P/1 – Então, Seu Lourenço, primeiro: boa Tarde! R – Boa tarde! P/1 – Vou começar pedindo pro senhor falar o seu nome, o local e o ano de nascimento. R – Certo. É... Eu tô com 50 anos, minha origem de tocar veio da minha mãe. Então aprendi a tocar com a base de 15 anos, eu já tocava oito baixo, que ele é pequeno, é antigo. Daí pra cá eu vim tocando, passei pra 80, 120, que é sanfona grande. E depois eu mudei pra Pirenópolis, vim morar no município daqui, então saí de lá e vim pra cá. De lá pra cá, já pratiquei a viola. Mais antigamente tocava umas violinhas de pau, fazia pra roça mesmo. P/1 – E qual é o nome da sua mãe? R – Minha mãe chama Abadia. P/1 – Seu pai? R – Meu pai José Grosso. Meu pai é do Maranhão. A minha mãe é goiana. P/1 – E o que seus pais faziam? R – Meu pai era lavrador, mexia com roça. A minha mãe também, ela ajudava meu pai com roça. P/1 – E os dois trabalhavam com música, cantavam...? R – É, minha mãe era muito dançadeira. Ela dançava muito... P/1 – ...E o senhor tem recordação de ter visto ela dançando...? R – Tenho! Recordação tudo que é eu tocava, e daí pra frente eu fui tocando pra eles também: pra pai, mãe, as peças que eles faziam... P/1 – ...E como era ver eles dançando, desde pequeno, como é que era pra você...? R – ...É, eu achava bom, bom demais. E pra eles foi a maior satisfação de um filho aprender a tocar porque minha mãe dela passou pra mim, me ensinou. Daí pra cá eu ensinei, aprendi com ela mesmo. P/1 – E vocês viviam aonde? Aqui em Pirenópolis mesmo...? R – É, eu vivi em Capela, Rio do Peixe, eu sou nativo de lá. P/1 – ... E como é que era a casa onde vocês viviam...? R – A casa era sistema antigo mesmo: na época em que morava lá nem energia tinha, era escuro. P/1 – E o senhor tinha irmãos...? ...
Continuar leituraP/1 – Então, Seu Lourenço, primeiro: boa Tarde! R – Boa tarde! P/1 – Vou começar pedindo pro senhor falar o seu nome, o local e o ano de nascimento. R – Certo. É... Eu tô com 50 anos, minha origem de tocar veio da minha mãe. Então aprendi a tocar com a base de 15 anos, eu já tocava oito baixo, que ele é pequeno, é antigo. Daí pra cá eu vim tocando, passei pra 80, 120, que é sanfona grande. E depois eu mudei pra Pirenópolis, vim morar no município daqui, então saí de lá e vim pra cá. De lá pra cá, já pratiquei a viola. Mais antigamente tocava umas violinhas de pau, fazia pra roça mesmo. P/1 – E qual é o nome da sua mãe? R – Minha mãe chama Abadia. P/1 – Seu pai? R – Meu pai José Grosso. Meu pai é do Maranhão. A minha mãe é goiana. P/1 – E o que seus pais faziam? R – Meu pai era lavrador, mexia com roça. A minha mãe também, ela ajudava meu pai com roça. P/1 – E os dois trabalhavam com música, cantavam...? R – É, minha mãe era muito dançadeira. Ela dançava muito... P/1 – ...E o senhor tem recordação de ter visto ela dançando...? R – Tenho! Recordação tudo que é eu tocava, e daí pra frente eu fui tocando pra eles também: pra pai, mãe, as peças que eles faziam... P/1 – ...E como era ver eles dançando, desde pequeno, como é que era pra você...? R – ...É, eu achava bom, bom demais. E pra eles foi a maior satisfação de um filho aprender a tocar porque minha mãe dela passou pra mim, me ensinou. Daí pra cá eu ensinei, aprendi com ela mesmo. P/1 – E vocês viviam aonde? Aqui em Pirenópolis mesmo...? R – É, eu vivi em Capela, Rio do Peixe, eu sou nativo de lá. P/1 – ... E como é que era a casa onde vocês viviam...? R – A casa era sistema antigo mesmo: na época em que morava lá nem energia tinha, era escuro. P/1 – E o senhor tinha irmãos...? R – É, onze irmãos. P/1 – E como é que era, vocês conviviam no dia-a-dia, na casa, como é que era...? R – Era bom, era bom! Porque era tudo unido, agora que um casou, um mudou pra ali, outro casou e mudou pra acolá, mas é tudo unido! P/1 – O que é que você lembra das brincadeiras de infância? R – Ah, bom demais, aquelas festas, de antigamente! Nós trabalhávamos, mexíamos com roça, daí dava o sábado e o domingo dava as festas. Antigamente o divertimento era esse. P/1 – As festas eram sempre no sábado e no domingo...? Dia santo e domingo...? R – É. P/1 – E como eram as festas? R – As festas eram sanfonas, tudo era sanfona, eles tinham mania de fazer umas caixas. Antigamente quando não tinha caixa era lata mesmo. Batia e fazia batuque. P/1 – E quem participava das festas, quem ia nas festas...? R – Essas pessoas: idoso, moça mesmo, moça jovem... P/1 – ...E nas festas o que acontecia, como é que eram as festas, pra quem nunca foi, pra quem não conhece...? R – Todo mundo achava bom! Porque naquela época não tinha divertimento, era isso mesmo! Não tinha esse som que tem hoje, então evoluiu. P/1 – E o senhor trabalhou na roça desde pequeno...? E o que o senhor aprendeu...? R – Desde pequeno! Ah, eu aprendi muitas coisas, sabe, na roça. Coisa de roça, de mexer com cana: moer cana, capinar roça. P/1 – E vocês trabalhavam todos juntos: os irmãos, a família, tudo...? R – É. Tudo unido! P/1 – E vocês faziam produção pra vocês mesmo comer ou vendiam...? R – Não, nós vendíamos! Era pra vender. Cana... Agora não existe mais feijão nessa região daqui, a nossa, goiana... Porque antigamente você colhia era 20, 30, 40, 50 sacos de feijão. Hoje você planta feijão e não dá. Esses feijões que eu tô falando. P/1 – E como é que era o convívio com seus irmãos: você sempre se deu bem com seus irmãos, vocês brigavam...? R – Era bom demais! P/1 – Tem alguma brincadeira que vocês faziam juntos específica ...? R – A gente brincava muito de noite, que minha mãe fazia de azeite – lá não existia energia – então ela fazia o candeeiro, nem o lampião não existia, não conhecia o que era o lampião. Então minha mãe fazia de azeite mesmo. Ela fazia o azeite e fazia o candeeiro, então era de fazer fogo assim, fazer aquela festona. Ali só de luz, de azeite... Fazia festona! P/1 – O senhor se lembra da primeira festa, a primeira folia...? R – Ah, eu lembro! A primeira folia eu achei tão bonito, cheguei até de chorar de emoção. E eu com vontade de tocar, mas eu não sabia tocar o instrumento, a viola. O que eu tô falando pra você é primeiramente uma viola de pau. Aí eu falei pro meu pai e ele: “Não, meu filho, se você sabe tocar a sanfona, você vai saber tocar viola também”. E ele surgiu com essa viola não sei de onde, de cabide de pau, então eu aprendi a tocar já nessas violas, viola de pau. E daí pra cá é folia... Mudei aqui pra Pirenópolis. Em Anápolis mexi com folia também. Daí pra cá aprendi a tocar viola também, então eu toco os dois: sanfona e viola. P/1 – E seu pai te dava aula, como é que era esse aprendizado? R – É, essa antiga aí, minha mãe que é de sanfona, já te expliquei. Minha mãe que é sanfoneira, sanfoneira de primeira, viu? Boa! E daí pra cá aprendi a tocar. Agora a viola aprendi a tocar mesmo de cabeça. Nunca entrei em aula de viola, e sei afinar a viola que qualquer pessoa mandar, qualquer afinação. P/1 – E aprendeu sozinho? R – Sozinho. P/1 – E essas festas, tanto a Folia... Ela já tinha lá na roça ou você aprendeu aqui? R – É, já aprendi lá na roça, porque existia da de Folia. Que esse povo que sai, esse povo antigo, então ouvia ele.. Então assistia e achava bom, a Folia deles. Que naquela época a folia era muito melhor do que hoje! Eu acho. Eu gosto de olhar. Porque é um trem muito lindo! P/1 – Quais eram as diferenças que tinham? R – ...Ah, a diferença porque parecia que o povo unia mais, sei lá... Fazia as coisas melhor. Fazia as coisas mais com, não sei, mais prazer, sei lá. P/1 – E aí o senhor mudou pra Pirenópolis com quantos anos? R – Faz uns 20 anos por aí, que eu tô em Pirenópolis. Eu saí de lá casado de novo, quando saí de lá da minha terrinha, da capela, pra cá. Aí vim pra cá. P/1 – E por que é que o senhor saiu da roça? R – Ah, eu saí porque aconteceu um problema comigo, o negócio dessa perna, o homem defendeu lá no rio, lá na pescaria, lá pescando, me ofendeu, então eu tive que sair da roça. O negócio pra mim já não dava mais certo, aí eu peguei e saí, lá em Pirenópolis. P/1 – E aí o senhor começou a se dedicar só a música, e profissionalmente? R – É, só a música, profissionalmente. P/1 – E como é que foi isso, que atividades que você desenvolve enquanto você...? R – Eu faço de tudo. De instrumento faço de tudo um pouco. Sanfona eu faço, toco Folia, toco forró, a viola, faço catira, toco uma musicona caipira também... Não é só catira. Eu faço tudo também, de cada coisa um pouco, tudo não, um pouco. P/1 – Pra quem não conhece: o que é o catira, como você pode explicar? R – Ah, o catira veio de uma tradição, um viajante vinha viajando, diz que parou num pé de árvore, comendo farofa, aí desceu de lá os mantimentos dentro do buraco e bateu no buraco. E a moça aqui deu um batidão bom: “bum-bum”. E eles entenderam pular lá, ficaram pulando, pulando, com o barulho desse buraco, e deram de entendimento de catira, chama catira. Aí foi por o nome da dança, isso aqui dá um catira: bateu na caixa. A tradição... P/1 – E que diferenças você vê depois que você mudou pra cidade da roça? R – A cidade é muito bom, daqui da cidade é o seguinte: é muito apertado. Quando tava na roça era bom, mas a cidade sempre tem muitas coisas. Mas tem muitas coisas também que você aperta. Teve coisa boa e teve coisa ruim também. P/1 – E os seus irmãos eles também vieram pra Pirenópolis, como é que foi? R – Não, meus irmãos eles casaram e cada um mudou pra uma parte. E eu fiquei pra trás, lá na terra, na casa da minha mãe mesmo. Mas aí resolvi também me casar: “Eu não posso ficar nessa”. Minha mãe também incentivou: “Não, meu filho, você tem que se casar, porque seus irmãos todos se casaram e você tem que se casar também”. P/1 – E como o senhor conheceu a sua mulher...? R – A Minha mulher eu conheci através de Folia. Pra você ver como são as coisas, eu conheci ela através de Folia. P/1 – E como foi quando o senhor conheceu ela, como é que foi essa Folia? R – Ela trabalhava em Goiânia. Então ela trabalhava toda vida. Até que ela casou e eu não tirei ela do serviço. Nós casamos mas eu não tirei, porque ela gosta. E é bom que ajuda a gente também, com a situação que tá hoje em dia. Então temos três filhos maravilhosos! Gosto demais dele, inclusive tem o Adão, que já é violeiro, é catireiro. Tô incentivando ele a … Se for pra ser mesmo, ser artista mesmo, então eu já tô estudando primeiramente. Primeiro lugar o estudo. Eu vou praticar ele a cantar. Ainda tá novo! Então eu vou passando pra ele! E outra coisa: sanfona também ele já pega, ele sabe, ele não sabe puxar ainda, mas ele sabe as notas da sanfona, ele sabe tudo! Ele pede pra mim afinar a viola e ele pega a sanfona e eu afino a viola. E afino a viola e entrego pra ele. Daí ele já tá aprendendo a afinar também. É violão, viola... P/1 – E ele é seu filho mais velho? R – É, é o mais velho. P/1 – E como foi quando você teve seu filho a primeira vez, como foi ser pai? R – Muito bom, eu achei muito bom! P/1 – E você acompanhou todo o processo...? R – Eu acompanhei, desde o nascimento. P/1 – E como foi pro senhor começar a ensinar pra ele a música, ele teve o interesse...? R – É, que nem eu falei, eu comprei uma violinha pra ele de brinquedo, que tem aqueles violõezinhos de brinquedo, e ele tacou no mato. Minha esposa que não tá aqui pra contar a história para você. Atacou no mato. E eu já tinha o cavaquinho e a viola. E aí ela olhou e minha mulher falou: “Não, ele quer o de verdade, o instrumento de verdade”. E eu nem percebi. E minha esposa percebeu. Passou o cavaquinho na mão dele, aí pra frente já foi pegando posição. Do jeito que eu fazia a posição ele fazia com o dedo também, da posição do dedo da viola, então foi por isso que ele aprendeu. P/1 – E você já levava eles nas festas, você já levou ele na Folia, como é que é...? R – É, aí levava ele na Folia, catira, aí foi aprendendo... P/1 – E ele hoje é seu parceiro? R – É. Pra tocar sanfona, não pra cantar. Que ele é muito fraquinho, então quero que ele primeiro vá estudar, pra depois nós podermos praticar direito: esse cantar, arrumar um parceirinho pra ele... Mas pra tocar viola, pra mim, é ele! Ele é, assim, meu parceiro. E é! P/1 – E as suas outras filhas começaram a ter interesse também? R – É, a Stephanie também tem interesse de aprender, tem entendimento de aprender. P/1 – E foi espontâneo, foi igual com o seu filho...? R – Exato. P/1 – E como é que foi no caso dela, ela começou a procurar, pediu instrumento...? R – É, foi a mesma coisa do menino. Mas só que ela já ia vendo o instrumento e já ia querendo o cavaquinho, que ela queria tocar... Aí eu passei na mão dela. E aí minha mulher falou a mesma coisa: “Ela vai aprender também”. E a gente fica satisfeito, do filho da gente já crescer desse jeito! Mas antes de ensinar os filhos da gente essas coisas, do que essas coisas de estar aí, da escola, incentivar, porque se as coisas do mundo já não estão boas, já tem tanta coisa errada, então você tem que ensinar os filhos da gente a isso aí: muito melhor! P/1 – E da sua criação pra criação dos seus filhos você vê muita diferença? Da sua infância foi muito diferente, como é que foi? R – É, da minha infância já foi bem diferente, que foi criado na roça. Era muito inocente, não sabia de nada, era só aquilo que você via. Mas nessa idade você vê coisas boas. Eu acabei de falar que a cidade tem muitas coisas boas, mas tem um lado ruim também. Você aprende muitas coisas boas, mas você aprende coisas também que não agradam, igual hoje em dia o jovem. O jovem, hoje em dia, tá uma coisa impossível. Um pai de família tá sem jeito de criar filho. Se você criar muito filho você não vai dar conta! Problema não é tratar, problema é educação! Do jeito que meu pai criou nós, onze filhos. Quem de nós aqui dá conta de onze filhos aqui? Você fica louco, você fica louco! Você não consegue. E eles conseguiam. E na roça. Ganhar tudo nos braços, trabalhando. Hoje, mesmo que você tem dinheiro, você tem uma firma, mas você não consegue. É que mudou. É porque mudou mesmo. P/1 – E hoje o senhor continua trabalhando como músico? R – É, eu continuo trabalhando como músico. Não sei quando eu vou parar. Aí vou passar pro meu filho, ensinar, incentivar... Não só o meu filho. Se tiver uma escola aí, a gente entra numa escola, que tá precisando! Folia mesmo. Principalmente Folia. Os velhos estão acabando tudo, se não tiver uma escola, ninguém sabe o que é que é Folia. Os jovens não vão saber. Pra incentivar as Folias, as catiras. P/1 – E na Folia o que você faz de específico? R – Ah, na Folia eu faço tudo: tocar viola, eu rezo terço, agradeço mesa, toco pra agradecer mesa, canto também na música, eu faço tudo! P/1 – E qual a músico mais marcante na Folia pra você? R – Ah, é rezar terço, a parte de agradecer mesa... P/1 – Eu queria que o senhor contasse: e como é que o senhor conseguiu o seu instrumento, como é que foi...? R – O meu instrumento, antigamente nós morávamos na roça, então você comprava a sanfona, aí a gente ia lá... Então tinham as pessoas, que eu nem conhecia, o que era Anápolis, nem sabia o que era Anápolis... Aí tinha um fazendeiro lá, aí falava: “Ah, vou levar vocês lá”. Que a sanfona que o meu pai me deu exclusivamente, era um acordeãninha pequena, muito menor que essa, ela dava aqui ó. Que a sanfona depois de Zezé de Camargo e Luciano, pequena. E inclusive no dia das filmagens deles aí, eles pediram a sanfona, que não existe nem caco mais, que dirá um pedaço, nada, nada! Aí isso não. Eu queria pelo menos ter um jeito de ter uma sanfona do tipo dessa, uma sanfona verdinha que eu comprei pra aprender, mas ela não tem nenhum conserto também, tá tão velha! Não sei como que me arranjou uma sanfona. “Ah, tem uma sanfona ali embaixo ali”, e pra fazer o gosto dele fui lá e comprei. P/1 – E qual a importância da música na vida do senhor? Se tivesse que falar assim o quanto ela é importante? R – Ah, a música ela é bem importante! Graças a Deus! Eu estando tocando sanfona ou viola, pra mim não tem, pra mim não tem coisa melhor! P/1 – ...E essa sua idéia quando o senhor ensina para os seus filhos, qual a importância deles...? R – ...Pra mim eu acho muito importante, primeiro porque eu tô tirando de certas coisas que eu acabei de falar e que já tá por aí. Outra coisa é que é bom, você estar incentivando uma coisa... Né? Você está incentivando alguma coisa pro seu filho de bem. Não pra mau, de bem. P/1 – ...E o senhor sempre aprendeu de ouvido, o senhor ouve a música e tira...? R – De ouvido. Eu acho que é muito melhor se a pessoa puder aprender de ouvido do que em uma escola. Quer dizer, de ouvido eu não sei... Eu não sei o que acontece comigo, porque se eu pego, eu não engancho com nada, se eu pegar um contrabaixo aí, é a mesma coisa! Uma guitarra, a mesma coisa! Uma... Todo instrumento, cada um eu já peguei. É teclado... Só eu não experimentei de sopro, mas acho que é só pegar e eu engancho não... P/1 - E tem algum instrumento especial que o senhor tem um carinho especial, uma lembrança, que o senhor guarde até hoje...? R – É, eu tinha essa viola, essa viola eu tinha. Essa viola e essa sanfona que eu falei pra vocês... Mas essa viola... Eu sei que essa viola pegaram ela. Era relíquia mesmo, era daquelas de pau, era até... As coisas eram todas de pau. Era tudo de pau, na afinação tudo de pau. Lembrei dela toda de pau, até sei as cordas, a orelhinha... P/1 – E eu queria voltar um pouco pra os seus filhos, para o senhor lembrar: como que é ensinar pra eles, o senhor tem uma música pra ensinar eles, o senhor coloca eles pra ouvir, como funciona...? R – Meus meninos? Meus meninos eu quero incentivar primeiramente a Folia. Porque é necessário, primeiramente o terço. Folia, vamos ensinar os terços. Os terços eles sabem rezar, mas falo ensinar a agradecer mesa, fazer aquele trio em Folia. Então tem que pegar uma pessoa mais velha, tem que pegar uma pessoa idosa mais velha, pra poder incentivar eles, dar uma escola pra eles poderem aprender tudo: embaixador... Então nós estamos querendo fazer uma escola, aí sim! P/1 – E hoje o senhor participa do projeto aqui em Pirenópolis? R – Ah, no projeto eu toco sanfona, viola, triângulo – tem o triângulo também que eu toco. P/1 – E qual a importância que o senhor vê hoje? O Senhor comentou muito que o senhor acha que os seus filhos tem que saber, que tem que ter escola de Folia, qual a importância de manter viva essa tradição? R – Essa tradição, igual eu te expliquei, vem de origem dos mais velhos, então eu via com meu pai na Folia, minha mãe... Eu achava bom. E entrei e achei bom também a Folia. E meu pai falou: “Você vai entrar e você vai aprender, não é custoso. Você já sabe tocar, pra você não é difícil!”. Então entrei e aprendi rápido. E achei bom e tô até hoje. Então já veio filho, agora é ensinar. P/1 – E agora pra começar a fechar a entrevista, queria que o senhor fizesse uma análise, o senhor falou que apesar de todas as dificuldades que o senhor passou na vida, o senhor é uma pessoa muito feliz... R – É, eu sou muito agradecido à Deus, sabe? Porque o que eu já passei não foi brincadeira não! Então fui ofendido por uma jaracuçu de papo amarelo, na beira do rio. Cheguei por morto também. Cheguei lá em Goiânia por morto. Então o doutor falou: “Ah, não vou dar conta”. Mas ele deu conta! Primeiramente Deus. Minha mãe era muito católica, rezava muito, e Deus deu poder pra eu viver e pronto. Graças a Deus eu tô vivo, sadio. Hoje eu toco sanfona, subo em paus desse aí, monto no cavalo... Pra mim foi coisa do passado... Nado em rio com uma perna só. P/1 – E tem alguma coisa marcante que o senhor queira dividir com a gente que eu não tenha perguntado, que o senhor queira contar...? R – É, tem uma história marcante comigo de eu voltar a andar. Pra mim foi uma coisa que foi de pedir muito a Deus de eu voltar a andar. Pra mim eu não ia andar mais: “Morri mesmo, não tem salvação pra isso mais não”. Mas Deus mostrou pra mim como são as coisas! Então eu fui indo, seguindo em frente, com meu pai e minha mãe, eles que foram me impedindo: “Ah, meu filho, você não pode ficar desse jeito, traumatizado com isso, você tem que ter Deus e pronto, siga em frente!”. Sempre falando isso pra mim! E eu: “Não, meu pai, não tô triste por isso não.”. E meu pai notou também. Então meu pai: “Largar de roça, eu vou levar você, alugo uma casa pra você em Pirenópolis e você vai estudar”. “Ih, meu pai, mas tanto filho que o senhor tem, você ainda vai pagar casa, pra estudar, é custoso!”. “Não, meu filho, pode deixar”. Porque meu pai tinha uma escada, onze filhos, um depois do outro. Mas parece que Deus falou: “Não”. E eu pensei: “Eu não vou estudar, eu vou trabalhar a mesma coisa”. Então eu peguei enxada, fui pra roça, pra dizer que eu peguei roça depois disso, que aconteceu esse fato comigo. Puxava enxada a mesma coisa com uma perna só! Capinava. Tudo com uma perna só. Quebrava milho com uma perna só, rancava feijão com uma perna só. Quer dizer, então eu não posso, que o que Deus deu pra mim retornou pra mim, tem que agradecer a Deus. Então a história marcante foi essa pra mim. Logo veio esse aparelho. Esses aparelhos pra perna, aparelho de perna. Aí pus esse aparelho. Primeiro aparelho. E daí pra cá vieram mais, modificou, modificou, melhorou! Então história marcante é essa. De estar com amigos, de ter prazer quando estou com os amigos hoje em dia. A gente estar com os amigos aí, tocando, fazendo festa... Pra mim é bom demais! E ter filho, ter uma mulher maravilhosa, graças a Deus! Porque quando aconteceu isso comigo eu não era casado, eu era menino, tinha 15 anos na época. Então se pra pessoa acontece um problema esse com a pessoa, um braço, uma perna, a pessoa fica desesperada. Às vezes fica traumatizada, mas não pode, nunca pode fazer isso! Deus deu a vivência pra você viver, você tem que viver! Deus deu a vivência pra você viver, você tem que viver, e não reclamando. Você nunca deve: “Ah, perdeu um braço, perdeu uma perna”. Não! Você pede a Deus, Deus sabe o que faz. P/1 – E como que é pro senhor contar a sua trajetória de vida? Pra os seus filhos você conta muito a sua vida? R – Eu conto, com meus filhos eu dialogo muito com eles. Adão, mais velho. Nós proseamos muito, falo muito com ele: “Seja obediente com os outros, com os amigos, com tudo”. Com os irmãos dele, tem que ser obediente, não pode ser... Tem que aprender igual meu pai ensinou pra mim, então você também tem que aprender comigo como é que são as coisas. E eu vou passando pra ele. Pra mim ele é... Eu gosto demais do meu filho. Não só dele, mas de todos, todos os filhos, os três. Mas pra mim é um filho-amigo. Pra mim é um filho-amigo, ele é muito obediente. P/1 – E um parceiro de música também? R – É, é parceiro de música. P/1 – Eu gostaria de perguntar pro senhor como é que foi dar esse depoimento, como é que foi contar a sua história pra gente? R – Foi muito bom, foi muito bom... Estar com vocês, eu sinto muito prazer, o maior prazer de conhecer vocês... Do projeto. Pra mim eu acho muito bom isso aí. Cada vez vai melhorando mais. P/1 – Já é o começo da escola. R – É. P/1 – Tá ok, Seu Lourenço, muito obrigado! R – Eu que agradeço vocês, a oportunidade de estar dando pra gente que ta aí, que é músico. Eu que agradeço a oportunidade que vocês abriram pra nós.
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