Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Wilson Lopes Cançado
Entrevistado por Léo Dias e Stela Tredice
Entrevista MCE_CB030
Realização: Museu Da Pessoa
Belo Horizonte, 18 de Abril de 2005
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P1 – Wilson, boa tarde. Eu gostar...Continuar leitura
Projeto Museu Clube da Esquina
Depoimento de Wilson Lopes Cançado
Entrevistado por Léo Dias e Stela Tredice
Entrevista MCE_CB030
Realização: Museu Da Pessoa
Belo Horizonte, 18 de Abril de 2005
Transcrito por Leo Dias
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P1 – Wilson, boa tarde. Eu gostaria de começar pedindo para você falar seu nome, loca e data de nascimento.
R – Meu nome é Wilson Lopes Cançado, nasci em 28 de abril de 1966 em Pitangui, Minas Gerais, Brasil.
P1 – Você poderia falar o nome dos seus pais também? Por favor?
R – Meu pai é Cornélio Lopes Cançado Filho e minha mãe Maria Lopes dos Santos.
P1 – Eu gostaria de começar perguntando sobre suas influências, o que você ouvia e o que você ouve hoje?
R – Bom, eu venho de uma família de nove irmãos, uma família musical, todos os meus irmãos tocam ou cantam, minha mãe cantava muito bem, meu pai tocava muito bem. Então, desde berço eu me lembro que os brinquedos eram sempre violão, acordeão, tinha bateria. Sempre música demais, todo fim de semana muita música. Então eu não consigo falar nem quando eu comecei a tocar, eu não consigo falar, profissionalmente eu sei, de treze para catorze anos, quando eu ouvi um duo de violonistas que se chamam Larry Coryell e Philip Catherine. Larry Coryell é um americano e Philip Catherine é um belga, então eu apaixonei com aquele som e comecei a tirar tudo e eu não sabia nem o que era dó maior, nem ré, eu só ia pelo som mesmo. Ficava o dia inteiro tocando aquilo. Mas antes disso eu já tocava, eu lembro assim que minha mãe me tirava do brinquedo quando chegava visita em casa: “Ah, chama o Wilsinho lá que ele vai tocar um Dilermando Reis”, aí eu lembro que eu tocava o Dilermando Reis com aquela cara, achando ruim para caramba porque eu queria estar brincando, aí: “Ah, que gracinha!”. Aí é por aí, eu sempre toquei assim. Os irmãos me ensinaram, então a influência primeira é da família, sangue, de outra vida, hereditário, sei lá. Essa foi a primeira influência, depois vieram o Larry Coryell e Philip Catherine aos catorze anos, onde eu resolvi mesmo ser profissional, parei inclusive de estudar, eu estava no 1.º ano científico, não conseguia mesmo concentrar em mais nada e foram vinte e quatro horas de música mesmo, era uma coisa impressionante. Sendo que, aos dezoito anos eu tive que dar uma parada, porque eu estava até meio ficando louco, achei que estava, e fiquei um ano sem tocar, foi meio piração, tocava o dia inteiro, era uma coisa louca. Aos quinze anos eu fiz o meu primeiro show, instrumental com meu irmão Beto Lopes, então eu tive muita influência do Beto também que é o irmão mais velho que eu tenho, ele é quatro anos mais velho que eu, então eu tive esta influência, ouvia ele tocar sempre. E a gente fez este show do Larry Coryell e Philip Catherine, tiramos todas as músicas e fizemos um show no Palácio das Artes, na sala Humberto Mauro e com quinze anos, foi em 1981, por aí. Desde aí vieram as outras influências, tipo de cara o Clube da Esquina, é lógico, tenho uma paixão impressionante com o Milton, Toninho, Lô, Beto, Tavinho, todos eles. Comecei a tocar em bares e a minha idéia nesta época, com dezesseis anos, era ser só violonista, não queria tocar guitarra de jeito nenhum, resolvi ser um violonista, mas por necessidade, precisava ganhar um dinheiro, estava crescendo, precisava tocar guitarra em bar, porque nem o violão eu já não tinha, era uma coisa muito difícil, também não tinha guitarra, aí eu peguei emprestada de um amigo. Na verdade eu e o Beto Lopes tivemos muitas dificuldades financeiras nesta época, quero dizer, nem tínhamos instrumentos nunca, pegávamos emprestado mesmo. Então eu consegui uma guitarra emprestada de um cunhado e toquei em um bar perto do Mineirão e ficava tocando guitarra e foi ali que começou. Aí comecei a tocar em bares, ouvia tudo que tinha de música instrumental, conheci o Lincoln Cheib, que hoje é meu parceiro na banda do Milton Nascimento e ele me aplicou muitas músicas, muita coisa, formei um trio com ele e com o Ivan Correia, um baixista que também hoje toca com todo mundo aí. Logo em seguida eu fui chamado para integrar o grupo Edição Brasileira com o maestro Mauro Rodrigues, que hoje é professor da Faculdade de Minas Gerais, Lincoln Cheib e Ivan Correia. Aí os horizontes foram se abrindo, Milton Nascimento nem se fala o tanto que é importante na vida de todos nós, na minha... Impressionante, mas primeiramente eu conheci o Toninho Horta através da Cláudia Cimbleris, minha professora de música no Palácio das Artes, eu e Beto fomos fazer uma entrevista lá para tentarmos uma bolsa e conseguimos, então a gente estudou um pouco de teoria com a Cláudia Cimbleris e ela conhecia o Toninho e nos apresentou. Casamento do Toninho Horta em Três Pontas eu conheci o Milton. Foi até uma coisa legal porque o Milton veio caminhando assim e ele, o Milton Nascimento, aquele cara passando assim e eu só de longe “Poxa, lá vem o cara aí”, aí quando ele passou perto de mim eu bati no ombro dele e falei: “E aí Miltão doidão?”, ele virou e me encarou com a cara fechada, falei “Nossa Senhora”, mas ele não me conhecia, bravo para caramba, “vai me xingar”, não é? Não falou nada e seguiu. Falei: “Nossa, que mancada, que bobagem”. Aí deu aí uns dez ou quinze minutos ele volta e pergunta “Quem que é doidão aqui?”. Aí pronto, aí já ficamos amigos, mas amigos mesmo, somos muito amigos graças a Deus. Aí veio o contato com o Milton em amizade mesmo dez anos depois. Nunca teve esse interesse, se rolasse ou não. Mas rolou uma época, foi em 1993, eu fui para o Rio e ele até pediu que eu fizesse um rock, assim do nada “Faz um rock aí.” assim, a melodia. O Milton tem umas coisas assim, ele gosta de um ar de suspense. “Mas para que é?”, “Não, não, faz aí” a música se chama hoje “De Um Modo Geral”, ele colocou uma melodia e fizemos a nossa primeira parceria, foi muito legal, entrou para o disco Angelus. Nesse mesmo disco a gente fez outra parceria que se chama “Coisas de Minas” que é uma música de viola caipira, uma coisa bem regional. Aí gravei o disco Angelus em 1993 e entrei para a banda do Milton e saímos em turnê em 1994.
P1 – Você falou que uma de suas maiores influências foi o Clube da Esquina. Então eu queria saber qual foi a sua reação na primeira vez que você ouviu o disco Clube da esquina 1, Clube da Esquina 2.
R – Bom, O Clube da Esquina 1 é o disco de cabeceira, é a bíblia mesmo, aquela que fica ali. Eu tenho dois CDs e dois discos de vinil do Clube da Esquina 1. Um quebrou de tanto usar e eu comprei outro e hoje eu tenho dois Cds, eu achei um outro dia. Então é aquela paixão, não é? Foi uma coisa que, todos nós sabemos, o mundo sabe o que é aquele disco, de música mesmo, de novidade, de coragem do Milton. Eu gosto de pensar que é o Milton, mas ali é mesmo o Clube. Todos estão ali, todos os amigos do Milton como uma pessoa muito generosa, muito inteligente, é o que eu acho dele, a inteligência dele é de soltar o máximo de todo mundo, isso eu falo, como todos nós músicos da banda dele falamos a mesma coisa, a gente comenta muito isso. Ele só recebe com isto, ao invés de ele prender as coisas sempre, é lógico que tem a direção dele e a direção dele é espetacular e ele tem uma visão impressionante, mas ele deixa todo mundo fluir ao máximo, é lógico, eu até arrepio. Então o Clube da Esquina para mim foi isso, foi uma hora que ele soltou Toninho Horta, Beto Guedes, Lô Borges, olha os caras, todo mundo gênio para caramba. Então é um disco sem comentários de tudo, de sentimento, de música. É a bíblia, eu acho, de qualquer músico dessa linha nossa.
P2 – E apontou um caminho?
R – Nossa senhora, um caminho total, tirar todas as músicas, tocar, amá-los, seguir os passos, é isso.
P1 – Wilson, quando o Bituca cita esta banda atual, que está com ele agora, você, o Lincoln, etc. ele fala com muito amor e fala como se fosse o Clube da Esquina mesmo, então ele sente esta amizade que tinha na época do Clube da Esquina 1. Como é esta convivência? Eu queria que você contasse para gente.
R – É exatamente isso. O Milton realmente fala isso e é de coração, a gente sente a mesma coisa com ele. É uma coisa impressionante, o Milton é um cara impressionante, porque ele passa isso, porque assim, é um cara, uma celebridade no mundo hoje, que a voz não tem como dizer, as composições não precisam ficar falando e além disso ele é maior ainda no coração, isso é muito louco, o coração e a generosidade dele são maiores ainda que estas coisas. Às vezes eu falo, o mundo não conhece o Milton, não conhece, quem é, a importância dele no planeta. Às vezes lá quieto na casa dele, o tanto que ele é importante de acreditar de mandar energia, ele é totalmente religioso nessa parte de mandar energia para não sei quem, de carinho, você precisa de ver a educação dele com qualquer pessoa, ele faz questão de cumprimentar quem está, de despedir de quem está. É uma coisa linda demais, e isso era o Clube e com a gente também. Acho que é só as pessoas serem um pouco sensíveis para sentirem isso com ele. Então acho que o Milton teve muitas bandas que as pessoas, o que é normal no mundo, não entenderam ele, que trataram o trabalho dele com aquela palavrinha chata que se usa, Guig, “em qual guig você está?”, eu não estou na guig do Milton, eu detesto falar isso e não aceito. Isso não é uma guig para mim, não e um trabalho, ali é uma extensão da minha família e eu sei que para todos os outros músicos é a mesma coisa e a gente sente assim mesmo, a gente está saindo em turnê agora, hoje é segunda e a gente sai quinta-feira em mais uma turnê pela Europa e assim, dá essa impressão que você está indo com a sua família fazer uma viagem e ele é o mais família de todos, ele é o pai, ele, numa boa, é o cara que te dá carinho na viagem, impressionante. Você deixa de visitar ele alguns dias no quarto e ele fica chateado, então é um cara muito pessoal. Então como não amar uma coisa dessa? E como ele não amar a gente também? Acho que é recíproco mesmo, natural, porque ele plantou isso e a gente entendeu e estamos no mesmo caminho e felizes demais.
P1 – Vocês têm algumas parcerias, não é? Fala um pouco para gente.
R – Temos, eu falei aqui quando eu comecei, não é? Falei aqui do rock, De Um Modo Geral, que ele colocou a melodia e a letra, depois fizemos a noite na casa dele e foi interessante que ficou faltando música para o disco e saindo do ensaio assim para gravar ele disse: “Será que a gente faz outra hoje a noite?” e eu disse: “Claro!”, aí chegamos para fazer o Coisas de Minas, aí estava até o Márcio Ferreira, esperando e ele pediu ele para ir embora para a gente poder fazer a composição. Aí já era meia noite, uma hora, e a gente nem sabia o que tocava e tal. Às vezes é legal contar a composição porque as pessoas ficam pensando “Poxa, como que compõe?”, e são várias maneiras de se compor, às vezes você compõe por encomenda, não é? Por trabalho, sei lá, às vezes eu posso sair daqui agora e compor alguma coisa. Esse dia a gente ia ter mesmo que compor uma música e saiu assim, a gente tentou várias coisas e não estava dando barato mesmo, aí eu me lembro que ele saiu assim e eu peguei a viola só para dar uma soltada e comecei a fazer uma bagunça e ele ouviu e veio correndo lá de dentro “É isso aí, é isso aí mesmo” e eu falei: “É isso o que? Eu estava só esquentando” “É isso mesmo, não para não, repete”, aí eu fui repetindo e ele foi cantando e fizemos o Coisas de Minas. Depois disso eu fiz com ele a trilha do filme “A Terceira Margem do Rio” de Cacá Diegues. Ele compôs uma melodia que se chamava O Cavaleiro, então só tinha a melodia e eu pus a harmonia, então foi a nossa terceira música, O Cavaleiro, está gravada no disco Nascimento. Depois eu gravei no disco Milton e Gil, não tinha música minha e dele e agora no Pietà, uma nova parceria que se chama “A Lágrima e o Rio”, uma música minha e letra de Milton Nascimento e Ricardo Nazar, um compositor aqui de Belo Horizonte. São estas as parcerias.
P1 – Legal. E você tem mais algum caso que queira deixar registrado aqui para gente?
R – Nossa, são tantos.
P2 – Algum caso das fotos...
R – Olha tem uma foto muito legal que é o Milton e o Wayne Shorter, teria uma outra foto que seria eu, Milton e Wayne Shorter, mas eu não sei onde ela anda, mas ainda vou achar e deixar aí para o museu. Mas esse caso foi interessante, porque foi minha primeira viagem internacional com o Milton, a turnê do Angelus, dois meses de turnê, uma turnê pesada e a gente chegou em Los Angeles, chegamos assim, fuso horário e tal, minha primeira viagem, eu já loucão, já não entendendo se era isso mesmo, aí de repente liga o Milton no meu quarto: “E aí, vamos almoçar lá com o Wayne Shorter?” O que é isso! Falei: “Não, é brincadeira. O Wayne?” sou louco com o Wayne. Ah, e tem uma coisa para falar do Wayne rapidinha para falar do Angelus aqui. Quando a gente foi gravar o rock, estava pensando para gravar e falei: “Precisava de um sax, cara, ia ser legal um sax” aí viajei: “Nossa, podia ser o Wayne Shorter”, mas falei “Ah, isso é viagem”. Ai no café da manhã eu falei: “Nossa Bituca, acho que De Um Modo Geral podia ter um sax, estava pensando no Wayne” e ele falou “Ah, beleza, pode ser”. Ele já ligou, já marcou, o Wayne gravou na minha música, para mim... que honra. Fez um solo em cima das minhas bases, respondendo minha guitarra, é um espetáculo. Aí fomos fazer a turnê do Angelus e fomos na casa do Wayne almoçar, aí foi muito legal, chegar na casa do Wayne, conhecer o Wayne Shorter, lenda. Então assim, lá aconteceram coisas interessantes, por exemplo, o Wayne figura, ele mostrando o equipamento para gente como um menino, “Olha, isso aqui é meu, isso aqui é do Marcus Miller, meu Marcus Miller”, igual um menino, mostrando, pondo som e a gente curtindo para caramba. Aí na hora do almoço, outra coisa legal assim, figura demais, ele estava almoçando e explicando porque ele não podia sair mais de Los Angeles, porque ele segurava o terremoto, ele resolveu que ele segurava o terremoto. Ele estava comendo, parou de comer, deitou no chão e ficou lá assim mostrando como ele fazia na hora do terremoto, o cara é muito doido (risos) e ele deitado lá falando com o Milton e a gente rindo para caramba. De brincadeira, é claro, quero dizer, não sei, a gente riu, ele falou que segurava o terremoto, sabe-se lá, nessa vida eu acredito em tudo, ainda mais nesses caras. Isso foi uma coisa engraçada. Ele foi em vários shows nossos. Esse foi um caso que eu lembrei do Wayne, mas tem mais um milhão.
P1 – Wilson, o que você achou desta entrevista para o museu e o que você acha desta iniciativa de criar um museu do Clube da Esquina?
R – Nossa, eu acho importante demais, eu estava vindo para cá e pensando sobre isso. Que legal, um museu do Clube da Esquina está começando. Porque um movimento igual, é o Clube da Esquina! É uma coisa mundial, que o mundo precisa saber até mais, acho que o mundo sabe pouco das músicas, o tanto que elas são elaboradas, o tanto que estes caras são feras demais da conta, não tem condição aquele Toninho Horta, o Beto, o Lô, Tavinho Moura, o Bituca, nosso rei, não é? Então eu acho muito importante registrar neste ano 2000, essa era nova em relação ao Clube que foi em 1970 por aí. Então, como estão as pessoas com o Clube, esse convívio, esse ritual todo lá. Acho muito importante, estou muito feliz e quero colaborar o máximo que eu puder, adiante e sempre.
P2 – Só uma pergunta. É que a gente estava vendo nas fotos que você fez uma turnê pelo Japão. Fala um pouquinho dos fãs clube de lá, da receptividade do povo japonês.
R – Olha, nós fizemos, Europa eu já perdi a conta, eu estava até pensando esses dias, acho que foram umas oito vezes, Estado Unidos também umas três, Canadá, fomos ao Japão, África, México também, não sei se está faltando algum lugar. Eu fico impressionado mesmo com essa repercussão do Clube no mundo, é impressionante. Por exemplo, nós fizemos um show na Turquia nesta turnê de 1994, cara, era lotado, era lotado, Milton Nascimento e Tutti Stillman’s em Istambul, cara, lotado e todo lugar que a gente vai a recepção é impressionante. O Milton é muito forte, o Clube é muito forte. Eu sei que no Japão o Toninho tem um fã clube impressionante, o cara é o rei do Japão, agora o Milton também. O Milton é uma coisa que nem precisa ficar falando, mas é impressionante mesmo. No Japão, neste show que a gente fez, fizemos dois sets por noite, todos dois esgotados, dois shows, terminava um, dava uma meia horinha para gente descansar e voltava outro público. Um público impressionantemente sensível. A idéia que eu tinha do Japão, não sei se todo mundo tem essa idéia, mas por causa da tecnologia eu achava que era um povo mais frio, mas não é, mesmo. Eu tenho uma amiga no Japão que é a única que me escreve mesmo, à letrinha, gosta de escrever, quando chego lá me recebe com flores, leva lá no hotel, conheci há pouco tempo através do Toninho até. Mas assim, um amor, nos shows as pessoas choravam de escorrer assim. Eu me lembro uma hora do Maria Maria, eu quase parei de tocar inclusive, todo mundo parou e o Milton foi cantar sozinho, ela levantou assim e eu foquei bem essa mulher e a lágrima desceu assim e ela fez a reverência para o Milton, foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi. E a educação do povo? A gente saía no meio do público, era no Blue Note, a gente saía no meio do público, todo mundo levanta e ninguém te encosta. Todo mundo com as mão levantadas, se você pegar bem e a gente saia passando a mão no máximo de mãos que desse, por carinho assim. Todo mundo em seus lugares, uma educação impressionante, acho que eles chegaram em um ponto, quantos anos mais que a gente aí nesse planeta, de organização, de respeito com o próximo. Um caso rapidinho sobre esse respeito: eu saí com esta minha amiga para conhecer a cidade durante o dia e ela foi pedir alguém que estava passando na rua para tirar uma foto nossa, um cara de bicicleta, nossa essa pessoa parou, os dois ficaram se reverenciando horas, assim a gente fala horas exagerando, mas é um tempo, isso tudo para tirar uma foto, aí o cara tirou a foto e de novo, várias vezes. Então é um respeito impressionante, assim, a gente tem muito o que aprender com eles, eu fiquei emocionado no Japão. E várias outras coisas. Aí o contrário, a gente voltou para o Brasil e na semana seguinte fomos para a África, aí foi a outra visão total o outro terceiro mundo, quinto mundo, impressionante. A gente tem que ajudar o máximo que puder gente.
P2 – E lá o Clube ainda é forte assim?
R – É forte. Impressionante, isso aí é no mundo todo. Lá é muito pobre, voltamos com as malas vazias só não demos as roupas do corpo, todo mundo do grupo. Eles ficavam olhando para camisa da gente e isso não é o povo pobre não, porque o povo pobre a gente nem teve acesso. Não estou brincando, a gente nem chegava perto porque não podia, a gente não podia sair do hotel. O pessoal que a gente deu a roupa era o pessoal da vã, a tour manager nossa de lá. É uma pobreza violenta. E isso tudo no mundo inteiro, para todo lado que a gente foi, vivemos altas coisas na Europa. O Milton é um rei, o Clube é um rei, a música brasileira é muito bem vinda, a música brasileira está muito na moda no mundo. Vitrines, muita coisa do Brasil, fomos ao show do Lenine lá em Roma, lotado, é muito legal. Eu acho muito importante o Clube estar fazendo aí este museu e partindo para o mundo para ajudar muita gente.
P1 – Legal, então é isso. A gente queria te agradecer em nome da associação e de todo o Clube da esquina, inclusive do Milton. É isso aí, muito obrigado.
R – De nada, estamos aí.
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