Essa história inicia-se no interior do Ceará, precisamente no Município de Ipu na localidade de Engenho dos Belém, aproximadamente no ano de 1962. É a história de uma menina chamada Lucia, até então com aproximadamente 10 anos, filha dos dois agricultores Olimpia Lameu Carlo e Pedro Ba...Continuar leitura
Essa história inicia-se no interior do Ceará, precisamente no Município de Ipu na localidade de Engenho dos Belém, aproximadamente no ano de 1962. É a história de uma menina chamada Lucia, até então com aproximadamente 10 anos, filha dos dois agricultores Olimpia Lameu Carlo e Pedro Barbosa da Silva. A família Carlo Barbosa cultivava feijão, algodão, banana, milho, abóbora, maxixe etc em troca de dinheiro para fazer comprar nas “bodegas” de Ipu.
Os Carlo Barbosa cultivavam para a família abastada de Sebastião Pedro. A família Carlo Barbosa era uma família de luta que vivia como muitas outras famílias do nordeste brasileiro, em sistema de arrendamento da terra. Bem, planejando uma dessas "ida às compras na bodega", que naquele tempo ficava distante da casa de Lucia. Dona Olimpia, mãe de Lucia, disse à menina " — Amanhã nós vamos no Ipu" .
Pronto, foi a fala necessária pra causar felicidade e muita ansiedade em Lucia. Quanto à estas idas ao Ipu, é importante destacar que para que acontecessem, o viajante deveria acordar bem cedo, e quando se fala em bem cedo, se fala em 04.00 da manhã, isso porque o percurso era longo, feito na base do "sebo nas canelas", ou quando possível, no lombo de jumento. Naquela localidade, o direito a um banheiro dentro de casa inexistia, era um tempo de muita pobreza. A família Carlo Barbosa tem em sua raiz, essa origem muito humilde.
Lucia recorda-se que já acordada pra ida ao Ipu foi ao "terreiro" da casa que ficava em frente a uma estrada, pra "tirar a água do joelho". Foi nessa que aconteceu o encontro com o "espigão branquinho". Em suas recordações ele estava próximo, mas ela não sabe precisar a que distância.
"Espigão branquinho" era uma pessoa "amortalhada", ou seja, envolta em mortalha de pano branco vagando em penitência imposta pelos padres.
Avistado o amortalhado, Lucia disparou para "dendi casa", que naquele tempo tinha suas portas divididas em duas partes. Foi nessa que Lucia saltou e caiu desmaiada do outro lado da porta. O susto havia sido tamanho que ela não sabe precisar a quantidade de tempo que ficou desmaiada, só da lembrança de estar acordando com a mãe Dona Olimpia dizendo a seguinte frase, "Valha-me Deus, minha filha está morta!". Neste momento a menina acordou do grande susto que havia levado. Esta história assim como outras das quais Lucia guarda, fazem parte de uma vida marcada por uma infância humilde no interior cearense, porém acima de tudo, recheada de felicidade e boas lembranças. Ela também é registro de um Brasil que é enorme, e que possui características de seu povo em cada pedacinho de terra.Recolher