P/1 – Seu Bispo, primeiramente, eu queria agradecer pelo tempo e pela disposição do senhor. Agradecer muito. E vamos começar, então, perguntando seu nome completo, a data e o local de nascimento do senhor.
R – José Bispo das Neves, nascido em nove de maio de 1949, São Felipe, Estado da Bahia.
P/1 – Legal. E os seus pais, seu Bispo, qual é o nome deles?
R – Meus pais, a mãe, Matilde Correa Caldas, meu pai não aparece o nome no documento, ele chamava Profiro Bispo das Neves, mas não aparece em documento.
P/1 – Não aparece em documento, não foi registrado?
R – Acho que eles não chegaram a casar, então não aparece.
P/1 – E de onde são os seus pais, seu Bispo?
R – Meus pais são da mesma região, também da cidadezinha de São Felipe, Bahia.
P/1 – Cresceram na Bahia. Onde que é São Felipe?
R – São Felipe é uma… eu diria que no recôncavo baiano, lado lado de Nazaré das Farinhas, bem conhecido como a terra do Vampeta, né? (risos)
P/1 – Eles são dessa região, sempre foram de lá, família dos dois…
R – Sempre de lá, mesmo. Aquela coisa, vizinhos e a família vai aumentando, né?
P/1 – E seus avós também são de lá?
R – Tudo da mesma região, também.
P/1 – Você conheceu os seus avós, seu Bispo?
R – Eu conheci, era bem novo, né, quando os dois faleceram, até também quando eu perdi o meu pai também, meus pais foi muito cedo, também. Com 12 anos de idade, eu já não tinha nem avô, nem avó, nem pai e nem mãe. E assim, a gente… levamos a vida com cinco irmãos, graças a Deus, estão todos bem de vida.
P/1 – Desculpas até perguntar, se o senhor não quiser tratar do assunto, até a gente pode passar, mas como que foi isso?
R – Na verdade, são coisas mesmo de… acho que era o dia deles, não foi coisa de doença, não foi todos juntos, foi cada um no seu tempo, mas a verdade é que logo cedo, eu fiquei sem eles, né, e tivemos que encarar a vida do jeito que eles ensinaram. Hoje, graças a Deus, estamos bem, estamos aqui.
P/1 – E o senhor lembra como que era a sua casa, a sua relação com os seus pais, assim?
R – Na verdade, os pais sempre ensinaram a gente o que era bom para todos, né, talvez é por isso que todos aprenderam uma boa lição que estamos hoje tudo bem, conseguiu crescer e aumentar essa família, estão quase todos casados e com uma turma boa de filhos, né?
P/1 – E como que era a casa que o senhor cresceu lá?
R – Normalmente, era uma casa da roça, né, que eles falam. Uma casinha de madeira, de barro, que eles falam, né, não é na base de tijolo e cimento, coberta de palha. A casa da gente era uma casa normal. E aí, a gente vivia a nossa vida ali.
P/1 – Tinha um quintalzão?
R – Quintal e espaço era o que mais tinha, porque normalmente, na roça sempre tem muito quintal. Tinha quintal, tinham plantas, frutas, tinha umas coisas que a gente tirava pra poder se alimentar também do espaço, do terreno. Era uma vida boa, para nós, naquela época era ótimo.
P/1 – Vocês se alimentavam do quê?
R – Na verdade, era… a alimentação mais fácil seria a gente vivia muito da farinha de mandioca, o inhame, a batata, às vezes, chegava… já teve época de passar dificuldade um pouco por não ter os produtos, mas conseguimos passar essa fase.
P/1 – E você falou que tem cinco irmãos, que vocês são em cinco irmãos?
R – Cinco irmãos.
P/1 – Como que é essa escadinha, seu Bispo?
R – Essa escadinha, na verdade, eu sou considerado como homem dos mais velhos, né, e era eu que conduzia os outros, até recebendo nome de pai pelos mais novos, porque era eu que dava as ordens e para eles, era eu que tava ali para atender. No momento, as necessidades que eles precisavam saber, era eu que dava as ordens para eles, as respostas do que eles queriam saber.
P/1 – E como que era assumir essa responsabilidade, assim, assumir esse peso, de repente? Como que foi?
R – Na verdade, assim, a gente novo não pensa em nada disso, né? Mas acontece que chega um momento que você tem que crescer e além de crescer, tinha uns vizinhos que às vezes, deu até alguma ajuda pra gente, vendo a necessidade do momento, mas conseguimos sair dessa para uma outra melhor. Mas não é muito fácil, não. Hoje, se você não tiver um bom começo de vida com a família, uma situação dessa é bem delicada para você conseguir chegar onde nós estamos hoje.
P/1 – E você falou desses vizinhos, aí, tinha uma vizinhança boa ali na cidade?
R – Em vilarejo assim, quase ano tem muito, mas aqueles poucos que tem, eles acolhem você também como fosse um grande, muitos vizinhos, né? Acho que o importante é o calor, aquela vontade de querer ajudar. Tudo naquele momento vale, né, algumas coisas que, às vezes, tinha necessidade, que eles precisavam, as vezes, trazer um pouco de comida, alguma coisa que faltava, eles ajudavam. E a gente vivia disso aí, né?
P/1 – Teve algum vizinho marcante, assim, que ajudou?
R – Olha hoje, por exemplo, para falar a verdade, os vizinhos que nós tínhamos eram todos marcantes, porque só tinha a gente naquela situação e eu tinha que, às vezes, trabalhar um pouco a mais para poder cumprir talvez um dia do meu pai, eu tinha que trabalhar dois até para pagar uma renda do espaço que a gente morava, né, e era muito difícil. Os vizinhos, todos que chegavam, eles olhavam a gente com bons olhos, ajudavam muito nessa parte pra nós, mesmo pequeno, nessa idade, eu me lembro que eram todos marcantes.
P/1 – E a casa era arrendada, então?
R – É, casa arrendada. Como a gente pagava uma… a gente chamava de renda, né, como o meu pai era homem, pagava, dava um dia. Eu como era meio homem, tinha que dar dois, né? (risos)
P/1 – Um dia de trabalho?
R – É, um dia de trabalho. No caso meu, fazia dois dias para poder pagar um dia de renda.
P/1 – Trabalho para o dono das terras?
R – Para o dono das terras. Que antigamente tinha isso, né, você não tinha um terreno, não tinha aquilo que era seu mesmo, então trabalhava de renda para poder pagar. Era normal na roça, sempre se fazia isso.
P/1 – E o forte da região era a produção de farinha?
R – Lá nessa região, a gente plantava de tudo, era farinha, era feijão na época, era milho na época, amendoim. Tudo tem o produto da época, porque agora mesmo, nós estamos chegando em junho, agora, vai ter uma colheita de amendoim, que eles arrancam o amendoim para… é lavado, esse amendoim de vagem que você vê, lá na Bahia, eles comem ele cozido, seria… é muito gostoso, então, você arranca na hora ali, cozinha e come, cozinha com sal, é muito gostoso. Até aqui, eu consigo, como eu não acho o amendoim cozido, eu compro amendoim seco e ponho ele de molho 24 horas e cozinho para comer, quando eu quero comer alguma coisa diferente, assim. Superinteressante…
P/1 – E aí, dá esse gostinho de…
R – É, gostinho do pião, como a turma gosta aqui, né? é superinteressante isso aí.
P/1 – E pelo jeito, o senhor teve que trabalhar muito cedo, mas o senhor chegou a brincar na infância? Como que era essa coisa?
R – Olha, essa coisa de brincar na nossa época era muito difícil, porque a gente tinha que fazer de tudo para tentar trazer alguma coisa pra dentro de casa, né, e aí, você tinha que sair dali para ir para uma cidade, ir de animal, punha uma carguinha no animal, aquilo que você colhia durante a semana, existe o dia de feira, onde você tem que levar aquilo pra vender, para colher aquela grana e comprar alguma coisa, né, então a vida era sempre essa. Brincadeira, brincar não era muito o nosso forte porque não tinha tempo pra isso. A responsabilidade falava mais forte, né?
P/1 – Vocês tinham algum animal?
R – Naquela época, existia cavalo, o jegue, que era o animal que se usava muito, né, era forte, assim, para levar uma carguinha na cidade, que carro era muito difícil, nem sabia o que era carro. Só quando ia na cidade. E chegamos até a fazer carga, até em boi nós chegamos a fazer, fazer uma viagem em boi. Menino gostava de andar disso daí também.
P/1 – É uma lembrança?
R – É, é uma coisa que não pode esquecer, né?
P/1 – Como que era andar de boi, assim?
R – Andar de boi é como você estar num carro bem seguro. A condução mais firme que tem para você andar é um boi, porque naquela época de chuva, de terra escorregando na estrada, o boi não escorrega, ele tem a pata aberta na frente, quando ele pisa, ele pisa firme. Bem interessante, então é mais seguro do que andar num cavalo, num burro.
P/1 – E quando você diz ir para a cidade, é para essa Nazaré…
R – Aí, ia às vezes, para a cidade mesmo, São Felipe, que era um interiorzinho, que a gente tinha a roça, ou às vezes, ia também para Cruz das Almas, que é quando a gente saía para uma cidadezinha mais longe para poder faturar um pouquinho mais. A cidade hoje não tá muito boa, tá tendo muita gente indo pra lá, a gente ia para outra cidade, ia pra Maragogipe, ia pra Roqueiro, que fica perto de Cachoeira, não sei se você já ouviu falar Cachoeira na Bahia? A gente sempre saía para o lado onde podia catar um pouco mais.
P/1 – E você estava falando que sempre teve essa questão da responsabilidade, então o senhor, mesmo antes de ter que assumir toda essa responsabilidade, o senhor já ia com o seu pai…
R – É, o meu pai já me jogava na cangalha (risos), que é já ia me ensinando tudo, né? Aliás, eu ia já para ajudar, já vinha nesse roteiro já há mais tempo.
P/1 – E o senhor assume aos 12 anos?
R – Aos 12 anos, a responsabilidade começou, praticamente, 100% da minha parte e consegui levar a vida tranquilo. Tranquilo pelo conhecimento que se já tinha, os irmãos ajudando catar o que tinha para levar para a feira e lá, a gente fazia a venda, comprava… fazia a venda e com aquele dinheiro, fazia a feira, né? Mas era pouca coisa, porque não dava para faturar muito, né, às vezes, no meio da semana, faltava umas coisinhas pra comer, que não dava. Os vizinhos quebravam o galho, ajudavam a gente em algumas coisas, a gente conseguia chegar no final de semana pra arrumar mais alguma coisa.
P/1 – E o senhor ia para a escola nessa época, seu Bispo?
R – Antes do meu pai morrer, eu ia ainda porque dava pra ir, às vezes, faz final de semana quando eu acompanhava ele, quando era uma coisa assim, uma viagem mais rápida, às vezes, dava pra ir, mas a escola, depois que ele morreu ficou mais difícil pra mim, porque ou eu estudava, ou eu ia cuidar dos irmãos.
P/1 – E como que era para ir para a escola?
R – A escola não era difícil, porque eu tinha aquela vontade, né, mesmo com o pouco tempo que eu tive, eu aprendi muita coisa que me ajudou até no meu roteiro hoje, né? E até que deu pra estudar até quando eu estudei lá na roca, me ajudou muito, até para quando eu cheguei no comércio, cheguei aí no comércio sabendo alguma coisa que me ensinou até hoje.
P/1 – Só para fechar essa parte de perguntas mais antigas, o senhor tem alguma lembrança, assim, uma coisa que sempre vem à cabeça quando o senhor lembra do seu pai ou da sua mãe?
R – Assim, a família da gente, os pais, normalmente, a gente chama de o alicerce da casa, né, a gente nunca esquece. O que eu tenho hoje foi ele que me deu. Educação, respeito, saber respeitar os outros, saber andar, porque quando o seu pai ensina você a andar, você só erra o passo se quiser e hoje eu tô com 67 anos, acho que eu nunca… eu, se eu tiver que responder para você, eu nunca errei os meus passos. Eu só faço tudo consciente daquilo que eu estou fazendo. Então, você nunca vai deixar de não ter lembranças desse pai. É uma pena que foi cedo, mas pelo menos, deixou uma semente aqui para poder brotar como que fosse ele que tivesse.
P/1 – E da sua mãe, você tem alguma lembrança vivida, dela, assim, ou um gosto de alguma comida?
R – A mãe da gente, até hoje, eu chego a falar pra minha esposa que quando a gente lembra da mãe, a gente tem uma outra pessoa ali que tá fazendo essa cobertura, que tudo o que a mãe da para o filho, por menos cuidado que ela tenha para fazer, tudo é melhor do que qualquer coisa que você faz com mais cuidado, que ela faz com carinho. E aquilo não tem preço e a gente nunca esquece daquele caldinho gostoso, aquele pirão que deixa a gente feliz na hora que você senta na mesa e tem um elemento que Deus mandou. Aquilo não tem nada melhor.
P/1 – Tá legal. E um pouco mais dessa… voltando um pouquinho para a escola, teve alguma professora que o senhor lembra assim?
R – Eu tive uma professora, hoje eu não sei se ela ainda existe, como é que é, chamava professora Eva, era uma professora que ela fazia com que o aluno aprendesse. Eu, com esse pouco tempo meu de escola, eu era um exemplo de sabatina, não sei se isso existe isso hoje, ainda. Matemática eu era bom, mesmo, dois e dois pra mim nunca foi cinco (risos). Mas eu era sempre bom e eu gostava, ela puxava muito, uma das coisas que me ajudou muito.
P/1 – Te incentivava?
R – Me incentivava e puxava, mesmo, sempre tinha a sabatina e tinha aquela coisa de… e o pouco tempo, eu aprendi muito com isso, além de que me ajudou muito em Matemática, a parte de aprender escrever, saber o quê que tava lendo me ajudou muito. E hoje eu tô… não estudei muito, mas esse pouco que eu estudei foi a abertura de um caminho que consegui muita coisa através disso.
P/1 – Fala um pouquinho pra gente agora sobre a sua relação com os seus irmãos. Como que foi a partir desse momento?
R – A relação com os meus irmãos sempre foi boa porque depois de um determinado tempo, a gente foi começando a se separar, que aí eu tive que ir para a cidade procurar alguma coisa onde eu ganhasse um pouco mais, um emprego, onde eu podia crescer um pouco mais até porque a roça na época da seca complica um pouco pra gente que trabalha na roça. E eu fui um dos primeiros a ir para a cidade para tentar alguma coisa, mas os meus irmãos, a gente sempre se deu bem. Eu fui para a cidade, fui levando, hoje eu tenho um dos irmãos que ele é dono de uma moaria dentro de Salvador, duas irmãs casaram e tem o caçula que hoje, trabalha com negócio de embarcação, aquelas coisas para não entrar água nos barcos. Há muito tempo que eu não vejo ele porque é difícil a comunicação lá com ele, mas nós sempre nos demos bem. E o que eu pude fazer para poder deixar todos empregados quando chegamos em Salvador. Sempre nos demos bem, fomos levando um, depois o outro e aí, foi todo mundo. Chegamos a morar uma parte junto lá e todo mundo foi casando, entendeu, montando a sua família, mas hoje, eu chego lá em Salvador, eu tenho onde ficar, e abriga é que se eu vou na casa de um, eu tenho que tomar café na casa de um, lanche na casa do outro, almoçarem um e jantar no outro, é uma briga legal. Então, a gente… uma vez, a minha mulher falou: “A competição é muito grande”. Eu já cheguei a sair daqui pra Salvador, passei 20 dias lá, consegui engordar 15 quilos, porque você vira louco. A comida de lá eu como muito e não tem nada, os caras judiam da gente, sabem que a gente gosta, a gente chega e vai para a casa dos cunhados também, que a família da mulher é de lá também, aí não tem barriga que aguenta, né?
P/1 – O senhor gosta bastante da comida?
R – Gosto. Domingo mesmo fizeram uma surpresa pra mim e eu tinha completado anos segunda-feira dia nove, e no domingo, me prepararam uma surpresa, cheguei em casa, tinha mais de 100 pessoas lá. Minha mulher preparou uma recepção de couvert de entrada de acarajé, aí começou… não prestou, aí foi a salada de carne seca, aí foi começando… legal isso aí.
P/1 –Queria que o senhor falasse um pouquinho agora, que o senhor comentou sobre essa dificuldade da seca, o senhor tava falando que é muito difícil quando vem a seca na roça, como que é isso?
R – Assim, a gente que passou por essa situação sabe que quem vive na roça hoje não é fácil, depende muito do tempo, depende de água, e a chuva, de vez em quando, ela é muito, também atrapalha o cara que trabalha na roça, mas você precisa sempre dela, porque o cara que trabalha… o lavrador, que trabalha na roça, ele tem o mês certo pra fazer a plantação do produto que ele precisa para poder saber quando ele vai colher, tá? Então, se a chuva atrasa um pouco, atrasou o lado dele. Eu já cheguei a… teve época de eu ter que procurar alguma coisa até para arrancar para comer e não conseguia, porque dependia de um pezinho de mandioca que Deus esqueceu lá, arrancar ela, ralar no ralo pra poder fazer um beiju para comer, então, são coisas que a gente… hoje a gente valoriza muito essa coisa, sofremos muito com a falta de água. Hoje, se você perguntar para qualquer pessoa que depende da roça, se a gente soubesse o valor que tem, o trabalho que dá para o cara conseguir colocar comida dentro de casa dependendo da roça, na época de seca, ninguém mais quer trabalhar na roça. Mas tem gente que não abre mão disso, gosta daquilo que faz e eu sofri muito por causa da seca.
P/1 – Tem algum jeito de driblar a seca ou quando ela vem é inevitável?
R – Quando a seca vem, não ha jeito de driblar, você tem que rezar e pedir, como a gente aqui pediu muito em São Paulo para chover, nós dependemos da água para poder molhar o solo, para você poder plantar o grão e para ele brotar. Se não tiver isso aí, aí você vai no rio pegar um peixe, já não tem mais nada porque a água tá secando. Sempre tem alguma coisa, ou você tem um peixe, ou tem alguma coisa da roça pra arrancar. Se você não tem, com certeza, vai sobrar pra você que não vai ter nada para comer. Às vezes, você vai no pé de jaca não tem uma jaca pra comer e assim, fruta quase não tem. Então, depende muito da chuva para poder brotar para render aquilo lá.
P/1 – Você falou de rezar bastante. Tem uma tradição muito bonita, muito rica de tanto festas quanto de culturas no interior relacionada a região. Tinham essas festas, festa de São João, essas festas na região em que o senhor morava?
R – Isso aí é uma coisa bem antiga, já existia antes de eu nascer. É uma das coisas que a turma, mesmo a situação estando ruim, a turma não deixa de se divertir, para eles, aquilo ali, talvez é melhor até do que estar com trabalho. Tem gente que às vezes, tem uma festa hoje ou se puder trabalhar hoje pra se divertir amanhã , eles vão fazer isso, entendeu? E a gente tava lá, também acompanhava esses momentos, porque só tinha aquilo ali, você não ia deixar de ir numa festa de São João por causa de um trabalho que precisava fazer no outro dia, que dava para fazer. Eu mesmo gostava, era um cara que gostava muito de dançar um forrozinho desde pequeno, nunca abri mão, pôs fogo na bomba para ouvir o barulho, tocar um fogo, chamado cobrinha, que eles chamam, só para ver o que ela apronta, porque você solta uma cobrinha no meio do pessoal, vixi! Ela corre para todo lado e você só vê nego pulando e a gente, que era criança, gostava muito dessas ideias, né? E eu sempre gostei de festa de São João, como até hoje eu gosto, não aproveito muito aqui, porque aqui quase não tem aquelas que tem lá, né? Mas já cansei de sair daqui pra ir pra lá para pegar um forrozinho lá, não dá para desistir, forró e carnaval de lá não dá para deixar de ir.
P/1 – E como que era essa festa?
R – Eles fazem um… como faz aqui também na Festa Junina, né, que os caras fazem as barraquinhas para vender, se divertir e tocar forró. As músicas, vem as cantoras, os cantores improvisados, todo mundo se divertindo, bem interessante.
P/1 – Lá, o forró é melhor?
R – É que lá a gente considera que é melhor, né, mas tem forró bom por aí. Depois que você começa a conhecer um pouco, lá no… é uma coisa que marca, né, chega ali, tá todo mundo ali, conhecido, é bacana isso aí. Você tá no lugar, já tira você para dançar: “Vamos dançar, você não pode ficar parado”, forró, tomando uns licorzinho, né, para poder deixar o cara… (risos) bem interessante.
P/1 – E o senhor tocava já nessa época alguma coisa?
R – Não, na verdade, eu nunca fui de tocar nada, eu sempre tentei tocar depois de velho, mas não teve condições, não, porque os dedos não acompanham os acordes (risos).
P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouquinho, então, agora como que se dá essa saída da roça, o senhor falou que foi o primeiro a ir para a cidade, né? Como que foi isso? Quando que o senhor decidiu?
R – Na verdade, tinham uns conhecidos que eram vizinhos nossos que estavam na cidade e com esse conhecimento deles, ele viu a necessidade e achou que eu tinha a condição de ganhar um dinheiro onde eles estavam trabalhando e fui acompanhado por ele, era quase primo, até. Ele me levou pra lá e eu comecei a trabalhar numa fábrica de artefato de construção, ou seja, numa fábrica de mármore e comecei a minha vida numa marmoraria. Só que a marmoraria, para mim, era uma empresa que pagava bem na época, mas o trabalho não ficava bem para mim, porque eu era um lixador de mármore e era muito pó, naquela época, eu não me dei bem, aí eu procurei outro serviço. Aí, tinha um outro colega que era primo também, trabalhava num comércio, me chamou para trabalhar no comércio, aí eu sai da marmoraria para o comércio. Entrei no comércio acho que em 1969, mais ou menos e de lá, nunca mais sai do comércio.
P/1 – Isso foi em São Felipe?
R – Isso eu tava em Salvador.
P/1 – Já em Salvador?
R – Já em Salvador.
P/1 – Quando o senhor vai para a marmoraria, a marmoraria é em Salvador?
R – Em Salvador, já.
P/1 – Isso foi em 59?
R – Em 69 eu tava no comércio em Salvador.
P/1 – E como que era esse comércio?
R – Considerado… um mercadinho aqui que era considerado lá, chamava uma venda, mas aqui, a gente considera como um mercadinho. Tinha de tudo e se cortava carne seca, se vendia tudo pesado na mão, né, e hoje eu vejo o conforto que temos no comércio, que naquela época, você todo trabalho no dedo e o cara chegava: “Dá um litro de feijão”, um quilo de feijão, que na época, acho que era litro ainda que era medido, aí você pegava uma folha de papel, punha no prato da balança, pesava um quilo de feijão e enrolava no dedo e era assim que o balconista trabalhava e era muito interessante quando você enrolava o quilo de feijão no papel, na folha de papel, parece que hoje… aquele jeito da gente enrolar parecia mais segurança do que hoje no saco que a gente põe aqui e ainda põe um durex para segurar, né? Então, era bem interessante, às vezes, você começa a analisar aquela época antes do que é hoje, a facilidade de se trabalhar no comércio, mudou muita coisa, você pegava um quilo de feijão… o cara falava: “Dá um quilo de feijão, dá meio quilo de café, 250 de café…”, ou ¼, que era uma linguagem mais usada, era tudo feito no dedo, enrolado… pesava no papel e enrolava no dedo. Hoje não, hoje é tudo prático, tudo mais fácil.
P/1 – Qual que é o nome da venda que o senhor trabalhava?
R – Chamava Mercadinho Lucia, hoje não existe mais porque os donos já desfizeram, não sei, mas o primeiro comércio que eu trabalhei chamava Marcadinho Lucia.
P/1 – Você lembra do seu primeiro dia lá, como que foi?
R – Primeiro dia é como você entrar numa casa e não conhece ninguém e a turma até que me recebeu com boa vontade, porque o amigo que me apresentou, que era vizinho de um outro comércio do cara, me levou lá e falou: “A gente é parente, eu garanto”, a entrevista não tinha muita coisa, não. O cara falou: “Você tá pronto para trabalhar?” “Tô”, eu entrei para trabalhar no comércio, né? Naquela época, era saco de feijão, saco de arroz, fardo de carne para cortar, o trabalho nosso era mais aquilo ali, açúcar, café, tudo do comércio tinha lá e era tudo pesado ali, fazendo a conta no lápis, como eu era bom de conta, isso aí não ligava muito, foi muito fácil. Primeiro dia, eu já fui ganhando um espaço, né, ganhando confiança de todo mundo já começou a me dar uma força, que eu era novo, né, dois dia, três depois, a gente começa a ver as coisas erradas lá e eu comecei a ver, a gente mora na roça, não sabia nada, eu via que tinha coisa errada. Na época, o patrão que era o compadre do dono achava… tinha muita confiança nele, eu vi que tinham algumas coisas erradas, aí eu via aquilo e ficava com medo de falar, porque não estava acostumado, criado na roça, não sabia o que era coisa errada e aí, eu dei um toque para o patrão lá que tinha coisa errada, ele começou a acompanhar e depois, chamou a pessoa e realmente, provou que tinha erro, aí acho que no meio da semana, ele me deu a chave da porta da loja para eu abrir no outro dia. Falei que não ia abrir, aí ele falou: “Você vai abrir sim”, me deu a chave e falou: “Não tô aqui, tô viajando”. Aí, fui pra lá de manhã, fiquei esperando quase meio dia, tinha uma senhora na frente que ainda falou: “Abre a porta que ele confiou em você, é você quem vai abrir”, eu falei: “Não”. Aí depois, apareceu, depois de meio-dia, abriu a loja e falou: “Tô abrindo, mas a partir de amanhã é você mesmo que vai abrir porque você que vai tomar conta aqui”, que ele tinha mandado o compadre embora, achei meio estranho, mas aí, comecei a minha vida de responsável por aquela loja e começando ali, ele abriu parece que três ou quatro lojas depois, uma delas, um dos meus irmãos passou a ser gerente dela. E passado um determinado tempo com ele já, eu achei que era um cara que tinha sempre capacidade para vencer na vida, naquela época, eu pedi um aumento para ele que eu achava que merecia e ele não atendeu as minhas necessidades. Aí, eu falei para ele que eu ia embora da firma, ele não aceitava de jeito nenhum, falei para ele: “Preciso crescer”, e foi quando ele não quis abrir mão do aumento que eu precisava, aí eu entreguei a chave pra ele, acertei as contas e sai para aqui em São Paulo.
P/1 – Ainda voltando um pouquinho, quando o senhor vai para Salvador, é a primeira vez que o senhor vai para Salvador?
R – Eu nem sabia o quê que era… imagina você andar de navio a primeira vez, menino quase sem saber de nada do mar, né? Aquilo lá já era… no meio do navio, onde é que você tá aqui? (risos) Não é muito fácil não, você encarar um navio sem conhecer, saindo da roça, a seca, tem tanta necessidade de água e ali, tanta água sobrando. Foi a primeira vez que fui parar em Salvador.
P/1 – Foi de navio?
R – Foi de navio.
P/1 – Qual que era o navio?
R – O nome desse navio, antigamente chamava João das Botas, não sei se ainda existe (risos), tenho em São Paulo, 45 anos em São Paulo e mais… isso tem mais ou menos 50 anos, não dá para saber muita coisa mais, mas chamava João das Botas, um navio que fazia um roteiro, como uma balsa, né, que sai de um… e esse era o navio, pegava todas as cargas de uma cidadezinha chamada Maragogipe para Salvador, então ele fazia esse percurso, levava carga, levava muito passageiro e foi interessante a primeira vez a viagem de navio.
P/1 – E como que foi você chegando em Salvador, assim, olhando aquela cidade?
R – Olhando a cidade eu tava mais perdido do que cego em tiroteio (risos), porque você vai pegar uma… chega numa cidade, a única coisa que você tem é que tem que acompanhar quem tá te levando, porque senão, mais nada você vai saber, se tá só você ali, você tá perdido da vida, né? Mas graças a Deus, conseguimos superar isso aí, passou os momentos de susto, né, porque quando você chega ali, começa a se mover, conhecimento, apresentar e começar a trabalhar, começa a acontecer muita coisa, mas foi muito… o começo da vida assim foi difícil, mas conseguimos superar tudo.
P/1 – O quê que você achou de Salvador? Gostou?
R – Salvador era uma coisa já… talvez, até bom demais pelo aquilo que eu conhecia e foi uma cidade onde me acolheu que eu consegui já conhecer muita coisa, assim, entrei na primeira… ali, minha primeira escola, né, porque onde eu comecei a trabalhar e principalmente coisas que eu nem sabia, né, graças a Deus, eu me dei bem, né, todo lugar que eu chegava… você sai de uma roça, trabalhar com uma enxada para entrar em qualquer trabalho que você faça é totalmente diferente, para você se adaptar não é muito fácil, porque a diferença é muito grande.
P/1 – E Salvador é uma cidade bonita?
R – Quando eu conheci já era bonita, e morando lá, ainda ficou mais bonita, porque você conhece um pouco mais da cidade. Hoje, eu conheço Salvador, eu diria que quase tudo, né, porque depois do tempo que eu sai de lá, houve muita mudança, mas é uma cidade que tem muita gente que gostaria de morar. Tem uns local onde você pode aproveitar um pouco a vida, tem os pontos de investimento. Naquela época, era muito fácil porque todo mundo gostava de se divertir, quando tinha um tempinho, a gente aproveitava um pouquinho, né?
P/1 – E o senhor morava onde lá?
R – Em Salvador? Em Salvador, cheguei a morar em Cosme de Farias, mesmo, onde tinha essa loja e depois, eu sai para Paula Lima que é um bairrozinho meio distante e minhas irmãs moram na Vila Canário, meus parentes moram em Vila Canário, que é ali perto do Clube Ypiranga, não sei se você conhece alguma coisa lá, perto da Cajazeira, quase saída de Salvador e entrada para o Brasilgás, ali, um lugar bem conhecido.
P/1 – O senhor falou, já aproveitar aí, o senhor ia num forrozinho lá em Salvador, então?
R – Assim, quando você tem uma brechinha, você vai aproveitar um pouco pra não esquecer, né, tanto que quando eu vou para lá, sempre… já não vou nem para salão, sempre os irmãos, cunhados, sempre aprontam alguma coisinha pra gente se divertir, né? Sonzinho lá. É que agora, depois de velho, já começa a andar mais devagar, né? (risos)
P/1 – E os seus irmãos ficaram lá em…?
R – Tudo em Salvador. Eles… os irmãos estão todos em Salvador.
P/1 – Não, digo na época?
R – Na época, estavam em São Felipe, lá.
P/1 – Nessa época já, o senhor foi trazendo eles para Salvador?
R – É, para Salvador.
P/1 – Aos pouquinhos?
R – É, em pouco tempo, a gente já levou todos para Salvador.
P/1 – Então, quando o senhor vem para São Paulo…
R – Já tava todo mundo em Salvador e todo mundo já tocando a vida dele, né, porque uns eram encarregados de lojas, aí já começou, minhas irmãs já estavam casadas, já, conseguiram casar e ficou só o caçula que casou depois, que eu não tava mais lá em Salvador, também não cheguei a acompanhar.
P/1 – Quanto tempo o senhor ficou em Salvador?
R – Acho que mais ou menos uns seis anos.
P/1 – Legal e aí, o senhor falou que teve esse problema e essa questão, esse desentendimento e aí, o senhor veio para São Paulo?
R – Porque na verdade, era um cara que eu até gostava bem dele, ele gostava do que eu fazia, mas a gente não entramos num acordo naquilo que eu achava que eu precisava ganhar, que eu sempre fui um cara que me identifiquei bem ao trabalho e como não entramos num acordo, falei para ele: “Olha, gostaria de deixar claro que eu tô deixando a empresa com toda a responsabilidade e hoje, tô deixando tudo na sua mão, queria que acertasse”, ele acertou, peguei um ônibus na época, cheguei na rodoviária e falei: “Vou para São Paulo ou para o Rio”, para São Paulo, comprei a passagem e vim para cá.
P/1 – Veio de ônibus, então?
R – É.
P/1 – Como que era a viagem?
R – A viagem, se eu não me engano, era 36 horas de ônibus de lá para cá, era meio cansativo, né, porque… mas como eu não tinha pressa para chegar, né? Aí, eu cheguei aqui num dia, no outro dia, eu tava trabalhando.
P/1 – Já no outro dia?
R – É, no outro dia, eu arrumei serviço para trabalhar.
P/1 – Como que foi essa chegada aqui em São Paulo?
R – Quando eu cheguei, quase não aguentava… porque lá em Salvador, a gente não usava meia, era um sapato ___00:42:59____ e quando eu cheguei, o pé começou a congelar, porque era um frio que eu nunca tinha visto, imagina descer aqui na rodoviária sem saber o quê que era o frio. E daí, tinha uma pensãozinha aqui na Eduardo Prado, entrei lá, que tinha um conhecido que morava lá, me deixou lá, aí no outro dia, eu já sai para procurar serviço, achei um serviço lá na Conselheiro Brotero de repositor, o dono falou: “Você quer trabalhar agora?”, eu falei: “Quero”, comecei a trabalhar no outro dia mesmo, porque eu vinha com pouco dinheiro, se você gasta é complicado e lá eu fiquei pouco tempo, uns dois, três meses porque eu comecei a fazer serviço de dois e na hora, acho que ele achou que eu ia ganhar muito, né, começou a cortar, aí eu falei: “Então, acerta esse mês” e aí, sai fora. Vim no Mercadão, fiz entrevista no Mercadão, aí entrei e fiquei de 73 a 86 no Mercadão, 13 anos, passei por aquela faculdade ali… gostei muito de trabalhar aqui. Cheguei lá, o dono fez uma entrevista, a entrevista era muito rápida, pôs um peixe na balança, falou: “Sabe fazer conta?”, eu falei: “Sei”, pôs um bacalhau na balança, falou: “Quanto é que é?”, eu falei: “É na cabeça ou no lápis?” “Eu quero a conta que o cliente tá com pressa”, falei: “É tanto” “Pode começar a trabalhar” (risos), era tão bacana. Era fácil, porque se você sabia fazer uma conta era tudo mais rápido. Fiquei 13 anos lá com ele.
P/1 – E como que era o Mercadão?
R – O Mercadão era… eu gostava de trabalhar no Mercadão, até pela população que tinha, pelas visitas, muita gente que vinha, tinha um movimento longo, né, e aquilo ali quando você tem um movimento bom, você não tá acostumado com aquilo, você vê o dia passar sem você ver a hora, né, então, era bom de se trabalhar. Hoje eu não sei como é que anda, mas era sempre loja cheia, direto. E lá, eu fazia serviço de… atendia e às vezes, ajudava um pouco nas compras, também. O patrão aí sempre gostava bem de mim também.
P/1 – E o senhor chegou lá de Salvador aqui em São Paulo. São Paulo, o senhor veio na década de 70, né?
R – É, em 73 eu cheguei aqui.
P/1 – E como que era essa São Paulo, aí?
R – São Paulo, se você conhecia Salvador, achava que era uma cidade grande, né, imagina você chegar em São Paulo, né? Aí, quando você desce na rodoviária e vê aquela população de gente lá, que lá em Salvador tem, mas é totalmente diferente, né, já começa a estranhar. Mas é assim mesmo, eu tinha que dar um jeito de comprar uma blusa pra vestir, né, porque já tive que mudar o estilo, comprar uma meia, usar a meia, começar a trabalhar. A gente começou a andar e conhecemos um pouco. Realmente, é totalmente diferente, cidade bem diferente em até muitas coisas que… muito setor que você conhecia lá, chegando aqui, era outra coisa. Lá, eu conhecia bem o mercado Modelo, conhecia Água de Meninos, aqui, chegando no Mercadão, é uma coisa totalmente diferente. não sei se você chegou a conhecer alguma coisa de Salvador, conhece, não? Um dia, vá conhecer que você vai gostar, mas é uma outra área, totalmente diferente, você trabalha no Mercadão para trabalhar em Salvador.
P/1 – Como que é diferente?
R – Talvez, produtos, você dentro do Mercadão, você encontra, praticamente, tudo. Tudo que você precisar, você encontra no Mercadão e lá, às vezes, você tem que andar um pouco para procurar porque tem muita coisa que tem aqui que lá nem usava, lá nem conhecia também, entendeu? Aí, você volta a aprender um pouco daquilo que você não conhecia, muita coisa nova como a gente não conhecia, perguntava muito, entendeu? Porque você chegando nesse comércio, não conhece, tem alguma coisa que você não conhece, você precisa de muita ajuda, né, quando você encontra um pessoal cheio de vontade, fica mais fácil de aprender e mais rápido.
P/1 – Tem alguma história divertida assim, desse seu aprendizado no Mercadão?
R – No Mercadão, eu… divertido mesmo que eu tenho é que foi essa história de quando eu cheguei na loja pra fazer a entrevista, né, essa daí que o cara me chamou muito rápido, né, para poder trabalhar. Eu achei… falei: “Mas é tão fácil assim?”, então, ou eu sou bom demais ou ele tá precisando bem para trabalhar de alguém. Mas assim, tem muita coisa que a gente passa dentro do Mercadão, às vezes, até por não conhecer, entendeu? Eu, por exemplo, tem um colega meu falou uma vez que não sabia o que era orégano, quando ele viu orégano a primeira vez, orégano para ele era igual aqueles pós de madeira, serra de madeira, né? Aí, a gente, um dia trocando ideia, ele falou: “Mas isso não é a mesma coisa?” “Não é” “Uma vez, caiu no chão, eu tava pegando, o homem não deixou, pensei que era tudo igual”, então, ele misturando orégano com pó de serra (risos). Mas é interessante. Dentro do Mercadão, eu aprendi muita coisa assim, porque era um espaço diferente que a gente estava trabalhando e vem muita gente de fora, gente buscando produtos novos e dentro do Mercadão, você praticamente encontra tudo que necessita, um lugar certo, pode ir no Mercadão que sempre tem.
P/1 – A clientela era a mais diversa possível?
R – É, sempre. Porque ia assim, um pessoal… eu tinha cliente que todo sábado, ele tava ali, era a parte de alimentação, ele comprava o que ele precisava na minha banca e aquilo que não tinham ele pedia pra gente comprar, a gente comprava, sabia que era um cara, um cliente cartão, todo sábado ele tava ali pra bater o cartão, então, você não deixava nem ele sair, porque era um cara que merecia, era um atendimento melhor, né?
P/1 – Tinha alguns desses clientes cativos, aí, que…
R – Tinha uns que chegavam em mim todo sábado… ele mandava fazer compra, mandava eu comprar peixe, né, aí eu veio com um pacotinho de peixe pra mim; comprar frango, vinha com um pacote de frango para mim, sempre trazia, aí na hora de embora, sempre a caixinha maior era a minha, né? Os caras, atendia legal, os caras confiavam.
P/1 – E do quê que era a banca que o senhor trabalhava lá no…?
R – Era uma banca de gêneros alimentícios, nós trabalhávamos com tudo, era a linha completa, né, de bacalhau, azeitonas, gêneros… tudo de alimentos, trabalhava…
P/1 – E o prédio do Mercadão é um prédio bonito, etc., como que era? Ele já era como ele é hoje?
R – Na verdade, houve umas mudanças legal depois de um tempo pra cá, eu já tinha saído, houve uma reforma grande no Mercadão. Hoje, o mercado ficou muito bonito, é um local que muita gente vai… muitas vezes, pessoal sai daí pra fazer lanche lá, comer um pastel de bacalhau, tem umas coisas novas que não tinha, né? Superinteressante. Às vezes, o pessoal vem de fora, primeiro lugar que você quer levar é no Mercadão, para conhecer até, para comer um sanduiche, que e o ponto mais visado do mercado é o sanduiche do mercado, né? “vamos comer um sanduiche no mercado?” “Vamos”, então, todo mundo quer conhecer.
P/1 – Já existia o sanduiche de mortadela do Mercadão?
R – Na época em que eu trabalhava, não, porque eu trabalhei na mesma rua tinha um sanduiche conhecido, não sei se ainda continua sendo, mas era na rua G.
P/1 – Você sabe essa história do sanduiche de mortadela, como que é?
R – Na verdade, essa história eu não cheguei… não é do meu conhecimento, porque foi uma coisa que aconteceu depois que eu sai. Não sei, sei que todo mundo quer conhecer o sanduiche de mortadela.
P/1 – E no Mercadão, o senhor já conhecia aqui a região da Zona Cerealista?
R – Na verdade, eu fazia compra, trabalhava no Mercadão e já tinha um conhecimento muito grande, a maior parte de coisas que se usava, que se vendia na Estande era comprada aqui na Zona Cerealista, né, que a Zona Cerealista é um espaço onde você encontra também quase tudo, né? Então, era aqui que a gente pegava os produtos, na maior parte dos atacadistas para atender no Mercadão, aqueles que não importam, que no Mercadão, naquela época, tinham poucos que importavam, tirando o Empório Chiappetta, não sei se ainda existe, mas não tinha importador na época. Então, a gente vinha sempre pegar aqui na Santa Rosa.
P/1 – Quais que eram as grandes lojas lá do Mercadão?
R – Assim, na minha época, a loja que eu trabalhava era uma das grandes lojas. Mas todas aquelas grandes lojas da minha época, eu diria que não existem mais, assim, cara grande conhecido lá que era na Rua G onde eu trabalhava, era o Manuel Santandre que era um grande na rua, hoje no local dele tá o Empório Chiappetta, tem em frente dele, o restaurante do mortadela, acho que é do bar do Oca, né? E nós estávamos um pouquinho pra frente que era o Metrocentro, nós éramos grandes também. Mas aí começou… tem muita gente que cresceu, eu entro pouco no mercado porque cada vez que eu vou lá, a turma toma um tempo legal, então quando eu vou, é mais para pegar alguma coisa e sair fora, porque senão, você perde um tempo no local e eu não osso me afastar muito tempo.
P/1 – Mas quando o senhor volta lá hoje, dá uma…
R – Na verdade, a gente fica feliz, né? Um espaço onde você contribuiu um pouco com o seu trabalho que tá bonito. E se você gosta de ver que as coisas ficaram melhores ainda do que eram, né? Só essa diferença, mas eu sai de lá…
PAUSA
P/1 – O senhor estava comentando do Mercadão que é muito legal, foi uma experiência bacana. Aliás, continua falando um pouco sobre isso, como é a experiência de trabalhar no Mercadão, com esse fluxo enorme de gente?
R – A experiência é assim, você trabalhar no Mercadão, você aprende muita coisa que a maior parte dos vendedores, balconistas, até os fornecedores gostam de ver o produto dele no Mercadão, porque lá é sempre uma vitrine, né, você consegue expor e é um local onde vem muita gente de fora, também. E a gente vai até conhecendo os produtos, até novos, que não tá acostumado a ver através daquilo ali, porque se você expõe os produtos, vai conhecer. Quem não tem um conhecimento hoje do comércio, começa a aprender coisas que jamais esperava. Eu aprendi muito, quando a gente fala que o Mercadão, a gente passou por uma faculdade Mercadão, é que ali você aprende tudo, como atender, como respeitar, como conhecer gente diferente, conhecer produto diferente, é um lugar que eu achei maravilhoso, fiquei lá 13 anos, quis sair de lá até para tentar coisa melhor porque sempre fui um cara que eu tinha uma visão assim, mais longe, né, mais na frente, né? Queria alguma coisa e não me arrependi depois que sai de lá, que eu aprendi lá para poder usar aqui fora alguma coisa que eu aprendi.
P/1 – Então, o senhor conheceu a Santa Rosa via o trabalho no Mercadão?
R – É, pegando produto para o Mercadão, aí conheci a Santa Rosa e hoje, eu trabalho numa empresa onde eu chegava… comprava muito produto dela. E vindo comprar produto e os donos gostavam muito de mim, sabendo que eu tinha saído de lá, passando aí um dia, eles me chamaram…
P/1 – Um dia depois?
R – Não, passaram uns tempos, porque eu ainda cheguei a tentar um pouco de corretor, mas foi na época daquele plano também, você andava muito, né, só gastava muito sapato, que ninguém tava comprando nada e eu cheguei até a oferecer uns produtos e eles falaram que não, que produtos eles não estavam precisando. A gente bateu um papo lá e acertamos, eles aceitaram o meu trabalho, pra eu trabalhar com eles, e eu entrei na Casa Flora.
P/1 – Qual ano que o senhor entrou na Casa Flora?
R – Em 1986.
P/1 – E antes, quando o senhor era cliente aqui, como que era?
R – Na época que eu era cliente, era um cliente bem respeitado lá, porque puxava mercadoria no carrinho, né, os colegas pediam pra gente dividir o peso para não levar muito, fazia duas viagens. O atendimento deles sempre foi bom, né, naquela época era pouca gente que tinha, tinham poucos atendentes. mas sempre foi uma empresa que teve uma referência boa, né?
P/1 – E desde que o senhor veio para São Paulo, já existia?
R – A Casa Flora? já existia, porque eles estão, parece que há 46 anos nesse endereço, então, já quando eu entrei com eles, eles já estavam acho que há uns 16 anos no mercado.
P/1 – Na Santa Rosa?
R – É. Na verdade, acho que eles já vinham de outro endereço, mas como Casa Flora…
P/1 – E quando o senhor entra, o senhor entra na Casa Flora, como?
R – Na verdade, eu entrei na Casa Flora como balconista. Precisava de um balconista, mais um vendedor, no caso e eu entrei pra somar com o grupo que tinha, parece que era quatro vendedores que tinha, mais ou menos. E a gente começou a se entrosar e aprender alguma coisa também o que a empresa tinha para oferecer. E aí, a minha chegada foi recebida com sucesso. Os colegas me trataram muito bem e a gente começou a trabalhar juntos, fazendo a empresa crescer como cresceu até hoje, nós estamos juntos aí.
P/1 – O ambiente era bom?
R – O ambiente sempre foi bom, é uma das coisas que eu falo muito bem dessa empresa, eles sempre trataram os funcionários muito bem, os colegas também, a gente sempre conversava, tinha um senhor mais velho, sempre a gente perguntava, você tá chegando, você não sabe qual que é a reação do colega, então, a coisa melhor que tem é você sempre estar se juntando e tentando tirar alguma informação daquela pessoa para poder até saber como que ele tá aceitando você ali. E a aceitação minha, graças a Deus, até hoje, não foi nada diferente.
P/1 – E como que é ser balconista, seu Bispo?
R – Ser balconista é ser um cara educado, ser um cara que sabe respeitar o seu cliente. O cliente é o patrimônio principal da empresa, hoje. Se você tiver uma casa cheia, bonita e enfeitada de mercadoria e não tiver o cliente, não vai adiantar nada. O atendimento, a educação, o respeito, tratar o cliente faz com que a casa vai estar sempre crescendo, porque esse cliente vai avisar outros amigos que é uma casa onde vale a pena conhecer. Isso é uma das coisas que a gente sempre conversa porque nós dependemos deles, o cliente é que paga o nosso ordenado e se você não tiver isso, não vai criar seus filhos, não vai pagar o seu aluguel, entendeu? A sua responsabilidade não vai cumprir porque você não tem o cliente para atender para poder cobrir as suas necessidades. E na Casa Flora, a gente tem esse lema que cliente tá sempre em primeiro lugar, é um respeito que a gente tem. E foi uma das coisas que eu aprendi, que a gente passa para os colegas novos que estão chegando, porque sem o cliente, você não vai conseguir durar muito tempo e o importante de tudo é que o cliente, ele começa a confiar em você e a coisa mais importante é você procurar de jeito nenhum, enganar o seu cliente. Isso é uma das coisas que a gente faz com muito cuidado, porque se você enganar um cliente hoje, você está enganando a si mesmo, que você pode estar perdendo. Hoje, para você conseguir um cliente é muito difícil ele entrar na loja, só que para perder, é um piscar de olho.
P/1 – E teve algum atendimento que o senhor fez como balconista que não necessariamente tenha te marcado, mas que o senhor ficou satisfeito, assim, com…
R – Ah, teve sim. Um deles que eu lembro e nunca vou esquecer foi eu chegando… chegou um cliente que ia casar uma filha dele e veio escolher um vinho para comprar. E ele chegou a perguntar para mim, nessa época, já trabalhava com vinho, mas eu não tinha muito conhecimento de vinho e um deles chegou ali e falou: “Eu vou casar minha filha”, eu acho que era até um português, “E eu gostaria que você indicasse um vinho que fosse bom pra esse casamento”, aí eu peguei um vinho que eu achei que era o melhor que podia atendê-lo, falei: “pode levar que esse vinho vai dar certo para o que o senhor quer”, ele falou: “Vai dar certo, mesmo?”, falei: “vai”, mas aquilo ali, uma das coisas que marcou, porque eu tinha já um conhecimento de vinho, mas quando ele falou: “Vai dar certo, mesmo?”, aquilo já me chamou a atenção. Aí, eu peguei uma garrafa do vinho, abri, servi acho que seis pessoas que estavam ali do lado e as seis pessoas degustando o vinho. Aquilo pra mim foi o maior passo que eu dei na minha vida, porque eu tava indicando uma coisa, parece que a consciência falou mais alto do que a minha boca e aquilo deu certo. A partir desse momento, todo mundo gostou e muita gente que tava ali levou, que degustou o vinho, levou e me chamou muito a atenção até para eu crescer um pouco mais ainda. Aí, eu fui fazer um curso para conhecer um pouco mais sobre vinhos. Foi onde eu… hoje, eu gosto muito de falar um pouco de vinho, tem coisa muito que marcou…
P/1 – Pode falar à vontade.
R – Não, na verdade assim, hoje, com esse tempo que eu tenho de casa e com o tempo que a gente trabalha com vinho, muita gente vem: “O João mandou te procurar”, “O Manuela mandou te procurar”, “A Maria mandou te procurar”, então você ali nem sabe quem é a tal pessoa, mas se ele vem procurando, foi indicação dessa pessoa, eu deixo ele sair da loja mais satisfeito do que aquela pessoa que foi atendido por mim, porque hoje o meu objetivo é acertar, é deixar você sair da loja feliz para preparar um retorno seu à loja em curto prazo, porque eu vejo que o vendedor, se ele puder indicar um produto que você vai gostar, além de você voltar, você vai trazer gente com você e é o que acontece muito comigo. Eu aprendi… não vou dizer que eu aprendi tudo do vinho, aprendi um pouco para aperfeiçoar o meu trabalho e hoje, quando eu abro a boca para falar de um vinho, do jeito que eu sei falar, eu tenho certeza que você vai voltar e vai estar satisfeito com aquilo que foi indicado. Eu não viso o volume de vendas, eu viso o retorno do cliente na empresa. Uma das coisas que me deixa muito feliz por aquilo que eu faço dentro da empresa.
P/1 – E esse curso, como que você decidiu fazer? Como que o senhor soube dele?
R – Na verdade, é assim, os patrões sempre me apoiaram em momentos que foram necessários e quando eu me vi nessa situação que aconteceu isso, que eu dei um toque para o patrão, ele falou: “Vamos fazer um curso”, então, fomos para não perder tempo e aquilo ali foi o que eu posso dizer é que eu dei um passo em cima daquilo, ou seja, foi ali que eu cresci, que a partir desse momento, eu não quis mais mentir. A gente fala mentir que é quando você tá oferecendo uma coisa que você não conhece, entendeu? E aquilo, quando dá errado… quando dá certo, beleza, mas duro é você saber que tudo deu certo, o momento que você enganou, você não sabe, que às vezes, o cara não volta para reclamar e também não volta mais na empresa. Quando você tem consciência daquilo que você tá oferecendo, sei que não vou errar na sua indicação, na sua harmonização, eu vou estar tranquilo sempre, que eu sei que se der errado, as vezes, não foi o vinho, pode ter sido o prato que algum tempero, né, a gente procura sempre trabalhar em ciam para dar tudo certo para evitar, que hoje, você faz um evento, se gasta muito, imagina, você esta fazendo aquilo com tanto carinho, desembolsar tanto e chega na hora e dá errado? Imagina você abrir uma garrafa de vinho e tá ruim para oferecer para uns amigos que você reuniu e tá ciente que tá fazendo uma boa recepção. São coisas que às vezes, a gente no mercado hoje, trabalha muito sério em cima disso. Alguns produtos, antes de eu servir, às vezes, tem produtos que a gente degusta antes até com um grupo de colegas para saber se realmente o produto tá adequado para pôr na promoção “Por quê que esse vinho tá na promoção?”, você precisa saber porque, porque tem um estoque que tá meio parado, precisa girar, porque se o vinho tá ruim, você não vai estar oferecendo, você tá tirando o que não presta seu para jogar para o cliente para perder o cliente. Então, você faz de tudo para poder evitar chegar a esse ponto. E uma das coisas também que eu levo muito a serio é quando o cara vem na loja para comprar um vinho para um evento, que o cliente não sabe nada de vinho e quer levar uma quantidade a mais daquilo que é necessário. Então, nessa parte, eu procuro ajudar muito, porque já se vai gastar uma grana ali extra e se você não dosar a quantidade por causa do conhecimento do cliente, às vezes, o cara gasta dinheiro a toa. E eu gosto que ele passe quantos convidados, quanto pediram pra você comprar e sempre o cara vem com uns números meio errados, às vezes, tá a mais, dou um toque que tá muito, se tá a menos, dou um toque: “Olha, acho que o consumo desse produto vai ser tantas garrafas, mas isso é o que a gente tá acostumado afazer, mas o cliente tem direito a fazer aquilo que achar melhor. Só quero que você saia daqui sabendo que eu falei isso para você” e acontece muito. Muita gente acha que o que você tá indicando é pouco e às vezes, exagera um pouco na dose e sobra vinho demais. Aquelas que às vezes confia no trabalho, às vezes, você conhece coisas que eu não conheço e se você pedir uma ajuda, você vai respeitar o meu conhecimento, né? E se você não respeitar, não vai adiantar nada você ter me procurado,. acho que se procurou é para confiar naquilo que vou indicar. E hoje a gente vê muito esse lado, que a gente trabalha com uma quantidade muito grande de vinho, mas precisa indicar aquilo que realmente… às vezes, você fala: “Vou dar um vinho para uma pessoa”, você sabe se essa pessoa gosta de vinho? Que tipo de vinho que ele toma? Então, a gente procura sempre ajudar para quando chegar… aquela pessoa receber aquele presente, que abrir, vai estar satisfeito com a sua escolha. Na verdade, não foi eu que escolhi, foi você que escolheu para ele e com certeza, vai ficar feliz pela indicação.
P/1 – E como que foi o curso, seu Bispo?
R – O curso, na verdade, já no começo, existe uma associação que até hoje ainda tem, que chama Associação Brasileira de Sommeliers, que eles dão cursos de conhecimento de vinho. Na verdade é assim, eu tinha um conhecimento de produto, mas eu não tinha o conhecimento da técnica de venda em cima daquilo que… você tem um produto mas não sabe o que tá vendendo e o interesse meu era saber foi que oferecer ao cliente, saber o que é uma uva, da onde que vem, que país que é, para quê que é bom esse vinho, às vezes, a pessoa chegou para pegar um vinho para uma senhora que não toma vinho seco, aí eu dou um vinho seco, chega lá, joga fora… e não é necessário, então, a gente procura sempre saber um pouco do que o cliente gosta, você ganha várias coisas, você ganha o cliente, você ganha tempo e você que levou o vinho, você vai voltar, a pessoa que receber vai ficar mais feliz ainda porque foi o vinho certo e isso é coisa que eu não sabia. Era um tomador de cerveja na época e tive que deixar um pouco pra poder conhecer um pouco de vinho. Hoje, tomo tudo, tomo vinho, tomo cerveja, tomo whisky, mas tá dentro do conhecimento, sabe o que tá tomando. Mas conhecer um pouco de vinho sempre foi bom, existe essa associação, que eles têm uns professores que conhecem muito e o aprendizado que eu tive, com certeza, me ajudou muito pelo o que eu conheço hoje em dia de vinho.
P/1 – Como que o senhor começou a trabalhar aqui, tinham alguns produtos disponíveis, hoje o mercado de vinho tá muito maior, como que foi essa transição? Sei lá, você tem os nos 80 tem muito vinho desse tipo, de um tipo x, mas aí tem a abertura econômica, no governo Collor, então, imagino que tenha chegado alguns vinhos e depois outros tipos, como que foi esse…?
R – Na verdade, houve um crescimento de consumo de bebida no Brasil, porque acho que mais ou menos 15 anos atrás, se tomava pouco vinho e o pessoal estava começando a gostar de vinho. E nesse crescimento de vendas de consumo de vinho, foi aumentando a necessidade de trazer produtos novos para o mercado, tanto que a Casa Flora, ela começou com um pouco de vinho, hoje, ela trás uma quantidade muito boas de vários países, além de muitas marcas diferentes, vinhos com um custo bom e qualidade boa. E vai aumentando o número de consumo de todo tipo, quando você começa a conhecer um pouco mais de vinho, seu paladar fica mais exigente, fica mais lapidado e quer alguma coisa melhor. Aí, você começa com um vinho mais barato, um custo menor, que é chamado custo beneficio, mas com qualidade boa, né, porque às vezes, você toma uns vinhos com um custo bom aí que fica satisfeito. Coisa da mudança do mercado com mais impostos, essas coisas que vieram chegando, inclusive, ficou um pouco mais caro. Hoje, existe um consumo, talvez, até mais cuidadoso de quem vai comprar porque quem tomava um vinho mais caro, hoje pensa umas duas vezes, para poder escolher o que vai tomar, até por causa do custo que ficou um pouco fora do mercado que tinha antigamente, né? Mas o tomador de vinho sempre vai continuar tomando, porque quando ele aprende a tomar vinho, não esquece, é igual o nome dele, nunca mais esquece o nome dele, que é uma das coisas que é muito interessante do consumidor de vinho. Ele começa a mudar, começa a aprender alguma coisa, trocar de marca, mas sempre buscando coisas novas e coisas boas. Os importadores estão sempre trazendo novidades porque o mercado precisa estar trocando de… é igual o cara que trabalha com roupa, tem que estar sempre trocando de marca, porque a turma quer ver novidade, né, então o mercado de vinho precisa sempre estar trazendo produtos novos porque o consumo hoje tá muito bom no mercado.
P/1 – Como que é essa busca pelo novo vinho?
R – A busca hoje, existe uma pessoa apropriada para isso que cuida da importação e hoje, existe uma divulgação muito grande através de sites, de eletrônico, que o pessoal tá sempre procurando coisa, onde tem novidade, vai conhecer. Às vezes, degustação em algum espaço maior que chama bem a atenção do cara que conhece, o cara que toma vinho tá sempre procurando onde tem alguma coisa diferente e a Casa flora tá sempre oferecendo espaço para isso, uma das maiores lojas hoje, nós temos sempre um ponto de venda com alguma degustação. na empresa mesmo, a gente faz uma degustação todo sábado, sempre tá lançando alguma novidade, né, e é onde vai sempre chegando cliente novo, procurando essas coisas novas até com custo bom, né, então a gente tá sempre mudando a linha do nosso…
P/1 – Desde quando o senhor trabalha com vinho?
R – Na verdade, eu trabalho com vinho acho que desde que eu comecei, mais forte mesmo, na Casa Flora. Antigamente, não tinha muita quantidade de vinho, eu lembro que tinha, quando eu cheguei mesmo, na Casa Flora, nós devíamos ter uns cinco, seis tipos de vinho.
P/1 – Qual que era o mais vendido?
R – Naquela época, Château Duvalier, era Sangue de Boi, que ainda é, ainda se vende muito Sangue de Boi, era Forestier… não me lembro outras marcas, mas era pouca coisa que tinha e hoje não, hoje nós temos, aproximadamente, sei lá, eu diria 1500 rótulos diferentes de vários países, a gente atende todos os gostos e todos os bolsos.
P/1 – Quais são os vinhos mais procurados pelos clientes?
R – Depende muito da ocasião, né, que quando é para uma festa, a pessoa não quer gastar muito, começa por um vinho frisante, uma coisa mais barata, vinho que as mulheres gostam muito, mas o cara que conhece um pouco, ele quer sempre coisas novas e o conhecedor de vinho sabe as uvas principais, depende muito do país e a França e sempre um país que todo mundo gosta de tomar um vinho francês. A Itália não fica longe, porque tem uns vinhos que agradam todo mundo. Portugal já tem característica de vinho para quem gosta de um vinho com um pouco mais de tanino, Portugal não falha, são uns vinhos que sempre atendem, se quiser um vinho com um pouco mais de tanino, Portugal sempre tá ali. Espanha também tem um consumo muito grande. Se você me perguntar quais os vinhos mais procurados hoje, todos, porque às vezes, você gosta de um português, quer conhecer um vinho diferente, eu vou te indicar um espanhol, vou te indicar um francês. Então, você vai trocando de marca até para buscar alguma coisa por um custo até melhor às vezes. Então, o tomador de vinho tá sempre procurando novidade.
P/1 – Então, falando das uvas, qual que é a…
R – Existem muitas uvas, tá? Hoje o mercado mais vendido aqui se trata de uva Shiraz, Cabernet Sauvignon, Carménère, Merlot, essas são as uvas principais. Aí, você vai para a Argentina, nós temos Malbec que predomina, a segunda uva de lá que é a Bonarda, Chile é a Carménère que domina, então, cada país tem a sua…no Uruguai, existe a Tannat, que é uma uva que se fala bem para retardamento de envelhecimento, coração, então é até indicação, uma vez apareceu até uma reportagem, não sei se foi no… num jornal, que eu não lembro, tanto que sábado, quando abrimos a casa, tinha muita gente atrás porque viu aquela reportagem. Tem aquela coisa e o tomador de vinho sempre procura essas uvas, uma casa boa com custo bom para atender a necessidade dele, quando o cara gosta, compra mesmo.
P/1 – Falou desses vinhos latinos, quando que eles entram no mercado?
R – Quando que entra?
P/1 – Os vinhos argentinos, os sul-americanos, porque no começo não tinha, né?
R – Na verdade, nós começamos a trabalhar assim que a empresa começou a mexer com vinho, nós estamos já com esses vinhos já beirando aí seus 15 anos, mais ou menos, que não me lembro agora, mas sempre a gente trabalhou com a linha de vinhos argentinos, trabalhamos bem. No começo, muita gente, às vezes, não falava muito bem do vinho argentino, mas era por não conhecer o produto, quando você começa a experimentar, que muita gente fala: “Não gosto disso, não gosto daquilo…”, se você não experimentar, você não vai saber se é bom. Hoje, praticamente, é um dos vinhos mais vendidos, o argentino e o Chile, né, a gente vende muito, eles têm ótima qualidade e vem ao mercado com um custo também, ajuda muito.
P/1 – E qual que é o seu vinho favorito?
R – Depende do momento (risos). Se eu tiver num momento legal, não tem vinho favorito, ele pode vim… você pode me oferecer aquele que você acha que eu vou tomar como se eu tivesse tomando o melhor vinho, tudo é o momento, às vezes, se tiver de bem na vida, tiver dando um sorriso com a minha esposa, a gente vai tomar um vinho num copo de plástico e ele vai ser o melhor vinho, mas aí se você não tiver bem com a tua família, com a tua vida, aí você vai pôr numa bela de uma taça, o melhor vinho, que ele não vai descer legal, tudo é questão de momento.
P/1 – Mas o senhor não tem nenhuma uva favorita?
R – Eu aprecio muito a uva do país, na Argentina, eu sou fã de Malbec, gosto muito de uma Carménère, até por ser uma uva fácil de tomar e mais frutada, mas a Shiraz é também uma uva maravilhosa, que é aquela que eu falei que qualquer apreciador vai gostar, Cabernet Sauvignon também é uma uva que se você disser: “Todas as uvas você gosta?”, gosto, porque depende do que você vai comer para harmonizar com aquilo, então, você vai comer uma carne, você precisa de uma uva com um pouco mais de tanino, um vinho com um pouco mais de tanino pra poder até harmonizar bem com uma carne. Você vai comer um queijo, você tem que pegar um vinho um pouco mais leve pra poder harmonizar para um não estragar o outro, mas eu aprecio muito as uvas do país e do momento certo.
P/1 – Desculpa, o quê que é o tanino que tem no vinho português?
R – Quando a gente fala de tanino é um vinho que na linguagem mais conhecida é um vinho mais encorpado, é aquele vinho que… tem uns que falam: “Pegou na garganta”, né? Aquilo pra quem conhece, até um pouco mais de qualidade, aquilo pra nós é qualidade, gosto de um vinho quando você bate na boca assim, que ele marca presença.
P/1 – Legal. Voltando agora pra Casa Flora, o senhor começa como balconista, etc., e vai meio galgando. Como que é esse desenrolar dentro da…?
R – É que no começo, como eu falei, depende muito de você e dos colegas que estão ali. Como eu era um cara que sempre já pensava diferente em crescer, mas sem machucar quem tá do meu lado, eu sempre tinha o apoio de todos, porque eu fazia o trabalho bem feito e ajudar a você fazer também… se eu percebesse que você não tava certo naquilo, se eu podia ajudar, eu ia ajudar porque para todos os efeitos, qualquer coisa que tá errado, sempre vai ser nosso, o erro, prejuízo vai ser nosso. os colegas sempre me atendiam bem, sempre quando precisava fazer alguma coisa, um chamava o outro e falava: “Isso aquilo tá bom, posso fazer isso aqui?”, então, uma das coisas é que a gente sempre se deu bem, uma equipe que sempre trabalhou junto, um por todos e todos por um, a Casa Flora é uma família, a gente não vê só o seu lado, porque você sozinho não vai a lugar nenhum, hoje, eu tenho um grupo lá que se precisar fazer isso hoje, vamos fazer. Não dá para fazer, mas tem um grupo que a gente vai tentar, quem ficou vai tentar fazer, cobrir a sua falta, é um grupo que trabalha unido e isso é muito importante quando você tem uma tarefa para fazer.
P/1 – E como que o senhor se sente transmitindo esse seu conhecimento mais antigo para o pessoal novo?
R – Não precisa muita coisa pra você transmitir, porque o pessoal vê o que você é e aquilo é um exemplo, entendeu? Hoje, quando chega um funcionário novo na empresa, que é contratado para trabalhar na loja, primeira coisa que eu falo pra ele: “Eu sai daí, de onde você tá começando. Quero ver você logo, logo aqui no topo”. Você tem que dar a maior força para esse que tá começando, porque ele já entra grande na empresa, ele já entra sabendo que vai crescer e a empresa Casa Flora é uma empresa que hoje, ela faz você crescer, porque ela tá dá espaço, ela te dá cobertura, ela te dá o que você precisa para crescer, então, só depende de você. é uma empresa que cresce e leva você junto.
P/1 – E quais são os principais produtos da Casa Flora?
R – Eu diria vinhos e gêneros alimentícios, que hoje, o carro-chefe nosso é vinho mesmo.
P/1 – E de gênero alimentício tem algum destaque?
R – Tem umas pastas italianas, macarrão, uma linha que a gente trabalha muito bem, porque o macarrão, praticamente, puxa tudo, né, de molho, tempero, queijo, azeitona, então, eles, praticamente, levam tudo junto, mas o nosso forte hoje seria esse, passatas e vinhos.
P/1 – O senhor falou que antes… que vocês começaram a trabalhar mais com vinho… o quê que mudou? Por quê que vocês começaram a…
R – Começamos com vinho porque entrou um dos filhos dos donos e veio com a ideia diferente de trazer coisas novas. E trouxe a primeira importação e aí, deu certo, começou trazendo de outros países, também, primeiro veio do Chile, aí começou a vim, hoje nós temos vinhos de eu diria que de quase todos os países, porque temos França, Itália, Uruguai, Argentina, Chile, Hungria, África do Sul, Espanha, tem todos… África do Sul, quase todos os países estamos trabalhando, acho que não temos, acho que é grego, o resto tem todos.
P/1 – Mas mudou muito de quando o senhor entrou na Casa Flora?
R – Mudou, porque aí aumentou os… as marcas e tipos diferentes, né? Você começa com um produto, daqui a pouco, você começa a aumentar marcas diferentes, você tá trazendo os clientes que gostam de produtos de outras marcas, talvez aquele primeiro não serve para você, mas serve para outro. E assim, nós temos hoje, praticamente, vinhos para atender todo tipo e para todos os consumidores.
P/1 – E o senhor vinha comprar aqui na época do Mercadão, a casa já era uma das casas mais reconhecidas na época, já?
R – Na verdade, sempre foi um pessoal que trabalhou forte com algumas coisas, por exemplo, que eu vinha comprar eram os produtos que o mercado sempre necessitava já na época. Às vezes, podia ser… no caso, não era vinho, que nessa época, vinho ainda não se vendia, mas podia ser um outro produto de limpeza, de arroz, de feijão, um Bombril, uma… completava a minha carguinha lá e ia para o Mercadão.
P/1 – E já era uma das casas mais antigas aqui?
R – Já, porque na região ali, eu conhecia de grande antigo era Casa Flora e tinha uma outra na… um outro vizinho lá que fechou um tempo depois.
P/1 – E qual que é a diferença de trabalhar no Mercadão e na Santa Rosa?
R – Assim, você tem um pouco mais de liberdade. No Mercadão, se você for analisar bem, o tipo de trabalho, aparentemente, parece o mesmo, mas você não tem uma liberdade de ter uma folga, de ter um horário que você possa marcar alguma coisa que você quer: “Ah, determinado horário eu posso”, no Mercadão, você na minha época, entrava às cinco horas da manhã e o mercado fechava às cinco e meia, seis horas e você trabalhava sábado, às vezes, você trabalhava domingo, então, é uma das coisas que marca muito. Eu comecei a trabalhar na Casa Flora de segunda à sexta, acho que era das oito às 18 e sábado, das oito às 13 horas. Aquilo, o horário pra mim já mudou tudo, né, você já tinha a metade do sábado livre e o domingo livre pra você poder fazer o que você quisesse, né?
P/1 – E o quê que o senhor queria fazer nesse…?
R – Descansar, aproveitar, algum lugar que eu não conhecia, sair um pouco pra passear e levar a minha família que nessa época, eu já era um cara que já tinha uma família, já.
P/1 – Como que o senhor conheceu a sua esposa, seu Bispo?
R – A minha esposa, na verdade, conheci lá na terra dela, mesmo, vizinha lá de onde eu nasci. Quando eu era pequeno, já vinha criando ela, já. (risos)
P/1 – Então, nas festinhas de São João…
R – Tava sempre junto.
P/1 – Tava de olho, né?
R – Tava de olho, mas tava difícil, né? Mas depois, a gente vai conhecendo, vai… parece que vai mudando, né, aí conseguimos ficar juntos e estamos juntos há 37 anos perante a Deus… 37 não, parece que estamos indo para 39 anos, quase… o ano que vem, estamos fazendo Bodas de… é ouro, prata… tem… não me lembro agora, mas já estamos… (risos).
P/1 – O ano que vocês se casaram?
R – Que nós casamos?
P/1 – Isso.
R – Em 1977.
P/1 –Onde foi?
R – Aqui na Vila Souza.
P/1 – Foi aqui em São Paulo?
R – É.
P/1 – Como que foi o dia do seu casamento, seu Bispo?
R – O dia do meu casamento foi interessante, porque muita chuva e naquela época do Plano Cruzado era difícil você arrumar as coisas, né, sabe aquela época em que não… acho que não é do seu tempo, não sei se é do seu tempo, ou se alguém já falou pra você, que você chegava no açougue pra comprar uma carne, não tinha, mas se você desse um dinheirinho, aparecia, né? Eu tinha que dar comida para 600 convidados na época. A gente conseguiu casar feliz, estamos felizes até hoje ainda, porque apareceram 600 convidados, mesmo, a festa, chuva de todo jeito, mas todo mundo alegre, dançando. Fez agora em janeiro, 39 anos.
P/1 – E como que era essa dificuldade com comida, assim?
R – A dificuldade naquela época, não sei se você já escutou, mas era difícil de achar as coisas na época do VR, né, acho que era isso, que tinha um… você chegava no açougue, não tinha nada, era muito difícil. Para se conseguir alguma coisa, tinha que pagar ágio, sei lá, pra poder… foi muito difícil essa época aí, muita gente sofreu porque não se achava nada para comer, porque o açougue não queria comprar, porque não podia, tinha uma tabela x para trabalhar, então foi uma época braba, mas nós conseguimos passar por essa ia também. Você tinha o dinheiro, mas não tinha como comprar.
P/1 – Para os negócios da Casa Flora foi uma época difícil, também?
R – Nessa época, foi difícil pra todo mundo, porque a Casa Flora dependia de fornecedores, se os fornecedores não forneciam o produto, ou tinha um jeito de fornecer, às vezes, não era preço que servia pra gente, teve que segurar um pouco, todo mundo pra poder… até que resolveram mudar um pouco e aí, começou a aparecer produto. Mas teve uma época meio braba, aí.
P/1 – E quando que começam essas coisas das degustações aqui?
R – Na verdade, praticamente, quase todos os dias se tem degustação. Na loja, por exemplo, eu gosto de fazer mais dia de sábado que é um dia que vem muita gente em busca de produtos para um evento, né, e existe mais possibilidade de você abrir além daqueles que vêm buscar, outros que estão ali e vão aproveitar e degustam o produto, mas nós temos degustações em várias lojas, às vezes, nós temos pontos de… sempre tem um promotor nos locais.
P/1 – E quais que são os dias bons de movimento?
R – Sempre final de semana, o pessoal deixa o sábado sempre pra poder aproveitar mais que durante a semana, a maior parte tá trabalhando, sempre dia de sábado é o dia melhor pra aproveitar mais o tempo e acompanhar a família nas compras, né?
P/1 – E como que é o movimento aqui da região, seu Bispo?
R – O movimento da região para quem compra pra revender sempre durante a semana vem buscar os atacados. Então, dia de sábado é mais varejista que vem pegar as coisas pra uso, consumo interno.
P/1 – E falta falar de algum produto também alimentício e quanto ao queijo? Queijo é um produto bom, também?
R – Queijo é praticamente quase um dos mais vendidos hoje, porque o queijo está sempre em todas as mesas, você não gosta de queijo, no caso? Você por um acaso, gosta de queijo, não?
P/1 – Eu gosto.
R – É um produto que quase em todas as mesas, ele aparece e além disso, queijo hoje, existe muita novidade de queijo, porque além de ter a nossa linha de produtos nacionais muito bom, temos uns laticínios que trabalham muito bem, nós temos hoje muito queijo de fora. Hoje se come queijo, praticamente, quase nós temos Holanda, Itália, França, Alemanha, eles têm uns queijos muito bons, Suíça e chega esse produto com preço até bom para se trabalhar no mercado, um custo bom para quem gosta de uma coisa boa também.
P/1 – E a indústria nacional é bem forte?
R – Nós temos muitos produtores que atendem bem o mercado, temos uns laticínios muito bons.
P/1 – E essa questão de como o senhor trabalha muito com vinho também, queijo é uma coisa que vai muito bem com vinho. Sai bastante casadinho ainda?
R – Na verdade é assim, tem muita gente que às vezes, vai fazer um eventozinho para família pequena, então, sempre vem pegar um queijo e depois, pega um vinho p[ra acompanhar, acontece muito isso, já tá ali no lugar certo, já pega o queijo e vamos harmonizar lá com o vinho, que vai dar certo para o evento.
P/1 – Qual que é a sua combinação favorita?
R – Eu sou um cara que gosto muito de coisa diferente, gosto muito de gorgonzola, parmesão com um Cabernet Sauvignon vai muito bem. Gorgonzola, se você come um pedaço de gorgonzola com uma tacinha de vinho do Porto vai bem. Um vinho de sobremesa com gorgonzola vai atender bem. Você quer um queijo mais leve, um gouda, um gouda mais cremoso é bom, harmonizar com um vinho de médio corpo, que um não vai combater o outro. Essas coisas sempre é bom de você fazer as harmonizações legais que dão certo.
P/1 – A gente falou bastante dos vinhos… a indústria nacional de vinho tem crescido bastante?
R – Tem. Além de ter crescido bastante, a gente tem uns vinhos muito bons no Brasil e atende muito bem o mercado. Hoje, nós temos vinícolas bem conhecidas que têm produtos que ganha. Não vou dizer que ganha com produtos aí de fora, porque isso é uma questão de gosto, mas eles têm ótima qualidade.
P/1 – Quais são as regiões produtoras de vinho no Brasil?
R – Serra gaúcha sempre tem umas coisas muito boas. Você encontra muita coisa boa, uns vinhos bem conceituados lá que atendem muito bem, tem ótima qualidade, mesmo.
P/1 – E o senhor tem filhos, seu Bispo?
R – Tenho um casal de filhos.
P/1 – Eles já estão grandes?
R – Tem um com 39 e outro com 36 anos. Tenho três netos…
P/1 – Tá todo mundo encaminhado…
R – É.
P/1 – E como que foi ser pai?
R – Ser pai é uma das coisas que muita gente gostaria de ser, né? Hoje, quando você procura uma companheira para viver do seu lado já é um cara feliz, mas quando você recebe a noticia que tá vindo mais uma boca, vai ficar mais feliz ainda porque sabe que é um fruto daquilo que você plantou, né? E eu tive a sorte de ter um casal logo no começo, uma menina e três anos depois, um menino. que posso dizer que até hoje, só me trouxe alegria. São uns filhos que sempre procuraram seguir o que o pai ensinou de bom para eles e eu sou uma pessoa com filhos que não dão trabalho, nunca me deram trabalho. Assim, estão vindo os meus netos, eu já tenho neto de 17 anos, tá indo para 18. Meu filho, quando ele era mais jovem, a primeira coisa que ele falou que quando ele se casasse, ele ia ser igual a nós, eu e a mãe dele. Então, a gente… são coisas que já se sabia o que ele queria da vida, né? Queria viver, queria ser feliz. E é o que ele é hoje.
P/1 – Ele já confirmou isso para o senhor?
R – Já (risos) e a gente fica feliz, né? Domingo, mesmo, eles fizeram o aniversario para mim, uma festinha surpresa, que eu não sabia, quando cheguei em casa, tinha mais de 100 pessoas. Quando eu cheguei em casa, não, quando eu desci, tava em cima no sobradinho, chego embaixo, era… alguém tinha invadido a minha casa. Foi uma coisa deles e fiquei muito feliz da atitude deles. E ser pai é essa coisa, a única coisa que você pede a Deus é que dê saúde, né, quando vem, porque primeiro lugar, saúde e agradecer, porque o resto que faltar, com certeza, Deus vai dar força pra você conseguir.
P/1 – E o quê que o senhor faz no seu tempo livre hoje, seu Bispo?
R – Meu tempo livre, às vezes, é pouco, mas eu gosto de curtir uma casa, eu sou meio caseiro. Aquele dançarino de antigamente já não é mais, porque já não tem mais aquele pique que tinha, então, você tem que dosar, porque hoje você precisa aproveitar bem esse tempo, né?
P/1 – Mas ainda gosta de ouvir um forró?
R – Eu gosto. Eu tenho… é coisa que eu acho que não sai nunca, né? Tenho no meu carro, sempre tenho um sonzinho que u gosto, quando eu chego em casa, sempre tem, também. A gente tá sempre buscando algumas coisas novas, gosto de curtir esse…
P/1 – O quê que o senhor gosta de ouvir?
R – Eu sou… na verdade assim, eu sou um pagodeiro legal, que eu sou fã desses antigos, que ninguém gosta (risos), sou fã do Martinho da Vila, sou fã do Bezerra da Silva, Beth carvalho, Ângela Maria, Alcione, pagode eu me dou bem, ali. E a parte de forró… eu sou um cara que se você chegar na minha casa, eu vou pegar um LP e pôr pra você curtir ainda um sonzinho daqueles que eu acho que você nem conhece, Pinduca (risos), chegou lá, o Pinduca não deixa de tocar. Eu tenho um elepezinho com vinil lá, quando eu quero curtir, eu sempre ponho.
P/1 – Qual que é o disco que o senhor falou?
R – Do Pinduca? O disco que mais eu…? Não sei, como eu gosto muito do Bezerra da Silva, eu acho… que antigamente, se escutava as músicas bem interessante, né? Hoje, você vê muita improvisação, só coisa para vender disco, né? É muito bacana você sentar para escutar uma música desses cantores de antigamente, Amelinha, eu gostava muito. As músicas que quase ninguém gosta de escutar porque hoje é difícil, “Um barracão de zinco” (risos), são coisas antigas, mesmo que a gente que gostava daquilo, não abre mão, né?
P/1 – Qual que é a grande música da sua vida, assim?
R – Olha, essa do barracão é uma das que eu gosto muito [cantando] “Vai barracão, pendurada no morro, pedindo socorro ao…”, essa é uma das que eu curto bem. E o Bezerra da Silva, uma que chama “Cheiro de mato queimado” é uma das músicas que marcam pra caramba, assim, pelo o que é a música, são coisas que a gente gosta muito. E o Martinho da Vila é o “Requenguela”, outro dia ele tava no Sesc, lá, tava no Sesc Itaquera, eu fui, eu tava lá.
P/1 – Foi bom o show?
R – Putz… bom, mesmo. Ele tá inteiro, ainda.
P/1 – Qual um samba assim, que o senhor foi que falou: “Nossa!” ?
R – Do…?
P/1 – De ver assim, um show.
R – Eu estive no show do Zeca Pagodinho, lá no Credicard Hall que eu achei muito interessante, apesar dele não beber nada, né, na verdade, ele não tava bebendo, ele tava só brindando é o que ele fala. Me chamou muito a atenção, gostei bem do Zeca Pagodinho. O Martinho da Vila é um dos caras que vale a pena você parar um pouquinho para escutar ele. A Daniela Mercury também, eu escutei uns reggae dela muito legal, eu gosto. Na verdade, eu tenho até um sobrinho meu que tá tentando, tá quase… tá no meio da música, tá tentando uma carreira aí. Tá meio difícil, mas logo, ele deve aparecer.
P/1 – E o menino é bom?
R – Vem tentando faz tempo, mas não é fácil, não. A gente gosta de um barulhozinho.
P/1 – Futebol, o senhor gosta?
R – Futebol, na verdade, eu gosto, já joguei quando era mais novo. Nós tínhamos um timezinho lá em Salvador, tinha um campozinho chamado Lava Remela, eu tava sempre lá brincando, quando pintava uma vaga, pintou uma brecha, tá lá, né?
P/1 – Era várzea?
R – Era. E de vez em quando, pessoal saía, até para o interior para jogar. Interior é difícil air, mas eles gostavam de bater uma peladinha.
P/1 – Que posição que o senhor jogava?
R – O mais ruim, lateral direita, né, (risos), é o mais manjado.
P/1 – Aposto que tem um lance assim, que o senhor fala: “Aquele jogo…”.
R – Teve um jogo bom mesmo, faz pouco tempo que eu tava aqui no… que a empresa faz um jogo aí, uns torneios e tava eu, tinha uns colegas lá e um deles era goleiro, falei: “Se deixar passar, eu pago a cerveja”, aí jogaram a bola pra mim, eu dei uma paradinha, deixei uma cavada, jogar por cima dele, né, aí foi, quando a bola tava caindo, aí, ele pulou e defendeu. Ele falou: “Fiquei com vergonha, perdi a cerveja, mas não deixei você fazer o gol” (risos), mas tem umas coisas que marcam. Essa foi uma que me marcou legal.
P/1 – Como que é essa parte de lazer aqui da empresa? Você tá falando desse futebol, assim…
R – Que às vezes, eles fazem uns torneios para reunir os grupos. A gente faz… eles alugam umas quadras ai preá gente se divertir nos finais de semana. Às vezes, final do expediente, vamos brincar um futebol, pra turma aproveitar e bater um papo depois do futebol.
P/1 – Vocês fazem bastante happy hour, essas coisas?
R – Sempre faz. A empresa sempre faz um…
P/1 – Como que é? É aqui na própria empresa?
R – As vezes, eles fazem aqui na própria empresa, as vezes, reúne o pessoal do setor e marca sempre alguma coisa pra gente.
P/1 – E quando o senhor tira férias, o senhor costuma viajar? Tava falando que vai visitar os seus irmãos ou vai…
R – Sempre quando eu tiro férias, eu gosto de sair fora, um pouco. Eu gosto de… pra começar, eu gosto muito da terrinha. Agora quando tirar a próxima, vou viajar um pouquinho pra fora aí, acho que eu vou tomar uns vinhos lá no pé da uva…
P/1 – Vai onde?
R – Tomar um vinho no pé da parreira, lá. Vou sair fora do Brasil, um pouco.
P/1 – Quer ir pra onde?
R – Talvez, eu vou conhecer Portugal e Espanha. Tem umas coisinhas lá que a gente precisa conhecer.
P/1 – Qual é a viagem que o senhor mais gostou de fazer até hoje?
R – Na verdade, teve uma convenção no Chile que me chamou muito a atenção, né, até porque quando eu passei por cima da Cordilheira dos Andes, eu voltei, eu já era um cara feliz, né, (risos) já tinha realizado minha vida. Já conhece Chile? Existe um espaço onde tem uma… é um espaço onde tem um… como chama aquilo lá? Sei que ele é… é uma parede de gelo que é muito interessante, às vezes, quando o voo tá indo daqui pra lá, eles dão uma ligeira parada em cima pra você até filmar, bater uma foto, eu achei aquilo uma coisa de… é muito bonito, quando eu vi aquilo que o voo dá uma parada pra você ver, já achei que era uma coisa muito bonita que eu tava vendo. Voltei feliz. Além do tempo que ficamos lá que era uma convenção, foi muito interessante. Gostei de conhecer a cidade Santiago.
P/1 – Foi em Santiago, mesmo?
R – É.
P/1 – Você visitou a vinícola lá?
R – Visitamos as vinícolas e tivemos uma convenção lá de vinho.
P/1 – Tem uma vinícola famosa que fica lá nos arredores?
R – Nós ficamos na Santa Carolina, muito boa, belo trabalho deles.
P/1 – Seu Bispo, a gente já tá caminhando aqui para o fim. Eu queria só perguntar o quê que o senhor vislumbra para como sendo o futuro aqui da Santa Rosa, da Zona Cerealista?
R – Olha, o que eu vejo, por exemplo, hoje nessa região aqui é que daqui mais um tempo, isso aqui vai mudar muito, porque tem muita gente que não conhece essa região e essa região tá crescendo e tá ficando muito bonita, porque eles estão trazendo muita novidade para cá. Quando eu conheci isso aqui era totalmente diferente só que é hoje e hoje, cada loja que você entra aqui, você vai querer voltar sempre porque, às vezes, não dá tempo de entrar em todas e hoje, a Zona cerealista traz além de ser um dos polos petroquímicos de grãos, a região aqui é de onde praticamente sai tudo. Eu vejo que quem vem a primeira vez aqui, às vezes, fica bravo por não ter conhecido antes. Mas daqui mais um tempo, isso aqui vai virar praticamente um dos melhores locais de compras do mercado, porque quem vem, vai encontrar tudo. Além de tudo, os preços são satisfatoriamente bem, porque além de encontrar tudo, você não perde muito tempo. Tirando, resolvendo a situação de trânsito que, às vezes, atrapalha um pouco, muita gente não vem muito para o lado de cá, não vem pensando nisso aí, a coisa com certeza vai ficar muito melhor.
P/1 – O trânsito aqui é um problema?
R – Não, tem época aí que às vezes, feriado, às vezes, dia de sábado que muita gente quer vir e não ver, quer vir conhecer o mercado, às vezes, é região de 25 de marco, o trânsito atrapalha um pouco, mas logo, logo, alguém deve estar vendo isso aí e dando uma desviada um pouco melhor no trânsito pra poder ajudar mais o consumidor.
P/1 – Mas o quê que é? Muito caminhão?
R – Não, até que caminhão tem muito caminhão, mas caminhão não atrapalha, caminhão tem mais os horários de descarregar, também. Acho que ficou… como é uma passagem que ficou fácil, quase todo mundo quer conhecer aqui, mas quem vem, sempre gosta de ter conhecido.
P/1 – E eu tinha esquecido de perguntar ao senhor, pegou alguma enchente da região?
R – A enchente que eu peguei não foi daquelas… já teve enchente pior, mas a que eu peguei não foi muito não, nessa época eu tava ainda no mercado, da enchente grande. Eu cheguei a entrar no mercado com água no pescoço (risos).
P/1 – Nossa, espera aí, como que foi isso daí? Conta melhor.
R – Teve uma enchente, não lembro, acho que era uma quarta-feira de cinzas, até, voltando do carnaval e tinha chovido muito e para poder chegar no mercado, como é mais baixo aquilo ali, com certeza, você vai ficando pequeno. Aí, eu sei que pra chegar no mercado, eu tava com a água beirando que eu queria entrar pra ver como estava lá onde eu trabalhava, né? Lá dentro, ela tinha entrado, parece que tinha mais ou menos meio metro de água dentro do mercado, então, aquilo tava… você só via tudo boiando ali, né? Foi uma das que eu vi, assim, enchente que me chamou a atenção foi essa aí. Mas que teve na Santa Rosa assim, não teve nada que me chamasse a atenção, não. Foi essa uma das maiores enchentes. Essa enchente atingiu até a 25 de Marco, muitas portas estouraram de loja de roupas na época. Não me lembro em que abo que era, eu trabalhava ainda no mercado, deve ter mais de 30 anos. Mas diz que teve umas enchentes muito grandes na Santa Rosa que eu ano cheguei a pegar.
P/1 – Quais são os seus sonhos para o futuro, seu Bispo?
R – Na verdade, meu sonho no futuro é sempre ver meus filhos bem. E a família unida. Eu não vejo muita coisa pela frente que me chame a atenção, eu só quero ser feliz e isso é o que eu não posso abrir mão.
P/1 – E pra encerrar mesmo, e a gente libera o senhor, finalmente, o quê que você achou de contar essa história? Já tinha dado alguma entrevista nesse sentido, assim, contando toda a sua trajetória? O quê que você achou da experiência?
R – Na verdade, são coisas novas. Eu já dei muita entrevista, mas às vezes, bem diferente dessa aqui, porque praticamente, essa foi buscar do meu nascimento até o momento, né, praticamente. E quando a gente conta a história, a gente conta aquilo que é puramente a pura verdade, né? Eu acho que não deve se acrescentar coisas que não aconteceram com você. O que eu passei pra você foi por pura segurança, ciente daquilo que eu tô falando… não achei nada diferente, não, as outras entrevistas, o que a gente fala é coisa do comércio mesmo, normal, mas são mais curtas, mais rápidas, mas legal. Gostei da experiência.
P/1 – Então, muito obrigado seu Bispo, foi ótimo.
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