Carlos Masotti nasceu a 28 de maio de 1887 na cidade de Lonato, Província de Brescia, região da Lombardia, perto do Lago Gardana, na Itália. Eram seus pais Felipe Masotti, padeiro e Armida Samaelle Masotti, de prendas domésticas. Quando Carlos tinha 10 anos, os Masotti imigraram para o Brasil, atraídos pela miragem de uma vida melhor. Aqui, nasceu outro filho Américo, a 14 de agosto de 1901. Sua primeira residência no Brasil foi em Belo Horizonte, – na rua Rio de Janeiro, entre Caetés e Av. Santos Dumont. Aos 15 anos, Carlos consegue o seu primeiro emprego na imprensa oficial; antes apenas ajudava o pai na entrega de pão à crientela. Entusiasmado com sua ocupação e pondoà prova suas habilidades inatas, construiu um prelo de madeira, onde imprimiu o primeiro jornal em língua estrangeira editado em Belo Horizonte, UN FIORE. Em 1908, casou-se co Maria Tortoro, com quem teve sete filhos. Nesta época, possuía uma tipografia em sua residência, onde trabalhava com Américo. Em 1917, então em outro endereço, à Rua da Bahia, Carlos ainda mantinha a tipografia, mas em sua loja também fazia molduras e montava quadros, além de vender jornais e revistas. Durante a primeira guerra mundial, os periódicos chegavam a Belo Horizonte pelo Noturno da Central e Carlos fazia seus empregados aguardarem a passagem do trem pela Ponte do Saco, de onde lhe eram jogados os volumes com jornais que, assim, eram vendidos antes dos demais concorrentes. A Fotografia Após o encerramento dos trabalhos em sua loja de molduras, associou-se a Vittório Goretti, pintor em um athelier fotográfico. Quem o iniciou nesta arte foi Aristisdes Junqueira; com ele e também Igino Bonfioli (de quem mais tarde seria sócio) – Carlos adquiriu o gosto pelo ofício. Goretti & Masotti eram estabelecidos em um sobrado da Rua São Paulo, possuindo as máquinas fotográficas mais modernas da época e laboratório e ampliação de cópias, inclusive retratos a óleo e esmalte....
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Carlos Masotti nasceu a 28 de maio de 1887 na cidade de Lonato, Província de Brescia, região da Lombardia, perto do Lago Gardana, na Itália. Eram seus pais Felipe Masotti, padeiro e Armida Samaelle Masotti, de prendas domésticas. Quando Carlos tinha 10 anos, os Masotti imigraram para o Brasil, atraídos pela miragem de uma vida melhor. Aqui, nasceu outro filho Américo, a 14 de agosto de 1901. Sua primeira residência no Brasil foi em Belo Horizonte, – na rua Rio de Janeiro, entre Caetés e Av. Santos Dumont. Aos 15 anos, Carlos consegue o seu primeiro emprego na imprensa oficial; antes apenas ajudava o pai na entrega de pão à crientela. Entusiasmado com sua ocupação e pondoà prova suas habilidades inatas, construiu um prelo de madeira, onde imprimiu o primeiro jornal em língua estrangeira editado em Belo Horizonte, UN FIORE. Em 1908, casou-se co Maria Tortoro, com quem teve sete filhos. Nesta época, possuía uma tipografia em sua residência, onde trabalhava com Américo. Em 1917, então em outro endereço, à Rua da Bahia, Carlos ainda mantinha a tipografia, mas em sua loja também fazia molduras e montava quadros, além de vender jornais e revistas. Durante a primeira guerra mundial, os periódicos chegavam a Belo Horizonte pelo Noturno da Central e Carlos fazia seus empregados aguardarem a passagem do trem pela Ponte do Saco, de onde lhe eram jogados os volumes com jornais que, assim, eram vendidos antes dos demais concorrentes. A Fotografia Após o encerramento dos trabalhos em sua loja de molduras, associou-se a Vittório Goretti, pintor em um athelier fotográfico. Quem o iniciou nesta arte foi Aristisdes Junqueira; com ele e também Igino Bonfioli (de quem mais tarde seria sócio) – Carlos adquiriu o gosto pelo ofício. Goretti & Masotti eram estabelecidos em um sobrado da Rua São Paulo, possuindo as máquinas fotográficas mais modernas da época e laboratório e ampliação de cópias, inclusive retratos a óleo e esmalte. Não se limitando a Belo Horizonte, os dois sócios resolveram visitar praças vizinhas, onde pintavam os Panos de Boca dos cinemas e faziam fotografias para particulares, fazendeiros e prefeitos, improvisando seus laboratórios nos próprios hotéis em que se hospedavam. Lavras, Perdões e outras cidades do sul de Minas foram por eles visitadas. Depois de algum tempo, a sociedade se dissolveu e Carlos passou a viajar sózinho. A primeira cidade do interior na qual ele residiu foi Muzambinho, onde exerceu vários trablhos. Seu irmão Américo, já casado, o acompanhou nesta mudança. Américo ficava em Muzambinho, enquanto Carlos continuava suas viajens pelas localidades vizinhas. Indo a Guaranésia a serviçop e hospedando-se no Hotel Central, simpatizou-se tanto com a cidade e sua gente que resolveu mais uma vez transferir sua família para lá. Carlos alugou casa e esperou a chegada dos seus, o que se deu a 29 de agosto de 1923. Américo providenciou a mudança, feita através da estrada de ferro Mogyana. 25 Artesãos habilidosos, os Masotti passarm a executar em Guaranésia uma série de trabalhos além da fotografia. Um dos mais interessantes foi o conserto e reforma geral dos santo da igreja local, bastantes danificados por caírem andores durante as procissões. O Cinema Foi em uma de suas idas a São Paulo, onde adquiriam material fotográfico, que os Masotti compraram uma câmera que, por apresentar um defeito na objetiva, foi lhe oferecido por um preço bastante compensador. Depois de paciente e demorado trabalho, com poucos recursos, eles conseguiram recuperá-la e passaram a filmar familiares e cenas documentais do centro de Guaranésia. O primeiro trabalho por eles feito denominou-se “Guaranésia Pitoresca´´, produzido com ajuda de fazendeiros da região. Era um documentário de uma parte, com mais ou menos dez minutos de projeção, no qual Carlos havia sido Diretor e Américo fotógrafo. Foi provavelmente filmado em 1924. As primeiras cenas registravam a apresentação dos Masotti: Carlos era mostrado de costa virando-se lentamente para a câmera; depois era a vez de Américo, sendo de se notar que ambos trajavam ternos idênticos. Em seguida, começava o documentário propriamente dito, com alguns visitantes chegando em Guaranésia em um automóvel com capota arriada. Em determinado ponto – uma colina – o carro parava e um dos passageiros )a filha mais velha de Carlos) levantava-se e, empunhando um binóculo, olhava o panonaram, acompanhando a linha do horizonte. A câmera, então, mostrava o que ela via – a vista geral da cidade, como que observada mesmo por um binóculo. Os planos seguintes eram do jardim, das principais ruas e melhores prédios, igreja e fazendas vizinhas. No jardim, algumas crianças brincavam, e entre elas um pretinho e uma das filhas de Carlos, muito loira. Foi feita uma tomada dos dois juntos, precedida do letreiro “Luz e Sombra´´. Guaranésdia Pitoresca foi exibido no cinema local com sucesso, embora não comercialmente. Depois dessa primeira tentativa, os Masotti filmaram outras cidades, Monte Santo, São Sebastião do Paraiso e São João da Boa Vista (SP). Nesta última, o documentário mostrava uma fábrica de meias, onde havia uma cena em que algumas operárias trabalhavam nos acabamentos, precedida dos letreiros: “Serzindo Meias Dolar´´. Nessa época já fora fundada a “MASOTTI FILM´´, cujo logotipo era uma círculo, no interior do qual estava a letra “M´´. Bem no centro desse círculo, havia um retângulo com a palavra FILM, e, embaixo, o nome Guaranésia. O Longa Metragem A idéia de fazer um longa metragem de ficção surgiu para os Masotti a partir do momento em que receberam uma carta do diretor E.C. Kerrigan, americano redicado no Brasil, que já havia feito alguns filmes em São Paulo. Deppois de algum tempo pelo Expresso de São Paulo, Kerrigam chegou em Guaranésia. Era de mediana estatura, pele clara, cabelos escuros, magro, nariz adunco, ligeiramente corcunda. Era fino e educado,, impressão que perdurou durantes toda a sua convivência que teve com a familia Masotti. É provável que a sua idéia de filmar um longa metragem tenha logo sensibilizado os Masotti, pois não voltou a São Paulo sózinho. Os dois seguiram com ele, enquanto um estúdio já começava a ser construido no lote ao lado da casa de Carlos. Na capital paulista, foi comprado todo o material necessário: refletores, filmes virgens negativos e positivos, produtos quimicos para revelação e fixação, maquiagem dos artístas e até um megafone. Também em São Paulo foram contratados os artístas principais: o galã foi Roberto Rodrigues que já tinha experiência em cinema. O principal papel feminino foi entregue a uma moça de nome Isaura, de nacionalidade portuguesa, que trabalhava no teatro de variedades sob o nome de Djenane de Loty, mudado por Kerrigam para Lilian de Loty. O próprio Kerrigam foi o vilão, também com o pseudônimo de Willy Gouthier. E duas das filhas de Carlos, Lydia e Myrian atuaram com um sobrenome afrancesado: Clermont. Foi JKerrigam quem propôs aos Masotti o argumento e roteiro de “Corações em Suplício´´, aliás escritos lá mesmo em Guaranésia. Ao que parece foi aceito sem problemas, por ser uma história simples, com final feliz, como se usava na ocasião. O filme foi produzido por Fernando Máximo, gerente do Banco Campos, Lima & Cia., embora as primeiras despesas tenham sido custeadas pelos Masotti. O laboratório era na casa de Carlos. Os filmes eram presos com tachinhas em duas rodas de madeira enrrolados e mergulhados nos “banhos´´ através de movimentos giratórios manual dessas rodas cilindricas. A lavagem era feita posteriormente no quintal onde outra banheira fora construída. O começo das filmagens causou grande repercurssão na cidade e era o comentário de todas as palestras. Elas duravam o dia inteiro, com intervalo para as refeições. No domingo havia descanço. Depois de ensaiada, a cena era rodada quase sempre de umaa só vez e rapidamente. Apenas as mais difíceis eram demoradas. O papel mais importante interpretado por pessoas da cidade foi o do médico, por Fernando Latorre, alfaiate. O capataz do vilão por vivido por um senhor da família Caravieri, também de Guaranéisa. Vários rapazes que constituiam a elite local participaram de uma cena de cabaré, o que despertou ciúmes em suas namoradas. Durante as filmagens, os atores paulistas e Kerrigam permaneceram hospedados no Hotel Central. Eram simpáticos e de vez em quando almoçavam na casa de Carlos. O que chocava um pouco os habitantes da cidade era o fato de atriz Lilian de Loty ir para o stúdio trajando calças compridas e botas, assemelhando-se a um traje de montaria, com culote justo nas pernas. Américo e Carlos trabalhavam em granbde harmonia e eram ambos exímios fotógrafos. Américo ficou encarregado das filmagens (e também da parte elétrica) porque Carlos ocupava de outras tarefas como maquilagem dos atorres, iluminação etc. – oque não impediu de aparecer numa ponta, por falta de outro figurante. Assim, os últimos trechos foram filmados, revelados e providenciada sua projeção no Theatro Rio Branco (que também era cinema), da Empresa Bartolomeu Lauria, em Guaranésia. Como tudo estava bem, os atores paulistas foram liberados e viajaram. Kerrigam permaneceu em Guaranésia, acompanhando a montagem de “Corações em Suplício´´, feita pelos irmãos Masotti. Exibição e Distribuição Não houve preparação especial para a estréia de “Corações em Suplício´´ no Theatro Rio Branco, apenas cartazes de propaganda espalhados pela cidade. No dia 7 de janeiro de 1926, quinta feira, às 19:30 hs, o cinema estava lotado e a sessão ocorreu sem nehum incidente ou parada durante a projeção. A reação do público foi muito boa e Kerrigam e os Masotti foram bastante felicitados. Depois, Carlos e Kerrigam seguiram com o filme para o Rio de Janeiro, onde ficou em cartaz por uma semana no Cine Rialto. No seu regresso a Belo Horizonte, Carlos conheceu José Silva e foi desta forma que se conseguiu a cópia de “Corações em Suplício´´ para com ela percorrer o interior de Minas. O filme estreiou em Belo Horizonte em maio de 1926, nos cinemas da Empresa Gomes Nogueira: Odeón, Pathé, Avenida, América e Floresta. Carlos Masotti, pessoa muito saudável, sem nunca ter adoecido; apanhou um resfriado no dia 5 de dezembro de 1927, que se agravou, passando a pneumunia e por fim meningite – o que ocasionou a sua morte no dia 10 de dezembro. Isto determinou o fim das atividades da “Masotti Film´´. Nessa ocasião, sé restava a câmera que filmou “Corações em Suplício´´ (aliás a mesma que tinha um defeito na objetiva), tendo Américo alevado consigo e posteriormente vendido.
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