IDENTIFICAÇÃO Sylvia Maria Couto dos Anjos. Eu nasci no Rio de Janeiro, no dia 19 de julho de 1957. INGRESSO NA PETROBRAS / TRABALHO FEMININO O meu ingresso na Petrobras foi logo que me formei. Eu me formei em Geologia aqui na Universidade do Fundão, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na época, o ingresso de mulher na Geologia, na Petrobras, era muito restrito. Só tinham duas vagas para mulheres. Tinham 80 vagas de Geologia, das quais só duas eram para mulher. Isso só foi possível porque, na época, o Cenpes falou que poderia ter mulher na Geologia. Então, foi um desafio muito grande porque eram muito poucas vagas. Mas eu tinha uma vontade enorme de trabalhar aqui porque já tinha feito um estágio e falei: “É lá que eu quero trabalhar” TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / BAHIA / CENPES Estágio. Fiz um estágio na Petrobras, na Exploração, no Laboratório de Rochas, lá em Botafogo, na rua General Polidoro, que depois voltou aqui para o Cenpes. Fiz um estágio lá, gostei muito e falei: “É lá que eu quero trabalhar.” Então, eu fiz um esforço muito grande. Falei: “Se tem duas, uma vaga é minha.” Eu me senti muito bem-vinda aqui na Petrobras. MUDANCA PARA A BAHIA Foi até uma surpresa Eu cheguei achando que fosse trabalhar no Cenpes, o meu nome não estava na lista, porque eu tinha que ir para a Bahia, a minha apresentação era na Bahia. Falei: “Meu Deus, tenho que ir para a Bahia Eu nunca saí do Rio” Dois dias depois, falei: “Ah, amanhã é aniversário da minha irmã, quero ir depois do aniversário dela.” Aí fui. Passei um ano na Bahia fazendo o treinamento e depois voltei pro Cenpes. O treinamento foi em Salvador, no Jequitá, fazendo o treinamento e fazendo os trabalhos de campo, indo pra sonda, fazendo todos os testes de perfilagem. Depois, viemos pro Cenpes fazer um período de estágio e então eu continuei aqui. Eu tive a opção de ficar lá,...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Sylvia Maria Couto dos Anjos. Eu nasci no Rio de Janeiro, no dia 19 de julho de 1957. INGRESSO NA PETROBRAS / TRABALHO FEMININO O meu ingresso na Petrobras foi logo que me formei. Eu me formei em Geologia aqui na Universidade do Fundão, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na época, o ingresso de mulher na Geologia, na Petrobras, era muito restrito. Só tinham duas vagas para mulheres. Tinham 80 vagas de Geologia, das quais só duas eram para mulher. Isso só foi possível porque, na época, o Cenpes falou que poderia ter mulher na Geologia. Então, foi um desafio muito grande porque eram muito poucas vagas. Mas eu tinha uma vontade enorme de trabalhar aqui porque já tinha feito um estágio e falei: “É lá que eu quero trabalhar” TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / BAHIA / CENPES Estágio. Fiz um estágio na Petrobras, na Exploração, no Laboratório de Rochas, lá em Botafogo, na rua General Polidoro, que depois voltou aqui para o Cenpes. Fiz um estágio lá, gostei muito e falei: “É lá que eu quero trabalhar.” Então, eu fiz um esforço muito grande. Falei: “Se tem duas, uma vaga é minha.” Eu me senti muito bem-vinda aqui na Petrobras. MUDANCA PARA A BAHIA Foi até uma surpresa Eu cheguei achando que fosse trabalhar no Cenpes, o meu nome não estava na lista, porque eu tinha que ir para a Bahia, a minha apresentação era na Bahia. Falei: “Meu Deus, tenho que ir para a Bahia Eu nunca saí do Rio” Dois dias depois, falei: “Ah, amanhã é aniversário da minha irmã, quero ir depois do aniversário dela.” Aí fui. Passei um ano na Bahia fazendo o treinamento e depois voltei pro Cenpes. O treinamento foi em Salvador, no Jequitá, fazendo o treinamento e fazendo os trabalhos de campo, indo pra sonda, fazendo todos os testes de perfilagem. Depois, viemos pro Cenpes fazer um período de estágio e então eu continuei aqui. Eu tive a opção de ficar lá, mas eu preferi, na época, ficar aqui no Cenpes. CENPES – CENTRO DE PESQUISAS Quando nós chegamos aqui no Cenpes, já tinha o início da área de Geologia e tinha algumas áreas de interesse que se estava querendo desenvolver. Eu entrei numa área da parte de fração de raios-X, de caracterização de minerais de argila, que era uma área que estava tomando um novo direcionamento e estava precisando de especialista nessa área. Começamos o treinamento aqui e fui enviada para fazer o mestrado na área, no exterior. E, de lá, eu continuei e fiz um doutorado também. Sempre voltado, um para a área de caracterização das rochas geradoras e outro para caracterização das rochas reservatórias. Eu fiquei, no final, três anos e meio numa universidade do exterior fazendo o mestrado e o doutorado. Em seguida, voltei pro Cenpes. E aí trabalhei na área de laboratório de mineralogia de argilas, que caracterizava os minerais que estão presentes nos reservatórios e nas rochas geradoras; coordenei o laboratório de microscopia eletrônico, o grupo de petrologia e sempre fiquei muito voltada para essa área de caracterização de rocha, que é o forte da nossa área. Eu trabalhei nesse período, muito tempo, nesses laboratórios: petrografia, na área de mineralogia, na área de sedimentologia com microscopia. Depois, fui ser gerente. GERÊNCIA DE TECNOLOGIA DE ROCHAS Eu fui gerente, inicialmente, na área de tecnologia, onde fui técnica. Depois de ser coordenadora de vários projetos, veio essa solicitação para gerenciar a área. Os nomes variaram ao longo do tempo mas, na verdade, é a gerência que cuida da caracterização das rochas. Porque o petróleo está dentro das rochas e para produzir, para explorar, para encontrar, você tem que conhecer bem as rochas. A minha gerência cuidava disso. Eu passei três anos nessa gerência. Há 20 meses, nós modificamos, o Cenpes fez um rodízio e mudou as gerências. Então, eu fui para a gerência que estou hoje, que é a Gerência Bioestratigrafia e Paleoecologia GERÊNCIA BIOESTRATIGRAFIA E PALEOECOLOGIA Na verdade, o que ela faz? Ela estuda os fósseis que estão dentro das rochas para poder indicar a idade das rochas. Tudo voltado para esse trabalho de caracterização e datação. Porque o nosso objetivo, na geologia, é o quê? É encontrar petróleo e ajudar que ele produza o melhor possível. E, como o petróleo está dentro da rocha, você tem que conhecer a rocha. PETROLEO – ROCHA GERADORA O petróleo é o quê? É uma matéria orgânica que, ao longo do tempo, com calor, com temperatura, foi se transformando em óleo. Então, algumas rochas estão cheias de matéria orgânica. Só para dar um exemplo, você vê esse mangue daqui? Está cheio de matéria orgânica. Não é a matéria orgânica mais adequada, mas é uma matéria orgânica. A rocha geradora, geralmente, é uma rocha fina, escura, cheia de matéria orgânica que, conforme vai soterrando, ela chega a grandes profundidades, aquece – quanto mais fundo na terra, mais quente – então, o que acontece? Aquele calor faz com que aquela matéria orgânica se transforme em óleo. Essa rocha geradora é, normalmente, muito fininha, parece aquele piso de ardósia, muito fina, cheia de matéria orgânica que depois vai se transformar em óleo. Esse óleo quando é transformado, sai dessa rocha. E para onde ele vai? Ele vai para cima, vai para a superfície. E, nesse processo de chegar à superfície, ele passa por rochas que tem os espaços porosos. Tipo areia de praia. Imagina a areia da praia: você enche um baldinho de areia e você consegue sempre botar água lá dentro. Tem o espaço poroso. E esse óleo que saiu da rocha geradora, vai migrando e encontra espaço nessa rocha, que é a chamada de rocha reservatória. É onde fica a reserva do óleo. Então, cabe ao geólogo, fazer o quê? Ao perfurar um poço, encontrar essa rocha reservatória com óleo. Porque você só encontra o óleo ali dentro dessa rocha. E aí, o que nós da geologia fazemos? Estudamos essa rocha para saber tudo o que a gente quer: qual é a porosidade dela, qual é a permeabilidade, se o óleo vai produzir bem ou se não vai? Qual é a distribuição dessa rocha: ela é contínua, como se fosse uma areia de praia, ou ela é toda intercalada, como se fosse um rio, cheio de intercalações de areia, com folhelhos, com rochas fechadas, rochas porosas? Esse é que é o papel da Geologia, do grupo de geólogos que nós temos aqui no Cenpes, e em alguns lugares da Petrobras. É fundamental ter a caracterização dessa rocha, para você conseguir prever aonde vai ter uma rocha tão boa quanto essa. A nossa idéia é essa. A gente quer achar a rocha que tem petróleo, mas precisamos conhecer e entender para que a gente possa prever a ocorrência de mais petróleo. TRABALHO DO GEÓLOGO O trabalho é feito em conjunto. Quer dizer, têm duas áreas muito distintas que a geologia trabalha: uma para exploração de petróleo, que é aquela área de frente. A companhia de petróleo começa com a exploração, áreas não estudadas, você se lança a começar um estudo macro de olhar pelos mapas, pelas seções sísmicas, para poder entender a possibilidade ou não de ter petróleo. A geologia começa nessa área: conhecimento da rocha, da terra, para que possa gerar o petróleo. Esse trabalho de exploração é um trabalho absolutamente integrado. Como assim? O técnico, o geólogo que está olhando os mapas do campo. Porque o campo só é campo depois que você determina, no escritório, que é lá que você vai furar. Antes de você ir para o campo fazer a perfuração, você tem todo um estudo de mapas, de seções sísmicas e tudo o mais. Uma vez tendo esse conhecimento, a informação que nós temos daqui da rocha que já foi perfurada, ela é ligada, não só da rocha como também da idade daquela rocha. Porque você vê, hoje, nós temos reservatórios, os nossos campos produtores são produtos de rochas que tem 30 milhões de anos, tem outros que têm 70 milhões de anos, até 90 milhões de anos. Então, você tem que estar muito precisa, muito conhecedora de que aquela rocha, daquela idade se co-relaciona com aquela rocha que está no outro poço, a dez quilômetros de distância e que também seja da mesma idade; porque o fato ocorreu no mesmo intervalo. Então, cabe a geologia fazer isso: ela posicionar, conhecer a rocha, entender o que ela tem dentro, qual é a idade dela para poder, realmente, fazer uma prospecção de sucesso. TRABALHO FEMININO Mudou muito, mudou muito. Quer dizer, no ano anterior a minha entrada, já tinha duas pessoas, quando entrei, mais duas, e depois foi abrindo e hoje não existe restrição à entrada de mulheres. Em relação ao trabalho de petróleo, que é um trabalho que vai para a sonda, havia os seguintes questionamentos: “Como é que vai ter uma mulher no campo, não tem banheiro?” Eram coisas bem básicas, que pautavam o pensamento dominante, mas isso foi superado. Hoje não existe mais esse tipo de restrição. Já há algum tempo, o concurso é aberto, entra quem passa e não tem essa limitação. Mas foi uma conquista. E muitos daqueles medos, eram medos da época, talvez. O receio de como é que vai ser, uma mulher no campo, o que é que vai acontecer? Aparentemente, esse era um dos motivos. E como o Cenpes era um órgão que não via essa dificuldade, nem os laboratórios, foi abrindo essas vagas e essas pessoas trabalhando. PROCAP - PRODUÇÃO EM ÁGUAS PROFUNDAS O que é o Procap? Produção em águas profundas. Como é que funciona isso? Então, como é que acontece? A produção só ocorre depois que a exploração achou. A ligação é o seguinte: com a geologia, é feita a exploração. Por que a gente tem o Procap em águas profundas? Porque, primeiro, se achou que teria óleo por meio da exploração. A gente começou: “Olha, a geologia aqui está mostrando que tem petróleo.” E essa geologia trabalhava aonde? Em terra, nos campos de terra. Mas aí, teve um pioneirismo muito grande, uma determinação muito grande de ir para o mar. PESQUISAS – DESAFIOS Eu me lembro que, quando entrei no Cenpes, dei uma palestra, logo no primeiro ano, o meu chefe falou: “Olha, tem aqui a literatura sobre os tipos de bacias no mundo e o potencial dessas bacias.” Então, eu fiz esse estudo, recém chegada, li os artigos. Lembro-me muito bem de um artigo de 1975, em que se mostrava claramente que, numa bacia do tipo das nossas, a chance de encontrar um campo gigante era inexistente. Para você ter uma noção de como isso é desafiador. Então, “Existe um conhecimento mundial de que bacias como as nossas...” e eu li o artigo e falei: “Meu deus, mas não tem” Aí o meu chefe, o Porto, muito entusiasta, falou: “Olha, isso aí é baseado no que já aconteceu. Mas a gente pode mudar o futuro. Depende de nós e do nosso conhecimento.” Para você ter uma noção, quer dizer, a determinação de você ir para águas profundas, furar no mar, no Brasil, era uma oportunidade mas era contrária aos dados que você via na literatura internacional de chances de encontrar petróleo. A geologia tem essa característica: ela tem que desafiar o que você conhece. O que você conhece, baseia-se no modelo que você domina. Você tem que pensar modelos novos. E foi isso que aconteceu. Nós pensamos, a geologia da Empresa pensou em sistemas de rocha que poderiam gerar petróleo, que poderia ter uma grande acumulação. Ela investiu nisso e foi um sucesso. Poderia não ter sido. Porque, inclusive, foi depois de vários poços secos é que se achou o primeiro campo. Então, eu fico muito orgulhosa disso porque um conhecimento internacional, de companhias como essa e outras que há anos furam em vários lugares do mundo, tem uma média de que aqui não teria petróleo. Isso fui eu, quer dizer, como aluna, recém-chegada. Foi muito interessante. Esse aí foi muito marcante. Eu chegando aqui, numa companhia de petróleo: “Então a gente não vai achar um campo gigante?” Na época, a Petrobras devia estar com a meta de 500 mil barris. Era uma coisa a ser atingida. Mas o que eu observo é isso, essa determinação da geologia de querer, quer dizer, o poço, o resultado da geologia, está na mente do geólogo. Ele tem que estar aberto a idéias diferentes das que estão propostas. Porque senão você não acha um novo campo. Então, só para fazer o link com a tua pergunta, com o Procap, nesse cenário, se nós tivéssemos – eu falo muito isso porque eu brinco com os engenheiros – eu digo: “Olha, se nós não tivéssemos ido para águas profundas vocês iam ser esses engenheiros fantásticos, mas iam ter que estar trabalhando lá em pocinho raso, se a gente não achasse.” Com essa determinação de encontrar esse modelo e tentar achar, a Petrobras começou a ir para água, cada vez mais, profunda. E isso em virtude, talvez, de nós sermos uma Companhia brasileira. Como assim? Porque, naquela época, você investir e furar, cada vez mais caro, em mar, tendo petróleo comprado – você podia estar comprando, mas é uma decisão estratégica da empresa de achar petróleo em território brasileiro. Por isso a Petrobras foi para águas profundas na frente de outras companhias. E, com determinação, ela foi achando e o nosso grupo de engenharia do Procap usando todos os recursos e tentando, cada vez mais, viabilizar a produção onde foi encontrado. Se a gente for mais fundo, se a gente for ver modelos geológicos, onde possa ter óleo mais profundo, com certeza a turma do Procap vai atrás tentar encontrar tecnologia para retirar esse óleo de lá. Então, o link é assim: o Procap existe porque houve, por parte da exploração, um trabalho de encontrar óleos em águas profundas em que se achava, anteriormente, que não seria o local adequado. Inclusive, uma vez a exploração mostrando as diretrizes, aonde pode ter ou não ter, todo o Procap vai se direcionar para tentar colocar essa tecnologia de produção. A gente acha e aí vem a produção, com a dificuldade de lâmina d’água cada vez maior e tudo mais. Então, a ligação é direta nesse sentido. ÁGUAS PROFUNDAS – EXPLORAÇÂO – DESCOBERTA DE NOVOS CAMPOS A gente participou e, agora, é o grupo da exploração da Petrobras, como um todo, que tem o crédito por tudo isso. Mas existia uma maneira de pensar modelos geológicos. Por exemplo, existem os turbiditos, que são os depósitos onde estão 80% das nossas reservas hoje. O que isso? São depósitos de areia que são lançados em águas profundas. Hoje, por exemplo, se você ver aqui na plataforma continental, muita dessa areia é jogada lá no talude. Porque a plataforma vem assim e vai cada vez mais funda. Isso que a gente chama de talude, é jogada essa areia que está aqui, perto das praias, lá embaixo. Muitos dos nossos campos de petróleo, hoje, foram formados por essas areias, que foram jogadas no talude há 30 milhões de anos e foram soterradas. Esse modelo foi um modelo de sucesso que nós buscamos. Nos últimos dois ou três anos, a Petrobras talvez seja a empresa que mais descobriu petróleo, foi uma das poucas empresas que manteve a reserva e aumentou. Mas nós passamos um período, antes desses três anos, de muita dificuldade de encontrar óleo. O que se passava? “Bom, já encontramos tudo o que tínhamos.” Porque os modelos que nós tínhamos levava a descobrir o que já tínhamos descoberto. Aí, novamente, foi o desafio de você pensar, repensar, para achar esses campos agora descobertos: Jubarte, Cachalote. São esses campos aí, dos últimos dois anos, três anos. Então foi preciso também uma parada para rever modelos e procurar, através de conhecimento, de modelos diferentes do que o que a gente estava usando, porque pela fórmula antiga não se estava achando mais. Passou-se um período sem achar, ficou meio assustada, porque aí as reservas começam a cair, e, novamente, o conhecimento geológico, o modelo, como a gente imagina como essas rochas estejam na superfície é que vai fazer diferença, e apostar nesse modelo. Então, antes, parecia que só tínhamos petróleo na Bacia de Campos. Achamos gás agora, na Bacia de Santos, muitas companhias vieram e saíram, no Espírito Santo, ou seja, a gente está alargando o espectro de oportunidades. Isso aí é fantástico. Quer dizer, depois de mais de 20 anos de exploração, você está, nos últimos dois anos, com modelos novos, modelos de conhecimento novos, novas áreas. E, certamente, a gente vai para águas profundas porque somos uma Companhia de águas profundas, nós temos essa especialização. Um exemplo disso é no mar do Golfo do México, que é uma província petrolífera antiga, uma das mais antigas que a gente tem no mundo, tem várias companhias furando. REMAPEAMENTO DE TERRITÓRIOS Você normalmente vê aquilo que conhece. Então, de repente, com novas idéias, você revê áreas que já viu, mas com uma outra visão. Você consegue buscar ali novos modelos em áreas que já foram vistas. Então, o grande negócio é o conhecimento e o modelo, é uma idéia que se tem na mente. Os nossos exploracionistas lá da sede são pessoas que eu tenho o maior respeito e admiração, a gente trabalha em conjunto com eles, por isso. Porque eles conseguiram, ao longo desse período, rever áreas já vistas e com novas propostas. E está tendo um resultado muito bom. É uma ousadia muito grande. Para você ter uma idéia, esse campo de gás da Bacia de Santos que foi aprovado aí, com um resultado muito bom, foi uma área de um risco exploratório altíssimo. A chance de sucesso era menos de 10%. Imagina você investir 40 milhões de dólares, com 6% de chance. É uma ousadia muito grande. Então, reflete muitos dos nossos resultados, dessa ousadia desse grupo de exploracionistas da Petrobras que atuou, bancou e deu um resultado positivo. Muitos grupos provavelmente, talvez, não fossem nesse desafio tão arriscado. Isso aí tem um mérito muito grande. GOLFO DO MÉXICO Eu estava falando do Golfo do México. A Petrobras trabalha lá em parceria com outras empresas. Depois de 50 anos de exploração – todas as companhias de exploração estão por lá há muito tempo –, essa característica da Petrobras de águas profundas foi tão interessante que, ano passado, nós descobrimos um campo, a Petrobras com as parcerias, lógico, mas o modelo geológico foi de um geólogo nosso. Nós descobrimos um lay totalmente novo na costa do Golfo que há 50 anos todas as companhias exploram. Para você ver como essa questão do modelo é uma sacada, uma percepção, uma criatividade do geólogo que pode levar a resultados incríveis. Então, virou um lay, o lay que a gente chama o modelo que está sendo buscado hoje por outras empresas. Vem dessa expertise de água profunda que está sendo utilizado lá em águas ultraprofundas na costa do Golfo, uma área conhecidíssima já. COTIDIANO DE TRABALHO – GEÓLOGO Eu acho que as dificuldades tem sempre um pouco a ver com essa crença de você achar que pode. Você tem que estar sempre acreditando que pode e que tem alguma coisa que você ainda não viu. Isso é um exercício de otimismo , confiança e de busca. Eu acho que isso dentro da área de exploração é sempre. Você tem um pico, você descobrindo um novo modelo, estamos achando, daqui a pouco, praticamente, aquele modelo se exaure. Então, você tem que estar lançando outros. E sempre chega aquele questionamento: “Será que tem mesmo? Será que a gente já não achou tudo?” Eu acho que esse é um desafio constante que tem a área da geologia. Eu estou falando muito da área da exploração, mas uma área que a gente atua muito é a área da produção. Uma vez definido isso, tem todo um trabalho de conhecer com clareza, com detalhe do reservatório. Aí, você já tem o campo, já sabe e você tem que delimitar esse campo. E aí, você sabe que para a produção de petróleo, normalmente, uma média assim, muito geral, do volume de óleo que tem lá dentro, apenas 30% a gente consegue tirar, vai depender da rocha. Porque se fosse uma piscina de óleo, você botava um tubinho e saía tudo. Mas não é. É rocha. E aí, tem toda essa característica do espaço onde o óleo está ocupado, das variações, se não é muito homogêneo, se é heterogêneo, isso vai levar você conseguir produzir, tirar menos do que você poderia. Um dos objetivos sempre grande é conhecer geologicamente, caracterizar muito bem esse reservatório para que se possa aumentar, em vez de 40%, 42% ou 43%. Tem um número aqui que todo mundo no Cenpes conhece muito, é que se a gente aumentar um por cento a produção num campo como Marlim, que é um campo gigante, quase que bate a produção de uma bacia inteira como a do Recôncavo. Então, esse esforço de conhecer o reservatório e as suas variações faz com que a gente tenha um ganho também considerável. Então, é uma busca grande. É uma busca que a geologia faz. É buscar novas áreas para explorar, encontrar novos campos e, uma vez encontrados esses campos, você estudá-los com caracterização. CARACTERIZAÇÃO DAS ROCHAS Para caracterizar as rochas, você tira as amostras. Na verdade, as amostras que são retiradas, são analisadas como um ser humano. A gente tira e faz raios-X, faz tomografia. Tudo que o ser humano faz para conhecer o seu corpo, a gente faz com a rocha. Você vê cientistas, biólogos analisando as células? A gente analisa as rochas. A gente pega microscópio com capacidade de aumento de 20, 30, 50 mil vezes para ver o que está naquele espaço poroso. A gente pega uma tomografia, a mesma tomografia que o ser humano faz, a gente conhece as rochas. Então, elas são tratadas aqui. A gente só tem um jeito de conhecer as rochas que é retirando amostras. Então, a gente tira umas amostras [mesmo as das águas ultraprofundas]. Tem processo, tem técnica através da perfuração de se retirar e conhecer. E, uma vez conhecendo essa amostra, que é muito cara para se retirar, se faz normalmente a comparação disso com outras respostas. Respostas de áreas, porque você não tem a rocha para ver, mas você faz comparação com perfis, o sinal sísmico, que é como se fosse quase um raio X da terra. A gente busca essas comparações para otimizar o conhecimento. Com isso você busca aumentar essa recuperação, tirar cada vez mais da onde a gente achou, e buscar áreas em que você possa encontrar outros campos tão grandes ou tão bons quanto aqueles que já foram encontrados. Essas são as áreas que a geologia atua. Fora isso, lógico, a nova área que a gente está atuando muito é área do meio ambiente. MEIO AMBIENTE Atuamos fortemente com o meio ambiente. A geologia conhece os processos, como as coisas são formadas, como são alteradas. Então, a área de geologia consegue perceber variações ambientais, de como estava e as suas modificações. É uma área em que a Petrobras está investindo muito. A Petrobras está apostando um cuidado muito grande com a questão do meio ambiente, da preservação e coisa e tal. E é a área que a geologia vem atuando nesse sentido. Um exemplo que a gente tem dado: temos estudado os micros fósseis. Micros fósseis são pequenos organismos. Eles são microscópicos mesmos. Eles são, por exemplo, os foraminíferos que a gente tem pesquisado muito. Os foraminíferos são bem pequeninhos e são muito sensíveis. E o que acontece? Eles têm um período de vida muito curto também. Eles vivem algumas semanas, alguns meses. Ao se pegar hoje, na plataforma, no fundo do mar esses microorganismos e analisa-los, a gente tem condição de saber como é que eles estão. Qualquer derramamento, qualquer impacto ambiental, poluição, eles sofrem primeiro do que qualquer outra forma. Temos essa percepção. A análise da variação desses fósseis te diz a quantidade de alteração do meio ambiente. Eles são excelentes indicadores. E nós temos os melhores especialistas do mundo dessa área de micro-fósseis. Nessa gerência que eu estou atuando agora, que é a área Bioestratigrafia, nós temos 15 doutores. Poucos lugares do mundo têm um grupo com essa capacitação. E muitas empresas de petróleo no mundo se desfizeram desse grupo, e resolveram terceirizar esse trabalho. A Petrobras foi uma das poucas que manteve e, hoje, isso é um diferencial competitivo. A gente consegue, com esse grupo, datar as rochas num nível de precisão melhor do que qualquer companhia. Tem companhia que está furando aí e está marcando a rocha lá na sísmica com uns 20 milhões de anos de erro, porque elas não estão posicionando bem. Então, nós temos essa vantagem. DATAÇÃO DAS ROCHAS O processo de datação é feito através dos microfósseis. Porque eles têm algumas formas que viveram no tempo. Por exemplo, o dinossauro é o mais conhecido. A gente não data dinossauro porque é macro organismo e, na perfuração de um poço de petróleo, a gente usa os micros. Todo mundo sabe que eles iniciaram e se extinguiram em determinado momento. Aconteceu isso com ele e acontece com todos esses microfósseis microscópicos que ninguém nem vê, como algumas algas. Essa extinção é típica da evolução da terra. Sabendo a evolução, quando ele começou e quando ele se extinguiu, você consegue posicionar no tempo toda a rocha. É bem assim, só que com escala microscópica, você precisa de lupas e aumentos maiores. Então, é dessa forma que medimos. HISTÓRIAS / CAUSOS/ LEMBRANÇAS É uma história que aconteceu logo no início que eu vim para a Petrobras. Assim que entrei, a gente não podia ir para a plataforma. Podia ir para o campo, mas para a plataforma não. Então, acontecia uma coisa que, contando hoje, parece um pouco ridícula. O pessoal tinha a preocupação da gente não ficar e dormir na plataforma. Eu e outra colega tínhamos que ir e voltar. A gente ia para a plataforma, via o teste e à noite voltava para dormir no hotel. Isso, hoje, é impensável. Era também muito engraçada aquela preocupação toda de não poder entrar por causa de banheiro. Era um negócio ridículo Estávamos no campo, trabalhando com aquela sonda e, realmente, não tinha banheiro. A gente saía para procurar um lugar, se afastar o máximo possível. Mas na sonda de petróleo tem uma torre alta e você não encontra lugar em que o torrista não tenha visão. Então, tínhamos que fazer as nossas andanças para longe, para se afastar do campo. E a gente olhava e o torrista estava sempre à vista. Aí, a gente se escondia e daqui a pouco passava um caminhão. Era muito engraçado. Mas era uma coisa, daquela época, que é muito diferente, quer dizer, algo que hoje você não imagina. Imagina não poder ficar na plataforma? E, atualmente, têm dezenas de mulheres lá Mas isso foi um período e era muito engraçado: “Meu Deus, esse torrista não sai de lá de cima” Mas foi muito bom. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que esse projeto dos 50 anos da Petrobras foi maravilhoso, porque a gente resgatou coisas demais Nós fizemos uma memória da nossa área, conseguimos ver a história e cada vez nos sentimos mais orgulhosos dessa Companhia. Porque construir como foi construído, isso aí é um trabalho fantástico E essa memória do conhecimento, das pessoas, é um trabalho maravilhoso. Fiquei muito contente de ser convidada para participar. Como funcionária da Empresa, eu tenho muito orgulho de estar aqui, basicamente, eu cresci aqui dentro. Saí da faculdade com 22 anos, a minha vida foi toda na Petrobras. E ela molda, ela incentiva o estudo. Quer dizer, eu devo muito do que eu sou para a Petrobras. Essa memória que está sendo feita é um tributo à Empresa e me sinto feliz de estar contribuindo.
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