Nasci no dia 21 de julho de 1945 na cidade de São Leopoldo. Logo após meu nascimento, minha mãe voltou para a cidade onde morava, Berto Círio - RS. Meu pai só foi me registrar em cartório no dia 6 de agosto e o escrivão em vez de colocar a data do dia 21 de julho, colocou a daquele dia, 6/8 n...Continuar leitura
Nasci no dia 21 de julho de 1945 na cidade de São Leopoldo. Logo após meu nascimento, minha mãe voltou para a cidade onde morava, Berto Círio - RS. Meu pai só foi me registrar em cartório no dia 6 de agosto e o escrivão em vez de colocar a data do dia 21 de julho, colocou a daquele dia, 6/8 no registro de nascimento. Então, festejo aniversária nas duas datas. Sempre fui uma criança tímida e retraída. Comecei a estudar no colégio aos 8 anos, 1953. Mas não me dei bem com estranhos. Ficava apavorado quando a professora pedia para ler um livro em voz alta, ou escrever algo no quadro negro. No recreio eu ficava de lado, não participava das brincadeiras com os colegas, eu não os entendia nem eles entendiam meu comportamento. Eu aproveitava o recreio para ir ao banheiro, mas um dia fiquei com vontade de urinar, mas com medo de pedir para sair, resolvi aguentar, porém, acabei urinando na calça. Não lembro se alguém viu, só lembro de ir embora carregando a pasta com os cadernos segurando atrás para esconder a mancha nas calças. No dia seguinte eu não quis ir ao colégio de jeito nenhum. Minha mãe obrigou-me a ir, puxou minha orelha com tanta força que rasgou o lóbulo. Como saiu sangue e eu chorei muito, ela não insistiu mais e até se arrependeu.
Viu que eu tinha algo de errado, não era um garoto comum. Comecei a estudar em casa, lia todo tipo de livros, tanto de ficção quanto didáticos, geografia, História, ciências naturais, menos matemática porque eu tinha e tenho, dificuldades para fazer cálculos complexos. A adolescência também foi difícil para eu interagir com as pessoas, era calado, reservado, tímido. Achando que eu tinha problemas mentais, minha mãe resolveu me internar numa clínica para fazer tratamento. Entrei numa quinta feira, no sábado quando o médico conversou comigo, disse que meu lugar não era ali e me deu alta. Voltei para casa, e a família continuando não entender o que eu tinha. Na adolescência aquele pavor de conversar com estranhos diminuiu, consegui conquistar amigos, jogava bola, ia ao cinema, trocávamos gibis. Mas quando me convidavam para ir a uma festa, ou na discoteca dançar, eu recusava porque não sabia como conversar com as garotas. Eu tinha fobia social, como era chamado
naquele tempo. Para trabalhar, eu não consegui ir a uma firma pedir emprego, tinha medo, não sabia o que dizer. Meus irmãos, graças a Deus, me ajudavam levando-me a trabalhar na mesma firma que eles trabalhavam quando tinha vaga para ajudante. Um levou-me a trabalhar em padaria. fazíamos 5 mil pães de meio quilo toda noite.
O outro levou-me a trabalhar como ajudante dele numa serralheria. Em 1977, uma cunhada arranjou uma vaga para mim num escritório de contabilidade. Comecei a trabalhar como contínuo, office boy. Eu fazia pagamentos em bancos e fazia compras quando necessário. Foi nesse período que minha timidez diminuiu, acostumei a conversar com pessoas estranhas, melhorei um pouco, mas não de todo. Só fui arranjar namorada aos 28 anos e isso foi com ajuda das duas famílias, ou seja, foi um casamento arranjado. O casamento durou 29 anos porque ela faleceu. Tivemos uma filha, que cuida de mim até hoje. Comecei a ler livros de ficção muito cedo, li os grandes clássicos da literatura, autores como Robert L. Stevenson, Alexandre Dumas, Edgar A. Poe, Mark Twain, Júlio Verne, etc. Guimarães Rosa, Rachel de Queirós, José de Alencar, etc. Também comprava livros de ficção científica de Isaac Asimov, Philip K Dick, Ray Bradbury, etc. Foi com 17 anos que comecei a escrever contos inspirado nesse autores. Além de FC, também
escrevi histórias policiais inspirado em Dashiell Hammett, Agatha Christie, Raymond Chandler, etc. Meu enteado e a esposa adotaram uma criança que teve problema de aprendizado na escola. Ela o levou a um psicólogo e ele foi diagnosticado com autismo. Ela falou de mim para o médico e ele também disse que eu tinha síndrome de Asperger. Uma desordem da personalidade que inclui: falta de empatia, baixa capacidade de formar amizades, conversação unilateral, intenso foco em um assunto de interesse especial e movimentos descoordenados. A síndrome de Asperger (SA) é uma alteração no desenvolvimento que afeta a capacidade de comunicação, socialização e expressão de emoções. É considerada uma forma mais branda de autismo, dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Então foi aos 60 anos que descobri o que eu era, e foi como que tirar um grande peso dos meus ombros. Foi aí que eu descobri que ser diferente é normal. Naqueles anos de 50/60, nada disso era conhecido e eu me considerava um alienígena. Em 1980, o autismo foi reconhecido pela primeira vez como um transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) no DSM-III. Na fase adulta eu melhorei bastante, o transtorno é mais leve, mas ainda tenho dificuldades para conversar, de me comportar em publico. Hoje, aposentado, continuo a escrever meus contos, assistir filmes no notebook e jogar videogame. Publico minhas histórias no site Recanto das Letras.
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