P/2 – Júlio, bom dia.
R - Bom dia.
P/2 - Obrigada por ter vindo aqui participar desse projeto. Queria começar o depoimento pedindo que você diga pra gente o nome completo, local e data de nascimento.
R - Meu nome é Júlio César Linhares Veloso, nasci no Rio de Janeiro em vinte de maio de 1951.
P/2 - Tá ótimo. Fala então um pouco pra gente o nome completo dos seus pais, a profissão deles.
R - Meu pai, o nome dele era Liniares Veloso, ele trabalhava em propagandas. E minha mãe, Gessi Pereira Veloso, era costureira, hoje é recepcionista e trabalha na minha academia.
P/2 - E os seus avós maternos, paternos, teve conhecimento, chegou...?
R - Eu tive pouco contato com meus avós maternos, com meus avós paternos eu não tive contato, eles faleceram antes de eu nascer. Agora, com meus avós maternos eu tive um contato bem grande, tenho muita saudade da minha avó até hoje.
P/2 - Seu pai é de onde?
R - Era de Fortaleza, natural de Fortaleza, ele veio para o Rio estudar, e ficou no Rio trabalhando depois.
P/2 - E a sua mãe?
R - Minha mãe é de Bicas, perto de Juiz de Fora, eles se conheceram aqui no Rio porque a família mudou para o Rio mais tarde.
P/2 - Os dois se conheceram aqui no Rio?
R - Aqui no Rio de Janeiro.
P/2 - E eles moravam onde?
R - Moravam na Pinheiro Machado, ali perto do Fluminense.
P/1 - Também Laranjeiras?
R - Também Laranjeiras.
P/1 - Então eles se conheceram por ali mesmo?
R - Eles se conheceram na cidade, minha mãe trabalhou, na época de jovem, trabalhou na Casa Sloper como vendedora, e parece que eles se conheceram ali.
P/1 - E o teu pai trabalhava com propaganda mesmo?
R - Propaganda. Ele trabalhou na Macan Ericsson, na (MPM?), agora não me lembro outras firmas.
P/1 - Agências mesmo?
R - Agências de propaganda. Também depois, quando ele faleceu ele estava trabalhando na TV Educativa.
P/1 - Na TVE?
R - É, a TVE.
P/2 - Ele chegou a fazer faculdade?
R - Não,...
Continuar leituraP/2 – Júlio, bom dia.
R - Bom dia.
P/2 - Obrigada por ter vindo aqui participar desse projeto. Queria começar o depoimento pedindo que você diga pra gente o nome completo, local e data de nascimento.
R - Meu nome é Júlio César Linhares Veloso, nasci no Rio de Janeiro em vinte de maio de 1951.
P/2 - Tá ótimo. Fala então um pouco pra gente o nome completo dos seus pais, a profissão deles.
R - Meu pai, o nome dele era Liniares Veloso, ele trabalhava em propagandas. E minha mãe, Gessi Pereira Veloso, era costureira, hoje é recepcionista e trabalha na minha academia.
P/2 - E os seus avós maternos, paternos, teve conhecimento, chegou...?
R - Eu tive pouco contato com meus avós maternos, com meus avós paternos eu não tive contato, eles faleceram antes de eu nascer. Agora, com meus avós maternos eu tive um contato bem grande, tenho muita saudade da minha avó até hoje.
P/2 - Seu pai é de onde?
R - Era de Fortaleza, natural de Fortaleza, ele veio para o Rio estudar, e ficou no Rio trabalhando depois.
P/2 - E a sua mãe?
R - Minha mãe é de Bicas, perto de Juiz de Fora, eles se conheceram aqui no Rio porque a família mudou para o Rio mais tarde.
P/2 - Os dois se conheceram aqui no Rio?
R - Aqui no Rio de Janeiro.
P/2 - E eles moravam onde?
R - Moravam na Pinheiro Machado, ali perto do Fluminense.
P/1 - Também Laranjeiras?
R - Também Laranjeiras.
P/1 - Então eles se conheceram por ali mesmo?
R - Eles se conheceram na cidade, minha mãe trabalhou, na época de jovem, trabalhou na Casa Sloper como vendedora, e parece que eles se conheceram ali.
P/1 - E o teu pai trabalhava com propaganda mesmo?
R - Propaganda. Ele trabalhou na Macan Ericsson, na (MPM?), agora não me lembro outras firmas.
P/1 - Agências mesmo?
R - Agências de propaganda. Também depois, quando ele faleceu ele estava trabalhando na TV Educativa.
P/1 - Na TVE?
R - É, a TVE.
P/2 - Ele chegou a fazer faculdade?
R - Não, não fez faculdade, ele começou a fazer, me parece que ele começou a fazer Economia, e depois ele voltou pra esse lado de propaganda, e parou. Na época não tinha também esse negócio de formação em propaganda, marketing.
P/1 - Então você é nascido e criado ali em Laranjeiras?
R - Nascido e criado em Laranjeiras, tricolor doente.
P/2 - São quantos irmãos?
R - Olha, tinha eu e meu irmão, que já é falecido também. Nós éramos dois, meu pai teve dois filhos.
P/1 - E você nasceu em 1951 em Laranjeiras, fala um pouquinho de como era Laranjeiras nessa época, porque é antes de abrir o túnel Santa Bárbara, né?
R - Era antes de abrir o túnel Santa Bárbara, era a época que tinha bonde, a linha dois, a linha três do bonde. Eu até morava, eu passei a morar na Cardoso Júnior, onde era o ponto final da linha dois do bondinho, onde ele fazia a curva, hoje tem aquela pracinha com um chafariz, David Ben Gurion. Eu trabalhei, eu morava ali, tenho muita saudade dessa época, muita. Jogava futebol na rua, andava de bicicleta sem problemas, e Laranjeiras era um bairro muito gostoso, não tinha esse trânsito todo que tem hoje por causa do túnel. Realmente foi uma época bem gostosa.
P/1 - Você estudava ali perto mesmo, em Laranjeiras?
R - É, eu comecei estudando no colégio José de Alencar, um colégio público que tem perto da Rua Alice, e depois fui para o Ginásio de Laranjeiras pra fazer a parte ginasial, e depois fui terminar no André Maurois, no Leblon.
P/2 - E os esportes, como começou isso?
R - Meus pais, apesar deles não terem sido atletas, eles me incentivaram muito no esporte, na natação. Comecei com natação no Fluminense, e depois eu nadava mas não gostava muito de nadar, e via o pessoal pulando lá do trampolim, aquilo me atraiu, aí eu com dez anos comecei a saltar.
P/2 - Dez anos?
R - Dez anos de idade comecei a saltar, e salto até hoje.
P/1 - Até hoje?
R - Até hoje, é. Fui campeão brasileiro algumas vezes, na época, como atleta, saltei até os 28 anos. Minha formação até é em Educação Física, foi por causa do Fluminense, foi por causa dessa parte de atleta que eu tive. Eu até devo muito ao Fluminense por causa disso, porque ele me incentivou muito, eu tive uma boa formação por causa do esporte. E hoje eu sou atleta, continuo sendo atleta de saltos ornamentais, fazendo minha propaganda, sou tricampeão mundial de Master, sou recordista mundial da faixa de 45 a cinquenta.
P/1 - Você continua então na ativa?
R - Na ativa, na ativa. Eu participo também de preparação física de atletas de saltos ornamentais, treino a minha filha que é atleta olímpica, foi a vice-campeã agora, há três semanas. De um campeonato que chama Top Eight, são os oito melhores do mundo, e ela ficou em segundo lugar, e eu faço preparação física dela.
P/1 - Deixa eu perguntar uma coisa, Júlio, essa relação que a tua família tinha com o clube era uma coisa comum na época, ou seja, o clube era um lugar onde as pessoas frequentavam, que as famílias iam, isso é muito diferente do que é hoje, o Fluminense?
R - O clube realmente era uma segunda casa de todo mundo, meu pai me deixava lá cedo, e ficava tranquilo. Meu pai e minha mãe trabalhavam, e eles sabiam que enquanto eu estava lá dentro, no Fluminense, eu estava tranquilo. E era realmente uma… O clube Fluminense principalmente, era um clube de elite aqui do Rio de Janeiro, e ele ficava tranquilo, eu tinha a minha continha no bar pra quando eu tivesse fome eu pudesse ir lá. Apesar de ter uma vida modesta, dos meu pais, mas mesmo assim eu tinha a minha continha no bar, e eu entrava lá depois do colégio e só saía de noite pra dormir.
P/2 - E como é que era o clube, o que tem de diferente de hoje?
R - Olha, eu posso dizer que todas as atividades de antigamente eram bem amadoras, então você não tinha aquele negócio de “atleta tem que ganhar dinheiro”, eu nunca ganhei dinheiro como atleta no Fluminense. Fui atleta de ponta, fui durante mais de dez anos da seleção brasileira de saltos ornamentais, e nunca ganhei um tostão do Fluminense. Então, quer dizer, era tudo mais fácil, você não pagava pra fazer ginástica, você não pagava pra fazer natação, então o clube todo participava de todas as atividades, eu jogava tênis, jogava tênis de mesa, era tudo muito mais aberto. Sem cobrar nada fica tudo mais fácil. Hoje ficou inviável, porque o negócio foi elitizando, os atletas – por necessidade até – necessitam receber alguma coisa. Porque eu vejo, no caso da minha filha, ela gasta pelo menos quinhentos reais só de suplemento alimentar por mês, não é todo mundo que pode ter esse valor pra gastar com suplemento alimentar. Então os atletas hoje realmente necessitam alguma coisa a mais, então ficou... O clube agora cobra tudo, então você vê, ele ficou um pouco mais elitizado nessa parte de esporte. O clube acho que mudou também, a parte social do clube era muito grande na época, você tinha diversos eventos, você vê que no Fluminense, na minha época tocou Roberto Carlos, tocou Chico Buarque, era turma da pesada, Gal Costa, MPB 4, era a turma assim de ponta que cantava no Fluminense. E tivemos peças de teatro também assim, de nome, na cidade, fazendo peças lá. Então essa parte social também mudou, bailes, tinha bailes enormes, no Fluminense o baile tradicional, todo mundo de smoking, era uma coisa fantástica.
P/1 - Essa parte social era muito diferente do que é hoje?
R - Muito, muito desenvolvida, é, muito mais, com certeza, muito mais.
P/1 - Por que o Fluminense tinha uma fama de baile, de festa?
R - Eram aquelas grandes festas. Hoje em dia você tem festa, festinhas, você tem festa de aniversário, festa de casamento, não estamos falando disso, falando da festa dos associados, a festa dos associados hoje é um negócio muito mais simples, muito menos elaborado. No aniversário do Fluminense, era um mês de aniversário, tinha um show aquático que eles fechavam a piscina do Fluminense, faziam um grande palco na piscina do Fluminense, e era um show fantástico! Duas horas de show com Evandro Mesquita, com bandas do momento, na época, com saltos ornamentais, com aqualoucos, balé aquático, hoje nado sincronizado. Tivemos dois anos seguidos, veio um ex-atleta do Fluminense que trabalhava em Nova Iorque, trabalhava com show aquático, montar um show aquático fenomenal. Um dos maiores shows que eu já vi na minha vida foi no Fluminense.
P/1 - Na piscina mesmo do Fluminense?
R - Na piscina do Fluminense. Com desfile de Miss Brasil, era um negócio, na época, fantástico.
P/2 - E em termos de número de sócios?
R - Olha, eu não sei te dizer exatamente, mas com certeza era pelo menos cinco vezes mais do que nós temos hoje de associados.
P/1 - Quer dizer, por que você acha que tem menos gente frequentando o clube, o que você acha? Você acha que mudou o quê, Laranjeiras, a cidade, ou o Fluminense? Porque todos os clubes, mais ou menos, se queixam um pouco disso...
R - É, olha só, são diversos fatores, o fator econômico, não é todo mundo que pode...
P/2 - Pode pagar, né.
R - Ter um dinheiro pra frequentar clube. O clube perdeu muito para as academias de ginástica, porque ofereceu uma qualidade de trabalho melhor, por ser um negócio menor, mais direcionado e com um custo menor. O custo de um clube é um negócio muito grande. O Fluminense é uma área enorme, então você tratar disso, você cuidar desse negócio todo fica muito difícil. Então eu acho que aconteceu também de perder muito para as academias de ginástica.
P/2 - Júlio, voltando agora um pouco pra sua infância mesmo, como que era o ambiente da sua casa? Seu pai saía pra trabalhar, vocês ficavam em casa com a sua mãe, como era?
R - É, meu pai saía pra trabalhar cedo, meu pai trabalhou, trabalhava em São Paulo às vezes, passava a semana toda fora. Minha mãe sempre deu duro em casa, meu pai também era um sonhador... (Chora) Me emocionei agora...
P/2 - Bom, voltar agora, o colégio, você ia a pé mesmo ali para o colégio?
R - É, era minha praia.
P/2 - Na Rua Alice?
R - Não, era ali em frente à Rua Alice, hoje tem ali em frente ao Hospital do Coração.
P/2 - Eu sei.
P/1 - Ainda tem essa escola, ainda existe?
R - Ainda tem, ainda existe essa escola lá, José de Alencar.
P/2 - Você estudou até que série lá?
R - Eu fiz o primário, o primário todo eu fiz lá. Depois eu fui pra um cursinho, cursinho de admissão que chamava Odilon, e fui para o ginásio de Laranjeiras, fiz a parte ginasial toda lá. O segundo grau era o, como chamava, era Ginásio Científico. Fiz o Científico, fiz um ano no André Maurois e terminei no Gilberto Amado.
P/2 - E a adolescência também passou por ali, como que é?
R - A adolescência toda, como eu comecei desde cedo a ser atleta, eu me dediquei muito ao esporte, então minha vida toda foi treinando. Meus pais já tinham um poder aquisitivo muito baixo pra época, e então a minha chance de viajar, de conhecer o mundo, conhecer o Brasil era através do esporte, e eu agarrei com unhas e dentes. Conheço bastante lugares do mundo todo, viajei muito, e viajei pelo Brasil também, conheço todas as capitais do Brasil através do esporte, sempre viajando.
P/2 - Qual foi o primeiro, foi natação?
R - O primeiro foi natação, mas natação eu não cheguei nem a competir. Eu tive até um problema, eu fui selecionado pra competir, e o técnico falou assim: “Não, você...”; fez uma eliminatória dentro do Fluminense, eu era o terceiro nadador de peito, fiquei em segundo lugar. Aí ele falou: “Não, o outro garoto que não veio é melhor do que você, e ele que vai nadar”. Então foi ali que eu parei com a natação. Só que o garoto estava com hepatite e não pôde nadar.
P/2 - E aí te chamaram?
R - E aí foram me chamar em casa, e eu não, eu falei que já tinha parado de nadar, que eu não ia nadar, que eu não era sócio atleta, eu era sócio contribuinte, não tinha essa obrigatoriedade de ser, de competir. Por azar o Fluminense perdeu por um ponto. Se eu tivesse nadado e tirado o sexto lugar teríamos ganho, ganhávamos a prova, ganhávamos o campeonato. Então até teve um, rolou um stress, mas aí eu já tinha deliberado que eu não ia nadar, já estava em saltos ornamentais, isso com... Eu tinha dez anos na época. E aí foi, treinei, com quatorze anos eu fui vice-campeão sulamericano de adultos, com quatorze anos. E quebrei algumas metas, antigamente criança não podia pular de dez metros, eu com doze anos competi de dez metros de altura. Então começaram a rever os códigos aqui no Brasil, e mudaram em função do Júlio Veloso, lá do... (risos).
P/1 - Você foi da natação para os saltos ornamentais?
R - Isso.
P/1 - E você... Porque o Fluminense tem uma história de muita gente que fez muitos esportes amadores lá, desde a época lá do Preguinho, quer dizer, era uma coisa comum a pessoa que está o dia todo no clube fazer um monte de coisas, competir um monte de...?
R - Na época do Preguinho, o Preguinho é nosso ídolo, o ídolo dos tricolores... Realmente, porque ele fazia tudo, era um excelente jogador de futebol, jogava futebol, corria, jogava, arremessava, jogava tênis, nadava, isso era uma época que era uma pessoa bem dotada como o Preguinho. Tem uns outros, o Everardo também, faleceu há pouco tempo, era também uma pessoa fantástica, foi campeão em diversos esportes. Mas depois o pessoal começou a selecionar mais, a estreitar mais isso, então a pessoa nadava e saltava, podia até acontecer disso. Na minha época mesmo - já estava começando a especialização - era um esporte só. Então eu entrei para os saltos ornamentais e fiquei nos saltos ornamentais. Mas quando eu era infantil, o garoto que era adulto – uma pessoa que eu admirava na época – ele nadava e competia em saltos ornamentais, ainda era normal na época. Quando eu comecei, começou a estreitar.
P/1 - E você na adolescência foi estudar no Leblon, porque você falou, num outro colégio...
R - Foi, aí foi porque eu não era bom aluno. Como eu treinava na época seis, sete horas por dia...
P/2 - Não tinha tempo pra estudar.
R - Não tinha tempo de estudar. Então no meu tempo eu fugia e ia treinar. E realmente eu, quando fiz Educação Física, eu fui assim… Era uma turma, eu fiz Educação Física no exército, era uma turma de cinquenta oficiais, eu fui o 13º aluno da turma. Numa turma de oficiais, uma turma que são estudiosos por natureza. E eu fui super bem pra um civil, como eles me chamavam. Eu era só um civil, o pessoal me chamava... Na escola sempre me chamavam de civil.
P/1 - Mas deu pra você conciliar mais ou menos, quer dizer, esse curso Científico com o fato de você estar competindo e treinando muito?
R - Deu, deu. O que está acontecendo agora com... Tornando a falar na minha filha, porque esse ano ela esteve na China, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e México, voltou ao México outra vez, está indo pra Espanha, e vai pra Santo Domingos, e de lá pra Coréia. São oito países que ela fica... E ela está fazendo fisioterapia. Não dá. Agora, vai dizer que ela é uma excelente aluna? Não, né, ela é uma aluna que teve, ela passou direto, ela está fazendo só quatro matérias por período, não é, mas sempre dá um jeitinho. Na minha época eu também, eu dava um jeitinho. Quando eu estava fazendo Educação Física no exército eu fui ao Panamericano, e...
P/1 - Isso depois do Científico já?
R - Depois do Científico, perdão, é depois do Científico. Fui no Panamericano e lá perde pelo menos vinte dias, vinte dias de aula. Mesmo assim consegui passar, passei com notas boas. Aí quando era na faculdade era uma coisa que eu gostava, eu corria atrás, no Científico nem tanto. Ah, aquela matéria passou, passou, nunca mais.
P/2 - Como que era a relação com os professores aí, eles...?
R - Meus professores, graças a Deus, me incentivavam muito no esporte, graças a Deus. Tive problema só com professor de matemática, sempre matemática.
P/1 - Aonde, no Científico?
R - No Científico, é. Eu não era mau aluno, eu era um aluno até bem razoável em matemática, mas tive problema com o professor de matemática. E eu era, a minha matéria pior sempre era português. Português eu já tive, sempre tive problema. Mas a professora gostava de mim, era professora, ela gostava. Agora, com o professor de matemática no meu Científico... Engraçado que ele era professor do André Maurois e era professor do Gilberto Amado, onde eu peguei também, eu terminei nos dois colégios.
P/1 - Ah, você estudou também nesse colégio Gilberto Amado?
R - É, no Gilberto Amado.
P/1 - Deixa eu te perguntar uma coisa, essa coisa de você estar com quinze, dezesseis, dezessete anos competindo, treinando, estudando... Você olhando um pouco pra trás, você acha que teve uma adolescência diferente, muito, de outras pessoas que não tinha essa coisa do esporte? Melhor, pior, o que você acha?
R - Olha só, eu acho que eu tive uma adolescência fantástica, muito saudável. Eu tinha, eu vivi a época dos Beatles, a época do paz e amor, que o barato era fumar maconha, então a liberdade total. E eu não tinha nada disso, meus colegas todos faziam, e eu nunca tive o interesse nem vontade de experimentar, eu achava que aquilo ali ia me prejudicar no esporte. Então eu tive uma vida super saudável, e agradeço mais uma vez ao esporte por causa disso. Porque eu não tinha, eu acho que criança tem muita energia, acho não, criança tem muita energia, e se você deixar a criança sem fazer nada ela vai arranjar coisa pra fazer. A hora que acabar as coisas interessantes ela vai começar a arranjar, fazer besteira, não tem jeito. Eu acho que essa besteira estava toda canalizada para o esporte, eu não tive essa parte de besteira. Era esporte, esporte, esporte, era suco de laranja, e por aí vai.
P/1 - E namorar, você namorava mais gente ligada ao esporte, ou do colégio, facilitava, dificultava...?
R - Não, eu namorei uma menina durante muitos anos que não tinha nada a ver comigo, nada, nada, nada a ver comigo. Era aquela que gostava de se vestir bem, sempre na moda, sempre com o cabelo enorme, solto, não sei o quê... E eu era o atleta. Me lembro que uma vez eu fui para um Panamericano, no Winnipeg, no Canadá, e quando eu voltei de lá a moda era andar descalço. Então eu cheguei, tinha recém chegado do Canadá, com uma calça jeans, na época, calça Lee, uma camisa de futebol americano, e fui para o cinema com minha namorada. Cheguei lá ela estava com meia arrastão, saia tweed, aquela saiazinha curtinha, sapato alto, e eu pé descalço... (risos). E nós namoramos durante muito tempo, quer dizer, não tinha nada a ver comigo. Aí depois, depois sim, eu namorei uma pessoa que eu me casei com ela, tinha começado a fazer saltos ornamentais, e esse casamento durou um pouco, muito pouco. Eu me apaixonei por uma atleta de saltos ornamentais que viajava comigo, e aí nós estamos casados até hoje, estamos juntos até hoje aí com... Vai fazer 25 anos agora em maio, próximo maio faz 25 anos, de casado.
P/1 - Vinte e cinco anos, bastante tempo.
R - É.
P/2 - E ela continua ainda na...?
R - Continua saltando também, atleta de master. Foi em alguns campeonatos mundiais, ela já foi campeã uma vez, tirou terceiro lugar outra, segundo. Me acompanha.
P/1 - Deixa eu falar um pouquinho também dessa parte de infância, adolescência, mas em relação mais ao comércio... Você tem alguma memória do comércio em Laranjeiras, como era de loja, de vitrine, de coisas que você comprava sempre, quitanda?
R - Ah, coisas marcantes é a quitanda que eu comprava, porque a minha mãe me mandava comprar as coisas, e eu sempre saia com uma balinha, nós tínhamos conta lá e o pessoal da quitanda era uma grande família. Era uma família que tomava conta, e nós sentíamos da família também, como nós éramos super bem tratados, já chegava, a gente já sabia, já chamava pelo nome da gente. E mandava a continha no final do mês, aquele negócio, aquela confiança que se tinha antigamente. Tinha uma quitanda muito grande. E outro lugar que me chamava muito a atenção também era o armarinho, era um armarinho que tinha ali na 392, exatamente na 392, tinha muitos gatos, era um armarinho com aqueles móveis enormes, móveis cheios de peças de roupa, de tecidos.
P/1 - Na Rua das Laranjeiras?
R - Na Rua das Laranjeiras, 392. É engraçado que...
P/2 - Perto do que, fica perto do...?
R - Fica em frente ao colégio israelita, Elias Stender. E anos depois, quer dizer, entrou em decadência pela modernização das coisas todas, esse armarinho entrou em decadências, as pessoas eram pessoas velhas, era armarinho de família também. E estava uma decadência muito grande, e eles fecharam o armarinho, e eu fui o primeiro inquilino deles pra fazer a academia de ginástica, foi onde era o armarinho.
P/1 - Onde era o armarinho...
R - O armarinho que eu vivi muito tempo, eu adorava brincar com os gatos lá no armarinho, tinha muitos gatos, muitos gatos também... E adorava.
P/2 - E alguma outra, loja de roupa...?
R - Loja de roupa, você me lembrou, me falou assim, na época tinha a NicoBoco, que eram umas camisas que todo mundo vestia, a camisa da NicoBoco era a moda. Como depois existiu Company. Então na época era, a camisa da época era a NicoBoco. E eu tinha um problema, porque nos saltos ornamentais você, quando você entra de dez metros, eu pulo de dez metros de cabeça, a força do braço é muito grande. E você subir na borda também, você faz força no braço, e o teu braço fica muito desenvolvido. E a camisa, nenhuma da (Nic Bobó?) entrava em mim... (risos). Ela vinha e parava no braço, quando entrava no braço ela ficava enorme aqui, e acho que a camisa da moda era justinha, ela tinha uma pencezinha atrás, camisa alta, tipo aquela do Erasmo Carlos, que eles gostavam, o Roberto Carlos usava muito também. Então eu tinha que apelar, eu tinha que pegar a camisa dos meus colegas e dar pra minha mãe fazer, quem fazia minhas camisas era minha mãe, era linda, mas não tinha ali aquele selinho da (NicoBoco?), porque pra criança, adolescente...
P/2 - Aonde era essa loja?
R - Era na Francisco Otaviano, Francisco Otaviano, era uma das lojas, não sei se tinha, não lembro se tinha mais agora.
P/1 - Onde tinha aquela galeria também de...
R - Exatamente, era por ali.
P/1 - De surf.
R - Exatamente. A galeria, desde a época tinha aquela galeria de surf, que na época já tinha prancha, vendia. Aliás, perdão, ali tinha uma marcenaria do lado, onde se fazia prancha de surf de madeira, que precisava, eram duas pessoas pra carregar a prancha. Uma só não carregava não, chamava madeirite.
P/1 - Madeirite... E era uma marcenaria aquilo?
R - Era uma marcenaria. E aquilo, não sei, acho que não sei se um dos donos devia fazer surf, na época fazia. Depois começou a fazer aquelas pranchas de jacaré, de madeira também, com aquela frente assim.
P/1 - Levantada?
R - Levantada.
P/1 - Você ia muito à praia?
R - Muito, muito, era uma coisa que eu gostava muito. Quando eu não tava treinando, eu tava na praia.
P/2 - Qual praia?
R - Sempre a praia da moda, pô, um garotão, corpo sarado.
P/1 - Mas qual que era? Ainda era Arpoador...
R - Olha só, Arpoador, peguei Arpoador, Praia do Diabo. Depois foi Castelinho, foi o Píer, depois voltou, Montenegro, aí foi pro Pepê, no Pepino, era Pepino.
P/1 - No Pepino ainda?
R - Pepino. Depois voltou pra Garcia.
P/1 - Essa coisa vai mudando.
P/2 - Então tinha épocas de moda, era o point?
R - É, era moda, o point era o negócio. Na época eu já estava, comecei muito cedo com negócio de academia, estava ligado com o corpo, então eu estava sempre, onde que tinha as pessoas bonitas eu estava ali no meio, estava com meu grupo, eu tinha um grupo muito fiel, da academia, um grupo muito grande. Então a gente ia, era negócio da moda, frescobol...
P/2 - Você surfava também?
R - Na época eu pegava onda de peito. Agora eu pego onda de... Surfo, tudo que é atividade física eu faço.
P/1 - Você mergulha também, ou não?
R - Mergulho, na época eu mergulhava também.
P/1 - Aqui no Rio mesmo?
R - Mergulho no Rio. Mergulhava no Rio, eu mergulhei muito em Cabo Frio, é um lugar bom também. Aí fui pra Búzios, conheci Búzios, Geribá não tinha uma casa, não tinha uma casa em Geribá, uma vez que eu fui a Geribá eu acampei na praia, sem nenhuma casa, fui acampado. Até na segunda vez que eu estive lá roubaram nossas roupas todas, ficamos só com a roupa do corpo.
P/1 - Roubaram?
R - Roubaram tudo, só deixaram nossa prancha, agora a roupa que nós estávamos roubaram todas.
P/1 - Quer dizer, não tinha casa nenhuma, mas já tinha gente...
R - Não tinha casa nenhuma, mas já tinha um pessoal da área ali, pescador, alguma coisa assim.
P/2 - E cinema, na sua adolescência, frequentava?
R - Bastante. Kelly aquí na praia do Flamengo, na praia do Flamengo não, aqui na Senador Vergueiro, tinha o Kelly, tinha o Bruni, Bruni Flamengo. Gostava muito, na época eu gostava muito de ver os filmes do Jerry Lewis. Gostava também do, como que é, comédia... Do Oscarito. Tão antigo isso (risos).
P/1 - Oscarito... Pois é, vamos resolvendo, mas também... E você, quer dizer, essa vida, uma vida de bairro, e tudo, você nessa época competindo e tudo, você já pensava, ou pelo menos os teus pais já falavam sobre essa coisa de caminho profissional, ou você era uma pessoa ainda muito ligada só no treino e na competição, e não pensava muito nisso?
R - Meus pais já falavam. Minha mãe foi sempre muito preocupada com estudos, minha mãe foi sempre muito preocupada, me cobrava demais. E agora, a parte profissionalizante quem me cobrou mais foi meu pai, eu quando comecei a fazer vestibular eu fiz pra... Eu fiz seis meses de Economia.
P/1 - Ah, você chegou a cursar Economia?
R - Eu cheguei a entrar pra faculdade de Economia.
P/2 - Antes de Educação Física?
R - É, eu fui fazer Educação Física e me decepcionei com a Educação Física.
P/2 - Ah, é?
R - É. Meu primeiro contato, era uma, eu fui ver uma aula de vôlei na faculdade, não vou falar o nome, mas eram cinquenta alunos e uma bola de vôlei. Então, quando tinham passado 45 minutos a pessoa tinha tocado duas, três vezes na bola. Então eu falei: “Não é isso que eu quero, pô”. Aí fui fazer Economia, quando eu estava fazendo Economia, no semestre me ofereceram pra fazer a escola de Educação Física do exército que, na época, era considerado nível superior, tinha o mesmo número de horas da...
P/2 - De uma faculdade.
R - Da outra faculdade, só tinha mais uma faculdade no Rio naquela época. Só tinha uma só faculdade de Educação Física.
P/1 - Qual que era, além da escola, era a UFRJ?
R - Era a UFRJ.
P/1 - Lá no Fundão já?
R - Não, era na praia Vermelha.
P/2 - Particular não tinha, né?
R - Particular não tinha nenhuma. E o pessoal não dava muito valor à Educação Física, a verdade é essa. Então eu fazia Economia até por pressão do meu pai. E depois me ofereceram pra fazer a escola de Educação Física do exército, porque eu era atleta de alto nível, e o exército abria para atletas de alto nível e padres.
P/1 - Padre?
R - É, não sei por quê, pra seminaristas, podia fazer Educação Física.
P/2 - Era o quê, quatro anos de faculdade?
R - Não, era um ano só, mas era intensivo. Você entrava às sete horas da manhã...
P/1 - Lá no Forte São João?
R - No Forte São João, e saía às cinco e meia da tarde. E foi uma época muito difícil, porque eu treinava antes de chegar na escola, eu tinha que estar na escola às sete e quinze, então ia treinar às seis horas da manhã. E acabava a escola, morto, porque era atividade, regime de exército militar. O que me incentivou muito foi isso, porque na aula eu tinha um professor e dois monitores em todas as aulas. Quando eu fui fazer o vôlei eu tinha a minha bola de vôlei que eles me davam, nem a seleção brasileira tinha a bola que eu tinha. Fui jogar basquete com a Spalding, era a bola do momento na época; eu fui fazer salto com vara, a minha vara era de fibra de vidro, só existia três no Brasil, as três eram do exército. Quando um atleta de ponto brasileiro ia competir, ele pegava a vara emprestada com o exército. Então, quer dizer, era outro nível de escola, eu achei que, eu peguei professores que hoje são Doutores em Educação Física, são... Eu tive Cláudio Coutinho como técnico de futebol, então, quer dizer, eu tive assim grandes professores, eu fiquei contente de ter feito a escola, eu tenho o maior orgulho de falar que eu fiz a escola de Educação Física do exército. Muito, muito legal. Agora eu até me perdi do que eu estava falando...
P/1 - Estava falando dessa coisa de caminho profissional, um pouquinho.
R - É.
P/2 - Porque na época era o quê, quem fazia faculdade de Educação Física trabalhava com o quê? Como que era o mercado?
R - Olha só, trabalhava basicamente com escola, e com...
P/2 - A Educação Física já era obrigatória em todos os…?
R - Era obrigatório na escola a Educação Física escolar. E, na época, também outra coisa que... A faculdade que tinha, e as outras que vieram a ter depois eram voltadas pra escola. E a minha parte era de atleta, eu queria formação de atleta. E na época você tinha poucos atletas, ou técnicos formados em Educação Física, eram poucos atletas. E a escola de Educação Física do exército, a formação maior dela é para atletas. Era a visão da parte esportiva, a parte de treinamento.
P/1 - Quem eram os técnicos geralmente, ex-atletas que conheciam mesmo a modalidade...?
R - Eram ex-atletas, exatamente.
P/1 - Mas não tinham uma formação...
P/2 - Uma formação teórica ou acadêmica...
R - Não, acadêmica não tinham, nenhuma formação acadêmica. Nós tivemos grandes técnicos, tivemos até o (Caximbau?), que era um técnico do Fluminense, ele era técnico de natação e não sabia nadar. Esse foi o único caso assim que...
P/1 - Não sabia nadar?
R - Não, ele não sabia nadar, era asmático, baixinho, todo magrinho, tossia pra caramba, eu me lembro, tenho uma memória muito boa dele, uma pessoa muito querida. Mas ele não sabia nadar, quando, uma vez num campeonato brasileiro o Fluminense foi campeão brasileiro de natação, jogaram ele na piscina, tiveram que tirar (risos). Pessoa fantástica ele. Mas na época eram pessoas, normalmente eram ex-atletas, a não ser uma pessoa, uma exceção como o (Caximbau?) era.
P/2 - Então a faculdade de Educação Física, naquela época, era pra professor, pra você lecionar?
R - Pra vocês terem uma idéia, a Educação Física, a profissão de professor de Educação Física só foi reconhecida agora em 2000.
P/1 - Em 2000?
R - É. Então, quer dizer, até há pouco tempo atrás não era uma profissão reconhecida, e ela foi reconhecida porque, realmente, a importância da Educação Física é muito grande. Nós lidamos com a formação de crianças, a criança tem que ter um equilíbrio, não é só a parte de cabeça, a parte de estudo. Tem a parte de trabalho de psicomotricidade, do desenvolvimento físico dela, porque vai dar um suporte para o resto da vida. Nós temos pessoas aqui que não têm coordenação pra dançar, pra fazer um esporte, porque não tiveram um trabalho de psicomotricidade na adolescência, um trabalho de esporte na adolescência. E é um negócio muito importante, o Brasil eu acho que não dá importância real à Educação Física. Eu acho que a hora que o Brasil tiver uma consciência maior... Nos Estados Unidos já estão começando a dar.
P/2 - É, Estados Unidos esporte é em primeiro lugar.
R - Não é só o esporte não, é até mais o trabalho de Educação Física escolar e, depois, a continuação visando saúde. O risco de doenças é muito menor, tem empresa, inclusive está começando no Brasil isso, empresas investindo. Ginástica Laboral, hoje, que é dentro das empresas pra diminuir o problema de saúde.
P/2 - De stress?
R - De stress, e por aí vai, cardíacos, obesidade. E a pessoa fica mais dinâmica no trabalho, a pessoa que faz atividade física, com certeza ela tem uma produtividade maior. Fiz minha propaganda.
P/1 - Júlio, então você chegou a pensar em Economia, cursou um pouquinho, aí foi pra escola de Educação Física, quer dizer, você ainda estava absorvido pela competição, e treinando, mas você já pensava em alguma coisa ligada, quer dizer, você já pensava em ser professor, ou ser técnico, ou você ainda não tinha muita ideia do que é que...?
R - Não, eu não tinha ideia nenhuma. Eu acho até que eu amadureci muito tarde a respeito disso, porque eu fiz Educação Física por causa do esporte, eu não fiz por causa da profissão. E, depois, quando eu comecei, eu tive consciência um pouquinho, “pô, tô terminando, o que eu vou fazer?”. Aí eu pensei assim, vou trabalhar, “Ah, vou ganhar dinheiro como professor de natação”, eu não gostava de trabalhar em escola, “eu vou ganhar dinheiro em natação, e vou ser técnico de saltos ornamentais”, porquê técnico de saltos ornamentais não dava dinheiro na época. Então, eu falei: “Pô, não vou conseguir ter uma família, um padrão bom com a minha família sendo técnico de saltos ornamentais, então eu vou ganhar dinheiro como natação e ser técnico de saltos ornamentais”. E teve uma reviravolta que não aconteceu nada disso...
P/1 - Ah, é? Conta...
R - É porque eu viajava muito, eu, quando eu terminei a escola ainda era atleta, e comecei a dar aula de natação no Fluminense. Então eu dava aula de natação, parava a natação, treinava, acabava de treinar, ia dar aula de natação. Agora, campeonatos, aí campeonatos na Austrália, campeonato não sei aonde, nos Estados Unidos, e eram quinze dias que eu ficava fora, e meu grupo ficava sem ter aula. Aí, com substituto que não era, de repente, além de não ter formação, não tinha o conhecimento que eu tinha ali pra turma, eu dava aula no aperfeiçoamento. Então o diretor falou: “Olha, você continua como professor de natação, ou você vai ser atleta. Os dois não tá dando”. E eu optei por continuar sendo atleta, estava viajando bastante na época, eu falei: “bom, não, eu quero ser atleta ainda, eu quero viajar um pouco mais”. E nessa história fiquei seis meses desempregado, fiquei seis meses desempregado, vendi tudo o que eu tinha, “pô, o pouco que eu tinha... E tinha um amigo meu que falava assim: “pô, o Julinho dá aula de ginástica”, “detesto ginástica, não gosto de ginástica”, “Não, pô, dá aula de ginástica, um negócio que é legal. Eu tenho um espaço lá na academia”, tinha uma academia de judô ele, “Vai lá que eu tenho um espaço pra você, eu dou, faz ginástica”. E depois de seis meses sem ganhar dinheiro, eu falei: “Bom, eu vou dar aula de ginástica”.
P/2 - Desespero.
R - É, desespero, por desespero. E tudo o que eu faço eu procuro fazer o melhor possível, não ser o melhor, mas dar o melhor de mim. Pô, pode ter certeza que se eu sou professor de ginástica eu estou dando o melhor de mim pra ser professor de ginástica. Então eu entrei pra uma academia de um amigo meu, que era considerado o top do Rio de Janeiro na época.
P/2 - Isso em que ano mais ou menos, pra gente ter uma ideia.
R - Isso em 74, 74 mais ou menos. É, 73...
P/1 - Você já estava formado lá pela escola de Educação Física?
R - Foi em 71 que eu fiz, foi em 74. Mais ou menos 74. Aí na procura também, na sede de querer saber, eu já sabia que ginástica era aquilo, mas aí depois que comecei a fazer ginástica, eu falei: “Pô, ginástica não pode ser só isso, tem que ser mais”. Aí eu fiz jazz, fiz dança moderna, fiz sapateado, fiz yoga, fiz tudo relacionado à atividade pra poder juntar para a ginástica. Ginástica tem que ser um negócio maior, tem que ser um negócio grande.
P/1 - Você estudou essas coisas todas?
R - Eu estudei essas coisas todas. E, depois quando eu já tinha uma gama grande de coisas, de conhecimento nessa parte, eu descobri o seguinte, que ginástica é um, dois, três, quatro, não tem nada disso em volta. Você começa a misturar muito com dança, com yoga, com meditação, você deixa de ser, você passa a ser uma salada mista, mas ginástica não, ginástica é um, dois, três, quatro; você não pode começar a querer misturar. Então, quer dizer, serviu pra alguma coisa. Pra saber que aquele caminho não foi em vão, mas foi pra ter certeza que ginástica é um, dois, três, quatro, e acabou.
P/1 - E em 74, 75, quer dizer, como era essa coisa de academia? Por que as pessoas iam à academia e não ao clube, ou vice-versa?
R - Bom, não existia, ginástica de clube era ____________, a pessoa, eu me lembro até da minha mãe fazendo isso no Fluminense, tinha uma pianista, uma pianista que dava o ritmo dos exercícios, a professora ia fazendo, e conforme as pessoas iam fazendo o movimento, ela ia naquele ritmo do piano.
P/2 - E tinha barras, aquelas barras...?
R - Tinha bastão, tinha barras, ela usava aquelas massas que era tipo uma garrafa de boliche pra fazer o exercício. Movimentos bem balanceados. Era bem divertido. Eu olhava aquilo e ali e falava: “Não é isso que eu quero”. E a ginástica que eu comecei a trabalhar era uma ginástica que chamava localizada.
P/2 - Já tinha peso?
R - Já tinha um pouco de peso, já tinha um sapato de ferro na época, era um sapato de ferro que se usava, já tinha música moderna marcando, a estrutura da aula era totalmente diferente. E isso começou a me encantar, me encantou mais por causa da música moderna, era música do momento, tocava Beatles na aula de ginástica, então aquilo começou realmente a me cativar. Agora, quando eu comecei a dar aula de ginástica eu tinha uma turma de homens e uma turma de mulher, não era turma mista, não existia esse negócio de turma mista. Aí o Gaspar começou fazendo turma mista, foi o maior sucesso na época.
P/1 - Ele era o dono da academia onde você dava aula?
R - Não, o Gaspar era esse amigo meu que era top de linha no Rio de Janeiro, era o ponto de referência, hoje em dia, até hoje ele é nosso ponto de referência em ginástica de academia. Foi o cara que deu o chute inicial nessa ginástica.
P/2 - Aonde que era a academia dele?
R - Era em Copacabana, do lado da Tele Rio, onde tem uma Tele Rio ali em Copacabana, e tinha um cinema, Copacabana, se eu não me engano. Era em cima da Tele Rio, ali. E era uma salinha pequenininha, duzentos alunos, todas as personalidades do Rio de Janeiro faziam aula com ele, era um cara fantástico, um cara conhecimento total. E eu aproveitei muito o tempo que estive com ele, trabalhando com ele.
P/2 - Então foi ele que introduziu as turmas de aula mista?
R - Foi ele que introduziu essa parte de ginástica, é. E esse lance de aula mista que ninguém fazia aula de short também, todo mundo fazia aula com calça helanca. A famosa calça de helanca comprada na Petit Ballet, lá em Copacabana, na Santa Clara.
P/2 - Como que eram as roupas? Vamos comentar um pouco das roupas...
R - A roupa, usava... Como fazia ginástica no tatame, era descalço, mas com calça, aquela calça de helanca comprida com pezinho embaixo, é, aquele pézinho pra calça não subir, pra não mostrar o tornozelo.
P/2 - E tênis, então...
R - Não, camiseta. Aí, depois, quando eu passei pra minha academia, que era, já era um chão liso, aí o pessoal usava tênis. Na academia do Gaspar o pessoal usava tênis pra fazer ginástica.
P/1 - Essa academia dele ainda existe, ou não?
R - Não, essa academia já não existe mais, há um bom tempo. Uma história meio triste, que eu não...
P/1 - Tá, mas quer dizer, os atletas de saltos ornamentais, por exemplo, ou de outras modalidades, eles faziam - além do técnico do esporte – eles tinham uma preparação, vamos dizer assim, mais ou menos científica ao todo, ou depende?
R - Olha só, o Brasil naquela época era muito fechado, você não tinha... Pra viajar era uma coisa muito difícil. Então a informação chegava pra gente muito tempo depois, a gente escutava falar, então escutava falar de alguma coisa, então nos saltos ornamentais a gente fez uma preparação em ginástica olímpica, eu fui... Ginástica olímpica é base pra saltos ornamentais, então eu fiz um pouco de ginástica olímpica, fui, até competi por ginástica olímpica em festival, nunca em competição mesmo, em festival onde tinha aquela competiçãozinha. E fiz ballet moderno, porque no Fluminense tinha uma professora de ballet moderno, “ah, ballet é muito bom pra saltos ornamentais”, os russos fazem muito ballet, e como eles na época eram considerados os melhores do mundo, eu fui fazer ballet, fiz ballet moderno durante um tempo, para os saltos ornamentais nessa época. Então, quer dizer, era tudo muito empírico, “ah, eu escutei falar que isso aqui é bom, eu fui numa competição, vi eles fazendo isso”. E tinham outras coisas que nós não tínhamos acesso por custar dinheiro demais, hoje em dia aqui no Brasil já estamos, o centro que tem de saltos ornamentais hoje é igual ao que você tem nos outros lugares.
P/2 - Voltando pra academia, quando começou as aulas separadas, o que mais tinha, era ginástica localizada, tinha outros tipos de ginástica, ou era uma coisa só?
R - Não, naquela época você tinha, dentro das academias de ginástica era ginástica e jazz, jazz era uma atividade que tinha uma concorrência muito grande também. As moças gostavam de fazer aquela aula de peso pesado, de botar um sapato de ferro que se usava muito na época, e sair dali e fazer aula de...
P/2 - Jazz.
R - De jazz. Veio até por causa, o que deu um impulso muito grande foi o Fantástico, o começo, aquele comecinho do Fantástico.
P/2 - A dança.
R - Quando tinha aquela dança da banana, não me lembro o nome dela, saía uma atriz assim, um corpo dançando. Então foi isso que deu uma motivação muito grande.
P/1 - Acho que era a Ísis de Oliveira, não é?
P/2 - Ísis de Oliveira.
R - É, exatamente, Ísis de Oliveira.
P/2 - E ballet, tinha ballet também, ou era...
R - Não, normalmente ballet, já eram academias de ballet.
P/2 - Era à parte.
R - Já era mais pra academias de ballet mesmo. Hoje em dia nas grandes academias têm até já um baby class pra ballet, essas coisas. Mas, na época, ballet era separado. A academia de ginástica é uma coisa muito pequena, ginástica quando começou não tinha musculação, não existia, musculação era ferro, era halterofilismo, não chamava musculação. Então isso veio muito tempo depois, essas máquinas modernas que facilitou até pra mulher a fazer musculação, porque antigamente só homem fazia musculação.
P/1 - Como era esse ambiente da academia, era uma coisa muito diferente de hoje em dia, quer dizer, quem frequentava? Você falou que só homem em geral...
R - Eu tinha duas turmas, tinha uma turma de homem num horário, e turma de mulher no outro. Agora, a frequência começou com pessoas de menos idade, quatorze, quinze anos, a garotada é que fazia academia de ginástica. Hoje a procura maior é o pessoal dos quarenta, até pessoas “nunca fiz ginástica”, e está entrando pela primeira vez com quarenta anos, trinta e poucos anos, quarenta anos. Naquela época, quando eu comecei era o pessoal mais jovem, quinze, quatorze, dezoito anos, começava a fazer atividade física. Como era em Laranjeiras, era um pessoal de classe média, média alta. E o que eu posso dizer é o seguinte, era uma coisa fantástica, até hoje eu tenho amigos, meus melhores amigos são que eu fiz naquela época de começo de academia.
P/2 - Tinham outras academias ali vizinhas?
R - Olha, não, não tinha. Quando eu comecei, eu tinha a academia Nissei, foi onde eu comecei que era a academia de judô, depois a minha era a única academia só de ginástica, tinha um salão só.
P/2 - Não tinha musculação no começo?
R - Não, não tinha musculação.
P/1 - A Nissei era ali na Rua das Laranjeiras também, não é?
R - Não, a Nissei era na Cardoso Júnior.
P/1 - Cardoso Júnior...
R - É, sempre foi na Cardoso Júnior, ali bem no comecinho.
P/1 - E aí você dava aula lá e saiu pra montar a tua, pra alugar aquele antigo armarinho, foi mais ou menos isso?
R - É, porque os dois sócios da Nissei eles me incentivaram muito a dar aulas de ginástica quando eu mostrei pra ele que eu estava ganhando mais dinheiro do que os dois sócios, eu me lembro disso...
P/1 - É?
R - É, eu ganhava 35 mil cruzeiros, 35 mil cruzeiros, e eles ganhavam 33 mil cruzeiros. Eu falei: “Eu ganho mais do que vocês, então o que a gente pode fazer? Eu dou um dinheiro pra vocês, vamos dividir esse dinheiro em três, esse dinheiro que eu vou dar pra vocês, uma parte pra cada sócio, e a outra parte vamos investir na academia, porque já que eu vou trazer um outro tipo de alunos pra academia, eu quero um melhoramento na academia”, e eles “não, não quero, não quero”. Eu falei: “Pô, olha, se eu entrar pra sócio de vocês hoje, todo mundo vai passar a ganhar 34 mil cruzeiros, já vai ser um bom negócio pra vocês. Se eu entrar pra sócio hoje, vocês vão ganhar mil cruzeiros a mais”, “não, não, não”. Aí eu falei: “Bom, então eu vou montar a minha”, “não, não vai”, aquele negócio de monta, não monta, e apareceu esse armarinho. Quando apareceu esse armarinho, eu me candidatei a alugar o armarinho, e eles se candidataram também. Eles, proprietários, donos de um negócio. E eu um pé rapado que eu não tinha, meu pai não tinha um tostão. Meu pai na época desempregado, e eu contei com meu tio, que foi meu fiador. Aí eu cheguei para o proprietário, eu falo: “Olha, eu quero...”, isso, isso e isso, porque eu quero isso, porque eu vou fazer isso, porque vai acontecer isso, e o cara acreditou em mim. Então, quer dizer, eles não tiveram força pra dizer, pra mostrar que acreditavam no negócio, eu tive. Então o cara me alugou a academia, e eu falava pra eles: “Esses alunos não são alunos da academia, são meus alunos. É que nem médico, se eu sair sai todo mundo”, “Não, o que é isso?! A academia..., porque a nossa academia”, eu falei: “Não é, cara”. Eu levei 99% dos alunos.
P/2 - Nossa...
R - E quando eu fui falar pra eles...
P/1 - Eles eram nisseis também, eles eram...?
R - Não, não, não, não eram nisseis não. E eles, eu falei pra eles: “Vocês...”. Quando o cara deu a palavra, eu não estava nem com o contrato, me deu a palavra que ia alugar, eu falei: “Poxa, eu consegui, você não conseguiu, mas eu consegui alugar”. Aí o cara falou: “Pô, mas você foi na nossa frente”, eu falei: “Eu não fui na sua frente, eu competi com vocês. Vocês tinham muito mais poder de bala do que eu, eu não tenho, eu sou um pé rapado. Só o que eu mostrei, só mostrei vontade pra eles, e ele acreditou em mim, e eu aluguei o negócio”. Aí eles foram no proprietário, ofereceram mais, ofereceram mil regalias pro cara e o cara não quis, falou: “Não, eu já fechei com ele”, apesar de não estar com o contrato assinado. E eles me mandaram embora no mesmo dia que eu falei isso pra eles, e eu não tinha pra onde ir, ainda tinha que fazer obra, aquilo era um armarinho cheio de coisa velha, passei três meses em obras ali naquela casa. Meu tio morava numa casa na Rua Alice, tinha um pátio, eu levei meus alunos todos para aquele pátio.
P/2 - Para o pátio?
R - Então era muito engraçado, porque a gente estava fazendo aula de ginástica, “ih, começou a chover! Recolhe, recolhe, recolhe tudo”, ia lá pra dentro, uma salinha, ficava todo mundo espremido, às vezes fazendo aula na sala, “só dá pra fazer abdominal”, ficava todo mundo sentado fazendo abdominal, deitado fazendo abdominal. E os apetrechos eram assim, cabo de vassoura, cada um levava seu cabo de vassoura, cada um levava sua toalhinha pra botar no chão. Então o início da minha ginástica foi assim. E aí foi crescendo, aí depois na academia eu já fiz algumas coisas que não tinha na outra, era espaldar, na época o maior sucesso.
P/1 - O que é espaldar?
R - Espaldar - hoje não se usa mais também - é como se fosse uma escada de madeira, uma barra de madeira que você vai até lá em cima, então pra pessoa botar o pé em diversas alturas, precisa fazer apoio pra alongar em diversas alturas.
P/2 - Ah, sei, alongamento.
R - Isso. Em trabalho de força também se usa, se usava. Até pra fazer uma barra também na… A parte mais pra fora dá pra se pendurar.
P/1 - Eu lembro disso.
P/2 - E você já começou fazendo tuas aulas de alongamento também, e ginástica?
R - Quando eu comecei era só ginástica e jazz.
P/2 - Quem dava aula de jazz?
R - A professora Glorinha, Glória Junqueira. Uma pessoa fantástica também, fantástica. Quando ela resolveu parar de dar aula de jazz, nós tínhamos acho que umas oitenta alunas, ela tinha dois horários só e tinha oitenta alunos nesses dois horários que ela tinha, um sucesso total. Ela parou de dar aula, falou assim: “Olha, eu vou parar por causa, eu estou querendo fazer outra atividade”. E botou uma colega dela que dançava tanto quanto ela, mas não tinha o pique que ela tinha. Aí caiu pra cinquenta, caiu pra trinta, caiu pra vinte, acabou, porque todo mundo comparava as professoras que nós colocávamos lá, e a Glorinha não teve substituta.
P/1 - O que precisa pra ser um bom professor, carisma?
R - Carisma, carisma, carisma. Eu agora estou, há pouco tempo atrás eu estive, quando eu peguei o Fluminense, pra academia do Fluminense, eu tinha um professor lá que ele era professor do Fluminense e foi dar aula pra mim. O Fluminense, na época tava aquela ‘pá’ de musculação, ninguém acreditava em musculação, e a musculação do Fluminense tava muito caída. E o cara era um funcionário público, aquele cara que pagava, então ele sentava lá, cumpria o tempo dele, cumpria aquele tempo dele. Aí esse cara tinha um carisma muito grande. Os meus professores eram ótimos, tinha muito conhecimento, mas não tinham o carisma dele. Então todo mundo fazia o quê, fazia a série de musculação com os professores, e iam no horário daquele professor porque ele tinha um jeitinho de falar, de botar, de alongar a pessoa, eu tenho um atendimento ótimo. Eu paguei pra ele um curso de especialização, então ele ficou sendo um dos melhores professores da academia, a nível de conhecimento tinha feito um curso de especialização, e tinha o carisma que você não compra, não vende, não tem à venda, então fantástico. Ele está comigo até hoje, um dos melhores professores da academia.
P/2 - Começou com quantos alunos a academia? Pra ter uma ideia...
R - Ah, eu acho que aquela primeira academia que eu comecei lá na Rua das Laranjeiras, eu acho que eu tinha uns duzentos alunos, que, na época, era um número muito expressivo.
P/2 - E hoje em dia já tem...?
R - Não, hoje em dia a academia é muito maior, com muito mais atividades, nós estamos em torno de mil alunos. Isso na academia do Cosme Velho, a academia do Fluminense também está muito cheia, tem em torno de quatrocentos alunos, mas é uma academia bem menor, só oferece ginástica e musculação, e é uma academia que está bem sucedida também.
P/1 - Júlio, deixa eu te perguntar uma coisa, em que ano você alugou aquele antigo armarinho lá, e se instalou, setenta e...?
R - Eu acho que foi 78.
P/1 - Setenta e oito. Quer dizer, aí você, na verdade, passou a concorrer um pouco com a Nissei?
R - Espera aí, deixa só eu fazer umas contas aqui pra te dizer o número. Eu vou fazer 28 anos agora de aula de ginástica, então com 28...
P/1 - Setenta e cinco?
R - Setenta e cinco... Mas eu não comecei, é 78, 78...
P/2 - É, primeiro foi na outra, né?
R - Primeiro foi na outra.
P/1 - Júlio, fala um pouquinho dessa transição, transição em termos, você estava sempre, o tempo todo em Laranjeiras, mas você saiu desse ex-armarinho pra uma outra casa porque foi crescendo o número de alunos?
R - É, não só foi crescendo o número de alunos como também começou a crescer a musculação, surgiu a musculação. Eu aluguei um sobrado que tinha do lado do armarinho, e montei uma salinha de musculação, mas ficava chato porque os alunos tinham que sair na rua, atravessar umas duas, três lojas pra subir para o sobrado pra fazer a musculação. Foi quando, na época eu pegava onda, era surfista, e eu fazia prancha nessa casa que eu estou hoje. Eles tinham um terreno grande, e _______ falou: “Pô, Julinho, eu estou saindo, o meu pai tá saindo daqui, nós estamos construindo uma casa no final da Cardoso Júnior, e eu vou ter que me mudar, vou me mudar daqui”. Aí eu falei: “Poxa, essa casa dava uma tremenda academia”, e aquilo ficou na minha cabeça, tremenda academia, poxa, ter que arranjar um sócio, dá pra fazer uma academia maior... E eram duas casas, era uma casa na frente, que morava a proprietária, e a casa de trás que morava esse meu amigo, e que tinha esse tal terreno grande. Aí eu levei dois amigos meus pra ver o terreno, pra ver se dava, o que eles achavam, se dava pra construir, e tal. Pô, os caras ficaram apaixonados pelo terreno, e um deles era engenheiro, “pô, Julinho, a gente pode fazer nesse terreno aqui, fazer uma sala assim, uma sala assado…” E fizemos uma sociedadezinha nós três pra montar a academia. Quando estava na reta final, que a gente ia registrar tudo, que a gente ia começar, que a gente ia bancar o aluguel, um dos nossos sócios disse: “Olha, Julinho, eu fui mandado embora do meu emprego, eu tinha um bom emprego, e não sei quando eu vou conseguir um outro emprego desse nível. Eu vou ganhar um bom dinheiro, mas estou com medo de investir esse dinheiro numa academia de ginástica, então eu não estou podendo”. Então, o pai desse meu outro sócio falou assim: “Bom, me interessa, se você me aceitar, me interessa”, eu falei: “Olha, onde nós estamos eu aceito, na boa, vamos lá”. Então ele aceitou, nós entramos, fizemos uma sala que foi considerada a maior sala do Rio de Janeiro, na época.
P/1 - Maior? Isso o que, em 1980, oitenta e pouco?
R - É, em 1981. A sala tinha, era vinte metros de comprimento por oito de largura. Era um salão assim, até hoje é um bom salão, já tem academias muito maiores do que isso, mas é um bom salão. E nós construímos essa sala, tinha o banheirinho, o banheirinho masculino, o feminino, lugar bem bacana; e nós fizemos uma salinha de musculação improvisada, eram dois quartos que tinha a casa, nesses dois quartos nós fizemos uma sala de musculação, botamos os aparelhos, pelo menos ficou tudo num lugar só. E a sala de ginástica, que era o chamativo dos alunos, enorme, linda, com muito verde em volta. E atrás dessa sala de ginástica tinha um campo, fiz um campo de vôlei, e que era a coqueluche dos alunos, jogavam um vôleizinho, faziam ginástica, voltavam pro vôleizinho. Então eu tinha um grupo muito unido dentro da academia por causa disso, fiz um grupo muito grande. E as coisas foram evoluindo, eu tinha... Depois do campo de vôlei, eu tinha mais um platôzinho, um pouco mais alto do que a linha do campo de vôlei, eu tinha mais um pedaço de terra, eu falei: “Pô, acho que piscina é um negócio legal”. Isso também há muito tempo atrás, era no ano 85 mais ou menos, em 85. Fiz uma piscina de dez metros por seis de largura, e eu queria, na época, fazer de duas alturas, mas não consegui, fiz uma, tudo de um metro de altura. Comecei a trabalhar só com criança, e mais uma atividade dentro da academia. Então comecei a ter ginástica, musculação, eu tinha dança, e comecei a ter natação. Aí começou o vôlei a fazer sucesso, então já tinha um campinho de vôlei, terra batida, a rede ficava pendurada em duas árvores, mas ficava certinha, botei um professor de vôlei, comecei outra atividade, vôlei. Crescendo um pouquinho mais a academia, eu falei: “Bom...”, musculação, a procura aumentando, as máquinas começaram a se tornar mais modernas, começaram a ter, a despertar o lado feminino, que até então não tinha muito contato com a musculação. Então eu falei: “Bom, vou ter que aumentar a minha academia”, fiz uma, já tinha uma previsão pra fazer um segundo andar, fiz um segundo andar em cima da sala de musculação. Quando eu estava terminando a construção, já estava em voga jiu jitsu, “jiu jitsu, cara”, muita gente falando em jiu jitsu no Rio de Janeiro, então eu peguei, “bom, vou dividir a sala, um terço da sala de jiu jitsu, e dois terços desse salão de musculação”. E o pessoal de jiu jitsu teve uma aceitação muito grande também, na época, eu perdi o professor num acidente, e aconteceu a mesma coisa que aconteceu com a parte da ginástica da...
P/2 - Jazz...
R - Do jazz, como eu estava falando. O carisma do professor, eu não consegui botar um substituto. Então e a musculação começou a crescer outra vez, continuou crescendo, então eu peguei, tirei a sala de jiu jitsu e fiz um salão enorme de musculação, cresceu mais a musculação. E nesse meio tempo veio a parte de dança aeróbica, eu fui um felizardo também, por causa da Glorinha – dessa minha amiga do jazz – eu tive... “Julinho, vai ter a primeira convenção de dança aeróbica nos Estados Unidos”, aí eu fui com ela para os Estados Unidos, fui eu, ela e minha esposa na época. Participamos da primeira convenção, foi um negócio fantástico, eu trouxe muita novidade pra cá, e nessa hora eu trouxe um (bump?) dos Estados Unidos para a minha academia. Eu não fiz o trabalho que eles faziam lá, eu adaptei a coisa de bom que eles tinham lá para o meu conhecimento científico em cima de ginástica. E então, eu fiz o meu trabalho de ginástica que ficou diferenciado pela diversidade de movimentos que eu tinha aprendido lá, na parte aeróbica, e o meu conhecimento na parte de anatomica, fisiologia, pra fazer a parte localizada. Então eu tive um boom na ginástica, academia lotada, gente... Teve uma época que eu... Me envergonho até um pouco de falar isso, que eu selecionava as alunas pelo corpo, pela beleza. Aquela gordinha que necessita, que necessitava da ginástica, não entrava na minha academia.
P/1 - Nossa...
R - Porque eu tinha tanta gente, eu tinha, as turmas tinham 45 pessoas, cinquenta pessoas. Não tinha espaço físico pra botar mais alguém, tinha que ser alguém especial, e o especial que eu falo não era nem especial em dinheiro, em conhecido, a pessoa conhecida, não, era beleza, pra mim importava era a beleza. Então era a seleção, a minha secretária falava assim: “Olha, essa aqui não vai passar”, aí quando eu chegava assim, “é, não passou”, “ah, não tem vaga, tenta aqui mês que vem, tenta...”. E eu fiquei durante um bom tempo com esse negócio.
P/2 - Isso era aeróbica, era tudo junto?
R - A minha ginástica era aeróbica com localizada. Eu fiz uma mesclagem, fazia uma parte aeróbica e fazia uma parte localizada, bem tradicional do Rio de Janeiro. Então eu tive um boom muito grande lá na academia, ficou durante um bom tempo assim.
P/1 - A maioria dos alunos, nessa época, era das redondezas, como que era essa coisa de academia?
R - Não, eu tinha aluno do Rio de Janeiro inteiro. Eu tinha aluno do Rio de Janeiro inteiro. E comecei a dar alguns cursos, tinha alguns colegas meus que vinham fazer aula comigo, eu não fui, não era aquele negócio, “ah, eu tenho uma novidade, vai ficar só pra mim”, não deixava ninguém entrar, não. Todo mundo entrava, eu conversava, sempre quis mostrar o que eu tinha ali dentro. Dei diversos cursos com mais de trezentos alunos, todos professores de Educação Física, ou alunos de Educação Física, e sempre mostrando o trabalho que eu... E isso diversas pessoas, também excelentes profissionais na época, motivados, ou vendo o sucesso, incluíram dentro do trabalho deles, modificaram, adaptaram para o trabalho deles também. E com isso começou a diluir um pouco, mas eu tinha alunos de Copacabana, Leblon, na Barra, até que a Barra ainda era um lugar muito distante. Eu tinha alunos da Barra, tinha bastante alunos que vinham da cidade, paravam ali em Laranjeiras, faziam aula de ginástica, e depois esperavam até o fluxo do tráfego diminuir pra depois ir pra casa. Então eu tive muita gente de outros bairros, não pegava só o pessoal de Laranjeiras, por isso também aquela explosão, porque eu tinha muitos alunos, muitos alunos.
P/1 - E essa questão que você falou, de beleza, quer dizer, como é que era, as academias, elas se comparavam umas às outras? Os clientes, eles falavam tal academia é assim, tal academia tem gente bonita, feia...? Professor bonito, feio, bom, ruim, como é que...?
R - Na minha academia... Porque Laranjeiras é um bairro muito assim, muito província, muito provinciano e então as pessoas ali eram mais recatadas, não sei se seria a palavra certa, mas elas... Eu tinha muita menininha que nunca tinha namorado, que tinha namorado pouco. Então os homens que iam lá iam procurando meninas pra namorar, pra...
P/2 - Família...
R - É, pra família, pra casar. Eu tenho uma série de casamentos feitos lá dentro, dentro da academia. Mas muito, não dá pra enumerar, a quantidade é muito grande, então era conhecida na época como a academia casamenteira. As pessoas iam lá pra arranjar uma menina pra namorar sério, pra ter um negócio... E tinham outras academias que não, “aquela ali só tem umas meninas bacanas, mas aquelas meninas, pô, pra namorar...” aquelas meninas só pra gente namorar um pouquinho e passar adiante. E outras academias não, “aquela academia lá faz um trabalho mais de força, um trabalho mais pesado”. Tinha essas...
P/2 - Diferente.
R - Diferenças dessas modalidades, essas diferenças não só na parte do trabalho em si, mas também da parte do social, que era uma das... Cheguei a fazer uma enquete na academia, o que levava as pessoas à academia, o pessoal pensava “ah, é a estética que leva o pessoal à academia”, na época. Não era estética, era a socialização. Então onde você reunia pessoas do mesmo nível sócio-econômico, e bonitas, saudáveis, pra se confraternizarem, ter novas amizades, fazer novas amizades.
P/2 - Então isso já tinha desde o começo mais ou menos?
R - Desde o começo já tinha isso, desde o começo.
P/2 - E abriu barzinho, alguma coisa assim, pra vender sanduíche natural?
R - Nós tínhamos um barzinho, o nosso barzinho na época não era grandes coisas. Acho que é até uma deficiência que nós estamos, eu estou tentando modernizar a academia agora, nós vamos corrigir isso, ainda não é o que eu quero, melhorou bastante, mas ainda não é o que a gente quer. E eu acho que o nosso próximo passo seja esse, fazer realmente um barzinho. O que eu tinha, que chamava muita gente, era aquela parte do vôlei, o vôlei era um grande atrativo. Meu sócio falava: “Pô, Julinho, vamos terminar o vôlei, vamos fazer uma outra sala, vamos aumentar a sala”, eu falei: “Não, o que traz esse pessoal, uma das coisas que traz esse pessoal aqui dentro é o vôlei”. Porque em outras academias, vamos supor, a academia do Gaspar, era super considerada, na época era o top de linha do Rio de Janeiro, as pessoas, era uma sala de ginástica dentro de um prédio. Então as pessoas iam lá fazer ginástica, e iam embora, então a socialização ali era durante pouco tempo, era antes de começar a aula e depois. Ali não, o pessoal ficava jogando vôlei horas, às vezes, “poxa, eu não vou nem fazer aula, Julinho, vou ficar só no vôlei, o vôlei tá bom”. E era realmente, o vôlei era bom, nós entramos em alguns campeonatos na cidade, aqui no Rio de Janeiro, negócio de vôlei de rua, nós fomos campeões diversas vezes; torneio entre as academias, a academia do, a nossa era uma das melhores, estava sempre no top. E com o pessoal da academia, porque eles estavam acostumados a jogar juntos. Então aí eu falei, o meu sócio, “Julinho, vamos fazer uma sala”, eu falei: “De jeito nenhum”. E durante muito tempo perdurou esse campo de vôlei, botamos cimento, tiramos as árvores, botamos poste, ficou jóia a nossa quadra. Aí depois eu falei: “Não, peraí, o negócio tá começando a apertar”, já não tinha aquela procura tão grande.
P/1 - Quando isso, mais ou menos, você identificou uma queda?
R - Ah, noventa e poucos, 92, não é, 92 mais ou menos... Aí eu falei: “Bom, temos que arranjar uma outra coisa pra atrair”. Então fizemos uma piscina.
P/2 - Maior.
R - É, maior. A nossa piscina tem vinte metros de comprimento por oito de largura, uma piscina bem grande, com um metro e trinta de profundidade. Como ela ficou num nível um pouco mais alto do que a sala de ginástica, a piscina, eu botei um vidro embaixo da piscina. Então da sala de ginástica você vê as pessoas por debaixo d´água.
P/2 - Ai que legal!
R - Tem uma visão por debaixo d´água da piscina. É bacana. E eu trouxe um outro público, diferente, para a academia. Nosso público era garotada, era pessoa jovem, até cinquenta anos, um pouco mais, mas eram pessoas dessa faixa etária, no máximo sessenta anos dentro da aula de ginástica. Me lembrei até de um senhor que tinha um pouco mais, depois vou contar a história dele, é uma história interessante.
P/2 - Aí vocês começaram com hidroginástica?
R - Hidroginástica. Nós pegamos um público de sessenta em diante, e um público super fiel também, um público fantástico. As pessoas fizeram uma amizade tão grande ali com a gente que, pô, fazem atividades fora, extra academia com o grupo deles da hidroginástica. É chazinho, é baile não sei aonde, festinha. Agora eu tenho que fazer festas em dois tempos, a festa antigamente começava às dez horas da noite, agora tem que começar às sete e meia, pra fazer o tempo do pessoal da hidro; aí quando o pessoal da hidro está saindo, que é mais de nove, onze horas, o pessoal está saindo, está chegando a garotada da... Ficou dois grupos distintos na academia, mas é um grupo assim super fiel, porque aquele negócio, não falta nunca, está sempre participando das atividades, a gente bota, faz aquela festa junina, festa do dia do trabalho, dia das bruxas, estão sempre à caráter, nas brincadeiras, participam sempre muito disso.
P/1 - Você organiza muita festa lá?
R - A gente faz muita festa.
P/1 - É?
R - Muita. Agora estamos com uma atividade nova, nós chamamos de dança solta, é uma dança que não tem necessidade de... Não é técnica, não é dança técnica. Uma dança que você não tem compromisso, você tem... O compromisso que você tem é botar o stress pra fora, através de movimentos de dança. E fazendo um sucesso total. E eu consegui um artista pra dar essa aula, ele não é só um professor, ele é um artista, um artista em todo sentido da palavra. E é um mineirinho, é de Maceió, ele era mineiro, foi trabalhar em Maceió, então o nome artístico é Mineirinho Maceió (risos). Ele é uma figura, e ele faz grandes atividades, festa de dia das bruxas, então ele vai de vampiro, mas não é um vampiro qualquer, ele vai de conde drácula, mas um... Sabe com coisa de linho, com coisa de seda, e aquelas capas enormes, o rosto todo branco, pintado, com peruca. E ele faz questão de ir lá na rua pra brincar com o pessoal na rua, pra trazer, pra fazer um ‘auê’. E toda data marcante, pode saber que tem uma atividade na piscina, ou com a dança solta, ou a academia num todo, a gente sempre está promovendo essas brincadeiras.
P/1 - E além desse professor meio marcante, você lembra de algum aluno, aluna, inesquecível?
P/2 - Ou mais antigo, que...
P/1 - Mais antigo, história...
R - Esse senhor - ele agora não está por problema de saúde, ele não está fazendo - ele é um senhor que, na época ele tinha 75, 75 anos quando a gente começou, exatamente, 75 anos, quando ele começou. E ele teve muito problema na vida dele, a mulher dele ficou na cama durante dez anos, com câncer, e ele ficou do lado da mulher o tempo todo. E quando a mulher morreu, ele falou assim: “Pô, eu gosto de viver, eu quero viver”, depois que a mulher morreu ele fez duas faculdades, com cinquenta e poucos anos, sessenta e poucos anos ele fez duas faculdades. E, “onde é que tem gente jovem, gente jovem”, parou na academia de ginástica. Perdão, ele não tinha 75, ele tinha 65 anos. Começou a fazer ginástica, ginástica com a gente, e era uma pessoa muito assídua, ele começou a trabalhar com peso pesado, enquanto a garotada não conseguia pegar o peso dele. Os caras de dezoito anos não pegavam o peso que ele pegava, e ele ficava assim: “Vamos lá, quando chegar na minha idade de repente você vai estar fazendo com o peso que eu estou fazendo...”. E ele sempre mexia com os outros assim, e eu fiz uma festa pra ele quando ele fez setenta anos, eu perguntei: “O que você vai fazer? Onde é que vai ser a nossa festa de setenta anos?”, ele falou: “Ah, não vou fazer festa de setenta anos não, não gosto muito disso”, não sei o quê. Eu fiz uma brincadeira com ele, quase matei o velho. Eu chamei, ele era apaixonado pela sogra dele, chamei a sogra, chamei os três filhos que não faziam aula lá, os netos, deixa eu ver mais o que eu fiz... Ah, não avisei pra ele, “ó, não fala pra ele porque é festa surpresa”. E eu sabia que ele não ia faltar à aula naquele dia, porque ele não faltava à aula nunca, não tinha aniversário, não tinha com chuva, não tinha natal, tinha aula ele estava sempre lá. Aí comprei um bolo enorme, comprei um presente, a turma toda comprou um outro presente... Comecei a dar aula, “vamos lá!”, tudo escondido. A aula no meio, dei uma aula terrível, meia hora de aula estava todo mundo morto, aí eu falei: “Apaguem a luz, agora vamos relaxar um pouquinho”, quando desliguei a luz, entrou a família toda, avó, papai... Ele não conseguia respirar, não conseguia falar, foi super emocionante. Aí depois, dois dias depois telefona o filho dele, falou: “Pô, quase que você mata meu pai, cara. Meu pai ficou até às três horas da manhã ligando para os amigos, ‘tive uma festa de aniversário inesquecível, você não teve essa festa, eu tive!’”, e não sei o quê. Foi um negócio fantástico, uma pessoa fantástica. E ele é uma pessoa muito forte, agora pegou um problema cardíaco que ele está impossibilitado de fazer aula de ginástica, mas volta e meia ele aparece lá pra dar um oi, ele não fica muito tempo, “não, dá a maior saudade, eu não posso ficar muito tempo aqui”, e vai embora. Uma história fantástica.
P/1 - Quer dizer, na verdade tem um equilíbrio, então em termos de faixa etária, você tem desde criancinha aprendendo a nadar até gente...?
R - Tenho três gerações fazendo aula atualmente. O adolescente, o adolescente não, o adulto, na época, começou a ser meu aluno, teve filho dentro da academia que fez natação, fez ginástica, e já está tendo filho. Então já são três gerações ali dentro fazendo ginástica. Tem uma menina que casou ali dentro, tá com netinho, quer dizer, está com o filho fazendo aula, então a avó, a mãe e o filho fazendo aula na academia.
P/1 - A maioria das pessoas que chega na academia, chega porque te conhece, ouviu falar, você anuncia também, ou faz alguma coisa de divulgação assim?
R - Fazemos a divulgação na, como é que chama, na rua, eles põem aqueles...
P/1 - Outdoor?
R - Outdoor, é, outdoor. Fazemos um regularmente, mas eu acho que o que mais atrai hoje em dia, é o problema de saúde, a questão de saúde. O pessoal está muito, já conscientizado que a saúde está em atividade física. Então, aquele negócio de socialização já diminuiu... A parte de estética também já diminuiu, eu acho que hoje em dia a saúde já está, se não está, eu estou pensando até em fazer uma nova enquete, que eu estou querendo fazer um trabalho novo...
P/1 - Você trabalha muito com isso, com enquete, sempre se preocupou em fazer questionário?
R - Olha, teve uma época que a gente fazia muito questionário, perguntava muito. Agora, como nós estamos numa série de obras, e a nossa academia, nós fazíamos as obras com as nossas reservas, e os três sócios dependem da atividade pra viver, então nossa obra demora um pouco mais por causa disso. Mas assim que acabar essas obras nós vamos fazer as enquetes, porque nós estamos já há um tempo sem fazer. Mas nós fazíamos muito isso.
P/1 - Isso orientava vocês em termos do que está indo bem e o que está indo mal?
R - O que está indo mal, aonde nós vamos investir, aonde nós não vamos investir. Porque às vezes a gente está querendo oferecer mais um conforto ali, as pessoas estão preocupadas de repente com um aparelho novo que está surgindo. E, uma coisa que eu lembrei agora também, a minha academia, eu não tenho muito modismo na academia, eu tenho alguma... A nossa academia trabalha bem em cima do que realmente faz efeito, do que eu realmente tenho base científica pra aguentar. Então tem muitas coisas, as academias maiores têm sempre uma aula diferente, eu não vou falar nome, mas tem uma aula disso, uma aula daquilo, são aulas diferentes pra atrair público, mas são modas. É interessante? É interessante. Atrai? Atrai. Mas eu acho que do mesmo jeito que atrai essas pessoas, acabou a moda elas vão embora, a não ser que você arranje uma outra moda tão boa quanto, “ah, mas essa moda eu não gostei muito”, então vai embora, “vou parar”. Nosso trabalho lá é tudo dentro da parte científica, quando apareceu o spinning no Rio, eu tenho uma sala de spinning também, é uma das salas, não vou dizer uma das melhores salas do Rio de Janeiro, porque seria pretensão minha, mas ela fica no mato, minha sala de spinning fica no meio do mato. E só tem um telhado em cima, eu não tenho nada em volta. Então você está ali com a natureza direto, você tem sagui em volta da aula de spinning, você tem pica-pau, mês passado apareceu quatro tucanos na mata, ali detrás da academia. Então, quer dizer, minha sala de spinning você está junto com a natureza, uma sala, pra mim eu acho fantástico isso. Mas quando apareceu o spinning ele era uma... O pessoal pensou “modismo, ou não é modismo?”. Eu quando olhei a primeira vez, eu vi o pessoal gritando, eu falei: “Você acha, deve ser modismo”. Aí comecei a ver por causa da Glorinha – outra vez a Glorinha, tá vendo, adoro a Glorinha – a Glorinha, professora de jazz, foi ela que trouxe para o Rio de Janeiro essa atividade, falou: “Julinho, esse negócio é legal”. Eu comecei a ver, comecei a conversar com ela, ela foi dar um curso para os meus professores lá na academia – eu incentivo muito essa coisa de cursos para os meus profissionais - e eu trouxe ela pra dar esse curso pra gente, eu falei: “Pô, esse negócio é sério. Isso é baseado em treinamento desportivo, em treinamento de atleta, não é um modismo”, e aí eu botei o spinning. Então, antes, quando a coisa vem de fora, eu faço uma avaliação. Isso é legal? Isso é legal. Então eu trago. Eu dei azar agora - azar não, não deu certo - o pessoal começou a falar em power yoga, hoje tá na moda power yoga, tem outros nomes também, mas é a yoga com força, um trabalho de yoga e alongamento. Isso quando eu trouxe, quando eu peguei nos Estados Unidos isso, a power, ela chamava power yoga. Eu trouxe a professora que trouxe a power yoga para o Rio de Janeiro, peguei ela, conversamos, fizemos uma turma. Só que o pessoal... Não tinha o marketing em volta ainda. E a turma não cresceu, e seis meses, e aqueles gatos pingados adorando a aula, a aula maravilhosa, mas seis gatos pingados. Aí veio o marketing das outras academias, “pô, a power yoga, maravilhoso, aula de yoga”, yoga com força, e não sei o quê, e hoje é um boom, tem muita gente fazendo yoga, fazendo aula de alongamento forte, tudo em cima da aula. Se eu tivesse feito mais marketing na época, de repente teria...
P/2 - E outras tipo step, que mais que tem?
R - O step, vamos supor, eu acho que foi modismo também. Tem muita gente que gosta ainda de step. Na minha aula hoje, por exemplo, eu estou dando uma aula de step, não é uma aula totalmente de step, é um aquecimento em cima de um step, e eu uso o step como implemento pra fazer a atividade física, pra quando vamos fazer um trabalho de peso em cima do step, um trabalho de agachamento, sei lá, de peitoral deitado em cima do step.
P/2 - Um apoio, né?
R - Um apoio. Então, quer dizer, é uma aula... Foi modismo, mas dentro desse modismo tem a coisa boa também, o modismo não traz só coisa ruim não, tem muita coisa legal. Se a gente souber adaptar para o seu trabalho, trazer para a base científica daquele trabalho, eu acho interessante.
P/1 - Júlio, deixa eu te perguntar uma coisa, geralmente as pessoas com quem você trabalha são professores de Educação Física, ou estudantes de Educação Física, isso varia um pouco?
R - Não, lá na academia são todos formados em Educação Física, a maioria dos profissionais já tem pós-graduação ou estão fazendo pós-graduação. Eu trabalho com estagiário também, o estagiário está sempre assistido por um profissional de Educação Física, a gente ajuda a formação deles. Eles são requisitados a fazer trabalhos pra academia, o coordenador solicita, cada mês um faz um trabalho sobre a atividade, ou fala: “Vamos falar sobre o joelho, vamos falar sobre um agachamento, vamos falar...” pra incentivar o trabalho de pesquisa deles, para a academia, e para eles também, para o conhecimento deles.
P/1 - Hoje você tem mais ou menos quantos funcionários?
R - Hoje eu devo estar em torno de cinquenta funcionários, cinquenta profissionais de Educação Física.
P/1 - Entre professores e estagiários?
R - Estagiário. Na parte administrativa eu devo ter mais umas quinze pessoas.
P/1 - Você acha que mudou muito o perfil do estudante de Educação Física em relação à sua época?
R - Com certeza.
P/1 - Mas em termos de quê, de expectativa, de...?
R - De expectativa, e a formação deles também. Hoje em dia, se você pegar só um profissional com... “Ah, eu sou formado em Educação Física”. Ele já não, a gente já está querendo alguma coisa a mais, alguns cursos a mais, alguma experiência a mais. A gente sempre procura. Os meus professores eu incentivo a fazer pós-graduação, um curso de especialização que está trazendo coisa nova, você estar sempre em contato com o professor, você estar incentivando a fazer trabalho de pesquisa por causa da pós-graduação. Então isso é bom pra academia, é bom pra eles também.
P/1 - E a expectativa deles é, quer dizer, te dão aula e tudo, mas você acha que eles também têm essa expectativa de montar uma academia, ou alguns?
R - Olha, alguns têm, alguns têm essa expectativa de trabalhar com... Montar uma academia. Outros têm expectativa, eles gostam de trabalhar com academia porque têm expectativa com a parte esportiva, lá tem professores que têm essa expectativa com essa área esportiva. E têm outros que já estão se voltando pra uma área mais de saúde, “ah, não, Julinho, no futuro eu quero montar uma clínica de fisioterapia”, então está voltando mais pra essa área de saúde. O meu filho está formado em Educação Física, é pós-graduado, Fisiologia do Exercício, e está no quarto período de Fisioterapia. Então eu acho que hoje quanto mais graduação a pessoa tiver, quanto mais informação a pessoa tiver, mais ela vai estar na frente, com certeza.
P/2 - E o curso de Educação Física hoje em dia está muito procurado, muito...?
R - Está muito procurado, e os professores melhoraram. Não vou dizer que tinham um nível ruim, mas eles estão pedindo mais, eles estão incentivando, ou cobrando mais dos alunos, a cobrança está maior. O nível do profissional de Educação Física cada vez cresce mais.
P/1 - Júlio, deixa eu te perguntar uma coisa, essa coisa do Fluminense, você mantém uma academia lá dentro do clube, como foi essa coisa de montar?
P/2 - Quando abriu?
P/1 - Quando abriu, por que você...?
R - Bom, essa coisa, eu tenho um vínculo muito grande com o Fluminense, desde os dez anos de idade, e foi oferecido ao Fluminense pra fazer uma academia lá dentro. Eles já tinham ginástica lá, mas a ginástica era muito antiquada, e não tinha uma qualidade, um nível bom de lugar, a sala não era preparada pra ginástica, pra fazer ginástica, pra dar aula. Então fizeram a proposta para o Fluminense. Quando o vice-presidente pegou a proposta, ele falou assim: “Mas, poxa, esse professor eu não conheço. Nós temos um outro professor que é cria da casa e que de repente podia fazer uma proposta pra gente”. E ele pediu uma proposta pra mim. Eu dei uma proposta que foi bem melhor do que a outra proposta, que a minha proposta dentro do Fluminense, quer dizer, eu gosto do meu nome vinculado ao Fluminense, eu não tenho interesse de ganhar dinheiro com o Fluminense. Claro que eu sou empresário, eu ganho, mas não tenho esse vínculo, “ah, quero ganhar dinheiro com o Fluminense”. Não, eu quero que o meu nome seja vinculado ao Fluminense, gosto, tenho o maior orgulho. Então a proposta que eu fiz foi imbatível, eles fecharam o negócio comigo há nove anos, não, desde 91 que eu estou no Fluminense.
P/2 - E é só a ginástica, como que é?
R - Só a ginástica não, é ginástica e musculação, e eu fiz um trabalho que está dando muito certo. Como eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, o que eu fiz, eu propus aos professores serem meus sócios, então eles têm 30% do bruto. Quanto que é a hora aula no Fluminense? Eu não sei, a hora aula é 30% do bruto. Quando a academia está cheia eles ganham mais, quando a academia está vazia eles ganham menos. O que eu consigo com isso? Que eles se dedicam mais ao Fluminense. Eles se dedicam, é integral, é impressionante a dedicação deles, o carinho deles, o cuidado que eles têm com os alunos, porque eles sabem que cada um que ele perder não é a academia que está perdendo, é ele que está perdendo.
P/2 - Você dá aula lá também?
R - Não, não, eu só dou aula lá em cima, porque a academia de cima a mensalidade é mais alta, não é, por ser fora do Fluminense e porque eu estou dando aula, “porque é o Júlio Veloso”. Não é que eu seja melhor do que os outros, porque eu já tenho uma estrada um pouquinho maior. Mas e o pessoal do Fluminense, por já pagar o Fluminense, eles têm uma mensalidade um pouco menor.
P/2 - Ah, então não pagam a academia, ou pagam também?
R - Não, eles pagam a academia também. Eles pagam ao Fluminense, e tem uma taxa da academia.
P/1 - É só pra sócio, ou tem...?
R - Não, tem pra não sócio também.
P/1 - Não sócio também.
R - Não sócio paga um valor um pouco maior do que o sócio. Com esse sistema eu consegui bons profissionais, e dedicados.
P/1 - Deixa eu perguntar uma coisa, em relação a essa coisa do aluno - essa época, o Rio é cidade de verão, de corpo, e tudo – quando vai chegando o verão, as pessoas vão se aproximando mais de academia? Existe realmente isso, outubro, novembro...?
R - Existe, cara. Só que infelizmente eles chegam em cima da hora. Milagre não dá pra fazer. Aquele negócio, “ah, eu vim um mês...”, “toma aquele remedinho que vai ficar maravilha”, isso não existe. Isso é um processo que depende de um tempo de adaptação, um tempo do trabalho, e um tempo da resposta do trabalho que está sendo feito, porque você não pode pular degrau. Porque, acontece também, as pessoas quando vem procurar a gente, é estética, esse pessoal é o grupo da estética, e verão, biquíni, calçãozinho, então “eu tenho que estar na estética”. Mas só que o profissional da academia está preocupado com a saúde, então eu não posso, tem uns degraus a subir. Eu não posso chegar e pular o degrau, “vamos fazer um peso pesado aqui, eu vou te deixar bacana em um mês”. Até consegue, mas em algum momento ele vai estar pagando por isso. Não é um objetivo nosso, agora tem uma procura muito grande no começo do verão, bem no começo do verão, novembro, dezembro... Dezembro já cai um pouco também, é aquele...
P/2 - Natal...
R - É. Novembro é que é o grande boom, outubro, novembro, final de outubro e novembro é o grande boom da academia.
P/1 - Depois essas pessoas ficam o verão todo, e depois cai um pouquinho ou… Dá pra perceber isso?
R - É, depois cai, eles não mantém a assiduidade que eles mantém nesse mês de novembro. Novembro a academia fica, como diz na gíria, bombando.
P/2 - E essa coisa de personal trainer, quando começou, vocês têm lá, você é personal?
R - É, olha só, na minha academia tem personal trainer, é uma atividade que está crescendo muito, crescendo muito mesmo...
P/2 - Isso é recente, não é?
R - Isso é uma coisa recente, tem uns cinco anos pra cá.
P/1 - Isso é o contrário da socialização, não, por esse lado vamos dizer?
R - Não, eu acho que é um pouco de comodismo. Eu lá na academia não incentivo isso, não é, na academia... Eu acho que quando a pessoa entra para a academia, eu tenho que dar todo o suporte para a pessoa se sentir bem, para a pessoa fazer a atividade bem. Quando um professor não está dando conta, eu boto um professor mais um estagiário. Quando não está dando conta eu boto mais outro estagiário, entende, eu vou sempre aumentando pra tentar que a academia consiga atender...
P/2 - Dar conta né?
R - Dar conta de todo mundo, atender todo mundo. Eu não incentivo, agora tem gente que não, “ah, Julinho, eu não consigo, eu preciso de uma pessoa no meu pé puxando por mim, eu rendo mais”. Então essa pessoa tem que usar um profissional, “ah, não, eu estou com um problema sério, então eu tenho que ter algum suporte aqui pra me ajudar a fazer certos movimentos”. Quando eu não posso disponibilizar um funcionário meu, um professor meu pra ficar com aquela pessoa, ela tem que realmente partir para um personal trainer. Dá resultado.
P/1 - Dá resultado?
R - Dá resultado, a pessoa fica no pé o tempo todo, “não para, não para, não para”, quando você acaba uma atividade, o outro já montou a outra, então você já está...
P/2 - Não dá pra ficar enrolando.
R - Ficar enrolando. Você perde um pouco a socialização ali dentro da sala de aula, você perde. Mas depois você faz no barzinho, no vestiário...
P/1 - Deixa eu perguntar uma outra coisa, em relação a essa coisa de poder aquisitivo, pagamento, quer dizer, existe inadimplência também? Como é que funciona, eu sei que é uma coisa meio delicada, mas como que se lida com isso, porque é uma coisa que na área, vamos dizer, de educação, escolar e tudo, tem isso também, isso cresceu, diminuiu?
R - É, isso existe, inadimplência existe, não é pouca, as pessoas tentando dar uma volta no estabelecimento.
P/1 - É?
R - É, isso acontece. Agora nós estamos com um outro tipo de trabalho, nós estamos, em vez de fazer mensalidade, nós estamos fazendo planos. Isso diminui um pouco, mas mesmo assim isso existe.
P/2 - Como é o plano?
R - Você faz um plano bimestral, trimestral, semestral ou anual. Nós damos um desconto bem grande. E não é aquele plano “ah, você pagou, tem que, não pode mudar”. Não, você pagou, e apareceu uma viagem, ou ficou doente, então a gente pega aquele cheque do mês seguinte e joga lá pra trás, a gente vai sempre jogando o cheque pra... Você informou, “olha, eu vou viajar mês que vem, quero trancar”, a gente pega aquele cheque e joga pra trás, sem problema. Mas esse problema de inadimplência existe, e a postura da academia, a gente sempre tenta entender as pessoas de menor poder aquisitivo. A gente tem essa parte social, nós temos alguns porteiros, filhos de porteiros que a gente dá aula de natação, pessoas que precisam emagrecer e não têm condição, a gente ajuda.
P/2 - Tem tipo bolsa assim?
R - Temos algumas bolsas, temos uma bolsa parcial. E a academia também, ela patrocina muito teatro.
P/1 - Ah, vocês patrocinam espetáculos?
R - Patrocina muito teatro, damos, não patrocínio com dinheiro, mas em apoio, os profissionais fazem atividade com a gente em troca de serviço. Algumas vezes nós chegamos até a apoiar com um pouco de dinheiro também. Um patrocinador nosso, que a gente tem o maior carinho, é o Leon Góes, esse está com a gente há mais de dez anos. Toda peça ele tem um apoio nosso, a gente tem orgulho de estar com ele, ele tem orgulho... Não só com ele, nós temos diversos grupos que nós apoiamos com uma certa regularidade.
P/1 - E você identifica retorno nessa... Como se fosse uma publicidade direta?
R - Não, não identifico esse retorno não, é mais pela dificuldade do ator de teatro. Tudo é difícil, você pegar a grana pra fazer um espetáculo, e realmente ele necessita cuidar do corpo, o ator tem que estar em forma, então a gente... Sabe, eu estou com um ator agora que vai entrar na Malhação, e ele vai ser um nadador da Malhação, e ele nada, mas não é um nadador. Então nós temos que botar características de nadador nele, nós estamos trabalhando isso. Não vai dar pra ter retorno, a gente não está esperando retorno, só precisa fazer um bom trabalho para que o garoto se apresente bem.
P/1 - Uma outra coisa em relação a negócio mesmo, quer dizer, vocês têm estacionamento lá na academia?
R - Não, nós usamos o estacionamento da Casa do Minho.
P/1 - Ah, entendi.
R - Tem um estacionamento na Casa do Minho.
P/1 - Que é perto ali, né?
R - Que é bem perto, fica a menos de cinquenta metros. E ele está aberto das seis horas da manhã até às dez horas da noite, justamente no horário de funcionamento, então não tem problema de estacionamento.
P/1 - Você é uma pessoa – embora não esteja ligado nessa coisa de modismo, mas sabe o que está acontecendo, o que os outros estão fazendo – quer dizer, você identifica concorrentes ou você acha que, na verdade, é uma atividade em que existe espaço pra todo mundo? Como você vê, um pouquinho, essa coisa?
R - Olha só, a concorrência existe. Eu vejo sempre como uma coisa saudável, uma competição esportiva, então eu não me preocupo com adversário, eu me preocupo com o meu trabalho, procurar sempre fazer o melhor que nós podemos fazer ali para aquele público, o melhor que nós podemos dar pra ele. Agora é uma atividade que está crescendo muito. Tem muito campo, você vê, hoje nós temos aqui na Laranjeiras seis, sete, oito academias, vamos dizer que tenhamos oito academias na Laranjeiras, cada uma tenha mil alunos – eu não acredito que seja isso tudo em todas as academias, mas mil alunos - são oito mil pessoas. Quantas pessoas têm em Laranjeiras?
P/1 - Não é tanto assim não...
P/2 - Não, não é.
R - Sabe, acho que dá mais... Botar mais uma outra academia com mil, vai comportar? Vai comportar. Entende, então eu acho que se abrir mais academia eu não, eu vou tentar, eu vou ficar atento... Tá, eu vou ficar atento a ela. Realmente eu não, eu acho que vai ter espaço, e isso é até bom. Eu vejo por um lado bom; o seguinte, vai me forçar a melhorar mais ainda. Tentar tirar aquele coelhinho da cartola, aquela carta que está embaixo da manga.
P/2 - Vocês têm produtos da academia do Veloso, vendem, tem a marca?
R - Não, nós não temos a marca, temos algumas coisas que nós vendemos, como camisetas da academia, luva da academia, nós temos. Mas nossa marca não temos. Até isso é terceirizado, não é um negócio mais informal do que formal, não é uma coisa formal...
P/1 - Não é uma linha de produtos que vocês pensaram em transformar em negócio?
R - Não, não, não. Não, porque nós estamos voltados muito para a atividade física, então não adianta assim você... Eu, há um tempo atrás, quando - como eu ia conversando, estava falando sobre a academia, a academia foi crescendo - nossa academia era só a parte de trás da casa, hoje em dia já é a parte da frente também. E quando nós alugamos a casa da frente, quando a senhora da frente morreu, nós pegamos a casa da frente, nós fizemos uma loja de salada, uma casa de saladas. Estava na época, salada a peso, então nós fizemos uma casa de salada que vivia cheia, vivia lotada, fila na porta, meio dia tinha vinte pessoas na porta, na fila, lotado lá dentro, um sucesso total. Nunca ganhei um dinheiro com aquela salada... Por que? Porque eu não entendo nada de salada, eu não entendo nada de negócio de vender comida. Então as pessoas me enganavam com facilidade.
P/1 - Pessoas você diz...?
R - Os funcionários. Os funcionários me enganavam com facilidade. Então a gente via história assim, o frango saindo pela lixeira, o cara gastando um melão pra fazer um suco, era um melão e um suco. Então você vê, estava errado. Então, por que? Porque não tinha nenhum sócio na frente que entendesse do negócio. Era um bom negócio? Era um bom negócio. Era a hora? Era a hora pra fazer uma loja de salada. Mas tinha que ter alguém na frente. Então nós aprendemos o que? Cada um no seu negócio. Então não adianta eu ter uma grande loja de roupa ou um grande restaurante, se eu não estou na frente pra administrar. Então o que eu consigo administrar bem é academia, então eu vou administrar a academia. Eu vou ganhar dinheiro com o que? Com o que eu sei fazer bem. E posso abrir espaço pra até outras pessoas trabalharem, até formalmente ou informalmente como essa parte da lojinha. Agora, tivemos também uma clínica de fisioterapia. Deu certo porque tinha muita coisa a ver, uma jogava pro outro. A gente, era um grupo que funcionava bem, a dona da clínica tinha sido professora da academia durante anos, então ela conhecia a academia, ela sabia o trabalho sério que nós fazemos na academia. Então ela montou uma clínica de fisioterapia e nós fazíamos trocas.
P/2 - Ainda tem?
R - Não, aí depois a clínica aumentou, e nós precisamos de espaço também, nós precisávamos de mais espaço, nós pedimos pra ela, ela cedeu o espaço pra gente, foi para um outro lugar maior, e nós pudemos crescer um pouco mais. Hoje nós temos uma recepção maior, porque antigamente você tinha uma mesa com uma secretária, hoje são três recepcionistas mais um pessoal de suporte, então a recepção ficou uma sala grande, uma sala de vendas, de planos. E nós fizemos uma atividade nova também, chama condicionamento físico total. O que é isso? É uma parte de aeróbica da academia, são esteiras, bicicletas que o aluno fica monitorado, e ele tem uma grade de trabalho semanal, é acompanhado, como se fosse um personal trainer só que é em grupo, ele não paga o preço de um personal trainer. E, além dessa parte aeróbica, que é seis vezes por semana, ou cinco, quatro, o que ele quiser, ele tem musculação e hidroginástica. Então ele fecha todo um ciclo, você faz um trabalho de força, faz um trabalho aeróbico, e faz um trabalho de descontração na hidroginástica. Então nós chamamos de condicionamento físico total, então nós pegamos essa salinha na frente também, na casa da frente, com mais uma sala de avaliação e um consultório, porque nós temos uma nutricionista também, que dá um suporte pra gente. É independente da academia o consultório dela, ela vai lá uma vez por semana, presta serviço pra gente, independente.
P/2 - E lutas tem na academia?
R - Não, nós achamos que nosso público, como nós tínhamos duas academias do lado com... Ah, perdão, agora temos capoeira, é uma dança, não é considerado luta. Nós temos duas academias boas de lutas, a Nissei e o Colégio Sion, que tinha, agora tem, tinha a equipe do Vasco, agora que está passando a ser Flamengo essa equipe. Então, eu falei: “eu não vou fazer concorrência com dois bons profissionais que eu tenho aqui do lado”, e é um grupo totalmente diferente do grupo que eu tenho dentro da academia. Um negócio que está com muito sucesso hoje é a capoeira, é uma atividade física que vem crescendo muito, também acredito, acredito não, tenho certeza que não é modismo, um negócio que vai continuar, os profissionais estão cada vez mais sedimentados em trabalhos bem científicos. Não é só aquele negócio de antigamente, que era só aquela ginga, né, aquele pessoal que tinha uma boa ginga, aquele pessoal que veio de Salvador e trouxe pra cá. Ah, o africano...
P/2 - O berimbau.
R - É, eles estão embasados em trabalho científico, têm um grupo muito forte pesquisando em cima de capoeira.
P/1 - Legal. Deixa eu te perguntar uma coisa, vindo um pouquinho para a questão dos teus filhos, os teus filhos de alguma maneira estão nessa área, tua filha é...
R - Tá fazendo fisioterapia.
P/1 - É atleta de ponta mesmo, fazendo fisioterapia, quer dizer, você incentivou isso, foi uma coisa meio natural?
R - A parte esportiva claro que eu incentivei, eles foram até obrigados a fazer atividades até os dez anos. Eu tenho, eu acho que a criança deve fazer algumas atividades que são fundamentais até os dez anos, e depois dos dez anos eles...
P/2 - Escolhem.
R - Eles vão escolher o que eles querem. Eu dou uma formação pra eles, pra fazer a atividade que eles escolherem. Por sorte eles escolheram saltos ornamentais, a maioria deles.
P/1 - No Fluminense?
R - É, no Fluminense. Eu tenho...
P/2 - São quantos filhos?
R - São cinco, eu tenho dois casamentos, eu tenho dois filhos do primeiro casamento; um é surfista, gosta de coisas radicais, o mais velho, gosta de escalar, fazer trekking, essas coisas assim; o outro foi campeão mundial infantil de trampolim acrobático, é a cama elástica - são os dois filhos do primeiro casamento. Do segundo casamento, meu filho mais velho foi campeão brasileiro de saltos ornamentais durante alguns anos, fez parte da equipe; tem a Juliana, que é a atual atleta olímpica nossa, ela está indo para o Panamericano agora com uma expectativa muito grande em cima dela; e tem uma pequenininha, está completando dez anos, agora que ela vai começar a escolher o que ela quer, por enquanto ela está dizendo que é natação, mas ela já fez ginástica olímpica, fez natação, e fez uma atividade com bola, foi vôlei, essas três atividades são obrigatórias. E fez judô também, eu ia me esquecendo, fez judô, o judô é um esporte que ensina muito a disciplina, a importância com a hierarquia, o cuidado com o menor, não temer, enfrentar o maior, o mais pesado. Então acho que cada esporte tem a sua importância.
P/1 - Você gostaria que algum desses estivesse diretamente ligado a você, na academia, na atividade profissional?
R - Olha, eu tenho, pela experiência que eu tenho de vida, eu acho o seguinte, é mais importante fazer o que você gosta. Então, negócio que é imposto, eu procuro não influenciar muito, eu mostro pra eles, se você perguntar pra qualquer criança de doze anos, quatorze anos, “o que você quer ser quando crescer?”, ele vai falar bombeiro, porque eu acho que todo homem quer ser bombeiro, mas quer ser professor de Educação Física também, porque trabalha de shorts, vai à praia, estão sempre de camiseta, tênis, então acha que isso é o máximo. Mas quando começa a vivenciar isso, a ver isso, a gente acorda às cinco horas da manhã pra trabalhar.
P/2 - Vai dar aula cedo, e até de noite?
R - É, então quando o pessoal sai do trabalho está todo mundo... Vai para o cinema, a gente está trabalhando. Estamos trabalhando até às dez horas da noite, o pessoal está jantando, está indo ao cinema. Então eu tenho que passar essas coisas, eu tenho tempo pra ir pra praia, tenho, se eu quiser ajeitar meu dia dá pra dar uma fugidinha e ir na praia, mas também eu acordei às cinco horas da manhã. Então tem o outro lado, eu mostro todos os lados pra eles “olha, esse lado é bom, esse lado... A vantagem da aula de ginástica é isso, as desvantagens são essas”. Tem um que está dando aula de ginástica, tenho outro que trabalha com a parte
de ginástica olímpica, o outro está trabalhando com avaliação e spinning. Eles estão indo, cada um no seu caminho, eu acho que cada um tem que seguir no seu caminho.
P/1 - Você se exercita, independente das aulas, de tudo, você ainda faz sério?
R - Procuro me exercitar todos os dias.
P/1 - É?
R - Todos os dias, todos os dias. Agora que eu estou acabando a minha pós, estou com menos horário, pela primeira vez na vida estou fazendo um pouco de regime... (risos). Regime, não é nem educação alimentar não, a minha alimentação é boa, mas eu estou fazendo um pouco de regime pela falta de tempo pra fazer essa atividade que eu gosto. Mas eu sempre procuro, adoro correr na rua, adoro correr, não é na esteira não, gosto de correr na rua, sair pela rua afora. Paineiras nem… Paineiras é o lugar predileto.
P/1 - Perto também, né?
R - É perto e você está dentro de uma floresta. Eu já tive oportunidade de ver lá de cima preguiça, lagartos de mais de um metro de comprimento, sagui, então toda hora, bando de macaco, agora tem um bando de macaco enorme, mais de trinta macacos prego. É um negócio fantástico, adoro, adoro aquilo ali, adoro correr nas Paineiras, e o visual daquela, da nossa orla.
P/1 - Deixa eu te perguntar, a gente já está chegando mais ou menos no final, né...
R - Ah, já acabou?
P/1 - Estava bom, né? Se você está viajando você procura se exercitar também, ou...?
R - Tenho uma disciplina muito grande. É aquele negócio, quando você se acostuma a fazer atividade física é como escovar os dentes, você sente necessidade. Às vezes, porra, você vai dormir, “ih, não escovei os dentes”, você se levanta até dormindo e vai escovar os dentes, é necessidade que você tem. E é a mesma coisa, eu tenho necessidade de fazer atividade física, quando eu não posso a minha mulher sofre. “Pô, eu não aguento mais você, sai de casa, vai fazer alguma coisa, porque você fica irritado, qualquer coisa te irrita, você fica mais estressado”.
P/1 - Você olhando, fazendo um balanço aí, você tem aí praticamente, um pouco mais de trinta anos nessa atividade, você, olhando pra trás, tem alguma coisa que você acha que poderia ter feito diferente, nesse caminho profissional, alguma decisão, uma coisa que a gente nem pensa muito, mas aproveitando que você falou bastante...?
R - Que eu poderia ter feito diferente?
P/1 - É, alguma coisa que você se arrepende, uma decisão, um ponto que você achou que...
R - Não, acho que não. Pensando assim eu acho que não, eu acho que tudo que eu quis fazer eu fiz, tudo, poderia estar errado, mas eu faria outra vez errado. Acho que quando a gente tem medo de fazer uma coisa a gente perde muita oportunidade, e a oportunidade só passa por você uma vez, não há segunda vez. Então toda oportunidade que passa eu pego, eu experimento, foi ruim, eu pulo fora, mas eu fui. Então sempre, às vezes me dou mal, às vezes você confia numas pessoas que você fica... Tinha uma profissional minha que eu confiava muito, frequentou a minha casa, e quando tentei mostrar uma coisa pra ela, ela não entendeu e nós tivemos uma briga séria, isso...
P/1 - É difícil essa relação patrão e empregado na academia?
R - É, porque eu vou confessar um negócio pra vocês, eu não sou patrão, eu sou colega. E ninguém me vê como colega, eu me sinto como colega, eu me sinto rejeitado até como colega, mas muitas vezes eu me sinto rejeitado. E eles não têm essa visão de mim, eles sempre, “ah, não, aquele ali é o patrão”. Então eu gostaria que eles me vissem mais como colega. Isso é um erro, isso é um erro meu porque eu sou um empresário, então eu me machuco muito com isso, eu me machuco muito, e acho que machuco outras pessoas também por ser assim. Porque você começa a cobrar alguma coisa da pessoa, que a pessoa não quer te dar, então eu não acho um bom negócio, eu estou errado, mas não consigo mudar, não vou mudar. Eu tenho o suporte – só pra terminar – suporte bom da minha esposa, que me dá, nessa parte de empresário.
P/1 - Ela trabalha contigo?
R - Ela, no Fluminense é ela que toma conta, integral. E na academia de cima, como eu tenho mais dois sócios que fazem essa parte mais administrativa, mas ela sempre me assessorando, “olha, acho que tenho que pensar nisso, ver isso aqui, procura averiguar isso”. Porque ela é formada em Economia e está fazendo, acabando Direito, então é uma pessoa que me ajuda muito nessa parte.
P/1 - Tenho uma última, o que você acha de ter participado desse projeto, de ter dado essa entrevista, você achou interessante poder falar sobre essas coisas?
R - Eu achei. Olha só, realmente, eu quando eu vim pra cá eu não sabia exatamente do que se tratava, eu sabia que era confecção de um livro pra fazer memórias sobre negócios. E quando você, Carlos, me apresentou o livro, quando eu comecei a saber mais desse negócio, eu fiquei emocionado de estar podendo participar disso aqui.
P/1 - Legal.
P/2 - Muito obrigada, Júlio, por ter vindo.
P/1 - Obrigado.
R - Obrigado a vocês.
Recolher