Esta é uma história ocorrida na minha vida que, pela extrema importância que para mim foi, julguei interessante eternizar nesse espaço que me dão por direito.
Todos temos em nossas vidas atração por determinadas pessoas: por vezes apenas atração física, outras vezes, atrações mais significativas. Eu, então com meus vinte e dois anos de idade, vivia experiências características de garotos de dezesseis, ou dezessete talvez. Não convém dizer o motivo por que passei tanto tempo travado a esses sentimentos que agora, tão tarde, surgiam.
Sou um estudante de engenharia. Achei que seria bastante interessante me inscrever num curso de inglês em estilo de imersão, no mês de julho do ano de 1999, na mesma cidade onde estudava.
Embora seja uma cidade tipicamente universitária, curiosamente para esse evento apenas eu estava ali como pessoa ligada diretamente à faculdade. Nenhum professor ou aluno além de mim compareceram. O interesse maior estava por conta de colegiais, professores e alunos de escolas de inglês e pessoas de cidades próximas, o que totalizou não mais que vinte participantes, para um corpo docente de apenas três professores. Divididas as turmas segundo o nível de conhecimentos, acabei por ficar em uma de apenas seis alunos. E era nessa turma que se encontrava a figura principal dessa história. Prefiro não identificá-la por nome, o que poderia causar eventuais descontentamentos, mas irei identificá-la pela inicial fictícia "F". F era o tipo de pessoa pela qual você não se atrai ao primeiro olhar. Ela era bonita, sim – embora eu seja suspeito para falar dela, digo que era bonita. Apenas não era daqueles tipos de garota que "param o trânsito", mas isso não foi o mais importante que vi naquela garota que tanto me atraiu.
Em minha breve experiência de vida, tenho me deparado com diversos tipos de mulheres. Não sou nem um pouco adepto daquela idéia de que mulher dever ser 3B (Bonita, Boa e Burra) – pelo contrário,...
Continuar leituraEsta é uma história ocorrida na minha vida que, pela extrema importância que para mim foi, julguei interessante eternizar nesse espaço que me dão por direito.
Todos temos em nossas vidas atração por determinadas pessoas: por vezes apenas atração física, outras vezes, atrações mais significativas. Eu, então com meus vinte e dois anos de idade, vivia experiências características de garotos de dezesseis, ou dezessete talvez. Não convém dizer o motivo por que passei tanto tempo travado a esses sentimentos que agora, tão tarde, surgiam.
Sou um estudante de engenharia. Achei que seria bastante interessante me inscrever num curso de inglês em estilo de imersão, no mês de julho do ano de 1999, na mesma cidade onde estudava.
Embora seja uma cidade tipicamente universitária, curiosamente para esse evento apenas eu estava ali como pessoa ligada diretamente à faculdade. Nenhum professor ou aluno além de mim compareceram. O interesse maior estava por conta de colegiais, professores e alunos de escolas de inglês e pessoas de cidades próximas, o que totalizou não mais que vinte participantes, para um corpo docente de apenas três professores. Divididas as turmas segundo o nível de conhecimentos, acabei por ficar em uma de apenas seis alunos. E era nessa turma que se encontrava a figura principal dessa história. Prefiro não identificá-la por nome, o que poderia causar eventuais descontentamentos, mas irei identificá-la pela inicial fictícia "F". F era o tipo de pessoa pela qual você não se atrai ao primeiro olhar. Ela era bonita, sim – embora eu seja suspeito para falar dela, digo que era bonita. Apenas não era daqueles tipos de garota que "param o trânsito", mas isso não foi o mais importante que vi naquela garota que tanto me atraiu.
Em minha breve experiência de vida, tenho me deparado com diversos tipos de mulheres. Não sou nem um pouco adepto daquela idéia de que mulher dever ser 3B (Bonita, Boa e Burra) – pelo contrário, acredito que beleza não põe a mesa, e que ter que ouvir papo vulgar com jeito forçado de falar é uma coisa deprimente. Naquela ocasião eu me deparava com uma garota (sim, uma garota, seis anos mais nova que eu) com uma personalidade muito melhor do que a de muitas mulheres às vezes até mais velhas do que eu, mas que não passam de adolescentes crescidas e de cabeça vazia.
Ali eu via uma pessoa que, com o passar daqueles oito dias de curso, se mostrava comunicativa, educada, simpática e uma série de outras características que são um tanto quanto difíceis de expressar, mas meu coração não precisava de palavras para expressar meus sentimentos. Não vou dizer que era amor (afinal, tenho uma concepção de amor bastante diferente do que nos pregam os escritores de novelas), mas posso dizer que, numa linguagem bem simples, era paixão. Paixão que eu tive de amargar sem correspondência durante aqueles oito dias de curso.
Findos aqueles dias, apenas uma despedida e... esquecimento? Certamente que não. Em nossos eventuais encontros nas ruas da cidade (acredite, moro numa daquelas cidades de interior em que quase todos se conhecem e a expressão "esse mundo é pequeno" é uma realidade constante), ficava a ponto de ter um ataque, tamanho era o aumento dos meus batimentos cardíacos. Você pode pensar que é besteira; pense, então. Eu só posso lhe dizer que não há sensação melhor do que tentar esconder a emoção de encontrar subitamente uma pessoa que você tanto admira. Sua respiração se torna insuficiente, parece até que você estava numa corrida. Se você nunca passou por isso, é uma pena. Você pode até discordar de mim, mas espero que um dia você se arrependa disso, não por mim, mas por você. Você certamente vai entender.
Houve um fim de semana em que eu fui convidado para me deslocar para uma cidade vizinha para uma pescaria. Lá estariam as pessoas que moravam comigo em nossa república estudantil, e mais alguns amigos e parentes de C (assim vou identificar um dos rapazes que moravam conosco na república). No começo da noite, depois de a pescaria não ter rendido absolutamente nada e todos estarem cansados, alguns já dormindo, aproveitei o momento para desabafar com C a respeito da paixão platônica com que vinha vivendo e, como vejo nele uma pessoa bastante confiável, achei que ele poderia me dar bons conselhos a respeito, também. Durante nossa conversa, expus todos os motivos que eu tinha para estar gostando de F, e expus também as dificuldades. Nossas vidas pareciam ser tão distantes, eu um universitário e ela uma colegial, numa cidade onde os universitários homens são a maioria e não possuem muito boa fama com os pais de garotas adolescentes (dispenso explicações). Nossos encontros eram limitados a breves conversas, os ambientes que freqüentávamos nunca eram os mesmos e pesava sobre mim a triste realidade de que ela já estava com tudo acertado para passar o ano seguinte na Inglaterra. Eram os ingredientes principais para um relacionamento não dar certo: distância e pouca convivência.
"A vida da gente é cheia de desafios. Não enfrentá-los é uma situação cômoda, e faz de nós eternos covardes." Essa foi uma das coisas que C me falou durante a exposição dos meus dilemas. E completou: "A decisão sobre continuar com isso ou não é unicamente sua. Se você acha melhor desistir, tudo bem, é sua decisão e eu respeito. Agora, se você pretende continuar, é obvio que pretendo dar toda a ajuda que estiver ao meu alcance." E foi assim que ele deixou a decisão em minhas mãos. Ele estava certo. A decisão era minha. As chances de dar certo eram mínimas. E, quando o fracasso é quase tão certo quanto o sucesso, as decisões são difíceis de serem tomadas.
Eu precisei mesmo de algum tempo para refletir e chegar à conclusão de que, durante quase toda a minha vida, minhas decisões haviam sido sempre em função do medo de as coisas não darem certo. Os resultados, claro, nunca foram satisfatórios. Por que continuar com algo que nunca me levou a lugar algum? Já era hora de arriscar algo diferente.
"Eu estou nessa." Essa foi a minha resposta a C. Não foi preciso maiores explicações tipo: "Estou nessa o quê?" Ele já esperava. E melhor: pela cara de satisfação que ele fez, certamente era a resposta que ele esperava. "Está na hora de começarmos a trabalhar, então. Você já pensou em mandar flores?" Esta foi a contra-resposta dele. Mandar flores não era exatamente o conselho ou forma de ajuda que esperava dele, mas existia um detalhe bem especial neste "mandar flores".
Como eu já mencionei, moro numa daquelas cidades do interior, tranqüilas, onde em dias de semana, após a meia noite, nada mais se vê nas ruas além de algumas pessoas voltando da escola, outras conversando em frente a suas casas, alguns cachorros a vagar e algumas outras coisas nada comuns em cidades grandes. Nessa cidade, apenas uma bicicleta serve como meio de transporte para se locomover a qualquer hora, para qualquer lugar, e o melhor: sem o perigo de ser roubado. E foi a minha bicicleta Peugeot, ano 79, a minha grande companheira nas minhas aventuras à procura de belas flores para deixar ao portão da casa de minha amada. Sim Eu disse “procurar flores”. Como aconselhou C, o ideal não é ir a uma floricultura e enviá-las, mas sim vagar pela noite, procurá-las, e quem sabe até fugir de cachorros ou dar de cara com o dono do jardim no momento de apanhá-las. Eu creio que o dono de um jardim sempre compreende que "roubar" uma flor para dá-la a alguém que você gosta não se trata de um roubo.
A minha primeira caçada teve início numa noite de 25 de agosto. E foi justamente nessa noite que tive a minha primeira decepção. Disposto a encontrar uma rosa para deixar em frente à casa de F, vaguei durante horas por vários lugares e jardins que antes jamais havia visto na cidade, e não encontrei sequer uma única rosa. Havia flores de vários tipos, menos as benditas rosas. Já estando quase a desistir, voltava para casa desconsolado com o meu fracasso, logo na primeira tentativa, quando de longe avistei uma bela flor num jardim. Seria uma rosa? Não. Não era. Mas com certeza, dentre as que eu tinha visto, aquela era a mais bonita. Com suas pétalas numa combinação entre branco e um roxo de tonalidade fraca, as folhas um pouco empoeiradas (já fazia muito tempo que não chovia na região), notei que aquela era a flor que iria salvar a minha noite. Peguei a mais bonita entre três daquelas que estavam naquele jardim (se o dono do jardim porventura estiver lendo e notar que tratava-se de uma flor de seu jardim, por favor, perdoe-me, mas foi por uma boa causa), levei-a até o portão da casa de F, e lá deixei, apenas com um pequeno bilhete contendo o nome de F escrito de forma personalizada. Ao retornar e pegar minha bike para ir embora, notei que os guardas noturnos já se mobilizavam para o meu lado. Mas eles estavam ainda longe, e a única coisa que ouvi foi um apito, talvez num sinal de advertência para que não mais aparecesse por ali. Mas é lógico que eu voltaria a aparecer.
Voltei a levar-lhe rosas nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro. A essas alturas não tinha mais problemas com as rosas. Descobri uma floricultura 24 horas – minha salvação, já que era tão difícil encontrar rosas pela cidade. Sempre aparecia por lá, próximo da meia-noite, comprava um botão de rosas todo decorado, escrevia o nome de F do mesmo jeito de sempre no cartão e atravessava a cidade para deixar em frente ao portão, no mesmo lugar de sempre. Até mesmo com os guardas noturnos já não tinha mais problema. Um dos guardas, o Sr. G, havia ficado desconfiado com a minha primeira aparição, mas depois de ver o conteúdo do que eu deixava em frente à casa de F notou que não havia com o que se preocupar, e até por vezes batíamos longos papos depois de eu entregar as flores.
Meu outro problema surgiu no dia 2. C já havia me recomendado escrever algum bilhete, ou quem sabe um poema. Tive que ler uma série de poemas na biblioteca da cidade e até mesmo fazer algumas modificações no que mais me agradou (Gonçalves Dias que me perdoe, mas nem todos os apaixonados pensam igual). Com o poema em mãos, o problema: excepcionalmente, no dia em que eu mais precisava da rosa, não havia ninguém na floricultura. Que desespero Saí numa vã busca por alguma rosa naquela cidade onde era tão difícil encontrá-las. Disposto a entregar aquele poema, mesmo que sem uma rosa para acompanhar, ia de encontro à casa de F quando vi uma rosa, não tão bonita como aquelas que todos os dias eu entregava, mas algo que seria bem mais do que entregar unicamente aquele poema e mais nada. E assim foi que voltei para casa, não tão satisfeito, mas já havia valido a pena. Nos demais dias não tive problemas. Voltei lá nos dias 8, 9, 13, 15, 16 e 24 de setembro. Eventualmente ia até a casa de F com a desculpa de conhecer uma estrangeira que estava no Brasil em intercâmbio, morando em sua casa. As visitas nunca renderam conhecer a estrangeira, mas eu não me importava. Os poucos minutos que estava com F eram suficientes para satisfazer brevemente a minha vontade de vê-la. Por vezes conversava com ela quando a encontrava na cidade, mesmo sem conseguir notar se ela já desconfiava de algo ou não, mas as noites em que levava rosas haviam feito com que se criasse em mim cada vez mais a vontade de estar com ela. Não era suficiente apenas levar rosas e ficar no anonimato. Era preciso mais. Era preciso "chegar junto". Não dava mais para resistir. Eu havia tomado uma decisão e agora não podia mais voltar atrás.
O dia 25 de setembro foi um dia especial para mim. Era um sábado. Exatamente um mês depois de iniciar minha "romaria das rosas", esse foi único dia em que eu senti um frio na barriga após desligar o despertador pela manhã. Já estava tudo preparado. F sairia da escola às 12:20. Antes disso já havia ido à floricultura, onde todos faziam a maior torcida a meu favor. Recebidos todos os desejos de “boa sorte”, fui até a casa de F, onde fiquei fazendo plantão, esperando que ela chegasse. E ela chegou.
Ao me avistar, cumprimentou-me com seu sorriso, como sempre fazia. Talvez ainda sem entender, perguntei se ela poderia me ouvir por alguns minutos. Mediante sua permissão eu disse: "Está na hora de eu parar de te enrolar". Ainda sem que ela me entendesse, puxei do bolso um pequeno envelope igual ao que sempre acompanhava as rosas que lhe enviava, com seu nome escrito de maneira personalizada. Aí, sim, ela entendeu.
Se você é daqueles que gosta de histórias com final feliz, já vou avisando: o final desta história não é o que você espera.
Eu lhe entreguei a rosa, conversei com ela, foi tudo muito rápido, mas foi algo tão emocionante que até mesmo sentar no meio-fio da rua foi necessário, porque eu tremia tanto que hora ou outra ia levar um tombo. O principal de tudo foi que, desde cedo, quando resolvi enfrentar essa situação quase impossível de dar certo, eu já tinha essa consciência. Quando ela me disse que não topava namorar comigo, eu já estava preparado para aquilo. Não foi nenhum grande choque. Acima de tudo, foi bom. Eu aprendi que, na vida, as decisões que você toma devem ser tomadas sem medo. O medo apenas prende as pessoas cada vez mais em suas dificuldades, fazendo delas seres covardes e incapazes de romper barreiras.
E não é a toa que eu escrevo isso. Certamente escrevo porque foi algo importante que aconteceu em minha vida. E também porque tenho a esperança de que F ainda leia isso e saiba que não tenho nada contra ela. Talvez, por causa da situação desconfortável que passamos, ela possa pensar isso. Mas não.
Naquele 25 de setembro, descobri mais uma qualidade entre as tantas outras que F tinha. Ao expressar meus sentimentos para ela, a resposta que recebi foi: "Me desculpe, mas eu já estou de rolo com um rapaz da escola. Não convém eu mentir para você". Vocês podem pensar: "Insensível, bruxa malévola, o cara se derrete por você e você retribui desta maneira?"
Não. Não é isso que eu penso. A maior qualidade que uma pessoa pode ter é a sinceridade. F foi sincera comigo, e isso é a coisa mais bonita – pode não ser agradável, mas é com certeza a atitude mais bonita que uma pessoa pode ter. É por isso que eu ainda a admiro e gosto dela. Do contrário, talvez não teria sequer me empenhado em perder tempo com esta digitação.
Eu sei que é preciso esquecê-la. Mas eu não sou um computador que, ao simples toque da tecla “delete”, apaga uma informação e está tudo bem. Deus fez os seres humanos com sentimentos, não com transistores. Nós somos diferentes.
Pode ser que agora, neste momento em que você lê este texto, eu já tenha me esquecido de F. Pode ser, mas com certeza essas lembranças vão me acompanhar por toda a minha vida, não com um caráter melancólico, mas certamente com um caráter de satisfação.
Recolher