Adi Figueiredo Mattos, professora, nasceu em Cuiabá em 06 de abril de 1917. Frequentou a escola normal “Pedro Celestino” obtendo o diploma de normalista. Nesta instituição de ensino conseguiu base sólida para atuação profissional, destacando o estudo de psicologia, na qual instrumentalizava as futuras professoras a conhecer o comportamento do estudante para ajudá-lo nas dificuldades.
Conseguiu nomeação um ano depois de sua formação para uma turma de 4º ano no grupo escolar modelo “Barão de Melgaço”, que funcionava ao lado da igreja matriz no palácio da instrução. Foi professora primária ali durante oito anos. Seu método de trabalho com as crianças, do 4º ano, sempre começava com leitura, cada aluno lia um pedaço e explicava o que tinha entendido. Depois era feito uma cópia e por último o ditado. As palavras com grafias erradas eram reescritas da forma correta dez vezes para fixar o aprendizado.
Recordou e contou a história de uma das professoras que se destacaram no grupo escolar modelo, todos queriam que seus filhos fossem alunos de Aurelina Estácio Ribeiro, a professora Oló. Foi uma pessoa ligada a religião católica e às causas beneficentes. Mas nem sempre foi assim, segundo professora Adi, ela foi uma moça que gostava de participar de festas, inclusive do carnaval. Uma fatalidade modificou sua vida quando em um desfile de carnaval o carro em que estava atropelou e matou uma criança. Daquele dia em diante encerrou sua vida festiva de bailes e dedicou-se a igreja a ajudar os pobres e a profissão de professora primária.
Assim que começou a lecionar ganhou uma bolsa de estudos para cursar enfermagem no Rio de Janeiro e quando chegou toda contente para contar para seu pai a novidade, ele protestou e não permitiu sua saída de casa. Neste episódio tinha uns dezoito ou dezenove anos e não era habitual que moças saíssem de casa para estudar fora. Porém tinha um desejo muito grande e colocou na cabeça que isso iria...
Continuar leituraAdi Figueiredo Mattos, professora, nasceu em Cuiabá em 06 de abril de 1917. Frequentou a escola normal “Pedro Celestino” obtendo o diploma de normalista. Nesta instituição de ensino conseguiu base sólida para atuação profissional, destacando o estudo de psicologia, na qual instrumentalizava as futuras professoras a conhecer o comportamento do estudante para ajudá-lo nas dificuldades.
Conseguiu nomeação um ano depois de sua formação para uma turma de 4º ano no grupo escolar modelo “Barão de Melgaço”, que funcionava ao lado da igreja matriz no palácio da instrução. Foi professora primária ali durante oito anos. Seu método de trabalho com as crianças, do 4º ano, sempre começava com leitura, cada aluno lia um pedaço e explicava o que tinha entendido. Depois era feito uma cópia e por último o ditado. As palavras com grafias erradas eram reescritas da forma correta dez vezes para fixar o aprendizado.
Recordou e contou a história de uma das professoras que se destacaram no grupo escolar modelo, todos queriam que seus filhos fossem alunos de Aurelina Estácio Ribeiro, a professora Oló. Foi uma pessoa ligada a religião católica e às causas beneficentes. Mas nem sempre foi assim, segundo professora Adi, ela foi uma moça que gostava de participar de festas, inclusive do carnaval. Uma fatalidade modificou sua vida quando em um desfile de carnaval o carro em que estava atropelou e matou uma criança. Daquele dia em diante encerrou sua vida festiva de bailes e dedicou-se a igreja a ajudar os pobres e a profissão de professora primária.
Assim que começou a lecionar ganhou uma bolsa de estudos para cursar enfermagem no Rio de Janeiro e quando chegou toda contente para contar para seu pai a novidade, ele protestou e não permitiu sua saída de casa. Neste episódio tinha uns dezoito ou dezenove anos e não era habitual que moças saíssem de casa para estudar fora. Porém tinha um desejo muito grande e colocou na cabeça que isso iria acontecer, e, de fato aconteceu, aos vinte e cinco anos de idade ganhou uma bolsa de estudo para educação física e dessa vez conseguiu que seu pai permitisse que fosse para o Rio de Janeiro.
Chegando na escola de educação física foi conversar com o diretor, senhor Inácio Rolim de Moura Tavares, apresentou uma carta, enviada pelo coronel Máximo Levi, que era um dos secretários de Cuiabá. Então começou a estudar, sua turma tinha dezesseis moças e um rapaz, relembrou estes momentos com orgulho, pois foi um sonho alcançado e gostou muito dos estudos realizados.
Suas notas eram boas, da maioria das matérias, menos em uma, que era cinesiologia, nela estudava os movimentos, flexões e extensões. Nessa matéria tirou sete, o suficiente para passar. Para fazer às aulas práticas andava longe, ia até o campo do fluminense: fazia natação, corrida e até esgrima. Deste último não gostou porque quando treinava parecia que estava acontecendo uma agressão e não apreciava esportes nos quais notava-se algum tipo de agressividade. Por isso não fazia questão do futebol.
No Rio de Janeiro ficou hospedada na pensão de um parente de seu pai, o senhor Fenando Leite de Figueiredo, nunca podia chegar depois das nove da noite, senão ficava para fora. Era uma pensão que moravam muitos cuiabanos, os filhos da professora primária Amelinha Lobo, que estudavam medicina, também residiam no pensionato. Professora Adi recorda que de vez em quando aparecia por lá um senhor de terno e chapéu, conversava um pouco e ia embora, ela ficava intrigada pois no lugar circulava só pessoas jovens. No dia que foi embora, ficou sabendo, quem era o senhor misterioso. O dono da pensão lhe confidenciou que seu pai era maçom e o homem que aparecia vez ou outra era maçom também. Ele era responsável por vigiá-la não só com relação a estudo, mas também com relação a saúde.
O curso de educação física durou um ano e quatro meses e o estágio realizado a capacitou para as aulas desenvolvidas com as estudantes do grupo escolar modelo. Lembrou que no primeiro dia de aula de “ginástica”, como era chamada as aulas de educação física, aconteceram alguns fatos que houve necessidade dela se posicionar com firmeza. Aconteceu o seguinte: para dar aulas para as meninas, compareceu na escola devidamente vestida com uniforme de educação física, meia, tênis, calção até o joelho e blusa de manga curta. Separou as turmas por idade. Pegou primeiramente as maiores que estavam uniformizadas no mesmo padrão e se dirigiu para o pátio atrás da escola, este lugar era um recinto descoberto e quando começou a dar aula, os hóspedes do “Hotel Central” começaram a sair nas janelas para ficarem olhando a professora e as meninas. A igreja católica matriz antiga ficava ao lado da escola e tinha uma janela que dava para ver tudo que acontecia em torno da escola. No decorrer dos exercícios a professora Adi via na janela da igreja uma cabeça que ia e voltava várias vezes. Terminada a aula, entrou com os materiais esportivos para guardar: bola, corda, rede, e tudo mais, a diretora já a aguardava no corredor pedindo para que fosse em sua sala para conversar. Após guardar os equipamentos foi ter com a diretora. Esta lhe informou que ela não poderia dar mais as aulas porque o padre Joãozinho observou a aula da janela e tinha ido reclamar que os movimentos eram indecorosos, tanto as alunas quanto da professora, não estavam vestidas moralmente e que o calção era muito curto. Neste momento refletiu que era melhor não retrucar a diretora D. Diva, pois tinha que buscar argumento para convencer a liberação das novas práticas esportivas.
No dia seguinte. conversou com a diretora e esclareceu que não poderia deixar de aplicar às aulas porque tinha que dar conta do dinheiro investido para sua formação.
O diretor da escola em que se formou tinha mandado telegrama para o governador do estado, João Ponce, procurando saber se Adi Figueiredo que tinha concluído o curso de Educação Física já tinha começado a dar aulas. Explicou também sobre os benefícios que a educação física trazia para as crianças e assim conseguiu se colocar e continuar a lecionar. No começo foi difícil porque os pais mandavam bilhetes para a diretora proibindo suas filhas de participarem das aulas. Aos poucos, a mentalidade foi mudando e no final do ano preparou as meninas para fazer várias demonstrações do que haviam aprendido. Organizou apresentação de cururu e siriri, fez uma apresentação especial de ginástica rítmica na qual mandou diminuir a saia da roupa da dança. Para o dia da apresentação tiveram vários convidados especiais, que a cumprimentaram pelo trabalho realizado, dentre eles estavam o secretário de educação Francisco Ferreira Mendes e o padre Joãozinho da catedral. Sentiu-se gratificada porque conseguiu colocar em prática os ensinamentos adquiridos nos estudos voltados para atividades físicas escolares.
Foi professora de Educação Física por vinte e cinco anos, sendo que esta formação lhe proporcionou um aumento nos vencimentos mensais passando a ganhar muito mais do que quando era professora primária. Porém, ressalta que teve que enfrentar muitos assédios por colocar calção para ministrar as aulas. Mas não se esmoreceu porque foi uma pessoa que tinha perseverança, e, quando tinha algo a realizar lutava para chegar até o fim, pois acreditava, que realizar um trabalho bem-feito na educação, era questão de se ter vocação e considerava ser vocacionada para profissão.
Professora Adi relembrou que ser professora era um status naquele período, toda moça cuiabana tinha que ser professora e quando alguém perguntava se conheciam “fulano”, ninguém conhecia, mas quando perguntavam se conheciam marido de tal professora, então todo mundo sabia identificá-la. Quando foi professora do 4ºano recordou-se que tinha uma aluna muito inteligente em matemática, que não era o seu forte, e, todas as vezes que tinha que dar explicação dessa matéria estudava e resolvia tudo em casa primeiro para conseguir repassar de forma satisfatória e não ficar para trás da estudante prodígio nas equações. Outro fato que lhe veio a memória foi a aplicação de um castigo que era comum na escola. Ao final da aula, as estudantes que não tivesse feito a tarefa, ficavam separadas em uma fila, no final da fila dos estudantes que haviam cumprido os deveres. Então todas as pessoas, quando viam as jovens nessa fila, sabiam que tinham deixado de realizar os deveres escolares. E em sua sala estudavam duas meninas que eram filhas de alta autoridades de Cuiabá, elas não fizeram os deveres escolares, pensando que não seriam castigadas. Mas professora Adi colocou as duas no final da fila e ficou muito brava quando uma delas ironizou com um sorriso. No entanto, num certo dia, as duas apareceram na casa da professora Adi bem arrumadinhas como se fossem para festa e disseram que estavam ali para pedir desculpas, pois seus pais tinham ficado sabendo que elas tinham participado da filinha do castigo. Isso marcou suas lembranças, pois mostra como as professoras eram muito respeitadas e valorizadas. Tinham muito apoio das famílias
Ao se aposentar conseguiu um bom salário, que somado com a pensão que seu marido deixou, podia viver bem e auxiliar sua família. Mas a dependência foi uma das coisas que a incomodou na velhice, achou uma coisa muito triste, ela ficava muito magoada e constrangida quando percebia que não faziam algo de boa vontade, pois sempre foi resolvida e nem mesmo quando passou necessidade no Rio de Janeiro, no período que estava estudando, nunca incomodou seu pai. Mas na velhice não tinha alternativa, sempre precisava de alguém. Dizia que não era mais professora e sim faxineira pois estava sempre com a vassoura na mão e de pouquinho em pouquinho varria a casa e o quintal. Era uma atividade para ocupar o tempo, ou como ela dizia: - “é para não ver a hora que nunca passa”.
Mesmo depois de aposentada sempre foi muito ativa. Participou por muitos anos do Conselho estadual de educação de Mato Grosso, tinha paixão e orgulho da cultura cuiabana e com intuito de salvaguardar e incentivar vários aspectos dessa cultura, integrou o Conselho de Defesa do Patrimonio Cultural de Cuiabá, representando a Associação Cuiabana de Cultura.
Recebeu homenagem na Assembleia Legislativa de Mato Grosso em sessão presidida pela deputada Verinha do Partido dos Trabalhadores, em razão do “Dia dos Professores,” no ano de 2003. Para homenageá-la, seu nome foi colocado em uma escola pública municipal de Cuiabá no bairro Pedra 90.
Conectava-se com a atualidade ao admirar a inteligência das crianças de sua família. Na época mandou comprar uma seleção de CDs sobre a natureza para presentear seu neto de quatro ano, quando foi passear na casa da nora, ele quis assistir junto com ela, mas depois de quinze minutos pediu par desligar, pois não estava entendendo nada. Então ele deu uma aula para ela falando como estava a situação do lixo no mundo. O neto de sua irmã assistiu pela internet como era os órgãos do corpo e depois sabia identificar o local que o câncer tinha acometido o avô. Ficava muito admirada com a expertise das crianças. Mas, observava que as crianças não estavam sabendo escrever, no entanto também estranhava o português do período e ia sempre no dicionário. Certa vez foi escrever uma carta para a revista “Seleções,” sobre a era da comunicação que o mundo estava vivendo, e foi dar como exemplo a frase do apresentador de televisão conhecido como “Chacrinha”, a frase era: “quem não se comunica se estrumbica” e na hora de escrever “estrumbica” foi pesquisar no dicionário para entender mais sobre o significado e viu que não existia essa palavra. Entendeu que a palavra falada “estrumbica” era na realidade escrita diferente, era \"trumbica”, a qual significava não se dar bem em alguma coisa. Apreciou muito esta busca por palavras no dicionário, e, para ocupar o tempo pensou em realizar a empreitada de decorar mil e setecentas palavras, que achava que a língua portuguesa tivesse, mas ao conversar com um rapaz da universidade viu que seria impossível, pois teria que decorar mais de sete mil palavras, fora as palavras que só existem em algumas regiões do país.
Por fim, considerou que para ser uma boa professora era preciso uma determinada autoridade e diálogo, sendo este último uma das conquistas da educação, porque no seu período de professora, quase não se tinha isso com os alunos. E a criança passou a ter liberdade de falar.
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