Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Victor Sarro
Entrevistado por Lila Schnaider e Jonas Worcman
São Paulo, 11/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB044_Victor Sarro
Transcrito por Mariana Wolff
P/1 – Você podia, por favor, começar falando onde você nasceu, a data e local.
R – Eu nasci no dia cinco de dezembro de 1988, em São Bernardo do Campo, Hospital e Maternidade Rudge Ramos, mas eu nunca morei em São Bernardo. Eu só nasci lá e eu morei sempre em São Paulo. Aí, bem mais velho, eu mudei para o Rio de Janeiro, fiquei lá um tempo e voltei. Mas eu nasci em São Bernardo.
P/1 – Victor, então você veio pra cá tão pequeno, então você não lembra nada de São Bernardo?
R – Eu acho que eu nem fiquei, nem cheguei a morar em São Bernardo, eu acho que os meus pais já… eu nasci só lá, porque acho que era o hospital da época, não sei como que funcionava, mas logo cedo, eu já vim para São Paulo, não lembro da primeira casa que eu morei que era um apartamento em São João Clímaco. Lembro da segunda que era no Jardim Patente que foi onde eu passei a minha infância toda, aí com uns 12 anos, eu mudei mais para dentro de São Paulo, pra divisa de São Paulo e São Bernardo, ali, e aí, com 19 eu mudei para o Rio de Janeiro. Aí, fiquei até uns 25, aí voltei com 25, hoje eu tô com 28.
P/1 – E o quê que você lembra da infância?
R – Cara, minha infância era muito boa, assim, eu não lembro de muita coisa, mas eu lembro de muita coisa repetida que eu fazia. Eu lembro que eu gostava muito de comer amora, tinha um pé de amora, isso eu gostava muito de comer amora e goiaba. Eu lembro que tinha um morro, a gente morava num conjunto habitacional, assim, que tinha um morro, então a gente escorregava muito de papelão naquele morro. Era muito legal aquilo. E todas as férias, eu ia para uma chácara. Alguma chácara eu ia, ou para um clube que tinha em São Bernardo, ou pra uma chácara e eu lembro desses pequenos momentos, assim, felizes da minha infância, que eu queria muito… eu sempre falo que eu vou levar as minhas filhas pra esse lugar, eu queria muito que elas conhecessem isso, tanto é que hoje, eu tenho muita vontade de morar numa chácara porque eu queria que as minhas filhas vivessem os momentos felizes que eu vivi, sabe? Eu nunca tive um luxo muito grande, meus pais não tinham dinheiro, mas nunca me faltou nada, assim, tanto de alegria, como de comida, era muito legal. A minha infância foi muito legal.
P/1 – E você brincava com quem?
R – Cara, eu brincava com muita… olha, o meu irmão brincava muito com o meu irmão, a minha irmã era mais velha, então não brincava muito com ela. meus primos… em viagem, era eu, meu irmão e os meus primos, né? A gente tava junto todas as férias, todas as festas, era sempre a gente. Mas no condomínio onde eu morava tinha muito amigo, porque era do A1 ao A19 e do B1 ao B19, então era muito prédio, eram quase 40 prédios com muito apartamento, então era muita criança, era muita gente. Então, eu lembro de ter uma infância regada de muitos amigos, muitos!
P/2 – E vocês aprontavam muito no prédio?
R – Cara, aprontava muito, muito, muito, assim, de… muito… eu lembro que a gente amarrava uma corda de uma árvore para outra e a gente ficava andando nessa corda assim, era perigoso pra caramba. Já cai de costas, ficava sem ar. A gente adorava ficar (risos), tava sempre em construção o condomínio, então a gente pegava uns bloco de areia assim, e ficava atacando nos carros que estavam passando, sabe? Eu lembro de uma história que… essa história eu lembro, não foi ninguém que me contou… minha mãe me conta muita história, mas tem coisa que eu não lembro. Essa eu lembro, que eu taquei um torrão de areia no carro de um cara e sai correndo, pô, imagina, eram quase 40 blocos, eram muitos… mais de mil apartamentos, aí a gente saiu correndo, correndo, corremos muito, muito, me escondi numa garagem, era a garagem do cara! Aí, o cara me pegou no braço e me levou até o meu pai, assim, meu pai me bateu assim, eu lembro. Época que podia bater nas crianças (risos),
P/1 – Hoje em dia é politicamente incorreto…
R – Hoje em dia, eu não tenho coragem. Eu tenho duas filhas que eu não tenho coragem de encostar a mão nelas.
P/1 – Dá até vontade.
R – Não, às vezes, eu tenho… eu tenho vontade, às vezes, de dar aquela palmada… mas eu não consigo, ela me olha com uma carinha: “Desculpa”, mesmo que ela faça por querer, hoje em dia não dá mais, não sei, acho que mudou essa coisa do amor, essa coisa da afetividade, né, mudou muito de uns tempos pra cá e eu não tenho coragem.
P/1 – E você tem mais alguma história assim, dessa época de ser muito traquina…?
R – Cara, infância tem muita história. Eu gostava muito de jogar bola, lembro que todo dia a gente saía da escola e ia jogar bola. E eu dormia muito, eu tenho um sono muito pesado, essa história eu também lembro, que eu tinha o sono muito pesado. Um vez, eu entrei em casa, deitei pra dormir e eu tranquei a porta, e minha mãe começou a bater, eu não ouvi e minha mãe olhava pela janela, ela me via no chão assim, deitado, no colchão, no chão assim, deitado, minha mãe gritava e ligava e nada, e de repente, começaram a bater e os vizinhos começou a aglomerar gente, chegou bombeiro, tiraram a janela do lugar, arrancaram a janela e eu não… mexeu em mim, eu não acordava, quando minha mãe entrou e fez: “Victor”, minha mãe deu um grito, eu olhei e fiz: “Mãe, ganhei um tênis” (risos), minha mãe queria me matar, porque a única coisa… eu não tava ouvindo nada, eu olhei, tinha bombeiro, um monte de gente, eu não entendi nada e eu: “Só ganhei um tênis, gente”. Mas eu tenho um sono muito pesado. Eu lembro dessas coisas assim, da infância. Era muito divertido. Eu gostava muito. Eu fazia muito as mesmas coisas, mas eu era muito feliz fazendo as mesmas coisas.
P/1 – E a relação com os seus irmãos?
PAUSA
R – Apesar de ser mais velhos, né, são três anos de diferença de um pro outro, sou o caçula. Com o meu irmão, eu via mais, porque meu irmão, é um menino e aí, a gente ficava muito jogando bola junto, saía junto, brincava junto. Com a minha irmã era muito presente em casa, mas era mais distante na rua, né, eu não tinha tanto contato com ela quando eu saía de casa pra brincar e tudo mais. Mas eu lembro que a gente brincava muito, assim, eram muitas crianças, a gente brincava dos mesmos jogos, sempre: esconde-esconde, pega-pega, a gente brincava de um jogo chamado Pé na Lata, isso a gente brincava muito. Botava uma garrafa… é tipo um esconde-esconde com uma lata, aí o cara chutava a lata, ia longe pra caramba, aí tinha que pegar e todo mundo se escondia e isso a gente brincava todo dia! Eu lembro da minha infância que eu brincava todo dia de Pé na Lata, todo dia, todo dia e hoje, a gente não vê mais isso, né? A gente não vê mais, as crianças são muito ligadas… a violência, um pouquinho, né, também deixou os pais meio receosos, que nem, o meu pai deixava eu brincar na rua, ficar o dia inteiro na rua. Eu não deixo minha filha ficar o dia inteiro, eu não deixo nem minha filha sair na rua (risos). Eu deixo ela só no condomínio, assim, vai descer pra brincar e eu tenho que tá junto, que a gente vai ficando com medo, né, vai ficando meio bundão, né, essa é a palavra, talvez. meu pai deixava eu subir em árvore, eu lembro que… nossa, isso eu fazia muito, também. Tinha um abacateiro que era enorme… pô, abacateiro é grande, né? E eu subia no abacateiro, pegava abacate, a gente saía pra vender abacate no condomínio para as pessoas. Se a minha filha subir num abacateiro, ela vai tomar um bronca, porque é um abacateiro, gente! Como que um pai; eu falo isso pro meu pai hoje: “Pai, eu subia num abacateiro, como que você deixava eu subir num abacateiro?” “Eu não via, você tava na rua”, então hoje em dia, os pais estão muito mais próximos, eu acho, ali por uma questão de mundo, né?
P/1 – Ah, mas também blinda muito, né?
R – A gente blinda muito! A gente blinda eles e se blinda, porque eu por exemplo, eu tinha muita vontade de fazer muitas coisas, tipo, pular de bungee jump, pular de paraquedas que hoje em dia eu não quero maios fazer, não. Depois que eu virei pai, eu virei um cagão, eu tenho medo. mas a gente blinda muito eles, eu ainda deixo minhas filhas fazerem coisas assim, mas minha mãe, minha mãe vê minha filha descendo a escada: “Gente, essa menina tá descendo a escada”, eu falo: ‘Mãe, ela tem cinco anos, essa menina já anda desde de um, tá há quatro anos andando aí, não é difícil.", mas a gente fica com mais medo, assim.
P/1 – E na escola?
R – Cara, eu sempre fui um bom aluno e nunca fui um aluno estudioso, estudioso, mas eu sempre fui um bom aluno. Eu nunca fiquei de recuperação, já tirei muita nota vermelha, colava muito, isso, eu colava muito. Sempre me achei malandrão por colar, né?
P/1 – E alguma vez, assim, alguém te pegou? Professor te pegou?
R – Não, não pegava, nunca pegava. Não sei, eu acho que eu nunca fui pego colando, mas eu colava principalmente em inglês, inglês, eu passei os três últimos anos da escola da minha vida tirando as maiores notas e eu não sei inglês até hoje, porque tinha uma menina do meu lado que fazia muito inglês muito! Eu olhava, que as cadeiras eram juntinhas, sabe? A professora só dava uma licencinha… eu colava muito, mas eu era um bom aluno, eu sei… eu me considero um cara muito bom de conhecimentos gerais, assim, sei muita coisa de Geografia, sei muita coisa de Biologia, sei muita coisa de Português, mas eu nunca fui um péssimo aluno, nunca fiquei em recuperação. Aprontava muito na escola, a gente levava uma… olha a ideia, né? A gente levava uma sanduicheira para a escola, aí um levava a sanduicheira, outro levava pão, outro levava queijo, outro levava presunto, um levava Coca e a gente ia botando tudo e comia, fazia… todo dia era isso, era muito legal. Tem uma coisa na escola que me marcou muito que me marca até hoje, assim, que éramos em quatro amigos, eu, Felipe, Caio e Gabriel, tenho muito contato com o Felipe hoje, com os outros dois, eu perdi o contato e tinha a coisa chamada rodizio da bolacha. Todo mundo levava segunda, terça, quarta e quinta. Cada um levava um abolacha para a escola, cada dia um levava e a gente dividia, eram três bolachas para cada um e eles tinham dinheiro na época, eu não tinha dinheiro, então no dia deles, eles levavam Trakinas, eles levavam Passatempo e no meu dia eu levava bolacha de água e sal, levava bolacha de maizena e aí, dois deles começaram a me zoar assim, sabe? E começaram a reclamar: “Pô, no dia do cara, o cara traz a bolacha ruim, no nosso dia é só bolacha boa”. E eles queriam me tirar do rodizio da bolacha. Aí, o Felipe que hoje é meu amigo, meu irmão que sempre foi da vida, ele começou a levar bolacha no meu dia e no dia dele. Aí, ele me dava escondido e eu levava a bolacha no dia pra eu poder dividir ali e o Felipe, pô, é meu amigo até hoje, eu sou muito grato a ele por isso e eu falo que eu tenho muita vontade de ter o projeto chamado “Projeto Bolacha”, que leva bolacha recheada para quem não tem dinheiro para comer bolacha recheada. É um negócio tão bobo, né, mas faz muita diferença, pra mim fez muita diferença. Eu lembro de uma vez que eu briguei com a minha irmã por causa disso, a minha irmã começou a trabalhar, comprou a Passatempo e escondeu a Passatempo e eu achei a Passatempo. Aí de raiva, eu comi a Passatempo inteirinha, aí até hoje ela fica: “Quem comeu a Passatempo?”, eu não revelo, tô revelando agora, mas eu não revelo pra ela (risos). Eu comi a Passatempo inteirinha, ela sempre fica: “Quando eu tiver no leito de morte, eu quero que alguém me chame e fale: ‘Eu comi a Passatempo’”, e agora eu tô contando, eu comi a Passatempo (risos).
P/2 – Você levou já… você levava muita advertência, suspensão?
R – Levava… suspensão não, advertência sim. Eu sempre fui muito folgado, eu não gosto de receber ordem em lugar nenhum, eu gosto de receber ordem. Não admito alguém falando mais alto comigo, não admito alguém que acha que tem mais autoridade do que eu, e que talvez, até tenha, tipo um professor para me dar ordem e eu retruco muito. Eu retruco qualquer pessoa, qualquer pessoa, eu retruco, não interessa quem for. Qualquer pessoa eu retruco, se eu acho que eu tô certo, eu não estou certo, se eu acho que eu estou certo, eu retruco qualquer pessoa. E eu tomava muita advertência. Meu pai foi na escola… já foi o meu pai, já foi minha mãe, já foi minha irmã, já foi minha tia, chegou uma hora que eles cansavam, assim. E a diretora falava: “Gente, mas ele é tão bom aluno e ele não consegue se comportar?”, meu pai falava: “Não, ele não consegue”.
P/2 – E você era muito palhaço, assim, também?
R – Sempre fui. Eu sempre gostei de fazer as pessoas darem risada, sempre, sempre, sempre, sempre… eu achava isso muito legal, muito legal.
P/3 – Desculpa, você pode repetir isso de novo? Mas quando você for responder, você pode incluir na resposta: “Eu sempre fui palhaço desde…”?
R – Tá.
P/3 – Obrigada. Pode começar.
R – Eu sempre fui muito palhaço, desde a época de escola, eu sempre fui muito palhaço, eu gostava de divertir as pessoas. Eu achava engraçado que as pessoas olhassem pra mim, que elas dessem risada. Eu nem pensava em ser comediante antes, não, mas eu… tem uma passagem muito legal na minha vida que foi a que talvez queira eu fazer virar humorista. Tinha uma novela na Globo que chamava “Kubanacan” e o personagem do Vladimir Brichta fazia um magnata, um cara, um putão assim, e toda vez, ele entrava num prostibulo na novela, ele dava um chute na porta e entrava uma música: [cantando música], uma música caribenha, aí ele passava a mão no cavanhaque, passava a mão no cabelo, assim, abria os braços, vinha um monte de mulher abraçando ele e ele entrava na novela. Isso ele sempre fazia na novela e eu comecei a fazer isso na escola. Eu entrava na sala de aula dando um chute na porta “boom” e as pessoas riam muito com isso. E ali, eu senti esse gosto, ali eu senti esse bichinho da risada: ei, isso é gostoso, as pessoas estão dando risada de mim, isso é gostoso. Ai, no terceiro ano, a gente fez “Macunaíma”, uma peça, né, essas peças de final de ano em escolas, e eu fiz o Mario de Andrade e eu reescrevi “Macunaíma”, então, tem uma passagem de “Macunaíma” que Macunaíma mata o boto, né, que é um animal sagrado para a tribo e chega o diluvio, tudo mais e Macunaíma mata muitos animais, né, ele é um caçador, ele é um índio caçador, um cara da floresta e tem uma hora que ele mata um veado e na peça, quando ele matava um veado, entrava um cara de patuá e tudo mais, não era o bicho, né? Era um cara, era um veadinho e aí, as pessoas riram, o professor de português odiou, mas a gente se divertiu muito, então pra mim, ali começou a coisa do humor, que eu não queria mais seguir a vida tal correta como ela era. Pra mim, ali o humor já era fundamental. Foi quando eu fui trabalhar de palhaço no Habib’s, pode falar marca?
P/1 – Pode.
R – Foi quando eu fui trabalhar de palhaço e aí, eu fui fazendo shows, fui trabalhar de Pikachu depois num buffet, eu era o Pikachu, cara, era muito doido, assim, e eu só podia falar: “Pika, Pika”, e eu só podia falar isso, então, qualquer coisa, era: “Pika, Pika”, e era muito legal isso e foi quando eu comecei a me interessar pelo stand up, comecei a assistir, eu não tinha dinheiro, eu ia a pé para os shows, andando, seis horas andando, eu ia a pé e voltava a pé. E era muito legal isso. Esse processo todo pra mim foi muito de amadurecer, porque eu fui um dos poucos comediantes que não quis sair fazendo comédia stand up. Eu quis assistir primeiro, então eu fiquei seis meses indo quase todo dia assistir comédia stand up. Eu fiquei magro, porque eu andava muito e eu ia anotando tudo que as pessoas falavam, tudo, tudo. Até um dia que eu escrevi cinco minutos e fui me apresentar, e foi muito legal. Foi num aniversário… eu fui fazer 19 anos e a Nany People me chamou, eu fui num show que era com a Nany e eu falei pra Nany: “Eu quero fazer isso que você faz”, ai a Nany People falou: “Você quer ser drag?”, eu falei: “Não, eu quero ser comediante de stand up”, aí ela falou: “Então, sobe no palco e vem fazer cinco minutos”, de surpresa. Aí, eu fiz, aí tava nesse show Danilo Gentili, Bruno Motta, Nany People. Aí, esses três começaram a me dar muito apoio, aí me inscrevi num concurso na Record por causa do Rica, um produtor que tem aqui em São Paulo da ____00:18:33____, e ele falou: “Cara, vai lá, se inscreve, tudo mais”, eu falei: “Cara, eu não quero ir, porque é concurso, eu nem sei” “Cara, pagam 500 reais de cachê”, e 500 reais era o que eu ganhava no mês. Eu falei: “Então eu vou”. Aí fui, passei da primeira fase, aí ele falou: “Cara, vai ganhar mais 500 reais” “Como assim, eu vou ganhar mais 500 reais?”, aí passei de novo: “Cara, vai ganhar mais 500 reais”, comecei a me inscrever… cheguei na final, quando eu cheguei na final, valia dez mil reais. Aí, eu falei: “Mano, eu tenho que ganhar isso, cara, eu tenho que ganhar”. Aí, comecei a escrever, escrever, cheguei na final, eu ganhei os dez mil reais, nossa, eu chorava, aquele cheque gigante, sabe? A plateia: “Ele merece”, parecia que eu tinha ganhado um micro ondas no Silvio Santos, sabe? E a galera e eu comemorava assim e foi muito legal. Aí depois, teve uma super final que valia mais dez mil reais e mais uma moto, aí eu falei: “Mano, eu vou entrar de novo”, aí entrei e ganhei de novo. Aí, porra, eu corria, parecia o Pelé dando um soco, dava soco no ar… e dali, as coisas começaram a acontecer muito rápido pra mim, muito rápido, numa velocidade que me assustou, porque eu sai dali, o Comédia em Pé que foi o primeiro grupo de comédia do país me chamou, me levou para o Rio de Janeiro e eu comecei a fazer stand up, aí eu conheci uma menina aqui em São Paulo, a Aline Finatti, em dois meses… eu conheci a Aline, me encantei por ela, a Aline engravidou com dois meses juntos, a Aline engravidou e eu me desesperei, eu lembro que ela falou: “Victor, o que você acha da gente ter um filho?”, eu falei: “Você tá louca? Isso ia acabar com a minha vida”, ela: [som de assustada] “Você tá grávida?” [som de assustada], então é isso, né, um filho, uma filha. E aí, veio a Serena que é a minha primeira filha, né, Serena nasceu muito ruim de saúde. Serena nasceu com um quilo e meio, 40 centímetros, magra, não tinha um musculo no corpo, era só osso…
PAUSA
R – Voltando um pouquinho antes, quando eu entrei nesse concurso, eu fui passando de fase e eu não sabia muito o que falar, porque a comédia stand up é diferente, eu tava concorrendo com cara que não era só comediante stand up, tinha o personagem, tinha oi cara nordestino que contava piada, então esse cara entrava na internet, pegava a piada e adaptava, eu não, eu tinha que contar alguma coisa e foi aí que eu comecei a contar histórias da minha vida, coisas da minha vida, era um programa da Ana Hickmann e eu lembro que uma das coisas que eu contei no programa, que eu sempre conto nos shows é que as pessoas não queriam saber se eu tava participando, as pessoas queriam saber da Ana Hickmann. Então, eu falava pro meu tio: “Tio, tô gravando Ana Hickmann” ‘Como ela é? Como ela é? Ela é gostosa? Ana Hickmann é gostosa?” “Tô lá no programa, ganhei dez mil”, ele: “É, mas e a Ana Hickmann, ela é gostosa? Como ela é?”, então o que as pessoas me contavam na rua, eu contava para a Ana Hickmann, eu contava no palco isso e tudo que eu conto até hoje no stand up é tudo verdade. os meus roteiros são baseados na minha vida, 100% da minha vida, que eu acho que quando a gente conta uma coisa que a gente vive nessa lente de aumento, fica muito engraçado e foi assim que eu fui ganhando os shows, foi assim que eu fui passando de fase e foi assim que eu fui levando e a minha vida toda, a comédia na minha vida foi mudada através da minha vida. Foi tudo muito rápido, eu tava aqui em São Paulo, com 19 anos, aí eu conheci a Aline, Aline Finatti, minha ex-esposa, agora, e foi muito legal, porque eu conheci a Aline, a gente era dois jovens e tal e a gente só queria saber de transar, só queria saber de um fazer o outro feliz, eu tinha saído de um relacionamento ruim, ela também, e aí, veio a Serena. E aí, veio o primeiro soco que eu tomei, né, poom: “Tô gravida”, daí, tal, aí: “Quer vim morar no Rio de janeiro comigo?”, imagina um moleque que não tem dinheiro pra nada, não trabalhava com televisão, não trabalhava com nada, falei: “Quer vir morar…”, ela falou: “Quero”, aí ela foi. Eu aluguei um apartamento muito pequeno no Rio de Janeiro, tinha um colchão inflável que a Aline não conseguia dormir no colchão inflável porque ela tava grávida, ela dormia no chão, num cobertor que eu não tinha dinheiro. E aí, um dia eu cheguei no teatro, eu contei isso no teatro, contei da serena, contei que tava muito caro, porque na época eu falava que era muito caro ter um filho, que eu fui comprar um carrinho de bebê normal, carrinho normal, perguntei: “Quanto tá o carrinho?”, ela falou: “Dois mil reais” “Mas tá com o IPVA pago, já, inversão embutido nesse carrinho? Dois mil reais?”, e eu contei isso no teatro. Tinha um diretor na plateia chamado Calvito Leal e o Calvito através do Claudio Torres Gonzaga que é o meu mestre em stand up, é o cara que me ajudou no Comédia em Pé, o Calvito tava fazendo um documentário na Globo sobre pais anônimos e pais famosos e ele falou: ‘Pô, você não quer ser um pai anônimo aí, cara, com a gente?” “Vão bora”, aí eu fui e gravei um quadro no “Fantástico” com ele, esse cara, o Calvito Leal virou o diretor de Fátima Bernardes, isso num período de seis meses, do Habib’s para a Fatima Bernardes. Aí, esse cara virou diretor da Fátima, estavam montando um programa e a Fátima falou: “Cara, eu preciso de m comediante”, o Calvito falou: “Eu tenho um pra te mostrar”, e mostrou um vídeo meu pra ela, ela falou: “É esse cara que eu quero”, pior escolha da vida de Fátima Bernardes (risos) no programa. Aí, me contrataram. Então, do Habib’s até a Fátima Bernardes foram… um período de seis meses a um ano, foi tudo muito rápido, de palhaço do Habib’s ao repórter da maior jornalista do Brasil. Foi tudo muito rápido, tudo isso por causa da Serena, porque eu falei da Serena no palco. Então, quando eu me desesperei, a Serena só foi me trazendo coisa, a Serena é a maior alegria da minha vida, assim, né? Tem a Bela que é a minha outra alegria que veio mais pra frente, mas a Serena, ela mudou a minha vida radicalmente. E aí, eu casei com a Aline, fui muito feliz durante sete anos com a Aline e cara, foi muito legal esse tempo todo aí. Fui trabalhar na televisão, fiz os programas que eu mais amei, fiz o “Esquenta”, conheci muita gente no “Esquenta”, sou muito fã de pagode…
P/1 – Pode falar de algum episódio, assim, que te marcou bastante, específico, por exemplo, do “Esquenta”, assim?
R – Sim, tem um monte. Eu vou contar, então, vários. Fátima Bernardes, eu trabalhava com Fátima, menino, eu não sabia me comportar, era ao vivo, é a Globo, dez e quarenta da manhã e eu realmente falava coisas muito fora de hora, porque eu não sabia me comportar, realmente, num programa ao vivo. Aí, a Fátima uma vez veio falar comigo, falou: “Victor, olha só, brinca nos assuntos leves, assim. O programa tem umas pautas muito pesadas às vezes que você não precisa falar, você só brinca nos assuntos leves. Nos assuntos pesados, você fica quieto”, falei: “Ok”, e aí, a gente foi para o programa. No programa, tinha um cara que foi soterrado por um caminhão de laranja, o cara ficou cinco dias só comendo laranja. Eu juro, eu tava quieto. Aí a Fátima vira pra mim e pergunta: “Victor, o que você acha?”, falei: “Eu acho que de gripe ele não morre, Fátima” “Obrigada, próximo convidado agora”, mudou-se o assunto do programa, né? E meu, eu não sabia me comportar, eu sou muito maluco, assim. No “Esquenta”, nossa, tem várias coisas, cara. Puta, eu adorava fazer Fátima, teve um link, a gente tava ao vivo aqui, Corinthians e Boca Juniors, final da Libertadores, Corinthians não tinha ganho uma Libertadores ainda na vida, Corinthians tava na final, tinha acabado os ingressos, sou muito corintiano, falei pra Fátima no camarim: “O Ronaldo Fenômeno vai estar no programa, eu vou pedir ingresso par ele”, a Fátima falou: “Victor, não peça ingresso para ele, porque você…”, a Fátima é uma mãe, assim, né? “Você tem que se comportar como artista, porque você tá na Rede Globo, você não pode mendigar as coisas pras pessoas, as pessoas têm que te dar, você não tem que pedir”, falei: “Ok”, chegou no programa, eu falei: “Ronaldo, me dá uns ingressos aí pro jogo?”, a cara dela, ela tava assim, ela fez assim, aí ele: “Pô, cara, ingresso eu não tenho” “Então, me dá umas credenciais aí que a gente vai lá gravar”, aí ele me deu cinco credenciais. A gente foi gravar no outro dia, a Fátima falou: “Você vai, mas vai trabalhar, vai entrar ao vivo aqui no programa”, e esse é o vídeo que eu mais gosto na minha vida. Eu entro ao vivo no programa da Fátima e a Globo tem todo um padrão de jornalismo, né, microfone na mão, falar certinho, aí no final, tem que falar: “Victor Sarro do Viaduto do Chá, vai daí Fátima”, para eles saberem os cortes. Quando eu tô lá, eu chego e falo: “Fátima Bernardes, eu tô aqui no Viaduto do Chá, o fluxo tá muito intenso de pessoas aqui dentro e eu, hoje, tô aqui na função de jornalista, Fátima, então, eu aprendi com você que a gente tem que ser muito imparcial, a gente não pode torcer para um time, eu não posso torcer nem pro Boca Juniors e nem para o Corinthians, então eu quero saber das pessoas que estão aqui passando, quem vai ganhar, se é o Boca Juniors ou se é o Corinthians Paulista do meu coração”, e dei um grito, a torcida invadiu e começou: “Vai, Corinthians…”, eu só lembro de gritar: “Vai daí, Fátima Bernardes”, e quando corta pra ela, eu só ouço no ponto: “Se aprendeu comigo, eu sou uma péssima professora” (risos). E ali tava decretada a minha demissão do “Encontro”. Aí eu fui mandado embora, o pessoal não aguentou, falou; “Cara, esse cara é muito maluco, não dá pra segurar ele”, e aí, me botaram no “Esquenta”, onde eu fiquei dois anos. “Esquenta” é um programa divertido, funk, música, pagode, eu lembro que era só uma festa. Foi a época mais feliz da minha vida, porque eu ia pra um programa onde tinha o Péricles, Arlindo Cruz, Mumuzinho e um monte de cantor, Ivete Sangalo, um monte de gente, eu ia lá gravar, ficava brincando, saía, ia fazer o stand up, que é outra coisa que eu amo no Comédia em Pé e eu ganhava dinheiro pra fazer isso. Eu comecei a ganhar dinheiro que eu nunca vi na vida, né? Ganhava 600 reais no Habib’s, entrei na Globo, comecei a fazer show, comecei a ganhar tipo mil vezes mais. E comecei a torrar dinheiro. Comecei a comprar comida, engordei dez quilos, porque antes, eu queria comer uma lasanha, não tinha, comia uma coxinha. Agora, eu queria comer lasanha, duas. E comecei a comer, a comer, a comer muito, hoje eu gasto muito dinheiro com comida, muito, muito.
P/1 – Continua então?
R – Eu continuo gastando muito dinheiro com comida porque eu como tudo que eu quero, tudo que eu tenho muita vontade, eu como assim, de doce que o meu pai não comprava. Tem um episódio que eu falo até hoje que eu lembro uma vez que eu tava no caixa do supermercado e o meu pai… meu pai não tinha dinheiro para comprar luxo, não tinha luxo em casa e ele… eu comia muita farinha láctea, e o meu pai… passou, passou, passou e ele não tinha dinheiro para pagar tudo, aí teve que tirar alguma coisa do carrinho, aí ele tirou a farinha láctea, aí eu fiquei muito puto! Imagina, um moleque, nove, dez anos de idade perdendo a farinha láctea? Comecei a brigar, a xingar e eu lembro que ele me pegou no barco e me pegou muito forte no meu braço, ele me olhou e falou assim: “Se eu comprara a sua farinha láctea, eu não compro arroz para essa casa”, aí eu engoli o choro e aquilo ecoa muito granbde na minha mente, porque hoje eu tenho dinheiro, hoje eu posso comprar quantas farinhas lácteas eu quiser e eu não compro, eu não compro em respeito a ele, eu não compro.
P/1 – É mesmo?
R – E eu não vou mais comprar, nunca mais na minha vida. Eu nunca mais vou comprar. Porque o meu pai é o maior exemplo de superação pra mim. Era um cara que eu tinha muita vergonha, bebia muito, muito, muito, muito… tinha muita vergonha do meu pai, meu pai… não me lembro de nada dele presente na minha vida na minha adolescência, lembro dele em casa, mas não lembro dele… normal, lembro… as coisas que eu lembro do meu pai na adolescência é o meu pai bêbado, meu pai bêbado nas festas, meu pai vomitando na rua, meu pai passando mal de manhã, meu pai bebendo cedo, meu pai bebendo de noite, eu lembro do meu pai bebendo muito. E eu tinha muita vergonha disso e um dia, meu pai chegou em casa e falou: “Amanhã eu paro de beber”, e nunca mais bebeu.
P/1 – E parou mesmo?
R – Nunca mais. Nunca mais, hoje é o meu maior orgulho.
P/1 – E ele trabalhava com o quê?
R – Meu pai trabalhava na Telefônica, aí depois, ele perdeu o emprego na Telefônica, ele foi trabalhar vendendo fruta na rua, vendendo fruta e açaí e hoje, ele trabalha com a minha tia, mas tô louco pra roubar ele pra mim, quero muito falar: “Pai, vem trabalhar comigo”, quero que… qualquer coisa, quero que o meu pai…
P/1 – Você quer que ele faça o quê?
R – Eu quero que ele trabalhe comigo, que ele… não sei, qualquer coisa, que ele dirija o meu carro. “Pai, eu tô com preguiça, vamos dirigindo até…”, eu pego muita estrada: “Vamos comigo”, e eu quero que ele vá. Meu pai é muito cagão, nunca andou de avião, eu chamo ele pra viajar toda hora, ele não vai e eu quero muito que ele comece a viver um pouco mais da vida, sabe, meu pai nunca viajou, meu pai nunca curtiu. Eu já… tô sempre fazendo as minhas coisas, viajando, e ele nunca fez isso, então eu quero que ele comece a fazer comigo.
P/1 – E depois que você começou a ganhar melhor, qual que foi a primeira coisa que você comprou que te deu muito prazer, assim?
R – Um sofá (risos). Um sofá, cara, eu tenho um sofá hoje enorme, eu tenho um sofá de três metros, eu tenho um sofá que é muito… esse sofá me dá muito prazer, porque na minha casa éramos em cinco. Somos em cinco, né, é que não moramos mais juntos, mas meu pai comprou um sofá… o sofá da minha casa era ruim, ruim, ruim e o meu pai comprou um sofá novo e ele não deixava eu deitar no sofá de jeito nenhum, porque minha mãe falava: “Vai deformar o sofá”, coisa de pobre, né? “Vai deformar o sofá. não deita no sofá que vai deformar o sofá”. E uma vez eu tava deitado e meu pai chegou e falou: “Levanta que eu quero deitar”, eu falei: “Também não vai deitar no sofá, não” “O sofá é meu…” “Não não vai deitar no sofá” “Levanta daí que no sofá não tá escrito o seu nome”, e no outro dia, tava, que eu escrevi o meu nome no sofá com canetinha, sofá novinho. Sofá novinho, eu escrevi Victor, Victor, Victor… e eu acho que é muito novo, né, mas eu acho que o sofá foi uma das coisas que eu fiquei mais feliz quando eu comprei, eu deito nele inteirinho, assim. Ele é retrátil assim, eu encosto a cabeça assim, nele. Mas tem muitas coisas que eu gosto. Eu gosto muito do meu videogame, eu tenho um videogame novo e coisas que eu lembro que eu tinha… tudo que eu tinha era o que eu ganhava de alguém que tinha um melhor. Comprei um melhor, dá pra esse garoto aqui. Dá esse ruinzinho pra ele. Então… eu acho que bens materiais pra mim… eu tenho um apartamento hoje, comprei um apartamento, tô perdendo metade na separação, é… tenho um apartamento, tenho carro, mas nada disso me faz tão feliz quanto essas boberinhas, sabe? Quanto comprar um sofá, quanto comprar um tênis… pô, o dia que eu comprei um tênis de marca, meu! Malandro, eu fiquei um ano usando só o mesmo tênis, porque pô, todos os meus amigos tinham tênis de marca e eu não tinha, né? Meu tênis era do camelô, meu tênis era o mais baratinho. Quando eu comprei o meu primeiro tênis de marca… eu sou muito mão de vaca, eu sou muito pão duro, muito, muito, tem um episodio que eu (risos), eu não compro roupa cara, sou muito contra e eu decidi me dar uma jaqueta de couro de presente, 400 reais a jaqueta e eu comprei, botei a jaqueta, foda, tô de jaqueta de couro. Aí, tava com cheiro de novo, sabe, falei: “Vou lavar”, não sabia o que era, lavei, não pode lavar couro, estragou. O que eu chorava: ‘Eu não acredito, eu paguei 400 reais na jaqueta”, a mulher falava: ‘Victor, mas é normal” “Não, com esse preço da jaqueta eu comprava 20 camisetas” ‘Victor, mas é normal, você trabalha muito, você gasta muito dinheiro pra isso, cara, você ganha muito dinheiro pra isso, pra gastar” e eu: “Eu não quero, eu quero a jaqueta”, e eu chorei, eu nunca mais comprei uma jaqueta de couro na vida, nunca mais. Nunca mais.
P/2 – Qual foi a coisa mais inusitada e diferente que você comprou?
R – Ah cara, eu compro muita… eu compro arma que atira ketchup, eu sou esse cara, entendeu? Eu compro coisa assim, eu fui para o Japão no ano passado a trabalho, eu voltei cheio de coisa que não tem necessidade, tá ligado? Tenho uma tesoura pizza pra cortar pizza, você corta a pizza na tesoura, você corta e já fica pronto. Tem um monte de coisa que não tem a menor necessidade e eu gosto disso, entendeu? Tenho aquele óculos que você passa liquido assim no óculos, eu sou esse cara e eu continuo a mesma pessoa. São coisas que eu tinha vontade de ter que eu não tinha, meu pai não tinha dinheiro para comprar e hoje eu tenho. Tipo, eu tenho uma arma que atira ketchup, eu tenho forminhas de gelo divertidas, então são coisas que eu vejo e eu compro e é muito bobo. A minha felicidade tá muito nas pequenas coisinhas, sabe? Eu passei um tempo… eu vivo só para a minha família, hoje eu tenho duas filhas, acabei de divorciar, faz pouquíssimo tempo que eu me divorciei e eu tô um pouco perdido, ainda na vida, sabe? Porque eu tô acostumando de cuidar de todo mundo e eu não sei cuidar de mim, eu se ser cuidado, né, que é uma troca, eu cuidava e era cuidado e agora, eu tô um pouco perdido, ainda, mas a minha felicidade vem desses pequenos momentos, sabe, quando eu tô no palco fazendo stand up, sou muito feliz.
P/1 – Como que é essa sensação?
R – Cara, é…
P/1 – Conta um pouquinho.
R – É a minha droga. Estar no palco é o meu vicio, é a minha dependência total, porque eu preciso estar no palco, eu preciso estar no palco. Se não vai me dar dinheiro, não me interessa, eu preciso estar no palco. Final de ano pra mim, toda vez que chega dezembro pra mim é um transtorno, porque eu sei que eu vou ter que parar de trabalhar no dia 25 até o dia quatro esses dias são os dias mais insuportáveis da minha vida. Eu amo o meu trabalho, eu batalhei muito pra ter esse trabalho. Hoje, eu tenho muito respeito na arte que eu faço, as pessoas gostam do meu show, as pessoas vão no meu show assistir, que é o mais difícil e eu não consigo viver sem. Eu não consigo parar a minha vida para viver uma coisa mais legal. Por exemplo, minha ex-mulher foi embora, não aguentou o tranco. “Mas não dá para parar 15 dias pra viajar?” Eu não consigo.
P/1 – O quê que você sente?
R – Eu me sinto poderoso, eu me sinto o homem mais poderoso do mundo. Eu sinto que ali, ninguém me derruba, eu sinto que ali não existe tristeza. Estar no palco para mim me transforma no cara que eu quero ser. Eu quero ser poderoso e mudar a vida das pessoas, eu quero fazer isso, sabe? Eu sei que é… eu faço muita coisa beneficente, assim, de… uma coisa que eu tô fazendo ultimamente é ir em presídios, né? Tô indo em Fundações Casa, de jovens que estão presos, e eu vejo que isso pode mudar, mas estar no palco, para mim, me dá uma coisa. cada aplauso das pessoas, tem piada que eu faço, que as pessoas aplaudem, que eu paro, que me levam pra um outro mundo, parece que o mundo para naqueles três segundos de aplauso que eu vou pra outro lugar: “Obrigado senhor”, e eu volto, e eu volto grande, quanto mais eu vou crescendo no show, mais eu vou me empolgando, mais eu vou extravasando, é como se fosse uma droga, mesmo, como se fosse uma droga que eu provo e eu quero mais, eu quero mais, eu quero mais, eu quero fazer isso todo dia, e quanto mais eu tenho mais, mais eu quero… e não é ambição por dinheiro, porque eu não quero ter dinheiro, eu não quero ter dinheiro para ter dinheiro para ter dinheiro, não é dinheiro a minha pegada. Não quero ter um jato, não quero ter um helicóptero. Eu quero ter as coisas que eu quero ter, sacou? Eu não quero ir para Cancun. Eu quero fazer show em Cancun, você entendeu? Eu não quero estar no Japão, eu quero fazer show no Japão.
P/1 – E como foi fazer show no Japão?
R – Cara, é incrível! Pra mim, é tudo muito incrível!
P/1 – Conta detalhadamente.
R – A viagem é muito longa, 34 horas, muito longa! São 32 horas de viagem, é muito longa, então você dorme, você acorda, você vê filme, você dorme, você vê outro filme, você levanta, você estica e chegando lá, os brasileiros que estão no Japão são muito carentes também, né, porque eles têm uma vida melhor, sim, financeira, mas eles trabalham muito, trabalham 12 horas por dia, então, eles me deram muito carinho, muito, muito, muito carinho. Então, a gente vai se sentindo acolhido, né? Pô, eu tô do outro lado do mundo e as pessoas estão me amando. Eu acho que é uma coisa emocional que a gente tem, eu sou amado do outro lado do mundo! As pessoas vão no meu show do outro lado do mundo, no Japão, cara! Meu Deus! Eu penso: Victor Sarro, você era palhaço, como que você tá no Japão?
P/2 – E como é que as pessoas entendiam?
R – Tudo em português, a gente só faz show para brasileiro, que a comunidade brasileira é muito grande lá e a gente vai fazendo show e eles vão vindo, eles vão aplaudindo e eles são cada vez mais quentes porque eles sentem falta do Brasil e a gente vai falando coisas que estão acontecendo aqui e eles vão se divertindo lá, é muito emocionante, cara! A minha vida todo dia é uma emoção diferente, porque ainda sinto aquele frio na barriga, porque eu quero entrar no palco, eu quero que as pessoas deem muita risada! O meu objetivo na vida é esse, que as pessoas sejam, muito felizes. Eu queria muito fazer uma faculdade de Psicologia pra ajudar as… mas não tenho tempo, porque a minha forma de Psicologia é outra. Eu quero estar no palco, então isso hoje pra mim é muito importante. Eu trocaria muitas coisas pra estar no palco. Trocaria… a saúde, às vezes, às vezes, eu tô mal, tô ruim, não quero ter saúde, eu quero estar no palco, entendeu? É muito errado o meu pensamento, talvez, mas pra mim é muito certo, que aquilo me faz muito feliz, o palco me cura de qualquer dor ou tristeza que eu tenho.
P/1 – E você tem alguma história de que você… você diz que o palco cura você de qualquer tristeza que você tenha, de que você no palco, atuando cura a tristeza de outra pessoa?
R – Não, tem muita… agora, recentemente, eu me separei, sete anos juntos da mulher que eu amo e vou amar para o resto da minha vida, é sem dúvida, a mulher que me fez mais feliz, me deu duas filhas, sou muito grato, escolhi como mãe, ela me escolheu como pai e até o fim da vida, vai ser a minha família, mesmo não estando comigo, vai ser minha família. Quando o casamento acabou, eu não esperava, foi agora, há dois meses atrás, eu não esperava. Então, ainda é muito novo, ainda fico muito triste, é uma porrada muito grande. No dia que terminou, eu tinha que fazer um show. Aí eu falei: “Pra quê que eu vou fazer esse show, cara? Por que eu vou fazer esse show? Como que eu vou levar alegria se eu não tô feliz?”. Aí, eu cheguei assim no teatro chorando muito porque a Aline, eu falo com muito orgulho dela, ela é muito boa mãe, ela é uma pessoa que mudou minha vida, cuidou de mim nesses anos todos e tudo que eu tenho até hoje é o meu talento, é o meu trabalho e a Aline, sem dúvida, se ela não tivesse ali como base de sustentação, eu não teria absolutamente nada. Vou ter outra mulher, provavelmente, eu vou ter outra filha, eu vou ter outras pessoas, mas a Aline foi muito fundamental nesse período da minha vida. Quando ela foi embora, eu fiquei muito triste, muito mal e eu cheguei no palco, assim, eu não queria subir e aí, eu olhei assim a coxia, tava lotado o teatro, lotado, lotado. Eu falei: “Cara, eu tenho um compromisso com essas pessoas, né? As pessoas precisam estar ai”, aí eu subi no palco, fiz o meu show, muito bom, foi muito… um dos melhores shows que eu já fiz na vida, porque eu fui indo e eles vieram no calor comigo e no final, eu contei que tava me separando e aí, eles aplaudiram em pé, ali. E foi a partir daquele momento que eu reparei que a minha felicidade não tá nas coisas que eu compro, não tá no dinheiro que eu tenho, não tá em uma outra pessoa, a felicidade tá dentro de mim. Sou eu que vou determinar o que eu vou fazer da minha vida. Sou eu que vou determinar ser feliz. E aí, onde entram as duas opções de vida: ou eu vou sofrer pro resto da vida porque eu perdi o que eu tenho ou eu vou virar a pagina e vou seguir sorrindo pelo o que eu vou ter. E eu escolhi seguir sorrindo pelo o que eu vou ter. Então hoje, eu tenho duas filhas, a Serena e a bela, que são as coisas mais importantes da vida pra mim, atrelado a isso, tem a Aline que é a minha ex-mulher que é muito importante pra mim, que eu preciso que ela esteja bem pras minhas filhas estarem bem também, porque diretamente, ela tá cuidando delas, tem o meu pai e a minha mãe que são fundamentais, me ajudam muito e eu tenho toda uma estrutura de pessoas a minha volta que eu dependo, que dependem de mim e a gente tem um objetivo em comum que é levar alegria para todo mundo. Se a gente pudesse, a gente… eu queria que as pessoas… eu quero ser famoso só pra poder levar alegria para todo mundo, não quero ganhar as coisas de graça, não quero ir pra Ibiza curtir, não quero. Eu quero só que todo mundo conheça o meu trabalho pra todo mundo dar risada com o meu trabalho. É esse o meu principal objetivo de vida, hoje.
P/1 – E Victor, você falou que os teus roteiros se baseiam nos fatos reais.
R – Sim.
P/1 – Mas você cria em cima deles?
R – Então, tudo é a minha vida. Tudo que eu falo no palco é a minha vida, eu não tenho onde mentir, não tenho espaço… a comédia stand up, ela não tem espaço…
PAUSA
R – Então, os roteiros da minha vida são baseados em tudo que acontece comigo, de fato. Nós, comediantes, somos todos contadores de história e a história aconteceu. Eu me baseio muito em tudo, então, eu conto das minhas filhas, quando engravidou, conto de mulher, conto de tudo. Falo muito de música, as músicas que eu gosto de ouvir, falo sobre religião, a forma como eu fui tratado. Então, a gente cria em cima… na verdade, a gente não cria, a gente busca o melhor método de contar isso para as pessoas. Então, sempre falo… eu conto que a minha filha tomou um leite muito caro quando nasceu, que era o NAN que custa 80 reais a lata, você fala: “Meu Deus, 80 reais, por quê que chama NAN? Agora entendi, porque você pega e olha o preço e faz: ‘NAN’”, então essa é a forma de ser contada, mas não que tenha acontecido, eu pegar ter olhado o leite e ter feito “NAN”, mas aconteceu dela tomar o leite, esse primeiro start é o que veio na nossa vida é o que a gente conta, então agora eu tenho falado muito sobre a separação. Eu vou contando as coisas que estão acontecendo, vou contando: “Ela pediu a separação, eu fui no advogado, fiz isso…”, então a forma como você conta isso é que é muito divertido pra mim e é o que facilita a minha vida, porque então, eu tenho sempre que estar conhecendo gente nova, eu tenho que estar sempre fazendo algo diferente para eu ter cada vez mais histórias para eu contar, porque se você não vive, você não tem história. É aí onde eu decidi viver na alegria.
P/1 – E como foi entrar na Risadaria?
R – O Risadaria foi um dos projetos que mudou a minha vida financeiramente também e satisfação pessoal. O Risadaria, ele mudou a minha vida de um jeito, que eu pude realizar sonhos. Eu trabalhei com os maiores nomes da comédia, eu me tornei um dos maiores nomes da comédia no Risadaria. Eu sou muito grato ao Comédia em Pé por ter me dado toda base e estrutura que eu tenho hoje no stand up, mas o Risadaria permitiu eu fazer show com o Marco Luque, com o Leandro Hassum, com o Luiz Miranda, com o Carioca, com uma galera e eu pude viajar. O meu maior sonho quando eu entrei no… era viajar o Brasil fazendo show, e com o Risadaria, eu viajei, fiz 8 capitais, sei lá. Hoje, só falta o Acre pra mim, mas eu já fui em todos os lugares do Brasil, eu já fui em todas as capitais, tá faltando o Acre, alô Acre, se tiver alguém do Acre aí, leva nós! Porque é muito legal. Pra mim, é uma satisfação, estar no palco é muito importante pra mim., Estar aqui gravando é muito importante pra mim. Eu gosto disso, eu gosto de estar fazendo as coisas, entendeu? Por mais que eu esteja triste, por mais que eu esteja com qualquer problema, a comédia mudou a minha vida num grau que… talvez, eu tenha ouvido muitas vezes, que a gente não vai conseguir, a gente ouve muito isso, quando a gente começa. A gente ouve… que nem jogador de futebol: “É muita gente. É muita gente buscando esse sonho. Vai estudar, vai fazer uma faculdade, vai fazer isso”, mas a comédia stand up, ela me proporciona uma coisa que eu tenho que eu não consigo encontrar em outro lugar a não ser nas minhas filhas, que é a felicidade que eu tenho. A comédia me projeta muito, muito, muito. Me dá muita força pra eu não fazer nada, nada.
P/1 – Você acha que a pessoa, o comediante nasce um comediante ou ele pode se tornar comediante?
R – Eu acho que não, eu acho que a pessoa nasce, eu acho que tem muita gente boa escrevendo humor, mas eu acho que tem alguma coisa interna que desperta em você, porque o humor, ele não é fácil. Mas você tem que querer fazer, você tem que estar disposto. O humor é compromisso, o humor não é pra você, o humor é despertar o sentimento de alegria em outra pessoa, isso é humor, é por isso que você conta uma piada. Você não conta uma piada pra alguém porque você quer contar piada, você conta uma piada porque você quer que aquela pessoa dê risada. Então, eu acho que é essa a missão do comediante, fazer o outro rir, mesmo quando você não tá feliz, por isso que você é um comediante, acho que é essa a formula do sucesso, é esquecer todos os problemas e naquele momento você estar ali, então eu acho que a comédia é isso, você nasce comediante, você não vira comediante, você não se torna comediante. Você não se descobre comediante, você é comediante e ponto final. Você pode ser comediante não sendo comediante, você pode levar alegria para as pessoas de outra forma, você pode levar… vocês, vocês estar me gravando, essa história pode mudar a vida de alguém, alguém pode olhar e falar: “Quer saber? Vou ser feliz!”, isso aí, pronto, mudou a vida de alguém. Você fez comédia, você fez alguém rir.
P/3 – Você pode dar uma palhinha, assim, você disse que você leva para o palco situações da sua vida, né? Você poderia fazer uma… dar uma palhinha pra gente sobre isso que você falou tudo.
R – Claro, eu falo muita coisa. Deixa eu pensar… história pessoal…eu vou falando, eu falo coisas que eu falo no palco, eu falei coisa que eu falo no palco aqui também. Deixa eu ver…
P/1 – Ou então, a coisa mais engraçada que aconteceu na sua vida…
P/2 – Nossa!
P/3 – É!
R – Tem muita coisa. Eu gosto muito de brincar com aquilo que as pessoas não costumam brincar, né? Eu costumo muito dizer, porque as pessoas falam… o comediante fala muita coisa que não deve. E não é que a gente não fala o que não deve, a gente fala o que todo mundo pensa, mas não tem coragem de dizer, essa é a nossa verdade e na minha casa… eu conto muito isso no teatro, que na minha casa, eu cresci num tempo que não tinha o bullying, né, era só zoeira, então a gente botava muito apelido nas pessoas, eu tenho um tio que tomou um tiro na cara e ele fica assim, ó… a gente chama ele de pontaria, parece que ele tá sempre mirando em algo, sabe? E a gente bota algo na… a gente bota apelido nas pessoas. A minha irmã, eu brinco que a minha irmã é muito gorda e ela é muito gorda, mesmo, pesa mais de 120 quilos e eu nunca vou ficar expondo ela, mas procura no facebook dela, Jeissi Sarro, vocês vão ver, ela é bem gordinha, e ela faz uns barulho do nada, do nada, você fala: ‘E aí, tudo bem?” “Tudo. Ham” “O quê que é isso?” “Nada. Ham”, parece fome, então vai comer, né? A gente conta, conta muita coisa. Uma coisa engraçada que aconteceu foi um anão que chegou antes do show e falou pra mim: “Olha, se quiser, pode me zoar, porque eu sou anão, mas eu faço tudo que você faz” e eu falei: “Ah não, não faz. Toca aqui. No alto você não toca” (risos), então a gente vai contando isso de uma forma engraçada, eu vou contando coisas da minha vida. Eu falo muito das minhas filhas, isso é muito verdade, agora a minha filha… a escola ligou, o passeio da escola pediu dois cheques de 250 para o passeio, eu falei: “Mas ela vai pra Disney, já?” “Não pai, vai pra fazenda” “Fazenda da Record? Quintetos reais” “É pai, é caro, mas vai ter muita coisa pra fazer, vai tirar leite de vaca…” “Pô, por 500 reais, é a vaca do NAN que tá aí na fazenda, sai leite em pó da teta da vaca direto?”. Então eu vou contando muito isso. Conto da escolha dos nomes das minhas filhas. Eu tenho uma filha que chama Serena e uma que chama Bela. Então, eu não sei dar nome, é adjetivo, se eu tiver mais uma vai chamar Simpática, porque eu não sei botar nome nas crianças. E não fui eu que escolhi, eu queria Marina, mas minha mulher chegou e falou: “Carreguei nove meses e eu vou dar o nome que eu quiser pra essa criança” “Sim, mas tá 25 anos comigo e eu não falei nada, eu podia ter botado no lugar errado aí que também não ia ter filho, então tem que ter um pouco de respeito nisso”, e as pessoas dão muito palpite, a Serena, principalmente, as pessoas deram muito palpite. Minha mãe queria porque queria que chamasse Brenda: “Eu quero que chame Brenda” “Mãe, mas ela tá grávida de mim, não de um poodle, Brenda é nome de cachorro, não vai chamar Brenda”, então a gente vai contando, eu vou contando muito isso. É a minha vida exposta de um jeito que as pessoas conhecem e não acreditam. Eu digo isso… ah, uma outra coisa da Serena, eu não falei, a Serena ficou na UTI 15 dias quando nasceu, e eu não tinha convênio. E aí, no quarto dia, a medica chegou pra mim e falou assim: “Seu Victor, eu queria só dizer que a conta do senhor já tá em 25 mil reais”, eu falei: “Vinte e cinco o que, senhora?”, ela falou: “Vinte e cinco mil…” “Por que a minha conta tá em 25 mil?” “Um negocinho que a sua filha tá respirando” “Ela respirou um carro, né? São 25 mil. Ela tá respirando o quê?” “Oxigênio” “Mas oxigênio é de graça, isso tá no ar, eu tô te pagando, bota num saco aí, amarra”, e é muito caro, as coisas pras criança é muito… um berço, dois mil reais, falei: “Dois mil é o aluguel que eu tenho em casa, você não pode me cobrar isso”, e aí, eu vou contando coisas e aí, a conta ficou 80 mil reais. Eu lembro que ficou 80 mil… eu tô pagando até hoje, eu falo que é a minha filha, mas tá alienada a Pro Matre ainda, todo mês tem que pagar a criança, senão, vão dar busca e apreensão nela lá em casa (risos). Então eu acho que é um pouco disso, é levar as coisas tristes, que nem, foi um período muito triste. 15 dias de UTI na minha vida, era horrível! Mas levar isso… mudar para uma forma… ver o lado bom, é o famoso meio copo cheio, né? Eu sempre falo para a minha filha, a minha filha às vezes fica brava com algumas coisas, eu falo: “Filha, é a história de derramar meio café na minha camisa. Ou eu fico puto, vou lá e troco a camisa e vou trabalhar, ou eu só vou lá e troco a camisa e vou trabalhar”, o final é igual. O final da vida de todo mundo é igual, todo mundo vai morrer, todo mundo vai morrer, mas só nascimento até a morte, a gente precisa ver o que vai fazer, tem gente que não vive a vida, tem gente que morre sem viver a vida, tem gente que vive para os outros e hoje eu tenho falado uma frase que que é muito importante pra mim: eu cansei de matar um leão por dia, cansei. Agora eu já não deixo ela se aproximar, não espero nem ele chegar perto. Eu vou viver da forma mais feliz possível, independente se eu tô bem ou não. É pra isso que eu quero fazer comédia.
P/1 – Muito bom. Obrigada.
P/2 – Posso te dar um presente?
R – Pode, lógico.
P/2 – Vou te dar um presente, eu te dou, o que você passou pra mim eu vou passar. Vou fazer um improviso sobre a sua vida.
Victor Sarro, que com nome nasceu Sarro, seu pai se curou do álcool que é mais difícil do que se curar com o cigarro. A família dele é mais engraçada e pode curar até das dores do extermínio, ele aprontava com muitos amigos, pois tinham mais de mil apês no seu condomínio e olha essa história que viagem: ele jogou areia no carro e escondeu na dele na própria garagem, tomou uma surra e urra, ainda bem que essa coisa não acontece. Agradeço a Deus em prece por ter mudado o nosso mundo e ter mudado cada passo. Na escola, ele sempre foi um grande palhaço, recebia advertência e na usa essência da infância a adolescência, seu pai era chamado, era chamado, era chamado até que ficou cansado e ele viu que não tava errado, ele só era ele mesmo e seguindo assim a é mesmo, teve no próprio sonho, muita fé. E não era nem de carro, nem de ônibus, indo de marcha ré, ele ia pro show e voltava e era a pé. Até que indo no show, ele foi vendo que aquilo, verdadeiramente, a ele satisfaz. E para cada show que ele ia, ele ia ganhando 500 breais e quando ele viu, ele já ganhou o programa de TV e pra você ver, fez até piada com o Ronaldo e fez piada com o Corinthians paulista, pois queria ser artista e assim, assumiu o seu cheque de demissão, pois pra ele não vale nem mansão, nem carrão, o que vale, verdadeiramente, é o que alegra o seu coração. Agradeço a você porque nessa entrevista você veio, pois sempre vale olhar o meio copo cheio.
R – Olha, que legal!
[Palmas]
R – Muito bom! Eu quero ver isso depois, hein!
P/1 – Vocês dois, ó…
R – Que legal fazer esse projeto… muito legal fazer esse projeto, obrigado, de verdade!
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho, você já contou a tua historia assim em algum lugar?
R – Não, não. Não, assim…
P/1 – O que você achou? Fala um pouco o que você achou?
R – Assim tão detalhado, não. Foi… nossa, participar disso é uma timeline da minha vida assim muito forte, né, uma linha do tempo incrível! E é engraçado, né, antes de vir pra cá, eu tava pensando na minha vida assim, mas eu não conseguia lembrar muita coisa e agora eu fui falando e foi clareando tudo, né? E eu me peguei um pouco mal agradecido hoje, depois daqui agora, eu tô vendo que eu fui muito mal agradecido, eu tô cada vez mais mal agradecido… sabe quando você fica assim: “Hoje eu não tô num dia legal”? Pô, tô num dia legal pra caramba! Tô indo trabalhar com o que eu amo, tô indo fazer as coisas que eu amo e é muito legal, às vezes, a gente precisa desse start, né, de falar da nossa vida. Eu conheci o projeto através do Risadaria e é muito legal, nunca tinha contado minha vida assim pra ninguém e poder falar, botar pra fora te libera um espaço grande pra você viver mais coisas, sabe? E poder lembrar desse momento da minha infância, coisa que a gente não costuma lembrar, a gente costuma tanto viver o hoje, né, ou pensar no futuro, que às vezes, o passado é tão bom que a gente esquece. E agora eu tive essa horinha aqui pra pensar no meu passado, pensar de onde eu vim, pensar quem eu sou. É como se fosse olhar no retrovisor da vida, sabe? É olhar e falar: “Porra, olha o tanto que você já construiu”. Às vezes, a gente tá construindo um… a gente quer mais, né? A gente não vê tudo que a gente já construiu. Foi muito legal, eu tô muito emocionado de participar, e olhando assim, muda a vida mesmo, eu vou sair daqui com outro pensamento, querendo viver cada vez mais e pensando: porra, já construí muita coisa, bicho! Muito legal. Obrigado, só tenho a agradecer todo mundo.
P/1 – Nós que agradecemos.
P/3 – Obrigada.
R – Obrigado.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvida:
Aí, esses três começaram a me dar muito apoio, aí me inscrevi num concurso na Record por causa do Rica, um produtor que tem aqui em São Paulo da ____00:18:33____, e ele falou: “Cara, vai lá, se inscreve, tudo mais”, eu falei: “Cara, eu não quero ir, porque é concurso […] – Página 05.
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