu e eu tive que, por exemplo, demonstrar muito apoio pra minha vó, demonstrar muito apoio para as pessoas da minha família, estar lá com eles, eu percebi o quanto você pode deixar o seu legado de um jeito bacana aqui, sabe? porque quando o meu vô foi, a tristeza das pessoas não era uma tristeza tipo de: “Eu queria ter falado tal coisa pra ele, queria ter resolvido o meu problema com ele”, mas foi tipo: “Putz, que pena que a gente não vai mais ter ele aqui”. Porque ele fazia coisas muito legal, ele tinha uma presença muito boa, ele ajudava muita gente. E eu vendo aquela situação ali, eu comecei a pensar: talvez essa seja a inspiração para a minha vida, sabe? Tipo, meu avio foi um cara que veio atrás do sonho dele, fez o que ele queria ter feito e as pessoas ao redor dele se apaixonaram pela paixão dele, também. E ele admirou muito as pessoas, cara, e o falecimento dele me fez pensar isso, me fez pensar o quanto que a gente pode com pouca coisa fazer muito, sabe? Às vezes, só com a sua palavra, você consegue fazer muito. E eu lembrei porquê que eu faço o que eu faço, porque eu acho que a gente pode com pouca coisa fazer muito pelas pessoas. Meu vô só com as palavras dele e com o que ele queria fazer, ele fez muito bem, eu acho que de um jeito muito diferente, claro, porque eu não sou nada religioso, eu posso fazer isso também, e eu acho que todo mundo que tiver essa possibilidade de ir atrás dos seus sonhos fazendo o bem para outras pessoas, faça isso. Isso me marcou muito, talvez seja a maior lição que o meu avô deixou pra mim, aqui. É isso.
P/1 – E como foi pra você contar a sua história?
R – Foi legal, cara, foi legal. Espero que tenha sido legal, espero que o que as pessoas assistam seja lega, espero que, de alguma forma, as pessoas possam se motivar ou gostar disso aqui. Pra mim foi muito legal, porque é bom, você lembra de algumas coisas que você não para pra pensar, às vezes, né, você reflete sobre algumas coisas que na correria, você não para pra refletir, então achei legal, achei muito bacana. Acho que todo mundo tem que fazer isso uma vez, ligar a câmera na frente do espelho do banheiro e conversar consigo mesmo, acho que é legal isso. Obrigado pra vocês aí. Achei muito legal.
P/1 – E como todos os comediantes fizeram aqui, né, a gente vai gravar uma palhinha, se você puder.
PAUSA
P/2 – Você quando era pequeno, queria ser o que quando crescesse?
R – Nem… nem…
P/2 – Nem pensava?
R – Nem tinha ideia, assim, até eu virar comediante, eu nunca tinha uma coisa que tinha me fisgado assim, mesmo, assim. não é uma coisa que eu também idealizava ser comediante, foi muito do nada, assim, foi igual eu falei, eu assisti e gostei muito e as coisas aconteceram, muito natural, assim, foi muito natural, muito natural, mesmo. E aí, é isso.
PAUSA
P/1 – A pegada é você criar mesmo alguma coisa…
P/2 – Um quadro que você faz no espetáculo.
R – Tá.
P/1 – Ia ser legal assim, com a sua história de vida, né, porque você disse que mexe com nisso.
R – Eu vou falar de ser gordinho, então. Eu gosto de falar dos gordinhos, eu sempre falo muito disso. Eu gosto de falar de ser gordinho porque eu acho que a gente faz o que tem de melhor no mundo que é comer, mas a gente se ferra em todo o resto que a vida pode proporcionar preá gente, sabe, a gente faz o que tem de melhor, mas o resto… o resto não vai dar certo, saca? É muito ruim, porque o gordinho é ofendido até quando a pessoa não tem intensão de ofender a gente, sabe/ Uma vez um amigo meu virou pra mim e falou assim: “Mano, tava reparando aqui, toda vez que eu passo à tarde na casa da minha vó eu engordo uns 20 quilos”, falei: “Mano, eu moro coma minha vó”, então é muito ruim, a vida faz isso com a gente sem… quer ver, eu vou dar um exemplo, vocês vai sair, vai vim uma turma, vocês mais duas pessoas, vai todo mundo sair, vai no shopping, vai todo mundo de taxi. Quem vai no banco da frente isolado? O gordo. Pra quê? Pra sentir confortável? Não, pra caber todo mundo. E o mais humilhante é quando você vai entrar no carro, o motorista olha pra sua cara com dó e fala assim: “Se você quiser, pode chegar o banco um pouquinho pra trás”, isso são atestados de gordura que as pessoas dão pra gente, sabe? Isso é ruim. Os amigo magro é desgraçado também, que eles passam em frente a farmácia e faz: “Vamo pesar?”, não faz isso, gente, não é legal. Sério, chamar um gordinho para pesar para ver se ele emagreceu é a mesma coisa que tirar uma foto com cego e perguntar se ele gostou, não é bacana, não vamos fazer isso que não é legal, sabe? Eu tentei fazer dieta, eu tentei fazer o que a nutricionista falou pra mim, falou: “É muito simples, a partir de hoje, toda refeição que você fizer, toda refeição tem que ter ou legume ou verdura, toda refeição. Passou uma semana, tava nem aí meais, sabe? Ela me achou na padaria, me achou com olhar de assassina, com raiva mesmo, olhou pra mim e falou: “Ahaaa… você tá comendo bolo, né?”, eu falei: “Eu posso, é de cenoura”. Mais ou menos isso aí, gente (risos).
P/1 – Fora da entrevista, já acabou a metodologia, tudo, eu vou te dar um presente artístico aqui. É Victor Ahmar?
R – Isso.
P/1 – Vicktor Ahmar, que sua cultura e sua vida seja sempre de alegrar a cultura popular. Que todo lugar que você possa andar, a cultura, a gente olha e fala: “Tomara que isso nunca acabe, que isso nunca acaba”, pois você acabou nascendo em Uberaba e de risada a vida nunca te deixou só, pois já chegou uma hora depois, e tava vestida de alma penada até a sua vó. E brincando com os amigos, escute o que eu te digo, você foi muito além do perigo, pois a sua vitória tava na imaginação e é criando história pra inventar a solução e viajou para São Paulo descobrindo esse mundão, esse mundinho, nesse caminho que pouco gente tanto satisfaz você procurou dentro de si a própria paz e quando olhou, já tava na sua mão cem reais. E quando você olhou para trás, já estava assistindo o show da Globo e você achou que era bobo, pegou o papel higiênico e acabou tudo limpando e isso passou pra gente em primeira mão, pois a comédia é sempre o nosso corrimão para aquilo que pode não agradar, não agradar na nossa, naquela ou qualquer vida. O papel do humorista é cutucar qualquer ferida.
R – Muito bom (palmas). O que é isso! Muito bom, mano, muito obrigado.
FINAL DA ENTREVISTA
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