Correios – 350 Anos Aproximando Pessoas
Depoimento de Antônio Barros de Bastos
Entrevistado por Isla Nakano
São Paulo, 08/06/2013
Realização Museu da Pessoa
HVC_08_Antônio Barros de Bastos
Transcrito por Francisco Guilherme Ribeiro Ruiz
MW Transcrições
P/1 – Bom, senhor Antônio, primeiro eu queria agradecer muito do senhor ter tirado um pouquinho do seu tempo, ter vindo até aqui para dar essa entrevista para a gente, contar tua história. E para começar e deixar registrado, eu queria que o senhor falasse o seu nome completo, aonde o senhor nasceu e quando o senhor nasceu.
R – Meu nome é Antônio Barros Bastos, eu nasci em Santa Inês, Bahia.
P/1 – E qual é que é a sua data de nascimento?
R – É 20 de dezembro de 1955.
P/1 – Como é que é o nome dos pais do senhor?
R – Minha mãe Ana Maria Bastos e, meu pai Tilarindo Francisco Bastos.
P/1 – E dos seus avós, o senhor sabe?
R – Fica um pouco difícil, parece brincadeira, fica um pouco difícil de eu lembrar.
P/1 – E me conta um pouquinho, qual é que é a história da tua família?
R – É um pouco difícil de eu falar, naquele tempo, na Bahia, nós não tínhamos essa aproximação de nossos pais. Hoje é diferente, mudou, é lógico que mudou, os pais se comunicam mais e assim por diante. Naquele tempo era aquela coisa muito restrita e nós não tínhamos quase acesso. Não tínhamos essa aproximação, ou seja, essa integração.
P/1 – E me conta um pouquinho, o senhor nasceu na Bahia, mas acabou não crescendo lá. Me conta essa história.
R – É uma história muito legal. Eu nasci lá, eu tinha na época três anos de idade, e meu pai foi para uma cidade que se chama Vitória da Conquista, de lá ficamos uns oito meses, aí meu pai foi para o Espírito Santo que é a terra do Roberto Carlos. Eu quero até falar aqui, aproveitando, foi onde praticamente eu me criei e fiquei até influenciado pela músicas do Roberto Carlos que ele fala de amor, fala de carinho, entendeu, fala é tudo, fala de amor de uma maneira geral. E eu acostumei tanto que eu fiquei cantando as músicas dele, inclusive até hoje, na minha função de carteiro, não só de carteiro, onde eu ando, eu canto música do Roberto Carlos. Não que eu não cante música de outros cantores, mas eu acho que a música do Roberto Carlos até combina mais com o meu timbre de voz. Parece brincadeira, ele fala de amor, ele fala de Deus, é muito importante.
P/1 – E senhor Antônio, o que é que seu pai fazia para mudar de cidade?
R – Ele sempre trabalhou na lavoura. A minha mãe é dona de casa e o meu pai sempre trabalhou na lavoura. E todo pai quer ver o melhor para o filho. Com todo respeito ao meu pai, mas a minha mãe ficou mais próxima da gente. Ele trabalhava muito, trabalhava na roça e ela estava ali, se preocupando com filho, comprar material para o filho, ver o filho melhor e tal. E não estou desmerecendo o que ele fez, só falando que ela foi mais próxima de nós, sempre quis ver o filho numa boa. Apesar de ela quase não ter estudado, ela sempre se preocupava com a gente, com os filhos, é uma coisa muito gratificante para a gente. E a gente mentalizou, nós mentalizamos isso, hoje graças a Deus a gente chegou no lugar que nós chegamos, demos continuidade nos estudos. Isso no meu caso, eu terminei o segundo grau e pretendo fazer faculdade futuramente, digamos que era o meu sonho. Até como uma realização profissional, não aquela coisa digamos: “Porque se eu fizer uma faculdade tal eu vou ganhar dinheiro”, não, não é isso não. É até uma coisa mais pessoal minha, de concluir, até uns tempos atrás eu não podia pagar uma faculdade e hoje eu posso pagar uma faculdade. Graças a Deus, através dos meus esforços, é lógico, que eu posso pagar uma faculdade. Vai ser muito gratificante para mim começar na faculdade, falar assim: “Venci mais uma competição, mais um desafio”, que era uma realização minha profissional.
P/1 – E senhor Antônio, me conta uma coisa, como é que foi essa chegada no Espírito Santo? Onde é que vocês foram morar? O senhor lembra da casa?
R – Quando meu pai foi para Bahia, Vitória da Conquista, tinha um pessoal, compadres dele, que já morava lá na época, tinham fazenda. E o meu pai foi tomar conta da fazenda, nós ficamos lá tomando conta, depois, como o meu pai havia trazido um dinheiro legal da Bahia, ele [comprou] uma casa em uma cidade que chama Montanha [Espírito Santo], saímos da fazenda e fomos para a cidade. Uma casa muito grande, um terreno muito grande, acho que era dois mil e poucos metros, o terreno lá sai mais barato, interior saía bem barato naquela época. E ficamos lá, foi onde eu estudei, foi onde eu aprendi a primeira letra do ABC. Naquela época ainda, eu lembro que no primeiro dia de aula eu fiquei ajoelhado [no milho], para você como é que mudou. Hoje nós temos computador, temos internet então mudou muito. Eu lembro que a empregada levava sal e milho e eu tive que ficar ajoelhado. Tinha uma coisa que chamava palmatória. A palmatória é de madeira e tem um cabinho, aí ele perguntava [o professor]: “Dois mais dois?”, eu falava: “Três”, não sabia, “Dois mais dois”, “Quatro”. Quem respondia quatro ia bater no outro, ia pegar a palmatória e bater. As pessoas não tinham aquela visão de cada pessoa tem um determinado QI para desenvolver em determinada coisa. Era muito assim, na escola ficar ajoelhado porque eu não sabia, eu não tinha culpa nenhuma, eu não tenho culpa, entendeu. Mas o pessoal não tinha aquela visão de que você não tinha um determinado potencial para uma determinada coisa, então você tinha que aprender. Mas foram coisas que passaram, ficou só na lembrança e parece brincadeira, mas eu tenho na minha casa a palmatória, como lembrança, como relíquia. Como eu gosto muito de artesanato, baiano [sou baiano], está no sangue, está na veia. Na minha casa tem uma palmatória pendurada.
P/1 – E senhor Antônio, me conta uma coisa, como que era nessa casa, você tinha irmãos?
R – Sim.
P/1 – Quantas crianças cresceram nessa casa?
R – Somos dez. Naquele tempo, como não tinha televisão, as pessoas pensavam mais só em sexo, essa é a realidade. Só que nós não podíamos falar, nós não podíamos falar, só que eles faziam. Então eram bastante irmãos, minha mãe colocava, gamela, que é tipo um prato, um vaso de madeira bem raso.... Colocava um pouco de comida para cada um e os filhos ficavam ao redor [da mesa]. Eu muito espertinho, criança, quando eu tinha de três para quatro anos de idade, eu ia pegar o do outro, automaticamente o moleque ia chorar, o meu irmão ia chorar. A comida era Mocotó, aquele bicho ruim, seco. Quando ele está fresquinho ele já é ruim, imagina seco, é pior ainda. O meu irmão automaticamente ia falar para minha mãe que eu havia pegado a comida dele, mexido. Era para mexer só no meu, não no dele, aí minha mãe vinha me bater. Olha que situação, comendo mocotó, abraçada com o filho, tinha que mastigar, rezar o Pai Nosso ao mesmo tempo e bater, imagina só. No final dava tudo certo. São histórias que ficaram na mente, na lembrança, é até engraçado um pouco. E criança naquela época, o que o meu pai passou para mim, é que criança é igual cachorro. Você estava na sala, via uma pessoa conversar com o seu pai, brigando o meu pai. Quando eu ficava perto tinha que ir para a cozinha, porque eu não podia ouvir a conversa. Vou ter que contar uma piada. Teve uma vez que estava eu e meu pai meu almoçando, minha mãe tinha feito alface, salada, na hora que eu fui falar com o meu pai, ele pegou e falou: “Volta”, peguei, voltei. Beleza, passou. Aí depois que o compadre dele foi embora, ele veio falar para mim: “O que estava acontecendo que você veio falar?”, falei: “Não, papai, eu ia falar para o senhor que na hora que você ia colocar a alface para comer tinha uma lagarta”. Ele acabou comendo a lagarta, não é piada, aconteceu mesmo. São histórias que ficaram na nossa mente, basta a gente abrir a memória vai lembrar tudo, desde três anos, quatro anos, cinco anos de idade. Natural.
P/1 – E senhor Antônio, deixa eu perguntar uma coisa, alguém entregava correspondência lá na sua cidade?
R – Nessa época, eu morava em Montanha, a minha irmã morava em São Paulo, então a gente tinha aquela alegria do carteiro vir entregar uma carta para a gente. As vezes o carteiro não ia lá, como ele demorava muito, a gente ia lá nos Correios, chegava lá e perguntava: “Tem carta para o Tilarindo Francisco Bastos?”, aí o carteiro falava: “Não”. Voltava novamente: “Tem carta?”, “Não”, e voltava, assim por diante. Mas eu ia geralmente procurar carta lá na agência. Só que mudou muito, hoje tem carteiro em todo lugar.
P/1 – E o senhor conheceu o carteiro da região? Lembra dele?
R – Conheci. É lógico que eu lembro e, além do mais, o meu casamento... Já pode passar para essa parte já do casamento?
P/1 – Pode contar, depois a gente volta, não tem problema.
R – Inclusive a minha esposa, eu falo com todo respeito dela, é minha ex-esposa, por algumas razões nós não estamos juntos. Eu mandava carta para ela, nós casamos por correspondência. Pode achar estranho, nós que estamos hoje na era da informática. Quando eu morava lá, ela era pequena, eu vim para São Paulo, fiquei um tempo em São Paulo, quando eu voltei lá, no Espírito Santo, já era adulta, nos olhamos, a gente se gostou acabamos casando, mas foi através de correspondência, eu até colocava talco na carta, sabe aquela coisa de romantismo, pode me chamar de careta quem quiser, eu acredito que há ainda romantismo. Aquela mulher que ainda usa uma flor no cabelo, o rapaz que vai no parque, que fica no balanço lá no parquinho, é bonito, é legal. Tanto é que, com respeito a alguns jovens, a gente começa a falar das músicas antigas e eles começam a falar que nós somos caretas. Hoje eu respeito o jovem, o meu filho quando falou para mim: “Pai, eu posso usar brinco?”, eu falei: “Oh, você pode usar brinco, pode pintar o teu cabelo de vermelho, usar piercing, desde que você me respeite. Sem problemas.”, isso nós temos que entender, chama-se modismo. No entanto, naquele tempo ele era solteiro, hoje é uma das pessoas que gosta muito de mim, fã número um, nas corridas que eu vou ele vai junto comigo, me respeita. Isso é o que eu quero, eu quero respeito. Me chama de gatinho, isso que é legal. Respeitar o direito da pessoa, a inteligência não é você querer mudar as pessoas, é você entender as diferenças das pessoas.
P/1 – E senhor Antônio, me conta uma coisa, o que é que o senhor gostava de brincar? Já sei que o senhor gostava já de correr desde pequeno.
R – De correr, mas naquele tempo nós não tínhamos nem rádio, eu brincava muito de cavalo de pau, pegava um cabo de vassoura, eu colocava no meio das pernas e saía “Aeh”. Eu pegava o cabo de vassoura e colocava nas pernas, como se fosse um cavalo, colocava como uma rédea e brincava. Era o nosso brinquedo, as mulheres, eu lembro que elas pegavam aqueles milhos, milho verde, e faziam de boneca. Hoje é Barbie, é não sei o que lá mais, é até boneca que já brinca, que conversa. Tecnologia, sim, tem que bater palma para a tecnologia, mas é legal você resgatar aquele tempo, aquelas histórias, é muito legal. Eu tenho saudade, assim, só que não de voltar a ser criança. Porque eu tinha a maior vontade de ser uma pessoa independente, não estar dependendo dos meus pais. Inclusive naquela época nós não podíamos almoçar junto com os pais, era separado. Me sentia muito baixo, me sentia uma pessoa jogada. E nós somos seres humanos. Você está lidando com seres humanos e não com animais. Mas isso faz parte, isso já passou, agora é modernismo e só alegria.
P/1 – E senhor Antônio e, essa história de que o senhor corria já desde pequeno, não correr profissionalmente, mas já gostava de correr para ir comprar coisa, para ir no mercado? Conta para a gente.
R – É assim, eu estudava, em um colégio que tinha a matéria Educação Física. Eu sempre me destacava mais junto com o pessoal. E meu pai, quando ele mandava comprar as coisas... A nossa casa ficava em um bairro da periferia da cidade, o Centro e a periferia são os bairros afastados [um do outro]. E meu pai me mandava porque era eu que ia mais rápido, bem mais rápido. Sabe o que é embornal? Embornal é uma sacola, que tem uma alça, então ele mandava comprar as coisas, comprar farinha, carne, peixe... Eu ia muito rápido, só que quando eu passava nesse bairro, no bairro das pessoas ricas, tinha um papagaio, eu passava por uma meninas bonitas, eu tinha de dez para 11 anos de idade, e as meninas lá, filhas de fazendeiro, tinham um papagaio que me chamava de tabaréu, “Tabaréu, tabaréu”. Tabaréu é a pessoa boba, a pessoa da roça. Mas aquilo era motivo de dar risada, era muito engraçado, muito. Ele chamava, me via correndo e falava: “Tabaréu, tabaréu”. E as meninas, todas grã-finas, hoje se fala patricinha, dando risada daquele tabaréu que está passando correndo com saco e vai comprar alguma coisa. Mas foi muito engraçado, muito. Saudades.
P/1 – E senhor Antônio, me conta uma coisa, conforme o senhor foi crescendo, o que é que o senhor queria ser quando crescesse?
R – Boa pergunta. Lá em Montanha tem um campo e toda vez que fazia festa o Prefeito convidava, contratava, um paraquedista para fazer a promoção. Todas as atenções eram voltadas para aquele paraquedista. Veio na minha cabeça a vontade de ser paraquedista. Quando eu fiquei sabendo que para uma pessoa ser paraquedista ele teria que correr dez quilômetros todos os dias, eu desanimei. Conclusão, deixei aquela parte lá de Montanha, Espírito Santo e vim para São Paulo. Chego em São Paulo, encontro o meu irmão que já era corredor na época, ele me convida para ser corredor, para começar com ele. Fui lá, gostei, estou até hoje correndo. Eu não queria porque tinha que correr dez quilômetros todos os dias para ser paraquedista, vim para São Paulo e corro 42 quilômetros, que é a maratona. E graças a Deus corro até em países fora do Brasil.
P/1 – E o senhor falou uma coisa que eu queria te perguntar também, o senhor falou de festa de cidade, quais festas eram comemoradas na cidade?
R – A festa de Santo Antônio, que é mês de junho. E em casa, mês de janeiro, seis de janeiro, é dia de Reis, vem o pessoal e fica batendo na casa, com as bandeiras, colocam as bandeiras. Geralmente a gente dá uma gratificação para as pessoas, era muito legal. E junho, você sabe interior como é que é, aquelas festas, é um pão diferente, um bolo diferente, uma comida diferente, cada um tem um pratinho, leva para o outro. Faz as fogueiras, saudade, vou falar a verdade, isso é o que marcou, essa marcou. E o meu pai toda vez que era junho, ele comprava traque, bombinha, aquele chuveirinho. Meu pai tinha aquele capricho de comprar para cada um dos filhos aquele pacotinho e passar para cada um dos filhos. Isso marca muito, são coisas que te garanto não voltam mais. Talvez para ver isso tem que sair de São Paulo, ir para o interior, talvez tenha, mas eu acho que não tem mais não. Eu acho que é legal manter uma tradição.
P/1 – E tem algum amigo que tenha marcado essa sua infância, juventude na sua cidade?
R – Tem as pessoas da escola, porque geralmente a gente convida as pessoas da escola, os novos colegas nossos de escola, para participar ou de uma festa, ou até uma corrida, entendeu. Tem um colega meu, que eu o convidei para fazer parte até da corrida, ele correu acho que só 500 metros, já não quis saber mais, falou: “Isso aqui não é para mim não, deixa quieto”. Foi muito engraçado. Foi muito dez.
P/1 – E agora senhor Antônio me conta uma coisa, como é que foi essa sua vinda para São Paulo?
R – Foi um pouco meio... É uma coisa que eu vou emocionar ao falar, mas eu vou segurar. Minha irmã já morava na época aqui em São Paulo, ela é daquelas irmãs, uma pessoa que tem o dom da bondade, uma pessoa vai para uma cidade grande, qual o sonho que a pessoa tem? Você quer realizar um sonho lá na tua cidade, só que essa cidade não te dá essa oportunidade. Automaticamente você vai sair da sua cidade para ir tentar a vida melhor em outro lugar, que foi São Paulo. E a minha irmã foi lá e me trouxe para São Paulo, isso foi em 70, depois da Copa, em 75. Eu vim para cá com um sonho, natural, isso é natural. A gente pensa que chegando aqui vai ser tudo mil maravilhas, “Ah, que São Paulo”. A visão que tem lá São Paulo, digamos que fosse Rio de Janeiro, “Ah, Rio de Janeiro, tal, tal, “Vitória”, “Salvador”. Não é, você vai ter que sacrificar. Quando você chega aqui a realidade é outra, você vai ter que trabalhar, você vai ter que ajudar a sua irmã. Se você for uma pessoa que tiver fé, você vai chegar lá, agora se você não tiver, você vai para o lado fácil, que não foi o meu caso. Eu lutei muito, agradeçam a minha irmã, lutei muito, não foi fácil, digamos até nas empresas que trabalhei. Hoje eu posso falar para você que eu venci, quando eu cheguei em São Paulo, em 75, depois da Copa, eu pensava comigo, “Como é que as pessoas que moram em São Paulo conseguem ver as pessoas que vem de lá de fora para cá?. Aí eles fazem pergunta: “Se para nós aqui que temos nossa casa própria, temos nosso salário, já é ruim, como que é as condições dessas pessoas?”. Nós pagávamos aluguel na época. Eu pensava, a gente vai lutando, vai lutando, de repente você compra o seu terreno, faz a sua casa e fala: “Bom, eu venci”. Hoje eu posso falar para você que sou um vencedor, que eu lutei muito, muito sacrifício, criei meus filhos, tenho dois filhos, que me deram duas netas, eu sou avô, eu tenho duas netas. Ninguém consegue nada se não lutar, nenhum de nós. Eu acho que não existe a vitória sem a luta, meu pai falava uma coisa, eu nunca esqueço, “Quem vive sem luta, morre sem glória”, ou seja, essas coisas fáceis existem por aí. Que nem aquela coisa da Harry Potter, bate a varinha, passou, não é assim, não é verdade? De repente nós pensamos que vamos conseguir as coisas a curto prazo. Não, é a longo prazo, você vai trabalhar na empresa, você vai estudar, você vai sacrificar, pegar a condução, apertado e você vai lá e vai se sacrificar. Aí você vê, você fala: “Valeu a pena”. Eu lembro quando eu estudava, eu lembro quando eu trabalhava durante o dia e eu fazia curso e chegava em casa com olheiras. Prestei um concurso e hoje eu estou aqui, que é o meu caso. Antes de eu entrar nos Correios, antes de entrar no Correios, eu não tenho vergonha de falar, eu trabalhava na Galeria Pajé, é um serviço digno, trabalhava na limpeza. Mas eu achei e acho que eu tenho o potencial de estar em uma empresa que me dá umas condições melhores, que foi o caso do Correios, eu acreditei em mim, prestei concurso, passei, eu não fiquei naquela mesmice com uma vassoura, não tenho nada contra, é um serviço digno, todo serviço é digno e merece respeito. Mas assim, Deus te deu potencial, acredita no potencial que você tem, você não pode ficar na mesmice, não, você tem o potencial, “Ah, tenho potencial para modelo”, “Ah, um potencial para mecânico”, “Ah, um potencial para trabalhar de carteiro por enquanto”. E assim por diante, você tem que acreditar em você, eu acreditei, os Correios me deu essa oportunidade, estou hoje aí. Até brinco as vezes, me aguentaram já há 18 anos aqui no Correios. Uma empresa que só agradeço, entendeu como é que é. Porque eu acreditei em mim, passei no concurso e ela me aceitou. Estou até hoje. Vai se lutar sempre.
P/1 – Senhor Antônio agora eu queria saber quando o senhor mudou, em que bairro que o senhor foi morar? Quais que foram as primeiras impressões da cidade?
R – Na época a gente morava em Carapicuíba, pagava aluguel. Por algumas razões o aluguel atrasava, fiquei sabendo que minha irmã gastava o dinheiro e enrolava, enrolava, o cara vinha cobrar da gente. A gente dava o dinheiro, mas por algumas razões ela acabava gastando o dinheiro. Depois mudamos para Osasco, foi quando eu casei, aí eu fui morar em Pirituba, quando eu casei, pagava também aluguel. Aí nesse tempo eu havia feito a inscrição da COHAB [Companhia Metropolitana de Habitação], aqueles prédios da COHAB. Morei lá em Carapicuíba, depois vendi o apartamento, comprei em Barueri, que é onde estou até hoje.
P/1 – E me conta uma coisa, o senhor contou que casou nesse meio tempo. Como é que foi ela vim casar? Esse namoro a distância por carta?
R – Por carta. Legal, foi legal. Muito romântico. A gente se correspondia, namoramos por carta, não é bem namorar, a gente se correspondia e acabou dando certo. Eu coloquei na cabeça dela que nós não tínhamos nada: “Está lá, aluguei uma casa lá, não tenho televisão, não geladeira”, coloquei tudo a menos para ver qual é que era a intenção dela, o que é que ela ia falar para mim, se ela realmente gostava de mim ou não. Aí, ela falou: “Não, sem problema nenhum”. Chegou lá em Pirituba, a casa estava arrumada de tudo, toda decorada, toda bonitinha, geladeira, televisão.
P/1 – E antes do senhor entrar nos Correios, o senhor já tinha corrido alguma maratona?
Qual é que foi a sua primeira maratona?
R – A minha primeira maratona foi no Ibirapuera. Foi em 77. Eu não sabia como era correr a maratona, eu pensava que era sair logo, já de uma vez logo, e ir correndo, não era assim. Tem um slogan que fala: “Marinheiro de primeira viagem”. Como eu não sabia, tive que passar pela primeira vez, para ver como é que é. Em tudo, a primeira namorada, o primeiro trabalho, a primeira escola e assim por diante. Eu sei que eu parei no quilômetro 30 e pouco, faltava dez quilômetros ainda para chegar, mas eu cheguei, andando mas eu cheguei, foi minha primeira maratona. Era patrocinada por uma revista, chamava Revista Viva, hoje não há mais essa revista, foi desativada por algumas razões, fiquei sabendo que o rapaz, acho que era Werneck, está em Nova Iorque, é empresário por aqueles lados lá. De lá para cá eu continuei correndo, eu gostei e continuei, tanto que peguei tanta paixão por maratona que eu tenho ao todo, já corri, 52 maratonas. São bastante aqui no Brasil e umas seis lá fora, Chile, Uruguai, Paraguai e Lima, capital do Peru. Eu fui quinto colocado geral o ano retrasado em no Paraguai.
P/1 – E me conta uma coisa, como que o senhor decidiu prestar o concurso para entrar nos Correios?
R – Na época eu trabalhava na Plasco, é uma firma de embalagens que está em Barueri, na cidade onde eu moro. Tinha uma menina que viu, não sei se ela viu no site falando concurso dos Correios ou o que é que foi. Vou até falar o nome dela: Ambrosina, ela me chamava de Feio. “Oh Feio, tem concurso para você que gosta de Língua Portuguesa. Porque você não vai lá prestar um concurso?”, eu falei: “Legal, onde é que é?”, “Correios”, “Ah, vou lá prestar com você os Correios”. Prestei concurso, recebi o telegrama, quando eu recebi o telegrama, eu não vou esconder, eu não sabia o que fazer de tanta emoção que eu fiquei, eu falei: “Eu passei no concurso, eu passei, está falando que eu passei. Eu tenho que lá já começar a trabalhar”. Eu não sabia se eu chorava de emoção, porque você prestou concurso, você não sabe se você passou ou não. Aí alguém está te mandando um telegrama, falando que você passou no concurso, para você ir lá fazer entrevista. Foi emoção muito grande, não tem como descrever. Acho que naquele momento para mim era tudo ou nada, sabe assim, “Puxa, eu passei no concurso”. E graças a Deus estou até hoje, os Correios posso falar me aceitaram, até hoje nas entrevistas que eu faço, quando alguém começa falar sobre corrida, eu falo: “Se alguém inventar uma colocação além do primeiro, pode ficar tranquilo quero ser além do primeiro”. Tenho consciência da credibilidade que eles deram, essa confiança que eles têm comigo. O que eu faço não é nem um átomo de retorno, porque o carinho que eles tem por mim, todas as pessoas, tanto carteiros, como diretores, supervisores. Esse carinho que tem por mim, pelo fato de que eu sou carteiro e tenho o esporte como atividade. Eu represento de paixão, não é atoa que eu fui quinto colocado geral da maratona lá do Paraguai, eu represento também lá fora, graças a eles que me dão essa credibilidade.
P/1 – E, eu vou querer saber mais das suas histórias da maratona ainda. Eu só queria perguntar um pouquinho antes, como que foi quando o senhor entrou?
R – Foi em 1995. Em 95 eu entrei nos Correios, eu falo abertamente, eu só prestei o concurso, mandaram me chamar e eu já fui já trabalhar. Eu não tive um treinamento. No meu primeiro dia, eu pegava uma carta, eu olhava aquela carta, para mim era o fim do mundo, “Onde é que eu vou colocar essa carta?”, porque naquela época, no meu tempo CDD [Centro de Distribuição Domiciliar] Barueri, onde eu trabalhei, na Rua Cachoeira, CDD Barueri, era por rua, não era por CEP [Código de Endereço Postal], eu triava carta por rua, “Meu Deus, tem um montão de ruas aqui em Barueri, como é que eu vou saber onde é que eu coloco essa carta?”, eu tinha que perguntar, eu ficava o dia todo perguntando carta, eu falei: “Meus Deus do céu, será que eu vou aguentar ficar aqui?”. Era muita coisa, eu ficava maluco da cabeça. Hoje não, hoje é através de CEPs, você pega o CEP, tem o lugar, “Ah, CEP, tal é tal”, “A CEP zero, dois, aqui.”, “A CEP zero, quatro, é nessa.”, A CEP zero, cinco”. Então facilitou muito. O Correios está super evoluído, tecnologia, internet, facebook e assim por diante.
P/1 – E me conta uma coisa, eu queria saber algumas histórias suas das suas experiências de carteiro. Assim, como que, conta um pouquinho, umas histórias diferentes que aconteceram?
R – Tem várias, eu posso lembrar algumas. Eu lembro em Barueri, voltando o assunto, eu comecei em Barueri. Eu cheguei para entregar uma carta e tinha uma menina, uma menina pequeninha, ela pegou e falou assim: “Mãe, o homem do carteiro está aqui”, (risos), eu falei: “Não, não é o homem do carteiro, é o carteiro está aqui”. São coisas que marcam, esse é um carteiro que marca, são casos, um que marca a história.
P/1 – E conta um pouquinho como é que era o seu cotidiano de trabalho e como que é hoje, o que é que o senhor acha que mudou?
R – O meu cotidiano de trabalho? É normal, trabalho normal, como eu faço parte de uma equipe, a equipe nacional dos Correios, eu tenho o meu trabalho depois eu tenho meu treinamento. Quando você quer uma coisa, quando você tem objetivos, você esquece obstáculos. Independentemente de eu não ter o tempo eu vou conseguir um tempo, por quê? Porque você quer vencer, você quer chegar lá. De repente eu não tempo para treinar, mas pelo fato de que eu quero chegar em determinado lugar, eu vou arrumar um tempo, eu vou adquirir, porque você quer vencer, você está lutando por isso. O que eu faço de repente mais pessoas também fazem, assim que você arruma um tempo, “Ah, o trabalho está durante o dia”, “Ah, mas se eu fazer faculdade, eu vou chegar em casa, eu vou ficar com olheira”. Você tem que decidir o que você quer, eu quero ser campeão, vou treinar. Eu não tenho tempo, eu quero ser campeão, eu quero ser campeão, eu não tenho tempo, não justifica que eu não vou deixar de ser campeão porque eu não tenho tempo, isso quero passar para as pessoas. Eu vou arrumar um tempo, eu vou treinar por conta e vou fazer um esforço e depois vou competir, vou ser campeão e falar: “Puxa, valeu a pena, hein”, “Puxa, fui quinto colocado na maratona, nossa”, “O mundo vira, quinto colocado”, “Eu sou o primeiro homem da América do Sul, com essa idade passei na quinta colocação”, “Ah, eu fui primeiro colocado no Chile, valeu a pena”, “Fui o primeiro colocado lá no Uruguai, valeu a pena”, “No Paraguai, Lima [Peru]”, “Que legal, puxa, que legal”. “Eu sou mais eu, eu consigo, eu posso”. É uma coisa muito importante, nós temos que acreditar em nós, eu posso, eu consigo, eu vou chegar. Todos nós temos uma sabedoria infinita, qualquer um de nós, eu desafio, qualquer um de nós pode. Eu desafio qualquer pessoa, desde o mais simples, limpador lá da Galeria Pajé ao mais alto diretor, todos nós podemos. Você pode ser uma professora, uma engenheira, uma advogada, depende de você. Agora se você falar: “Ah, meu Deus, me ajuda”, “Ah, eu quero ser um advogado, me ajuda”, “Ah, Jesus Cristo”, eu acredito em Jesus Cristo, “Ah, Jesus Cristo, me ajuda”. Não, o que é que ele falou? “Faça a tua parte que eu te ajudarei”, “Se mexa moço, que eu vou te ajudar. Você tem que se esforçar, faz a tua parte, que eu vou te ajudar. A partir do momento que você está se movendo, tem alguém torcendo por você, é o meu ponto de vista.
P/1 – E senhor Antônio, eu queria que o senhor me contasse a história de como o senhor se juntou a equipe.
R – Quando eu entrei nos Correios eu já corria há mais de dez anos. Tendo em vista que os Correios nessa época já tinha uma equipe de corredores, me chamou a atenção, falei: “Oh, que legal, hein”. Eu lembro que em Barueri, onde que eu trabalhava lá em Barueri, eu vi um placa escrita: “Você que é corredor, vem fazer parte da Equipe Nacional dos Correios”. Eu lembro que eram seis pessoas, eu não vou falar o nome porque eu acabo esquecendo.. O equipe tinha cinco pessoas, falei: “Puxa vida, oh que legal, já pensou um dia eu estar junto aqui com esse pessoal aqui”. Comecei a falar com os Correios, mandando carta para as pessoas do Setor de Esporte, [falando] que gostaria de participar. É lógico, para você participar da equipe você precisa estar dentro dos padrões que eles querem. Quais são esses padrões? Que você faça a maratona em um determinado tempo, se você fizer a maratona nesse determinado tempo, você está automaticamente na equipe, os dez quilômetros, determinado tempo. Aí houve uma prova da São Silvestre e me convidaram para correr a São Silvestre. Quem chega lá, quem ganhou do pessoal lá da equipe? O Bastos. Eis que um rapaz não me conhecia, um rapaz dos Correios, perguntou para diretoria de Brasília, a Miriam: “Quem está lá?”, “Quem é aquele rapaz lá?”, que respondeu: “Aquele lá é o Bastos, trabalha com a gente aqui”. Depois disso pegaram meu nome, nessa época eu trabalhava em Santana do Parnaíba, tinham me transferido, eu trabalhava em Barueri, me transferiram para Santana do Parnaíba. Recebi o contive: “Bom, a partir de agora, você vai sair de lá, você vai ser promovido, você não vai estar lá mais em Santana do Parnaíba, você vem trabalhar conosco no prédio”, na época que eu trabalhava no Setor de Eventos nos Correios. Não era mais carteiro, eu já fiquei no Setor de Eventos, nós tínhamos horário para treinamento. A gente tinha os horários para treinamento e assim por diante, e graças a Deus, hoje eu faço parte da equipe dos Correios. Graças a deus é um pessoal muito unido, um pessoal muito bacana. Mais uma vez quero agradecer a Miriam de coração, não tenho palavras. Eu não tenho palavras, com todo respeito as outras pessoas, é ela quem deu aquele pontapé inicial, entendeu. É assim, alguém te vê, sabe que você tem o potencial e acredita em você. Você tem obrigação de dar o resultado, natural, alguém confiou em você. Não tem como agradecer, não há palavras para agradecê-la.
P/1 – E senhor Antônio, a partir do momento que o senhor começou a integrar a equipe, o que é que o senhor conseguiu de infraestrutura, de suporte para o senhor poder correr?
R – Sim, nós temos, a equipe dos Correios é composta por mais de 48, quase 50 atletas, incluindo homens e mulheres. Nós temos treinamento, eles dão para a gente tênis, agasalhos. A gente sempre teve apoio, sempre, na medida do possível, passagens, eles pagam passagens para a gente, passagem de avião, hotel, estadia. Nós temos todos esse suporte que eles dão para a gente, a equipe. E a gente só ganha com isso, a gente acaba conhecendo, se integrando, conhecendo outras culturas, conhecendo outras cidades, muito bom.
P/1 – E tem alguma viagem, alguma maratona que tenha marcado mais?
R – Sim, eu acho que, todas elas marcaram, nessas 52 maratonas que eu falei para você que corri, acho que a que marcou mais para mim foi a do Paraguai. Quando eu fui para lá, tudo estava dando o contrário para eu não ir, perdi o voo, só para ter uma ideia, perdi o voo duas vezes, só para você ter uma ideia. Isso foi daqui para lá, para o Paraguai. Cheguei lá, já tinham entregado os kits, tive que conversar com a moça, tem uma palavra que eu não sabia, que eu fui conversar com ela, “Yo soy brasileño”, comecei falar, “Ah, un ratito”, Como eu vou saber o que é ratito, eu não sabia o que é que era. Era um momento, espera um pouquinho, espera um minutinho, espera um minuto. Comecei com esse ratito que ela falou lá para mim, depois eu fui até o jantar de massas, sempre maratonas tem jantar de massas, é onde que o atleta almoça melhor, tem massa para ele correr no outro dia. Tudo deu o contrário, até a minha máquina eu perdi nesse dia, minha máquina fotográfica. Quem está na maratona lá? O Presidente, nem sei, nem lembro o nome do Presidente, ele que deu o tiro de partida, essa foi a que marcou mais, essa que fui o quinto colocado. E tinha o pessoal que corria, nessa mesma maratona, uns corriam 21, outros corriam 42, e eu fiquei no pior, que foi o 42. Para quem não sabe, a maratona é 42 mil e 195 metros. Tudo deu contrário, só que como estava correndo, dá para você ver as pessoas que estavam na sua frente, você vai contando, por causa da roupa, fui contando, contando. No quilômetro 21, eu já era o décimo colocado, que emoção, o décimo colocado. Fui passando, passando, não vou esconder, parece brincadeira, teve uma hora que eu invoquei, com todo respeito a ele, eu invoquei o espírito do meu pai, é uma coisa que eu tenho que contar, é uma história. Isso parece que me deu mais força para eu correr. Aí o pessoal falava: “… usted, usted…”, quinto, sexto colocado, eu falei: “Falta mais um, se eu conseguir mais um, eu vou ser o quinto colocado”, eu nunca tinha visto na minha vida, é lógico, na altura do campeonato, faltavam dois quilômetros, eu era o sexto colocado. Lá na frente eu vejo rapaz com a mesma camisa, falei: “É aquele que eu vou pegar. Aquele cara lá que eu vou pegar. Eu passando por ele, eu vou ser o quinto colocado”, acelerei um pouquinho, passei. Aí pronto, na hora que eu passei, o coração já começou a acelerar, aí as pessoas, “Adelante Antônio, adelante”, porque viu o nome, no número tem o seu nome, tem seu nome e seu número. As pessoas automaticamente sabem o seu nome, “Usted esta bien? usted esta bien?”, eu falei: “Gracias, gracias”. Foi bom dar tchau para o pessoal. Fui quinto colocado, eu chorei, dei entrevista, todo mundo queria falar comigo, rapazes, as namoradas, queriam saber como é que era o Brasil, queria saber porque eu corro tanto com a idade que eu tenho, “Eu quero saber como que você consegue, a idade que você tem e você corre tão bem?”, eu falei: “Você acredita em você, esquece idade”. Agora porque eu tenho idade eu não vou estudar mais? eu não vou, o mundo não parou não. Há uma dificuldade de assimilação, sim, todo mundo sabe isso, há uma dificuldade. Você vai comparar eu com 58 anos de idade para estar na faculdade com um moleque de 25. O raciocínio do moleque de 25 é mais rápido, o meu é mais lento. Voltando, as pessoas queriam tirar foto comigo, me convidaram para ir para vários lugares, eu nem fiquei, de repente os dólares que eu havia pegado eu ia gastar. Me chamaram para eu ir para a boate, um montão de coisa, é lógico, automaticamente você quer fazer uma média lá, mas eu não fui. Mas foi muito legal, essa marcou, a melhor colocação que eu tive na minha vida. A outra foi no Chile, que eu fui no Uruguai, Punta del Leste, e eu fui sétimo. De campeão da categoria foi Chile, Uruguai, Paraguai e Lima, mas geral que eu lembro, a melhor foi o Uruguai, Punta del Leste, sétimo colocado e, agora do Paraguai, quinto colocado. Essa foi marcante, um pessoal tirava foto comigo, queria o troféu, inclusive um rapaz levou minha bandeira, ainda fiquei emocionado com a bandeira dos Correios, a bandeira do Brasil em cima escrito Correios.
P/1 – E senhor Antônio, como é que é a relação com os outros corredores da equipe, com os outros maratonistas?
R – É ótima. A nossa relação, a nossa integração é uma coisa assim sem comentários, é todo mundo unido, todo mundo junto, todo mundo quer que o outro vá bem na prova. Você está treinando, independentemente ter uma rivalidade, o cara vai torcer para gente. Eu tenho fãs, as pessoas me chamam de ícone, mas as pessoas falam comigo, “É, você é o ícone do Correios, você corre, você está sempre aí”, “Ah, mas a maratona sem você”. Tem pessoas em Brasília, agradeço mais uma vez, que falam: “Quando eu vou olhar o resultado”, um dos diretores da área de esporte, “Quando eu olho os resultados, eu não vou para o final da página, eu já pego a primeira página para te olhar, porque eu tenho certeza que você está lá”. Imagina só a credibilidade desse rapaz, a confiança que ele tem comigo, “Sei que o Bastos, ele vai lá. O Bastos é um cara que luta”. Estou falando o que ele está falando, não estou falando de mim, eu não gosto de falar de mim, eu estou falando o que ele está falando. Eu devolvo isso para ele, quero parabenizá-lo por ver essa vontade que eu tenho.. Eu agradeço essa confiança que ele tem comigo, essa credibilidade mesmo que ele me dá, de acreditar no meu trabalho, na minha dedicação, na minha postura e assim por diante. É muito importante isso para a gente, para qualquer um de nós, não sou eu, qualquer um de nós.
P/1 – E senhor Antônio, tem alguma história da equipe junto viajando, que o senhor tenha para contar para a gente? Alguma coisa engraçada que tenha acontecido? Ou um fato marcante?
R – Parece brincadeira, mas eu lembro não. Foram tantas coisas boas que nós passamos juntos, a equipe se divertindo, o lugar onde a gente fica. Em Porto Alegre, nós fomos para Porto Alegre, nós ficamos um dia fazendo turismo, conhecemos a Serra Gaúcha. Eu posso falar uma coisa para você, eu era muito assanhado, eu sou uma pessoa muito assanhada, quando eu ia com eles, eu os deixava no hotel e ia para as gandaias, mas sabendo que eu tinha um compromisso, deixar claro, pelo amor de Deus, sabendo que eu tinha compromisso. No entanto, eu nunca os decepcionei, você entendeu. As gandaias no bom sentido, dar umas paqueradas, depois eu voltava. Mas cumprindo com a minha obrigação, eu nunca deixei de dar resultado, para você ver, meus resultados, sempre fui campeão. Eu fiz duas de 27 em Blumenau, um dos melhores tempo, fiz duas de 30 em Porto Alegre, nos melhores tempo. Eu falava que ia para a igreja e o pessoal pensava que eu ia para a igreja, não era igreja, eu ia para as gandaias. Mas foi muito legal, foi muito marcante, saudade, tenho saudade.
P/1 – E senhor Antônio, nesse seu tempo de carteiro, teve alguma família, alguma casa que tenha marcado o senhor, que o senhor tenha se apegado?
R – Já aconteceu de eu ficar emocionado, ficar emocionado com a desigualdade social, não só no Brasil como em todo mundo. Eu fui trabalhar aqui, me mandaram trabalhar em uma favela aqui no Jaguaré, no primeiro dia quando eu fui entregar carta, eu cheguei ali, eu vi aquelas crianças jogadas, vi ratos passando, você não via o sol, tudo tampado, aquelas pessoas ali como se fossem desumanas, eu sinceramente, eu tive que controlar as emoções para eu não chorar. Aquelas pessoas não merecem, nós somos cidadãos brasileiros, deixar claro, nós colocamos as pessoas no poder. Temos direito no mínimo a moradia. Eu segurei as emoções naquela hora, chegou a descer umas lágrimas aqui, depois eu reconheci que nada é por acaso, que aquelas pessoas estão ali também, tem que ver esse lado também, porque de repente não se movimentaram, não se mexeram, não acreditaram. Mas eu não gostaria de ver aquela cena, eu penso nas crianças, tem que ter um lugar decente delas, poder convidar a coleguinha dela para ir ali. Como que ela vai convidar a coleguinha dela para ir naquele lugar ali, passando ratos, esgoto, a céu aberto, desumanas, como se fossem uns animais. Isso que eu pensei, como se aquelas pessoas fossem uns animais jogados, jogados para a rua, “Ah, vocês são uns lixos. Vocês são uns lixos”. Nós somos filhos de Deus, que merecem respeito das pessoas, de todo mundo, entendeu, é assim que eu penso.
P/1 – E senhor Antônio, o senhor contou para a gente a história da menininha, tem mais algum causo, alguma coisa que tenha acontecido nas suas entregas, um cachorro, alguma história desse gênero?
R – Parece brincadeira, como sou uma pessoa muito brincalhona, eu não sei ficar quieto, eu não consigo ficar parado. Eu já tentei trabalhar parado, não consegui. Tanto que onde eu trabalho, as pessoas me conhecem como Roberto Carlos, porque eu canto música do Roberto Carlos. Eu não consigo trabalhar quieto, não consigo, parece que é uma coisa que está no sangue, não tem jeito.
P/1 – Bom, e senhor Antônio, eu queria perguntar para o senhor, o senhor lembra da primeira carta que o senhor recebeu?
R – Sim, com certeza. Voltando, como não havia ainda tecnologia, posso falar, é uma carta que recebi da minha namorada, a primeira carta, para mim era tudo, eu pegava aquela carta, eu beijava a carta, eu falava: “Puxa, olha o que ela sente de mim, tal”. Marcou a carta que eu recebi dela, a gente se correspondia e essa marcou muito.
P/1 – E o que é que estava escrito nessa carta?
R – Falava que amava, que gostava, que não via a hora de vim para cá, que não via a hora da gente casar, ter nossos filhos. Ela me deu dois filhos lindos, uma moça que já meu a neta, que é modelo e o meu filho que me deu agora mais uma neta também. Mãe de meus filhos, sim, com certeza, merece todo respeito com certeza e as cartas que ela mandava para mim marcaram. Imagina só, parece Romeu e Julieta, eu a conheci pequenininha, a gente brincava junto, a gente abraçava, depois eu vim para São Paulo e caso com aquela mesma pessoa que eu brinquei, e essa pessoa me dá dois filhos, tem que bater palma.
P/1 – E como é que é, se o senhor puder descrever para a gente, como é que é mesmo o seu dia a dia de carteiro?
R – O meu dia a dia de carteiro?
P/1 – Isso.
R – É muito dez, é muito dez. Como que eu posso falar, é top.
P/1 – Mas se o senhor pudesse descrever para a gente assim, eu acordo, eu faço isso.
R – Levanto de manhã, faço minha ginástica para manter essa magreza, pareço uma tripa, a genética me privilegiou com essa palavra, graças isso aqui que hoje eu sou corredor, sou maratonista. Tem uma coisa que não agrada muito não, o trem, mas faz parte, nossa vida é uma eterna maratona. É sair da sua casa, faço ginástica, tomo café, pego o ônibus, depois pego o trem, aqueles trens lotados lá, mas faz parte. Chego onde que eu trabalho, todo mundo contente, todo mundo alegre, é uma coisa que eu gosto, está no sangue, eu gosto de trabalhar com público. Eu sou muito falador, é uma coisa inata, uma coisa de característica do nordestino de falar. A minha neta é pior do que eu ainda, quatro anos de idade. É uma alegria muito grande, chego lá todo mundo sorrindo, todo mundo contente. Meu chefe, por enquanto, está muito dez com a gente, é muito legal. Você sente aquele prazer, eu gosto de trabalhar com público, de conhecer pessoas, eu pretendo até fazer Psicologia futuramente, gosto de estudar comportamentos, conversar com pessoas. Onde que eu trabalho todo mundo gosta de mim, eu trabalho cantando. É uma satisfação que não tem como descrever para você, a alegria que eu tenho de ir. Aí as pessoas falam assim: “Ah, carteiro, você ganha bem”, eu falo: “Realmente eu ganho muito bem, estou cantando. Imagina só, se eu ganhasse pouco, você acha que eu estaria cantando? Se eu estou cantando, é que eu ganho bem”, os caras dão risada. É muito dez, é uma satisfação muito grande, sem comentário. Eu sou muito querido onde que eu trabalho, não sou só eu, com a maioria dos carteiros também é assim. Queira ou não queira, a gente acaba criando vínculo, carteiro e morador. Tem carteiros que trabalham há tanto tempo em um setor só que viu a criança nascer, se tornou adulto, lógico, casou e hoje tem filhos, parece brincadeira, já conhece a família toda e.
P/1 – E quais são as funções que o senhor desempenha? O que é que o senhor faz no trabalho? O que é que é tua responsabilidade?
R – O meu trabalho de carteiro, que é minha função, eu pego, vou arrumar meu trabalho, que é de carteiro. Agora fora a parte de carteiro eu tenho um hobby, eu trabalho com esculturas de madeira, voltada para o paraplégico. O que me inspirou são aquelas pessoas sem braço, sem pernas e aquelas pessoas com problema de visão. Eles estão correndo, eles estão na cadeira de rodas jogando basquete, eles estão vendendo, estão estudando, estão dando aula. O que nós vamos falar? Nós que temos dois olhos perfeitos, um corpo perfeito, braço perfeito, rosto perfeito e, reclama, xinga Deus e a Dilma, a nossa Presidente. Eu inspiro as minhas esculturas nessas pessoas, não tenho uma escultura que não seja dessas pessoas. Eu também trabalho com jardinagem, apaixonado pelo meio ambiente. Apaixonado, a minha casa parece uma floresta, eu me escondo lá e, é uma coisa que eu gosto.
P/1 – Senhor Antônio, vou fazer uma pergunta para o senhor. O senhor falou assim, “Eu tenho as minha funções de carteiro”, mas assim para quem não sabe o que é que um carteiro faz, para quem acha que o carteiro é só aquela pessoa que vem e entrega a carta, que não entende como é que funciona todo o processo. Se o senhor pudesse contar para a gente, descrever, para ficar registrado.
R – Como que é, como que é esse preparo? Esse preparo do carteiro.
P/1 – Exatamente.
R – Até o ponto dele sair para a rua?
P/1 – Isso, exatamente.
R – Ah, entendi, até o ponto.
P/1 – Se o senhor puder contar para a gente.
R – Foi até bom você fazer essa pergunta para mim, eu gostei. Antes entrar nos Correios, eu trabalhava em Alphaville, ajudante de jardinagem. Eu via um rapaz, Jorge, inclusive hoje ele é supervisor, ele passava com a calça toda limpinha, a camisa bonitinha, de boné, e entregava a carta. Eu falei: “Mas que legal. Ah, isso é fácil, trabalhar assim é fácil, quem não sabe pegar as cartas, colocar na bolsa, levar e entregar. É fácil, não vou nem trabalhar”. Isso foi antes de eu prestar o concurso. O processo é outro, eu chego no CDD, setor onde estão todas as cartas, separo... Esse é o preparo até o carteiro sair para a rua... Se 20 carteiros, trabalha em um salão, eu vou separar para esses 20 carteiros, para todos esses 20. Cada carteiro faz um setor, mas todo mundo separa carta para todo mundo. Depois de separar carta para todos esses 20 carteiros, cada carteiro passa pegando a sua coleta. Depois que peguei todas essas cartas, vou vai separar por rua. Depois que separei tudo por rua, vou separar da maneira que vou entregar lá na rua. Aí vem o porém, existem dificuldades como que têm numeração irregulares. É uma dificuldade muito grande carteiro entregar cartas na favela, porque geralmente os números da favela são irregulares. Mas voltando, isso quer dizer que não é só chegar e pegar as cartas prontas, eu pensava que era assim. Tem que separar para todo mundo, depois separar por rua, depois separar como você será entregue na rua, você. Primeira vez é complicado, mas depois se torna natural.
P/1 – E como que mudou depois do CEP? O senhor contou que antes não tinha.
R – Sim, não tinha CEP.
P/1 – Conta como é que foi essa chegada do CEP?
R – Melhorou 50%. Não tem mais aquela dificuldade, ou seja, nós não ficamos lá atrás. O Correios não ficou atrasado. Tem alguém estudando qual que é a melhor maneira para ter uma produção melhor, para que se possa trabalhar melhor. Qual é que é a bolsa que ser vai usar, qual o peso que você pode carregar.... As pessoas estão sempre fazendo estudos para que melhore, todo mundo ganha, o Correios faz isso, não só Correios como também outras empresas. A tendência é evoluir cada vez. Está agora nascendo um projeto, nós temos um projeto agora, apesar de que eu ainda não fiz esse curso, viajando Correios 2020. São mudanças para atender a demanda do mundo, não só a nível de Brasil, mas também de mundo.
P/1 – E senhor Antônio, como que o senhor usa os Correios?
R – Parece brincadeira mesmo, eu recebo mais cartas do que eu mando cartas. Eu recebo mais cartas, recebo fatura de um cartão e assim por diante. No final do ano eu mando um cartão, continuo ainda com aquele lado do romantismo. Eu acho que é uma tradição a gente mandar um cartão para alguém, lembrar de alguém. Tem uma menina lá que ela mora nos Estados Unidos, eu a conheci através da mãe dela, eu tenho muito cuidado com as cartas dela, chama Patrícia, ela mora em Nova Iorque. É uma coisa muito bonita, através da mãe dela que me conheceu, e ela fala inglês, eu falo que eu gostaria de falar inglês, de aprender, ela fala: “Não, você pode, você consegue, você vai lá”, inclusive eu estudei um pouquinho de ramo de inglês. A minha pronúncia só Jesus Cristo que sabe, mais ninguém, mas o importante é a mensagem que você quer passar para alguém. Eles vão entender que não é minha língua pátria, não é português, eu fala português, lá fora, Espanha é espanhol, Austrália só inglês...
P/1 – E senhor Antônio, o senhor acompanhou o fluxo de cartas de lá para cá, de todos esses seus anos. Provavelmente o senhor viu que mudou, antigamente as pessoas mandavam mais carta, hoje deve ser mais conta, não sei. Conta para a gente as cartas que o senhor pega, se o senhor consegue ver se é carta, se é cartão, se é conta...
R – Antigamente, como não havia tecnologia, as pessoas mandavam, o pessoal até apelidou as cartas de baianinha, para quem não sabe, aquelas cartas que a gente mandava, no meu tempo, apelidaram de baianinhas as cartas. Com a chegada da nova tecnologia, eu achei que fosse diminuir, pelo contrário, diminuíram aquelas lá, aquelas baianinhas diminuíram, mas aumentou o volume de cartas. Aí vem empresas de telefonia celular, faturas e muitas outras. Eu achei que pela internet, ia diminuir, pelo contrário, aumentou. É lógico, diminuiu lá, a baianinha, aquela comum e, aumentou essa outro aí. Eu falei sobre esse tema em uma entrevista que eu dei lá no Espaço Cultural de São Paulo. Eu não sou contra o modernismo, mas ele acaba acomodando, condicionando você a ficar a cada vez mais sedentário por causa. Antigamente você estava aqui, naquele tempo que não havia controle, você ia lá, se levantava e ia acionar a televisão para mudar de canal. Hoje não, hoje você está aqui, você está com isso aqui. Você deixou de fazer o exercício.
P/1 – E senhor Antônio, agora eu vou a entrevista, mas eu queria perguntar, tem mais alguma história que o senhor queira contar? Alguma coisa que tenha sido marcante nesses anos? Que a gente não tenha conversado?
R – Não, mas eu posso falar algo que sirva de exemplo para algumas pessoas, que não querem cair na mesma arapuca. Arapuca é um negócio que se coloca para pegar passarinho. Vou falar um pouco de mim: arrumei, uma namorada e descobri que ela começou a mentir para mim. Eu descobri que ela tinha dois maridos, eu percebi e falei: “Isso aí eu acho que não dá certo não, porque você já tem dois maridos”. São histórias na vida pessoal que eu conto normal, não tenho preconceito nenhum de falar, normal. Não caí nessa arapuca.
P/1 – E teve alguma correspondência que o senhor entregou que a família ou a pessoa tenha ficado muito feliz, assim, de receber?
R – Quando a pessoa da entrada na aposentadoria, ela fica ansiosa para receber. De repente o INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] liberou essa correspondência, já convocando a pessoa para receber o primeiro mês de pagamento, você leva essa correspondência e a pessoa te abraça, “Oh, carteiro você veio do céu, carteiro”. A gente fica emocionado, eu até brinco, quando as pessoas falam “É, carteiro, veio trazer cobrança”, eu falo: “Eu sou o único carteiro que só traz boas notícias”. O pessoal quer morrer comigo. Eu complemento: “Quando você recebe uma correspondência, é sinal que você tem crédito, ou seja, que você tem credibilidade na praça”, “Ah, carteiro, já vem você com essa sua conversa”. São coisas que eu tenho o maior prazer, se dependesse de mim, automaticamente eu só daria notícias boas, eu jamais levaria para você uma intimação. Eu converso com as pessoas, faz parte da minha função. No meu interior eu gostaria de só dar boas notícias, do seu namorado que vai chegar, do presente que você ganhou na Tele Sena... Tem pessoas, o cara com um sorriso lá no canto da orelha, “Uh, carteiro que legal meu documento. Estava esperando esse SEDEX aqui”. Você fica contente, com aquela satisfação que a pessoa passa para você, é muito dez.
P/1 – E senhor Antônio, fala um pouquinho dos seus filhos para a gente.
R – Ah, meus filhos, ah, meus filhos são assim.
P/1 – E dos netos também.
R – Meus filhos são meu cartões de visita, são tudo, o que nós somos hoje é graças aos nossos pais que nos deram uma formação, todo mundo sabe que o caráter, a personalidade do adulto, do ser humano, se forma até os sete anos. O que eu sou hoje, sou graças ao meu pai, graças a minha mãe, quando eu era pequeno, meu pai sem estudo nenhum falava para mim, eu tinha três a quatro anos: “Oh meu filho, quando alguém perguntar seu nome, você fala meu nome é Antônio Barros de Bastos”, olha a sabedoria desse homem, olha o que ele ensinou para mim. No entanto, ele não foi em escola nenhuma. Eu quero copiar o meu pai, e foi o que eu passei para o meu filho, o Leoni e passei para a Daniela. Ela me deu uma neta que ela é modelo, ela está a educando, a educação que eu passei para ela, ela está passando para a Naiube. O Leoni está passando para minha neta, que é a filha dele e, assim por diante. Queira ou não queira, nós copiamos nossos pais, nós somos o xerox dos nosso pais. Eu me orgulho muito dos meus filhos, me chamam de gatinho, me chamam de meu amor, me beijam. É assim, meu filho é meu torcedor número um, quando eu fui para o Uruguai, ele foi comigo, na volta passamos lá na cidade de Punta Del Leste e Foz do Iguaçu, foi uma viagem muito legal, foi muito dez, foi uma coisa marcante. Fica marcado, são histórias, igual vocês estão fazendo aqui, fica também marcado para ele, que o pai dele viajou com ele.
P/1 – E senhor Antônio, agora para a gente encerrar, eu queria fazer só uma última pergunta, o que é que você acha desse projeto da parceria do Museu da Pessoa com os Correios, de resgatar esses 350 anos através da história de vida das pessoas?
R – Eu quero parabenizar, quero parabenizar essa pessoa, esse gênio, gênio se for homem, mulher, gênio masculino, gênia, gênio masculino, feminino. Ou que seja um homem ou mulher, está parabéns de ter essa iniciativa, essa visão que ninguém até agora teve, eu posso até falar assim, ninguém teve a ousadia de entrevistar uma pessoa para saber as histórias, para contar as histórias. Estava comentando com um rapaz, o câmera aqui ao lado, estava comentando com ele que é muito bom, não existem histórias iguais, ou seja, a nossa história é a mesma coisa que a nossa digital, não existe no mundo um que tenha a mesma impressão igual, ou iguais no caso, não vai haver, não vai aparecer. É a mesma coisa, pode ver, as pessoas que vocês irão entrevistar no caso, sempre terão uma história diferente. Estão de parabéns, mais uma vez. Não é porque estou sendo aqui entrevistado não, é a ideia que é uma coisa nova. Eu não sei se Deus vai me permitir daqui há dez anos, cinco ou seis, se for até uma semana, de estar vendo esse vídeo, contando aqui a minha história. Resgatando coisas lá do passado, falando dos meus pais, dos meus filhos, da minha corrida, da empresa que me aceitou, há 18 anos, está me aguentando por 18 anos. É uma coisa sem comentário, na minha opinião, parabéns mais uma vez a criadora, parabéns mesmo, de coração mesmo, de coração. Sem fazer média, parabéns, mais uma vez.
P/1 – Então senhor Antônio eu queria agradecer muito, parabéns pela sua história de vida, obrigada por ter dado seu depoimento para a gente.
R – Não, eu que agradeço, espero que tenha contribuído com vocês.
P/1 – Claro, foi ótimo. Muito obrigada.
R – Que isso, eu agradeço, de coração. Que isso, eu agradeço.
FINAL DA ENTREVISTA
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